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2 APRESENTAÇAO Esse singelo E-Book, pequeno em sua extensão, mas pretensioso em sua intenção, partiu da necessidade de se desmistificar tema de aparente complexidade em nosso ordenamento jurídico penal: a Teoria do Delito. Utilizando-se da analogia e exemplos de situações de nosso cotidiano, de maneira simples e descomplicada, busca auxiliar o leitor a refletir acerca dos elementos do delito. Embarca comigo nessa leitura, “bora” exercitar a reflexão, ferramenta poderosa e transformadora, vamos entender de vez esse assunto meio “chatinho”, mas de subida relevância. Espero que aprecies a leitura. Um abraço fraternal! Profª. Aline Bitencourt https://www.institutoexito.net.br/ https://www.instagram.com/profalinebitencourt/ 3 DESCOMPLICANDO A TEORIA GERAL DO DELITO A teoria geral do delito ou conceito analítico tripartido já consolidado pela doutrina majoritária como sendo fato típico, ilícito e culpável é um dos temas de maior dificuldade de compreensão do ordenamento jurídico penal, em que pese sua aparente singeleza. Como professora de direito penal desde 2001 percebo a dificuldade dos alunos em refletir acerca do conceito e de como esses três elementos se relacionam numa ordem lógica, fazendo com que o estudo de penal adquira novo sentido. A bem da verdade o aluno quando entra na faculdade de direito é “educado” a pensar somente em “direitez”, deixando de lado o bom e velho português. É a farsa bem encenada do ensino jurídico em que os professores fingem que ensinam e os alunos representam que aprendem, tudo isso fruto dessa indecorosa cumplicidade desses maus autores sem talento e sem vocação. Aquele que se atreve a questionar o professor é visto como desviante, posto que o roteiro dado deve ser seguido à risca. Muito comum eu questionar o aluno acerca do que seria desistência voluntária, por exemplo, e ver o semblante do aluno, como quem contempla o horizonte, fazendo um esforço enorme para puxar pela memória o conceito visto em semestre anterior ou mesmo em aula passada. Ora, esqueçam o “direitez”, pensemos em português. O que é desistência no português? Sem necessidade de socorrer-se do Aurélio, senso comum, é quando se quer algo, depois se desiste, não se quer mais. E voluntária? Da mesma forma, quando é por vontade própria. Dito isso o instituto da desistência voluntária ocorre quando o agente inicia a execução e depois desiste, não quer mais. Óbvio que se a execução ainda não foi iniciada estaríamos diante cogitação ou atos preparatórios, em tese, impuníveis, sendo indiferentes ao direito penal, https://www.institutoexito.net.br/ 4 portanto o inicio da execução é pressuposto da desistência voluntária. Da mesma forma se já se percorreu toda a execução vai se desistir do que exatamente? Isto é apenas um exemplo de como a teoria do delito pode ser de fácil compreensão se aprendermos a refletir, a pensar o pensamento, a pensar sobre o que se pensa, que é função da alma. Porque o raciocínio, função cerebral pouco nos ajudará. Sócrates (o filósofo, não o jogador), já se utilizava desse recurso da “autorreflexão” 400 anos antes de Cristo por intermédio da Maiêutica Socrática, recurso de grande valia no mundo jurídico. Dito isso vamos começar a refletir sobre o crime. Se eu quiser cometer um crime por onde começo? Da mesma forma que começo tudo na vida. Pensando. Se estou me sentindo acima do peso ou sedentária, penso em entrar numa academia e adquirir mais saúde (cogitação); após, tenho que comprar uma roupa adequada, um bom par de tênis, fazer a inscrição, dentre outros (atos preparatórios); por fim, começo a malhar (execução); e fico no aguardo do resultado desejado (consumação), que pode acontecer, ou não. A prática do crime segue essa mesma lógica, assim como todo o resto que fazemos. Primeiro pensamos em praticá-lo, após nos preparamos, depois de devidamente preparados adentramos na execução e por fim o crime consuma ou não. Ressalto o fato de que cogitação e atos preparatórios não são punidos, em tese, em virtude do princípio da lesividade que refere, simplificadamente falando, que ninguém pode ser punido por condutas que não ultrapassem sua esfera de disponibilidade e, desta forma, não lesem ou não exponham a perigo de lesão bem jurídico alheio. Porque disse em tese? Porque existem situações em que o ato preparatório de determinado crime, constitui-se em crime consumado por si só, como por exemplo, na hipótese em que o individuo fica de emboscada para matar seu desafeto com uso de arma de fogo, no entanto a arma está com https://www.institutoexito.net.br/ 5 numeração raspada. Portanto esse ato preparatório do homicídio será punível enquanto crime autônomo de porte ilegal de arma de fogo do art. 16 da lei 10.826/03. Pela tentativa do homicídio o individuo não responderá caso não tenha iniciado a execução. Se cogitação e atos preparatórios são, em tese, indiferentes penais o crime se inicia efetivamente no momento em que se adentra na execução. Quando o indivíduo tira um pé dos atos preparatórios e o coloca na execução, realizando o primeiro ato apto em colocar em perigo bem jurídico protegido, tem-se iniciada a execução. Todas essas etapas podem acontecer numa fração de segundos, como na hipótese de uma briga de trânsito, bate boca, em que um puxa uma arma e efetua um disparo contra o outro. Ainda assim o autor dos disparos cogitou, se preparou, executou e consumou ou não seu intento. Bom, então já se sabe que é a partir da execução que o direito penal se ocupa, e que a execução se inicia com a conduta que coloca em risco o bem protegido. Mas daí temos que nos questionar: é qualquer conduta que tem relevância para o direito penal? Se fossemos perguntar ao nosso bom senso o que ele responderia? Imaginemos um paciente em coma no hospital que num ato reflexo provoca lesões em um enfermeiro. Ao sair do coma responderia ele pelo crime de lesões corporais? Estas e outras questões análogas poderiam ser levantadas, e usando até mesmo o bom senso além da reflexão poderíamos chegar a resposta: NÃO. Não é qualquer conduta que tem relevância para o direito penal. Para ser relevante, considerando-se o caráter finalista do qual se reveste o direito penal, chegaríamos a conclusão de que a conduta tem que ser: consciente, voluntária e vontade dirigida a uma finalidade. https://www.institutoexito.net.br/ 6 A consciência a que me refiro é a biológica mesmo, de modo que se o individuo estiver em coma, em transe sonambúlico, hipnotizado, dormindo, e por ai vai, não haverá consciência. Não me refiro a uma consciência psicológica ou psiquiátrica. O doente mental, por exemplo, tem consciência, o que ele não possui é a capacidade de compreensão e determinação, mas consciência há, claro salvo se estiver numa das situações acima citadas, como em coma por exemplo. Quanto a voluntariedade, devemos ter cuidado para não confundirmos com a vontade. Voluntariedade é a capacidade que meu corpo possui de se movimentar voluntariamente, porque recebeu um comando do cérebro, é o que se faz por vontade própria, não importando a motivação ou os porquês, que ficam a encargo da vontade. Portanto, se alguém mais forte que eu coloca uma arma na minha mão e faz com que eu atire em outra pessoa, eu não agi, eu fui agida por outrem mediante coação física, muito embora tivesse vontade, vontade de não atirar, não havia voluntariedade. Então não confundam os conceitos, sempre que houver consciência haverá vontade, viciada ou não. Já a vontade é pressuposto da responsabilidade subjetiva. Ao contrário da objetiva em que não se discuti se o dano ocorreu em face de dolo ou culpa, bastando que o mesmo tenha ocorrido e que haja nexoentre conduta e resultado, na subjetiva temos que questionar o porquê a fim de se adequar tipicamente a conduta, sendo necessário que o indivíduo tenha praticado o fato no mínimo culposamente. Simplificadamente falando, se um indivíduo mata alguém temos que questioná-lo acerca da sua intenção, do porque matou, pelo simples fato de que da sua resposta dependerá a adequação típica. Nesse caso do homicídio, por exemplo, o mesmo pode ter sido praticado na forma dolosa, culposa, https://www.institutoexito.net.br/ 7 privilegiada, qualificada, em legítima defesa, estado de necessidade...então a conduta será “enquadrada” na norma a depender da resposta do sujeito. Bom, esclarecidas essas confusões que ocorrem eventualmente no que tange a conduta, normal que se espere, assim como de tudo que fazemos, que desta conduta advenha um resultado, até porque não existe crime sem resultado. É um equivoco afirmar que os crimes formais e de mera conduta não possuem resultado. Eles podem não produzir um resultado material, mas certamente produzem um resultado jurídico, decorrente da contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico como um todo. Ao realizar o verbo núcleo do tipo, daí já sobrevém o resultado. Não podemos esquecer também que, assim como na responsabilidade objetiva, aqui, na subjetiva, o nexo entre conduta e resultado também é pressuposto indispensável. Se o Vancleison da um tiro no Vantuirson, que vem a morrer em virtude de um raio que o fulminou, podemos com segurança dizer que não há nexo entre a conduta de Vancleison e o resultado morte de Vantuirson. Mas daí o Vancleison não vai responder por nada vocês podem estar se perguntado? Vai. Mas não vamos entrar nesse mérito porque acerca de nexo causal dá para escrever um e-book inteirinho. Bom, verificado pelo exame da prova que a conduta do indivíduo é um ato voluntário, consciente, dirigido a uma finalidade, causador de um resultado e havendo nexo entre ambos, passasse ao momento de apurar se esta conduta é típica. Uma ação ou omissão humana é típica quando se enquadra completamente em alguma norma do CP ou lei extravagante, em que esteja definido o crime ou contravenção. A tipicidade decorrência do princípio “nullum crimen sine lege” – não há crime sem lei que o defina –, contido no art. 1º do Código Penal, nada mais é do que a adequação entre a conduta do autor e a descrição da infração contida na norma penal incriminadora, qual seja, o tipo penal. https://www.institutoexito.net.br/ 8 A noção de tipicidade decorre, portanto, da perfeita correspondência entre o fato real praticado pelo agente e esse mesmo fato idealmente escrito na lei penal. Existe tipicidade quando esse fato realizado se ajusta ao modelo típico criado em abstrato pela lei, é como se fosse aquele sapato que se amolda perfeitamente ao pé, sem sobrar nem faltar. Tipo é, então, o conjunto dos elementos que compõe o fato punível tal como previsto na lei. A expressão tipicidade ou típica decorre do vocábulo “tatbestand”, criado pelo alemão Ernest Beling em 1906, que traduzido literalmente significa “estado de fato”. Percebam que para a construção de um tipo penal a norma penal, ao contrário dos 10 Mandamentos, não se limita a dizer tão somente “não furtar” ou “não roubar”, mas descreve quais as circunstâncias e outros fatos que necessitam estarem presentes para que aquela conduta esteja sujeita à lei penal. Assim quando a norma cria o tipo de estupro o art. 213 esclarece que consiste em: 1) Constranger; 2) Alguém; 3) Conjunção carnal; 4) Ato libidinoso; 5) Mediante violência; ou, 6) Grave ameaça. É desse modo que o legislador age com relação a qualquer outro tipo penal. O tipo, então é formado por um elemento objetivo: principal que é o verbo, e os secundários, que dizem respeito a circunstancias tais como, sujeitos, objeto, bem jurídico protegido, circunstâncias de tempo, lugar, modo de execução, etc.; e um elemento subjetivo que é o dolo ou a culpa. Então só e somente quando a conduta do sujeito se amoldar a todos esses elementos acima https://www.institutoexito.net.br/ 9 citados e restar provado que sua intenção era de praticar o tipo é que a conduta poderá ser considerada típica. Já foi dito que o direito penal é finalista, ou seja, deve-se questionar o conteúdo da vontade do agente. Assim como tudo que fazemos tem uma finalidade, no direito penal não é diferente. Alguns doutrinadores dizem que na culpa não há finalidade, o que eu, com todo o respeito, discordo. Na culpa pode não haver finalidade de praticar um fato típico, mas há uma finalidade anterior, indiferente para o direito penal, e em virtude da inobservância do dever de cuidado na busca dessa finalidade, acaba ocorrendo um resultado típico. Por exemplo, se eu imprimo velocidade incompatível com a intenção de chegar logo na balada, e acabo atropelando um pedestre sem que tenha desejado tal resultado ou assumido o risco disso, minha conduta será culposa e a finalidade era chegar o quanto antes na festa. Então há sim finalidade na culpa, mas não a de produzir um resultado lesivo. Adentrando na tipicidade subjetiva, relativamente ao dolo o mesmo pode ser: 1) Direto: o direto é o querer o resultado previsto no tipo penal (ex. 121, 155, 157, 129, 213, etc.); 2) Indireto ou eventual:. Eventual ou indireto é assumir o risco de produzir o resultado. 3) Genérico: no sentido da realização do tipo sem que haja uma finalidade específica, estando subentendido sempre que a norma não disser que o crime é culposo, pois aí será doloso. O dolo genérico pode ser direto ou indireto. 4) Específico, que é aquele inserido, por exceção, em alguns tipos penais fazendo referência aos fins visados, ânimo do agente, estado psíquico, é a intenção especial a que se dirige a conduta do sujeito (ex. 158, 159, 171, etc.). Claro existem outras inúmeras espécies de dolo, mas as que nos interessam nesse momento são esses. https://www.institutoexito.net.br/ 10 Os elementos do dolo são: intelectivo, que é a consciência atual da realização dos elementos objetivos do tipo, é o conhecimento da conduta, do resultado e da relação entre um e outro; e o volitivo, vontade de realizar a ação típica, é o querer exteriorizado de modo objetivo. Com relação à culpa, a mesma caracteriza-se pela conduta voluntária que em decorrência da violação de um dever de cuidado, produz um resultado involuntário, não querido ou até mesmo não previsto. É quando a vontade e a finalidade não coincidem. A culpa pode ocorrer em três modalidades, que são: imprudência, que é a atitude positiva, um agir sem a cautela, sem a atenção necessária. É a ação arriscada, perigosa; negligência, é o não fazer quando deveria ter sido feito, é a inércia, a preguiça, o desleixo, a desatenção; e a imperícia, que a falta de aptidão, de habilidade técnica na prática de uma profissão. A culpa pode ser: 1) Consciente: o autor prevê o resultado danoso como possível de ocorrer, mas espera que ele não ocorra. Não há aceitação do mesmo, pois o agente confia que ele não irá ocorrer, em decorrência de suas habilidades, experiência ou outro motivo qualquer. 2) Inconsciente: é a culpa comum, o indivíduo nem sequer prevê o resultado que seria possível prever. Ex. indivíduo desconhece uma placa de sinalização existente na estrada, vindo a causar um resultado danoso. Portanto fica bem claro que na culpa a previsibilidade objetiva é indispensável, é pressuposto da mesma, ou seja, o resultado tem que ser possível de ser previsto, porque o direito penal não pode exigir que se preveja o imprevisível. O sujeito até pode não ter previsto o resultado (culpa inconsciente), mas ele era previsível. Atualmente tem autores defendendo que https://www.institutoexito.net.br/ 11para configuração do crime culposo tem que haver a previsibilidade subjetiva também. Tema que sempre acarreta controvérsia é a diferença entre dolo eventual e culpa consciente. Tal diferença reside na posição de indiferença em que se coloca o agente perante a possibilidade de ocorrência do resultado. Se aquele resultado previsto como possível lhe é indiferente que ocorra diz-se que é dolo eventual. No entanto se o indivíduo não aceita o resultado e crê que o mesmo não irá ocorrer é culpa consciente. A culpa é o elemento normativo do tipo, ou seja, determinado crime só poderá ser punido por culpa se houver essa previsão normatizada no seu tipo correspondente. Ex.: tiro ao alvo com uma bola de vidro na mão de uma mulher; caminhoneiro descendo na “banguela” em estrada congestionada; beber até cair e depois dirigir. Em todos os exemplos acima se deve questionar se o agente, muito embora prevendo o resultado como possível, colocou-se ou não em posição de indiferença frente ao mesmo ou se acreditou que o mesmo não ocorreria em decorrência de fatores tais como a sua habilidade pessoal (tiro e caminhoneiro). Percebam que não há nada mais pessoal que o subjetivo do indivíduo, só ele mesmo sabe o que se passa na sua cabeça, quem está de fora, julgando, defendendo ou acusando, pode presumir, mas jamais saberá com certeza, portanto qualquer que seja a resposta para os exemplos acima citados elas estarão certas. Relaxem. Claro que em prova só haverá uma resposta certa, e para sabermos qual é, temos que interpretar a questão objetivamente, denotativamente, com base no que está escrito, e não no que pensamos, nesse momento o que achamos deixa de ter importância. Essa é a formula para não errarmos. Há ainda a chamada culpa concorrente ou concorrência de culpas, que é aquela em que ambos os sujeitos, tanto o ativo quanto o passivo, agem com culpa dando origem ao resultado lesivo. Importante salientar que em https://www.institutoexito.net.br/ 12 direito penal a culpa de um não justifica ou anula a do outro, portanto se um transeunte desatento atravessa uma rodovia e um motorista, que do mesmo modo, desatento, não percebe a situação e o atropela provocando-lhe lesões corporais, este motorista responderá pelas lesões, não se eximindo da culpa em virtude da falta de cuidado do pedestre. Figura híbrida em nosso direito penal o crime preterdoloso é aquele em que o resultado decorrente da ação criminosa é mais grave do que o pretendido pelo agente. Pressupõe-se o dolo anterior, para o crime menos grave, e a culpa para o resultado mais gravoso, não previsto e não pretendido. Como exemplo há o caso específico do art. 129 par. 3°, lesão corporal seguida de morte, onde há o dolo de lesão, mas a morte sobrevém em decorrência de culpa. De forma sucinta, clara e objetiva e para encerrarmos o estudo do primeiro elemento do conceito analítico tripartido de crime, temos que a conduta será típica se o agente praticar uma ação ou omissão voluntária, consciente e dirigida a um fim, que produza um resultado, é preciso que esse resultado seja decorrência direta da conduta e, por fim, que essa se amolde a todos os elementos objetivos descritos pelo tipo, e ao elemento subjetivo inerente a todos os tipos penais. Encerrado o estudo do fato típico, adentramos na ilicitude ou antijuridicidade, ambas sinônimas. Temos que ter em mente de forma bem clara que o simples fato de o agente praticar uma conduta descrita no tipo, isso, por si só, não quer dizer que ele tenha praticado um crime, pela simples razão de que nem todas as condutas que se amoldam ao tipo são contrárias ao ordenamento jurídico com um todo. Existem situações específicas, previstas em lei, em que estamos legitimados a praticar fatos típicos que não serão considerados antijurídicos, desde que preenchidos os requisitos exigidos. https://www.institutoexito.net.br/ 13 Figuram no artigo 23 do Código Penal Brasileiro as causas em que há exclusão da ilicitude, quando menciona o referido artigo que: “Art. 23 – Não há crime quando o agente pratica o fato: I- em estado de necessidade; II- em legítima defesa; III- em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.” O mesmo diploma legal se encarrega de conceituar e fornecer os requisitos necessários à incidência de cada uma delas na conduta típica, retirando-lhe o caráter de ilicitude. Cabe salientar que para a aplicação da excludente é necessária, tal como ocorre com a tipicidade das normas incriminadoras, a presença tanto dos elementos objetivos que são os requisitos que o tipo exige, quanto dos subjetivos que é o conhecimento da situação de agressão iminente ou de perigo e o animus de, por exemplo, defender-se ou de salvar-se. A primeira excludente da ilicitude, prevista no inciso I do art. 23 diz: “Art. 24 – Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se”. Depreende-se de uma leitura mais atenta do artigo que o fundamento do estado de necessidade é salvar um interesse maior, sacrificando um menor, ou seja, aquele que sofre o mal menor, não obstante não cometa qualquer ato contrário ao Direito, deve suportar um mal maior de quem o atinge, pois este se encontra em situação de necessidade e não lhe é exigível, na https://www.institutoexito.net.br/ 14 circunstância, agir de outro modo. O exemplo clássico do estado de necessidade justificante, fornecido desde os bancos acadêmicos, é o dos náufragos, que, no desespero, disputam uma tábua que irá salvar apenas um. Nesta disputa, ambos são obrigados a brigar, situação em que um acaba por desferir golpes violentos contra o outro, que, em decorrência dos mesmos, vêm a afogar-se. O que se salvou de situação provocada por agentes externos, agiu de acordo com a necessidade, não lhe sendo exigível que agisse de modo diverso, uma vez que o Direito Penal não impõe aos indivíduos que entreguem sua vida para a salvaguarda da de outrem; pelo contrário, a ampara, mesmo que disto decorra violência ou sacrifício de seus semelhantes. Note-se que o perigo pode ser decorrente de agentes da natureza, fatos humanos e até mesmo de animais, sendo que o que o diferencia da legítima defesa é que nesta há uma agressão injusta por parte de um agente provocador. Decompondo o artigo do estado de necessidade já mencionado, temos como requisitos: a) Perigo atual, que está relacionado com a inexistência de outro meio para evitá-lo, ou seja, a atualidade do perigo indica que no momento do mesmo não existe outro meio hábil à sua evitação, pois a demora na reação poderia causar um perigo maior ou mesmo um dano, uma vez que a atualidade do perigo define-se pela necessidade de proteção imediata e não pelo dano imediato. Digamos que no perigo atual o dano é iminente, não sendo correto se falar em perigo iminente no estado de necessidade. Esse perigo iminente seria o perigo de um perigo, o que possibilitaria sua evitação por intermédio de outro modo, menos lesivo. b) O perigo referido pode apresentar-se tanto para o bem jurídico próprio quanto para o alheio, mas, neste caso, só se pode atuar em estado de necessidade com o consentimento do titular do direito, ou seja, ninguém pode atuar em defesa de bem ou interesse de outrem sem que o mesmo assim o consinta, ainda que por presunção; https://www.institutoexito.net.br/ 15 c) Com relação à evitação do perigo, sempre que puder ocorrer de modo menos lesivo não existirá a necessidade e, consequentemente, o estado de necessidade. d) Fundamental também que o perigo não tenha sido causado por vontade própria do agente, pois, por óbvio, a necessidade nãose coaduna com a intencionalidade não podendo o agente provocador alegar estado de necessidade nem mesmo para terceiros, salvo se o perigo houver sido causado por culpa uma vez que o artigo não faz referência a culpa, mas tão somente ao dolo que se resume na vontade. Então quando o art. 24 fala “...que não provocou por sua vontade...” está dizendo “que não provocou dolosamente” ou ainda “que provocou culposamente”, sendo repetitiva, porque se o indivíduo provocou o perigo por vontade própria, dolosamente, não poderá alegar a excludente; e, por derradeiro, e) O estado de necessidade não ampara quem, por dever legal, possui obrigação de afrontar o perigo, conforme preceitua o parágrafo 1º do artigo. Prestem atenção porque o dispositivo fala em perigo. Portanto se houver a certeza ou grande probabilidade de dano o dever legal cai por terra. Afinal o direito penal não pode exigir de ninguém, nem mesmo de que tem esse dever, atitudes hercúleas como, por exemplo, abrir mão de sua vida em detrimento da de outrem. Portanto, presentes todos os requisitos acima elencados, a lei penal autoriza que o indivíduo lesione bem ou interesse, para sua própria salvaguarda ou de outrem, sem que se configure tal fato típico num ilícito penal, ou seja, sem que seja antijurídico. Com relação à legítima defesa, o mecanismo utilizado pelo Código Penal é o mesmo, fornece o conceito e os requisitos necessários para que determinada conduta seja amparada por essa excludente, quando refere no art. 25: “Art.25 – Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, https://www.institutoexito.net.br/ 16 repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”. O fundamento do instituto da legítima defesa não se trata apenas de uma resposta proporcional a uma agressão injusta, mas, também, da necessidade de defesa do ordenamento jurídico como um todo, em que este outorga direitos ao cidadão, que, via de regra, não são concedidos nem mesmo ao Estado, como o de matar, limitando-o, no entanto, a situações excepcionais, em que somente o próprio indivíduo pode defender seus bens mais valiosos. Para se estar sob o amparo da legítima defesa devem estar presentes os seguintes requisitos: a) Quando o artigo menciona agressão, refere-se à conduta humana dolosa ou culposa, uma vez que existem condutas culposas que se traduzem em agressão mesmo quando cometidas por imprudência ou negligência. A agressão também pode ocorrer sob forma de ação ou omissão, já que o artigo não faz referência a isso dando ensejo a esse entendimento. Temos que cuidar para não confundir agressão com provocação; há neste caso, variação de intensidade que deve ser adequadamente medida; b) Agressão injusta é aquela que não está sob o amparo de uma norma jurídica, ou seja, não está autorizada pelo ordenamento jurídico, pois, uma vez sendo justa a agressão, não há que se falar em legítima defesa. O indivíduo que está sendo agredido por um policial dentro dos limites do cumprimento do seu dever não pode alegar legitima defesa, pelo simples fato de que essa agressão é justa. No entanto se houver excesso por parte do agente a agressão passa ser injusta dando ensejo a alegação da excludente; c) Uma vez constatada a agressão injusta deve-se verificar se a mesma é atual, ou seja, se está ocorrendo, ou iminente, se está prestes a ocorrer. De agressões passadas ou futuras não cabe legitima defesa; d) Para que se configure legítima defesa, a repulsa deve ser imediata à agressão, uma vez que a demora descaracteriza este instituto, pois, se https://www.institutoexito.net.br/ 17 a mesma deixou de existir não há do que defender-se. e) O meio utilizado para a defesa dever ser o necessário, o que não significa que seja o único, mas sim aquele sem o qual o individuo não conseguiria defender-se de maneira eficaz. Ainda, esse meio deve ser utilizado com moderação, ou seja, cessada a agressão, cessa a reação. Claro que não podemos engessar esse requisito especificamente falando, até mesmo porque no momento da agressão, com a adrenalina “a milhão” não tem como se medir com a precisão de um transferidor a proporção do revide. Portanto, em tese, o objetivo da legítima defesa é sempre prevenir ou obstar a agressão, de modo que, cessada esta, cessa também o fundamento da defesa, sob pena de o dano causado ser maior do que o sofrido, desnecessário e excessivo. Com relação as duas ultimas causas legais de exclusão previstas no art. 23, III, muito embora apenas mencionado pelo Código Penal, que não faz referência aos seus requisitos, como ocorre nos dois institutos acima estudados, a doutrina trata de se encarregar do estrito cumprimento de dever legal e do exercício regular de direito como causas justificantes da antijuridicidade. Essas duas causas de justificação fundamentam-se no princípio de que quem age por deliberação ou ditame legal não comete crime. Há no estrito cumprimento do dever legal uma obrigação superior ao direito infringido pelo delito e, no exercício regular de direito, o mal causado pelo agente não lhe é imputado se o indivíduo o tiver merecido desde que a lei reconheça tal direito. Com relação ao estrito cumprimento de dever legal, o próprio nome sugere seus requisitos, que são: a) estrito cumprimento, ou seja, somente os atos rigorosamente imprescindíveis justificam o comportamento permitido; e, b) de dever legal, decorrente de lei e não de natureza social, moral ou religiosa, isto é, a norma da qual emana o dever deve ser de natureza jurídica. Portanto, não constitui crime a ação do carrasco que executa a pena de morte ou do carcereiro que aprisiona um criminoso. https://www.institutoexito.net.br/ 18 Quanto ao exercício regular de direito, importante se ter em mente que um exercício de direito não pode ser ao mesmo tempo regular e proibido pelo direito. Diz-se que regular é aquele exercício que se mantém dentro dos limites estabelecidos pelos fins do direito, quer dizer, a norma orienta como o agente deve agir em determinadas situações, que muito embora sejam considerados legais, mas que podem perder esse caráter se extrapolados os seus limites. Como exemplos, as intervenções médicas e cirúrgicas e a violência desportiva. Nessa situação de violência desportiva como em todas as outras causas de justificação se o indivíduo se afastar das regras que disciplinam o esporte em questão, responderá pelo resultado lesivo que produzir, dolosa ou culposamente, como preceitua o artigo 23, parágrafo único. Ou seja, o limite do direito termina onde começa o abuso, portanto em qualquer uma das excludentes mencionadas se o agente se exceder nos seus limites responderá por esse excesso na forma dolosa ou culposa, a depender da análise do caso concreto. Encerrado o estudo da ilicitude ou antijuridicidade fica claro que nem todo fato típico é contrário ao ordenamento jurídico como um todo, justamente porque existem situações em que atuamos amparados por ele, desde que preenchidos os requisitos e dentro dos limites. Portanto, para certificar-se da existência efetiva de um crime, não basta que determinada conduta produza um resultado e seja considerada típica, devendo ser, também, antijurídica, pois nem toda conduta tipificada pela norma é ilícita, uma vez que esta conduta pode estar sob o amparo de uma excludente. Mas mesmo na hipótese de a conduta ser típica e ilícita, ou seja, não estar amparada por nenhuma causa de justificação, ainda assim não podemos dizer que é crime, porque nem toda conduta típica e ilícita é culpável, ou seja, é reprovável. Então como terceiro e ultimo elemento do conceito analítico tripartido de crime temos a culpabilidade, que nada mais é do que um juízo de reprovabilidade que se faz relativamente a quem é maior e capaz, tinha consciência da ilicitude de seus atos, sendo exigível quetivesse se comportado https://www.institutoexito.net.br/ 19 de conformidade com o direito. Culpabilidade, então, para a Teoria Normativa Pura por nós adotada, possui como elementos imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa. Mais uma vez apelando ao bom senso, não podemos reprovar a conduta de um doente mental em grau profundo que pratica fato típico e ilícito, bem como daquele que desconhece a proibição de sua conduta, ou ainda daquele que sofre coação mediante ameaça à vida de um ente querido. Em todas essas hipóteses os fatos praticados são típicos e ilícitos, mas não são reprováveis. Claro, tudo isso na teoria, porque na prática tudo depende. Bom adentrando brevemente no estudo dos elementos da culpabilidade temos como primeiro, e condição sem a qual não há culpabilidade, a imputabilidade, que nada mais é do que o conjunto de condições pessoais que dá ao agente a capacidade para lhe ser imputado, juridicamente, a prática de um determinado fato punível. Imputabilidade deriva do latim do verbo Imputare, que significa atribuir a responsabilidade de algo a alguém. Note-se que o CP não nos diz quem são os imputáveis, ao contrário, no art. 26 traz as hipóteses de inimputabilidade, que são a doença mental, o desenvolvimento mental incompleto e o desenvolvimento mental retardado. Portanto serão imputáveis todos aqueles que não se enquadrarem nestas três hipóteses. Outro aspecto importante acerca da inimputabilidade é que o legislador exigiu que houvesse um nexo entre a doença mental a incapacidade de compreensão e determinação e o crime praticado pelo indivíduo, adotando, portanto, o critério bio-psicológico de aferição da imputabilidade. Com exceção dos menores de 18 anos, no art. 27, em que a presunção é expressa. É o que se verificada da leitura do art. 26 quando refere: https://www.institutoexito.net.br/ 20 Art. 26 É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (grifo nosso). O parágrafo único do referido artigo faz alusão a causa de diminuição de pena na hipótese da semi-imputabilidade, em que a capacidade é reduzida, mas não totalmente suprimida. A questão é sabermos se o individuo era ao tempo da ação ou omissão totalmente incapaz ou relativamente incapaz. Para tanto se faz necessário a instauração de Incidente de Insanidade Mental do art. 149 do CPP, claro, a critério do juiz, se entender necessário. Um laudo de responsabilidade penal é que determinará a imputabilidade, semi-imputabilidade ou inimputabilidade do agente. De posse desse laudo o juiz tomará sua decisão, isto porque não é obrigado a ficar adstrito ao laudo podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo no todo ou em parte, art. 182 do CPP. Em linhas gerais se o juiz aceita a conclusão do laudo que atesta a imputabilidade e não for o caso de absolvição por outra causa, o agente será condenado a uma das penas previstas para o crime. Se a conclusão do laudo for pela inimputabilidade, em concordando o juiz, e não sendo hipótese de absolvição própria, o juiz absolverá impropriamente e aplicará medida de segurança consistente em internação para crimes punidos com reclusão, ou tratamento ambulatorial se o crime for punível com detenção. Em sendo caso de semi-imputabilidade a lógica é a mesma, concordando o juiz com essa conclusão e não sendo caso de absolvição, deverá condenar e aplicar a redutora do parágrafo único do art. 26, podendo haver a substituição dessa pena reduzida por medida de segurança se entender necessário, conforme art. 98 do CP. Sem entrar no mérito das causas de inimputabilidade, estaticamente falando as doenças mentais que a acarretam são: as psicoses, que englobam a esquizofrenia, psicose epiléptica, psicose senil, puerperal, etc., o https://www.institutoexito.net.br/ 21 alcoolismo crônico e a toxicomania grave. Os silvícolas não aculturados e os surdos-mudos de nascença são considerados portadores de desenvolvimento mental incompleto, também inimputáveis. Com relação a surdo-mudez, a condição congênita da deficiência, por si só, não é suficiente para exclusão da responsabilidade penal, sendo necessário que se demonstre “se” e como as consequências da deficiência podem afetar a capacidade de entendimento e volição do indivíduo. Com relação aos silvícolas, atualmente a questão tem-se tornado mais delicada, uma vez que podem estar adaptados socialmente em razão do desenvolvimento a passos largos da sociedade em que vivemos, devendo ser analisado no caso concreto, assim como nas demais hipóteses. No desenvolvimento mental retardado encontram-se os oligofrênicos, aqueles com uma insuficiência congênita ou adquirida do desenvolvimento da inteligência, responsável pela produção de um atraso, associados a alterações de conduta e adaptativas1. Nestes casos o nível de gravidade do retardo mental deve ser medido para fins de verificação de responsabilidade penal, uma vez que há quatro níveis de deficiência a serem levados em consideração: retardo mental leve, moderado, severo e profundo. Resumidamente então, inimputável é aquele que ao tempo do crime era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato e/ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, em virtude de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, constatado mediante laudo de responsabilidade penal, se o juiz julgar necessário. Mas não basta a imputabilidade para já se atribuir responsabilidade ao agente, é necessário que, além de ser imputável, tenha também consciência da ilicitude, porque pode acontecer de o individuo ter plena a sua capacidade de entendimento e de determinação, e, no entanto, não ter consciência de que sua conduta é contrária ao ordenamento jurídico, como 1 FORNEIRO, Jose Cabrera e ROCAÑIN, Jose Carlos Fuertes. La enfermedad mental ante la ley – manual de psiquiatría forense. Madrid: Editorial Libro del Año, 1994, p. 251. https://www.institutoexito.net.br/ 22 ocorre no erro de proibição. A consciência da ilicitude, segundo elemento da culpabilidade, é aquela que se adquire ao longo da existência. É aquela consciência inerente a todos os cidadãos, adquirida desde o nascimento naturalmente, pela convivência em sociedade e pela transmissão da cultura, isto é, não se furta não porque se tenha conhecimento de que a norma proíbe, mas sim porque, culturalmente, instituiu-se que furtar é uma afronta aos princípios morais do homem médio. A ausência dessa consciência dá ensejo ao erro de proibição ou erro sobre o estar proibido da conduta. O agente pratica fato típico, conhecendo todos os elementos do tipo; ilícito, porquanto não está amparado por nenhuma causa de justificação; é imputável, pois possui capacidade de entendimento acerca, bem como de determinação; no entanto, erra acerca da compatibilidade de sua conduta com o ordenamento jurídico, sendo portanto inculpável, e se não há culpabilidade não há crime. Mas em tendo o individuo consciência da ilicitude ainda assim não podemos dizer que já é crime, uma vez que temos que analisar se era exigível do mesmo que tivesse se comportado de conformidade ao direito, ou seja, se era exigível comportamento diverso. Imaginem a situação do pai que se vê obrigado a furtar porque se não o fizer seu filho, que está nas mãos de chantagistas assassinos, morrerá. Este pai pratica então fato típico, ilícito, tem capacidade de compreensão e determinação dos seus atos, ou seja é imputável, bem como consciência de que sua conduta é ilícita, no entanto, como exigir do mesmo que se comportassede acordo com o direito não furtando? Se assim o fizesse seu filho morreria. Exigibilidade de conduta diversa é, portanto, o último elemento da culpabilidade a ser analisado antes de, finalmente, podermos dizer “é crime”. https://www.institutoexito.net.br/ 23 O legislador elencou apenas duas hipóteses de exclusão da culpabilidade em virtude da inexigibilidade de conduta diversa no art. 22 do CP, que são a coação moral irresistível e a obediência hierárquica, mas nada obsta que se reconheça outras causas, supralegais, como, por exemplo, o estado de necessidade exculpante, claro, a critério do julgador. Na coação moral irresistível temos como exemplo o do pai e seu filho, acima mencionado. Existe uma relação, no mínimo, triangular entre coator (autor da coação), coagido (quem sofre a coação) e vítima (titular do bem jurídico lesado pelo coagido), o que não significa que não possa haver um quanto figurante, que seria a vítima sobre o qual recairia a ameaça do mal, como no exemplo citado. Na verdade o que temos na coação moral nada mais é do que uma hipótese de autoria mediata, em que o agente se utilizada de um inculpável para prática do fato, portanto o crime praticado pelo coagido terá somente um autor, o coator. Se a coação for irresistível. Se resistível ambos respondem em concurso de pessoas. O problema reside em sabermos quando a coação é irresistível. Em linhas gerais, porque evidentemente deve-se analisar, na prática, caso a caso, será irresistível a ameaça da prática de mal injusto e grave, levando-se em consideração o critério de uma pessoa de mediano discernimento, bem como a possibilidade de cumprimento imediato do mal, seja por seu próprio intermédio ou de terceiro. Sem alguém diz “faça isso senão farei chover canivetes em cima de ti”, evidentemente não será considerada coação irresistível, pela absoluta incapacidade de se cumprir com tal mal, que não se reveste de seriedade. Outro fator que deve ser levado em consideração é a ponderação entre o ato que se exige que o coagido pratique e o mal que se prometeu cumprir. Parece razoável que não se reconheça a coação irresistível a ameaça de praticar lesões corporais para convencer o coagido a matar alguém, pela simples https://www.institutoexito.net.br/ 24 razão que não se concebe a integridade física tenha mais valor que a vida, bem maior. Na obediência hierárquica, última hipótese legal de exclusão da culpabilidade em virtude da inexigibilidade de conduta diversa, temos uma relação de direito público administrativo, em que o subordinado cumpre ordem ilegal, mas com aparência de legalidade, de superior hierárquico. Pelo crime praticado pelo subordinado no cumprimento dessa ordem, somente responderá o superior hierárquico na condição de autor mediato, a exemplo do que ocorre com a coação irresistível. Se manifestamente ilegal a ordem obviamente haverá um concurso de pessoas entre superior e subordinado respondendo ambos pelo fato praticado, o superior na condição de autor intelectual, o subordinado como autor direto, cada qual nos limites de sua culpabilidade e com suas respectivas agravantes e atenuantes. Em linhas gerais e de forma bem descomplicada, somente haverá crime se alguém, maior e capaz, com conhecimento da ilicitude do fato, e podendo ter agido de conformidade com o direito pratica um fato típico e ilícito. Portanto, se a professora Aline Bitencourt, entra numa joalheria e subtrai um relógio caríssimo, sem que tenha sido obrigada a tanto, pratica crime de furto, porque a Aline é maior, capaz, possui conhecimento da ilicitude, aliás conhecimento jurídico, e era exigível que se comportasse de acordo com o direito, uma vez que não estava sendo coagida a tanto, tampouco cumprindo ordem, com aparência de legalidade, de superior hierárquico. Isso é crime https://www.institutoexito.net.br/ 25 ESQUEMAS TEORIA DO DELITO https://www.institutoexito.net.br/ 26 EXCULPANTES, EXIMENTES, DIRIMENTES São assim chamadas as causas de exclusão da culpabilidade. Podem ser resumidas pelo gráfico abaixo: https://www.institutoexito.net.br/ 27 Site: https://www.institutoexito.net.br/ Redes sociais: https://www.facebook.com/inst.exito/ https://www.facebook.com/prof.alinebitencourt/ https://www.instagram.com/institutoexitors/ Contato: profaline@institutoexito.net.br ® 2018 Instituto Êxito. Todos os direitos reservados. https://www.institutoexito.net.br/ https://www.institutoexito.net.br/ https://www.facebook.com/inst.exito/ https://www.facebook.com/prof.alinebitencourt/ https://www.instagram.com/institutoexitors/ mailto:profaline@institutoexito.net.br?subject=Contato%20via%20e-Book https://www.institutoexito.net.br/ https://www.facebook.com/inst.exito/ https://www.instagram.com/institutoexitors/
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