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1 JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA LUCIANA MARTINS ARRUDA PRODUÇÃO TEXTUAL CIENTÍFICA São Luís 2021 2 APRESENTAÇÃO Olá! Este é o e-Book da disciplina de Produção Textual Científica. É com muita satisfação e dedicação que elaboramos este trabalho. Temos o objetivo de apresentar conceitos, estratégias e técnicas de produção acadêmico-científica por meio de uma metodologia dinâmica e inovadora, com foco no desenvolvimento prático e autônomo, e apoio do uso de tecnologias da informação e da comunicação para a Educação Superior. Nosso material está fundamentado nos principais conceitos teóricos e metodológicos, com a missão de auxiliar a promoção e consolidação do conhecimento profissional e científico na área de linguagem. A ideia é contribuirmos com a formação científica de qualidade, a partir do planejamento que reconheça a importância do conhecimento científico e do fazer científico. A sociedade atual vive uma ebulição de informações e, consequentemente, de novos saberes do senso comum. Porém, é de conhecimento universal, que, ao contrário desta diversidade de produções desenvolvidas no cotidiano, a sociedade possui uma grande demanda de produção técnico-científica. Isto é, necessidade de novos conhecimentos sistemáticos que, fundamentados pela atividade científica, podem contribuir com a resolução de problemas sociais de diversas ordens. É com essa premissa, e com o objetivo de auxiliá-lo(a) na produção de conhecimentos científicos, que pretendemos mostrar como podemos desenvolver essa forma de saber, bem como saber quais práticas estão associadas ao domínio das técnicas de produção destas formas de trabalhos acadêmico-científicos. Por isso, dividimos este e-Book em quatro Unidades. A primeira, que lida com os temas conhecimento, pesquisa e texto científico, abordará as características da formação do espírito científico, e dos produtos resultantes do fazer científico. A segunda abordará os tipos de produção de gêneros acadêmicos presentes na ciência – resumo, resenha e artigo, bem como, desenvolver uma grande e necessária reflexão sobre a produção de conhecimento teórico-metodológico na sociedade. 3 Na terceira apresentaremos as definições institucionais de regras e normatizações da prática de escrita e desenvolvimento de pesquisa científica. Ao final, na quarta unidade, apresentaremos algumas noções sobre ética na escrita do texto científico, plágio e tipos de plágio. Assim, por meio da leitura deste e-Book, esperamos contribuir com a aquisição de informações e conhecimentos sobre a prática de escrita científica presente no contexto acadêmico científico. Bons estudos! 4 SUMÁRIO UNIDADE 1 CONHECIMENTO, PESQUISA E TEXTO CIENTÍFICO.................................. 5 UNIDADE 2 GÊNEROS ACADÊMICOS – RESUMO, RESENHA E ARTIGO..................... 13 UNIDADE 3 NORMAS, ORGANIZAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO DA ESCRITA CIENTÍFICA...................................................................................................... 37 UNIDADE 4 ÉTICA NA ESCRITA DO TEXTO CIENTÍFICO............................................... 56 5 UNIDADE 1 - CONHECIMENTO, PESQUISA E TEXTO CIENTÍFICO Olá! Vamos iniciar os estudos sobre a prática e produção de textos acadêmico-científicos, um conteúdo de muita importância para todos que estão desenvolvendo pesquisas e/ou disciplinas relacionadas à prática de investigações. A temática que desenvolvemos nesta unidade tem como foco a compreensão de conceitos e concepções sobre os elementos que estruturam o fazer científico na universidade e institutos de pesquisas. É de saber geral que o conhecimento é uma das bases de sustentação da sociedade. Podemos compreendê-lo como fundamentação para possíveis resoluções de problemas que vivenciamos em sociedade. Entre as formas de conhecimento existentes, vamos apresentar elementos e métodos de produção do saber científico que são desenvolvidos por meio da escrita de textos acadêmicos. Para isso, dividimos esta primeira Unidade em quatro tópicos. No primeiro, refletimos sobre as características do conhecimento científico. Em um segundo momento, no tópico 02, apresentamos os conceitos e concepções 6 sobre a pesquisa científica, possibilitando uma reflexão em relação aos princípios norteadores da produção textual em contexto acadêmico. No tópico 03, propomos uma discussão sobre a formulação de objetos e problemas de pesquisas, compreendendo-os como base fundamental para a prática científica. Por fim, abordamos, no tópico 04, o conceito de texto acadêmico- científico. A seguir, apresentamos os principais objetivos desta nossa primeira unidade. Boa leitura! E Bons Estudos! Objetivos • Demonstrar os conceitos dos elementos que alicerçam a produção científica; • Apresentar a base epistemológica da produção de textos acadêmico- científicos; nas universidades, faculdades e em institutos de pesquisas brasileiros; • Apresentar concepções gerais de conhecimento, pesquisa e texto científico; • Demonstrar as noções que fundamentam teórica e metodologicamente a produção escrita de textos científicos. 1.1 O conhecimento científico Para este primeiro tópico da Unidade 01 de nosso material, retomamos conceitos sobre a produção de saberes na sociedade, no sentido de demonstrar as características fundamentais do fazer científico. INÍCIO DE ATENÇÃO O senso comum presente na sociedade possui em sua estrutura diferentes formas de conhecimento. É importante reconhecermos que o conhecimento científico, diferente de outros presentes na sociedade, tem por especificidade fundante a adoção de metodologias públicas e rigorosas, que buscam em sua essência a constituição 7 de fundamentos e argumentos científicos, com objetividade e neutralidade. Porém, é possível dizermos que há condições que influenciam na produção do conhecimento científico, assim como outros saberes do senso comum, como o religioso. Para Demo (2000, p. 29) “conhecimento científico é o que busca fundamentar- se de todos os modos possíveis e imagináveis, mas mantém consciência crítica de que alcança este objetivo apenas parcialmente, não por defeito, mas por tessitura própria do discurso científico”. Para o autor, o processo de argumentação desenvolvido por trabalhos científicos, precisam ser estruturados de forma que “permitam ser desmontados e superados” É preciso enfatizar que o conhecimento científico é discutível. Não pela mera polêmica, mas discute-se uma tese porque se chega a outra melhor elaborada. Não é a crítica pela crítica. Mas, como Pedro Demo bem colocou é a crítica e autocrítica porque só assim é possível ter as alterações, revisões e substituições dos paradigmas. 1.2 A pesquisa científica Nesta sessão temos o objetivo de apresentar o conceito de pesquisa científica. Compreendemos que é importante para os estudantes e pesquisadores de universidades, faculdades e institutos de pesquisa, entenderem que o processo de escrita científica transcende o domínio sobre as técnicas de escrita de um texto acadêmico. Para que possamos desenvolver pesquisas e consequentemente produzir novos conhecimentos científicos, é necessário compreendermos que a prática de pesquisa é, nos dias de hoje, um exercício e trabalho de profissionais de diferentes áreas de conhecimento. As pesquisas científicas têm como propriedade fundamental a busca por melhorias na qualidade de vida da sociedade, bem como resolução de problemas sociais. Não diferente, os trabalhos científicos materializados em textos, sejam aqueles desenvolvidos no início, no desenvolvimento, ou ao final da pesquisa, se caracterizam no ambiente universitário,como gêneros 8 acadêmicos com diferentes estruturas. Como exemplo, podemos citar: resumo, resenha, artigos, e entre outros. Conforme vimos até aqui, foi possível perceber que a pesquisa científica se caracteriza enquanto um procedimento que faz uso de metodologias próprias com o objetivo de desenvolver conhecimentos científicos. Richardson (1999, p. 22) nos afirma que “O método científico é o caminho da ciência para chegar a um objetivo. A metodologia são as regras estabelecidas para o método científico [...]” Neste sentido, também podemos retomar as contribuições de Demo (2006), para quem a pesquisa pode significar condição de consciência crítica e cabe com o componente necessário de toda proposta emancipatória. Para não ser mero objeto de pressões alheias, é mister encarar a realidade com espírito crítico, tornando-a palco de possível construção social alternativa. Aí, já não se trata de copiar a realidade, mas de reconstruí-la conforme nossos interesses e esperanças. É preciso construir a necessidade de construir caminhos, não receitas que tendem a destruir o desafio de construção. SUGESTÃ DE VÍDEO Vídeo complementar: https://www.youtube.com/watch?v=7hLqaJLQ5Q4 https://www.youtube.com/watch?v=7hLqaJLQ5Q4 9 1.3 Objeto de estudo/pesquisa e problemática Para o desenvolvimento de qualquer forma de pesquisa, independentemente de áreas de estudo, sempre precisamos ter em vista o desenvolvimento de um objeto de estudo. É a formulação e definição de um problema e ou fenômeno social como elemento de análise e reflexão teórico- científica. Ribeiro (2016, p. 119), ao retomar os estudos de Bachelard (1996), propõe reconhecermos que “a constituição de um objeto de pesquisa seria correlata à inscrição de um nome próprio, um nome para que não seja mais preciso apontar o dedo. [...] Trata-se, portanto, de despir-nos desses caminhos imaginários – que são aqueles baseados em um julgamento moral|”. Conforme vimos, o desenvolvimento de um objeto de estudo está interligado a inscrever-se enquanto pesquisador dentro de uma proposta de problematização de um fenômeno da linguagem, e enfrentar os imaginários possíveis que podem contribuir com a resolução ou diagnóstico do problema levantado. Segundo Ribeiro (2016), é possível entender que o desenvolvimento de um objeto de estudo/pesquisa pode configurar-se como a construção singular do pesquisador que produz um texto acadêmico. - O problema científico Toda atividade científica requer o desenvolvimento de trabalhos acadêmicos que se caracterizam de formas diferentes, porém, todos possuem uma relação com a formulação de um objeto de estudo, que consequentemente se constitui a partir do desenvolvimento de um problema de pesquisa. A problemática se estrutura inicialmente por meio da dúvida de um pesquisador. Ao se filiar a um campo teórico de investigação científica, este pesquisador desenvolve e seleciona métodos e técnicas científicas que o auxiliarão no desenvolvimento de seu estudo sobre o fenômeno problematizado. 10 1.4 O que é texto científico/acadêmico? Os textos científicos, também são conhecidos como trabalhos acadêmicos, que se caracterizam como uma produção textual, uma narrativa escrita que faz uso de conceitos e teorias para fundamentar uma reflexão e/ou uma análise de fenômenos sociais de diferentes áreas, resultados de pesquisas científicas. Esta forma de produção é própria da comunidade acadêmico- científica, que no Brasil é representada em grande parte pelas universidades. Entre suas características, o texto científico tem uma linguagem própria e específica da área de estudo, mas de forma geral, se organiza por meio de uma linguagem objetiva, que evita ambiguidade, e tem entre como uma de suas preocupações, a informatividade e clareza em seus conceitos. Para Ribeiro (2016, p. 122), A escrita do texto acadêmico, para um pesquisador da área de linguagem, diferentemente de outras áreas de conhecimento, constitui-se como suporte e produto de uma investigação científica. É pela escrita de tal texto que os resultados da pesquisa empreendida são divulgados, à medida que tal escrita se configura como produto dessa investigação. A autora nos reforça a concepção de que, ao escrever um texto científico, precisamos atender duas etapas de investigação. A primeira é a de apresentar para sociedade os resultados da pesquisa, e a segunda é compreender que o texto concluído funciona como prova material da experiência científica desenvolvida a partir do desenvolvimento de um objeto de estudo. Para Vieira e Fabiano (2013, p. 251), A produção escrita de textos acadêmicos possui em sua estrutura procedimentos teórico-metodológicos, como a apresentação de um problema, a criação de um objeto de pesquisa e a utilização de outros discursos, como argumentação e sustentação da investigação, que é realizada pelo jovem-pesquisador. Alguns gêneros textuais acadêmico-científicos não possuem em sua estrutura a necessidade de objetos de estudos específicos, o resumo e a resenha por exemplo. Porém, estas produções são oriundas da análise de 11 outros textos acadêmicos que podem conter em sua estrutura, um objeto de pesquisa definido. Assim, a escrita de textos científicos demanda de quem escreve um domínio sobre a produção e identificação de problemas de pesquisa, objetos de estudo, e toda articulação de procedimentos teórico-metodológicos utilizados como mecanismos de argumentação. • Os tipos e as correspondências Um conteúdo importante para lembrarmos são os conceitos universais de tipologias textuais, como texto narrativo, descritivo e argumentativo. Estas formas de textos estão presentes e estruturam os gêneros textuais. No contexto acadêmico, podemos citar como exemplos a escrita de resumos, resenhas e artigos científicos. SAIBA MAIS: CARACTERÍSTICAS O Texto científico - revela pesquisa, possui rigor científico e visa publicação. Ex. monografias, teses, resenhas e artigos científicos. O Texto técnico - relativo às profissões, a atividades empresariais e repartições públicas. Ex. atas, memorandos, circulares, requerimentos, relatórios, avisos entre tantos outros. Proximidades As redações técnico-científicas apresentam características que são regidas pelos mesmos princípios básicos (no sentido amplo) que orientam a estruturação de qualquer texto escrito, ou seja: clareza – coesão e coerência - correção, obediência às normas gramaticais e objetividade. Redação técnico-científica Precisão do vocabulário, a exatidão dos pormenores. Imparcialidade e comunicabilidade: eficácia e a exatidão da comunicação Esclarecer, informar Objetividade 12 Não permite ambiguidade Uniformidade na estrutura, na terminologia e no estilo. Linguagem denotativa Função referencial REFERÊNCIAS BACHELARD, G. A formação do espírito científico. Contribuição para a psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. DEMO, P. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2000. RIBEIRO, M. A. de O. Para não apontar o dedo: a constituição de um objeto de pesquisa In. TOLOMEI & LIMA (Orgs.) Entre Fronteiras: reflexões entre linguística e literatura. São Luís: EDUFMA, 2016. RIBEIRO, M. A. de O. Contornando Nevoeiros: A escrita de um objeto de pesquisa In. TOLOMEI & LIMA (Orgs.) Entre Fronteiras: reflexões entre linguística e literatura. São Luís: EDUFMA, 2016. VIEIRA, J. A; CAMPOS, S. F; "Da Formação à Produção Escrita na Graduação", p. 251 -268. In: Rumos da linguística brasileira no século XXI. São Paulo: Blucher, 2016. 13 UNIDADE 2 – GÊNEROS TEXTUAIS ACADÊMICO-CIENTÍFICOS – RESUMO, RESENHA E ARTIGO Na primeira Unidade, apresentamos os conceitos fundamentais que norteiam a produção científica em instituições de pesquisae Ensino Superior do país. A partir disso, na segunda Unidade, vamos desenvolver o conhecimento sobre os gêneros textuais característicos do contexto acadêmico-científico. Entre os diversos gêneros textuais acadêmicos, vamos trabalhar com aqueles previstos na ementa de nossa disciplina. Para isso, faremos uma breve descrição de conceitos e características dos gêneros acadêmicos mais utilizados no ambiente universitário, bem como, demonstraremos técnicas de produção que o auxiliarão no reconhecimento, e análise dessas formas de produções científicas. Inicialmente temos uma breve apresentação conceitual, para posteriormente indicarmos as funções, tipos e estruturas organizacionais do resumo, da resenha e do artigo científico. Os exemplos consideram todas as normas da Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT), bem como os instrumentos de normatização de trabalhos acadêmicos da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Porém, as normas específicas serão retomadas posteriormente, em outra unidade deste e-Book. Ao tratarmos sobre essas formas de produções escritas do ambiente acadêmico, é muito importante lembramos que os gêneros acadêmico- científicos são desenvolvidos com o propósito de documentar e comunicar o resultado de uma investigação, isto é, de uma pesquisa científica. Para Severino (2014), a documentação pode ser classificada de três formas: a temática, a bibliográfica e a geral. Esses gêneros podem ser utilizados com o intuito de registrar e estudar textos conceituais e/ou narrativos que pretendemos apropriar e/ou analisar. Nesta segunda Unidade, vamos abordar o resumo e a resenha. Ao final apresentaremos também algumas considerações sobre a organização textual e técnicas de escrita do artigo científico, compreendendo esses trabalhos como os principais gêneros mobilizados na prática científica, seja para fins de estudo, ou para produção de trabalhos que apontem resultados de pesquisas. 14 Objetivos • Apresentar o conceito de gênero textual acadêmico-científico; • Demonstrar as características dos gêneros acadêmicos: resumo, resenha e artigo científico; • Desenvolver técnicas e procedimentos da produção escrita científica. 2.1 Os gêneros textuais acadêmico-científicos: conceitos iniciais As discussões sobre o conceito de gêneros textuais e o ensino deles retoma anos de reflexões e demonstra, na história, a importância desse tema para o contexto acadêmico. Ao mesmo tempo, é perceptível as diferentes abordagens desses estudos que retomam a teoria dos gêneros consolidada por Mikhail Bakhtin (2003), em especial, a publicação do capítulo dos “Gêneros dos Discursos”. Os estudos sociointeracionistas bakhtinianos nos demonstraram que as práticas discursivas e os gêneros se organizam histórica e socialmente por meio de diferentes esferas sociais definidas pela experiencia que desenvolvemos em sociedade. Ou seja, os gêneros, mesmo estáveis, sofrem alterações e mudanças conforme suas manifestações, já que são frutos de práticas socioculturais. Entre essas práticas, há aquelas caracterizadas por serem produzidas no contexto acadêmico-científico. Podemos citar os resumos acadêmicos que são desenvolvidos para fins de estudo de uma leitura de disciplina, ou apresentação de um artigo científico, ou, uma resenha que escrevemos como forma de avaliação ou para construção de repertório argumentativo ou publicação. Por fim, podemos citar os artigos científicos, que produzimos para conclusões de cursos, disciplinas ou para publicação de resultados de investigações científicas. 2.1.1 O gênero textual Para Marcuschi (2008, p. 189), “os gêneros textuais não são frutos de invenções individuais, mas formas socialmente maturadas em práticas comunicativas na ação linguageira”. 15 Conforme vimos acima, Marcuschi (2008) explica que os gêneros textuais, mesmo que considerados frutos de produções particulares dos sujeitos em sociedade, se caracterizam também como uma prática, uma ação, um ato de uso da linguagem em comunidade. 2.1.2 O gênero textual acadêmico-científico A produção de gêneros, dentro de um contexto acadêmico, se define por meio de funções e características ligadas a práticas de pesquisa e investigação, desenvolvendo, desta forma, uma modalidade de classificação de gêneros ligada ao contexto da produção escrita de textos científicos. Para Aranha (2007), o discurso acadêmico possui uma estrutura linguístico-argumentativa específica para o contexto científico que influencia de forma vertical a prática do pesquisador, gerando a necessidade de que se desenvolva conhecimentos sobre a produção do texto científico. Pois, é a partir dos gêneros textuais desta comunidade (científica) que se materializam a prática de investigação, e consequentemente, a divulgação, promoção e consolidação de experiências de pesquisas. Em consonância, Mota-Rotth & Hendges (2010) apontam que a produção textual acadêmica desenvolvida no contexto universitário contribui com o letramento acadêmico-científico de alunos da graduação e pós-graduação. Entre os tipos de gêneros textuais acadêmico-científicos, vamos apresentar conceitos e técnicas de produção do resumo, da resenha e do artigo, além de, por meio da leitura e produção destes gêneros textuais acadêmicos, refletir sobre a prática e produção científica. 2.2 Tipos de produções científicas Neste tópico, abordaremos as características estruturais da produção de textos científicos. Para isso, apresentaremos o conceito e as formas de organização da escrita de resumos, resenhas e artigos científicos. 16 2.2.1 Resumo Os resumos acadêmicos ou mesmo aqueles característicos de sinopses de livros, filmes e demais trabalhos de sínteses, se configuram como apresentações concisas das informações e dados que estão presentes no texto fonte analisado. Salvador (1978, p. 17-19) conceitua resumo como “uma apresentação concisa e frequentemente seletiva do texto de um artigo, obra ou outro documento, pondo em relevo os elementos de maior interesse e importância”. A ABNT (Associação Brasileira de Normas e Técnicas) apresenta 03 (três) formas de classificação do resumo: indicativo, informativo e crítico. - Resumo indicativo: produção escrita que descreve a natureza, a forma e a finalidade do que é escrito, não transcende o objetivo de apontar indícios. Não descarta a necessidade de leitura do texto resumido. - Resumo informativo: escrita que possui a característica específica de apresentar informações. Pode substituir a leitura do texto fonte resumido. - Resumo crítico, ou resenha crítica: será objeto deste material no próximo tópico. No entendimento de Salvador (2008), o resumo tem por finalidade “apresentar uma visão geral de investigações feitas sobre uma determinada qu estão, com o objetivo de reunir conhecimentos sobre o tema que deve ser expo sto e também, ainda segundo o autor, sem discussão ou julgamento” (p. 17). Ou seja, é um texto que se propõe a sintetizar as principais informações presentes no texto original que apresenta os conhecimentos que serão reorganizados de forma resumida. 2.1.1.1 O resumo em contexto acadêmico Ao contextualizar a produção de gêneros, Schneuwly e Dolz (1999) expõem que o resumo se constitui num “eixo de ensino/aprendizagem essencial para o trabalho de análise e interpretação de textos e, portanto, um 17 instrumento interessante de aprendizagem” (p. 15). Ou seja, é uma ferramenta que auxilia a apropriação de conceitos teóricos que mobilizaremos numa produção acadêmico-científica. No contexto da pesquisa, é comum desenvolver a prática de resumir, pois é uma ação regular, compreendida pelos professores da educação superior como forma de estudo e apropriação dos conhecimentos que circulam na Academia. Esse gênero acadêmico também possui a característica deapresentar uma imagem de sujeito autorizado a divulgar conhecimentos originados pela pesquisa e investigação desenvolvidas. É uma forma de possibilitar a criação de um sentido de verdade ao situar o discurso científico num lugar enquanto conhecimento validado cientificamente. INÍCIO DE ATENÇÃO Por que resumir um texto? - Sintetizar textos longos auxilia o acadêmico em todas as disciplinas. - Reforçar as ideias principais e lembrar dos postos-chave do conteúdo. Qual a finalidade de um resumo? Resumir é um ato de ler, analisar e escrever em poucas linhas o essencial para o leitor. Preparar um resumo é também uma atividade de estudo e não só de avaliação. • As etapas de planejamento do resumo 1. Ler e reler o texto; 2. Destacar os conceitos importantes e fundamentais do texto; 3. Pontuar palavras-chave do assunto; 4. Grifar itens e frases importantes para a compreensão do texto; 5. Organizar as ideias principais do texto, questionando: o que está sendo dito no texto? Como eu explicaria este assunto para alguém? 6. Escrever o texto com suas palavras; 7. Iniciar pelo assunto básico/geral e depois passar para os assuntos específicos; 8. Não copiar trechos do livro-texto. 18 • Procedimentos para a escrita de um resumo a) Leitura atenciosa do texto; b) Definir o tema (assunto) abordado; c) LER o texto por parágrafos, sublinhando as palavras-chave para serem a base do resumo; d) Fazer um resumo dos parágrafos; e) Reler o texto e identificar as ideias coerentes e coesas; f) Escrever uma primeira versão do resumo articulando o resumo dos parágrafos; g) Analisar os conceitos apresentados em comparação com a compreensão que se tem sobre a posição do autor do texto fonte resumido. ATENÇÃO O resumo não possui comentários pessoais! Texto 1 - Exemplo do gênero resumo de artigo científico A LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS A PARTIR DAS OBRAS LITERÁRIAS OBRIGATÓRIAS DO PAES PARA ALUNOS DO TERCEIRO ANO DAS ESCOLAS PÚBLICAS DE BACABAL Erika Vanessa Melo Barroso (UEMA) Todos os anos acontece o Processo Seletivo de Acesso à Educação Superior da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) – PAES, que serve como ponte para que muitos estudantes do último ano do Ensino Médio entrem no nível superior, nesse processo a UEMA disponibiliza uma lista de obras literárias a serem lidas pelos candidatos, entende-se que alguns candidatos a uma vaga no PAES podem não ter conhecimento dessas obras ou não ter acesso as mesmas. Dessa forma, esse trabalho se deu em virtude de oferecer um Projeto de Extensão com alunos do Ensino Médio das escolas públicas da Regional de Bacabal para contribuir com a preparação deste aluno para o PAES da UEMA, pois vemos o quanto o aluno vestibulando tem dificuldade em escrever a sua redação principalmente os alunos da escola pública, infelizmente essa é a realidade vivida por nós nesse momento, esperamos, com esse projeto, minimizar esse problema e contribuir para que esses alunos consigam conquistar as vagas oferecidas pela UEMA. Com isso buscou-se através deste projeto trabalhar as obras literárias obrigatórias do PAES e auxiliar os alunos na produção de textos. Esse projeto será uma forma de possibilitar aos alunos das escolas da rede pública o conhecimento das 19 referidas obras em leitura comentada, instigando ainda a produção textual ao final de cada obra lida. Entende-se que um leitor se destaca onde chega, pois, um dos principais efeitos da leitura é o aprimoramento da linguagem, da expressão, pois, a leitura é uma forma de lazer, de prazer, de aquisição de conhecimento, de enriquecimento cultural e de interação. Assim, diante dessa perspectiva espera-se que, ao final do curso, o aluno tenha lido todas as obras literárias indicadas para o PAES e dessa forma, possa ter adquirido conhecimento de leitura suficiente para realizar todas as provas do PAES e, principalmente, escrever uma boa redação. E, assim, esse projeto terá contribuído para minimizar uma das maiores dificuldades em nossa educação, que é a leitura. Palavras-chave: Leitura. Ensino. Produção Textual. Obra Literária. Fonte: https://conilufma.com.br/downloads/2021/CADERNO-DE-RESUMOS-compactado- 17062021.pdf 2.2.2 A resenha Neste subtópico apresentamos conceitos, reflexões e discussões sobre a produção de uma ferramenta importante para o desenvolvimento de práticas científicas. A elaboração de uma resenha prevê, além do domínio linguístico de sua estrutura, o conhecimento sobre o tema central que é base do texto fonte objeto da resenha. A resenha é uma produção requisitada pelo professor e demanda uma necessidade de posicionamento crítico por parte do autor que a contextualiza e defende a obra objeto de análise. A resenha é uma das produções textuais mais utilizadas no contexto universitário científico. Todo sujeito que vivencia a experiência acadêmica, ao cursar a graduação ou cursos de pós-graduação, desenvolvem atividades de estudo que permitem a apropriação e mobilização de conhecimentos teóricos. Ao mencionarmos essas atividades acima, fazemos relação com duas práticas que precisamos desenvolver durante a formação. A primeira está relacionada à apropriação do conhecimento teórico-científico que mantemos contato durante os estudos em diferentes níveis. A segunda, é que após o desenvolvimento da apropriação para uma prática científica, é necessário mobilizar esses conceitos em análises de dados que subsidiam uma investigação. A resenha, mesmo possuindo a finalidade de analisar textos e emitir julgamentos, opiniões e posições do autor sobre o texto fonte/original, não se https://conilufma.com.br/downloads/2021/CADERNO-DE-RESUMOS-compactado-17062021.pdf https://conilufma.com.br/downloads/2021/CADERNO-DE-RESUMOS-compactado-17062021.pdf 20 configura como prática sem limites. Há uma necessidade e pressuposto para a sua produção. Para ser elaborada, ela requer conhecimento sobre o que é a ciência, suas formas de produção e domínio sobre o estudo e a leitura de outros textos relacionados ao texto original que é objeto de análise pelo resenhista. Assim, vejamos as características, objetivos e técnicas para o desenvolvimento deste gênero acadêmico-científico. • As divisões Para a metodologia científica, conforme a ABNT, a resenha crítica é uma das modalidades de resumos que ganhou grande espaço no contexto acadêmico por funcionar não só como uma produção textual com vistas à apropriação de conhecimentos teóricos, mas também se consagrou enquanto forma de trabalho requisitado para fins avaliativos e de ponto de partida para o desenvolvimento de outros textos acadêmicos. Com a conquista de maior espaço e a consolidação enquanto produção textual tradicional dentro da comunidade científica, foi elevada à categoria específica e tornou-se para os estudos metodológicos um gênero acadêmico específico. • A Resenha-crítica Podemos conceituar a resenha como produção escrita que, além de sintetizar o objeto e principais informações do texto, demarca durante sua construção uma avaliação crítica do sujeito que a escreve, pontuando aspectos de ordem positiva e negativa. Trata-se de um texto que ao mesmo tempo que aponta dados presentes no texto fonte, também emite, de forma construtiva, não pejorativa, opinião particular do autor sobre a estrutura, abordagem e estilo do texto original. • O objetivo do gênero resenha, as condições e exigências para produção 21 A resenha, de forma geral, configura-se como produção que visa divulgar manifestações culturais como livros, filmes, peças etc. É uma produção opinativa. no contexto acadêmico, as características básicas da divulgação e julgamento não se alteram. Porém, a condição de domínio sobre a temática é desenvolvida com maior rigor e apresenta-se como condição da produção de uma resenha crítica o conhecimento teórico científico sobreo assunto do texto que é resenhado. Para Motta-Roth & Hendges (2010, p. 27), “esse gênero discursivo é usado na academia para avaliar – elogiar ou criticar - o resultado da produção intelectual em uma área de conhecimento”. Ao mesmo tempo, retomando os ensinamentos de Cavalcante (2013), podemos compreender a resenha crítica como uma produção acadêmica que se caracteriza pela análise e intepretação de um texto, livro ou capítulo. É um gênero acadêmico que ultrapassa a noção de resumo de informações e traz comentários e referências complementares sobre o texto resenhado. O suporte e seu contexto de circulação As resenhas são desenvolvidas em contexto pedagógico tanto como ferramenta de avaliação, como de estudo, mas em contexto acadêmico- científico transcende e torna-se também objeto de publicação que visa divulgação de uma prática de investigação. Motta-Roth & Hendges (2010) afirmam que “o resenhador basicamente descreve e avalia uma dada obra a partir de um ponto de vista informado pelo conhecimento produzido anteriormente sobre aquele tema”. • Dicas para a escrita O tamanho da resenha está relacionado com o seu suporte (veículo que a sustenta), pois o lugar destinado à sua publicação depende do espaço que o veículo reserva para esse tipo de texto. Para melhor compreender esta diversidade de estilos relacionados ao tamanho da resenha, busquem ler resenhas publicadas em revistas científicas. 22 • Elementos estruturais da resenha Lakatos (1991) apresenta como estrutura da resenha crítica os seguintes elementos: a) Referência bibliográfica – Autor, título, imprensa, número de páginas, ilustração, etc. b) Credenciais do Autor – Informações do autor, filiação ao campo científico, nome de quem realizou o estudo, informações de tempo e espaço da produção. c) Conhecimento sobre o assunto – Assunto do texto/obra, característica do texto/obra, conhecimentos prévios que auxiliam na compreensão do texto/obra resenhado. d) Considerações/julgamentos do autor - Conclusões, posições, recursos utilizados. e) Indicações de referências do autor – Modelo e filiação teórica – método utilizado. f) Apreciação/avaliação do resenhista - Como situa a produção e o autor em relação ao campo de investigação e às condições sócio-históricas da produção - mérito da obra/texto – contribuição social e científica - estilo - características da organização linguístico-textual Na mesma linha do que vimos acima, Severino (2013, p. 183-184) apresenta algumas características sobre o gênero resenha. Para o autor, há uma lógica redacional entre os elementos que compõe a resenha. a) O cabeçalho aponta os dados bibliográficos completos da publicação resenhada, por meio de informações sobre o autor do texto. Podendo ser dispensada em caso do autor ser conhecido no contexto acadêmico. Para o reconhecido autor de obras de metodologia, a síntese que desenvolvemos do texto precisa ser objetiva, apresentar os pontos principais e mais significativos presentes no texto/obra que é analisado. Em relação à avaliação crítica que desenvolvemos sobre o texto que resenhamos, ressaltamos a possibilidade de se destacar no texto aspectos 23 positivos e negativos da obra que é objeto da resenha, assim como podemos evidenciar as contribuições do conteúdo para os mais diversos setores da sociedade. Já a crítica relacionada a pontos negativos, precisa ser dirigida às ideias que são apresentadas e não ao autor enquanto pessoa. ATENÇÃO A resenha não possui capas, páginas de rosto etc. É importante demarcar considerações introdutórias e contextualizar o tema. Apresentar dados iniciais sobre o autor, como: quem é ele, sua área de formação, publicações, e posição dentro do contexto acadêmico. • O desenvolvimento da crítica Os elementos que compõem a estrutura de uma resenha, a síntese do conteúdo e a avaliação crítica, não são desenvolvidos de forma linear, o julgamento que se faz na crítica não funciona como um complemento do resumo de informações, mas sim como objeto de destaque e fundamento da produção. A presença da voz do resenhista faz parte de toda produção, inserindo-se de forma articulada em todo texto. • Sugestões/recomendações - A crítica pode desenvolver-se de forma moderada, técnica e respeitosa; - Os resenhistas, assim como outros críticos, se tornam objetos de análises do outro, que possivelmente podem qualificá-lo como "detratores da obra" ou de não compreenderam a produção que resenhou; - Conforme discutimos, Severino (2013) destaca que é importante contextualizar o que se analisa e seus impactos e funções na área de estudo e/ou cultura aos quais estão vinculados; - Quem escreve uma resenha pode apresentar suas próprias ideias e defender seu ponto de vista, concordando ou não com o autor do texto resenhado; - Incluir pequenas passagens ilustrativas, demarcando aspas e citando a página e o ano. 24 Texto 2 - Exemplo do gênero resenha crítica A anomalia poética, de Silvina Rodrigues LOPES. Belo Horizonte: Chão da Feira, 2019. Natália Barcelos Natalino - UERJ Quase quinze anos separam as edições portuguesa e brasileira de A anomalia poética, título de Silvina Rodrigues Lopes: a portuguesa, de 2005; a brasileira, de 2019. Outro título de sua extensa obra começou a circular por aqui em 2012, quando a Chão da Feira, editora belo-horizontina, reparou, em parte, esta lacuna editorial: trata-se da primeira e única edição brasileira de Literatura, defesa de atrito, atualmente esgotada. A Chão da Feira vem realizando, nos últimos anos, um esforço notável neste sentido: a parceria da editora com a Prefeitura de Belo Horizonte e a Embaixada Portuguesa no Brasil vem possibilitando que alguns títulos portugueses sejam, finalmente, viabilizados em terras brasileiras – outros portugueses, como Daniel Faria, Gonçalo M. Tavares, Maria Filomena Molder e Raul Brandão, também já foram publicados pela editora. Professora universitária, crítica literária, ficcionista, poeta, tradutora e editora, Silvina Rodrigues Lopes faz parte de uma tradição de portugueses que encontra no ensaio o investimento na palavra. Mesmo que de modo mais latente, percebe-se, nos escritos que compõem A anomalia poética – sobretudo naqueles que investem em perspectivas e concepções do literário –, uma problemática que se arrasta desde sua celebrada tese de doutorado, defendida em 1993 e publicada em 1994, na qual a autora se debruça nas inúmeras instâncias e processos de legitimação da (em) literatura, considerando elementos que perturbam a sua própria ambiguidade constitutiva. Lopes diagnostica diversos fatores constituintes do que ela entende como “processo legitimador e fundador da instituição literária”, dentre os quais, a formação teórica, a crítica literária, a opinião pública, os direitos de autor e a integração da disciplina de literatura no sistema escolar (LOPES, 1994). Todos esses mecanismos de circunscrição da literatura parecem ainda estar em jogo em A anomalia poética. 25 Composto por 11 ensaios, originalmente publicados ou apresentados em momentos e meios distintos, o livro é dividido em três seções: I. Ficção e testemunho; II. O artifício, a técnica; e III. Valor. Nos deteremos, nesta resenha, nos ensaios da primeira seção e no ensaio que dá título ao livro. O primeiro deles, “Literatura e circunstância”, foi originalmente publicado em 2003 na revista Scripta, coincidentemente também de Belo Horizonte. Apoiada na convicção de que há certas circunstâncias que interferem no sentido da singularização, o que implica, ainda, uma noção de universalização, Lopes nos mostra que, caso consideremos a ficcionalidade como parte do literário, a tendência é que a vinculemos à universalidade, passando, desse modo, a ignorarmos a singularidade das circunstâncias. Por conseguinte, a ensaísta defendeque, na medida em que a linguagem-mundo (mais real, menos ficcional) se impõe, um discurso questionador e construtivo – logo, pensante – se afirma. Como ela própria anota: “Não se trata de recusar a dimensão institucional da literatura, mas de não deixar que ela prevaleça no jogo de forças em que as obras são produzidas e recebidas. [...] Sob a designação ‘literatura’ não só se inclui uma multiplicidade como um movimento desencadeador do múltiplo” (p. 13). E é também nesse mesmo ensaio que Silvina Rodrigues Lopes já começa a revelar, de antemão, suas principais recorrências teóricas – Gilles Deleuze, Jacques Derrida, Jean-Luc Nancy, Jean-François Lyotard e Maurice Blanchot, por exemplo –, presentes também nos ensaios seguintes. “A literatura no limite da ficção”, segundo ensaio, alude a uma questão há muito discutida e que parece não se esgotar: o problema da relação entre literatura e ficção. Considerando que, hoje, “a própria oposição entre história e ficção foi posta em causa” (p. 34), Lopes entende que, mesmo assim, é a ficção – enquanto pura construção de sentidos possíveis – que invade todos os domínios da (nossa) existência. São muitos os nós da questão, e por isso ela procura esclarecê-los organizando o seguinte percurso: 1) recorre ao pensamento ocidental, passando pela reformulação da noção de verossimilhança, para evidenciar uma contradição: a desvalorização da capacidade de invenção literária; 2) esclarece que, enquanto condição de todo o discurso, a ficcionalidade expõe a falha da ficção enquanto puro artifício; e 3) pensa como a figuração na literatura pode servir como experiência dos limites da ficção. Antes, esclarece: “O facto de a problemática da ficção constituir hoje 26 um aspecto central da teoria literária, o qual interfere com uma série de questões – como a do autor, do leitor, da recepção – que tradicionalmente fazem parte do campo da teoria e que se veem afetadas por este nó de convergência, que é ao mesmo tempo o lugar das mais vivas divergências” (p. 48). Em relação aos aspectos que dizem respeito à relação entre ficção e realidade, a ensaísta considera as contribuições de dois autores: Nelson Goodman, que abala a distinção entre mundo real e mundos irreais, ao propor a construção de versões do mundo ou de mundos, considerando que “há tantas versões do mundo quantas as representações que existirem dele, decorrente de uma percepção que varia com o contexto e as circunstâncias” (p. 50); Goodman sublinha, ainda, que a distinção a fazer não é exatamente entre realidade e ficção, mas entre não-ficção e ficção; e Käte Hamburguer, que estabelece uma diferença entre fingimento e ficção, não opondo ficção à realidade, mas sim a enunciado ou enunciado de realidade. Trata-se, portanto, de “sempre actualizar oposições do tipo natureza/ artifício, mundo real/ mundo ficcional, activo/ passivo, as quais têm por base uma concepção da linguagem, enquanto instrumento de representação e comunicação que se auto-anula para dar lugar ao outro – as imagens das coisas, a força do agir” (p. 52). Eis o interesse de Silvina Rodrigues Lopes: a abertura, tensão ou movimento da linguagem para o exterior, de modo que o leitor reinvente a linguagem da obra no confronto com os limites da sua própria linguagem – já que, segundo Lopes, “a leitura é também ela uma experiência que implica a ficcionalidade da linguagem” (p. 59). Logo, “Não se trata de estabelecer uma oposição ou um dilema entre ambas, mas de conceber a travessia da primeira como condição da segunda” (p. 56). Partindo de uma epígrafe de Friedrich Nietzsche em Humano, demasiado humano, Lopes inicia o terceiro ensaio, “Da necessidade à intranquilidade”, dizendo sobre como o termo “humanidade” carrega, ainda hoje – lembremos que o ensaio foi publicado pela primeira vez em 1999 –, um sentido preciso e, ao mesmo tempo, vago, para chegar à questão de um “devir- -outro”: para ela, o homem “foi superando uma fragilidade original face ao exterior” (p. 61), um processo que se tornou evidência por conta de uma capacidade de tornar indissociáveis a consciência da mortalidade e o desejo de encontro; em suas palavras: “capacidade de dizer ‘sim’, sem ignorar que é a afirmação que introduz o tempo pelo qual quem afirma é já outro” (p. 62). A 27 impossibilidade do devir-outro decorre da liquidação do humano – seja pelo terror, seja por meio de um outro tipo de compulsão ao silêncio. Admite, portanto, que o “terror” assombra ainda hoje o nosso cotidiano, e é isso que lhe importa saber: perceber como ele, o terror, surge a partir de uma configuração política e social, que, embora, em larga medida o ignore, “pois ele [o terror] não toma a forma habitual de ameaça mortal pura e simples, mas de morte daquilo que em nós é irredutível a automatismos ou se baseia em regularidades biológicas” (p. 62). Reconhece, no entanto, que não seria possível falar de terror apenas em sentido absoluto – “ele tem, para além disso, o sentido de uma emoção, íntima e social” (p. 63). Ainda, a ensaísta chama a atenção para os diferentes modos de imbecilização que nos cercam (a beleza, a força, o dinheiro), o que colabora para o “reforço do egocentrismo” (p. 70). Como se não bastasse necessitarmos cada vez de mais estímulos, caímos num estado de frustração, caímos na monotonia, como se nos esquecêssemos de que “todos os objetos são monótonos, porque são formas apenas finitas” (p. 70). Daí não conseguirmos mais ficarmos sós, logo, “a possibilidade do encontro desaparece perante a universalização de uma interação de permanência” (p. 71). Diz, por fim, que numa hipótese catastrofista, caminharíamos para a perda do humano, do relacional – um tempo em que não haveria, tampouco, o terror enquanto emoção. E somente assim, da necessidade à intranquilidade, por meio desse desvio, nos afirma(ría)mos mortais. São muitas as questões que se colocam nas páginas seguintes de A anomalia poética, partindo desde as relações de estilo, gênero e exemplaridade, passando pela noção de hipertexto, pelas categorias de sujeito-objeto, pela dominação da indústria cultural, chegando até as discussões que põem em xeque os campos da arte e da política – considerando discussões sobre consumo, desejo e os modos como as sociedades acolhem as obras de arte, por exemplo. Em todas essas questões Silvina Rodrigues Lopes procura indagar não só os seus funcionamentos, como também os problemas que os cercam, sempre se propondo a assinalar alguns traços característicos das transformações pelas quais passaram tais noções ou discussões. Avançando um pouco mais, é em “A anomalia poética”, ensaio que dá título ao livro – não sem razão –, que Silvina Rodrigues Lopes assume, de vez, sua postura interrogatória e, em certa medida, conflituosa e combativa: Lopes 28 (se) interroga sobre “uma obsessiva vontade de classificação” (p. 165) que, segundo ela, se reflete, ainda hoje, em grande parte do discurso sobre poesia; uma tendência que, de acordo com o texto, serve a uma lógica de “promoção das poéticas” (p. 165), similar às técnicas do marketing – prática que reduz o poema a um mero objeto de consumo. Desse modo, o objeto-livro fica refém das críticas dos chamados “sacerdotes da poesia”, e não da relação que ele possa estabelecer diretamente com o leitor – uma poesia que se leria “sem a ajuda de especialistas” (p. 170). Daí, sua tese: “Um poema não é um objecto como os outros: não é um objecto; nunca é como os outros. É essa a sua, a nossa, anomalia poética” (p. 166). É essa resistência, esse embate com uma lógica mercantilista, que interessa a Silvina – não só esse embate, mas outros também, e o principal: o embate com o indizível. Esclarece, como aquela que segue defendendo a defesa do atrito, aquela que advoga o duelo: O duelo com o indizível só cada um o pode travar. Ele tanto se pode dar no mais realista (entendendoque este adjetivo se refere ao verosímil, à existência de referência ao quotidiano) como no menos realista dos poemas. O duelo é sempre com o real; é este, enquanto indizível, que resiste em ato ao instituído, à realidade, e impede que esta se feche, impede que esteja tudo dito. Sabe-se, entende-se, que o duelo é necessário, que não se pode fazer das linguagens fortalezas incólumes à intensidade dos corpos que as constroem e habitam (a sensação de que está tudo dito é talvez a mais mortífera). (LOPES, 2019, p. 169-171) Consciente de que nem tudo está dito, os escritos de Silvina Rodrigues Lopes direcionam seu olhar não só para os estudos de teoria da literatura e os estudos de literatura portuguesa, como também inclinam seu pensamento para a arte, acumulando conhecimentos teóricos e filosóficos – sempre na tentativa de se inscrever enquanto escreve; a forma ensaística, portanto. Embora nem mesmo as editoras portuguesas tenham realizado, até hoje, o trabalho de corporizar uma edição sistemática, rigorosa e acessível de toda a sua obra crítica, estamos, por ora, bem servidos com a edição brasileira de A anomalia poética, publicação que certamente já vem contribuindo para os estudos no campo da literatura. Torçamos para que, a curto prazo, ações de incentivo, apoio e distribuição possibilitem avanços como este, afinal, sua obra merece ser publicada, debatida e conhecida no Brasil como uma referência indispensável aos campos do comparativismo cultural, da teoria da literatura e 29 seus trânsitos nos tempos de agora – um “agora” que, talvez, nem mesmo Silvina Rodrigues Lopes imaginasse, quando da preparação dos ensaios, ser ainda um sintoma do presente. REFERÊNCIAS LOPES, Silvina Rodrigues. A legitimação em literatura. Lisboa: Edições Cosmos, 1994. LOPES, Silvina Rodrigues. A anomalia poética. Belo Horizonte: Chão da Feira, 2019. Fonte: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/matraga/article/view/56362/36898 2.2.3 O artigo científico Uma informação importante para o jovem pesquisador iniciante é que o contexto acadêmico-científico brasileiro é caracterizado pelo domínio de pesquisas realizadas em universidades públicas, que concentram mais de 95% da produção científica do país. Após o desenvolvimento da investigação, uma das ações de todo pesquisador é apresentar e disponibilizar seus resultados para a comunidade científica poder, em caso de interesse, questionar, avaliar e debater os procedimentos e conclusões que a pesquisa realizou e gerou. Motta-Roth & Hendges (2010, p. 65), afirmam que O artigo é um texto, de aproximadamente 10 mil palavras, produzido com o objetivo de publicar, em periódicos especializados, os resultados de uma pesquisa desenvolvida sobre o tema específico. Esse gênero serve como uma via de comunicação entre pesquisadores, profissionais, professores e alunos de graduação e pós-graduação. Conforme observamos nas palavras das autoras, o artigo científico desenvolve uma via de comunicação entre diferentes públicos da comunidade científica. Ao mesmo tempo, esse fenômeno fez desse gênero a forma mais utilizada nos dias de hoje para apresentar uma pesquisa, e até mesmo, divulgá-la para conhecimento da comunidade. As produções do gênero acadêmico-científico artigo são, de acordo com Severino (2013, p. 182), https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/matraga/article/view/56362/36898 30 Destinadas especificamente a serem publicadas em revistas e periódicos científicos, esta modalidade de trabalho tem por finalidade registrar e divulgar, para público especializado, resultados de novos estudos e pesquisas sobre aspectos ainda não devidamente explorados ou expressando novos esclarecimentos sobre questões em discussão no meio científico. Para o referido pesquisador, esse gênero possui uma estrutura comum de texto científico, mas que ao mobilizar resultados de investigação, precisa colocar em evidência os objetivos do texto, a fundamentação teórica utilizada, a metodologia desenvolvida, uma análise de dados que participam da pesquisa, bem como as considerações que todo processo investigativo nos levou a compreender. Isso, além das referências bibliográficas e documentos que permitiram a realização da pesquisa. Em razão disso, neste tópico, apresentaremos mais detalhes de toda característica, conceito, e procedimentos que precisamos compreender para produzir um artigo científico. • Objetivos do tópico a) Apresentar o conceito de artigo científico; b) Demonstrar características e técnicas da produção escrita do artigo científico; c) Indicar exemplo de produção de um artigo científico ATENÇÃO Sobre a formatação técnica do texto, as revistas e periódicos costumam estabelecer normas específicas para a publicação dos artigos, cabendo ao autor se inteirar delas antes de enviar seu trabalho à editoria. (SEVERINO, 2013, p. 182). • O conteúdo A produção escrita de um artigo deve apresentar, inicialmente, uma introdução ou apresentação que informe ao leitor o assunto, o objeto de estudo, os objetivos geral e específicos, a filiação teórica em que se insere dentro da área de estudo, os procedimentos metodológicos utilizados e a discussão e reflexão que será realizada. Por fim, na conclusão ou considerações finais, ele precisa enfatizar as contribuições da pesquisa. Além 31 disso, a escrita do trabalho também pode ser dividida em seções e tópicos numerados e com subtítulos. • Os elementos estruturais 1. Introdução - (Problemas/ Objetivos/metodologia) ✓ Apresentar as principais linhas de desenvolvimento da pesquisa. ✓ Descrever para seu leitor a terminologia empregada para auxiliar a compreensão de sua problemática de estudo. ✓ Não citar os resultados do trabalho. 2. Revisão da literatura Também conhecida como “quadro teórico”, ou “fundamentação teórica”, a revisão da literatura se caracteriza como breve levantamento de conceitos e reflexões teóricas relevantes já publicados. Ela funciona como base de sustentação teórica do trabalho acadêmico que é desenvolvido. ATENÇÃO Não podemos compreender esta parte da estrutura do artigo científico como uma transcrição ou descrição de pequenos textos. Mas sim, como uma reflexão articulada sobre ideias, concepções, hipóteses, problemas, e sugestões de outros autores que já desenvolveram outras investigações que auxiliam na execução da pesquisa que é registrada enquanto texto científico no artigo. 3. Materiais e métodos Este item é a parte do gênero que explica os procedimentos que foram planejados e executados para garantir a realização da pesquisa. É obrigatória para trabalhos que envolvem práticas experimentais, coleta de dados, entrevistas, ou ainda, questionários. A descrição dos materiais e métodos utilizados na investigação permitem que outros pesquisadores repitam os ensaios desenvolvidos, isto é, uma forma de colocar a pesquisa em teste e fortalecer seu resultado na comunidade científica. As técnicas e processos retirados de outros trabalhos, em especial, aqueles já publicados, devem ser referidos por citação de seu autor. 32 4. Resultados/Discussão/análises Ao desenvolver os resultados, as discussões e as análises, é importante: ✓ Apresenta-los em ordem cronológica; ✓ Utilizar tabelas e ilustrações, se achar necessário; ✓ Os dados quantitativos, sempre que possível, precisam passar por uma análise estatística; ✓ Comentário sobre os resultados; ✓ Dar primeiros indícios sobre as conclusões; ✓ Demarcar opiniões do autor com fundamentação teórica; ✓ Apresentar uma relação entre causas e efeitos; ✓ Explicar e comentar sobre contradições, teorias e princípios relativos ao trabalho; ✓ Apontar formas de aplicação e impactos dos resultados obtidos; ✓ Elaborar, se possível, uma teoria para justificar os resultados obtidos; ✓ Indicar possibilidade de novas pesquisasa partir das experiências deste trabalho. 5. Conclusão/considerações finais. A finalização de um artigo é o momento que o pesquisador, após desenvolver sua pesquisa com base em teorias e procedimentos teóricos, apresenta suas respostas, afirmações e opiniões fundamentadas nos resultados e nas respectivas discussões que apresentou durante todo o trabalho. Além disso, é preciso lembrar de alguns pontos: ✓ Reafirmar, de maneira sintética, a ideia principal. ✓ Responder a problemática apresentada como justificativa da pesquisa. ✓ Demonstrar como cumpriu os objetivos do trabalho. ✓ Apontar possíveis encaminhamentos para futuros trabalhos. • O que é o tema? É a definição de um assunto. Por meio da vinculação com um campo de investigação/área de estudo, escolhemos um tópico que será o tema que será investigado. 33 • Pontos importantes para desenvolver ✓ Planejar o que se vai informar; ✓ Lembrar que extensão tem relação com profundidade; ✓ Definir limites; ✓ Elencar as ideias fundamentais/principais e secundárias; ✓ Estabelecer articulação entre as ideias e a temática principal; ✓ Demarcar um enfoque. • Passos para elaboração Coleta de dados: ✓ Levantamento da bibliografia; ✓ Plano de leitura; ✓ Documentação (anotação da referência); ✓ Seleção do material coletado. Divisão preliminar: ✓ Introdução (projeto de pesquisa); ✓ Desenvolvimento (fundamentação teórica, explicações, demonstrações, análises e discussões); ✓ Conclusão (recapitulação). ATENÇÃO Na divisão preliminar desenvolvemos um plano de texto do procedimento de escrita. Na introdução apresentamos a proposta/projeto de pesquisa que realizamos. No desenvolvimento descrevemos a fundamentação teórica articulada com explicações, exemplos, análises e discussões sobre a pesquisa. Finalmente, na conclusão, recapitulamos a proposta inicial de investigação e explicamos o que realizamos e quais as respostas que encontramos. Dicas sobre a produção escrita ✓ O texto precisa ser objetivo e neutralizar posições pessoais do enunciador; ✓ Fazer uso de primeira pessoa do plural ou terceira do singular na conjugação dos verbos; ✓ Apresentar resultados, observações e experiências como exemplos; ✓ Escrever dentro das normas gramaticais; 34 ✓ Fazer uso de operadores argumentativos para articular as ideias e os parágrafos; ✓ Usar referências e citações de forma articulada com discussões próprias; ✓ Evitar uso excessivo de citações; ✓ Não fazer cópias de outros textos; ✓ Evitar repetição de palavras; ✓ Evitar períodos/parágrafos muito longos. • A estrutura pós-textual As referências bibliográficas Neste item final do artigo científico, é importante demarcar todas as obras/textos que foram citados direta ou indiretamente no texto. Não se deve esquecer que a lista deve seguir uma ordem alfabética e demarcar as referências conforme as normas da ABNT. SAIBA MAIS Para Severino (2013), a listagem das obras/textos que colocamos nas referências bibliográficas devem obedecer sempre a regra de só descrever as referências de textos citados e demarcados no corpo do texto do trabalho. O autor faz esta lembrança porque há uma diferença entre referências bibliográficas e bibliografia. Sendo que a segunda pode demarcar referências e textos não citados, mas que possivelmente foi objeto de leitura do pesquisador. Um recurso, utilizado em outros gêneros acadêmicos-científicos, como o projeto. • Elementos para a apresentação gráfica Os artigos científicos podem ou não conter em sua estrutura tabelas, gráficos, mapas, desenhos, fotos etc. Porém, sempre que fizer o uso desses recursos, o pesquisador deve seguir algumas regras. ✓ A ilustrações se caracterizam pelo uso de quadros, gráficos, mapas, desenhos e fotos. Todas precisam ser identificadas com o termo figura, quadro, conforme o caso, precedido por um número arábico; ✓ As tabelas devem ser produzidas sem traços divisórios internos; 35 ✓ A sigla deverá ser escrita em letras maiúsculas, entre parênteses, e ser antecedida pelo nome completo do que lhe deu origem quando utilizada pela primeira vez; ✓ As notas de rodapé precisam ficar dentro das margens da página, separadas do corpo do texto por um espaço simples e por um espaçamento de 3 cm, a partir da margem esquerda; ✓ A contagem das páginas é sequencial em todo o texto e sua identificação gráfica é demarcada a partir da primeira página da Introdução, a 2 cm da borda superior, ficando o último algarismo arábico a 2 cm da borda direita da folha. EXEMPLO DE ARTIGO CIENTÍFICO DO ARTIGO CIENTÍFICO AO RESUMO ACADÊMICO: OPERAÇÕES E ESTRATÉGIAS DE ESCRITA MOBILIZADAS POR ALUNOS DE GRADUAÇÃO EM LETRAS Roberto Barbosa Costa Filho 1 Marcia Candeia Rodrigues http://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/revistagepadle/article/view/4144/pdf REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. FRANÇA, J. L. Manual para normalização de publicações técnico- científicas. 6. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: UFMG, 2003. MACHADO, A. R. Revisitando o conceito de resumos. In: DIONISIO, Â. P. et al. (Org.) Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002, p. 138- 150. MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, Â. P. et al. (Org.) Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002, p. 19-36. MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. MEDEIROS, J. B. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. São Paulo: Atlas, 1991. http://seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/revistagepadle/article/view/4144/pdf 36 MOTTA-ROTH, D.; HENDGES, G. R. Produção textual na universidade. São Paulo: Parábola, 2010 NATALINO, N. B. A anomalia poética de Silvina Rodrigues Lopes. Matraga, Rio de Janeiro, v. 28, n. 52, p. 211-214, jan./abr. 2021. SALOMON, D. V. 1971. Como fazer uma monografia. 10. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. SALVADOR, Â. D. Métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica. Porto Alegre: Sulina, 1978. SCHNEUWLY, B. & DOLZ, J. Os gêneros escolares: das práticas de linguagem aos objetos de ensino. In: Revista Brasileira de Educação, nº 11, 1999, p. 5- 16. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 1ª ed., 2013 (e-pub). 37 UNIDADE 3 - NORMAS, ORGANIZAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO DA ESCRITA CIENTÍFICA Fonte: http://apoioemtudo.blogspot.com/2017/11/normas-da-abnt-orientacoes-tecnicas.html Fonte: http://www.portaldotcc.com.br/abnt/ Objetivos • Discutir a importância da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para a leitura, produção, divulgação e preservação dos textos acadêmico-científicos; • Mostrar que a paráfrase é um elemento constitutivo e fundamental para a escrita científica; • Apresentar a diferença entre discurso citado direto e indireto; • Compreender as normas e regras que orientam a construção e o emprego dos tipos de citação, bem como a formatação dos elementos textuais e pós-textuais que estruturam a pesquisa científica. http://apoioemtudo.blogspot.com/2017/11/normas-da-abnt-orientacoes-tecnicas.html http://www.portaldotcc.com.br/abnt/ 38 Nas Unidades anteriores, discutimos sobre o processo de aquisição e de sistematização do conhecimento científico, assim como a elaboração de alguns textos denominados “acadêmico-científicos”, como resumo, resenha, artigo, etc. Nesta unidade, vamos conhecer algumas normas que organizam e regulamentam a escrita desses textos, propostas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Para isso, dividimos a Unidade em cinco seções. Na primeira seção, apresentamos algumas informações sobre a ABNT e discutimos sobre a importância desta entidade para a produção e divulgaçãocientífica. Na segunda, apresentamos o conceito e os tipos de paráfrases, assim como o de intertextualidade, mostrando que eles são essenciais para fundamentar a escrita dos textos acadêmico-científicos. Na terceira, abordamos o discurso citado direto e indireto, explicando o seu funcionamento no processo de escrita. Na quarta, mostramos os tipos de citação e as normas que orientam o seu emprego no texto. Na quinta e última sessão desta Unidade, mencionamos algumas normas e regras que orientam e organizam a formatação desses textos estruturados a partir dos elementos textuais e pós-textuais. 3.1 A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) Nesta primeira seção vamos conhecer um pouco mais sobre a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e entender como ela contribui para a leitura e a produção dos textos acadêmico-científicos. Segundo consta em seu site, a ABNT é uma entidade privada e sem fins lucrativos que foi criada em 28 de setembro de 1940, ela é o Foro Nacional 39 de Normalização por reconhecimento da sociedade brasileira desde a sua fundação. A ABNT trabalha em sintonia com governos e com a sociedade, contribuindo para a implementação de políticas públicas, promovendo o desenvolvimento de mercados, defendendo os direitos dos consumidores e, de um modo geral, zelando pela segurança de todos os cidadãos. Essa entidade é responsável, entre outras coisas, pela elaboração dos parâmetros que determinam a padronização de textos acadêmicos por meio das Normas Técnicas (NT). Trata-se de um documento técnico que fixa padrões reguladores visando garantir a qualidade de um determinado produto, a racionalização, a uniformidade dos meios de expressão e a comunicação. Essa padronização é importante porque garante que algo pode ser aprendido e ensinado por qualquer pessoa, uma vez que há o emprego de uma linguagem técnica comum. Sendo assim, nos perguntamos: a) Qual é a relação existente entre a ABNT e a escrita de textos acadêmico-científicos? e b) Por que devemos seguir as normas técnicas propostas por ela? Uma das inúmeras funções da ABNT é contribuir para a padronização da escrita científica estabelecendo regras utilizadas em todo o território nacional, como tamanho da fonte do tipo de letra utilizado, espaçamento entre linhas, formatação das citações diretas e indiretas e apresentação/organização das referências bibliográficas. São essas regras que normatizam, organizam e regulamentam a escrita científica contribuindo para o entendimento, a disseminação e a preservação das pesquisas desenvolvidas nas Universidades e nos Institutos, por exemplo. Para a ABNT, Na realidade, o conhecimento teórico ou prático, desprovido dos meios para sua conservação e transmissão, pouco significa em si mesmo. O trabalho humano se torna material por meio de procedimentos, regras, instruções, modelos, que podem ser repetidos, ensinados e aprendidos. Sem essa condição fundamental - a expressão do conhecimento em regras compreensíveis pelo outro - a civilização material não tem condições de se reproduzir. Ensinar e aprender a criar são atos que requerem uma linguagem comum1. 1 Disponível em: http://www.abnt.org.br/abnt/conheca-a-abnt Acesso em 12 de maio de 2021. http://www.abnt.org.br/abnt/conheca-a-abnt 40 SUGESTÃO DE LEITURA Para saber mais sobre a ABNT ou o Foro Nacional de Normalização da ABNT, faça a leitura do estatuto que está disponível no link a seguir: http://www.abnt.org.br/images/Docspdf/ESTATUTOABNT_abril18.pdf 3.2 Paráfrase Vejamos agora o conceito de paráfrase e discutimos a sua importância para a construção textual. Entendemos que o saber acadêmico- científico se constrói por meio da leitura e da compilação de textos de vários autores. Isto porque nenhum pesquisador pode ser considerado como sendo detentor ou a “fonte única” de um saber científico, já que todo saber se apoia em outros. Do mesmo modo, a produção de um resumo, uma resenha ou um artigo científico requer a construção de uma ou mais paráfrases. Sant’Anna (1985, p. 17) explica que o termo para- phrasis é de origem grega e significava “continuidade ou repetição de uma sentença”. A paráfrase mantém com o texto original ou texto-fonte uma relação de intertextualidade porque o novo texto não diverge do texto parafraseado, mas assemelha-se a ele, mantendo a mesma perspectiva. Nesse sentido, o que é intertextualidade? Como a intertextualidade se manifesta no texto? Julia Kristeva foi a primeira a usar o termo intertextualidade, em 1967, e a apresentá-lo para a comunidade científica. Em virtude disso, todos os trabalhos que se dedicam à abordagem desse tema não podem deixar de citá-la e nem tampouco de evidenciar a sua importância para os estudos da linguagem. Kristeva (1974, p. 440) defende o ponto de vista de que “todo texto se constrói como mosaico de citações; todo texto é absorção e transformação de um outro texto que o antecedeu e lhe deu origem.” Logo, entende-se que a intertextualidade, conforme propõem Koch e Elias (2012, p. 86), é o elemento constituinte e constitutivo do processo de escrita/leitura e compreende as diversas maneiras pelas quais a produção/recepção de um dado texto depende de conhecimentos de outros textos por parte dos interlocutores, ou seja, dos diversos tipos de relações que um texto mantém com outros textos. http://www.abnt.org.br/images/Docspdf/ESTATUTOABNT_abril18.pdf 41 As autoras enfatizam que a intertextualidade pode ocorrer de maneira explícita e/ou implícita. a) Intertextualidade explícita – ocorre quando há citação da fonte do intertexto, como acontece nos discursos relatados, nas citações e referências; nos resumos, resenhas e traduções; nas retomadas de textos de parceiro para encadear sobre ele ou questioná-lo na conversação. b) Intertextualidade implícita – ocorre quando não há citação expressa da fonte, cabendo ao interlocutor recuperá-la na memória para construir o sentido do texto, como nas alusões, na paródia, em certos tipos de paráfrases e ironias. ATENÇÃO A escrita do texto acadêmico-científico utiliza-se tanto da intertextualidade explícita quanto da implícita e esse uso pode ocorrer de modo simultâneo ou não. A paráfrase ou “metáfrase”, como nomeia Oliveira et al (2013, p. 60), é a imitação de um texto escrito por outro autor, em prosa ou em verso. Quando utilizamos a paráfrase, reescrevemos, com nossas palavras as informações contidas no texto original, empregando sinônimos no intuito de preservar as ideias principais nele contidas. Os autores destacam que é comum fazer-se inversões das estruturas frasais do texto reescrito, entretanto é obrigatória a citação e referência ao autor da obra parafraseada. Exemplo de paráfrase: a) Texto original: “Educar, formando o caráter, eis o problema máximo cuja solução o momento reclama angustiosamente”. [VINÍCIUS. O mestre na educação. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009]. b) Paráfrase do texto acima: A educação deve empenhar-se, antes de mais nada, em formar homens de bem. De acordo com Meserani (1995), a paráfrase sempre remete a uma obra que lhe é anterior para reafirmá-la, esclarecê-la, deixando a intertextualidade marcada. Trata-se de um processo de reescrita que pode 42 incluir outros tipos de textos além dos literários, como os de caráter científico, por exemplo, e ainda a linguagem não verbal. Considerando as semelhanças existentes entre a paráfrase e o texto parafraseado, o autor a divide em dois tipos: a) Paráfrase Reprodutiva – é a tradução quase literal de um outro texto, servindo para reiterar, fixar, insistir, explicar, sintetizar, melhorar linguisticamente o texto, de forma parcial ou total. Tradicionalmente se conceitua a paráfrase reprodutiva como sendo simples reprodução, visto que o conteúdo do texto original é mantido no texto derivadoe não conta com expansão de ideias. Porém, esse tipo se distingue da cópia, onde há a transcrição total. Na reprodução, o objetivo é escrever o que for relevante da obra, necessitando assim por parte do produtor a habilidade de sintetizar. Neste caso não se pode falar em criatividade, pois se trabalha basicamente “no eixo de substituições semânticas, da sinonímia” (MESERANI, 1995, p. 100). São exemplos de paráfrases reprodutivas os textos de imprensa, as notícias, os resumos de novelas. ATENÇÃO Os textos acadêmico-científicos que constam neste e-Book, como o resumo e a resenha, são exemplos de paráfrase reprodutiva. Apresentamos a seguir a resenha da obra A anomalia poética, de Silvina Rodrigues Lopes, publicada na Revista de Estudos Linguísticos & Literários do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ, Matraga. 43 CAPA DA OBRA Fonte: https://www.amazon.com.br/ANOMALIA-POETICA-SILVINA-RODRIGUES- LOPES/dp/8566421191 Acesso em 30 de junho de 2021. SUGESTÃO DE LEITURA Acesse a referida resenha através do link disponível a seguir: https://www.e- publicacoes.uerj.br/index.php/matraga/article/view/56362/36898 O outro tipo de paráfrase proposto por Meserani (1995) é a “Paráfrase Criativa”. b) Paráfrase Criativa – é aquela que “ultrapassa os limites da simples reafirmação ou resumo do texto original”, indo além da simples transcrição literal. Neste tipo de paráfrase, o texto se desdobra e se expande em novos significados. Podemos entender que há um afastamento do texto original, https://www.amazon.com.br/ANOMALIA-POETICA-SILVINA-RODRIGUES-LOPES/dp/8566421191 https://www.amazon.com.br/ANOMALIA-POETICA-SILVINA-RODRIGUES-LOPES/dp/8566421191 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/matraga/article/view/56362/36898 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/matraga/article/view/56362/36898 44 ficando, contudo, no campo da semelhança, ou seja, há a mesma perspectiva, convergindo com o texto original, porém, expandindo-o. O texto parafrástico, nesta categoria, não discorda, mas distancia-se do texto original, indo além da simples reiteração. Trata-se de perspectivas diferentes. Enquanto a paráfrase reprodutiva se aproxima da reprodução, a paráfrase criativa possui sua dose de criação, dando origem a um novo discurso, sem, contudo, divergir do texto que lhe deu origem. Como exemplo de paráfrase criativa, podemos citar as Fanfics, processo de escrita no qual o sujeito utiliza a sua criatividade e reflexão, transformando o texto parafrástico em um novo discurso, uma nova voz. SAIBA MAIS A palavra “Fanfic” é uma abreviatura inglesa do termo fan fiction, um conceito que se refere à criação de qualquer tipo de obra a partir de uma história já existente. Este tipo de ficção é feito por fãs que recriam histórias de outros autores. A Fanfic pode ser aplicada em um romance, uma série de televisão, uma história em quadrinhos, enfim, a qualquer história já publicada. Do ponto de vista histórico, este fenômeno surgiu na década de 1930, quando alguns fãs de quadrinhos criaram suas próprias histórias inspiradas em seus personagens favoritos. Fonte: https://conceitos.com/fanfic/ Koch e Elias (2017, p. 102) apresentam uma lista de expressões que funcionam como introdutoras de paráfrase, a saber: ✓ Isto é; ✓ Ou seja; ✓ Ou melhor; ✓ Quer dizer; ✓ Em síntese; ✓ Em resumo; ✓ Em outras palavras etc. Essas expressões promovem a ligação entre o que foi e o que será dito, criando um novo texto ancorado no anterior: o que foi parafraseado. https://conceitos.com/romance/ https://conceitos.com/fanfic/ 45 Embora existam autores que percebem a paráfrase como sendo um discurso sem voz e apresentando uma linguagem pouco evoluída, Sant’Anna (1985) não desvaloriza o trabalho realizado pelo autor da paráfrase. Segundo ele, ao reformular e restituir o sentido de um texto, o autor da paráfrase dá origem a um novo discurso que exigiu do seu produtor criatividade e trabalho reflexivo. Esse trabalho não deve ser confundido com plágio (assunto a ser tratado na próxima Unidade) ou uma mera reprodução textual. SUGESTÃO DE LEITURA Amplie seus conhecimentos sobre paráfrase, intertextualidade e Fanfic. Leia o livro Intertextualidade, de Tiphaine Samoyault, publicado pela editora Hucitec, em 2008. Disponível no link: https://dtllc.fflch.usp.br/sites/dtllc.fflch.usp.br/files/Intertextualidade%20- %20Livro%20completo.pdf Leia os artigos Parafrasear: Por quê? Pra quê?, de Onici Claro Flôres, publicado na Revista Letrônica. Disponível no link: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/letronica/article/view/23314 Leia A intertextualidade: um conceito em muitos olhares, de Gutemberg Lima da Silva e Roberta Varginha Caiado, publicado nos Anais do GELNE. Disponível em: http://www.gelne.com.br/arquivos/anais/gelne- 2014/anexos/708.pdf SUGESTÃO DE VÍDEO Assista ao vídeo O que é Fanfic? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kKwJ2xMcwys 3.2 Discurso citado Vimos que os discursos são produzidos a partir do conhecimento de outros discursos que circulam na sociedade. Fazer referência ao discurso do outro é algo bastante comum no nosso dia a dia. Quando nos referimos aos discursos veiculados no contexto acadêmico-científico, dizemos que não é proibido usar as ideias e os conceitos produzidos por outros autores. No entanto, devemos saber como fazer isso, ou seja, como inserir o “discurso alheio” ou de “outra pessoa” em nossos textos, https://dtllc.fflch.usp.br/sites/dtllc.fflch.usp.br/files/Intertextualidade%20-%20Livro%20completo.pdf https://dtllc.fflch.usp.br/sites/dtllc.fflch.usp.br/files/Intertextualidade%20-%20Livro%20completo.pdf https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/letronica/article/view/23314 http://www.gelne.com.br/arquivos/anais/gelne-2014/anexos/708.pdf http://www.gelne.com.br/arquivos/anais/gelne-2014/anexos/708.pdf https://www.youtube.com/watch?v=kKwJ2xMcwys 46 sem cometer plágio. Para isso, é fundamental indicar a referência do discurso que foi citado diretamente ou indiretamente. Bakhtin (2000, p. 88) esclarece que nossas palavras não são “objetos virgens ainda não designados”, mas elas se cruzam e se encontram com as palavras do outro, de modo que todo discurso é essencialmente dialógico. Duas justificativas sustentam essa asserção: i) o discurso é construído entre pelo menos dois interlocutores que, por sua vez, são seres sociais; e ii) todo discurso se constrói como um “diálogo entre discursos”, ou seja, todo discurso mantém relações com outros discursos. Do ponto de vista do autor, “a palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim numa extremidade, na outra apoia-se sobre o meu interlocutor. A palavra é um território comum do locutor e do interlocutor” (BAKHTIN, 2000, p. 63). O discurso citado ou “discurso alheio”, conforme Bessa e Bernardino (2011) e Maingueneau (2008), pode se manifestar de dois modos: discurso direto e discurso indireto. a) Discurso citado direto – procura conservar a integridade e a autenticidade do discurso alheio, esforçando-se para delimitar esse discurso com fronteiras nítidas e estáveis (itálico, aspas ou presença de um verbo introdutor). Só existe através do discurso citante, que constrói como quer um simulacro da enunciação citada. Nele, o locutor se constitui como simples porta voz das palavras do outro, que ocupam o tempo ou espaço na frase. Maingueneau (2008, p. 141) explica que por mais fiel que o discurso direto seja, “é sempre apenas um fragmento do texto submetido ao enunciador do discurso citante, que dispõe de múltiplos meios para lhe dar um enfoque pessoal”. b) Discurso citado indireto – o enunciador citante tem uma infinidade de maneiras para traduzir as falas citadas porque não são as palavras exatas que são relatadas, mas sim o conteúdo do pensamento.
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