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Romanos (N Comentario)

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ROMANOS 
 VOLTAR 
 Introdução 
 Plano do livro 
 Capítulo 1 Capítulo 5 Capítulo 9 Capítulo 13 
 Capítulo 2 Capítulo 6 Capítulo 10 Capítulo 14 
 Capítulo 3 Capítulo 7 Capítulo 11 Capítulo 15 
 Capítulo 4 Capítulo 8 Capítulo 12 Capítulo 16 
 
INTRODUÇÃO 
 
I. A IGREJA CRISTÃ EM ROMA 
 
a) Sua origem 
 Paulo declara expressamente que não foi o fundador da 
comunidade de santos da cidade de Roma (1.10-15; 15.20-22). Temos aí 
uma exceção à sua regra de não edificar sobre fundamento alheio (2Co 
10.16). Reconhece como suas as Igrejas estabelecidas por seus 
cooperadores. Por quem, como e quando a Igreja de Roma veio a existir 
é um dos problemas da história da Igreja primitiva. Não é aceitável a 
tradição de ter sido Pedro o seu fundador, contudo isso não exclui o fato 
de ter estado esse eminente apóstolo, por certo, uma ou outra vez em 
Roma, e ter aí sofrido o martírio. Todavia, quando Paulo escreveu esta 
carta, é evidente que Pedro lá não se achava. Estivesse em Roma esse 
suposto chefe da Igreja, e certamente Paulo teria mencionado o fato, ou, 
com efeito, jamais teria endereçado uma epístola àquela comunidade. 
Crê-se que a igreja de Roma se originou do testemunho e dos trabalhos 
dos cristãos cidadãos do Império, que viajavam constantemente para a 
metrópole, e dali para outras partes. Não é improvável que a obra de 
evangelização tivesse sido começada pelos “forasteiros romanos, tanto 
judeus como prosélitos” (At 2.10). Essas testemunhas do Pentecostes 
teriam sido ajudadas posteriormente por cristãos de Antioquia da Síria, 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 2 
Éfeso e Corinto, e assim teve incremento a comunidade. Ao tempo em 
que Paulo escreveu esta carta, a igreja cristã ali já devia ser 
razoavelmente grande. 
 
b) Suas características 
 A igreja de Roma evidentemente compunha-se tanto de judeus, 
como de gentios. Paulo não se dirige a nenhum dignitário eclesiástico, 
distinto dos outros, ou a quaisquer pessoas de reconhecida autoridade, 
donde se conclui que ali não havia uma organização central. Crê-se que a 
igreja se compunha de, pelo menos, quatro diferentes congregações, a 
saber, a da casa de Áqüila e Priscila, no Aventino; a do Palácio Imperial; 
a da casa de Hermes; e a da casa de Filólogo (ver 16.3-15). 
 Se os judeus cristãos palestinenses fundaram aquela comunidade, 
devem ter evangelizado primeiro seus patrícios, dos quais havia uma 
colônia em Roma, com muitas sinagogas. O apóstolo, através de toda 
esta epístola, dá a entender que judeus iriam lê-la, dirigindo-se-lhes em 
particular e fazendo muitas alusões ao Velho Testamento (há cerca de 
sessenta citações diretas) e à história dos filhos de Israel. 
 Por outro lado, Paulo, por certo, tinha em mente que gentios iriam 
também ler sua epístola, os quais constituíam a maior parte daquela 
comunidade cristã. É a eles que se dirige no começo da carta (1.1-15). 
Cf. também 15.14-16 e 11.13, onde encontramos a declaração 
inequívoca – “Dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que 
eu sou apóstolo dos gentios...”. Também não deixa de ser significativo 
que a maior parte dos nomes citados no cap. 16 é de origem grega ou 
romana. Vê-se, pois, que a igreja cristã de Roma compunha-se de judeus 
e gentios, sendo estes mais numerosos, e, possivelmente, em grande 
parte, aceitaram o Cristianismo por via de uma prévia conversão ao 
Judaísmo. Isso justifica as citações que o apóstolo faz do Velho 
Testamento e a referência ao problema da raça judaica. 
 
 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 3 
II. LOCAL E DATA DA EPÍSTOLA 
 Não há dúvida quanto à origem geográfica desta epístola. Paulo, 
em sua terceira viagem missionária, esperou em Corinto os delegados 
das igrejas gentílicas, os quais levavam as ofertas que haviam sido 
coletadas para os judeus cristãos pobres de Jerusalém (ver At 20.2-3). 
Sobre essa coleta, lemos em 1Co 16.1-4 e 2Co 8, e, em At 24.17, sobre a 
última visita do apóstolo a Jerusalém, depois que todos os delegados 
chegaram a Corinto. Alguns dos nomes citados no último capítulo desta 
epístola, tais como Febe, a diaconisa de Cencréia, porto de Corinto, 
“Gaio, meu hospedeiro” (cf. 1Co 1.14); «Timóteo, meu cooperador» (cf. 
2Co 1.1), “Erasto, tesoureiro da cidade” (cf.: 2Tm 4.20), estão 
associados muito claramente a Corinto. Uma epístola como esta aos 
Romanos, escrita cuidadosa e ponderadamente, só podia ser redigida 
com calma, quando Paulo pôde fixar residência, durante algum tempo, 
num lugar. Ele demorou três meses em Corinto, segundo informa o 
historiador Lucas (At 20.3), tempo este suficiente para a redação da 
epístola. 
 Temos uma indicação da época em que foi escrita no cap. 15, onde 
o apóstolo revela que está prestes a viajar à Palestina, levando “a coleta 
para os pobres”, quando então espera estar desimpedido para visitar 
Roma e, depois, a Espanha. Isto se refere ao fim da terceira viagem 
missionária e à última visita a Jerusalém. Foi às vésperas de sua partida 
para esta última cidade que ele terminou esta carta e a endereçou a 
Roma. Relativamente à cronologia exata da vida e obra de Paulo, 
nenhuma autoridade no assunto pode ser dogmática, mas o tempo da 
última visita a Jerusalém é colocado entre os anos 56 e 59 A. D., não 
sendo possíveis outras datas. 
 
III. A OCASIÃO DA EPÍSTOLA 
 Por que Paulo teria escrito à igreja de Roma, visto como nem ele 
nem qualquer dos seus companheiros de trabalho a havia fundado, nem 
ele a visitara antes? A resposta a esta pergunta envolve a questão da 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 4 
forma da epístola. É ela um tratado teológico, ou simplesmente uma 
carta ocasionada por circunstâncias da carreira de Paulo? Pode ser, de 
algum modo, uma e outra coisa, mas o ponto é se o apóstolo quis, por 
iniciativa própria, expor o evangelho que pregava, ou se tomou da pena 
para escrever uma carta ditada por problemas iminentes. 
Há quem pense que Paulo sentia estarem contados seus dias, pelo 
que desejava deixar à posteridade uma declaração definitiva daquilo que 
pregava. Admite-se que a doutrina do apóstolo, em seus dias, foi mal 
compreendida, sendo atacada, nunca deixando de ter críticos 
(especialmente nas fileiras do Judaísmo), não havendo sido jamais 
apresentada de uma maneira sistemática. Sugere-se, portanto, que 
Romanos é o documento do testamento final do grande apóstolo dos 
gentios. Além disso, argumenta-se que a Igreja de Roma era a 
depositária que convinha deste documento oficial, autorizado. A forma 
lógica e teológica da epístola, que é a mais sistemática, mais raciocinada 
e mais doutrinária de quantas cartas Paulo escreveu, não oferece base 
para a teoria formal. Mas que Romanos é um tratado de teologia, é dizer 
mais do que os fatos demandam. Notem-se os seguintes argumentos 
contrários a esta hipótese de ser um elaborado manifesto de teologia 
paulina. 
 Há várias indicações na epístola de que Paulo se dirige a uma 
comunidade cristã de então, levado por circunstâncias que deram 
realidade a esta carta. 
 Não se justifica mesmo a idéia de que o apóstolo sentia 
“escaparem-se as areias do tempo” e estar sua carreira prestes a terminar, 
de modo que fosse necessário deixar seu sistema de teologia à 
posteridade. Pelo contrário, quando ele escreveu, seus olhos fitavam o 
futuro de novo ensaio missionário. 
 Será que, em qualquer caso, Romanos apresenta o ensino 
completo do apóstolo? Não há, nas outras epístolas que escreveu, mais 
de sua teologia, a que não dera ocasião imediata aquilo que deu lugar a 
Romanos? 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 5 
 O propósito que Paulo teve em escrever está claramente expresso 
na carta, e ele não teve razão de ocultar quaisquer veleidades teológicas. 
Escreveu para dar a entender sua real intenção de visitar os cristãos de 
Roma (ver 1.10-13),de modo que repartisse com eles, como apóstolo de 
Jesus Cristo, “algum dom espiritual” (cf. 15.29). 
Como o cap. 16 revela, aproveita-se o mais possível de suas 
relações de amizade. Declara-lhes também que sua ida a Roma faz parte 
de um plano mais vasto (ver 15.15-24). Tanto quanto lhe foi possível, 
completou a evangelização dos gentios na direção de leste; agora quer 
empreender nova aventura missionária no oeste. Escreve-lhes para 
conseguir a cooperação deles nesse plano, uma vez que Roma é um 
verdadeiro centro estratégico e sua comunidade cristã é um grupo 
influente naquele sentido. Toda a parte doutrinária da epístola foi escrita 
com este mesmo propósito, a fim de que a Igreja ali pudesse alcançar a 
grandeza da graça divina e a amplitude da misericórdia de Deus, tão 
admirável e tão envolvente, que a evangelização, pela parte que lhe 
tocava (e a eles também), era absolutamente imperiosa. 
 
IV. O PROBLEMA TEXTUAL 
 A questão agora é se esta epístola é um todo completo, composta 
em sua inteireza e num mesmo tempo pelo apóstolo, ou se outro autor 
colaborou com alguma parte, em data anterior ou posterior. O problema 
surge de quatro lados: 
 Uma forma abreviada de Romanos esteve em circulação durante o 
segundo e o terceiro séculos. Existe evidência textual de que há 
manuscritos que terminam no cap. 14. 
 A epístola, como a possuímos hoje, termina em vários lugares: «E 
o Deus de paz seja com todos vós. Amém» (15.33). “A graça de nosso 
Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém” (16.24). “Ao Deus 
único e sábio seja dada glória, por meio, de Jesus Cristo, pelos séculos 
dos séculos. Amém” (16.27). 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 6 
 No texto breve, revisto, a doxologia que nas versões portuguesas 
aparece em 16.25-27 vem no final do cap. 14. Alguns manuscritos o 
inserem tanto no fim do cap. 14 como no final do 16. Intrinsecamente 
também sua genuinidade tem sido posta em dúvida por alguns, como não 
sendo do estilo costumeiro de Paulo. 
 As saudações pessoais do cap. 16, segundo se alega, não se 
apropriam às circunstâncias, visto como Paulo, em comparação, era um 
estranho à igreja de Roma. Apropriam-se antes à igreja de Éfeso. 
 Apesar destas objeções, a integridade da epístola ainda se mantém. 
A solução do problema textual encontra-se provavelmente na crença de 
que o herege Marcion (que floresceu, em Roma, de 154 a 166 A. D.) 
deliberadamente cortou os dois últimos capítulos, porque o 15 atribuía ao 
Judaísmo o papel de preparação para a propaganda do evangelho. Veja-
se, por exemplo, o verso 4: “Pois tudo quanto outrora foi escrito, para o 
nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação 
das Escrituras, tenhamos esperança”. 
Demais disto, o cap. 15 traz pelo menos cinco citações do Velho 
Testamento, enquanto o cap. 16 era de nenhuma importância para o 
ponto de vista de Marcion, não lhe sendo contrário nem a favor. A 
versão maior, como a possuímos, é aceita como sendo a original, visto 
como a abreviada, que termina no cap. 14, manifesta tendência contrária 
ao Velho Testamento. 
Quanto ao cap. 16, é até certo ponto apropriada a menção daquelas 
pessoas, se se considera que o propósito de Paulo era entrar em contacto 
com o maior número delas, convindo Roma como lugar de residência 
aos amigos de Paulo tanto quanto Éfeso, mesmo à parte da hipótese de 
ser esta última o local de origem de muitas das epístolas paulinas. O 
ponto de vista por nós aceito é que em Romanos temos uma carta 
completa, escrita de uma vez pelo apóstolo em Corinto, transmitida até 
nós hoje em toda a sua integridade. Todas as teorias de fragmentação 
textual caem por terra em face da unidade da mensagem. 
 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 7 
PLANO DO LIVRO 
 
I. PRÓLOGO -- 1.1-17 
 a) A dedicatória (1.1-7) 
 b) Ação de graças e súplica (1.8-12) 
 c) Explicação pessoal (1.13-17) 
 
II. PRINCÍPIOS DO EVANGELHO -- 1.18-5.21 
 a) A “justiça” dos gentios (1.18-32) 
 b) A “justiça” dos judeus (2.1-3.20) 
 c) A justiça divina (3.21-31) 
 d) A justiça abraâmica (4.1-25) 
 e) A justiça de quem crê (5.1-21) 
 
III. PROBLEMAS DE ÉTICA LEVANTADOS PELO 
EVANGELHO - 6.1-23 
 a) A acusação de licenciosidade (6.1-14) 
 b) A acusação de revolta contra a lei (6.15-23) 
 
IV. O CRISTÃO E A LEI -- 7.1-8.39 
 a) A lei só é válida enquanto vivemos (7.1-6) 
 b) Lei e pecado não são sinônimos (7.7-25) 
 c) A lei é dominada pela graça (8.1-39) 
 
V. O PROBLEMA DOS DIREITOS E PRIVILÉGIOS DOS 
JUDEUS - 9.1-11.36 
 a) A absoluta soberania de Deus (9.1-29) 
 b) A responsabilidade judaica na situação histórica (9.30-10.21) 
 c) O propósito misericordioso de Deus (11.1-36) 
 
VI. O CRISTIANISMO NA PRÁTICA -- 12.1-15.13 
 a) Introdução (12.1-2) 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 8 
 b) Ética pessoal (12.3-21) 
 c) Moral política (13.1-7) 
 d) Ética pessoal (13.8-14) 
 e) Os fortes e os fracos (14.1-15.13) 
 
VII. EPÍLOGO -- 15.14-16.27 
 a) Paulo explica por que escreve (15.14-21) 
 b) Planos de futuras viagens (15.22-23) 
 c) Saudações a amigos em Roma (16.1-16) 
 d) Admoestação final (16.17-20) 
 e) Saudações de irmãos coríntios (16.21-23) 
 f) Doxologia final (16.25-27) 
 
COMENTÁRIO 
 
Romanos 1 
I. PRÓLOGO - 1.1-17 
a) A dedicatória (1.1-7) 
 
 A saudação abreviadamente é – “Paulo a todos os chamados em 
Roma”. A forma é semelhante à adotada em todas as suas cartas, 
porquanto era este o estilo epistolar ordinariamente usado no primeiro 
século. Temos no grego muitos exemplos disso, todos seguindo o mesmo 
modelo, primeiro o nome do escritor, depois o do leitor acompanhado da 
saudação. Esta fórmula varia na literatura paulina de acordo com as 
circunstâncias. Aqui, visto dirigir-se a uma igreja que ele não fundou 
nem até ali visitou, apresenta suas credenciais. 
É servo de Jesus Cristo (1; lit. “escravo”), pessoa cuja vida é de 
invariável lealdade e inquestionável obediência, escravo, propriedade de 
Jesus Cristo. O apóstolo pertencia à classe cujas orelhas foram furadas e 
cuja liberdade estava em ser cativo. Entre as várias palavras gregas do 
Novo Testamento, que se traduzem por “servo”, este vocábulo doulos é 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 9 
o mais forte e o mais freqüente. É interessante lembrar que a categoria 
do escravo dependia do seu senhor. 
Chamado para ser apóstolo (1); lit. “enviado”, “mensageiro”, 
assim traduzido em 2Co 8.23; Fp 2.25. É escolha divina, chamamento 
imperioso para uma função, a que não se pode desobedecer. Na biografia 
bíblica, este chamado segue normalmente ao apelo para arrependimento 
e à entrega pessoal pela fé, bem como à convocação para seguir o Senhor 
no modo de vida. A chamada especial aqui é para o apostolado. Paulo 
invariavelmente afirmava que fora chamado diretamente para este 
elevado ofício (cf. “não da parte de homens, nem por intermédio de 
homem algum”, Gl 1.1). Essa dignidade normalmente provinha por 
mediação da Igreja viva. O título pertenceu primeiramente aos Doze, 
cuja honra procedia de haverem estado com Jesus nos dias de Sua carne. 
Mais tarde foi dado a outros líderes e pregadores da igreja (cf. At 14.14). 
Separado para o evangelho de Deus (1). É assim que Paulo se 
apresenta. É consagrado ou “posto de parte” para o serviço do 
evangelho. Dedicação é a resposta do homem ao ato da escolha divina, e 
estas idéias devem ser postas em relevo. A separação é toda de Deus, que 
consagra Seus servos, os quais, por seu turno, se dedicam a Ele. 
 Temos agora um exemplo do hábito que Paulo tinha de “afastar-se 
por uma tangente”. Na maioria de suas saudações e noutras partes ele 
expande o pensamento, umas idéias seguindo outras em rápida sucessão. 
Aqui a palavra “apóstolo” conduz ao «evangelho» que, por sua vez, leva 
o escritor a uma passagem de grande valor cristológico. O estilo é 
lacônico e de longo alcance. Passa a definir o evangelho de Deus como 
divino (1), predito (2) e cristocêntrico (3-5). 
 O evangelho não é invenção de homens; procede do céu. Vemos 
isto na ênfase da preposição– de Deus (1); Paulo tem aqui em mente a 
origem do evangelho. Antes de descrever sobre que versa esse 
evangelho, o apóstolo afirma a harmonia que há entre sua mensagem e a 
revelação dada antes ao povo judeu. Está de acordo com todas as 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 10 
promessas dos antigos profetas; firma-se nas Sagradas Escrituras (2); 
isto é, no Velho Testamento. 
 O principal traço característico do evangelho é apresentar-nos 
Jesus Cristo como sendo tudo em todas as coisas. Em conseqüência, 
Paulo se deixa cativar pela apreensão (conhecimento) que tem do 
Senhor, que Se antecipou em tomar conta dele (apreendê-lo) no poder de 
Sua ressurreição. Nesta passagem cristológica (vv. 3-5), ele dá ênfase 
primeiro à encarnação, visto como este é que deve ser o ponto de partida 
da mensagem evangélica. 
 Mas a vinda de Cristo segundo a carne (3) foi cumprimento de 
profecia messiânica; desta forma, fica justificada a declaração feita no 
verso 2. 
 Depois, segundo o espírito de santidade (4), isto é, quanto à Sua 
perfeição moral, Ele se manifestou como sendo Filho de Deus desde toda 
a eternidade mediante o milagre da ressurreição. A palavra declarado 
(4) da versão de Almeida tem atrás de si o grego “determinado” ou 
“designado”, a sugerir que a obra da redenção do mundo fora 
predestinada na eternidade, antes da encarnação de Cristo. 
 Este evangelho sublime, divino, profetizado e cristocêntrico torna-
se, como tal, a regra dos cristãos. Quem escreve a carta e os que a lêem 
são um em Jesus Cristo, nosso Senhor (4). Note-se o uso que Paulo faz 
dos nomes oficiais e universais do Filho de Deus, que é Salvador, 
Messias e Rei. 
 Mediante Ele, os romanos recebem graça, e, por acréscimo, Paulo 
recebe o apostolado (5). Graça, favor divino por pecadores indignos, é a 
nova relação em que os crentes estão para com Deus. O fim para o qual 
ele recebeu o apostolado é a obediência à fé (5), ou submissão confiante 
de todos os gentios ao Salvador do mundo. Paulo é o apóstolo da 
gentilidade, e daí o seu interesse pelos romanos, como participantes 
potenciais e atuais da graça divina. Donde conclui o direito que tem de 
se dirigir a eles. 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 11 
 A todos os amados de Deus, que estais em Roma, chamados 
para serdes santos (7). Há evidentemente uma comunidade cristã na 
metrópole, preciosa ao coração de Deus e cujo destino é novidade de 
vida para a perfeição moral. A dedicatória, propriamente, conclui com 
uma bênção, em que se combinam graça e paz, uma idéia grega e outra 
hebraica. 
 
b) Ação de graças e súplica (1.8-12) 
 
 O apóstolo exprime sua satisfação a respeito de cada um dos 
cristãos romanos, porque a fé que eles possuem não está escondida num 
canto obscuro, mas é do domínio público. Arautos da fé, têm eles sido a 
tal ponto que Deus, a quem Paulo adora em espírito pela pregação de 
Seu Filho, é testemunha da menção contínua que deles faz em suas 
orações. A idéia central de suas petições é que Deus apresse o dia em 
que possa encontrá-los, se é da vontade divina, havendo uma razão dupla 
para esse pedido. É que deseja firmá-los, repartindo com aqueles irmãos 
um dom espiritual, e também receber o conforto da fé mútua, deles e sua. 
 
c) Explicação pessoal (1.13-17) 
 
 Os cristãos de Roma deviam saber que, embora impedido de 
realizar esse desejo, Paulo muitas vezes houvera proposto visitá-los, para 
ver o mesmo trabalho espiritual, feito entre eles como já fora feito 
alhures, entre outros gentios. Sente-se devedor tanto a civilizados como a 
incivilizados, a sábios como a ignorantes. A comissão que recebera foi 
para pregar o evangelho a toda gente e, quanto ao seu ardor pessoal, 
sente que tem para com os romanos uma dívida de evangelização, 
porquanto se ufana (note-se a meiose, não me envergonho) de pregar o 
evangelho, o qual é capaz de salvar a todos quantos crêem, judeus ou 
gregos, embora aqueles antes que os outros tenham direito e interesse 
nisso (16). No evangelho a justificação divina (ver a nota introdutória à 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 12 
II seção) revela-se de fé em fé -- os crentes levam outros a crer! Isto 
havia sido revelado igualmente aos profetas (cf. vers. 2) como se vê 
pelas palavras de Habacuque, O justo (isto é o justificado) viverá por fé 
(17; cf. Hc 2.4). 
 
 
II. PRINCÍPIOS DO EVANGELHO - 1.18-5.21 
 
 O apóstolo agora passa para a seção doutrinária de sua carta, 
encetando uma discussão dos princípios do seu evangelho. O assunto do 
tratado foi declarado no verso 17, como a justiça de Deus revelada de 
fé em fé. Este grandioso tema é o próprio cerne da epístola, como o era 
do evangelho pregado por Paulo. Expresso singelamente, vem a ser 
“justificação somente pela fé”. O problema pessoal do apóstolo, não 
primeiramente de seu espírito, mas de sua vida prática, era – “Como 
posso ajustar relações com Deus?” Antes da experiência empolgante da 
estrada de Damasco, Paulo ensaiou resolver o problema à maneira 
judaica, praticando o bem, isto é, estabelecendo relações justas com 
Deus por cumprir a lei divina. O método não dera certo. Nenhum mortal 
já houve sem pecado, muito menos positivamente santo, que guardasse 
todos os mandamentos de Deus. Toda a teologia de Paulo era 
experimental; descobriu ele que por meio da fé na obra consumada de 
Cristo ajustava suas relações com Deus. Não que o fizesse por si, mas 
era isso obra da “justiça de Deus”. É este o sentido da justificação. Os 
termos que emprega para significar “justo”, «justificação» e «justiça» 
(dikaios, dikaios e dikaiosyne) todos procedem da mesma raiz. 
Justificação pela fé, por conseguinte, significa justiça pelo ato de crer, a 
passagem para uma relação adequada com Deus mediante a fé no 
evangelho revelado de Jesus Cristo. 
 Devido a esta bendita razão de sua própria experiência é que ele 
não se envergonhava do evangelho de Deus. Alguns judeus em Roma 
podiam escandalizar-se com tal evangelho, e gentios podiam considerá-
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 13 
lo estultícia (1Co 1.23); mas, para o apóstolo, este mesmo evangelho é 
verdadeira dinamite (poder), uma força espiritual, atividade manifesta 
de Deus na sua vida, trazendo salvação no seu sentido mais vasto ao 
espírito, à alma e ao corpo, tanto aqui como no futuro. Esta atividade 
divina dentro da experiência humana, esta passagem para uma relação 
justa com Deus, e a manutenção dela, é a essência de toda a mensagem 
do apóstolo. À medida que se for desenvolvendo o tema da justiça de 
Deus no decorrer da carta, virão à tona as doutrinas da justificação, 
santificação e predestinação, expostas e defendidas por ele. 
 
a) A "justiça" dos gentios (1.18-32) 
 
 A “justiça” da raça humana é, de fato, injustiça. O ideal moral 
absoluto é a justiça de Deus, que só pode vir dEle e ser revelado, ou feito 
conhecido somente por meio do evangelho de Jesus Cristo. Nessa 
conformidade, Paulo traça um retrato vivido da injustiça do mundo 
gentílico, descrevendo a religião pagã (impiedade) e a moralidade pagã 
(injustiça). Sobre uma e outra a ira de Deus se revela (18), de igual 
modo como se revela Sua justiça (ver verso 17). A idéia de juízo é 
freqüente no Velho Testamento como parte integrante da justiça de Deus 
tratando retamente com o Seu povo e com o mundo gentílico. Os judeus 
que liam Paulo, pelo menos, estavam bem certos das implicações da 
frase “a ira de Deus”. 
 
 1. A RELIGIÃO PAGÃ (1.18-25) – O mundo pagão, do tempo de 
Paulo, adorava ídolos feitos à semelhança de homens (Atenas) e de 
animais (Egito). Tal politeísmo era a conseqüência religiosa do 
racionalismo. 
 Os gentios tornaram-se nulos em seus próprios raciocínios (21); 
isto é, fúteis em suas filosofias. A palavra grega dialogismos é 
comumente traduzida “imaginação” ou “raciocínio”, e, uma vez, 
“discussão”, nesta epístola (14.1). Cf. Mt 15.19; Mc 7.21; Lc 2.35; 5.22-
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 14 
6.8; 9.46-47; 24.38; 1Co 3.20; Fp 2.14; 1Tm 2.8; Tg 2.4. “Raciocínios” é 
o que maisse aproxima da idéia da raiz verbal, que significa “fazer 
considerações, ou cálculos”, ou simplesmente “raciocinar”. Essa 
jactanciosa teorização levava à idolatria, visto como, obscurecendo ou 
detendo a verdade (18), fazia-os afastar-se de Deus e a excogitar 
ignóbeis substitutos dEle (23). Eles deviam compreender melhor! 
Deviam conhecer o que era cognoscível; Deus Se lhes revelara. Sua mão 
oculta, desde o princípio, podia ser bem discernida. Deus sempre deu 
testemunho de Si, tanto pela natureza como pela consciência. Não havia 
desculpas para a ignorância deles. Embora seja paradoxal falar em ver o 
invisível, as coisas invisíveis de Deus, o seu próprio poder e 
divindade, “Deus em ação e na Sua essência”, nunca estiveram 
escondidas do homem (20). E assim Paulo condena as filosofias 
gentílicas por alienarem de Deus os homens, Deus que é a verdade, e por 
conduzirem ao culto vão dos ídolos. Veja-se no verso 25 a expressão 
“mudaram a verdade de Deus em mentira” e compare 2Ts 2.11 n. 
 
 2. MORALIDADE PAGÃ (1.26-32) – Uma religião impura 
resulta numa vida também impura. Esse quadro horrível do paganismo é 
corroborado por escritores do tempo de Paulo. Foi uma época de vícios 
desavergonhados e pecados anti-sociais; um tempo de indizível 
decadência moral. O juízo inevitável de Deus caiu sobre os que 
preferiam a razão humana à divina revelação. Três vezes o apóstolo 
assevera que Deus os abandonou: Deus os entregou (24,26,28). Tem-se 
observado que esse abandono é decididamente punitivo não meramente 
permissivo no sentido de Deus permitir que os pagãos idólatras O 
desprezassem; nem privativo, no sentido de privá-los de Sua graça. É 
castigo positivo pela ignorância culposa e pecaminosidade voluntária. 
 O juízo divino foi uma conseqüência inevitável, uma colheita da 
sementeira feita (27). O mundo pagão entregou-se à lascívia, no uso 
desnaturado dos corpos em perversões sexuais (26-27), e, finalmente, a 
uma disposição mental reprovável (28). Observe-se aqui o jogo de 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 15 
palavras. Visto como os pagãos não gostaram (edokimasan) de 
conservar Deus no seu conhecimento, Deus os entregou a uma 
disposição mental reprovável (adokimon noun); isto é, exatamente 
como esses estultos e sórdidos pagãos reprovaram Deus assim o Senhor 
os abandonou a uma consciência reprovável. O vocábulo grego 
adokimos originalmente alude à aferição de metais; os que não resistiam 
ao teste eram “reprovados”. O adjetivo é traduzido por três palavras 
portuguesas: “rejeitado” (Hb 6.8), “desqualificado” (1Co 9.27) e 
“reprovado” (Rm 1.28; 2Co 13.5-7; 2Tm 3.8; Tt 1.16). O verso. 32 
indica que os pecados aí condenados não resultam de ceder a tentações 
súbitas, mas são alimentados deliberadamente e estimulados nos outros. 
 
b) A "justiça" dos judeus (2.1-3.20) 
 
 Tal como a “justiça” do mundo pagão, a dos judeus é também uma 
miserável quimera e fracasso. Detentores de maiores privilégios do que 
os gentios, os judeus, nada, obstante, não alcançaram a justificação. 
Antes de entrar na acusação de Israel, o apóstolo apresenta dois 
princípios preliminares – o juízo imparcial de Deus (2.1-11) e a 
universalidade da obrigação moral (2.12-16). 
 
Romanos 2 
 1. O JUÍZO IMPARCIAL DE DEUS (2.1-11) – O verso 11 
sumariza o primeiro princípio sobre que Paulo baseia seu libelo contra o 
seu próprio povo. Quando os judeus assumem o papel de censores da 
justiça, o que sempre fazem, condenam-se a si mesmos, porque tais 
juízes cometem as mesmas coisas por eles condenadas. É um postulado 
de Paulo, que todos os judeus concordam relativamente à justiça 
indiscutível de Deus em julgar (ver verso 2). Daí vem que o veredito 
divino está de acordo com a realidade moral (verdade) do caso, fora de 
privilégio ou profissão de fé. O apóstolo desfaz a falsa pretensão de estar 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 16 
o povo judeu isento do juízo universal, à base de integridade, ou por ser 
menos pecador do que o mundo pagão. 
Mesmo o fato de serem privilegiados como nação está longe de 
eximi-los do juízo (cf. Mt 3.9; Jo 8.33; Gl 2.15). Se este juízo ainda não 
caiu sobre os judeus praticantes dos mesmos pecados, como aconteceu 
com os pagãos, deve-se isto somente à tolerância divina (4). A aparente 
indiferença de Deus em face do pecado é inteiramente devida à Sua 
longanimidade, cujo alvo é induzir ao arrependimento. O cabedal da 
graça a riqueza da sua bondade – e o cabedal de ira – acumulas 
contra ti mesmo (5) – são postos em solene contraste. Toda pessoa será 
julgada segundo suas obras, judeus e gentios, por igual. Dura 
impenitência é um investimento de ira divina com juros, a serem 
realizados no dia da Ira (5). Cf. Is 13.6; Ez 30.3; Sf 1.7; ver também 
referências no Novo Testamento ao «dia do Senhor» (At 2.20; 1Co 1.8; 
2Co 1.14; 1Ts 5.2). Nesse dia, a justiça divina do julgamento manifestar-
se-á rigorosamente justa, a recompensar cada pessoa segundo suas obras. 
Se estas forem o fruto de paciente bem-fazer, à procura de glória, honra e 
incorruptibilidade, o resultado será a vida eterna (7). Mas o espírito 
faccioso, a desobediência à verdade, e obediência à injustiça culminarão 
em ira e agitação, em perplexidade e angústia, para todos quantos fazem 
o mal, particularmente o judeu (que deveria conhecer melhor), mas 
também o grego (8-9). Assim se demonstra a imparcialidade do juízo 
divino. Ninguém ficará isento. 
 
 2. A UNIVERSALIDADE DA OBRIGAÇÃO MORAL (2.12-16) 
– Todos são responsáveis perante Deus em juízo, quer, como os judeus, 
possuam a lei mosaica, quer, como os gentios, a lei «natural», escrita na 
consciência de todos os homens, criados que são à imagem divina. Todos 
têm um padrão válido por onde serão julgados, porque não é aquele que 
possui a lei que é considerado justo, mas o que a pratica. Os judeus não 
se podem orgulhar de sua Torá, porque não importa se alguém tem ou 
não tem uma lei. Nossas ações fornecem o critério para o julgamento. 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 17 
Todo homem tem uma consciência (15; gr. syneidesis), percepção 
moral, um conhecimento que julga entre o ato e o seu valor ético, ou 
entre o homem e Deus como verdade ou realidade última. (Paulo 
emprega o termo ainda em 9.1 e 13.5 desta epístola e várias vezes nas 
outras cartas). Se ele atende a essa consciência, ela infalivelmente o 
acusará ou o inocentará, particularmente quando, no dia de Deus, todos 
os segredos forem descobertos e julgados por Jesus Cristo (16). O 
evangelho de Paulo é outra vez aqui declarado cristocêntrico, o que é, 
com efeito, sua principal característica. 
 
 3. LIBELO ACUSATÓRIO CONTRA OS JUDEUS (2.17-29) – 
Estando já assim preparado o caminho, por afirmar a imparcialidade e a 
universalidade do juízo divino, o apóstolo agora procede à acusação 
específica da pretensa justiça dos judeus. Estes, tanto quanto os gentios, 
não têm vivido de acordo com as luzes que possuem, sendo que as suas 
são maiores do que as destes últimos. De fato, a revelação, como dom 
divino outorgado aos judeus, foi reconhecida como regra privilegiada de 
vida, tanto como patrimônio deles. Paulo refere a duas coisas de que os 
judeus se orgulhavam, a lei (vv. 17-24) e a circuncisão (vv. 25-29), se 
bem que nem obedecessem à lei, nem fossem realmente circuncidados de 
coração. 
 Tu que tens por sobrenome judeu (17); ou antes, “trazes o nome 
de judeu”, ou “dizes que és judeu”. A ênfase é na nacionalidade deles. O 
nome “hebreu” fala de origem e idioma; «israelita» lembra a relação com 
Deus e a religião; “judeu” alude à raça, para distingui-los dos gentios. A 
enumeração que se segue, das vantagens incluídas na outorga da lei, é 
algo satírica, porque o apóstolo dá a entender que os judeus perverteram 
seus privilégios. Repousas na lei (17). A palavra aqui empregada 
epanapausis sugere complacência. Os judeus eram escolhidos de Deus; 
a outorga da Torá era uma prova desse fato. Vinha daí considerarem esse 
patrimônio como bastante, sem preocupações com a sua prática.Glorias-te em Deus (17). São acusados de ter uma idéia errônea da 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 18 
relação em que estão para com Deus. É certo que se devem gloriar no 
Senhor (cf. Jr 9.24), porém não arrogantemente. A atitude deles era 
ditada pela consciência que tinham de uma superioridade sobre as 
demais raças, por eles havidas como espécies inferiores, sem lei. 
Pretendiam estar em tão íntimas relações com Deus, em virtude de 
possuírem a lei, que conheciam qual era a vontade divina. 
 Aprovas as coisas excelentes (18); lit. “julgas as coisas que 
divergem”. O sentido é que os judeus pretendiam ser capazes de 
discernir entre o certo e o errado, bem como os matizes do valor moral 
entre um bem menor e outro maior (cf. Fp 1.10). Por causa de todas estas 
vantagens da lei, os judeus orgulhavam-se da habilidade que tinham de 
ensinar, orientar e julgar os outros. 
 Guia dos cegos (19; cf. Mt 15.14; 23.16) era provavelmente uma 
frase proverbial. 
 Instrutor de ignorantes (20); isto é, de crianças em 
conhecimentos religiosos, como os gentios pareciam aos olhos dos 
judeus. Tais pretensões soberbas baseavam-se na posse da forma da 
sabedoria e da verdade que tinham na lei (20). Significaria Paulo que 
os judeus possuíam realmente o segredo do Senhor, a fonte de toda 
sabedoria e verdade, visto que o termo forma (no gr. morphosis) 
implica esboço, delineamento, “a perfeita corporificação”, da forma 
essencial (gr. morphe; cf. Fp 2.6-7)? Ou dá a entender, como o contexto 
poderia sugerir, que os judeus tinham apenas a aparência da verdadeira 
morphe, em virtude do seu fracasso em cumpri-la? O apóstolo usa o 
termo morphosis apenas nesta passagem e em 2Tm 3.5, onde é posto em 
contraste com dynamis, “poder”. Certo que o dom da revelação era real; 
mas a questão era que o judeu, por sua obediência, podia ter mais perfeita 
compreensão daquela revelação, e, a despeito de sua jactância, era na 
realidade um pobre guia e deficiente luz retificadora e mestre dos pagãos. 
 A isto segue, nos vv. 21-24, uma exposição corajosa da injustiça 
dos judeus. “Bem, Professor-dos-Outros, o Sr. ensina-se a si mesmo? O 
Sr. prega contra o furto, e o Sr. mesmo é ladrão?” etc. 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 19 
 Cometes sacrilégio? (22); ARA “Roubas os templos?” Era este 
evidentemente um crime pelo qual os judeus algumas vezes foram 
censurados (cf. At 19.37). “A pessoa que abomina os ídolos não deve 
furtar os sacrários deles, fazendo assim da cobiça um ídolo” (Ward). No 
verso 24, Paulo cita livremente Is 52.5 (LXX). Concorre para a desonra 
do nome de Deus entre os pagãos a falta de coerência judaica entre a 
profissão e a prática, sua jactância de gozar do favor de Deus, ao passo 
que desconsidera completamente o padrão divino de moralidade. 
A circuncisão tem valor (25). Paulo admite as vantagens deste rito 
peculiar e distintivo, no qual os judeus se vangloriavam, e pelo qual os 
gentios os desprezavam. A circuncisão tem suas vantagens, mas somente 
se a lei for observada. Se for transgredida, então a circuncisão torna-se 
incircuncisão. Semelhantemente, se o incircunciso observa as exigências 
da lei, sua incircuncisão neste caso deve ser-lhe creditada como 
circuncisão? O homem incircunciso por natureza (como os não judeus) 
que cumpre a lei, julgará o judeu transgressor dela. Paulo declara sem 
tergiversar que o gentio correto, em seu estado de incircuncisão, é tão 
bom quanto o judeu desobediente, ainda que circunciso. 
Letra (27-29); gr. granna. No primeiro caso a referência pode ser à 
letra da circuncisão, o mandamento literal; mas, provavelmente, significa 
a letra da lei, que é claramente o sentido no verso 29, assim acentuando a 
exterioridade da lei. Paulo tem aqui em mente “a palavra escrita como 
autoridade externa, em contraste com a influência direta do Espírito 
como manifesta no novo concerto” (G. Abbott-Smith, Greek Lexicon). 
Paulo emprega o mesmo contraste em 7.6 e 2Co 3.6; cf. At 7.51. A Idéia 
de circuncisão do coração (29) pertence também ao Velho Testamento 
(cf. Dt 10.16; Jr 4.4; 9.26; Ez 44.7). 
 Daí, não é judeu quem o é apenas exteriormente (28). Assim 
Paulo põe abaixo, inequivocamente, a alegada justiça do judeu. 
 
 
 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 20 
Romanos 3 
 4. RESPOSTA ÀS OBJEÇÕES DOS JUDEUS (3.1-20) – Essa 
redução da justiça judaica a injustiça não podia deixar de ser impugnada. 
A crítica à condenação formulada pelo apóstolo (verso 18) podia provir 
dos seus oponentes, ou talvez surgisse na mente de Paulo, ao arrazoar ele 
seu grave libelo contra os de sua raça. Nesta epístola especialmente, ele 
imagina um impugnador, a cujos argumentos casuísticos responde (cf. 
4.1 e segs., 6.1 e segs., 7.7 e segs.). São quatro as objeções do suposto 
perguntador importuno. 
 1. Se os judeus são condenados igualmente com os gentios e são 
pecadores tão grandes quanto estes, de que servem os seus privilégios, e 
qual é a vantagem da circuncisão? Paulo responde que, a despeito de os 
judeus abusarem dos seus privilégios, estes permanecem para a 
conveniente aceitação deles e seu testemunho mundial. Aqui refere 
apenas às bênçãos maiores (enumera outras no cap. 9.4-5); os judeus as 
recebem de Deus, como “depositários da revelação”. O termo logia 
(oráculos; cf. At 7.38; Hb 5.12; 1Pe 4.11) refere-se particularmente às 
palavras de Deus no monte Sinai e às Suas promessas de um Messias 
vindouro. 
 2. Se os judeus não procedem retamente com Deus, que será de 
todos os oráculos divinos e das promessas que lhes foram feitas? Não 
será que Deus volta atrás e se desdiz? Paulo repele o argumento. 
 A infidelidade de alguns (3; e o apóstolo, dizendo “alguns”, usa 
de caridade) não põe em dúvida a fidelidade divina. É óbvio que, se um 
concerto é quebrado pela infidelidade de uma das partes, a honra da 
outra não fica diminuída. 
 Segundo está escrito (4). A citação é do Sl 51.4 (LXX). Embora 
a infidelidade humana prevaleça, o caráter divino é mantido em todos os 
pronunciamentos de Deus acerca do pecado. 
 3. Uma objeção dá lugar a outra. O perguntador importuno 
continua pondo em dúvida a justiça divina no castigo dos pecadores. Se a 
injustiça dos judeus serve só para realçar a justiça divina, e se o fracasso 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 21 
da nação judaica serve apenas para acentuar, pelo contraste, a retidão de 
Deus, pode este honrosamente condenar tais pecadores que o servem 
deste modo? Paulo rejeita a idéia por absurda, e declara que ela 
virtualmente nega a prerrogativa de Deus, de submeter o mundo a 
qualquer julgamento. Se nossas malfeitorias fazem realçar a justiça 
divina, diremos que Deus é injusto por aplicar sua ira contra nós? 
 Quem exerce vingança? (Falo como homem) (5); isto é, 
“Perdoai meu modo de dizer muito humano; é talvez um 
antropomorfismo por demais ousado”. 
 4. Se minha pecaminosidade - continua o impugnador - serve para 
glorificar a santidade de Deus, este fato não somente corta pela raiz o 
direito divino de julgar-me, mas tolera o meu pecado. Note-se como, na 
apresentação que Paulo faz da objeção, a verdade de Deus é posta em 
contraste com a mentira dos judeus (7); isto é, a fidelidade divina a 
todas as promessas e à revelação é contraposta à infidelidade incrédula e 
à falsidade prática de Israel. Por que sou ainda julgado como pecador? 
Argúi o impugnador. A conclusão lógica certamente é: Pratiquemos 
males para que venham bens. Aqui Paulo revela que alguns o haviam 
caluniado de declarar esta máxima imoral como parte de sua doutrina. 
Tais detratores são repelidos sumariamente: a condenação destes é 
justa (8). 
 Estas quatro perguntas o apóstolo volta a referi-las adiante. As três 
primeiras objeções são mencionadas no cap. 9, enquanto a quarta, no 
cap. 6. 
 No restante desta seção (vv. 9-20) Paulo continua a expor a 
injustiça judaica. Frisa que ela é condenada pela Escritura tão 
severamente quanto a injustiça dos gentios. Judeus e gentios são 
pecadores. Recorre o apóstolo paraa absoluta autoridade da Palavra de 
Deus, universalmente admitida pelos judeus, e apresenta, como prova, 
um mosaico de versos escriturísticos. Com exceção de dois, são todos 
eles tirados dos Salmos, e são citados da versão dos LXX. Tais 
passagens representam a lei e todas elas se aplicam ao judeu em sua 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 22 
injustiça. A conclusão desta seção vem no verso 20. O fracasso do judeu 
em achar justificação era devido ao método errado que adotava; de fato, 
nenhum vivente pode esperar ajustar sua posição diante de Deus por essa 
forma, porque pelas obras da lei nenhuma carne será justificada. 
Verdadeiramente, a lei traz desesperança, visto criar uma consciência de 
pecado, revelar o que este significa tanto para Deus como para o homem, 
para o Juiz e para aquele que é julgado. 
 
c) A justiça divina (3.21-31) 
 
 Agora Paulo procede à descrição da justiça de Deus (21; cf. 1.17), 
o método pelo qual ele próprio se ajustou com Deus. Notem-se as 
seguintes características. 
 Independe da lei (21). A lei revela o dever que Deus exige do 
homem (quer esteja contido na lei, nos profetas e nos escritos, ou mais 
especificamente na lei do Pentateuco) e requer esforço moral ou obras 
para a justificação do homem. A justiça de Deus independe do 
cumprimento da lei. 
 Em segundo lugar, ela é testemunhada pela lei (21). O mosaico 
de passagens escriturísticas, previamente apresentado (3.10-18), foi 
extraído principalmente dos escritos, terceira seção da Torá: agora o 
apóstolo completa o testemunho da lei referindo a lei e os profetas (21). 
O novo meio de o homem ajustar suas relações com Deus não é 
absolutamente novo, mas foi realmente predito em ritos, tipos e profecias 
através do Velho Testamento. 
 Em terceiro lugar, a justiça de Deus é fornecida em Cristo 
mediante a fé (22-25). É para quantos crêem, é pela fé de Jesus Cristo 
(22). O grego tem aqui o caso genitivo e assim pode ser traduzido quer 
subjetiva, quer objetivamente. A justiça divina pode ser alcançada pela 
fé do Salvador, exercida até à cruz, fé poderosa que foi parcela 
integrante do valor expiatório do Seu sacrifício supremo. Por outro lado, 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 23 
e em harmonia com o uso do Novo Testamento, esta fé é projetada em 
Jesus, como seu objeto, e assim se torna fé no Redentor. 
 Todos pecaram e carecem da glória de Deus (23). Glória (gr. 
doxa) é o esplendor visível do caráter perfeito de Deus. É a glória 
chequiná do Velho Testamento (cf. 9.4; Êx 16.10; 24.16 e segs., 29.43; 
33.18-22, etc.), e no Novo Testamento é expressa na vida encarnada de 
Jesus, o Verbo ou expressão do Pai (ver Jo 1.14; 2Co 3.18; 4.6). Quanto 
à glória de Deus, todos os homens estão em falta (carecem dela). O 
grego hysterein significa “ficar em falta”, “ser inferior”, “sofrer 
necessidade” (cf. Mt 19.20; 1Co 8.8; 2Co 11.5; Fp 4.12). Esta 
deficiência universal é um dos aspectos do pecado. Tanto na realidade 
como em consciência todos estamos muito distantes da luz ofuscante da 
perfeição divina. 
 Mas, em face desta pecaminosidade universal, a justificação é 
gratuita ou pela graça (24). Cristo é uma propiciação proposta por Deus. 
A fé é o meio. O sangue de Cristo é o preço aceito, na paciência divina, 
em virtude do qual os pecados do homem, anteriormente cometidos, são 
esquecidos. Paulo expressa a base da justiça em duas frases 
significativas: mediante a redenção que há em Cristo Jesus (24) e 
propiciação mediante a fé no seu sangue (25). O grego apolytrosis 
significa “libertação efetuada com o pagamento do resgate”, daí 
redenção, emancipação ou livramento. A palavra para propiciação, 
hilasterion, é o neutro de um adjetivo derivado do verbo hilaskomai, 
que tem três sentidos: aplacar, conciliar ou apaziguar alguém; ser 
propício ou misericordioso; ou fazer propiciação por. 
O Novo Testamento usa as duas últimas traduções (ver Lc 18.13 e 
1Jo 2.2). A idéia não é de conciliação de um Deus zangado por causa da 
humanidade pecadora, mas é de expiação do pecado por um Deus 
misericordioso mediante a morte expiatória do Seu Filho. Não exclui 
necessariamente, porém, a realidade de ira justa por causa do pecado. 
Cristo é, portanto, o meio de satisfação pelo pecado, que é efetuada por 
Sua morte, o sangue significando o princípio de vida sacrificada. (cf. Gn 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 24 
9.4; Lv 17.11; Dt 12.23). Daí a expressão da ARA: “no seu sangue 
(mediante a fé)” ser preferível à da ARC pela fé no seu sangue. A 
justificação em tais bases, nada tem a ver com o esforço moral do 
homem, nem com o seu mérito espiritual. É concedida gratuitamente, 
por Sua graça (24). Noutras palavras, somos declarados inocentes em 
troca de nada, sem preço, e só em virtude do amor imerecido de Deus 
para com os pecadores. Por causa deste novo método de ajustamento 
com Deus, os pecados dos homens no passado foram esquecidos, e os do 
presente têm seu castigo adiado (25), tudo em perfeita justiça da parte de 
Deus. 
 A quarta característica da justiça de Deus é que é divinamente reta 
(26-31). O apóstolo agora desdobra sua última frase: tendo em vista a 
manifestação da sua justiça (26). Deus não é somente justo, como 
sempre é; também pode justificar ou colocar em correta relação aqueles 
que têm fé em Jesus, embora que, fora de Cristo, não tenham eles direito 
a tal justificação. Deus é justo; e por causa de Sua justiça eterna e 
intrínseca (não a despeito dela) considera justo o pecador que crê em 
Jesus (26). Nesta base de justificação só pela fé, o apóstolo desafia a 
jactância do judeu. Não há cabimento para ela. 
 Por que lei? (27); isto é, sobre que fundamento é ela excluída? 
Paulo emprega o termo “lei” de vários modos. Representa a Torá e o 
Pentateuco; aqui significa um princípio estabelecido. 
 A regra das obras (27) não exclui a jactância, porque muitos 
fariseus viviam cheios de autoglorificação. Mas a regra da fé exclui 
absolutamente qualquer exultação dessa natureza. A conclusão definida 
de todo este assunto é que o homem se ajusta com Deus pela fé, fora de 
qualquer cumprimento da lei (28). Este princípio de fé anula de vez o 
muro de separação entre judeus e gentios; Deus é Deus de uns e de 
outros, se crêem. E tal fé é a condição sine qua non, que somente Deus 
pode conceder. 
 Pela fé... mediante a fé (30). Estas expressões apenas salientam o 
contraste entre a circuncisão e a incircuncisão. Não há diferença na 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 25 
qualidade, nem no método de ter fé. Assim é que, se há um Deus, há um 
povo cujo sinal distintivo é a fé. Deus olha por cima da circuncisão para 
a fé do judeu, e igualmente olha por cima da incircuncisão para a fé da 
parte do gentio. Ambos realmente ostentam a mesma “marca registrada”. 
Ademais, acrescenta Paulo, no regime dessa fé, a lei não é desbancada, 
senão estabelecida. Deus não se torna, por isso, fraco ou sentimental. Sua 
justiça está satisfeita. 
 
Romanos 4 
d) A justiça abraâmica (4.1-25) 
 
 Agora, Paulo toma o caso de Abraão como prova, mostrando a 
relação do novo sistema de justificação com o ensino do Velho 
Testamento. Imagina o impugnador a perguntar onde, nesse debate, fica 
Abraão. Caracteriza-se ele pela fé ou pelas obras? É este um ponto 
crucial, contudo o apóstolo demonstra, além de qualquer dúvida, que o 
patriarca foi justificado pela fé e não pelas obras da lei. A base do 
argumento é Gn 15.6 – “Ele creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para 
justiça”. O exame da vida de Abraão revela três realidades. 
 
 1. SUA JUSTIÇA FOI INTEIRAMENTE PELA FÉ (4.1-8) – Era 
universalmente aceito pelos judeus que Abraão fora singularmente justo, 
tendo melhores fundamentos para se jactar, do que a maioria dos 
homens. Mas tal ufania é inadmissível à vista de Deus (2). 
 A Escritura diz que Abraão creu em Deus, e isso lhe foi 
imputado para justiça (3; ver. Gn 15.6). Ora, se alguém trabalha, seu 
salário não depende da boa vontade do patrão, mas torna-se uma dívida 
deste para como seu empregado (4). Todavia, se não trabalha, crendo 
apenas nAquele que justifica ao pecador, sua fé é considerada como 
justiça (5). 
 O sagrado escritor de Hebreus faz eco ao ponto de vista do Velho 
Testamento, nos vv. 11.8-19. Foi notável a fé demonstrada por Abraão, e 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 26 
o referido escritor tem para ele um lugar conspícuo em sua galeria de 
honra. É digno de nota que Tiago, em sua epístola (2.23), também cita 
Gn 15.6, acrescentando “E foi chamado amigo de Deus”. Paulo e Tiago 
chegam à mesma conclusão, partindo de pontos de vista diferentes. 
Quando Tiago declara: “Não foi por obras que o nosso pai Abraão foi 
justificado?” (2.21), seu alvo é recomendar as boas obras como prova 
necessária e fruto essencial da fé. A tarefa de Paulo, por outro lado, é 
condenar as boas obras como base última da salvação, e negar-lhes 
qualquer mérito para ajustar relações com Deus. Prossegue o apóstolo 
salientando que este novo sistema de justificação, apresentado em seu 
evangelho, está radicado no Velho Testamento e, para isso, mostra que 
Davi também se distinguiu pela fé; visto como expressou a bem-
aventurança daqueles que são considerados justos à parte de qualquer 
mérito proporcionado por obras (Sl 32.1-2). Tal estado de altíssima 
felicidade do homem perdoado não é o próprio Davi quem o declara, 
senão Deus mesmo. O salmista está simplesmente registrando o fato 
bendito, embora que exultando pessoalmente, em conseqüência da sua 
própria experiência. 
 
 2. A JUSTIÇA DE ABRAÃO INDEPENDEU DA 
CIRCUNCISÃO (4.9-12) – A experiência do patriarca decorreu na 
seguinte ordem: primeiro a fé, seguindo-se a justificação e depois a 
circuncisão. Os judeus inverteram a ordem, pondo em primeiro lugar o 
rito. Com a idéia de bem-aventurança como liame, o apóstolo mostra que 
Abraão possuía este fruto da fé, antes de sua circuncisão (10). 
 Recebeu o sinal da circuncisão como selo (11). O próprio rito era 
o sinal ou confirmação do concerto feito por Deus com Abraão (cf. Gn 
17.1-14; At 7.8). Nesta base, o Patriarca é o pai de todos os que crêem 
(11), circuncisos ou não (cf. 2Pe 1.1). Em desafio à doutrina ortodoxa 
judaica, Paulo afirma um dos princípios vitais do seu próprio ensino, 
qual seja a porta franqueada aos gentios, o privilégio universal da 
justificação pela fé. 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 27 
 3. A JUSTIÇA DE ABRAÃO INDEPENDEU DA LEI 
MOSAICA (4.13-22) – O ponto ferido por Paulo, a seguir, é que Abraão 
foi considerado justo com Deus uns quatrocentos anos antes que a lei 
viesse a existir, antes que fosse promulgada no monte Sinai. 
 A promessa de ser herdeiro do mundo não foi feita ao patriarca 
nem à sua posteridade por intermédio da lei, e sim mediante a justiça da 
fé (13). “Herdeiro do universo” interpreta-se como a suma de todas as 
promessas feitas a Abraão, como reveladas em Gn 12.3-7; 13.15-16; 
15.1,5,18; 17.8-19, e mencionadas em At 3.25 e Gl 3.8. Estas promessas 
incluíam a dádiva de um filho e herdeiro uma descendência inumerável, 
o Messias e Seu reino universal. Observe-se o modo pelo qual nosso 
Senhor, em uma das beatitudes, espiritualizou a idéia da herança do 
mundo, ao declarar que os mansos herdariam a terra (Mt 5.5). Se os da 
lei a herdassem, a fé se tornaria vã, e a promessa, de nenhum efeito 
para assegurar justiça (14). A lei, entretanto, desperta somente o senso de 
pecado, culpa e penalidade. Remova-se a lei e o pecado desaparece (15). 
Nessa conformidade, a fé e não a lei é a base da justiça de Abraão à vista 
de Deus. 
 O apóstolo argumenta semelhantemente em Gl 3.17 e segs., mas a 
lógica aí é mais legal e histórica, ao passo que aqui é mais doutrinária. 
Leis e graça são incompatíveis. Daí vem que a promessa é confirmada a 
toda a descendência, não somente à que procedeu da lei, mas igualmente 
à que procedeu da fé (16). Por essa fé, Abraão se torna pai de todos os 
que crêem, gentios e judeus. Num sentido físico, dizia a promessa que 
ele seria pai de todos (Gn 17.5); porém Paulo está pensando aqui numa 
paternidade espiritual e universal. Abraão, pai dos fiéis, aparece perante 
Deus como representante de todos os crentes, judeus ou gentios (16,17). 
 Notem-se os dois atributos divinos, impressivos e apropriados, que 
Paulo acrescenta aqui: Deus que vivifica os mortos, e chama à 
existência as coisas que não existem (17). O poder vivificador de Deus 
é visto nos seguintes milagres: a capacidade de Abraão procriar Isaque 
(19; cf. Hb 11.12, “aliás já amortecido”); o livramento de Isaque da 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 28 
morte, no altar do sacrifício (cf. Hb 11.19, “Deus era poderoso até para 
ressuscitá-lo dos mortos”) e a ressurreição de Cristo (24). O segundo 
atributo, de chamar à existência o que não existe, tem referência aos 
filhos nascituros, à posteridade do pai Abraão, quando historicamente, 
ele não tinha filhos. 
 Outra vez Paulo elogia a fé do patriarca. Não duvidou... mas, pela 
fé, se fortaleceu (20), significando que, em referência à promessa 
divina, Abraão não vacilou em incredulidade, mas foi fortalecido pela fé, 
glorificando destarte o nome de Deus pela confiança plena na capacidade 
divina de cumprir a dita promessa. A conclusão deste caso de Abraão, 
apresentado como prova, é a declaração inicial de que sua fé lhe foi 
imputada como justiça (22; cf. verso 3). 
 Agora, o apóstolo se prepara para o seu maior tema, a justiça do 
crente. Esta aceitação de Abraão, pai dos fiéis, está registrada para que 
também creiamos e reivindiquemos a justiça de Deus mediante Jesus, 
que Se ofereceu por nossas transgressões e ressuscitou para nossa 
justificação (23-25). 
 
Romanos 5 
e) A justiça do crente (5.1-21) 
 
 Passa agora o apóstolo mais para o âmbito do subjetivismo ou da 
experiência. Alguns consideram este capítulo um parêntese devocional, 
visto basear-se na experiência pessoal de Paulo quanto ao modo de ser 
tratado por Deus. Contudo, o grande tema da justificação pela fé recebe 
aqui maior desenvolvimento. Paulo jamais considera a possibilidade de 
justificação que não se acompanhe invariavelmente de santificação: uma 
e outra, para ele, estão de fato inseparavelmente ligadas. Uma é o 
batente, a absolvição preliminar; a outra é a longa estrada que conduz à 
Jerusalém celestial. O apóstolo une-se a todos os crentes e fala por eles. 
Declara os benditos efeitos da justificação baseada firmemente no 
ajustamento de relações com Deus (1-5). Depois, em estilo poético, vem 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 29 
a garantia dessa bem-aventurança (6-11). A isto se acrescenta o método 
da justificação, o modo como os homens de fé a realizam mediante o 
novo Cabeça da raça (12-21). 
 
 1. OS BENEFÍCIOS QUE A JUSTIFICAÇÃO TRAZ (5.1-5) – 
Temos paz com Deus (1). Os justificados pela fé têm assegurada 
sua paz com Deus. Os melhores textos trazem o subjuntivo, em vez do 
indicativo, echomen, sendo a única diferença a vogal longa ou breve. 
Donde a forma exortatória da versão ARA, “tenhamos”. Todavia, como 
Paulo com referência a ensino e pregação, raramente emprega um pelo 
outro, o sentido é o de exortação branda “devemos ter” e, daí, “temos” 
(cf. o comentário sobre Romanos do I.C.C., pág. 120). Realmente, como 
pessoas de fé, gozamos paz com Deus. Trata-se de uma nova relação 
para com Deus, que não é questão de mero sentimento, mas de fato. 
Em segundo lugar, temos acesso (2). Aquele que crê não passa a 
gozar do favor de Deus à base de merecimento próprio. A idéia de 
acesso é introdução à câmara da presença do rei. Esta apresentação ao 
trono real é efetuada por alguém que está junto do próprio monarca. É 
Jesus que nos leva a Deus (cf. Ef 2.18-3.12). O apóstolo descreve pelo 
termo graça o favor ativo do Pai para com os que crêem (2; cf. Gl 5.4; 
1Pe 5.12). Os justificados são introduzidos num estado de graça que 
produz segurança e confiança. 
Um terceiro resultado de se estar em relações justas com Deus é 
gozo, triunfo baseado na esperança e vitorioso sobrea tribulação (2-3). 
Os que crêem exultam na esperança da glória de Deus (2). “Gloriam-se 
na glória” (cf. 3.23), que um dia será a coroa e a consumação de todas as 
coisas para os justificados. Também se ufanam até das tribulações, 
porque as aflições produzem muitas qualidades excelentes nos que 
crêem, os quais sabem que os sofrimentos produzem paciência, e tal 
perseverança (cf. 2.7) leva a um caráter provado, e esta experiência 
provada (cf. 2Tm 2.3) traz esperança. (Paulo usa outra vez este estilo de 
encadeamento no cap. 10.13-15; cf. também 2Pe 1.5-7). Esta elevada 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 30 
esperança não acarreta vergonha nem se mostra ilusória (cf. 2Co 7.14; 
9.4) porque as almas dos que crêem estão inundadas do amor de Deus, 
que é de fato, a presença do Paráclito (5). Os justificados se tornam 
cônscios do amor de Deus para com eles mediante o Espírito habitando 
no seu íntimo. (Cf. a bem-aventurança do homem a quem Deus atribui 
justiça independentemente de obras; 4.5-8). Note-se que nesta epístola é 
esta a primeira vez que Paulo se refere ao Espírito Santo. 
 
 2. A SEGURANÇA DOS CRENTES (5.6-11) – Os que crêem, 
estando de relações ajustadas com Deus, gozam esse novo estado, sua 
posição na graça, com perfeita segurança. Isso lhes está garantido, de um 
lado pela morte de Jesus Cristo na cruz (6-8), e, de outro lado, pela vida 
de ressurreição do mesmo Salvador (9-11). 
Cristo morreu pelos ímpios (6; cf. verso 8). A morte de Cristo na 
cruz foi por nós, primeiro, quando éramos fracos (6); isto é, quando 
éramos incapazes de nos salvar a nós mesmos por mérito legal, e éramos 
com efeito ímpios (6), pecadores (8) e inimigos (10). 
 Em segundo lugar, foi por nós a seu tempo (6). Essa época 
apropriada, o «momento psicológico» do relógio do mundo, é 
freqüentemente expressa por Paulo (cf. Gl 4.4; Ef 1.10; 1Tm 2.6; 6.15; 
Tt 1.3). Por nós, então, na plenitude dos tempos, Cristo morreu, embora 
não somente nada tivéssemos que nos recomendasse, mas na verdade 
tínhamos tudo contra nós. No verso 7 o apóstolo estabelece um contraste 
entre o homem justo e o homem bom. Por um dificilmente alguém 
morreria; pelo outro alguém poderia animar-se a morrer. O justo é 
aquele que guarda a lei, modelo de rigoroso dever. O bom é aquele que 
em espírito e, por disposição própria, excede as justas exigências da lei 
(cf. Mt 5.20). 
 Muito mais agora (9). Paulo prossegue em afirmar a segurança da 
justiça do crente com um triunfante argumento a fortiori. O amor de 
Deus por nós, indignos e rebeldes pecadores, é atestado pelo sacrifício de 
Seu Filho em nosso lugar, a morte na cruz que nos leva a uma 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 31 
completamente nova relação com Ele. Este admirável amor de Deus, 
pondo-nos em justas relações com Ele, é o maior fato de nossa salvação, 
maior do que nossa nova vida. 
 Deus operou reconciliação pela morte de seu Filho quando 
estávamos em incredulidade hostil (10). Muito mais agora Deus será 
capaz de manter-nos em paz consigo, como Seus amigos, pela vida do 
Seu Filho. Se Deus pode realizar nossa justificação, sem dúvida alguma 
também pode levar a efeito nossa santificação. A idéia é toda de vida, a 
vida do crente por intermédio da vida do Salvador. Paulo não emprega o 
termo «Santificação» avaliando o que é maior e o que é grande. Ele põe 
em contraste a justificação e a salvação. Mas este último termo tem o 
sentido de santidade progressiva. Em união com Cristo como Senhor 
vivo, somos potenciados a viver uma vida santa de vitória moral e 
espiritual, de modo que, em nossa personalidade santificada, escapamos 
da ira de Deus no dia do juízo, mediante o mérito e a mediação de Jesus 
Cristo. 
 Essa obra levada a efeito na cruz, que ajusta as relações dos 
crentes com Deus e envolve a conservação dessas relações mediante a 
vida de Jesus, é fonte de gozo constante (11). Essas relações são 
designadas pelo termo expiação (ARC - «reconciliação»). O grego 
katallage significa “mudança” ou “troca”; daí vem que, quando se diz de 
pessoas, uma mudança de inimizade para amizade, é reconciliação. 
Implica uma mudança de atitude da parte de Deus e do homem. A 
necessidade de mudança do lado humano é óbvia; porém muitos 
teólogos negam qualquer necessidade disto do lado divino. O amor de 
Deus é permanente e Ele em Si mesmo é imutável. Note-se, no entanto, 
que o apóstolo fala de sermos recipientes (gr. elabomen) de uma 
reconciliação que Deus livremente nos dá. Implícita na doutrina da 
justificação está a nova atitude de Deus para com o pecador, na base do 
mérito de Jesus Cristo. 
 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 32 
 3. JUSTIÇA PELA GRAÇA (5.12-21) – O apóstolo conclui esta 
seção, da justiça do crente, frisando que é na verdade uma posição na 
graça, visto que é realizada mediante a graça (vv. 15-20). O canal da 
justificação é por meio de uma Pessoa pelo dom gratuito de Deus, 
princípio este que leva Paulo a discutir os dois cabeças da raça humana, 
Adão e Cristo (cf. 1Co 15.21 e segs.). Note-se a construção da passagem. 
Depois de declarar a verdade da universalidade do pecado e sua 
penalidade mediante Adão (12), o apóstolo faz uma digressão em 
parêntese (13-17), e volta ao seu argumento nos vv. 18-19. Temos no 
verso 12 um anacoluto gramatical. Não há oração correlativa para a 
cláusula que começa “assim como”, a qual descreve Adão como tipo 
dAquele que teria de vir. Essa locução conjuntiva “assim como” não 
encontra sua correlativa senão no verso 18, depois de fechado o 
parêntese que tratou de algumas dificuldades. 
 A passagem decisiva é o verso 12, onde e apresentada a doutrina 
da relação de um para com muitos. Ênfase especial é dada às duas 
preposições usadas no grego, dia, “através de”, e eis, “para dentro”, 
pelas quais se indicam um canal e uma passagem. Por um homem, como 
canal, o pecado entrou no mundo (kosmos) e, pelo pecado, a morte, 
como penalidade. O mundo até então fora declarado “muito bom” pelo 
Criador, mas agora, pela transgressão de Adão, o pecado e a morte 
entraram nele. O ponto a que Paulo quer chegar é que todos estão 
envolvidos no pecado de Adão, todos pecaram nele e com ele. A 
humanidade não é considerada apenas como havendo pecado e sido 
debitada legalmente pela transgressão de Adão, porém todos são 
declarados como havendo real e ativamente pecado juntamente com 
Adão. 
 Esta declaração dogmática leva o apóstolo a um parêntese, onde 
ele enfrenta duas dificuldades. A primeira é que até ao tempo de Moisés 
a lei não houvera sido declarada. Como não havia lei, não podia haver 
pecado. O apóstolo aceita o argumento, admitindo que o pecado não é 
levado em conta quando não há lei (13); isto é, não é considerado 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 33 
como culpa, envolvendo penalidade. Em segundo lugar, ele argumenta 
que, houvesse ou não houvesse lei, a penalidade de Adão veio operando 
desde o tempo deste. Ninguém podia negar a universalidade da morte, e 
Paulo endossa a doutrina de que a morte e a sentença de Deus sobre o 
pecado, embora não houvesse lei até ao tempo de Moisés, e se bem que 
os que assim sofriam essa pena não houvessem transgredido à 
semelhança do pecado de Adão, isto é, comendo o fruto proibido (14). 
Comentando este verso 14, alguns argumentam a favor da universalidade 
do pecado, porém não de sua originalidade. Isto seria negar nossa 
unidade em Adão, a qual é tipo da unidade dos remidos em Cristo. 
 Até aqui Paulo está traçando uma comparação entre Adão e Cristo. 
Ambos, por um simples ato, influenciaram a raça inteira. Agora segue-se 
o contraste. O efeito do pecado de Adão é a morte; o efeito da justiça de 
Cristo é a vida. Paulo, porém, não o formula nestes termos. 
 Declara que o resultado é graça abundante ou transbordante, ou 
seja o dom pela graça (15), que adiante é definido, no verso 17, como o 
dom da justiça. A sentença era de um para a condenação de todos; o 
dom gratuito era de muitas transgressões para um pronunciamento de 
justificação (16).O grego dikaioma, não o costumeiro dikaiosis, 
traduzido simplesmente justificação, significa uma sentença judicial, ou 
decreto, ou ato de justificação, ou ajustamento de relações com Deus. A 
mesma palavra grega ocorre em 1.32-2.26; 8.4, a qual a ARA traduz por 
«sentença» ou “preceito”. O contraste entre Adão e Cristo é ainda 
desenvolvido no verso 17, onde um estabelece o reinado de pecado e 
morte, e o outro o reinado de graça e vida. A união com Cristo anula 
eternamente a união pecaminosa com Adão. 
 Paulo agora retoma o principio declarado no verso 12, 
reafirmando-o e adicionando a outra cláusula do paralelismo, assim 
também pela justiça de um veio a graça sobre todos os homens para 
a justificação que dá vida (18). A ofensa de um... a justiça de um 
(18). A diferença é entre agente e ato. 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 34 
 A suma de toda a comparação e contraste entre Adão e Cristo vem 
declarada no verso 19, como conclusão do argumento de que a justiça do 
crente provêm da graça. Resta-nos, o problema da relação de Adão e 
Cristo com o gênero humano, pela qual o pecado, de um lado, e a graça, 
de outro, são transmitidos. A imputação é um conceito legal e não 
satisfaz completamente. A teoria de chefia (cabeça) federal ajuda. Paulo 
ensina alhures que essa chefia espiritual de Cristo antecipou-se à chefia 
física de Adão (cf. Ef 1.4; Cl 1.15-17; ver também Jo 1.1-5). Todavia, 
das deduções que tira do fato, o apóstolo indica uma relação mais íntima, 
porque a humanidade não tem poder de escolha para comissionar seu 
representante. O fato científico da solidariedade da raça oferece a melhor 
solução. Como o todo está contido no germe, a árvore na semente, assim 
toda a humanidade reside em Adão e, pela graça mediante a fé, também 
em Cristo. Assim como somos um organismo físico, também somos um 
organismo espiritual. 
 Paulo conclui esta seção da justiça do crente acrescentando uma 
nota sobre a função da lei. “Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; 
mas onde abundou o pecado, superabundou a graça; a fim de que, como 
o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça 
para a vida eterna, mediante Jesus Cristo nosso Senhor”. A graça não é o 
fim, porém, mediante a justiça, tem sua consumação na vida eterna. 
 
Romanos 6 
III. PROBLEMAS DE ÉTICA LEVANTADOS PELO 
EVANGELHO - 6.1-23 
 
 Prossegue Paulo na defesa da doutrina da justificação pela fé 
contra a acusação de ser ela incompatível com a moralidade comum. E o 
faz afirmando a doutrina da santificação. Não se trata de mera seqüência 
teórica da justificação; é um fato nítido da experiência do apóstolo. 
Como os vv. 1-11 mostram, Paulo não somente sabia o que significava 
ajustar relações com Deus, mas igualmente o que era manter-se nessa 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 35 
posição. Ver também 7.7-25. “Tinha em tão alta estima o Espírito de 
Cristo como poder de santidade, quanto o sacrifício do mesmo Cristo 
como razão para o perdão de seus pecados”. Este problema de ética 
assume duas formas. Primeiro, ser considerado justo por Deus não é 
apenas estimular o pecado? Segundo, não resulta em depravação? 
 
a) A acusação de licenciosidade (6.1-14) 
 
 A doutrina de Paulo sobre a justificação - argumenta o 
impugnador - implica em “quanto mais pecado, tanto mais graça”. Se 
mais pecado significa mais graça, por que não continuar pecando? A 
réplica do apóstolo centraliza-se no fato da união do crente com Cristo. 
Esta relação mística com o Salvador é apresentada aqui pela primeira vez 
nesta epístola. O pensamento característico do apóstolo é ilustrado no 
rito do batismo por imersão. Nesta os três movimentos são simbólicos: 
para dentro d'água - morte; debaixo d'água - sepultamento; fora d'água - 
ressurreição. 
 Ser batizado em Jesus Cristo é entrar em união com a Sua morte 
(3), Seu sepultamento (4) e Sua ressurreição (5). O sepultamento é de 
fato uma confirmação da realidade da morte. A morte de Cristo dizia 
respeito ao pecado. Foi o sacrifício pelo qual o pecado foi extinto (cf. Hb 
9.26). 
De uma vez para sempre morreu para o pecado (10) (cf. 1Pe 
3.18; Hb 7.27; 9.12-28-10.10). A ressurreição assinalou sua entrada 
numa nova vida “à parte o pecado”. Nessa conformidade, o crente passa 
pelas mesmas experiências. O resultado da justificação é a vida de 
santificação. Deus não somente ajusta nossas relações consigo, mas 
conserva-nos nessa posição. Sua justiça primeiro é imputada, depois é-
nos comunicada. Até aqui Paulo está tratando da parte de Deus na 
santificação mediante a união com Cristo operada pela fé. Agora, nos 
versos 12-14, declara o aspecto humano dessa transação. O esforço 
moral é necessário na justiça progressiva do crente. 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 36 
 Este não deve apresentar seus membros como instrumentos de 
iniqüidade (13). Trata-se de pecado habitual (gr. paristanete; tempo 
presente, ação continuada). A segunda apresentação, como 
instrumentos de justiça, é “um ato de escolha” (gr. parastesate; 
pretérito de ação completa) pelo qual os crentes se entregam 
definidamente a uma vida de santidade, embora que não continuamente 
isenta de pecado. «Não prossigais apresentando vossos membros ao 
pecado como armas de iniqüidade. Apresentai-vos definitivamente a 
Deus». 
 A transição para o próximo aspecto do problema de ética acha-se 
no verso 14, onde Paulo exulta com a certeza de justiça progressiva, e 
exclama: “O pecado não terá domínio sobre vós. Não estais debaixo da 
lei e, sim, da graça”. O “não farás” da lei deve ceder lugar ao poder do 
Espírito. 
 
b) A acusação de revolta contra a lei (6.15-23) 
 
 Outra vez se alega que este evangelho da “justiça de Deus” resulta 
em completo desrespeito à lei. Esta é a principal acusação judaica à 
doutrina da graça ensinada por Paulo. Ora essa! a lei agora pode ser 
desconsiderada e o pecado, estimulado. Temos aí a heresia do 
antinomianismo. 
 Paulo responde à objeção contra a livre graça dizendo que, embora 
seja verdade que o crente não está sob a lei, mas sob a graça isto não 
significa que ele esteja sem lei. Deve lealdade a Deus. De dois possíveis 
senhores, um exerce domínio sobre nós – Deus ou o pecado (16). Para 
esclarecer o ponto, o apóstolo ilustra com a lei da escravatura, vigente 
em seus dias. Um escravo podia comprar sua liberdade, pagando seu 
preço ao templo, isto é, dava o dinheiro do seu resgate a algum deus ou 
deusa, e por essa forma reivindicava sua liberdade; mas o dinheiro ia de 
fato parar, por via do templo, às mãos do senhor. Assim a divindade 
resgatava o escravo do poder de seu senhor, e ele ia embora liberto, se 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 37 
bem que ainda escravo do deus. De semelhante modo, o crente é livre no 
sentido de se haver tornado escravo de Deus. Não é um irresponsável, 
sem senhor, porque Jesus é o Senhor de toda a sua vida. O apóstolo 
reconhece a insuficiência da analogia, lembrando porém aos leitores que 
ele fala como homem (cf. Gl 3.15) e, devido à fraqueza de vossa 
carne, isto é, a imaturidade deles (19). Paulo conclui seu argumento 
apelando para resultados ou frutos dos dois serviços, pecado ou justiça. 
Aquele dá lugar a vergonha e morte; esta resulta em santificação e vida 
eterna. 
 
IV. O CRISTÃO E A LEI - 7.1-8.39 
 
 Outra dificuldade envolvida na doutrina de ser a «justiça de Deus» 
um dom gratuito, ou «justificação somente pela fé», era a posição 
ocupada pela lei. Esta quase que era adorada pelos judeus, sendo pura 
blasfêmia dizer que a fé tomava o seu lugar. Paulo agora passa a tratar 
desta questão de revogação da lei. 
 
Romanos 7 
a) A lei só é válida enquanto vivemos (7.1-6) 
 
 Emprega a ilustração da viúva emancipada, livre da lei do marido, 
por morte deste. Fica livre para casar de novo. A lei é suplantada, não 
vigora mais neste caso. De igual modo os crentes morrem 
relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo (4); isto é, quer seja 
por causa da cruz, quer seja por meio da Igreja. Esta segundainterpretação da frase deve ser preferida. O “vós” torna-se “nós” (4) em 
virtude de virmos a pertencer ao corpo de Cristo, a totalidade de cujos 
membros constitui o corpo de que Cristo é a Cabeça. A idéia da analogia 
é que o crente, morrendo relativamente à lei, fica livre para se unir ao 
Senhor ressuscitado. O apóstolo aqui substitui o pecado pela lei; a 
mortificação do pecado, acompanhada de vida para a justiça, foi objeto 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 38 
do seu ensino no capítulo precedente. Agora insiste na emancipação pela 
morte. 
Segundo a carne (5) quer dizer a vida de indulgência pecaminosa; 
seu oposto é “segundo o espírito”. “Paixões pecaminosas” (5). Os dois 
estados de escravidão são outra vez contrastados pelas frases novidade 
de espírito e caducidade da letra (6); representam o estado da graça e o 
estado da lei. 
 
b) Lei e pecado não são sinônimos (7.7-25) 
 
 Como vimos, Paulo em seu argumento substituiu o «pecado» pela 
“lei”. Este fato fez surgir, fosse no seu próprio espírito, fosse no dos seus 
críticos, a pergunta É a lei pecado? São idênticas as duas coisas? O 
homem regenerado morre para o pecado e para si mesmo, e assim morre 
para a lei. Qual é pois a relação que há entre pecado e lei? O apóstolo 
define a conexão entre os dois partindo de sua própria experiência 
pessoal. Nessa conformidade, este trecho é altamente autobiográfico, 
embora alguns comentadores tenham pensado que Paulo fala aí de modo 
genérico. O melhor parecer é que é o homem regenerado que aí fala de 
sua própria experiência. Não temos descrição da experiência da 
irregeneração per se, senão o retrospecto do homem justo, visto que 
somente este está em condições de avaliar a escravidão do pecado. Paulo 
considera típica sua própria experiência. A verdadeira relação entre a lei 
e o pecado é apresentada sob três aspectos. 
 
 1. A LEI REVELA O PECADO (7.7-8) – Eu não teria conhecido 
o pecado (má concupiscência ou cobiça) se a lei não dissera (7). Se não 
houvesse lei, não teríamos consciência da força do pecado, e assim 
estaríamos desapercebidos de sua existência. É isto com efeito um 
truísmo de ética, que não precisa de comentário. 
 O pecado, tomando ocasião (8-11). O pecado, como qualquer 
estrategista militar, fez da lei uma espécie de “base de operações”. É este 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 39 
o sentido literal da palavra grega aphorme quando aplicada a operações 
militares. Significa “ponto de partida” e, assim, metaforicamente, 
“ocasião”, “incentivo”, “oportunidade” (cf. 2Co 11.12; Gl 5.13). A alma, 
ignorando as proibições da lei, sente-se feliz no pecado que ela não 
reconhece; quando porém surge o conhecimento do pecado, este rebela-
se contra a lei, que prossegue dizendo “Não farás” isto nem aquilo. E 
desta forma o pecado opera toda sorte de concupiscência (8). 
 
 2. A LEI ESTIMULA O PECADO (7.9-13) - Outrora, diz Paulo, 
eu vivia livre de qualquer consciência de pecado. Eu realmente vivia 
alheio à lei. 
 Mas, sobrevindo o preceito (isto é, uma particular injunção da 
lei), reviveu o pecado (gr. anazen, dar um salto para a vida) e eu morri 
(9). A experiência do apóstolo era que a lei, decretada para promover a 
vida (cf. 10.5; Lv 18.5) pela obediência, resultou para ele em morte. 
Com efeito, mediante a lei, o pecado seduzindo-o (Cf. Gn 3.13; 2Co 
11.3; 1Tm 2.14) matou-o (11). Esta morte não significa atrofia ou 
paralisia de uma ou outra função vital. Quer dizer morte completa, aquilo 
mesmo que impelira Paulo a perseguir freneticamente o Caminho, 
naquela mania de ódio, da qual só o Senhor o «curou» com a visão da 
estrada de Damasco. Toda cobiça gerada pela lei (isto é, má 
«concupiscência») devia apresentar-se com novo aspecto de hediondez à 
vista do cristão, ao olhar ele para o passado do perseguidor feroz, como 
Paulo por certo olhou retrospectivamente para Saulo e compreendeu a 
miséria do seu ódio. O apóstolo insiste que a lei, no todo ou em parte, é 
santa, justa e boa (12). O fim que se propõe é conceder vida. Apenas 
quando pervertida pelo pecado e tornada subserviente ao engano deste é 
que ela opera a morte. O pecado é a maldade que pôs emboscada a Saulo 
e o matou. A intenção divina era mostrar o pecado em suas verdadeiras 
cores, como já foi declarado (13; ver vers. 7-8). O pecado, porém, 
transformou a lei, bênção de Deus, em maldição. 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 40 
 3. A LEI ENTRA EM CONFLITO COM O PECADO (7.14-25) - 
O apóstolo atinge agora o âmago de sua amarga experiência. Confessa 
que vê o melhor e o aprova, mas inclina-se para o pior. Descobre a 
diferença que existe entre a natureza da lei e sua própria natureza. 
 O espiritual e o carnal (14) opõem-se entre si: um é do Espírito, 
o outro é da carne, Paulo continua numa descrição clássica de dupla 
consciência, para traçar seu conflito íntimo entre o que os psicólogos 
chamam eu organizado e desorganizado. O eu real centraliza-se num 
ideal, que no caso de Paulo é Cristo, ou a lei santa e boa. O pecado, 
personificado no retrato gráfico e emocional, é o eu desorganizado que 
definitivamente não é o Paulo que ele anseia ser. 
 Quando faz o que não aprova declara que não é mais ele que o 
faz, e sim o pecado (20), identificado aqui com a sua individualidade 
inferior ou desorganizada. 
 A experiência do apóstolo provê um princípio que vem enunciado 
no verso 21, o qual opera por toda a vida. “Para estar salva do pecado, a 
pessoa precisa reconhecê-lo seu e ao mesmo tempo renegá-lo; é este 
paradoxo prático que se reflete neste versículo” (James Denney). A 
expressão emocional deste conflito íntimo e dupla consciência culmina 
num brado de aflição ou desespero (24). Paulo torna a viver a 
experiência, apresentada como típica, de ser pecador convicto. 
 Desventurado homem que sou! quem me livrará do corpo 
desta morte? (24). O corpo é o instrumento do pecado e cujo destino é a 
morte. Tão repulsivo é o pecado e tão sinônimo de morte, que Paulo se 
agonia por se livrar deste corpo, que ele em seu horror sente que é morte. 
E vem a seguir a reação repentina no hino de louvor, visto que a salvação 
inunda sua alma. “Graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor”. 
 
Romanos 8 
c) A lei é dominada pela graça (8.1-39) 
 A lei, embora revele e excite o pecado e cause divisão na 
personalidade, é ainda, no seu propósito, santa e boa. Seria amiga do 
Romanos (Novo Comentário da Bíblia) 41 
homem, se tivesse permissão de operar; mas é enferma pela carne (3). 
Contudo, mediante Cristo, é forte e condena o pecado na carne, porque 
Cristo é absolutamente justo e reside em nosso íntimo. Também estamos 
em Cristo e, por esta união, cumprimos a lei (1-4). A obediência de 
Cristo é nossa obediência. Satisfazemos, deste modo, os reclamos da lei 
e desarmamo-la. Assim, neste capítulo o apóstolo traça o curso da vida 
cristã, na qual a graça triunfa sobre a lei, e os crentes experimentam 
livramento do pecado. 
 
 1. O FRACASSO DA LEI (8.1-4) – O sistema anterior de vida, 
mediante a obediência à lei, manifestamente nunca logrou êxito. Agora 
prova-se bom pela encarnação de Jesus e a presença do Espírito. A lei é 
incapaz de conferir benefícios, mas o que ela falhou em fazer, a graça 
realizou mediante Cristo e o Espírito Santo. A vida triunfante começa 
aqui e agora na ausência de qualquer sentença por desajustamento com 
Deus. Unido a Cristo, o crente é absolvido e está livre para sempre da lei 
do pecado e da morte. A justa exigência da lei, uma vida reta, é levada a 
cabo não “por” nós, mas em nós (4). 
 Isto é o que fora impossível à lei (3). A idéia é mais de 
inabilidade inerente da lei em fazer algo no sentido de uma vida santa, 
do que meramente de sua impotência por fazer o que Cristo realizou. O 
fracasso da lei é absoluto. A nova lei sob que estamos é a lei do Espírito 
da vida em Cristo Jesus, a qual emancipa da lei do pecado e da morte 
(2). O pecado é estranho à vida humana. É um intruso. 
Enviando Seu Filho em semelhança de carne pecaminosa

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