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Como Argumentar

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Apostila de Redação do ENEM 
 
COMO ARGUMENTAR NA REDAÇÃO DO ENEM? 
Agora você já sabe o básico de como convencer alguém, mas o nosso objetivo aqui é melhorar sua nota no 
vestibular— e é claro que não dá pra chegar escrevendo que “respeitar a religião do outro é bom”. Seu 
argumento precisa ser mais sofisticado. Então como é que faz pra argumentar no ENEM?
Qual é o problema? 
Por que isso é um problema? 
Por que esse problema existe? 
O que apoia meu ponto de vista sobre o problema? 
Como é que eu resolvo o problema? 
 
Vamos começar pela primeira. 
1. QUAL É O PROBLEMA? 
Você já sabe que o ENEM quer que a gente explique nosso ponto de vista, mas não é pra 
explicar qualquer ponto de vista. Cê não pode concluir uma redação sobre mobilidade urbana 
falando “Portanto, vê-se que a série How I Met Your Mother é claramente superior a Friends”. Se o corretor 
lê um negócio desses ele zera tua nota, e não é porque ele é fã de Friends; é porque isso é fuga do tema. 
Então nossa primeira tarefa aqui, antes de qualquer coisa, é descobrir do que é que a gente tem que falar. Ou 
seja — qual é o problema? 
Vejamos o tema do ENEM 2018: 
 
Muita gente fez essa redação toda direitinha, montando a estrutura perfeita, deixando tudo bem explicado e 
citando um monte de filósofo. Aí quando foi olhar o resultado em janeiro só faltou morrer do coração, porque 
a nota ficou ali pelos 460. O que houve? Pra nota vir tão baixa, só pode ter sido 8uma coisa: a redação não 
abordou o problema! 
Toda redação do ENEM gira em torno de um problema — uma questão social, complexa, sem resposta 
fácil. Cê nunca vai abrir a prova e ver o tema Caminhos para impedir um gato de andar no teclado do notebook 
enquanto você escreve uma apostila. Tem que ser algo mais amplo, mais sério. Por exemplo: 
 
Em 2014, o tema do ENEM foi esse aí de cima: publicidade infantil em questão no Brasil. O assunto tava na 
boca do povo porque até então a publicidade infantil era liberada, mas aí o Conselho Nacional de Direitos da 
Criança e do Adolescente (Conanda) decidiu que essa prática é abusiva, e proibiu. Como é um problema social, 
complexo e sem resposta fácil, virou tema do ENEM. 
Mas o que é “publicidade infantil”? 
 
 
Pra identificar o problema, sua primeira estratégia tem que ser a definição. Você circula cada palavra-chave 
do tema, isto é, as partes importantes, e aí define cada uma, igual no dicionário. O que é publicidade? 
Publicidade é propaganda, divulgação de produtos. E infantil? É alguma coisa pra criança. E Brasil? Brasil 
quer dizer que o problema tá no nosso país (e não em outros). 
Então vamo juntar essas definições e reescrever o tema: 
 
A importância de definir cada palavra do tema é a mesma de olhar um endereço no Maps antes de sair de casa: 
só dá pra chegar no lugar certo se você sabe exatamente pra onde tá indo. Nesse tema aí, dá pra falar de 
machismo em propaganda de cerveja? Não. Propaganda de cerveja não é pra criança. Cê tá indo pro lugar 
errado. E do efeito que a tecnologia tem sobre o desenvolvimento infantil, incentivando sedentarismo? Não. 
Isso não é publicidade. E se eu quiser focar só na discussão que tá rolando sobre isso nos Estados Unidos, eu 
posso? Não. O ENEM quer que você fale do Brasil. 
 
Não adianta chegar num lugar parecido, ou num lugar relacionado ao tema. Se o objetivo da redação é 
argumentar a respeito de um problema, o mínimo que o ENEM espera de você é que tu saiba qual problema é 
esse. Quem não tira dez minutinhos no início da prova pra pensar sobre isso corre o risco de desperdiçar um 
ano inteiro de estudo. 
Então vamos aos exercícios. 
 
 
EXERCÍCIO DE ARGUMENTAÇÃO — II — ENTENDENDO O PROBLEMA 
 
Seu segundo exercício é o seguinte: você vai reescrever o tema usando sinônimos ou expressões do mesmo 
sentido, que nem eu fiz ali em cima. Tanto faz as palavras que você usar, desde que te ajudem a entender 
melhor o problema. A partir disso, você vai escolher, dentre as opções apresentadas, qual argumento 
está fugindo do tema, e explicar por quê. 
Pro meu exemplo, eu vou usar o tema de 2018: 
 
A equipe que escreveu essa frase não é que nem a gente, que fica enchendo linguiça no texto botando um 
monte de palavra bonita pra ver se ganha mais ponto. Na frase acima, cada palavra tem uma função. Tudo 
tá ali por um motivo. Se você deixar de falar da manipulação, ou do comportamento, ou dos dados, ou 
da internet, cê já desviou um pouquinho do tema. Ou seja — pra falar da coisa certa, não pode deixar nada 
faltando. 
Tá, mas e se eu não souber o que tal palavra significa? Vamos supor que eu não saiba o que são dados. Aí é 
que entra o texto motivador, seu MELHOR e ÚNICO amigo. Vejamos o Texto I: 
Às segundas-feiras pela manhã, os usuários de um serviço de música digital recebem uma lista personalizada 
de músicas que lhes permite descobrir novidades. Assim como os sistemas de outros aplicativos e redes sociais, 
este cérebro artificial consegue traçar um retrato automatizado do gosto de seus assinantes e constrói uma 
máquina de sugestões que não costuma falhar. (…) De fato, plataformas de transmissão de vídeo on-line 
começam a desenhar suas séries de sucesso rastreando o banco de dados gerado por todos os movimentos dos 
usuários para analisar o que os satisfaz. 
Se o banco de dados é gerado por movimentos dos usuários, o que são dados? São informações sobre o seu 
uso da internet; uma espécie de histórico do que você clica, ouve e assiste. É a partir dessas informações que 
o site te conhece melhor e aprende o seu gosto. 
 
 
Depois de ler o tema, circular cada palavra-chave e procurar o significado nos textos, eu estou pronta para 
reescrevê-lo. Vamos lá: 
 
 
 
Ótimo! Agora eu já entendo melhor o problema. Vamos agora à segunda parte do exercício, que é apontar, 
entre duas opções de argumento, qual delas se encaixa no tema e qual está em fuga. 
 
ARGUMENTO 1: As fake news vêm se espalhando em redes sociais, influenciando o resultado de eleições 
com suas mentiras políticas. 
Pra decidir se um argumento se encaixa no tema, lembre-se de que ele tem que se encaixar INTEIRO, não só 
a uma parte! O argumento acima fala de influência, de internet, de usuários… mas não fala de dados. Isso aí 
não tem nada a ver com monitoramento de informações pessoais. Logo, estamos fugindo do tema. 
ARGUMENTO 2: À medida que serviços de streaming de música e filmes são personalizados de acordo com 
o gosto do usuário, detectado por meio da fiscalização de seus hábitos, tende-se a uma estagnação cultural — 
o indivíduo só consome a arte que já está acostumado a consumir. 
POR QUE ISSO É UM PROBLEMA? 
O que faz do problema um problema é o seu efeito negativo. Ele precisa fazer mal a alguém, de alguma forma, 
pra que você queira resolvê-lo. 
Vamos supor que você esteja em casa agora, sentada na sua escrivaninha, lendo a apostila. Cê tá sentindo 
alguma dor? Febre? Nariz escorrendo? Seu braço esquerdo apodreceu e caiu no chão? Não? Então talvez você 
não tenha nenhum problema de saúde. Assim como as doenças, que nós percebemos a partir dos sintomas, os 
problemas sociais são identificados por seus efeitos negativos — isto é, pelo que eles prejudicam. 
 
 
 
 
Digamos que o tema da redação seja Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil. Você sabe 
que o problema é a educação dos surdos, e que isso tem que ser resolvido — mas primeiro você 
precisa mostrar que é um problema, apontando os efeitos negativos. Qual é o efeito negativo da educação 
atual? Que mal ela tá fazendo? 
Dá uma olhada nesse parágrafo de outra redação nota 1000: 
Contudo, observam-se algumas distorções para essa garantia educacional. Infelizmente, os surdos são alvo de 
preconceito e são vistos erroneamente como incapazes. Isso é frequentemente manifestado na forma 
de violência simbólica, termo do sociólogo Pierre Bourdieu, que inclui os comportamentos, não 
necessariamente agressivos física ou verbalmente,que excluiriam moralmente grupos minoritários, como a 
pessoa com deficiência (…) as vítimas dessa agressão simbólica tenderiam a se isolar, gerando, por 
exemplo, evasão escolar e redução da procura pela qualificação profissional e acadêmica por esses deficientes. 
Se você se sentiu intimidada com a linguagem do trecho acima, não se preocupe — cê não precisa escrever 
assim pra tirar uma nota boa. A ideia do parágrafo é a seguinte: pra te convencer a melhorar a educação dos 
surdos, primeiro eu preciso te convencer de que essa educação precisa ser melhorada. Por que eu preciso 
resolver isso? Por que isso é um problema? Como resposta, a vestibulanda lista vários efeitos negativos — 
violência simbólica, exclusão, isolamento, evasão escolar… Ou seja, os surdos tão mesmo sofrendo com isso; 
e se tá causando sofrimento, é um problema. 
 
 
O QUE APOIA MEU PONTO DE VISTA SOBRE O PROBLEMA? 
 
A referência é tipo um fiador pro teu argumento. Você pode falar pra imobiliária que vai pagar o aluguel todo 
fim do mês, certinho, mas isso é só a sua palavra. Por que ela confiaria em você? Aí vem o fiador e fala: olha 
só, eu garanto o que essa pessoa tá falando. E o fiador é alguém de confiança, então ele passa essa confiança 
pra você — agora você é confiável também. 
Referências funcionam do mesmo jeito. Você pode desenvolver direitinho seu argumento, mas sem um fiador, 
sem uma referência, ele não tem peso. Pro seu argumento ser confiável, ele precisa ter algum apoio externo, 
senão o texto vira trinta linhas de você falando sozinha. 
Ou seja, a referência apoia seu argumento. É como se você dissesse: escuta, isso aqui não é só coisa da 
minha cabeça não. Já disseram a mesma coisa em tal música, tal filme, tal teoria, tal época. Eu entendo como 
esse tema se encaixa no mundo. 
Pra chegar à nota 900, sua redação precisa incluir duas referências. 
 
ENTÃO EU POSSO USAR QUALQUER COISA DE REFERÊNCIA? 
Praticamente qualquer coisa. Pense nas referências como categorias — 
referências culturais, históricas, acadêmicas e em forma de frases. 
Entre as culturais, temos filmes, músicas, livros, poemas, fábulas, mitologias, estátuas, pinturas. O 
quadro “Guernica”*, por exemplo, retrata a cidade de Guernica sofrendo um bombardeio; é uma ótima 
referência em argumentos antimilitarismo e antiguerra. 
*Todo título de obra, seja livro, arte, filme, o que for, deve ser incluído na redação com ASPAS! 
 
COMO ELIMINAR O PROBLEMA? 
Então como é que eu monto uma proposta de intervenção? Fácil. A proposta de intervenção ataca a causa e 
o efeito. 
> Tá, mas como eu escolho o QUEM? 
O QUEM, que é o agente da proposta, tem a ver com quem cria o problema e quem sofre com o 
problema. Vamo pegar esse último exemplo aí. A vítima do bullying é a criança, o adolescente. Quem é que 
tem influência sobre criança e adolescente? Eu disse que as escolas devem submeter os jovens a 
acompanhamento médico, mas eu poderia muito bem ter dito que esse papel é das famílias. 
Da mesma forma, pra resolver a causa, eu posso pedir que emissoras de televisão exibam pessoas fora do 
padrão estético em suas novelas, ou que anunciantes usem essas pessoas em comerciais — porque jovem 
assiste TV. 
 
> E o COMO? 
O COMO precisa ser minimamente original. Não pode conscientizar e não pode dar palestra. Ninguém nunca 
aprendeu nada com palestra. Pra isso que serve puxar a proposta da mesma área que veio o argumento; se a 
causa é de saúde, dá pra resolver distribuindo vacina e preservativo, enviando agentes de saúde às casas mais 
afastadas, organizando mutirões pra limpar pneus. Não precisa ficar conscientizando. 
 
Quais perguntas responder para formular uma boa proposta de intervenção no Enem 
Antes de montar sua proposta, procure responder perguntas como: 
• O que é possível apresentar como proposta de intervenção para o problema abordado pelo tema? 
• Quem deve executá-la? 
• Como viabilizar essa proposta? 
• Qual efeito ela pode alcançar? 
Não se esqueça de que a proposta de intervenção deve respeitar os direitos humanos. 
Como poderia ter sido feita a proposta de intervenção do Enem 2017 
No Enem 2017, a redação teve como tema “Os desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”. 
Como muita gente sentiu na pele uma dificuldade tremenda em redigir alguma coisa com esse recorte, 
a Revista Quero pediu ajuda da Gabriela para mostrar possíveis propostas de intervenção que poderiam ser 
utilizadas. 
Os candidatos poderiam ter feito: 
• algo em relação à popularização do ensino de Libras, como workshops itinerantes ou incentivo 
financeiro para profissionais bilíngues, por exemplo; 
• algo relacionado à fiscalização, como monitoramento por meio de aplicativos. 
 
A proposta de intervenção poderia ficar assim, segundo a professora Gabriela: 
Portanto, é dever do Estado garantir o pleno acesso à educação às pessoas surdas e fiscalizar o cumprimento 
da lei. Cursos itinerantes de Libras para gestores e educadores devem ser financiados pelo poder público para 
que a segunda língua oficial do país seja difundida e levada para a sala de aula. A fiscalização pode ser feita 
por meio de aplicativos e atividades online que permitissem aos surdos avaliar seu próprio processo de 
aprendizagem e denunciar quaisquer exclusões relacionadas à surdez no ambiente escolar. Com isso, será 
possível a garantia de direitos a todos. 
 
 
	Apostila de Redação do ENEM
	COMO ARGUMENTAR NA REDAÇÃO DO ENEM?
	1. QUAL É O PROBLEMA?
	POR QUE ISSO É UM PROBLEMA?
	> Tá, mas como eu escolho o QUEM?
	Como poderia ter sido feita a proposta de intervenção do Enem 2017

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