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MÓDULO 03 - TEXTO 01

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ASPECTOS GERAIS DOS DIREITOS HUMANOS
 Direitos humanos são aqueles que os seres humanos possuem, única e
exclusivamente, por terem nascido e serem parte da espécie humana. São direitos
inalienáveis, ou seja, que não podem ser retirados, nem podem ser cedidos
voluntariamente por ninguém e independem de legislação nacional, estadual ou
municipal específica. Devem assegurar às pessoas condições básicas que lhes permitam
levar uma vida digna. Para tanto, contemplam o acesso a elementos básicos que a
garantam, tais como: acesso à liberdade, igualdade, trabalho, saúde, educação, moradia,
alimentação, água, etc.
 Vale ressaltar que a definição de direitos humanos está em constante construção,
assim como a organização e valores da sociedade. Os direitos não são “naturais” ou
inerentes à natureza humana: são definidos a partir de necessidades e valores sociais,
que por sua vez, estão em constante transformação. Foram e são conquistados a partir
de lutas históricas e, por essa razão, mudam com o tempo. Eles avançam à medida que
avança a humanidade, os conhecimentos construídos e a organização da sociedade e do
Estado. (FIAN,2020). 
 Os direitos humanos foram pactuados como direitos inerentes a toda pessoa por
meio de um longo processo de lutas e conflitos entre grupos, especialmente entre
aqueles detentores de poder e a maioria sem poder algum. Portanto, tudo o que se
refere à promoção de direitos humanos está relacionado ao estabelecimento de limites
e de regras para o exercício do poder, seja este público, seja privado, econômico, político
ou mesmo religioso (VALENTE, 2002). Por isso, compreender a dimensão histórica é
fundamental para entender os direitos humanos. Além de situá-los como demandas de
uma sociedade em determinado momento, os posiciona como conquistas dos povos
historicamente oprimidos e não como algo  cedido de forma benevolente.
CONCEPÇÕES DO DHAA AO DHANA 
Construção do Direito Humano à Alimentação Adequeada (DHAA)
 O direito à alimentação adequada é um direito humano inerente a todas as pes soas
de ter acesso regular, permanente e irrestrito, quer diretamente ou por meio de
aquisições financeiras, a alimentos seguros e saudáveis, em quantidade e qualidade
adequadas e suficientes, correspondentes às tradições culturais do seu povo e que
garanta uma vida livre do medo, digna e plena nas dimensões fí sica e mental, individual e
coletiva (ZIEGLER, 2002 apud ABRANDH, 2010 p.15).
D i r e i t o H u m a n o à A l i m e n t a ç ã o e N u t r i ç ã o A d e q u a d a s ( D H A A )  
 D i r e i t o H u m a n o À A l i m e n t a ç ã o e N u t r i ç ã o A d e q u a d a ( D H A N A )
01CURSO DE EXTENSÃO DIÁLOGOS SOBRE SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL:
DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA O FORTALECIMENTO DO SISAN NOS MUNICÍPIOS
MÓDULO 03 - TEXTO 01
 O DHAA começa pela luta contra a fome, mas não limita-se ao acesso a comida, incorpora
também a qualidade do alimento. Os seres humanos necessitam de muito mais do que atender
suas necessidades de energia ou de ter uma alimentação nutricionalmente equilibrada. Na
realidade, o DHAA não deve – e não pode – ser interpretado em um sentido estrito ou restritivo,
ou seja, que o condiciona ou o considera como “recomendações mínimas de energia ou
nutrientes”. A alimentação para o ser humano deve ser entendida como fator primordial para
manutenção do corpo e consequentemente da mente. O bem-estar interior reflete diretamente
na qualidade de vida dos seres humanos. 
 Assim, o DHAA diz respeito a todas as pessoas, de todas as sociedades, e não apenas àquelas
que não têm acesso aos alimentos. O termo “adequada” envolve diversos aspectos, como mostra
a Figura 01, e a promoção e plena realização do DHAA envolve elementos de justiça social e
econômica.
Figura 01- Representação Gráfica das Dimensões da Alimentação Adequada
FONTE:  ABRANDH 2013
02CURSO DE EXTENSÃO DIÁLOGOS SOBRE SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL:
DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA O FORTALECIMENTO DO SISAN NOS MUNICÍPIOS
MÓDULO 03 - TEXTO 01
ALIMENTAÇÃO
 ADEQUADA
REALIZAÇÃO DE
OUTROS DIREITOS
ACESSO À
INFORMAÇÃO
DIVERSIDADE
QUALIDADE
SANITÁRIA
ADEQUAÇÃO
NUTRICIONAL
LIVRE DE CONTAMINANTES,
AGROTÓXICOS E ORGANISMOS
GENETICAMENTE MODIFICADOS
ACESSO A RECURSOS
FINANCEIROS OU RECURSOS
NATURAIS, COMO TERRA E ÁGUA
RESPEITO E VALORIZAÇÃO DA
CULTURA ALIMENTAR
NACIONAL, REGIONAL E LOCAL
Disponibilidade: 
 Adequação:
Acesso: 
 As formas como cada um desses fatores são atendidos, no entanto, depende da
realidade específica de cada grupo ou povo. Por exemplo, a plena realização do DHAA
para uma comunidade indígena não é igual à dos moradores de uma cidade. As
comunidades indígenas necessitam de terra para plantar, coletar e caçar. Os moradores
de um bairro necessitam de trabalho, renda e acesso à água. As pessoas portadoras de
necessidades alimentares especiais carecem de acesso e informação sobre os alimentos
adequados para sua necessidade. Aqueles que têm recursos para comprar seus
alimentos precisam de informação adequada para fazerem escolhas saudáveis e seguras
(por exemplo, rótulos confiáveis e de fácil compreensão). Ou seja, ainda que todos esses
grupos tenham características em comum, em determinadas ocasiões requerem ações
específicas para garantir seu direito (ABRANDH, 2013).
 
A disponibilidade de alimentos pode ocorrer das seguintes formas: direta mente, a
partir de terras produtivas (agricultura, criação de animais, cultivo de frutas, hortas),
ou de outros recursos naturais como pesca, caça, coleta de alimentos; ou
indiretamente, a partir de alimentos comprados no comér cio ou obtidos através de
ações de provimento como, por exemplo, entrega de cestas básicas) 
Não é suficiente que os alimentos estejam disponíveis, eles precisam ser adequa dos
no que diz respeito à cultura, à etapa do ciclo da vida em que as pes soas se
encontram (bebê, criança, adolescente, idoso), às necessidades nutricionais ou de
saúde específicas (intolerâncias e alergias, diabetes) e aos hábitos alimentares.
A acessibilidade à uma alimentação adequada pode ser compreendida em, pelo
menos, duas dimensões: econômica e física. A acessibilidade eco nômica implica em
acesso aos recursos necessários para a obtenção de alimentos que contribuam para
uma alimentação adequada com regularidade durante todo o ano. Já a acessibilidade
física prevê que a alimentação deve ser acessível à todas e todos: lactentes, crianças,
idosos(as), deficiente físicos, doentes acamados ou em cuidados paliativos, pessoas
em situação de privação de liberdade, dentre outros. A alimentação também deve ser
acessível a pessoas que vivem em áreas de risco e/ou difícil acesso, vítimas de
conflitos ou de desastre ambientais. Esta discussão envolve  também  ambientes
alimentares, isto é, como os espaços facilitam ou dificultam uma alimentação
adequada e saudável (disponibilidade física de alimentos in natura  em um bairro de
periferia, por exem plo). Nesse contexto também importa trazer o debate acerca  dos
“desertos alimentares” que refere-se à falta de acessibilidade a ali mentos adequados
e saudáveis em um determinado espaço, bairro, território ou região.  
03CURSO DE EXTENSÃO DIÁLOGOS SOBRE SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL:
DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA O FORTALECIMENTO DO SISAN NOS MUNICÍPIOS
MÓDULO 03 - TEXTO 01
Estabilidade:
Com isso, percebe-se que não é suficiente que os alimentos adequados e sustentáveis
estejam dis poníveis, é preciso que estejam acessíveis de forma física e econômica. 
Significa dizer que tanto a disponibilidade como o acesso a alimentos ade quados
devem ser garantidos de maneira estável, regular e permanente du rante todo o ano.
Por exemplo, em situações e comunidades em que é necessário o fornecimento de
cestas básicas, elas devem ser adequadas, suficientes, regulares e permanentes a
todas as famílias, fornecidas sem interrupções até que essas famílias possam garantir
seu direito de maneira autônoma.
Direito Humano à Alimentação eNutrição Adequada (DHANA)¹
 O DHANA pode parecer, e é, um direito óbvio. Talvez esta mesma obviedade atrapalhe
sua percepção e o entendimento desse como um direito de fato, o que pode ser um
entrave para sua efetivação. Devido à sua simplicidade por vezes, ele pode ser percebido
como caridade ou favor, os quais não se exige, apenas se aceita com gratidão, diferente
de um direito que é pautado na obrigatoriedade. Essa forma de compreender e lidar com
o direito à alimentação, tão naturalizada em nossa sociedade, faz com que as pessoas
que sofrem sua violação de forma mais contundente e sistemática, especialmente em
relação à sua primeira dimensão, que é a superação da fome, sintam-se humilhadas e
debilitadas para reivindicá-lo, como se a responsabilidade por essa situação fosse do
âmbito individual e não da esfera coletiva (FIAN,2020).
CONCEITO EM DISPUTA
 No início do texto, falamos como  os direitos humanos caminham junto com as
necessidades, os valores e a organização das sociedades. Algumas vezes, as mudanças
fazem-se necessárias, não por avanços sociais, mas por retrocessos ou estreitamento das
condições essenciais para realizar certo direito, o que exige alargamento de sua
concepção. No caso do Direito Humano à Alimentação Adequada, as interpretações
iniciais precisaram ser expandidas tanto devido às novas formas de violações e
constrangimentos à sua realização quanto porque as demandas de grupos e povos antes
invisibilizados, ago ra fazem-se presentes e podem agregar perspectivas e soluções não
consideradas anteriormente, além de expandir as fronteiras do que entendemos como
dignidade, saúde e bem-estar. 
_____________
1.   Neste   curso   escolhemos   utilizar   o   conceito   de   DHANA,   para   abordar   as   dimensões   da   nutrição,   da   soberania   alime
ntar,   de   gênero,   raça   e   etnia   como   inerentes   à   realização   desse   direito.   Em   algumas   partes   do   texto,   no   entanto,   será 
  utilizada   a   nomenclatura   DHAA   para   designar   a   forma   como   o   Direito   é   apresentado   nos   documentos   legais   e   polític
os   em   questão.   E   vale   explicitar   que   o   termo   mais   usado,   inclusive   em   documentos   oficiais,   é   Direito   Humano   à   Alime
ntação   Adequada   (DHAA),   sendo   que   no   Brasil,   há   ainda   a   variação   Direito   Humano   à   Alimentação   Adequada   e   
Saudável   (DHAAS).
 
CURSO DE EXTENSÃO DIÁLOGOS SOBRE SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL:
DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA O FORTALECIMENTO DO SISAN NOS MUNICÍPIOS
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MÓDULO 03 - TEXTO 01
Primeira abordagem defende que a fome e a má nutrição podem ser resolvidas pela
liberali zação do mercado em forma de assistência alimentar, doações, fortificação e
biofortifica ção de alimentos e suplementação nutricional, desconsiderando o
desenvolvimento de sistemas alimentares locais. As saídas sugeridas geram lucros
para as indústrias alimentícia e farmacêutica. Os alimentos são reduzidos a produtos,
a alimentação adequada a privilégio e os/as titulares de direitos a consumidores. As
dimensões da dignidade humana, da cultura alimentar, da promoção da saúde e do
prazer são minimizadas ou desprezadas, assim como as consequências que este
modelo de produção e consumo gera para a saúde das pessoas e sobrevivência do
planeta. Pode-se citar como exemplo a proposta de distribuição de farinata, tida como
ração humana, pela prefeitura de São Paulo. (FIAN, 2020)
A outra abordagem acerca do direito à alimentação tem o apoio de vários
movimentos sociais, Organizações da Sociedade Civil (OSCs), acadêmicos e
acadêmicas e um pequeno subconjunto de agên cias da Organização das Nações
Unidas (ONU) (em particular, o sistema de direitos humanos) e alguns governos.
Apoia-se num paradigma que “compreende o ato de alimentar a si mesmo, a sua
família e a sua comunidade como um processo social de transformação da natureza e
dos alimentos em bem-estar humano”. Assim, o direito à alimentação deve ser
realizado, prioritariamente a partir de um sistema ali mentar justo, de maneira a
produzir saúde, dignidade e prazer, além de respeitar os hábitos alimentares e a
cultura (VALENTE, 2014).
 O direito à alimentação é alvo de disputas. Serão pontuadas brevemente duas
principais posições antagônicas, ainda que muitos entendimentos se localizem entre os
dois pólos.
 
 Sob esta perspectiva,  os direitos humanos devem se sobrepor aos interes ses
econômicos de grupos poderosos sempre que estas forças estiverem em contraposição,
afinal, eles são construções sociais resultantes de lutas milenares dos povos contra a
opressão, exploração, discriminação e abusos de poder por governos e por outros atores
econômicos, políticos e religiosos. É devido a essa disputa e constantes retrocessos que
os direitos humanos sofrem,assim também como o direito à alimentação. Em virtude
disso, o conceito vem passando por sucessivas evolu ções no sentido de aproximar-se da
dignidade humana e da atenção à nutrição nas diferentes fases dos ciclos de vida.
 A ideia central é que a nutrição esteja colada à alimentação e que a forma como
denominamos o Direito nos lembre que a alimentação deve nutrir o corpo e alimentar o
ser.  Para isso, ela deve ser feita a partir de alimentos saudáveis, diversos, produzidos de
maneira justa, sustentável, que valorize os modos de viver e as culturas alimentares de
todos os povos e que nutram também de afeto. 
CURSO DE EXTENSÃO DIÁLOGOS SOBRE SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL:
DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA O FORTALECIMENTO DO SISAN NOS MUNICÍPIOS
MÓDULO 03 - TEXTO 01
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MÓDULO 03 - TEXTO 01
CURSO DE EXTENSÃO DIÁLOGOS SOBRE SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL:
DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA O FORTALECIMENTO DO SISAN NOS MUNICÍPIOS
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Deve-se lembrar que a nutrição de mulheres e meninas é parte inseparável do DHANA,
assim como a luta dos povos tradicionais por autonomia so bre seus territórios, suas
sementes, seus modos de viver, produzir e consumir alimentos. 
 A nutrição deve ser pensada em toda a cadeia alimentar, desde as escolhas das
sementes e cultivos às formas de abastecimento e distribuição que sejam capazes de
alimentar e nutrir  todas as pessoas sem discriminação de gênero, etnia, povo ou região. 
 Para a concretização do DHANA é preciso um sistema alimentar global justo, que
priorize a so berania alimentar dos países e dos povos, formado por sistemas locais que
dêem conta de to das essas dimensões. Fato complexo, porém viável pois a
exequibilidade ou não de uma mudança depende mais dos interesses de quem tem o
poder de estruturá-la do que de qualquer outro fator (FIAN, 2020).
AABRANDH. Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos. O direito humano à alimentação e
à nutrição adequadas e o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Brasília, 2013.
FIAN. Curso básico de Direito Humanos a alimentação e nutrição adequadas. Organização pelo
Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequada. Brasília,2020.
MULTIPLICASSAN. Material de apoio utilizado na primeira turma do curso com base no caderno
metodológico para formação de multiplicadores em SAN/DHAAS, 2018.
RAIS. Caderno metodológico para formação de multiplicadores em SAN/DHAAS,2016.
VALENTE FLS. Rumo à Realização Plena do direito humano à alimentação e à nutrição adequadas
- Revista Development 57 (2), p. 155-170. 2014. Traduzido para o português em maio de 2016
por Daniela Calmon, a pedido da FIAN Brasil.
Referência Bibliográfica

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