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, CURSO DE HUMANÍSTICA Professor Filippe Augusto Defensor Público Federal. Mestre e Doutorando em Direito. Autor da obra “Direitos Fundamentais e sua Dimensão Objetiva”. DIVISÃO DO NOSSO ESTUDO 1. Sociologia do Direito 2. Teoria Geral dos Direito e da Política 3. Filosofia do Direito 4. Psicologia Judiciária 5. Ética e Estatuto da Magistratura Nacional Filosofia do Direito 1 – Conceito de Justiça; 2 – Sentidos de Justiça: lato, como valor universal; estrito, como valor jurídico-político; 3 – Evolução Histórica da Justiça na Filosofia do Direito; 4 – O Conceito de Direito: Evolução básica dos modelos de Direito; 5 – Direito e Moral; 6 – Hermenêutica Jurídica. Filosofia do Direito 1 – Conceito de justiça Acepções: a) Justiça como retribuição; b) Justiça como Igualdade; c) Justiça como Liberdade; d) Justiça como reciprocidade. - “Faça com os outros o que gostaria que fizessem com você” (Ulpiano); - Imperativo categórico de Kant. 2 - Sentidos de Justiça: lato, como valor universal; estrito, como valor jurídico-político; Sentidos de Justiça: a) Justiça como valor absoluto; b) Justiça como valor relativo. 3 – Evolução Histórica da Justiça na Filosofia do Direito; 3.1 – Filosofia do Direito Grega A) PRÉ-SOCRÁTICOS No período pré-socrático, com relação ao Direito, destaca-se o pensamento de Pitágoras, que, como matemático, compreendia que a essência de todas as coisas era o número, defendendo a ideia de que Justiça era uma formula aritmética, uma equação para se chegar à igualdade. Posteriormente, em período paralelo à Sócrates, mas de modo antagonista a ele, destacam-se os Sofistas. Os sofistas não formam uma corrente de pensamento, eles são um grupo heterogêneo de pensadores. Há um ponto, todavia, que os une, a negação a ideias absolutas. Protágoras, Górgias, Pródico, Hípias, Trasímaco e Crátilo; Individualistas e Subjetivistas; Relativistas; “Justo é o que favorece o poderoso” (Trasímaco) B) OS IDEALISTAS Sócrates, Platão e Aristóteles. Idealistas e Organicistas; Para Sócrates, Justiça é cumprir a lei da polis. A obediência às leis é a condição necessária, mas não suficiente para realizar a justiça. Para Platão Justiça era cada um fazer o que lhe cabe. Cada um deveria cumprir o seu papel social para garantir o desenvolvimento da polis. Como ele defendia um formato de sociedade de formato e divisão social do trabalho rígida: Uns trabalham (artesãos e artífices), outros lutam (guerreiros) e outros pensam e governam (sábios). Assim, a Justiça estava em cada um seguir rigidamente os seus papeis. Para Aristóteles, mantendo o organicismo dos idealistas e considerando o ser humano como um animal político (ninguém é capaz de existir de forma independente), a Justiça é a virtude que procura resolver o problema da dependência mútua entre as pessoas, sobretudo como os recursos limitados devem ser partilhados. Por exemplo, as riquezas, os alimentos, as condições sociais, os cargos dentro do Estado, dentro do governo, são recursos escassos e finitos. Para Aristóteles, o objetivo de toda virtude, inclusive da virtude da justiça, é evitar o excesso. Tudo deve ser na medida certa, de forma racional, nada em demasia. O bom, o virtuoso é o meio termo (mesótes). O caminho do meio é o caminho da virtude, porque nele está o equilíbrio. O primeiro sentido de justiça para Aristóteles é designado como justiça em sentido lato ou justiça universal e se concretiza a partir do momento em que o indivíduo cumpre as leis uma vez que as leis eram aquilo que garantia o bem comum da cidade. Em segundo lugar, existe a justiça em sentido estrito ou justiça particular. Enquanto para a justiça em sentido amplo o justo é cumprir a lei, no sentido estrito, o cerne da justiça consiste em distribuir de modo justo. A justiça particular se subdivide em duas espécies: a) a justiça comutativa ou corretiva; b) a justiça distributiva. A justiça comutativa é aquela típica das relações privadas. Essa justiça atua na relação indivíduos x indivíduos, que é a relação própria dos contratos. Ela funciona a partir de uma idéia de igualdade simples (igualdade aritmética). Ex: a lesão tem que ser retribuída de um modo equivalente. Se eu leso o patrimônio de alguém em 100 eu devo restituir 100. Por outro lado, na justiça distributiva a relação se estabelece entre Estado e indivíduo. A justiça distributiva trabalha com a questão de como organizar uma sociedade e como se deve distribuir a riqueza (igualdade geométrica). Por exemplo, a forma de se realizar a distribuição de riqueza, de cargos públicos, de vagas nas universidades públicas. Por fim, é importante arrematar que a noção de justiça para Aristóteles é lapidada pelo conceito de equidade. Para ele, a equidade é uma espécie de corretivo da justiça. Ela corrige os rumos da justiça dando o equilíbrio final na busca pela igualdade. (TJ-AM-2013). 3.2 - Filosofia do Direito Medieval Cristianismo; Organicismo cristão. Agostinho (354 – 430) Patrística; Civitas Dei: CIDADE DE DEUS X CIDADE DOS HOMENS Tomás de Aquino (1225 – 1274) Escolástica; Suma Teológica: Lei Eterna; Lei Natural e Lei Humana 3.3 - Filosofia do Direito Moderna 3.3.1 – Os Absolutistas A) Jacques Bossuet B) Thomas Hobbes Estado de Natureza; Lupus est homo homini lupus; Contrato Social. 3.3 - Filosofia do Direito Moderna 3.3.2 – Os Iluministas A) Locke Segundo Tratado sobre o Governo; Liberdade Religiosa; Estado Liberal; Contrato Social; Direitos Individuais; Bill of Rights. B) Rousseau Liberdade no direito da natureza; “O mais forte nunca é bastante forte para ser sempre senhor, se não transformar sua força em direito e a obediência em dever.” Contrato Social; Vontade Geral. C) Kant Ouse Saber (Sapere Aude)! Imperativo Categórico x Imperativo Hipotético; “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”. Dignidade Humana; Prevalência do Direito à Liberdade. D) Jeremy Bentham Utilitarismo; Busca da felicidade e do bem comum; Sanção estimula o cumprimento do Direito; Controle Social; Panóptico: a instituição total; Teoria da Bomba Relógio. 3.3 - Filosofia do Direito Contemporânea A) Kelsen Desconfiança do conceito de Justiça; Crítica à Justiça de Platão e de Aristóteles “O misticismo platônico, a mais completa expressão do irracional, é a justificação da sua doutrina política antidemocrática; é a ideologia de todas as autocracias”; Quanto à fórmula da justiça de Aristóteles (de caráter essencialmente retributivo: “dar a cada um o que lhe é devido“) Kelsen sublinha que seja conveniente tanto porque essa fórmula torna possível negar o Estado e o Direito. Para ele, tem-se assim mais uma “fórmula vazia” de justiça. Crítica à Justiça em Kant Kelsen comenta a fórmula kantiana do imperativo categórico (“aja de acordo com a máxima que você possa desejar que se transforme em lei geral”) (...). Segundo Kelsen, nada se pode deduzir dessa fórmula vazia. Kelsen ainda afirma que todo regulamento de toda e qualquer ordem social é compatível com esse princípio, uma vez que expressa, “unicamente, que o homem deve agir de acordo com normas gerais” (2001:19) Relativismo Axiológico e Teoria Pura do Direito Para Kelsen, necessariamente, uma concepção que pregue universalismo ou a “absolutização” de uma ideia de justiça estaria condenada à crítica de sua própria racionalidade. B) John Rawls Liberal; Busca um conceito político para Justiça; Premissas: “Posição Original” e o “Véu da Ignorância”; “Princípio da Liberdade” e “Princípio da Igualdade”; “Princípio da Igualdade: igualdade de oportunidades e distribuição equitativa de riqueza (princípio da diferença – acesso a bens primários). A Justiça é Equidade. 4 – Conceito de Direito 4.1 – Jusnaturalismo (TJ-SP-2015). Características: 1) Conjunto de normas ou de primeiros princípios morais, que são imutáveis, consagrados ou não na legislação da sociedade,visto que resultam da natureza das coisas e do homem, sendo por isso apreendidos imediatamente pela inteligência humana como verdadeiros. 2) A lei natural é imutável. O direito natural, imanente à natureza humana, independe do legislador humano. Espécies: A) Base Teológica; B) Base Racional. 4.2 – Juspositivismo O respeito à norma posta. Escola da Exegese x Positivismo. Positivismo Científico de Kelsen – A Teoria Pura do Direito Fazer do Direito Ciência Objeto do Direito Ciência; Purificação do Direito; Ordenação Normativa do Direito; Estática e Dinâmica Jurídica (TJ-SE-2016); Norma Fundamental e Norma Hipotética Fundamental (TJ-SE-2016); Neutralidade do Interprete (TJ-MS-2012). á 4.3 – Pós-Positivismo Ronald Dworkin e Robert Alexy Reaproximação entre Direito e Moral; Ressignificação do Conceito de Norma; Norma: Regra e Princípio (TJ-MS-2015); Distinções: Grau de Abstração; Comandos Prescritivos ou normas prima facie; Tudo ou nada ou ponderação; Mandamentos de Otimização. Criticas atuais à Distinção. 5 – Direito e Moral - Direito: Exterioridade: o Direito ocupa-se apenas do fórum externum; Bilateralidade: as normas jurídicas ao mesmo tempo que impõem um dever jurídico a alguém, atribuem um poder ou direito subjetivo a outrem. O direito é bilateral; Heteronomia; Coercibilidade Institucionalizada; - Moral: A Moral é axiologia; A Moral volta-se para o fórum internum; As sanções são diferenciadas das jurídicas: consciência, vergonha, rejeição social; Unilateral: A Moral impõe deveres apenas. Perante ela, ninguém tem o poder de exigir uma conduta de outrem; Espontaneidade; Conduta interior. Teorias dos Círculos: 1) Círculos Concêntricos de Jeremy Bentham, segundo a qual a ordem jurídica estaria incluída totalmente no campo da Moral. Os dois círculos (Moral e Direito) seriam concêntricos (que têm o mesmo centro), com o maior pertencendo à Moral. Assim, o campo moral é mais amplo do que o do Direito e este se subordina à Moral. 2) Círculos Secantes de Claude Du Pasquier, segundo a qual Direito e Moral coexistem, não se separam, pois há um campo de competência comum onde há regras com qualidade jurídica e que têm caráter moral. 3) Círculos Independentes de Kant e de Hans Kelsen, diz que há total separação entre Direito e Moral, sendo aquele baseado na imposição normativa e esta nos princípios éticos. 4) A Teoria do Mínimo Ético Esta teoria foi desenvolvida por Georg Jellinek com base na teoria dos círculos concêntricos, segundo a qual o Direito representa apenas o mínimo de moral obrigatório para que a sociedade possa sobreviver. Assim sendo, o Direito seria inspirado pela Moral, mas poderia ser cumprido sem qualquer adesão voluntária por questões morais. 5) Direito e Moral em Dworkin Para Dworkin, a escolha da melhor concepção é uma questão de moralidade política. Para refletir sobre a relação entre moral e direito e sobre os métodos utilizados pelos juristas para fundamentar suas decisões, o autor busca desenvolver uma teoria geral do direito, desenvolvida ao longo de vários estágios, quais sejam o estágio semântico, no qual é definido o conceito que servirá de pressuposto à teoria; o estágio teórico, no qual deve ser elaborado o tipo de teoria do direito apropriada; o estágio doutrinário, no qual são elaboradas as descrições das condições de veracidade das proposições de direito levando em consideração os valores identificados na fase anterior; e o estágio da decisão judicial, em que é analisado como e por que as autoridades devem decidir em casos específicos. A questão da decisão judicial, tal como posta por Dworkin, é uma questão não só jurídica, mas política e moral, buscando esclarecer quando, e se, a moral autoriza o juiz a julgar de forma independente da lei e até mesmo contra ela. (TJ-AM-2013) 6 – Hermenêutica Jurídica 6.1 – Conceitos Básicos Hermenêutica x Interpretação; Interpretação x Aplicação; Interpretação x Integração (TJ-RR-2015); Analogia x Interpretação analógica. MODOS DE INTEGRAÇÃO DO DIREITO: A – INSTRUMENTOS QUASE-LÓGICOS: Exigem alguma forma de procedimento analítico, mas não obedecem estritamente ao rigor da lógica formal ANALOGIA INDUÇÃO AMPLIADORA INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA B – INSTRUMENTOS INSTITUCIONAIS Emanam da concepção de certa instituição: COSTUMES EQUIDADE PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO Espécies de Interpretação: o Qto à origem: Judiciária; Legal (ou Autêntica) ; Administrativa e Doutrinária; Kelsen: interpretação autêntica e não-autêntica. A primeira é realizada pelo órgão aplicador (“’órgãos’ encarregados ‘burocraticamente’ da tarefa de ‘aplicar’ o direito”), enquanto a segunda, por uma pessoa privada, que não seja um órgão jurídico, e pela ciência jurídica (“destinatários não especializados afetados pelas normas jurídicas”). o Qto à Extensão: Declarativa; Extensiva; Restritiva e progressiva. 6.2 – Equidade Acepções Filosóficas: - De Aristóteles (Justiça do caso concreto) a John Rawls (fórmula de construção de uma sociedade ideal). Acepções Técnico-Jurídica: a) Decisão com equidade: é a decisão jurídica que pretende estar em harmonia com o ideal supremo de justiça; b) Decisão por equidade: com base na subjetividade do julgador, desapegado das regras de direito positivo; c) Decisão via equidade: como meio supletivo de integração do Direito, nas situações em que há contradição entre a norma legal e a realidade, gerando uma lacuna. (Pablo Stolze). 6.3 – Dois pontos importantes de Hermenêutica para sua prova Teoria da Moldura de Kelsen Interpretação pela Lógica do Razoável de Luís Recaséns- Siches Lógica Formal: Ôntico x Deôntico Lógica do Razoável Relações de Congruência: 1 – Quais os valores apropriados para determinada sociedade?; 2 – Quais os valores prestigiados?; 3 – Quais os propósitos concretamente factíveis?; 4 – Quais os meios convenientes e e eticamente factíveis? 6.4 - Hermenêutica Jurídica Clássica x Hermenêutica Constitucional A Hermenêutica Jurídica Clássica Cânones Clássicos desenvolvidos por Savigny (grande jurista Alemão do século XIX). a) Gramatical – busca o sentido literal ou textual da norma. b) Sistemático – é aquela interpretação que busca correlacionar todos os dispositivos normativos de um diploma normativo. “Não se pode interpretar a Constituição em ‘tiras’. (Eros Roberto Grau) c) Histórico – busca os antecedentes remotos e imediatos que interferiram na produção da norma. Ex: Observar a importância da ditadura na produção da CF/88. d) Sociológico – busca adaptar a norma à realidade social. e) Lógico – busca a subsunção do fato à norma; f) Teleológico – busca realizar a finalidade das normas. Ex: no sentido da expressão “casa” para a inviolabilidade do domicílio, pode ser estendida a qualquer domicílio, inclusive profissional, ex: escritório de advocacia. (TRF-3-2016) 6.5 - A Nova Hermenêutica Constitucional Fundamentos Dogmáticos da Nova Hermenêutica Constitucional: a peculiaridade de suas normas. a) Superioridade Hierárquica – superlegalidade formal e material; b) Natureza da Linguagem – aberta e não meramente prescritiva; c) Conteúdo Específico; d) Caráter Político. 6.5.1 - Princípios da Hermenêutica Especificamente Constitucional Princípio da Unidade da Constituição Princípio do Efeito Integrador Princípio da Máxima Efetividade Princípio da Justeza ou da Conformidade Funcional Princípio da Concordância Prática ou da Harmonização Princípio da Força Normativa Princípio da Interpretação Conforme a Constituição Princípio da Presunção da Constitucionalidade das Leis Princípio da Proporcionalidade ou da Razoabilidade. 6.5.2 - Métodos de Interpretação Especificamente Constitucionais I – Método Tópico-Problemático; II – Método Científico-Espiritual; III – Método Hermenêutico-Concretizador; IV – Método Normativo Estruturante; V – Método da Sociedade Aberta dos Interpretes da Constituição. THEODOR VIEHEWG MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICOTópica: Parte do problema/caso concreto; Foge do dedutivismo lógico do positivismo; Confere mais liberdade ao intérprete. RUDOLF SMEND MÉTODO CIENTÍFICO-ESPIRITUAL INTEGRAÇÃO: Antipositivista; Busca por valores; Direitos Fundamentais como valores sociais mínimos; Unidade política. KONRAD HESSE MÉTODO HERMENEUTICO- CONCRETIZADOR Parte da Tópica; Considera a pré- compreensão do interprete; Leva em conta a história, o texto e o contexto da norma como limitações ao interprete. FRIEDRICH MÜLLER MÉTODO NORMATIVO-ESTRUTURANTE Forte influência de Heidegger e Gadamer; Nova Compreensão do Direito; Reformula a noção de norma; Contra o conceito semântico de norma; A norma só existe na realidade; Antipositivista. OBJETIVA CONCRETIZAR A NORMA! PETER HÄBERLE MÉTODO DA SOCIEDADE ABERTA DOS INTERPRETES Abertura do texto constitucional; Sociedade Aberta dos interpretes da Constituição. FIM E MUITO OBRIGADO!
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