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PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL Belo Horizonte 2 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 03 1 O QUE É PLANEJAMENTO? ............................................................................ 05 2 PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL ............................................................. 06 2.1 Objetivos ........................................................................................................... 08 3 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO ....................................................... 09 3.1 Plano Diretor ....................................................................................................... 12 3.2 Plano Plurianual – PPA ....................................................................................... 20 3.3 Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO............................................................... 29 3.4 Lei Orçamentária Anual – LOA ........................................................................... 33 REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS .................................................. 40 AVALIAÇÃO ............................................................................................................. 43 3 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 INTRODUÇÃO Sejam bem-vindos aos cursos de especialização oferecidos pelo Instituto Pedagógico de Minas Gerais – IPEMIG. Nos esforçamos para oferecer um material condizente com a graduação daqueles que se candidataram a esta especialização, procurando referências atualizadas, embora saibamos que os clássicos são indispensáveis ao curso. As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras, afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e provado pelos pesquisadores. Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, nos colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que nada está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão acrescentar e melhorar nosso trabalho. Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distância, vocês são livres para estudar da melhor forma que possam organizar-se, lembrando que: aprender sempre, refletir sobre a própria experiência se somam e que a educação é demasiado importante para nossa formação e, por conseguinte, para a formação dos nossos/ seus alunos. Este módulo contempla os instrumentos necessários ao planejamento governamental, portanto, esperamos que ao final dos estudos tenham ampliados os conceitos e técnicas de elaboração do Plano Diretor e entendido os aspectos mais relevantes para a elaboração do Plano Plurianual, da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei Orçamentária Anual. Enfim, que tenham percebido a importância do planejamento como essencial, como ponto de partida para uma administração eficiente e eficaz da máquina pública. 4 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Trata-se de uma reunião do pensamento de vários autores que entendemos serem os mais importantes para a disciplina. Para maior interação com o aluno deixamos de lado algumas regras de redação científica, mas nem por isso o trabalho deixa de ser científico. Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar dúvidas e aprofundar os conhecimentos. 5 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 1 O QUE É PLANEJAMENTO? Planejar é tornar o futuro uma parte do presente. É o controle sobre aquilo que ainda vai acontecer. Muito se planeja com base em fantasias irrealizáveis. Esses planos estão fadados ao fracasso. É o ajuste do plano à realidade o seu fator máximo de sucesso. Daí a necessidade de mantê-los realizáveis, ou seja, ajustados e atualizados. Nesse contexto podemos inserir os planos de governo que convivem com dificuldades extras: A inexistência de cultura de planejamento; O passado de fracasso das tentativas de planejamento; O descrédito da função de planejar; A equipe reacionária ao planejamento; A inexistência de técnicas maduras de planejamento público; A volatilidade das equipes de governo; O imediatismo como os problemas são vistos; e As variantes políticas de cada governo em especial. Implantar a cultura de planejamento é uma atitude ousada, mais ainda se o quadro técnico considerar o planejamento como uma exigência formal, mas eis que tivemos a felicidade da implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal que inova, já que exige resultados, além de formalidades. Por ela conseguimos perceber que planejar torna-se essencial na medida em que é exigido atingir o equilíbrio das contas públicas. Quanto às ações de governo, estas precisam ser medidas a longo prazo, no Plano Plurianual (PA), a médio e curto prazo no orçamento e na sua execução, de modo que, ao final de cada exercício, o resultado não seja deficitário. 6 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Pois bem, vamos aos nossos objetivos: compreender a importância do planejamento para que as administrações públicas atinjam como resultado o equilíbrio das contas públicas. 2 PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL Há muito se propagam a importância e a necessidade do planejamento das ações governamentais. A administração das contas públicas, o controle do déficit e a necessidade de equilíbrio das contas são preocupações latentes por parte de todos os setores da sociedade (ANDRADE et al, 2008). Nesse contexto, o que se busca é o saneamento geral das finanças dos governos em todas as suas esferas, convivendo-se em contraponto com a escassez de recursos financeiros para processar as grandes e variadas demandas de uma sociedade cada vez mais complexa. Diante desse quadro, fica evidenciada a questão de que é preciso a modernização da administração pública e de que é principalmente necessária a capacidade de gestão. A prática do planejamento tem como objetivo corrigir distorções administrativas, alterar condições indesejáveis para a coletividade, remover empecilhos institucionais e assegurar a viabilização de objetivos e metas que se pretende alcançar. Considerando tratar-se de uma das funções da administração, o planejamento é indispensável ao administrador público responsável. Nesses aspectos, planejar é essencial, é o ponto de partida para a administração eficiente e eficaz da máquina pública, pois a qualidade do mesmo ditará os rumos para a boa ou má gestão, refletindo diretamente no bem-estar da população (ANDRADE et al, 2008). A Constituição Federal de 1988 deu ênfase à função de planejamento, quando introduziu significativas mudanças na forma de condução do processo orçamentário, pois aliou o orçamento público ao planejamento. Além disso, a Carta Magna tratou de evidenciar a integração dos instrumentos de planejamento; Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA). Cesar Destacar 7 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 O primeiro instrumento, o PPA, é o plano de governo que expressa o planejamento de médio prazo. Evidencia os programas de trabalho do governo paraum período de quatro anos especificados em diretrizes, objetivos e metas da administração para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. O PPA permite à sociedade dimensionar suas pretensões diante ao estado de suas finanças. O segundo instrumento é a LDO, à qual cabe anualmente orientar a elaboração e a execução do orçamento. A partir desse instrumento, o Poder Legislativo passa a ter poderes de fato para interferir no decurso da elaboração da peça orçamentária e na condução das finanças públicas, pois, ao aprovar a LDO, estará aprovando as regras para a elaboração do orçamento e para a gestão financeira do Município. Desta forma, a participação do Poder Legislativo foi ampliada, não mais se restringindo a autorizar fixação de créditos orçamentários. Outra função introduzida pela Constituição Federal de 1988 é que a LDO integra um sistema de planejamento orçamentário, funcionando corno elo entre o PPA e a LOA, de forma a estabelecer a conexão entre um plano de médio prazo com um instrumento viabilizador de execução, que é o orçamento. Assim, a LDO tem entre outras funções a de selecionar dentre os programas e ações incluídas no PPA quais terão prioridade na execução orçamentária (ANDRADE et al, 2008). No ano de 2000, em decorrência da publicação da Lei Complementar nº 101/2000 - Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), a LDO teve suas finalidades ampliadas. Novas e importantes atribuições foram dadas a este instrumento, sendo urna delas o estabelecimento de regras que visam garantir o equilíbrio e o ajuste das contas públicas (gestão fiscal responsável). O terceiro instrumento é a LOA, o qual viabiliza o plano de governo, permitindo a realização anual dos programas mediante a alocação de recursos para as ações orçamentárias (projetos, atividades e operações especiais). Além destes instrumentos, corroborando o processo de planejamento municipal, a Constituição Federal definiu em seus arts, 182 e 183 as regras básicas da política urbana, destacando a necessidade de elaboração e aprovação do Plano Cesar Destacar 8 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Diretor, que é o instrumento norteador da política de desenvolvimento e expansão urbana. Mais recentemente adveio a Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade), a qual regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, visando alinhar os municípios em seu crescimento econômico, populacional e territorial, principalmente garantindo o bem-estar da comunidade residente nas cidades e a sua integração com a área rural, enfatizando mais urna vez a importância do o Diretor. 2.1 Objetivos O planejamento governamental é indispensável para permitir a aplicação correta e responsável dos recursos públicos, pois é por meio dele que se: Impede que as ações governamentais sejam definidas no decorrer da execução do orçamento, a varejo, no imediatismo, e que sejam realizadas a “toque de caixa”, considerando-se apenas os anseios pessoais; Garante que as ações governamentais sejam realizadas dentro da capacidade financeira do Município; Garante a manutenção e a conservação do patrimônio público; Previnem riscos e se corrigem desvios que sejam capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas; Transportam os anseios e as carências da população local para o papel, elegendo as prioridades; Executam as ações governamentais prioritárias, possibilitando a conclusão de todos os projetos iniciados; Compatibilizam os gastos com os recursos públicos e, por conseguinte, se conduzem o orçamento e as finanças na manutenção/alcance do tão almejado equilíbrio das contas públicas. Cesar Destacar Cesar Destacar 9 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 3 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO A importância e a necessidade do planejamento das ações governamentais são tão prementes que diversas normas que regem a Administração Pública dedicaram-lhe atenção especial, inclusive a Constituição Federal. Nas duas últimas décadas criou-se um arcabouço legal bem amplo, exigindo que o Administrador Público planeje suas ações com responsabilidade, principalmente aquelas que geram aumento de despesa e que sejam de médio prazo. Assim sendo, destacam-se em ordem cronológica as principais legislações brasileiras que tratam do planejamento governamental, algumas delas como o PPA, a LOA e a LDO que estudaremos em seus detalhes: 1º. A Lei nº 4.320/1964 - prevê a necessidade de planejamento de médio prazo em seus arts. 23 a 26, exigindo: a elaboração do “Quadro de Recursos e de Aplicação de Capital” para, no mínimo, um triênio; a revisão do plano anualmente, reajustando-o e acrescentando-lhe as previsões para mais um exercício; e a necessidade de se definirem as metas, em termos de realização de obras e de prestação de serviços, a serem atingidas por meio da execução de cada programa. 2º. A Constituição Federal de 1988 – define: -em seu art. 165 as regras básicas do PPA, da LDO e da LOA; -no art. 166 ela determina que as emendas à LDO e à LOA somente poderão ser aprovadas quando compatíveis com o PPA; 10 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 -no art. 167 ela veda o início de investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro, caso não haja previsão no PPA; e no art 35, § 2º, inciso I, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, ela dispõe sobre os prazos para elaboração e aprovação do projeto de lei do PPA, da LDO e da LOA. 3º. A Lei nº 8.142/1990 - que dispõe sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde, determina em seu art. 4º, inciso III, que para o Município receber recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) deverá contar com o plano de saúde, o qual deverá ser observado quando da elaboração do PPA, da LDO e da LOA. 4º. A Lei nº 8.666/1993 (Lei de Licitações e Contratos) determina em seu art. 7º, § 2º, incisos III e IV, respectivamente, que as licitações para execução de obras e para a prestação de serviços somente poderão ser realizadas quando houver previsão de recursos orçamentários que assegurem o pagamento das obrigações e quando os produtos delas esperados estiverem contemplados nas metas estabelecidas no PPA; no art. 57, inciso I, referida lei abre uma exceção quanto à duração de contratos relativos a projetos cujos produtos estejam contemplados nas metas estabelecidas no PPA. 5º. A Lei nº 8.742/1993 (Lei Orgânica da Assistência Social), que dispõe sobre a organização da Assistência Social, prescreve em seu art. 30, inciso III, que é condição para os repasses aos Municípios dos recursos da assistência social a efetiva instituição do Plano de Assistência Social, o qual deverá ser observado quando da elaboração do PPA, da LDO e da LOA. 6º. A LRF destaca logo no seu início a necessidade do planejamento, determinando que “a responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente em que se previnem riscos e corrigem desvios, capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas”; em diversos outros dispositivos, ela exige que seja demonstrada a compatibilização da despesa com diretrizes, objetivos, prioridades e metas previstos no PPA e na LDO, sob Cesar Destacar 11 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 pena de serem “consideradas não autorizadas, irregulares e lesivas ao patrimônio público”. 7º. A Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade), mais recente, destaca em seu art. 4º que os Municípios deverão utilizar, dentre outros instrumentos, o PPA, a LDO, a LOA e o Plano Diretor para atingir os fins definidos da referida lei; no seu art. 40, § 1º, o Estatuto determinaque o Plano Diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o PPA, a LDO e a LOA incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas; no art. 44, à referida lei destaca a necessidade de realização de debates, audiências e consultas públicas sobre as propostas do PPA, da LDO e da LOA, como condição obrigatória para sua aprovação pela Câmara Municipal. 8º. A Lei n º 10.172/2001 (Plano Nacional de Educação) estabelece em seu art. 5º que os planos plurianuais dos Municípios serão elaborados de modo a dar suporte às metas constantes do Plano Nacional de Educação e dos respectivos planos decenais. Conforme se observa, a Lei n º 4.320/1964 foi o embrião do processo de planejamento governamental. Contudo, desde já é necessário destacar que as normas do art. 23 da citada lei não mais são aplicáveis, visto que tal dispositivo não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, a qual definiu, por meio do § 1 º do art. 165, o novo conteúdo do planejamento governamental. A LRF, que tem como pressuposto o equilíbrio das contas públicas, enfatizou a integração dos três instrumentos (PPA, LDO e LOA) e ratificou a necessidade de planejamento, controle, transparência e responsabilização na administração pública, e, corroborando o processo de planejamento, como dito anteriormente, adveio o Estatuto da Cidade. Diante do exposto, conclui-se que a elaboração do planejamento governamental, sua execução e o seu controle não só são indispensáveis para a boa condução das finanças públicas, como também são obrigações impostas ao administrador público pela legislação vigente (ANDRADE et al, 2008). 12 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 3.1 Plano Diretor Tendo em vista a competência da União para legislar sobre normas gerais de direito urbanístico, foi editada a Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, também chamada de Estatuto da Cidade, a qual regulamentou os arts. 182 e 183 da Constituição Federal. Esta Lei tem como objetivo principal estabelecer diretrizes gerais da política urbana, entre outras providências. Visa ao estabelecimento de normas de ordem pública e de interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. No art. 2º da citada lei, encontramos que “a política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante diretrizes gerais” que se referem, entre outras: • À garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; • À gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano; • À cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social; ao planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente; 13 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 • À ordenação e controle do uso do solo; • À integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o desenvolvimento socioeconômico do Município e do território sob sua área de influência; • À adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos geradores de bem-estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais; • À proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico; • À audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população; • À simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas edilícias, com vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais. O art. 4º do Estatuto da Cidade apresenta os instrumentos da política urbana, divididos em seis grupos, dos quais o Plano Diretor é mencionado em primeiro lugar, num rol de itens do planejamento municipal. São esses os instrumentos relacionados no referido dispositivo do Estatuto da Cidade: I - planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; II planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões; III - planejamento municipal, em especial: a) Plano Diretor; b) Disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo; 14 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 c) Zoneamento ambiental; d) Plano Plurianual; e) Diretrizes orçamentárias e orçamento anual; f) Gestão orçamentária participativa; g) Planos, programas e projetos setoriais; h) Planos de desenvolvimento econômico e social; IV Institutos tributários e financeiros: a) Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU); b) Contribuição de melhoria; c) Incentivos e benefícios fiscais e financeiros; V - Institutos jurídicos e políticos: a) Desapropriação; b) Servidão administrativa; c) Limitações administrativas; d) Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; e) Instituição de unidades de conservação; f) Instituição de zonas especiais de interesse social; g) Concessão de direito real de uso; h) Concessão de uso especial para fins de moradia; i) Parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; j) Usucapião especial de imóvel urbano; l) Direito de superfície; m) Direito de preempção; n) Outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso; o) Transferência do direito de construir; Cesar Destacar 15 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 p) Operações urbanas consorciadas; q) Regularização fundiária; r) Assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidades e grupos sociais menos favorecidos; s) referendo popular e plebiscito; VI - Estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV). O Plano Diretor constitui-se no principal instrumento de planejamento sustentável das cidades, contribuindo na definição de diretrizes para expansão urbana e de desenvolvimento nas mais diversas áreas, como turística, industrial etc., visando sempre o interesse da coletividade. É por meio dele que as normas para utilização dos demais instrumentos da política urbana municipal são inseridas no planejamento municipal, possibilitando que os mesmos sejam utilizados. Tendo em vista a competência da União para legislar sobre normas gerais de direito urbanístico, o Estatuto da Cidade, que regulamentou os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelecendo dentre outras coisas as diretrizes e os instrumentos para desenvolvimento da política urbana municipal anteriormente referida, conforme § 2º, art. 39, da lei citada, o Plano Diretor deverá abranger todo o território municipal, ou seja, zona urbana e rural, levando em conta aspectos ambientais, culturais, turísticos,econômicos e sociais, mesmo que esses temas não se apresentem, de início, como foco principal, considerando que o mesmo envolverá questões que dizem respeito ao futuro do Município. O Plano Diretor deve vincular-se aos demais instrumentos de planejamento, quais sejam, o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). Esta vinculação ocorre principalmente por meio dos programas e das respectivas ações constantes no PPA que tratam de investimentos previstos no Plano Diretor, as quais poderão ser consideradas prioritárias pela LDO, cabendo à LOA garantir os recursos necessários para que os investimentos 16 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 constantes do Plano Diretor sejam executados, proporcionando o alcance das estratégias estabelecidas. É definido pelo art. 4º do referido Estatuto que, além do Plano Diretor, outros instrumentos poderão ser utilizados para execução da política urbana dos Municípios, os quais deverão ser observados, de forma a definir as diretrizes para o melhor aproveitamento e ocupação do solo, para que seja cumprido de fato o objetivo de pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana. É importante destacar ainda que os Municípios com mais de quinhentos mil habitantes deverão acrescentar ao conteúdo mínimo, diretrizes ligadas ao transporte urbano, conforme § 2º do art. 41 do Estatuto da Cidade. Conteúdos mínimos do Plano Diretor Os institutos jurídicos e políticos que se podem chamar de conteúdo mínimo de um Plano Diretor estão relacionados no art. 4º do Estatuto da Cidade, dentre ele: Parcelamento, edificação ou utilização de compulsórios; • Direito de preempção; • Outorga onerosa do direito de construir; • Alteração de uso do solo; • Aplicação de operações urbanas consorciadas; • Transferência do direito de construir. • Outros que não podemos esquecer: desapropriação; servidão administrativa; limitações administrativas; tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; instituição de unidades de conservação; instituição de zonas especiais de interesse social; concessão de direito real de uso; concessão de uso especial para fins de moradia; usucapião especial de imóvel urbano; direito de superfície; regularização fundiária; assistência técnica e jurídica gratuita para 17 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 as comunidades e grupos sociais menos favorecidos; e referendo popular e plebiscito (GASPARINI, 2002). Sistema de acompanhamento e controle do Plano Diretor O Estatuto das Cidades garante à população a participação direta nas atividades relacionadas ao Plano Diretor. Além da participação na elaboração, exigem-se o acompanhamento e o controle das ações e definem-se os instrumentos e a forma desta participação, conforme preconiza o art. 43 do citado diploma legal. Acompanhar e controlar significa monitorar os resultados obtidos, verificando o cumprimento das regras estabelecidas. Agindo assim, podem ser verificadas as mudanças ocorridas com a implantação do Plano Diretor se os caminhos constantes deste estão realmente sendo seguidos, cujo objetivo é melhorar a vida de todos os cidadãos residentes em um determinado Município. O art. 41 da Lei nº 10.257/2001 define a obrigatoriedade de implantação do Plano Diretor para as cidades: I - com mais de vinte mil habitantes; II - integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; III - onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no § 4º do art. 182 da Constituição Federal; IV - integrantes de áreas de especial interesse turístico; V - inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional. Dentre os itens expostos, destaca-se o III, o qual exige a implantação do Plano Diretor para que o Poder Público Municipal possa utilizar-se dos instrumentos previstos no § 4º do art. 182 da Constituição Federal: Art. 182. [...] 18 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 § 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I- parcelamento ou edificação compulsórios; II- imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III- desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Também, quanto ao item IV, deve-se observar que diversos municípios brasileiros que têm potencial turístico estão se associando a circuitos turísticos regionais, na busca de interesses comuns e, nesse caso, passam obrigatoriamente à condição de elaborar referido Plano Diretor. Prazo para aprovação do Plano Diretor Quanto ao prazo para aprovação do Plano Diretor, o art. 50 da Lei n. 10.257/2001 estabelece o prazo de 5 (cinco) anos para os Municípios enquadrados nos incisos I e II do arte 41: Art. 50. Os Municípios que estejam enquadrados na obrigação prevista nos incisos I e II do art. 41 desta Lei que não tenham plano diretor aprovado na data de entrada em vigor desta Lei deverão aprová-lo no prazo de cinco anos. Recomendações para a elaboração do Plano Diretor 19 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 O Plano Diretor tem por base a legislação municipal, em que um projeto de lei é encaminhado pelo Poder Executivo ao Poder Legislativo, visando ao conforto e à segurança futura da municipalidade. Conforme o art. 43 da Lei Estatuto da Cidade, deve-se garantir a gestão democrática da cidade e para isso é necessária a utilização de instrumentos que tomem presentes os representantes da população envolvida, entre eles conferências municipais, fóruns, seminários, audiências públicas, participação de órgãos colegiados, parcerias com a sociedade organizada e debates em reuniões temáticas e setoriais, portanto, é imperativo o comprometimento do Poder Executivo municipal, já que o ente responsável pela articulação e integração dos agentes envolvidos é o Município. Como responsabilidade, este deverá assegurar uma equipe com conhecimento técnico e articulação política, que busque uma base de dados segura e informações relevantes de um diagnóstico sobre a situação social, econômica, cultural territorial e ambiental do Município, além de compilação de legislação própria, mapas; enfim, todo um acervo documental que agregue valores à elaboração do referido Plano Diretor. Em geral esta equipe é formada por uma comissão de pessoas e muitas vezes é denominada de “comitê técnico administrativo”. Recomenda-se, para garantir a transparência, que todo ato que demande a participação popular envolva as fases prévia, concomitante e subsequente, e também que seja documentada por meio dos diversos tipos de mídia, entre eles fotografias, filmagens, notícias em jornais locais ou regionais, assim como por meio da Internet, além de campanhas diversas como distribuição de folders, eventos com oficinas participativas, entre outras (ANDRADE et al, 2008). Para que não haja descrença do cidadão, uma agenda deve ser programada e cumprida, com data de início e fim de sua elaboração. Uma metodologia própria poderá ser trabalhada conforme a intenção da municipalidade, mesmo porque não existe um padrão a seguir. 20 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com(31) 3270 4500 3.2 Plano Plurianual – PPA O Plano Plurianual (PPA) é o instrumento que expressa o planejamento do governo federal, estadual ou municipal para um período de quatro anos, tendo como objetivo principal conduzir os gastos públicos, durante a sua vigência, de maneira racional, de modo a possibilitar a manutenção do patrimônio público e a realização de novos investimentos. Segundo Andrade et al (2008) a importância do PPA reside, portanto, no fato de nortear ou orientar o governo quanto à realização dos programas de trabalho para o período citado, ressaltando que todas as obras que se pretenda executar nesse período deverão estar inseridas nesse plano, assim como também os programas da natureza continuada, como, por exemplo, aqueles ligados à educação e à saúde. Qualquer ação governamental somente poderá ser executada durante o ano (execução orçamentária) se o programa estiver adequadamente inserido no PPA. Como vimos o PPA, a LDO e a LOA são instrumentos integrados de planejamento, estando, portanto, um vinculado ao outro, razão pela qual uma boa execução orçamentária necessariamente dependerá de um PPA elaborado adequadamente. A Constituição Federal traz em seu art. 165, § 1º, as regras básicas que conduzem à elaboração do PPA: Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I - o plano plurianual; [...] § 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. O dispositivo constitucional mencionado prescreve que o PPA deve estabelecer as diretrizes, os objetivos e as respectivas metas governamentais. O § 9º desse mesmo artigo determina que compete à lei complementar, que nesse caso é de 21 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 competência exclusiva da União, dispor sobre a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do PPA: Art. 165. [...] § 9º Cabe à lei complementar: I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual; Entretanto, tal dispositivo ainda não foi regulamentado e, por isso, ainda não foi normatizada a forma de elaboração do PPA, o que dificulta sobremaneira a sua padronização nas três esferas de governo. Tal regulamentação é essencial para possibilitar que todos os entes governamentais sigam um modelo predefinido, o que eliminará as distorções das informações apresentadas nos planos, facilitará o desenvolvimento de sistemas informatizados que auxiliem no seu acompanhamento e na sua avaliação, evidenciará as ações conjuntas e coordenadas entre os entes da federação (consolidação), bem como garantirá maior transparência na sua divulgação. O projeto da LRF aprovado pelo Congresso Nacional continha algumas regras no seu art. 3º que tratavam dos prazos para o encaminhamento do projeto de lei do PPA ao Poder Legislativo e para a sua devolução ao Poder Executivo, e ainda ressaltava que o mesmo deveria abranger os dois Poderes do Município. Contudo, o referido dispositivo foi objeto de veto pelo Presidente da República (ANDRADE et al, 2008). Ainda assim, o art. 165, § 1º, da Constituição Federal tem eficácia plena e aplicabilidade imediata, uma vez que não é necessária a aprovação de lei complementar para sua explicitação, a qual virá tão somente para tratar da forma e dos trâmites do PPA, pois a norma constitucional já define o seu conteúdo. A vigência do PPA compreende quatro exercícios financeiros, iniciandose no segundo ano de mandato de um Prefeito e terminando no primeiro ano de mandato do Prefeito subsequente, evitando assim a descontinuidade das ações de governo. Ou seja, no primeiro ano de mandato o Prefeito que assume deverá cumprir o PPA do 22 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 seu antecessor, assim como o Prefeito que o suceder deverá proceder da mesma forma. Quanto à forma de instituição do PPA, assim dispõe o art. 165 § 1º, da Constituição Federal: § 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá ... Quanto ao sentido da expressão “a lei que instituir o plano plurianual estabelecerá”, torna-se necessário fazer-se um esclarecimento. O caput do art. 23 da Lei nº 4.320/1964 prevê que o “Quadro de Recursos e de Aplicação de Capital” deve ser aprovado por decreto do Poder Executivo, enquanto o texto constitucional determina que o PPA seja instituído por meio de lei. Portanto, depreende-se que a Constituição Federal de 1988 não recepcionou o referido dispositivo da Lei nº 4.320/1964. Além das razões anteriormente expostas, destacam-se outras incongruências entre o texto da Lei nº 4.320/1964 e o da Constituição Federal, os quais aludem à questão da elaboração do PPA. O mesmo caput prevê que o “Quadro de Recursos e de Aplicação de Capital” deverá ser elaborado para, no mínimo, um triênio, enquanto o art. 35, § 2º, inciso I, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, determina que o PPA deverá ser elaborado para um quadriênio. O parágrafo único do art. 23 da Lei nº 4.320/1964 determina que o “Quadro de Recursos e de Aplicação de Capital” deverá ser reajustado anualmente, acrescentando-se-lhe as previsões de mais um ano, enquanto o art. 35, § 2º, inciso I, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias disciplina que a vigência do PPA é adstrita a um quadriênio, com data de início no segundo ano de mandato e de término no primeiro ano de mando do prefeito subsequente. Sobre a necessidade de o PPA ser elaborado de forma regionalizada, assim determina o art. 165, § 1º, da Constituição Federal: Art. 165. [...] 23 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 § 1º A lei que instituir o PL o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada .... Quanto ao teor da expressão “de forma regionalizada”, depreende-se que a lei do PPA deverá definir o planejamento por região. No PPA da União, por exemplo, a regionalização é feita por região macroeconômica (Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul), o mesmo acontecendo no PPA do Estado de Minas Gerais, que demonstra a regionalização também por região macroeconômica (Alto Paranaíba, Central, Centro-Oeste, Jequitinhonha/ Mucuri, Mata, Norte de Minas, Rio Doce, Sul de Minas e Triângulo). Nos Municípios a regionalização do PPA torna-se um pouco mais complexa, principalmente nos pequenos, haja vista que normalmente ela não é definida no seu âmbito. Assim, caso não exista tal regionalização, dois critérios que podem ser adotados por todos os Municípios são a: a) divisão das ações do PPA por zona urbana e zona rural ou b)por bairros, distritos, povoados etc. Assim, há que se considerar as vantagens e os objetivos de tal regionalização, visando sempre os benefícios práticos que a mesma trará para a Administração e para o Município, visto que ela deverá ser observada durante a elaboração e, principalmente, na execução do plano. Nessa mesma linha destaca-se o entendimento de Vainer et al (2001, p. 15). Os Municípios de maior porte, cujo zoneamento urbano está definido em lei, poderão planejar de forma regionalizada. O que se deve ter claro é que, ao planejamento, segue-se sua execução. De nada vale apresentar planos regionalizados se não se desenvolver metodologia compatível para executar o gasto orçamentário. Assim, a regionalização demonstra a abrangência geográfica da ação governamental no âmbito do Município, mas, caso não haja a divisão regional e esta seja impraticável, recomenda-se que seja informado que a ação será municipal, demonstrandoque ela abrangerá todo o seu território. Sobre as diretrizes do PPA, assim prescreve o art. 165, § 1º, da Constituição Federal: 24 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Art. 165. [...] § 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes [...] Quanto ao sentido da palavra “diretrizes” inserta no texto legal, Ferreira (1999) a define como “conjunto de instruções ou indicações para se tratar e levar a termo um plano, uma ação, um negócio etc.”. Contudo, embora essa definição já ofereça uma referência, observa-se que ela é genérica e não técnica, a qual se torna necessária no caso em comento. Assim, numa linguagem técnica bastante apropriada ao sentido do dispositivo legal, destaca-se a definição trazida por CHALFUN e MÉLLO (2001): São as indicações necessárias para orientar as ações de uma entidade de modo que, estrategicamente, os objetivos sejam alcançados e as ações possuam algum grau de complementaridade e que se leve a termo um plano, no caso, o PPA. [...] As diretrizes, como indicações que orientarão a escolha dos objetivos e das metas, devem ser eleitas como um fio condutor para as políticas públicas, sem, necessariamente, detalhar o que será feito em cada área de atuação do governo. Portanto, as diretrizes do PPA são orientações, indicações e princípios estratégicos que nortearão as ações do governo municipal durante o período de sua vigência com vistas a alcançar os seus objetivos, atendendo os anseios da população e melhorando a sua qualidade de vida. No PPA do Governo Federal as diretrizes são tratadas como macroobjetivos. Quanto aos objetivos do PPA, assim preceitua o art. 165, § 1º, da Constituição Federal: Art. 165. [...] § 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos [...] 25 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Quanto ao sentido da palavra “objetivos” inserida na norma constitucional, eles expressam os problemas diagnosticados que se pretende combater e superar e as demandas existentes que se espera atender, consistindo basicamente na definição dos programas de governo, descrevendo a sua finalidade com concisão e precisão. Utilizando-se as definições da Portaria MOG nº 42/1999, torna-se mais evidente a definição dos objetivos para esse contexto: Art. 2º Para os efeitos da presente Portaria, entendem-se por: a) Programa, o instrumento de organização da ação governamental visando à concretização dos objetivos pretendidos, sendo mensurado por indicadores estabelecidos no plano plurianual; b) Projeto, um instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações, limitadas no tempo, das quais resulta um produto que concorre para a expansão ou o aperfeiçoamento da ação de governo; c) Atividade, um instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações que se realizam de modo contínuo e permanente, das quais resulta um produto necessário à manutenção da ação de governo. Os objetivos expressam a busca de resultados e são concretizados por meio da execução dos programas, os quais agregam as ações governamentais (projetos e atividades) destinadas a alcançar um fim comum, de acordo com os anseios de um público predeterminado ou de um problema a ser atacado. Metas da administração pública Assim dispõe o art. 165, § 1º, da Constituição Federal quanto à necessidade da definição de metas no PPA: Art. 165. [...] 26 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 § 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal [...] Quanto ao sentido da expressão “metas da administração pública”, inicialmente destaca-se a definição trazida pelo art. 25 da Lei nº 4.320/1964: Art. 25. Os programas constantes do Quadro de Recursos e de Aplicação de Capital sempre que possível serão correlacionados a metas objetivas em termos de realização de obras e de prestação de serviços. Parágrafo único. Consideram-se metas os resultados que se pretendem obter com a realização de cada programa. Depreende-se do exposto no dispositivo anterior que as metas referem-se aos resultados que se espera obter com a execução dos programas. Portanto, os resultados são atingidos por meio da execução dos programas e de suas respectivas ações governamentais (projeto, atividade ou operação especial). Quando da concepção do PPA, devem-se definir os programas, as ações a que esses se relacionam e a meta de cada ação governamental. Logo, cada ação governamental somente poderá estar associada a um produto, que, quantificado por sua unidade de medida, dará origem à meta. Nesse sentido, destaca-se o ensinamento de CHALFUN e MÉLLO (2001): Portanto, as metas serão as referências mensuráveis que permitem completar o caminho, ou seja, partindo-se de diretrizes gerais, através da escolha de prioridades e de ações que operacionalizarão as mesmas, será possível vislumbrar até que ponto o planejamento foi bem-sucedido e se os resultados verificáveis estão à altura das expectativas. As metas devem ser quantificadas, física e financeiramente, para possibilitar o acompanhamento e a avaliação do PPA, bem como a apuração do custo unitário e global dos programas e das ações governamentais, de forma a permitir a avaliação dos resultados (ANDRADE et al, 2008). Observa-se que as metas podem abranger um bairro, um povoado, um distrito, a zona rural, a zona urbana, uma região ou todo o Município. Assim, quando o art. 165, § 1º, da Constituição Federal determina que “a lei que instituir o plano plurianual 27 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública”, determinou o legislador que as metas sejam demonstradas no PPA por região. É oportuno antecipar que a LRF, por meio do seu art. 4º, inciso I, alínea e, determina que a LDO deverá dispor sobre as normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos dos orçamentos. Um dos principais objetivos da definição de metas no PPA é exatamente permitir o acompanhamento, a apuração e a avaliação dos custos e dos resultados dos programas e das ações governamentais, possibilitando assim averiguar e demonstrar à sociedade se houve eficiência, eficácia e efetividade na aplicação dos recursos públicos. A Constituição Federal determina, por meio do seu art. 74, inciso I, que compete ao sistema de controle interno do Município avaliar o cumprimento das metas previstas no PPA. Fases de elaboração O processo de elaboração do PPA compreende as seguintes fases: 1. Capacitação dos servidores que serão envolvidos no processo de elaboração do PPA; 2. Análise das potencialidades e da vocação econômica do Município para verificar a possibilidade de incrementar a receita; 3. Realização de estudos para identificar o volume de recursos em cada urna das fontes de financiamento; 4. Elaboração da previsão das receitas para um período de quatro exercícios de cada uma das unidades gestoras do orçamento; 28 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 5. Apuração e estudo dos gastos com manutenção da máquina administrativa e dos programas de duração continuada para um período de quatro exercícios; 6. Definição das disponibilidades financeiras para a realização de novos projetos ou implantação de novos programas que visem à criação, expansão ou aperfeiçoamento da ação governamental;7. Levantamento de todos os programas e ações governamentais implementadas no passado e em execução; 8. Avaliação dos programas e das ações governamentais implementadas no passado para verificar quais serão mantidos; 9. Realização de diagnóstico das necessidades e dificuldades, estudando as condições de vida da população, utilizando todas as fontes de informação disponíveis, como ouvir os servidores municipais e os profissionais credenciados nas diversas áreas de atuação do Município, que acumulam experiência e conhecimento sobre os problemas locais, além de motivá-los e comprometê-los na execução das soluções; 10. Realização de audiências públicas para envolver as lideranças comunitárias e políticas na definição das prioridades para um período de quatro exercícios; 11. Definição dos novos programas e das novas ações governamentais utilizando-se inclusive o resultado da audiência pública; 12. Definição dos programas e das ações governamentais prioritárias para o período de quatro exercícios, os quais potencialmente serão realizados; 13. Adequação dos programas e das ações governamentais aos recursos projetados para o período de vigência do PPA; 14. Consolidação do PPA, compatibilizando o montante de recursos financeiros previstos para os quatro anos de vigência do PPA com as ações definidas; 15. Elaboração dos anexos do projeto de lei do PPA; 29 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 16. Elaboração do texto do projeto de lei do PPA; 17. Elaboração da exposição de motivos do projeto de lei do PPA; 18. Encaminhamento de projeto de lei do PPA ao Poder Legislativo (ANDRADE et al, 2008). 3.3 Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) foi introduzida no Direito Financeiro brasileiro pela Constituição Federal de 1988, tomando-se, a partir de então, o elo entre o Plano Plurianual (PPA) e a Lei Orçamentária Anual (LOA): Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I - o plano plurianual; II - as diretrizes orçamentárias; III - os orçamentos anuais. De acordo com o § 2º do artigo mencionado, a LDO deverá conter as metas e prioridades da administração pública para o exercício financeiro subsequente, orientar a elaboração da LOA, dispor sobre as alterações na legislação tributária e estabelecer a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. A Constituição Federal determina, ainda no seu art. 169, § 1º, inciso I, que a concessão de vantagens funcionais, criação e ocupação de cargos e empregos públicos e reformulação no plano de cargos e salários necessitam de específica autorização na LDO. Com a edição da LRF, a importância da LDO aumentou significativamente, pois essa passou a ter novas e importantes funções, agregando ao seu conteúdo regras de planejamento que convergem para o equilíbrio entre as receitas e despesas durante a execução do orçamento, conforme disciplina o seu art. 4º, que trata especificamente do seu conteúdo: 30 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Art. 4º - A lei de diretrizes orçamentárias atenderá o disposto no § 2º do art. 165 da Constituição e: I - disporá também sobre: a) equilíbrio entre receitas e despesas; b) critérios e forma de limitação de empenho, a ser efetivada nas hipóteses previstas na alínea b do inciso II deste artigo, no art. 9º e no inciso II do § 1º do art. 31; [...] e) normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos dos orçamentos; f) demais condições e exigências para transferências de recursos a entidades públicas e privadas; [...] § 1º Integrará o projeto de lei de diretrizes orçamentárias Anexo de Metas Fiscais, em que serão estabelecidas metas anuais, em valores correntes e constantes, relativas a receitas, despesas, resultados nominal e primário e montante da dívida pública, para o exercício a que se referirem e para os dois seguintes. § 2º O Anexo conterá, ainda: I - avaliação do cumprimento das metas relativas ao ano anterior; II - demonstrativo das metas anuais, instruído com memória e metodologia de cálculo que justifiquem os resultados pretendidos, comparando-as com as fixadas nos três exercícios anteriores, e evidenciando a consistência delas com as premissas e os objetivos da política econômica nacional; III - evolução do patrimônio líquido, também nos últimos três exercícios, destacando a origem e a aplicação dos recursos obtidos com a alienação de ativos; IV avaliação da situação financeira e atuarial: 31 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 a) dos regimes geral de previdência social e próprio dos servidores públicos e do Fundo de Amparo ao Trabalhador; b) dos demais fundos públicos e programas estatais de natureza atuarial; V - demonstrativo da estimativa e compensação da renúncia de receita e da margem de expansão das despesas obrigatórias de caráter continuado. § 3º A lei de diretrizes orçamentárias conterá Anexo de Riscos Fiscais, onde serão avaliados os passivos contingentes e outros riscos capazes de afetar as contas públicas, informando as providências a serem tomadas, caso se concretizem. Dentre as diversas alterações introduzidas pela LRF, merecem destaque o Anexo de Metas Fiscais, no qual são definidas as metas de resultado primário e nominal, e também o Anexo de Riscos Fiscais, no qual são contemplados os riscos fiscais e avaliados os passivos contingentes, os quais são essenciais para o acompanhamento das finanças públicas e para a obtenção/manutenção do equilíbrio das contas públicas. A LRF trata do conteúdo da LDO em diversos outros dispositivos, dando-lhe competência para: • Definir a forma de utilização e montante da reserva de contingência (art. 5º); • Dispor sobre a programação financeira e o cronograma de execução mensal de desembolso (art. 8º); • Definir regras para a limitação de empenho e movimentação financeira (art. 9º); • Definir regras para renúncia de receita (art. 14); • Definir regras para a geração de novas despesas (arts. 16 e 17); • Excetuar os casos de contratação de hora extra quando for atingido o limite prudencial (art. 22); • Definir regras para a destinação de recursos públicos a outro ente da federação (art. 25); • Definir regras para a destinação de recursos públicos para o setor privado 32 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 (art.26); • Definir regras para a inclusão de novos projetos no orçamento (art. 45); e • Definir regras para que os Municípios possam custear despesas de competência de outros entes da federação (art. 62). Na LDO são definidas as diretrizes que orientarão a Administração na elaboração da proposta orçamentária e na sua execução, sendo selecionadas dentre as diversas ações governamentais constates no PPA aquelas que serão prioritárias durante a elaboração da LOA e da sua execução, compatibilizando-as com os recursos públicos arrecadados, proporcionando assim condições para que as demandas específicas da sociedade sejam priorizadas e realizadas. Portanto, a LDO transcende a estimativa da receita e a fixação da despesa, que são objetivos precípuos da LOA, tendo como principal finalidade o planejamento e acompanhamento das finanças públicas, de modo a garantir o equilíbrio das contas públicas. Conteúdo da LDO o texto do projeto de LDO deverá ser elaborado atendendo a todas as exigências legais, devendo o mesmo conter regras que tratem, no mínimo, das seguintes questões: CONTEÚDO DA LDO CF/1988 LRD/2000 33 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 -definir as metas e prioridades da AdministraçãoPública Municipal; -dar orientações básicas para elaboração da lei orçamentária anual; -dispor sobre as alterações na legislação tributária do Município; -estabelecer a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento; -dispor sobre a política de pessoal e encargos sociais. -dispor sobre o equilíbrio entre receitas e despesas; -definir os critérios e formas de limitação de empenho; -estabelecer as normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financeiros com recursos dos orçamentos; Estabelecer as condições e exigências para transferências de recursos a entidades públicas e privadas; -Definir o montante e forma de utilização da reserva de contingência; -dispor sobre a contratação excepcional de horas extras; -autorizar o município a auxiliar o custeio de despesas atribuídas a outros entes da federação; -Defini critérios para o início de novos projetos; -Definir as despesas consideradas irrelevantes; -Definir as condições para a renúncia de receitas. Fonte: Andrade et al (2008, p. 74) 3.4 Lei Orçamentária Anual – LOA A proposta orçamentária é um documento que apresenta em termos monetários as receitas e as despesas públicas que o governo pretende realizar no período de um exercício financeiro1, devendo ser elaborada pelo Poder Executivo e aprovada pelo Poder Legislativo, convertendo-se então na Lei Orçamentária Anual (LOA). A LOA é revestida por atos formais, prevendo as receitas e fixando as despesas que potencialmente serão realizadas no período de um ano. É uma lei 1 De acordo com o art. 34 da Lei 4.320/64, o exercício financeiro coincidirá com o não civil. A lei 810/49 define ano civil, o qual segue o calendário. Cesar Destacar Cesar Destacar 34 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 autorizativa e não impositiva, uma vez que o gestor de cada orçamento tem a faculdade de realizar ou não as despesas nela contidas. A LOA consolida vários orçamentos (fiscal, de investimento e da seguridade social), os quais refletem os planos que o governo pretende realizar nas diversas áreas de atuação do ente governamental, contendo um conjunto de previsões de receitas que são distribuídas em diversos programas de trabalho que viabilizarão a realização das políticas públicas. Aqui é pertinente pelo menos conceituar Orçamento público: Orçamento público ou orçamento programa é a materialização do planejamento do Estado, quer na manutenção de sua atividade (ações de rotina), quer na execução de seus projetos (ações com início, meio e fim). Configura o instrumento do Poder Público para expressar seus programas de atuação, discriminando a origem e o montante dos recursos (receitas) a serem obtidos, bem como a natureza e o montante dos dispêndios (despesas) a serem efetuados (ANDRADE, 2002, p. 54). Portanto, o Poder Executivo deve elaborar uma boa proposta orçamentária, a qual deverá ser devidamente apreciada e aprovada pelo Poder Legislativo e sancionada pelo Poder Executivo ou promulgada pelos Poderes Executivo ou Legislativo, transformando-se então na LOA, a qual conterá os orçamentos que viabilizarão a manutenção e a implementação das ações governamentais durante um exercício financeiro. Legislação A Lei nº 4.320/1964, norma que regulamentou a Contabilidade Pública brasileira, institucionalizou a classificação funcional-programática, inseriu princípios orçamentários, definiu os conceitos e as classificações das receitas e despesas públicas, dispôs sobre o conteúdo da proposta orçamentária e da Lei Orçamentária Anual (LOA), introduziu, portanto as regras básicas sobre o planejamento 35 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 orçamentário. Esta lei encontra-se em vigor, destacando-se que a maioria dos seus dispositivos foi recepcionada pelo texto constitucional. A Constituição Federal apresenta em seu Capítulo 2 - Das Finanças Públicas -, Seção 11 - Dos Orçamentos -, algumas regras para a elaboração da LOA, inovando quanto ao seu conteúdo, o qual deverá conter todos os orçamentos do ente governamental, reforçando princípios orçamentários já existentes e introduzindo novos, dispondo sobre a iniciativa do projeto de lei, estabelecendo regras a serem observadas no processo legislativo, deliberando sobre a destinação dos recursos que ficarem sem despesas correspondentes em decorrência de veto, emenda ou rejeição do projeto de lei etc. A LRF também trouxe diversos dispositivos que tratam da elaboração da LOA, destacando a necessidade de comprovação da compatibilidade de seu projeto com os demais instrumentos de planejamento, definindo regras sobre a previsão da receita e fixação da despesa, introduzindo normas para a inclusão de novos projetos, revigorando alguns princípios orçamentários, exigindo a inclusão dos orçamentos das empresas estatais dependentes- na LOA, dentre outros assuntos. O Ministério do Orçamento e Gestão, o Ministério do Planejamento e o Ministério da Fazenda editaram diversas portarias nos últimos anos, as quais trouxeram muitas novidades quanto à elaboração do orçamento público, promovendo significativas alterações nas classificações das receitas e despesas, alterando a forma de elaboração dos orçamentos dos regimes próprios de previdência (RPPS) e criando mecanismos para eliminar as duplicidades de receitas e despesas, visando, sobretudo, a padronização e a consolidação das contas das três esferas de governo, etc. Segundo Andrade et al (2008) é desse emaranhado de normas e de várias outras que se garimpou as regras que deverão ser observadas quando da elaboração da proposta orçamentária. 36 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Orçamento Fiscal, de Investimentos e da Seguridade Social De acordo com o disposto no art. 165, § 5º, da Constituição Federal, a Lei Orçamentária Anual deverá compreender os seguintes orçamentos: Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: [...] § 5º A lei orçamentária anual compreenderá: I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II- o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III- o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. O referido dispositivo constitucional prevê que a LOA contenha três orçamentos: o fiscal, o de investimento e o da seguridade social. Contudo, alguns Estados e a grande maioria dos Municípios brasileiros têm apresentado em suas leis orçamentárias apenas o orçamento fiscal. Esse procedimento decorre, algumas vezes, da falta de dispositivo análogo nas constituições estaduais ou nas leis orgânicas municipais. Os princípios orçamentários Os princípios são as diretrizes de uma ciência. No caso dos princípios orçamentários, estes são as premissas, padrões, linhas e regras básicas que nortearão a elaboração e execução do orçamento, os quais decorrem da ciência contábil e jurídica. 37 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Alguns princípios orçamentários encontram-se estabelecidos nos textos das normas que regem a elaboração do orçamento público e outros decorrem da própria essência da ciência. A seguir apresentam-se os princípios orçamentários fundamentais para elaboração da LOA: Anualidade Também conhecido por princípio da anuidade.As previsões da receita e da despesa constantes no orçamento devem referir-se, sempre, a um período limitado de tempo que se denomina exercício financeiro. No Brasil, o exercício financeiro coincide com o ano civil, ou seja, inicia-se em 1º de janeiro e termina em 31 de dezembro de cada ano, conforme determina o art. 34 da Lei nº 4.320/1964. A exigência da observância desse princípio está contida no art. 2º da referida lei. Unidade O orçamento público é uno, isto é, constitui-se numa única peça para cada esfera de governo municipal, devendo consolidar todas as propostas orçamentárias dos Poderes Legislativo e Executivo, dos seus órgãos, fundos, autarquias e fundações, bem como das empresas em que o Município, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto, conforme determina o art. 165, § 5º, da Constituição Federal. A exigência do atendimento deste princípio está prevista no art. 2º da Lei nº 4.320/1964, bem como no art. 165, § 5º, da Constituição Federal. Universalidade O orçamento deve conter todas as receitas e todas as despesas previstas para um exercício financeiro, pelos seus valores globais, vedadas quaisquer deduções, conforme determinam os arts. 3º, 4º e 6º da Lei nº 4.320/1964. A necessidade de observância deste princípio encontra-se prevista no art. 2º da Lei nº 4.320/1964 e no art. 165, § 5º, da Constituição Federal. 38 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Exclusividade O texto da lei do orçamento não deve conter matérias estranhas à previsão das receitas e à fixação das despesas. Segundo BASTOS (1989) “a lei orçamentária anual não pode conter dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa. Ficam proibidas o que ficou conhecido como caldas orçamentárias, matérias de natureza não financeira, cuja aprovação era forçada por via da aprovação da lei orçamentária”. Exemplos de matérias estranhas que não podem constar no texto da lei orçamentária: - alienação de bens imóveis; - criação de cargos; - reestruturação de carreira; - alteração do plano de cargos e salários; - reajuste de vencimentos, salários e subsídios; - modificações na estrutura administrativa; - instituição de tributos; - alteração na legislação tributária; - autorização para transposições e remanejamentos; - autorização para concessão de auxílios, contribuições e subvenções; - alteração de nome de ruas, etc. As exceções a esse princípio estão previstas no art. 7º da Lei n. 4.320/1964 e no art. 165, § 8º, da Constituição Federal, os quais permitem que a lei do orçamento contenha autorização para a abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito. 39 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Especificação Este princípio está relacionado ao aspecto formal da peça orçamentária, tendo como objetivo vedar previsões genéricas de receitas e despesas na lei orçamentária. Assim, as receitas e despesas deverão ser consignadas na lei orçamentária no nível mínimo de detalhamento exigido. Tal princípio encontra-se nos arts. 5º, 13, 15 e 20 da Lei nº 4.320/1964. Evidenciação O orçamento público deve evidenciar os programas e ações governamentais. MACHADOJR. e REIS (2002/2003) ensinam que esse princípio constitui-se no próprio objetivo do orçamento que é “o de revelar com clareza o que o governo pretende realizar para cumprir as suas responsabilidades perante a sociedade”. Tal princípio encontra-se no art. 2º da Lei nº 4.320/1964 e art. 5º, § 4º, da LRF. Publicidade Trata-se de um princípio da Administração Pública que é exigido para todos os atos e fatos administrativos, inclusive à lei do orçamento. Segundo este princípio, o conteúdo da lei orçamentária deve ser divulgado pelos veículos oficiais de divulgação para conhecimento público e eficácia de sua validade. A observância de tal princípio encontra-se explicitada no art. 37 da Constituição Federal. Equilíbrio Este princípio visa coibir a previsão de receitas fictícias, sendo sua aplicação obrigatória na formulação do orçamento. Ele orienta que o valor fixado para as despesas num exercício financeiro seja compatível com o valor previsto para as receitas. 40 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 O equilíbrio orçamentário não pressupõe necessariamente que a previsão da receita seja igual à fixação da despesa, mas que o montante da receita prevista seja suficiente para cobrir o montante da despesa fixada para o exercício financeiro. A decisão de planejar é essencialmente política, sendo uma tentativa de alocar explicitamente recursos e, implicitamente, valores, isto é, imprimir qualidade ao gasto público, de modo a que atenda essencialmente ao melhor anseio social. A implementação do Plano é também, fundamentalmente, um fenômeno político, pois permite verificar se a tentativa de alocar recursos e valores se efetivou (COELHO NETO, 2002). REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS ANDRADE, Nilton de Aquino (org.) Planejamento governamental para municípios: plano plurianual, lei de diretrizes orçamentárias e lei orçamentária anual. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2008. 41 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 ANDRADE, Nilton de Aquino. Contabilidade Pública na Gestão Municipal. São Paulo: Atlas, 2002. BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 1989. BRASIL. Constituição Federal de 1988. BRASIL. Lei 4.320 de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4320.htm> Acesso em: 23 jul. 2010. BRASIL. Lei 8666 de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8666cons.htm> Acesso em 23 jul. 2010. BRASIL. Lei Complementar n. 101 de 04 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp101.htm> Acesso em: 21 jul. 2010. BRASIL. Lei 10.257 de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/LEIS_2001/L10257.htm> Acesso em: 23 jul. 2010. CHALFUN, Nelson; MÉLLO, Leonardo. Entendendo a contribuição da política fiscal, do PPA e da LDO para a gestão fiscal, responsável. Rio de Janeiro: IBAM/BNDES, 2001. COELHO NETO, Milton. A transparência e o controle social como paradigmas para gestão pública no Estado Moderno In: FIGUEIREDO, Carlos Maurício; NÓBREGA, Marcos (orgs.). Administração Pública: direito administrativo, financeiro e gestão pública: prática, inovações e polêmicas. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI, versão 3.0, Editora Nova Fronteira, novembro, 1999. GASPARINI, Diógenes. O estatuto das cidades. São Paulo: Editora NDJ, 2002. GIACOMONI, James. Orçamento Público. 14 ed. São Paulo: Atlas, 2007. 42 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 MACHADO JR, José Teixeira; REIS, Heraldo da Costa. A Lei 4320 comentada. 31 ed. Rio de Janeiro: IBAM, 2002/2003. VAINER,Ari, et al. Gestão fiscal responsável – simples municipal: plano plurianual – manual de elaboração. BNDES: out. 2001. 43 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 AVALIAÇÃO 1) Implantar a cultura de planejamento é uma atitude ousada, mais ainda se o quadro técnico considerar o planejamento como uma exigência formal, mas eis que tivemos a felicidade da implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal que inova, já que exige resultados, além de formalidades. Por ela conseguimos perceber que planejar torna- se essencial na medida em que é exigido atingir o equilíbrio das contas públicas. Pois bem: as ações do governo devem ser mediadas a curto, médio e longo prazo, de modo que ao final, o resultado não seja deficitário. Qual das ações abaixo deve ser mediada a longo prazo? A( )O orçamento fiscal B( )A execução fiscal C( )O Plano Plurianual D( )n.d.a. 2)Leia as afirmativas abaixo e assinale a resposta correta: I – A prática do planejamento tem como objetivo corrigir distorções administrativas, alterar condições indesejáveis para a coletividade, remover empecilhos institucionais e assegurar a viabilização de objetivos e metas que se pretende alcançar. II – Planejar é essencial, é o ponto de partida para a administração eficiente e eficaz da máquina pública, pois a qualidade do mesmo ditará os rumos para a boa ou má gestão, refletindo diretamente no bem-estar da população. III – A Constituição Federal de 1988 deu ênfase à função de planejamento, quando introduziu significativas mudanças na forma de condução do processo orçamentário, pois aliou o orçamento público ao planejamento. A( )Somente está correta a afirmativa I. B( ) Somente está correta a afirmativa II. Cesar Máquina de escrever Planejar é essencial, é o ponto de partida p 44 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 C( ) Somente está correta a afirmativa III. D( )Todas as afirmativas estão corretas. 3)Qual dos instrumentos abaixo viabiliza o plano de governo, permitindo a realização anual dos programas mediante a alocação de recursos para as ações orçamentárias (projetos, atividades e operações especiais)? A( )Plano Plurianual. B( )A Lei de Diretrizes Orçamentárias. C( )A Lei Orçamentária Anual. D( )A Lei de Responsabilidade Fiscal. 4) O planejamento governamental é indispensável para permitir a aplicação correta e responsável dos recursos públicos. Assinale a opção que não representa um dos seus objetivos: A( ) Não previne riscos e nem corrige desvios que sejam capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas. B( ) Garante que as ações governamentais sejam realizadas dentro da capacidade financeira do Município. C( )Garante a manutenção e a conservação do patrimônio público. D( ) Executa as ações governamentais prioritárias, possibilitando a conclusão de todos os projetos iniciados. 5) Nas duas últimas décadas criou-se um arcabouço legal bem amplo, exigindo que o Administrador Público planeje suas ações com responsabilidade, principalmente aquelas que geram aumento de despesa e que sejam de médio prazo. Qual das leis abaixo destaca no seu início a necessidade do planejamento, determinando que “a responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente em Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 45 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 que se previnem riscos e corrigem desvios, capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas”? A( )Lei 8.742/93 B( )LRF – Lei Complementar 101/00 C( )Lei 10.257/01 D( )Lei 10.172/01 6) A lei 10.257/01 também conhecida como Estatuto da Cidade tem como objetivo geral estabelecer diretrizes gerais da política urbana. No seu artigo 4º encontramos os instrumentos da política urbana, divididos em seus grupos. Em qual dos grupos se encaixam os impostos sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) e os incentivos e benefícios fiscais e financeiros? A( )No grupo I – Planos nacionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social. B( )No grupo II – Planejamento das regiões metropolitanas, aglomerados urbanos e microrregiões. C( )No grupo IV – Institutos tributários e financeiros. D( )No grupo V – Institutos jurídicos e políticos. 7) O que podemos dizer sobre a vigência do Plano Plurianual? A( )compreende dois exercícios financeiros B( )compreende apenas 1 exercício financeiro C( )compreende quatro exercícios financeiros. D( )compreende oito exercícios financeiros. 8)Projeto é? Assinale a alternativa correta. 46 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 A( )o instrumento de organização da ação governamental visando à concretização dos objetivos pretendidos, sendo mensurado por indicadores estabelecidos no plano plurianual B( )um instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações que se realizam de modo contínuo e permanente, das quais resulta um produto necessário à manutenção da ação de governo. C( ) São as indicações necessárias para orientar as ações de uma entidade de modo que, estrategicamente, os objetivos sejam alcançados e as ações possuam algum grau de complementaridade e que se leve a termo um plano, no caso, o PPA. D( ) um instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações, limitadas no tempo, das quais resulta um produto que concorre para a expansão ou o aperfeiçoamento da ação de governo. 9)Qual dos instrumentos abaixo deverá conter: as metas e prioridades da administração pública para o exercício financeiro subsequente, orientar e dispor sobre as alterações na legislação tributária e estabelecer a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento? A( )PPA B( )LDO C( )LOA D( )LRF 10)”Documento que apresenta em termos monetários as receitas e as despesas públicas que o governo pretende realizar no período de um exercício financeiro”. Qual dos documentos abaixo pertence essa definição? A( )Lei Orçamentária Anual 47 Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 B( )Lei Orgânica Municipal C( )Lei de Responsabilidade Fiscal D( )Lei de Diretrizes Orçamentárias
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