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CULTURA INDIGENA ARTIGO (1)

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1
IMPASSES E CAMINHOS PARA A AUTONOMIA INDÍGENA NO BRASIL
IMPASSES AND PATHS FOR INDIGENOUS AUTONOMY IN BRAZIL
Daniele Fontenele Oliveira[footnoteRef:1] [1: Daniele Fontenele Oliveira (graduanda de Letras Português/Inglês – Instituto Federal do Ceará – IFCE - Campus Camocim) │ E-mail: 4991daniele@gmail.com] 
Lucas Araújo da Costa[footnoteRef:2] [2: Lucas Araújo Da Costa (graduando de Letras Português/Inglês – Instituto Federal do Ceará - IFCE - Campus Camocim │ E-mail: luccas.arcost@gmail.com] 
Resumo: O presente artigo acadêmico trata-se de um breve estudo acerca da autonomia indígena no Brasil. Através de um retrospecto histórico da colonização europeia até os dias mais atuais, o trabalho em questão tem como pauta os diversos causa pelas quais os nativos continuam lutando, são elas: valorização linguística, resistência em se educar e reivindicar, além do combate ao preconceito. Ademais, apresenta estatísticas pertinentes sobre como o índio está inserido na sociedade atual.
Palavras-chave: Índio. Brasil. Autonomia. Desafios. 
Abstract: This academic article is a brief study about indigenous autonomy in Brazil. Through a historical retrospect of European colonization to the present day, the work in question has as its agenda the various causes for which the natives continue to fight, they are: linguistic valorization, resistance in educating and claiming, besides the fight against prejudice. In addition, it presents pertinent statistics on how the Indian is inserted in today's society.
Keywords: Indian. Brazil. Autonomy. Challenges.
Introdução
	Em meados de 1500, a colonização europeia provocou uma série de mudanças na estrutura política, econômica, cultural e, sobretudo, social dos povos indígenas. Dessa forma, a disputa territorial e a exploração dos recursos naturais fizeram com que os anos seguintes fossem marcados por inúmeros conflitos entre essas duas sociedades. Isso acarretou genocídios e consequentemente a dizimação de parcela considerável da população indígena que tentava resistir, mas sem sucesso.
	Para além disso, os nativos foram vítimas de uma gama de doenças e infecções trazidas pelos intrusos europeus, entre elas, a gripe e o sarampo, das quais seus organismos não possuíam nenhuma imunidade. Por isso, as epidemias contribuíram de forma significativa para a fragilização e dominação dos povos ameríndios. Desse modo, as missões religiosas e a catequese, eram usados como instrumentos de aculturação que buscavam adequá-los ao modelo de vida português.
	A partir desse retrospecto histórico, nota-se que o índio foi negligenciado de muitas formas. Com o passar do tempo, sua identidade e cultura foram cada vez mais subjugadas e descartadas. Assim, as poucas opções de resistência consistiam no confronto direto ou tentavam se integrar à nova realidade de crescente repressão. Contudo, a obediência ao “homem branco” não os isentava de servir de ferramentas. Dessa maneira, tribos inteiras foram moldadas para o trabalho braçal na construção de uma sociedade baseada em valores bem diferentes dos deles.
	Em linhas gerais, este estudo debruçasse sobre os desafios da autonomia indígena numa sociedade brasileira já consolidada. Ao considerar o ano atual, 2019, entende-se que o país já dispôs do tempo necessário para entender e atuar nas necessidades específicas das tribos remanescentes. Por isso, faz-se necessário compreender como estão as leis e as políticas públicas que garantem e protegem a participação e a integridade do índio na sociedade brasileira.
Indígenas brasileiros: autonomia para resistir e estudar 
Se nos séculos anteriores, antes da chegada dos portugueses, supõem-se que haviam milhões de nativos em terras brasileiras, nas quais se falavam mais de mil idiomas diferentes, hoje, de acordo com Censo 2010, a população indígena é de apenas 896,9 mil pessoas, espalhadas pelas terras demarcadas e pelos centros urbanos. Ainda nessa pesquisa, o IBGE, pela primeira vez, fez um mapeamento das etnias e línguas indígenas, no qual foram encontradas 305 etnias, sendo a Tikúna a maior dentre todas. Além disso, a variedade linguística dos nativos soma mais de 274 idiomas. 
Luciano (2006) afirma que a língua não é o grande fator que identifica um povo indígena, mas ela é de suma importância para que comunidade e mundo exterior possam, de maneira apropriada, reproduzir, compartilhar e introduzir conhecimentos, sejam eles tradicionais ou novos. É importante frisar que toda essa diversidade está sendo ameaçada de extinção e as causas desse fenômeno vão desde os nativos estarem substituindo as suas línguas-mãe por idiomas majoritários, como o português, e a própria extinção do povo, reduzindo assim o número de falantes.
No âmbito educacional, a alta taxa de analfabetismo é um caso preocupante que dificulta o posicionamento político dos índios perante suas pautas. Para Freire (2000), uma educação adequada faz com que nos assumamos para a sociedade e nos tornemos agente de mudança, por isso “assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos” possibilita a capacidade de defender suas propriedades étnicas, culturais, territoriais, religiosas, sendo o primeiro passo para autonomia indígena.
De acordo com o IBGE, a explicação para esse fato se dá pela carência de escolas nas comunidades. Os indígenas de 15 anos ou mais que moram em terras próprias possuem o índice de 32,3% de analfabetismo contra 23,3% daqueles que tem uma vida fora dessas terras e quando é comparado com a porcentagem nacional, esses dois grupos ficam atrás nesse quesito, pois, a taxa de analfabetismo do país é de 9,6%. 
Em contrapartida, a FUNAI afirma 
Em menos de sete anos, a quantidade de indígenas matriculados nas universidades cresceu mais de cinco vezes. O aumento na procura por formação acadêmica entre os povos indígenas deve-se a necessidade de formar profissionais qualificados e inseridos em contextos políticos e socioculturais e que ainda colaborem com a luta pela conquista da autonomia e da sustentabilidade de seu povo. (FUNAI, 2018)
	O aumento significativo dos indígenas nas universidades é uma forma de assegurar os direitos de todos os nativos a saúde, educação, sendo também uma forma de possibilitar as comunidades ajudas financeiras e jurídicas, pois os cursos mais procurados são os de Direito, Pedagogia, Administração e Enfermagem. Além disso, têm-se a questão da representatividade para os demais, em especial os mais jovens analfabetos, que necessitam diariamente de estímulos para encontrarem seus lugares e notarem as possibilidades que uma boa educação oferece a ele e sua comunidade.
	
Indígenas brasileiros: autonomia para resistir e reivindicar
	Apenas em 1988 a classe indígena teve, de fato, seus direitos reconhecidos e regulamentados. Essa nova visão sobre o índio foi determinante para a iniciação dos movimentos de emancipação, pois, o diálogo e participação indígena nas questões territoriais, culturais e políticas possibilitaram a coexistência pacífica de ambas as raças.
Para isso, esses povos contam atualmente com convênios internacionais e leis nacionais para garantirem os seus direitos. Os mais significativos são a Convenção 169 da OIT, ratificada pelo Brasil em 2003 e que determina que os índios deste país sejam reconhecidos como povos, e a Constituição Federal de 1988, que assegura a inclusão dos direitos coletivos dos povos indígenas, entre outros importantes direitos conquistados. (LUCIANO, 2006)
	No entanto, a prática mostra que a classe indígena ainda é esquecida e, por vezes, desconsiderada nas implementações de políticas públicas nas demais regiões do país. Por esse motivo, o Estado dificilmente se adequa e busca estar a par das carências das comunidades indígenas. Dessa forma, mesmo que haja órgãos que fiscalizem e auxiliem os índios em suas práticas cidadãs, como a FUNAI (Fundação Nacional do Índio, um órgão do governo brasileiro que lida com todas as questões referentes às comunidades indígenas e às suas terras), a participação delesnos ambientes de discussão democrática ainda é mínima. 
	Além disso, Ricardo Verdum (2010), doutor em Antropologia Social e assessor de políticas indígenas, destaca em seu artigo “Povos Indígenas no Brasil: o desafio da autonomia” o seguinte pensamento,
o que se percebe hoje é que nenhum dos governos que se sucederam, ao longo desses anos, implementou mudanças significativas nas práticas e estruturas político administrativas do aparato de Estado, em particular na direção da transformação do Estado brasileiro num Estado Plurinacional. O respeito ao direito interno de autonomia política desses povos e a reestruturação territorial do Estado não integra nem mesmo a agenda dos partidos políticos “progressistas”. (VERDUM, 2010).
	A crítica do autor reflete muito bem o descaso como muitos povos indígenas são tratados, sendo que, até hoje, só se tem conhecimento de um líder político ameríndio que os representasse no congresso nacional, a deputada Joênia Batista de Carvalho, advogada, nativa povo Wapichana. Nesse caso, do ponto de vista deles, a cidadania é crucial, pois necessitam, além de representatividade, de amparo das leis para tornarem-se detentores legítimos de suas terras, além de garantir saúde, educação, cultura e auto sustentação.
	Nesse sentido, as discussões mais atuais sugerem que o Estado trabalhe uma “cidadania diferenciada” aos índios, na qual eles podem exercer tanto seus costumes étnicos culturais, reconhecendo-se como um “estado dentro de outro”, com suas próprias leis e valores e hierarquia social. Dessa maneira, no passo em que se estabelece estreita relação de seus interesses com as da sociedade civil não indígena, a criação de espaços de socialização e troca de experiências são imprescindíveis para que a classe indígena se sinta realmente incluída nas decisões político-administrativas do país.
	Diante disso, a medida articula e tornar mais eficiente o próprio voto dos envolvidos, fortalecendo os movimentos populares que lutam a favor das minorias que não tem suas pautas valorizadas e priorizadas pelo congresso nacional. A luta por visibilidade, dentro e fora da comunidade, reforça o conceito de multiculturalidade tão presente no processo de miscigenação cultural e étnica do Brasil. Esse pensamento é essencial para que os indivíduos (indígenas ou não) se percebam enquanto grupos com comportamentos e necessidades diferentes. Contudo, entendam que estão inseridos numa sociedade multicultural, sendo todas elas igualmente importantes e únicas para o mundo onde vivem.
Indígenas brasileiros: autonomia para resistir ao preconceito
	O senso comum reverbera o pensamento equivocado de que o índio é “improdutivo” e “preguiçoso”, no entanto, a afirmação é resultado de uma visão totalmente preconceituosa e ignorante. Ao considerar o modelo social indígena, no qual se sustenta na base da subsistência, modelo esse que se difere muito dos moldes capitalistas do qual a sociedade urbana está acostumada, quando o índio não se adapta a esse sistema, é automaticamente taxado e estereotipado como tal.
	Diante desse cenário, mais que conscientização, é preciso um trabalho educacional que foque no desenvolvimento ético racial nas escolas para que a nova geração cresça com o intelecto mais preparado e aberto as questões desta natureza. Nesse aspecto, 
O letramento racial é uma forma de responder individualmente às tensões raciais. Ao lado de respostas coletivas, na forma de cotas e políticas públicas, ele busca reeducar o indivíduo em uma perspectiva antirracista. (SCHUCMAN, 2015)
	É nesses pequenos avanços que o índio exerce sua cidadania de forma plena e alcança a autonomia tão desejada. A complexidade do preconceito perpassa ainda outros aspectos como os valores etnocêntricos herdados desde o processo colonial pelo povo brasileiro. Segundo Carvalho (1997),
O etnocentrismo consiste em privilegiar um universo de representações propondo-o como modelo e reduzindo à insignificância os demais universos e culturas ‘diferentes’. De fato, trata-se de uma violência que, historicamente, não só se concretizou por meio da violência física contida nas diversas formas de colonialismos, mas, sobretudo, disfarçadamente por meio daquilo que Pierre Bourdieu chama ‘violência simbólica’, que é o ‘colonialismo cognitivo’ na antropologia de De Martino.”
A partir disso, quando Carvalho fala dos efeitos deste fenômeno, vemos que pouca coisa mudou em comparação aos dias atuais. É comum ver nos noticiários inúmeros assassinatos de líderes indígenas que se opõem a extração de recursos de suas terras, sendo mortos em prol da ganância de homens que não possuem o mínimo de respeito pela história e pelas contribuições que os índios deram ao Brasil.
 
Considerações Finais
	Este trabalho apresentou diversos problemas que interferem no processo de emancipação dos povos indígenas brasileiros. Contudo, mostrou também algumas alternativas para contorna-los. Dessa forma, espera-se mais atenção dos poderes públicos (legislativo, executivo, judiciário) e da sociedade em geral diante as reivindicações das tribos indígenas. Vale ressaltar aqui, que a tecnologia se mostra como uma importante aliada para a erradicação do preconceito e a troca de informações entre todas as nações. Muitas tribos atualmente, a exemplo, o povo Yanomami, veem com bons olhos o uso do computador e da internet e começam a se apropriar deste conhecimento.
	Em vista disso, as possibilidades são imensas. O diálogo através de canais de comunicação propicia o acesso e o acolhimento de múltiplas ideias e pontos de vista em prol de um bem comum. Dessa maneira, mesmo que o futuro as vezes pareça nebuloso diante dessas questões, a tolerância e o respeito, deve sempre prevalecer. 
Referências 
CARVALHO, José Carlos de Paula (Agosto, 1997), Etnocentrismo: inconsciente, imaginário e preconceito no universo das organizações educativas, (discurso proferido nos Seminários de Cultura, Escola e Cotidiano Escolar, FEUSP, 1996)
FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO (FUNAI). Estudantes indígenas ganham as universidades. Funai, 22 de mar. De 2018. Disponível em: http://www.funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/4814-estudantes-indigenas-ganham-as-universidades Acesso em: 27 de nov. de 2019
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Brasileiro de 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.
LEAL, Luciana Nunes. Analfabetismo entre indígenas é quase três vezes maior que o índice nacional. Estadão, São Paulo, 10 de ago. de 2012. Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,analfabetismo-entre-indigenas-e-quase-tres-vezes-maior-que-indice-nacional,914426> Acesso em: 26 de nov. de 2019
LUCIANO, Gerson dos Santos. O Índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/ Museu Nacional, 2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 50. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. 165 p.
SHUCMAN, Lia Viana, Revista IHU online, 09 de fevereiro de 2015.
SIMÕES, Rodrigo. Participação indígena no Ensino Superior aumenta mais 500% em seis anos; mulheres são a maioria. QueroBolsa, 19 de abr. de 2018. Disponível em: https://querobolsa.com.br/revista/participacao-indigena-no-ensino-superior-aumenta-mais-de-500-em-seis-anos-mulheres-sao-a-maioria Acesso em: 27 de nov. de 2019
VERDUM, Ricardo. Povos Indígenas no Brasil: o desafio da autonomia”. Rio de Janeiro: E-papers, 2010. 208 p.