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F A C U L D A D E S F A C E T E N | 1 HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA Jakson Hansen Marques 2 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA Elaboração: Doutorando Jakson Hansen Marques Revisão técnica: Jullyandry Coutinho BOA VISTA, FEVEREIRO DE 2017 F A C U L D A D E S F A C E T E N | 3 HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA FACETEN 2.ª Edição, Fevereiro/2017 Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil Av: Bandeirantes, 900, Pricumã 69309-100 Boa Vista/RR Tel: (95) 3625-5477 www.faceten.edu.br E-mail: isef.faceten@gmail.com ©Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem autorização por escrito da Faceten FICHA CATALOGRÁFICA CIP-Brasil. Catalogação na fonte 143 Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil BIBLIOLOGIA - Boa Vista: Editora FACETEN, 2017. 38 P 1.HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 2.INTRODUÇÃO 3.NASCIMENTO DA FILOSOFIA 4.COSMOLOGIA, COSMOGONIA, TEOGONIA 5.CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA 6.PRÉ- SOCRÁTICOS 7.SOBRE A NATUREZA (DK 22 b 1-126)* 8.SOBRE A NATUREZA (DK 28 B 1-9)* 9.OS FÍSICOS POSTERIORES. 10.EMPÉDOCLES DE AGRIGENTO 11.ANÁXAGORAS DE CLAZÔMENES 12.Demócrito de Abdera 460 – 370 antes de Cristo 13.PERÍODO CLÁSSICO 14.PERÍODO PÓS-SOCRÁTICO I. Titulo. II. Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil. Bibliotecária responsável: Jacquicilea Soares de Souza CRB/11-742 CDU - 301 http://www.faceten.edu.br/ mailto:isef.faceten@gmail.com 4 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA SUMÁRIO 1. HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA .......................................... 6 2. INTRODUÇÃO .............................................................................. 6 3. NASCIMENTO DA FILOSOFIA ................................................ 12 4. COSMOLOGIA, COSMOGONIA, TEOGONIA ...................... 22 5. CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA .......................................................................................... 24 6. PRÉ-SOCRÁTICOS ................................................................... 27 A ESCOLA MILESIANA ..................................................................... 29 TALES DE MILETO ............................................................................ 29 ANAXIMANDRO DE MILETO ........................................................... 30 HERÁCLITO DE ÉFESO ................................................................... 32 7. SOBRE A NATUREZA (DK 22 b 1-126) * ............................... 34 A ESCOLA ELEÁTICA ....................................................................... 55 8. SOBRE A NATUREZA (DK 28 B 1-9) * ................................... 56 9. OS FÍSICOS POSTERIORES. ................................................. 64 10. EMPÉDOCLES DE AGRIGENTO ......................................... 64 11. ANÁXAGORAS DE CLAZÔMENES ..................................... 65 12. Demócrito de Abdera 460 – 370 antes de Cristo ................ 66 13. PERÍODO CLÁSSICO............................................................. 67 OS SOFISTAS ..................................................................................... 67 PERÍODO SOCRÁTICO .................................................................... 68 PLATÃO................................................................................................ 71 F A C U L D A D E S F A C E T E N | 5 TEORIA DAS IDÉIAS: explicação de como ocorre o conhecimento humano. ..................................................................... 73 ARISTÓTELES.................................................................................... 73 14. PERÍODO PÓS-SOCRÁTICO ............................................... 75 EPICURISMO ...................................................................................... 75 Elabora dois grupos de prazeres: .................................................... 75 ESTOICISMO ...................................................................................... 76 6 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 1. HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA Prezado aluno, o material que você tem em mãos, compõe o arcabouço temático relacionado a disciplina História da Filosofia Antiga. Esperamos que você aproveite de forma acadêmica este material e que ele possa ser útil em sua compreensão do fazer filosófico, e a importância da reflexão como ferramenta de formação de bons profissionais. 2. INTRODUÇÃO Estudar a História da Filosofia Antiga, é mergulhar em um universo de conceitos e personagens, que muitas das vezes nos perguntamos, por que devemos estudá-los. Ora diria o aluno: Porque estudar ideias e sujeitos que viveram VII, VI séculos antes de Cristo? Em uma sociedade cada vez mais rápida, em que a informação deve ser consumida em poucos minutos, para depois ser jogada fora, por que pararmos para refletir sobre as ideias de sujeitos como Tales, Anaximandro, Anaximenes. Alias, que nomes são estes?? Anaximandro, Anaximenes, Empedocles. Você daria um destes nomes ao seus filhos? F A C U L D A D E S F A C E T E N | 7 Pois bem, caro leitor, saiba que estes “sujeitos” tem muito a dizer para nós homens pós -modernos, enebriados em tecnologia, nós que não temos tempo para parar e vislumbrar o diferente, o universo, o cosmos. Foram as inquietações desses homens que propiciaram a humanidade a possibilidade de compreensão do universo e do próprio homem como ser racional e único no planeta. A História da Filosofia Antiga esta dividida em dois períodos: o primeiro período compreende o que se costuma chamar de período naturalista ou cosmológico, onde o lócus da reflexão estava pautado na investigação do mundo físico e sua origem. O segundo período compreende o período antropológico onde o lócus da investigação é o homem, e este passa a ser o centro das relações universais – antropocentrismo. O pensamento filosófico surgirá em um contexto em que as únicas explicações existentes para os fenômenos observáveis, repousavam na ideia mitológica. Os mitos eram os responsáveis pelas principais questões e explicações. Na Grécia Antiga, anterior aos filósofos, Zeus e o Olimpo governavam a cosmologia dos cidadãos, e estes viam-se enredrados nas dísputas entre os deuses. O Olimpo tinha seu panteão, e cada deus antropomorfizado, tinha sobre si uma miríade de práticas e representações. Também para cada subjetividade humana existia um deus em que esta subjetividade estava atrelado. 8 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA Vários poemas foram construídos para exaltar a força dos deuses e a presença destes em conflitos, guerras e também em acordos políticos, como se o ser humano fosse apenas um mero fantoche das divindades. Entre estes textos destaca-se os textos de Homero: a Ilíada e a Odisseia. Homero foi um poeta cego, nascido na Jonia entre os séculos IX e VIII antes de Cristo. Sua escrita torna-se tão importante para os gregos, que os próprios gregos, ao constituirem sua história reservam um tempo histórico a Homero. Onde tudo que aconteceu antes de Homero é representado como Antes de Homero (AH) e tudo que acontece depois é representado com Depois de Homero(DH) . As duas obras máximas de Homero contam histórias em que homens e deuses envolvem-se em conflitos, guerras, e paixões. A Ilíada conta basicamente a Guerra de Tróia, a história da idade Ulisses a guerra, traição de Páris junto ao Rei Menelau da Lacedemonia (Esparta),o rapto de Helena, o envolvimento de Aquiles, a participação de Heitor príncipe de Tróia, Agamemnon e a participação do exército grego na queda de Tróia, culminando no episódio do cavalo de Tróia que encaminha o final do conflito. Essa narrativa esta permeada de deuses, agindo a favor ou contra a algum dos lados. Tem-se por exemplo a presença de Aquiles, um semi deus, bem como a presença de outros semi deuses, F A C U L D A D E S F A C E T E N | 9 enquanto os deuses do Olimpo regiam as peças como em um tabuleiro de xadrez. Finda a guerra de Tróia é hora de voltar para casa, e tem- se a história da Odisséia, o retorno de Ulisses a ilha de Ítaca, onde havia deixado sua esposa. O retorno é turbulento e Ulisses deve enfrentar vários tipos de ameaças, de ciclopes a sereias que atrasam o retorno do Governante de Ítaca. Enquanto isso na ilha sua esposa precisa constantemente negar pedidos de casamento. Nesse bojo tem-se portanto a existência do deus(a) do amor, da fertilidade, da ira, bem como divindade com atributos mais objetivos, como deus da guerra, por exemplo. E neste campo de construções cosmológicas pautadas na elaboração de deuses que guiam o homem que a filosofia nascerá. E nascerá, como uma forma de pensamento que entrará em conflito com o modelo existente. Por que o conflito com o modelo existente? Por que não se aceitará mais as explicações advindas dos deuses e dos mitos, mas sim a explicação que carrega em si algo verdadeiro, dentro do mundo observável . Uma explicação que advêm da natureza. Ao voltarmos nossos olhos a produção intelectual dos filósofos do período, os chamados “pré-socráticos” ao que convencionou-se chamar “início da filosofia ocidental”, e analisarmos os textos deixados por estes autores constatar-se-á que a constância de um tema comum: a natureza (physis). As primeiras preocupações 10 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA deste período histórico eram: busca da origem do mundo e causas das transformações da natureza. É o tempo em que estes pensadores elaboraram perguntas para compreender o universo, perguntas essas que fazemos ainda hoje: Por que os seres nascem e morrem? Esta pergunta demonstra a preocupação com a brevidade do tempo. Por que os semelhantes dão origem a outros semelhantes? Esta pergunta demonstra a preocupação com a continuidade, com as questões de igualdade de não mudança. Por que os diferentes também fazem surgir os diferentes? Por que tudo muda? Estas perguntas remontam a ideia de mudança, uma ideia que veremos em alguns filósofos como Heráclito, Aristóteles, chegando até a modernidade com Hegel e Marx. De onde vêm os seres? Preocupação com as origens. Para onde vão quando desaparecem? Preocupação com o transcendental, com algo além desse mundo. Por que tudo parece repetir-se? Preocupação com as ideias e valores existentes no mundo de uma forma em que estes conceitos não mudam mas apenas reaparecem em determinado tempo e lugar. Estas são algumas questões levantadas pelos primeiros filósofos. Questões que remontam um anseio em saber sobre as F A C U L D A D E S F A C E T E N | 11 origens, a ordenação do mundo, seus caracteres, sua forma de ser e estar. Preocupação cosmológica, a busca de um entendimento que perpassa a simples explicação mitológica (não que constituir mitologias era algo simples) que entende a necessidade de uma busca do homem como alguém que contempla o cosmo e com sua inteligência, retira deste sua explicação. Muitos foram os pensadores que dedicaram-se a entender estes fenômenos. A buscar a essência do fenômeno, e não apenas olhar para o fenômeno e buscar uma explicação externa a este. A esta explicação externa dar-se-á o nome de mitologia. A explicação interna dar-se-á o nome de filosofia. Portanto, o texto que ora você aluno tem em mãos, trilhará com você, uma busca pelo saber. Este saber dentro de um período histórico, que intitulamos período da filosofia antiga. Onde a filosofia nasceu? Quem foram os primeiros filósofos? Suas ideias? Saber a origem da história da Filosofia; Demonstrar a existência de diversas teorias do conhecimento humano ao longo da história; Levar o aluno a compreender os princípios racionais e lógicos; Inserir o acadêmico dentro do contexto filosófico; Compreender os conceitos pré-socráticos, socráticos e pós- socráticos; Principais representantes suas correntes filosóficas e 12 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA seus pensamentos que mudaram a historia do saber. Venha conosco nessa jornada. 3. NASCIMENTO DA FILOSOFIA Quadro Escola De Atenas. Autor: Rafael Sanzio Prezado aluno, este capítulo versa sobre o início da filosofia. Quem foram seus primeiro autores, onde ela nasceu, mas antes vamos analisar esse quadro. O que ele nos diz? Qual a importância desse quadro? O quadro em questão é um afresco de Rafael Sanzio, pintor renascentista. Esta obra esta exposta no Vaticano no salão Stanza F A C U L D A D E S F A C E T E N | 13 della Segnatura. A pergunta a ser feita a este quadro seria: quem são estes personagens? Qual a importância deles? Pois bem, estes personagens pintados por Rafael, estão entre os maiores filósofos do mundo antigo. A Escola de Atenas ilustra a Academia de Platão, contudo os filósofos que surgem representados identificam-se com épocas distintas, mostrando a continuidade histórica do pensamento filosófico. Vamos ver quem é quem: 1. Zenão de Cítio ou Zenão de Eléia 2: Epicuro 3: Frederico II, duque de Mântua e Montferrat 4: Anicius Manlius Severinus Boethius ou Anaximandro ou Empédocle 5: Averroes 6: Pitágoras 7: Alcibíades ou Alexandre, o Grande 8: Antístenes ou Xenofonte 9: Hipátia (Francesco Maria della Rovere ou Margherita, amante de Rafael) 10: Ésquines ou Xenofonte 11: Parménides 12: Sócrates 13: Heráclito (Miguel Ângelo). 14: Platão segura o Timeu (Leonardo da Vinci). 15:Aristóteles segura a Ética 16: Diógenes de Sínope 17: Plotino 18: Euclides ou Arquimedes acompanhado por estudantes (Bramante) 19: Estrabão ou Zoroastro (Baldassare Castiglione ou Pietro Bembo). 20: Ptolomeu : Apeles (Rafael). 21: Protogenes (Il Sodoma ou Pietro Perugino). 14 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA Abaixo a explicação de alguns destes personagens: Ao centro da obra surgem Platão e Aristóteles. Platão segura o Timeu e aponta para o alto, sendo assim identificado com o ideal, o mundo das ideias. Aristóteles segura a Ética e tem a mão na horizontal, representando o mundo terrestre, o mundo sensível. A obra "Escola de Atenas" é uma alegoria complexa do conhecimento filosófico profano. Estão representados na obra para além de filósofos, matemáticos, astrónomos e personagens contemporâneos do pintor, assim como humanistas e artistas. A identidade de alguns dos filósofos como Platão ou Aristóteles, são inegáveis. Porém, a identificação das restantes figuras representadas tem sido sempre hipotéticas. Entre as figuras representadas destacam-se tal como referimos, Platão e Aristóteles que ocupam o lugar central da obra. Platão, filósofo e matemático grego, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia de Atenas, simboliza a filosofia natural e moral com as leis da harmonia cósmica. Traz debaixo do braço esquerdo o seu Timeu, e aponta para o céu, simbolizando o mundo das ideias, o ideal, o mundo inteligível. Leonardo da Vinci serve de modelo para o filósofo Platão. Aristóteles, filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande, caminha ao lado do mestre, e segura na mão esquerda a Ética (aí se encontram as leis da conduta moral), enquanto a mão direita encontra-se aberta, com a palma virada F A C U L D A D E S F A C E T E N | 15 para o chão, representando o terrestre, o mundosensível, a filosofia natural e empírica. As suas obras abrangem diversos assuntos como a física, a metafísica, as leis da poesia e do drama, a música, a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologia. Pitágoras, filósofo e matemático grego, encontra-se sentado no canto inferior esquerdo, onde apresenta um dos seus enunciados; Epicuro, filósofo grego, que ensinava que a felicidade consiste em buscar os prazeres da mente, encontra-se em primeiro plano, à esquerda, coroado com folhas de videira; Euclides (ou Arquimedes), matemático grego e aluno de Sócrates, expõe os seus princípios geométricos usando um compasso. Encontra-se rodeado por um grupo de estudantes, possivelmente. Heráclito, filósofo melancólico, está sentado num degrau em primeiro plano, tem o braço esquerdo apoiado num bloco de mármore, numa atitude de extrema tristeza. Tem como modelo o genial Miguel Ângelo. Esta figura foi acrescentada depois, pois não se encontrava no desenho preparatório. Após ver, secretamente, parte do trabalho do artista na Capela Sistina, Rafael ficou maravilhado e resolveu fazer uma homenagem ao pintor mais velho, usando-o como modelo para Heráclito. Alexandre, o Grande (ou Alcibíades), o mais célebre conquistador do mundo antigo, ouve Sócrates com atenção. Traz um elmo sobre a cabeça, e tem a mão esquerda na espada; 16 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA Sócrates, um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental, enumera pontos específicos com os dedos. Questionar e analisar são a essência da filosofia socrática; Diógenes, filósofo que odiava os bens materiais e vivia num barril, encontra-se nos degraus da escada, na parte central da composição. Conta-se que Alexandre, o Grande, ao visitá-lo, perguntou-lhe o que poderia fazer por ele, que prontamente respondeu: “Não me tires o que não podes dar.”. Referia-se ao sol, que o conquistador tapava, fazendo-lhe sombra; Zenão de Cítio, filósofo fundador da escola filosófica estoica, surge com uma criança nos braços, enquanto ouve atentamente Epicuro. Enfatizou a bondade e a paz de espírito, conquistadas através de uma vida plena de virtude, de acordo com as leis da natureza. Ptolomeu, astrónomo e geógrafo, achava que a Terra era o centro do universo. Tem nas mãos o globo terrestre; Parménides, fundador da escola eleática, tem o pé esquerdo sobre um bloco de mármore e faz anotações; Averróis, um dos maiores conhecedores e comentaristas de Aristóteles, curva-se ligeiramente, para ver a demonstração de Pitágoras; Protógenes, pintor da Grécia antiga, usa um manto branco, e encontra-se ao lado de Rafael; Apolo, o deus da razão, encontra-se no nicho da esquerda, segura uma lira. Representa o esclarecimento filosófico e o poder da razão; Minerva, a deusa da sabedoria, encontra-se F A C U L D A D E S F A C E T E N | 17 no nicho à direita. É a protetora tradicional das instituições devotadas à busca do saber e das realizações artísticas. O aluno deve ter percebido que a obra de Rafael Sanzio, compreende vários períodos históricos. A preocupação do autor foi demonstrar a importância da filosofia para o pensamento humano, principalmente para o pensamento ocidental, apesar de termos um Averróis entre os filósofos. Qual a importância do quadro? A importância encontra-se justamente em percebermos a relevância do estudo filosófico, a compreensão das coisas, não pela aparência, mas pela essência destas coisas, e não nos deixarmos levar por qualquer tipo de pensamento. Mas a filosofia, onde nasceu? Muitos historiadores da filosofia entendem que o nascimento ocorreu na cidade de Mileto, localizada em uma colônia grega a Jônia localizada na Ásia Menor, atual Turquia, no século VI antes de Cristo, com Tales de Mileto, e foi ate o ano de 529 d.C., quando do édito de Justiniano proibindo o ensino da filosofia pagã nas escolas cristãs. Mas não foi Tales de Mileto quem deu a esse novo campo do saber o nome de filosofia. Foi Pitágoras de Samos grande filósofo e matemático. Lembra do teorema de Pitágoras? Este é o autor. A palavra FILOSOFIA é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem à palavra sophos, sábio. Portanto, 18 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA FILOSOFIA significa aquele que tem amor e respeito pelo saber e FILÓSOFO é aquele que tem amizade pelo saber. Perceba que ser filósofo não significa, o que mais sabe, o melhor entre as pessoas, nem é motivo de soberba, mas sim aquele que tem amizade, que é amigo do saber. Lembre da máxima: “Sei que nada sei” e verás que o filósofo é o primeiro que nada sabe, e por isso é o primeiro a estar aberto aos novos conhecimentos. Segundo HOBUSS (pg 23) a filosofia grega divide-se em períodos, estes de caráter arbitrário, pois nem sempre coincidem com a cronologia. Mas a título de entendimento no espaço tempo tem-se a seguinte divisão: a. Período cosmológico ou naturalista: esse período tem como característica básica a pergunta pela origem e natureza das coisas e do Cosmos, e é onde nós temos os chamados pré- socráticos; b. Período antropológico ou humanista: esse período representa o esquecimento da preocupação e investigação acerca da origem das coisas e do Cosmos, e passa a preocupar-se com as questões referentes ao homem. É o período relativo aos Sofistas e a Sócrates; c. Período das grandes sínteses: é o período mais rico da filosofia grega, onde há a preocupação essencial com os fundamentos do conhecimento e da moralidade, e de vários outros problemas filosóficos; F A C U L D A D E S F A C E T E N | 19 d. Período ético/epistemológico: é o período referente ao epicurismo, estoicismo e ceticismo, onde afloram uma plêiade de preocupações éticas, como, por exemplo, o ideal de sábio, e questões relativas à possibilidade do conhecimento e o estabelecimento de critérios de verdade; e. Período transcendente ou religioso: é o período em que temos a retomada de Platão e Pitágoras, onde é deixada de lado a investigação sobre a realidade sensível, passando-se a tratar do supra-sensível. É o momento no qual a razão perde vitalidade, deixando de ser o critério único para explicar a realidade. Como escrevi acima, muitos historiadores entendem que a filosofia nasceu na Grécia, mas existem aqueles que defendem a ideia de que ela nasceu em outros lugares, que ela é mais antiga, entre estes historiadores encontram-se os orientalistas. Autores que acreditam que elementos do que se convencionaria chamar de filosofia já estariam presentes em civilizações anteriores. E a filosofia grega seria um desdobramento destes conhecimentos produzidos por civilizações mais antigas. Entre as vozes que apresentaram “provas” contra a originalidade grega, encontram-se os sacerdotes egípcios, que 20 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA não duvidaram em fundar a Filosofia na sabedoria egípcia. Ou os hebreus alexandrinos, que sustentaram ser a filosofia devedora de Moíses. Entre os próprios gregos como Numênio, que sustentava ser Platão um Moisés. Bem como os cristãos apologistas, como Clemente de Alexandria, que acreditava ser Platão um filósofo judaizante. Porém historiadores como Momigliano negam fortemente essas afirmações, sustentando que os gregos não conheciam os judeus, antes de Alexandre Magno, e que o próprio Platão não sabia da existência de Moisés. Como escreve João Hobuss em sua introdução a História da Filosofia Antiga: Se observarmos a obra de Heródoto, Platão, ou Aristóteles (Reale, Vol. I, 1993, p.13), veremos que não há menção alguma a uma possível influência oriental, que passaremos a denominar a Tese Oriental. Em Heródoto isto é ainda mais significativo, pois ele próprio acreditava na origem egípcia dacivilização e da religião grega (Burnet, 1994, p.25). O mesmo ocorre quando lemos Diógenes Laércio, na sua obra Vida e Doutrinas dos Filósofos Ilustres , onde em nenhum momento temos uma dúvida acerca da origem grega. (HOBUSS, 2014; 17) E conclui Hobuss explanando que: Como já foi afirmado por Reale (Vol. I, 1994, p.11, 13), não temos acesso a nenhuma evidência histórica ou arqueológica que deem guarida à Tese Oriental. Acrescente-se a isso o fato razoável de que os conceitos filosóficos demandam o uso de expressões linguísticas refinadas (Reale, Vol. I, 1993, p.15), e não a linguagem utilizada nas relações comerciais. Sem o domínio da língua sofisticada manejada pela Filosofia, onde subjaz sua terminologia, não haveria possibilidade da existência da mesma. Não devemos F A C U L D A D E S F A C E T E N | 21 esquecer que sem a língua grega não teríamos o que conhecemos por Filosofia, na medida em que toda a terminologia filosófica origina-se grega, bem como os conceitos têm origem na filosofia grega. Poderia ser objetado que o alfabeto grego tem origem no alfabeto fenício, composto por vinte e dois signos que eram idênticos a vinte e duas consoantes. A resposta parece clara; até no âmbito do alfabeto os gregos atuaram, introduzindo no alfabeto herdado da Fenícia, progressivamente, as vogais, o que certamente influenciou a linguagem filosófica (Conche, 1991, p.6). Portanto a partir da perspectiva historiográfica e também das evidências arqueológicas e linguisticas, não é correto atribuir o surgimento da filosofia a outro povo que não os gregos. Se os gregos sofreram influência de outros povos como na matemática, ou poesia, entende-se que eles ao se apropriarem destes saberes, moldaram, justificaram, fundamentaram racionalmente suas argumentações. Entre as várias argumentações levantadas pelo pensamento grego filosófico, muitas demonstraram ser falsas no decorrer da história, mas o método mostrou-se claro, a tentativa de compreensão da realidade baseada na razão, é o que sustenta até hoje o pensamento científico, é o que da base a ciência, e isso por si só, já demonstra a fantástica contribuição do pensamento grego para o mundo. 22 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 4. COSMOLOGIA, COSMOGONIA, TEOGONIA Como escrito acima, a filosofia nasce na Grécia Antiga, como uma explicação racional as questões profundas levantadas pelo homem, no que concerne a origem das coisas. O foco agora será as explicações de cunho naturalista ou cosmológico versus as explicações mitológicas e poéticas. Nesse interím acontecem as explanações diversas sobre as origens. A mitologia com seu foco cosmogônico; teogônico e a filosofia com seu foco cosmológico. Olhando para esse embate pode-se perguntar: como o mito narra a origem do mundo e de tudo que nele existe? A resposta está no que seria uma explicação cosmogônico e teogônica Na cosmogonia tem-se que o nascimento e a organização do mundo acontecem a partir de forças geradoras (pai e mãe divinos) na teogonia tem-se a origem dos deuses a partir de seus pais ou antepassados. Há um esquema para entender essas etapas: 1 – Deve-se encontrar o pai e a mãe de todas as coisas; 2 – Existência de uma rivalidade ou aliança entre os deuses que faz surgir algo no mundo; 3 – A confecção de recompensas ou castigos que os deuses dão a quem os obedece ou desobedece; F A C U L D A D E S F A C E T E N | 23 Observando o esquema cosmogônico, percebe-se que muitas das histórias mitológicas seguem esse modelo. Como exemplo: O mito de Prometeu acorrentado. Prometeu um titã ousou desafiar Zeus e entrega o fogo para os homens. Zeus enfurecido castiga Prometeu a passar a eternidade acorrentado sendo bicado todos os dias por um corvo que come seu fígado, mas no outro dia o fígado esta lá regenerado, e o corvo novamente cumpre seu papel no drama de Prometeu. Por que Zeus castiga Prometeu. Por que a história da entrega do fogo divino, significa que o ser humano não precisa mais dos deuses para protegê-lo das feras noturnas. Significa uma nova representação dos deuses para os humanos. Assim como na história grega do roubo do fogo, outras civilizações também contam a mesma história, como alguns povos indígenas da amazônia em que Prometeu é substituído por uma onça que rouba o fogo dos deuses e entrega para os humanos. Mitologias são histórias que fazem sentido dentro do universo cultural, no qual elas foram engendradas. Para você entender o pensamento mitológico é necessário entender as dinâmicas culturais e a mentalidade que cerca a formação de determinados grupos étnicos. 24 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA E a filosofia? E a explicação cosmológica? Ela é atrelada as dinâmicas culturais e étnicas? A filosofia propõe uma explicação lógica e racional, que ultrapassa os límites étnicos e ganha contornos universais. O que seria cosmologia: de forma etmológica dividindo a palavra tem-se que cosmos significa: ordem e organização do mundo enquanto logia significa: pensamento racional. Muito distante das explicações cosmogônicos e teogônicas. A cosmologia é uma explicação racional, que ordena e organiza o mundo de maneira lógica. Não mais com os deuses mas com reflexão e análise. Ao surgir, a filosofia não é uma cosmogonia, e sim uma cosmologia, uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transformações e repetições das coisas. 5. CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA Algumas condições favoreceram o surgimento da filosofia, entre estas condições destacam-se: 1 – As viagens marítimas; Os gregos assim como os demais povos da antiguidade receavam singrar os mares muito longe de suas costas, por medo de encontrar seres fantásticos ou o próprio Poseidon. A navegação no mediterrâneo foi diminuindo esse medo, pois a medida em que as F A C U L D A D E S F A C E T E N | 25 embarcações singravam o mar mediterrâneo, percebia-se a ausência de tais seres fantásticos. 2 – A invenção do calendário; o calendário propiciou ao grega da antiguidade o entendimento dos períodos no ano. A melhor época para plantar e colher, o entendimento das estações, mais frias ou mais quentes, o deslocamento dos astros no firmamento. Fez ele entender que não eram os deuses os responsáveis por tais ciclos, mas sim a própria natureza e a intervenção dele, homem. 3 – O surgimento da vida urbana; quanto mais os gregos deslocavam-se para as áreas urbanas, mais o temos do desconhecido o deixava. A vida rural com sua temporalidade diferente e seu estilo de vida que muitas das vezes contrasta com o estilo urbano, trazia mais temor ao homem grego da época. A ida as cidades vai mudar esse perfil. A urbe com sua temporalidade diferente, parece mais rápida, exigia desse homem grego novos papéis e novos entendimentos sociais, o que levava ele a acreditar menos nos deuses e mais nos conhecimentos que eram produzidos neste novo espaço. 4 – A invenção da escrita alfabética; sabe-se que foram os fenícios os inventores da escrita, mas os gregos a aperfeiçoaram como relata HOBUSS: 26 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA […] Poderia ser objetado que o alfabeto grego tem origem no alfabeto fenício, composto por vinte e dois signos que eram idênticos a vinte e duas consoantes. A resposta parece clara; até no âmbito do alfabeto os gregos atuaram, introduzindo no alfabeto herdado da Fenícia, progressivamente, as vogais, o que certamente influenciou a linguagem filosófica (HOBUSS, 2014; 19) 5 – A invenção da Política; é com os gregos que ver-se-á surgir o termo Pólis que significa cidade-estado. Na Grécia Antiga, a pólis era um pequeno território localizado geograficamente no ponto mais alto da região, e cujas características eram equivalentes a uma cidade. O surgimento da pólis foi um dos mais importantes aspectos nodesenvolvimento da civilização grega. Com a pólis veio a política, a participação dos cidadãos nas tomadas de decisão na cidade-estado. Ao findar esse capítulo espera-se ter demonstrado onde ocorreu o início da filosofia. Alguns embates sobre a origem do fazer filosófico e a diferença entre filosofia e mitologia. O capítulo versou também sobre as diferenças entre cosmologia; cosmogonia e teogonia e demonstrou as condições que levaram ao surgimento da filosofia na Grécia Antiga. O próximo capítulo trará a cena os pré-socráticos. Filósofos importantes que propiciaram a ruptura com o pensamento mítico. F A C U L D A D E S F A C E T E N | 27 6. PRÉ-SOCRÁTICOS Em azul, localização da Jonia. Berço do Nascimento da Filosofia Foi a primeira corrente de pensamento, a corrente que inaugura a filosofia no século VI a.C., em Mileto, cidade da Jônia. Nesse período surgem as escolas Milesiana, Heráclita, Pitagórica, a escola Eleática e os Físicos Posteriores. Segundo Barnes (1997, p. 20 – 24) existem quatro conceitos fundamentais, que caracterizam o período pré-socrático. São eles: • Kosmos (Universo): esse conceito pressupõe que o universo é um ser totalmente ordenado, composto de beleza e harmonia; • Physis (Natureza): a natureza possui dois aspectos fundamentais. Em primeiro lugar, é a natureza que subjaz 28 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA a todas as coisas. Os pré-socráticos estudam qual é a natureza das coisas, isto é, aquilo que lhe é próprio, que lhe pertence a si mesma; • Archê (Princípio): é o princípio originário de todas as coisas, de onde todas provêm; • Logos (Razão): é o caráter distintivo da filosofia antiga, sua característica fundamental. Devemos dar razões, explanar, o porquê das ocorrências do mundo. Para os filósofos pré-socráticos a pergunta principal era sobre a arché; aquilo que é o fundamento que origina o mundo. E sua preocupação central era com a totalidade, vislumbrada no conceito da physis. Os filósofos que viveram antes de Sócrates se preocupavam muito com o Universo e com os fenômenos da natureza. Buscavam explicar tudo através da razão e do conhecimento científico. Perguntar pela arché é perguntar por aquilo que é o fundamento original do mundo; era a pergunta pela causa primeira; pelo princípio original; pela força construtora e mantenedora; era a pergunta que desejava saber a origem/causa de tudo que existia. Os primeiros filósofos buscaram entender/compreender o mundo em sua estrutura básica, porque se espantaram, se admiraram; foram tomados pelo encantamento do mistério e da complexidade do mundo natural; foram arrebatados pela perplexidade que o mundo F A C U L D A D E S F A C E T E N | 29 causa naqueles que não se conformam com o óbvio: mudanças; diversidade de fenômenos; regularidade dos fenômenos. Tais eram suas preocupações. A ESCOLA MILESIANA A escola Milesiana, é a primeira escola do Período Cosmológico ou Naturalista. Localizava-se em Mileto e tinha como sua principal preocupação, a busca pelo princípio o arché de todas as coisas do universo. Seu fundador foi Tales, mas outros dois nomes compõem essa escola: Anaximandro e Anaxímenes. Cada um destes autores buscou na natureza o seu arché. TALES DE MILETO Primeiro pensador grego, “Pai da Filosofia”; Buscou a construção do pensamento racional em diversos campos do conhecimento que, hoje, não são considerados especialidades filosóficas (Astronomia e Geometria); OBJETIVOS: Construção de uma COSMOLOGIA (explicação racional e sistemática das características do universo) que substituísse a antiga COSMOGONIA (explicação sobre a origem do universo baseada nos mitos); Tentou descobrir na base da RAZÃO e não da MITOLOGIA, o princípio substancial ou substância primordial (a arché, em grego) existente em todos os seres materiais. A matéria-prima de que são feitas as coisas; 30 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA Pretendia fugir das antigas explicações mitológicas sobre a criação do mundo, buscava um elemento físico que fosse constante em todas as coisas, concluindo que a água era essa substância primordial. Somente a água, permanece a mesma, em todas as transformações dos corpos, apesar de assumir diferentes estados - sólido, líquido e gasoso. A maior parte dos primeiros filósofos estimava que os princípios de todas as coisas se reduziam aos princípios materiais. É a partir do que são constituídas todas as coisas, o termo primeiro de sua geração e o termo final de sua corrupção, enquanto a substância [princípio] permanece, mudando somente seus estados – é isto que eles tomam por elemento e princípio das coisas; também estimam que nada se cria ou se destrói, já que esta natureza é conservada para sempre [...]. Para Tales, o fundador desta concepção filosófica, este princípio é a água (porque sustentava que a terra flutua sobre a água) (Aristóteles Metafísica 983b6-22). ANAXIMANDRO DE MILETO Anaximandro foi possivelmente o membro mais importante da escola milesiana. Manifestou o mesmo interesse científico de seus colegas, afirmando que a Terra é esférica ocupando o centro do universo. Descobriu os solstícios, os equinócios. Um argumento pitoresco, atribuído a Anaximandro é que o homem foi concebido pelo peixe, pois Anaximandro entendia que o homem era muito parecido com o peixe no começo. Ao contrário de Tales, Anaximandro não apresenta um elemento material como princípio de todas as coisas. Para ele o princípio de todas as coisas é o apeiron (o ilimitado). Para F A C U L D A D E S F A C E T E N | 31 Anaximandro a substância original (ápeiron) que constitui o mundo é indefinida e em nada se assemelha a qualquer espécie de matéria ou elemento vistos no mundo já estruturado. Hobuss a partir da análise de um fragmento de Pseudo- Plutarco argumenta que apeiron de Anaximandro é a causa universal de todas as coisas. Conforme citação abaixo: Nesse sentido, é possível afirmar que o apeiron , segundo Pseudo-Plutarco, é “a causa universal de toda geração e corrupção”, ou seja, de todo o nascimento e morte de todas as coisas existentes, inclusive os céus e os mundos, pois dele originam-se todas as coisas que nascem, e a ele retornam todas as coisas que morrem, como observou Aécio (DK A XIV). Por ser o Ilimitado, obviamente não admite princípio, como afirmou Aristóteles, pois se tivesse um princípio, automaticamente tal princípio seria o seu limite. Sendo assim, ele existe desde sempre, e, enquanto princípio, não pode estar sujeito à corrupção. Assim, “o Ilimitado é o princípio das outras coisas, ele envolve cada coisa e governa todas as coisas [...] não admitindo causa [...] ele é o divino, pois ele é imortal e imperecível”. (HOBUSS, 2014; 31) ANAXÍMENES DE MILETO Sucessor de Anaximandro, não propõem um avanço no pensamento de Anaximandro, mas sim um retorno a preocupação original de Tales, preocupação em estabelecer um único elemento como o princípio de todas as coisas. Para Anaxímenes o princípio de todas as coisas era o ar. Anaxímenes pensa que o “princípio” deve ser infinito, sim, mas que deve ser pensado como ar infinito, substância aérea ilimitada, um pneuma-apeiron. 32 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA “O ar se diferencia nas vários substâncias segundo o grau de rarefação e condensação: e assim dilatando- se dá origem ao fogo, enquanto condensando-se dá origem ao vento e depois às nuvens; e em grau maior de densidade forma a água, depois a terra e em seguida as pedras; as outras coisas derivam depois destes.” (Simplício) Anaxímenes escreve que exatamente como a nossa alma que é ar, se sustenta e se governa, assim também o sopro e o ar, abarcam o cosmos inteiro. de modo mais lógico e mais racional do que fizera Anaximandro, do ar pode-se deduzir todas as coisas. Com efeito, por sua naturezade grande mobilidade, o ar se presta muito bem para ser concebido como estando em perene movimento (bem mais do que o infinito de Anaximandro). Ademais, o ar se presta melhor do que qualquer outro elemento às variações e transformações necessárias para fazer nascer as diversas coisas. HERÁCLITO DE ÉFESO Um dos principais pensadores do mundo grego. Complexo era chamado de “o obscuro” pois se expressava de forma enigmática. Deixou vários fragmentos intitulados Peri Physeos (Sobre a Natureza). É considerado o primeiro grande representante do pensamento dialético: momentos sucessivos e contraditórios pelos quais determinada realidade se apresenta. Portanto, concebia a realidade do mundo como algo dinâmico, em permanente transformação; Criou a escola filosófica F A C U L D A D E S F A C E T E N | 33 MOBILISTA (movimento); Para ele, a vida era um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias: ordem e desordem, bem e mal, o belo e o feio, construção e desconstrução, etc. É pela luta das forças opostas que o mundo se modifica e evolui; Atribui-se a Heráclito frases marcantes, de sentido simbólico, utilizadas para ilustrar sua concepção sobre o fluxo e a movimentação das coisas. È a eterna mudança, também chamada DEVIR (vir a ser ); Uma de suas citações mais conhecidas é a do rio em que não podemos colocar o pé de forma igual duas vezes no mesmo rio: “Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois suas águas se renovam a cada instante. Não tocamos duas vezes o mesmo ser, pois este modifica continuamente sua condição.” Como escrito acima, o que chegou até os dias de hoje sobre Heráclito está registrado em fragmentos. Tais fragmentos mostram a complexidade de seu pensamento. Abaixo demonstrar- se-á os fragmentos de Heráclito conhecidos, para que o leitor tenha uma noção da profundidade de seu texto. Esses fragmentos foram compilados na obra de João Hobuss, Introdução a História da Filosofia Antiga. 34 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 7. SOBRE A NATUREZA (DK 22 b 1-126) * 1. SEXTO EMPÍRICO, Contra os Matemáticos , VII, 132. Deste logos sendo sempre os homens se tornam descompassados quer antes de ouvir quer logo tenham ouvido; pois, tornando-se todas (as coisas) segundo esse logos, a inexperientes se assemelham embora experimentando-se em palavras e ações tais quais eu discorro segundo a natureza distinguindo cada (coisa) e explicando como se comporta. Aos outros homens escapa quanto fazem despertos, tal como esquecem como fazem dormindo. 2. IDEM, ibidem, VII, 133. Extraído do volume Pré-Socráticos da Coleção Os Pensadores - Nova Cultural (Tradução de José Cavalcante de Souza). Por isso é preciso seguir o-que-é-com, (isto é, o comum; pois o comum é o-que-é-com). Mas, o logos sendo o-que-é-com, vivem os homens como se tivessem uma inteligência particular. 3. AÉCIO, II, 21, 4. (Sobre a grandeza do sol) sua largura é a de um pé humano. F A C U L D A D E S F A C E T E N | 35 4. ALBERTO MAGNO, De Vegetatione , VI, 401. Heráclito disse que se felicidade estivesse nos prazeres do corpo, diríamos felizes os bois, quando encontram ervilhas para comer. 5. ARISTÓCRITO, Teosofia , 68; ORÍGENES, Contra Celso, VII, 62. Purificam-se manchando-se com outro sangue, como se alguém, entrando na lama se lavasse. E louco pareceria, se algum homem o notasse agindo assim. E também a estas estátuas eles dirigem suas preces, como alguém que falasse a casas, de nada sabendo o que são deuses e heróis. 6. ARISTÓTELES, Meteorologia , II, 2, 355a13. O sol não apenas, como Heráclito diz, é novo a cada dia, mas sempre novo, continuamente. 7. IDEM, Da Sensação , 5, 443a23. Se todos os seres em fumaça se tornassem, o nariz distinguiria. 8. IDEM, Ética Nicomaquéia , VII, 2 1115b4. Heráclito (dizendo que) ao contrário é convergente e dos divergentes nasce a mais bela harmonia, e tudo segundo a discórdia. 36 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 9. IDEM; ibidem, X, 5. 1176a7. Diverso é o prazer do cavalo, do cão, do homem, tal como Heráclito diz que asnos prefeririam palha a ouro. 10. IDEM, Do Mundo , 5 396b7. Conjunções o todo e o não todo, o convergente e o divergente, o consoante e o dissonante, e de todas as coisas um e de um todas as coisas. 11. IDEM, ibidem, 6 401a8. Pois tudo que rasteja é preservado a golpe, como diz Heráclito. 12. ARIO DÍDIMO em EUSÉBIO, Preparação evangélica , XV, 20. Aos que entram nos mesmos rios outras águas afluem, almas exalam do úmido. 13. CLEMENTE DE ALEXANDRIA, Tapeçarias , I, 2. Porcos em lama se comprazem, mais do que em água limpa. 14. IDEM, Exortação , 22. A quem profetiza Heráclito de Éfeso? Aos noctívagos, aos magos, aos bacantes, às mênades, aos iniciados; a estes ameaça com o depois da morte, a estes profetiza o Fogo; pois os considerado mistérios entre os homens impiamente se celebram. F A C U L D A D E S F A C E T E N | 37 15. IDEM, ibidem, 34. Se não fosse a Dioniso que fizessem a procissão e cantassem o hino, (então) às partes vergonhosas desavergonhadamente se cumpriu um rito; mas é o mesmo Hades e Dioniso, a quem deliram e festejam nas Lenéias. 16. IDEM, Pedagogo , II, 99. Do que jamais mergulha como alguém escaparia? 17. IDEM, Tapeçarias , II, 8. Muitos não percebem tais coisas, todos os que as encontram, nem quando ensinados conhecem, mas a si próprios lhes parece (que as conhecem e percebem). 18. IDEM, ibidem, II, 17. Se não esperar o inesperado não se descobrirá, sendo indescobrível e inacessível. 19. IDEM, ibidem, II, 24. Homens que não sabem ouvir nem falar. 20. IDEM, ibidem, III, 14. Nascidos querem viver e deter suas partes, ou antes repousar, e atrás de si deixam filhos a se tornarem partes. 38 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 21. IDEM, ibidem, II, 21. Morte é tudo que vemos despertos, e tudo que vemos dormindo é sono. 22. IDEM, ibidem, IV, 4. Pois ouro os que procuram cavam muita terra e o encontram pouco. 23. IDEM, ibidem, IV, 10. Nome de Justiça não teriam sabido, se não fossem estas (coisas). 24. IDEM, ibidem, IV, 16. Os que Ares mata honram-nos deuses e homens. 25. IDEM, ibidem, IV, 50. Mortes maiores, maiores sortes, recebem. 26. IDEM, ibidem, IV, 143. O homem de noite uma luz acende para si, morto, extinta a vista, mas vivo ele acende do morto quando dorme, extinta a vista, e quando desperto se acende do que dorme. 27. IDEM, ibidem, IV, 146. O que para os homens permanece quando morrem (são coisas) que não esperam nem lhes parece (que permaneçam). F A C U L D A D E S F A C E T E N | 39 28. IDEM, ibidem, V, 9. Pois é o que se estima que o mais estimado conhece e guarda; e contudo certamente a Justiça captará os artesãos e testemunhas de falsidades. 29. IDEM, ibidem, V, 60. Pois uma só coisa escolhem os melhores contra todas as outras, um rumor de glória eterna contra as coisas mortais; mas a maioria está empanturrada como animais. 30. IDEM, ibidem, V, 105. Este mundo, o mesmo de todos os (seres), nenhum deus; nenhum homem o fez, mas era, é e será um Fogo sempre vivo, acendendo-se em medidas e apagando-se em medidas. 31. IDEM, ibidem, V, 105. Direções do Fogo: primeiro o mar, e do mar metade terra, metade incandescência... Terra dilui-se em mar e se mede no mesmo logos, tal qual era antes de se tornar terra. 32. IDEM, ibidem, V, 116. Uma só (coisa) o sábio não quer e quer ser recolhido no nome de Zeus. 40 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 33. IDEM, ibidem, V, 116. Lei (é) também persuadir-se à vontade um só. 34. IDEM, ibidem, 116. Ouvindo descompassados assemelham-se a surdos; o ditado lhes concerne: presentes estão ausentes. 35. IDEM, ibidem, V, 141. Pois é preciso que de muitas coisas sejam inquiridoresos homens amantes da sabedoria. 36. IDEM, ibidem, VI, 16. Para almas é morte tornar-se água, é para água é morte tornar-se terra, e de terra nasce água, e de água alma. 37. COLUMELA, VII, 4. Porcos banham-se em lama e aves domésticas em poeira ou emcinza. 38. DIÓGENES LAÉRCIO, I, 23. (Tales) parece segundo alguns ter sido o primeiro a estudar os astros. A seu respeito atestam Heráclito e Demócrito. 39. IDEM, I, 88. Em Priene nasceu Bias, filho de Teutames, cujo logos é maior que o dos outros. F A C U L D A D E S F A C E T E N | 41 40. IDEM, IX, 1.47 Muita instrução não ensina a ter inteligência; pois teria ensinado Hesíodo e Pitágoras, Xenófanes e Hecateu. 41. IDEM, IX. 1. Pois uma só é a (coisa) sábia, possuir o conhecimento que tudo dirige através de tudo. 42. IDEM, IX, 1. Homero merecia ser expulso dos certames e açoitado, e Arquíloco igualmente. 43. IDEM, IX, 2. A insolência é preciso extinguir, mais que o incêndio. 44. IDEM, IX, 2. É preciso que lute o povo pela lei, tal como pelas muralhas. 45. IDEM, IX, 7. Limites de alma não os encontraria, todo o caminho percorrendo; tão profundo logos ela tem. 46. IDEM, IX, 7. A presunção ele dizia que é a doença sagrada e que a visãoengana. 42 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 47. IDEM, IX, 73. Não conjeturemos à toa sobre as coisas supremas. 48. Etymologicum Genuinum , s.v. bíos. No arco, o nome é vida e a obra é morte. 49. GALENO, De Dignoscendis Pulsibus , VIII, 733. Um para mim vale mil, se for o melhor. 49a. HERÁCLITO, Alegorias , 24. Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos. 50. HIPÓLITO, Refutação , IX, 9. Não de mim, mas do logos tendo ouvido é sábio homologar tudo é um. 51. IDEM, ibidem, IX, 9. Não compreendem como o divergente consigo mesmo concorda; harmonia de tensões contrárias, como de arco e lira. 52. IDEM, ibidem, IX, 9. Tempo é criança brincando, jogando; de criança o reinado. F A C U L D A D E S F A C E T E N | 43 53. IDEM, ibidem, IX, 9. O combate é de todas as coisas pai, de todas, rei, e uns ele revelou deuses, outros, homens; de uns fez escravos, de outros, livres. 54. IDEM, ibidem, IX, 9. Harmonia invisível à visível superior. 55. IDEM, ibidem, IX, 9. As (coisas) de que (há) visão, audição, aprendizagem, só estas prefiro. 56. IDEM, ibidem, IX, 9. Estão iludidos os homens quanto ao conhecimento das coisas visíveis, mais ou menos como Homero, que foi mais sábio que todos os helenos. Pois enganaram-no meninos que matando piolhos lhe disseram: o que vimos e pegamos é o que largamos, e o que não vimos nem pegamos é o que trazemos conosco. 57. IDEM, ibidem, IX, 10. Mestre da maioria das coisas é Hesíodo; pois este reconhece que sabe mais coisas, ele que não conhecia dia e noite; pois é uma só (coisa). 44 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 58. IDEM, ibidem, IX, 10. Os médicos, quando cortam, queimam e de todo torturam os pacientes, ainda reclamam um salário que não merecem, por efetuarem o mesmo que as doenças. 59. IDEM, ibidem, IX, 10. A rota do parafuso do pisão, reta e curva, é uma e a mesma. 60. IDEM, ibidem, IX, 10. A rota para cima e para baixo é uma e a mesma. 61. IDEM, ibidem, IX, 10. Mar, água mais pura e mais impura, para os peixes potável e saudável, para os homens impotável e mortal. 62. IDEM, ibidem, IX, 10. Imortais mortais, mortais imortais, vivendo a morte daqueles, morrendo a vida daqueles. 63. IDEM, ibidem, IX, 10. Diante do ali-presente erguem-se e tornam-se guardiões em vigília de vivos e mortos. 64. IDEM, ibidem, IX, 10. De todas (as coisas) o raio fulgurante dirige o curso. F A C U L D A D E S F A C E T E N | 45 65. IDEM, ibidem, IX, 10. E o chama (ao Fogo) de fartura e indigência. 66. IDEM, ibidem, IX, 10. Pois todas (as coisas) o Fogo sobrevindo discernirá e empolgará. 67. IDEM, ibidem, IX, 10. O Deus é dia e noite, inverno e verão, guerra e paz, saciedade e fome; mas se alterna como Fogo, quando se mistura a incensos, e se denomina segundo o gosto de cada. 68. JÂMBLICO, Dos mistérios , I, 11. E por isso Heráclito os chamou (a alguns ritos) de remédios, como se fossem para curar os males e afastar as almas das desgraças da geração. 69. IDEM; ibidem, V, 15. De sacrifícios há duas espécies; uns oferecidos por homens inteiramente purificados, qual poderia ocorrer raramente em um indivíduo, como diz Heráclito, ou em alguns poucos, fáceis de contar; e outros são materiais. 70. IDEM, Das almas , [ESTOBEU, Éclogas , II, 1, 16.] 46 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA Jogos de criança Heráclito considerou as opiniões humanas. 71. MARCO AURÉLIO, IV, 46. É preciso lembrar-se também do que esquece por onde passa o caminho. 72. IDEM, IV, 46. Do logos com que mais constantemente convivem, deste divergem; e (as coisas) que encontram cada dia, estas lhe parecem estranhas. 73. IDEM, IV, 46. Não se deve agir nem falar como os que dormem. 75. IDEM, IV, 46. Os que dormem, creio que chama Heráclito de obreiros e colaboradores (das coisas) que no mundo vêm a ser. 76. MÁXIMO DE TIRO. Philosophoúmena , XII, 4. Vive Fogo a morte de terra, ar vive a morte do Fogo, água vive a morte de ar, terra a de água. - PLUTARCO, De E apud Delphos, 18. Morte do Fogo gênese para ar, morte de ar gênese para água. - Marco Aurélio, IV, 46. Lembrar-se sempre do dito de Heráclito, que morte de terra é tornar-se água, morte de água é tornar-se ar, de ar Fogo, e vice-versa. F A C U L D A D E S F A C E T E N | 47 77. NUMÊNIO, fragmento 35. Donde também Heráclito dizer que para almas é prazer ou morte tornarem-se úmidas. Prazer seria para elas a queda na geração. Em outra passagem ele diz que vivemos nós a morte delas e vivem elas a nossa morte. 78. ORÍGENES, Contra Celso , VI, 12. O modo humano não comporta sentenças, mas o divino comporta. 79. IDEM, ibidem. O homem como uma criança ouve o divino, tal como a criança o homem. 80. IDEM, ibidem, VI, 42. É preciso saber que o combate é o-que-é-com, é justiça (é) discórdia, e que todas as (coisas) vêm a ser segundo a discórdia e necessidade. 81. FILODEMO, Retórica , I, c. 57. Ancestral dos charlatões (Heráclito). 82. PLATÃO, Hípias Maior , 289 a. O mais belo símio é feio, a se confrontar com o gênero humano. 48 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 83. IDEM, ibidem, 289 b. O mais sábio dos homens em face de Deus se manifestará como um símio, em sabedoria, beleza e tudo o mais. 84a. PLOTINO, Enéadas , IV, 8,1. Transmudando repousa (o Fogo etéreo no corpo humano). 84b. IDEM, ibidem. Fadiga é pelos mesmos (princípios) penar e ser governado. 85. PLUTARCO, Coriolano , 22 . Lutar contra o coração é difícil; pois o que ele quer compra- se a preço de alma. 86. IDEM, ibidem, 38. A maior parte das (coisas) divinas, segundo Heráclito, por desconfiança esquiva-se de modo a não se conhecerem. 87. IDEM, Do que se deve ouvir, 7 p. 41 A. Um homem tolo gosta de se empolgar a cada palavra. 88. IDEM, Consolação a Apolônio, 10 p. 106 E. O mesmo é em (nós) vivo e morto, desperto e dormindo e dormindo, novo e velho; pois estes, tombados além, são aqueles e aqueles de novo, tombados no além, são estes. F A C U L D A D E S F A C E T E N | 49 89. IDEM, Da superstição , 3 p. 166 C. Heráclito diz que para os despertos um mundo único e comum é, mas os que estão no leito cada um se revira para o seu próprio. 90. IDEM, De E apud Delphos, 8 p. 388 E. Por Fogo se trocam todas as (coisas) e Fogo por todas, tal como por ouro mercadorias e por mercadorias ouro. 91. IDEM, ibidem, 18 p. 392 B. Em rio não se pode entrar duas vezes no mesmo, segundo Heráclito, nem substância mortal tocar duas vezes na mesmacondição; mas pela intensidade e rapidez da mudança dispersa e de novo reúne (ou melhor, nem mesmo de novo nem depois, mas ao mesmo tempo) compõe-se e desiste, aproxima-se e afasta-se. 92. IDEM, Dos Oráculos da Pitonisa , 6 p. 397 A. E a Sibila com delirante boca sem risos, sem belezas, sem perfumes ressoando mil anos ultrapassa com a voz, pelo deus nela. 93. IDEM, ibidem 21 p. 404 D. O senhor, de quem é o Oráculo de Delphos, nem diz nem oculta, mas dá sinais. 50 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 94. IDEM, Do exílio , 11 p. 604 A. Pois Hélios não transpassará as medidas; senão as Erínias, servas da Justiça, descobrirão. 95. IDEM, Banquete , III, pr. 1. p 644 F. Pois ignorância é melhor ocultar. Mas é trabalhoso no desaperto e com vinho. 96. IDEM, ibidem, IV 4, 3 p. 669 A. Pois cadáveres, mais do que estercos, são para se jogar fora. 97. IDEM, As Seni Res Publica gerenda sit , 7 p. 787 C. Pois cães ladram contra os que eles não conhecem. 98. IDEM, Da face da Lua , 28 p. 943 E. As almas farejam (no invisível) Hades. 99. IDEM, Aquane an Ignis sit utilior , 7 p 957 A. Não fosse o sol, com os outros astros seria noite. 100. IDEM, Questões Platônicas , 8, 4 p 1 007 D. Destes (os períodos anuais) o sol sendo preposto e vigia, define, dirige revela e expõe à luz das transmutações e horas, as quais traz em todas (as coisas), segundo Heráclito. F A C U L D A D E S F A C E T E N | 51 101. IDEM, Contra Colotes , 20. 1 118 C. Procurei-me a mim mesmo. 102. PORFÍRIO, Questões Homéricas , Ilíada, IV, 4. Para o deus são belas todas as coisas e boas e justas, mas homens umas tomam como (injustas), outras (como) justas. 103. IDEM, ibidem, XIV, 200. Pois comum (é) princípio e fim em periferia de círculo. 104. PROCLO, Comentários ao Alcibíades I , p. 525, 21. Pois que inteligência ou compreensão é a deles? Em cantores de rua acreditam e por mestre têm a massa, não sabendo que "a maioria é ruim e poucos são bons". 105. Escólios Homéricos , AT XVIII, 251. Dessa passagem Heráclito afirma que astrólogo foi Homero, assim como daquela em que o poeta diz "do destino, eu afirmo, jamais homem algum escapou". 106. SÊNECA, Epístolas , XII, 7. Com razão Heráclito censurou Hesíodo por fazer uns dias bons e outros maus, dizendo que ignorava como a natureza de cada dia é uma e a mesma. 52 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 107. SEXTO EMPÍRICO, Contra os Matemáticos , VII, 7. Más testemunhas para os homens são olhos e ouvidos, se almas bárbaras eles têm. 108. ESTOBEU, Florilégio , I, 174. De quantos ouvi as lições nenhum chega a esse ponto de conhecer que a (coisa) sábia é separada de todas. 109=95. 110. IDEM, ibidem, I, 176. Para homens suceder tudo que querem não (é) melhor. 111. IDEM, ibidem, I, 177. Doença faz da saúde (algo) agradável e bom, fome de saciedade, fadiga de repouso. 112. IDEM, ibidem, I, 178. Pensar sensatamente (é) virtude máxima e sabedoria é dizer (coisas) verídicas e fazer segundo (a) natureza, escutando. 113. IDEM, ibidem, I, 179. Comum é a todos o pensar. 114. IDEM, ibidem, I, 179. F A C U L D A D E S F A C E T E N | 53 (Os) que falam com inteligência é necessário que se fortaleçam como o comum de todos, tal como a lei e a cidade, e muito mais fortemente: pois alimentam-se todas as coisas humanas de uma só, a divina: pois, domina tão longe quanto quer, e é suficiente para todas as (coisas) e ainda sobra. 115. IDEM, ibidem, 180 a . De alma é (um) logos que a si próprio se aumenta. 116. IDEM, ibidem, V, 6 . A todos os homens é compartilhado o conhecer-se a si mesmo e pensar sensatamente. 117. IDEM, ibidem, V, 7 . Um homem quando se embriaga é levado por criança impúbere, cambaleante, não sabendo para onde vai, porque úmida tem a alma. 118. IDEM, ibidem, V, 8 . Brilho seco (é a) alma mais sábia e melhor. Ou antes, segundo a leitura de Stephanus: Alma seca (é) a mais sábia e melhor. 54 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 119. IDEM, ibidem, IV, 40, 23 . Heráclito dizia que o ético no homem é o demônio e o demônio é o ético. 120. ESTRABÃO, I, 6, p. 3. Limite de aurora e crepúsculo (são) a Ursa e em face da Ursa a baliza fulgurante de Zeus. 121. IDEM, XIV, 25, p. 642; DIÓGENES LAÉRCIO, IX, 2. Merecia que os efésios adultos se enforcassem e aos não adultos abandonassem a cidade, eles que a Hermodoro, o melhor homem deles e o de mais valor, expulsaram dizendo:que entre nós ninguém seja o mais valoroso, senão que vá alhures e com os outros. 122. SUDA, s.v. " ankhibátein " e " amphisbátein ". Aproximação, segundo Heráclito. 123. TEMÍSTIO, Orastio ,V, p. 69. Natureza ama esconder-se. 124. TEOFRASTO, Metafísica, 15, p. 7 a 10. (Como?) coisas varridas e ao acaso confundidas (é?) o mais belo mundo. F A C U L D A D E S F A C E T E N | 55 125. IDEM, De Vertigine , 9 . Também o "cyceon" se decompõe, se não for agitado. 125a. TZETZES, Comentários ao Plutão de Aristófanes, 88 . Que não vos abandone a riqueza, efésios, a fim de que seja provada a vossa ruindade. 126. IDEM, Escólios para a Exegese da Ilíada . As (coisas) frias esquentam, quente esfria, úmido seca, seco umedece. A ESCOLA ELEÁTICA Desenvolveu-se em Eléia, no sul da Itália. Tem como característica, o oposto do pensamento de Heráclito. Ou seja, para os eleatas o movimento não existe. Para os eleatas existe somente o Ser, aquilo que é, a permanência. A mudança é um erro dos nossos sentidos. Um dos seus principais expoentes foi Parmênides que nasceu em Eléia na segunda metade do século VI a.C. O grande princípio de Parmênides, que é o próprio princípio da verdade, é este: o ser é e não pode não ser; o não ser não é e não pode ser de modo algum. No contexto do discurso de Parmênides, “ser” e “não ser” são tomados em seu significado integral e unívoco: o ser é o positivo puro e o não ser é o negativo 56 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA puro, um é o absoluto contraditório do outro. A argumentação é muito simples: tudo aquilo que alguém pensa e diz, é. Não se pode pensar (e, portanto, dizer) senão pensando (e, portanto, dizendo) aquilo que é. Em suas preocupações ontológicas Parmênides entendeu que O ser é “incriado” e “incorruptível”. É incriado visto que, se fosse gerado, deveria ter derivado de um não-ser, o que seria absurdo, dado que o não-ser não é, ou então deveria ter derivado do ser, o que é igualmente absurdo, porque então ele já seria. Também de Parmênides chegaram até nós alguns fragmentos, que foram compilados pelo professor João Hobuss em sua obra Introdução a História da Filosofia Antiga. Fragmentos estes que serão expostos agora, para melhor exemplificar o pensamento de Parmênides. 8. SOBRE A NATUREZA (DK 28 B 1-9) * 1. SEXTO EMPÍRICO Contra os matemáticos VII, 111 e ss. (versos 1-30), e SIMPLÍCIO, Do Céu , 557, 20 (vv. 28-32) As éguas que me levam onde o coração pedisse conduziam-me, pois à via multifalante me impeliram da deusa, que por todas as cidades leva o homem que sabe; por esta eu era levado, por este, muito sagazes, me levaram Extraído do volume Pré-Socráticos da Coleção Os Pensadores - Nova Cultural (Tradução de José Cavalcante de Souza). F A C U L D A D E S F A C E T E N | 57 as éguas o carro puxando, e as moças a viagem dirigiam. O eixo nos meões emitia som de sirena incandescendo (era movido por duplas, turbilhonantes rodas de ambos os lados), quando se apressavam a enviar-me as filhas do Sol, deixando as moradas da Noite, para a luz, das cabeças retirando com as mãos os véus. É lá que estão as portas aos caminhos de Noite e Dia, e as sustenta à parte uma verga e uma soleira de pedra, e elas etéreas enchem- se de grandes batentes; destes Justiça de muitas penas tem chaves alternantes.A esta, falando-lhe as jovens com brandas palavras, persuadiram habilmente a que a tranca aferrolhada depressa removesse das portas; e estas, dos batentes, um vão escancarado fizeram abrindo-se, os brônzeos umbrais nos gonzos alternadamente fazendo girar, em cavilhas e chavetas ajustados; por lá, pelas portas logo as moças pela estrada tinham carro e éguas. E a deusa me acolheu benévola, e na sua a minha mão direita tomou, e assim dizia e me interpelava: Ó jovem, companheiro de aurigas imortais, tu que assim conduzido chegas à nossa morada, salve! Pois não foi mau destino que te mandou perlustrar esta via (pois ela está fora da senda dos homens), mas lei divina e justiça; é preciso que de tudo te instruas, do âmago inabalável da verdade bem redonda, e de opiniões de mortais, em que não há fé verdadeira. No entanto também isto aprenderás, 58 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA como as aparências deviam validamente ser, tudo por tudo atravessando. 2. PROCLO, Comentário ao Timeu , I, 345, 18. Pois bem, eu te direi, e tu recebe a palavra que ouviste, os únicos caminhos de inquérito que são a pensar: o primeiro, que é e portanto que não é não ser, de Persuasão é o caminho (pois à verdade acompanha); o outro, que não é e portanto que é preciso não ser, este então, eu te digo, é atalho de todo incrível; pois nem conhecerias o que não é (pois não é exequível), nem o dirias... 3. CLEMENTE DE ALEXANDRIA, Tapeçarias , VI, 23. ...pois o mesmo é a pensar e portanto ser. 4. IDEM, Ibidem, V, 15. Mas olha embora ausentes à mente presentes firmemente; pois não deceparás o que é de aderir ao que é, nem dispersado em tudo totalmente pelo cosmo, nem concentrado... 5. PROCLO, Comentário a Parmênides , I, p. 708, 16. ...para mim é comum donde eu comece; pois aí de novo chegarei de volta. F A C U L D A D E S F A C E T E N | 59 6. SIMPLÍCIO, Física , 117, 2. Necessário é o dizer e pensar que (o) ente é; pois é ser, e nada não é; isto eu te mando considerar. Pois primeiro desta via de inquérito eu te afasto, mas depois daquela outra, em que mortais que nada sabem erram, duplas cabeças, pois o imediato em seus peitos dirige errante pensamento; e são levados como surdos e cegos, perplexas, indecisas massas, para os quais ser e não ser é reputado o mesmo e não o mesmo, e de tudo é reversível o caminho. 7-8. PLATÃO, Sofista , 237 A (versos 7,1-2); SEXTO EMPÍRICO, Contra os matemáticos VII, 111-114 114 (vv. 7, 3-6); SIMPLÍCIO, Física , 114, 29 (vv. 8, 1-52); IDEM, ibidem, 38, 28 (vv. 8, 50-61). Não, impossível que isto prevaleça, ser (o) não ente. Tu porém desta via de inquérito afasta o pensamento; nem o hábito multiexperiente por esta via te force, exercer sem visão um olho, e ressoante um ouvido, e a língua, mas discerne em discurso controversa tese por mim exposta. Só ainda (o) mito de (uma) via resta, que é; e sobre esta indícios existem, bem muitos, de que ingênito sendo é também imperecível, pois é todo inteiro, inabalável e sem fim; nem jamais era nem será, pois é agora todo junto, uno, contínuo; pois que geração procurarias dele? Por onde, donde crescido? Nem de não 60 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA ente permitirei que digas e pense; pois não dizível nem pensável é que não é; que necessidade o teria impelido a depois ou antes, se do nada iniciado, nascer? Assim ou totalmente é necessário ser ou não. Nem jamais do que em certo modo é permitia força de fé nascer algo além dele; por isso nem nascer nem perecer deixou justiça, afrouxando amarras, mas mantém; e a decisão sobre isto está no seguinte: é ou não é; está portanto decidido, como é necessário, uma via abandonar, impensável, inominável, pois verdadeira via não é, e sim a outra, de modo a se encontrar e ser real. E como depois pereceria o que é? Como poderia nascer? Pois se nasceu, não é, nem também se um dia é para ser. Assim geração é extinta e fora de inquérito perecimento. Nem divisível é, pois é todo idêntico; nem algo em uma parte mais, que o impedisse de conter-se, nem também algo menos, mas é todo cheio do que é, por isso é todo contínuo; pois ente a ente adere. Por outro lado, imóvel em limites de grandes liames é sem princípio e sem pausa, pois geração e perecimento bem longe afastaram-se, rechaçou-os fé verdadeira. O mesmo e no mesmo persistindo em si mesmo pousa. e assim firmado aí persiste; pois firme a Necessidade em liames (o) mantém, de limite que em volta o encerra, para ser lei que não sem termo seja o ente; pois é não carente; não sendo, de tudo careceria. F A C U L D A D E S F A C E T E N | 61 O mesmo é pensar e em vista de que é pensamento. Pois não sem o que é, no qual é revelado em palavra, acharás o pensar; pois nem era ou é ou será outro fora do que é, pois Moira o encadeou a ser inteiro e imóvel; por isso tudo será nome quanto os mortais estatuíram, convictos de ser verdade, engendrar-se e perecer, ser e também não, e lugar cambiar e cor brilhante alternar. Então, pois limite é extremo, bem terminado é, de todo lado, semelhante a volume de esfera bem redonda, do centro equilibrado em tudo; pois ele nem algo maior nem algo menor é necessário ser aqui ou ali; pois nem não-ente é, que o impeça de chegar ao igual, nem é que fosse a partir do ente aqui mais e ali menos, pois é todo inviolado; pois a si de todo igual, igualmente em limites se encontra. Neste ponto encerro fidedigna palavra e pensamento sobre a verdade; e opiniões mortais a partir daqui aprende, a ordem enganadora de minhas palavras ouvindo. Pois duas formas estatuíram que suas sentenças nomeassem, das quais uma não se deve — no que estão errantes —; em contrários separaram o compacto e sinais puseram à parte um do outro, de um lado, etéreo Fogo de chama, suave e muito leve, em tudo o mesmo que ele próprio mas não o mesmo que o outro; e aquilo em si mesmo (puseram) em contrário, noite sem brilho, compacto denso e pesado. A ordem do mundo, verossímil em todos os pontos, eu te revelo, para que nunca sentença de mortais te ultrapasse. 62 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 9. SIMPLÍCIO, Física , 180, 8. Mas desde que todas (as coisas) luz e noite estão denominadas, e os (nomes aplicados) a estas e aquelas segundo seus poderes, tudo está cheio em conjunto de luz e de noite sem luz, das duas igualmente, pois de nenhuma (só) participa nada. 10. CLEMENTE DE ALEXANDRIA, Tapeçarias , V, 138. Saberás e expansão luminosa do éter e o que, no éter, é tudo signo, do sol resplandecente, límpido luzeiro, efeitos invisíveis, e donde provieram; efeitos circulantes saberás da lua de face redonda, e sua natureza; e saberás também o céu que circunda, donde nasceu e como, dirigindo, forçou-o Ananke a manter limites de astros. 11. SIMPLÍCIO, Do Céu , 559-20. ...Como terra, sol e lua, éter comum, celeste via láctea, Olimpo extremo e de astros cálida força se lançaram. 12. IDEM, Física , 39,12. Pois os mais estreitos encheram-se de Fogo sem mistura, e os seguintes, de noite, e entre (os dois) projeta-se parte de chama; mas no meio destes a Divindade que tudo governa; pois em tudo ela rege odioso parto e união mandando ao macho unir-se a fêmea e pelo contrário o macho à fêmea. F A C U L D A D E S F A C E T E N | 63 13. PLATÃO, Banquete , 178 B. Primeiro de todos os deuses Amor ela concebeu. 14. PLUTARCO, Contra Colotes , 15, p. 1116 A. Brilhante à noite, errante em torno à terra, alheia luz. 15. IDEM, Da Face da Lua , 16, 6 p. 929 A. Sempre olhando inquieta para os raios do sol. 16. ARISTÓTELES, Metafísica , III, 5 1009b21. Pois como cada um tem mistura de membros errantes, assim a mente nos homens se apresenta; pois o mesmo é o que pensa nos homens, eclosão de membros, em todos e em cada um; pois o mais é pensamento. 17. GALENO, in Epid ., VI, 48. A direitaos rapazes, à esquerda as moças. 18. CÉLIO AURELIANO, Morb. Cron ., IV, 9, p. 116. Mulher e homem quando juntos misturam sementes de Vênus, nas veias informando de sangue diverso a força, guardando harmonia corpos bem forjados modela. Pois se as forças, misturando o sêmen, lutarem e não se unirem no corpo misturado, terríveis afligirão o sexo nascente de um duplo sêmen. 64 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 19. SIMPLÍCIO, Do Céu , 558, 8. Assim, segundo opinião, nasceram estas (coisas) e agora são e em seguida a isso se consumarão, uma vez crescidas; um nome lhes atribuíram os homens, distintivo de cada. Este capítulo versou sobre os pré-socráticos, origem das escolas filosóficas e suas preocupações com a physis e a cosmologia. No capítulo seguinte tratar-se-á dos sofistas e da reação a estes filósofos. E apresentará um novo período na filosofia o denominado período socrático. 9. OS FÍSICOS POSTERIORES. Os físicos posteriores procuram responder o paradoxo revelado nas distintas posições representadas por Parmênides e Heráclito, sobre a existência da realidade e seu movimento ou não movimentos. Os físicos posteriores são denominados de Atomistas. São estes os principais: Leucipo; Demócrito; Empédocles e Anaxágoras. Estes atomistas buscaram compreender os esquemas filosóficos de Heráclito e Parmênides, pretendendo dar conta do paradoxo, realidade- movimento, apresentado por estes dois filósofos. 10. EMPÉDOCLES DE AGRIGENTO Empédocles cria na existência de quatro elementos, o fogo, a água, o ar e a terra. Que para ele estes elementos tem por F A C U L D A D E S F A C E T E N | 65 característica essencial, o fato de não mudarem, estes elementos sempre existiram. Para Empédocles, são as únicas realidades existentes. Além destes elementos, Empédocles agrega outros dois, amor e discórdia, que atuam sobre estes quatro elementos. Como demonstra Smplício em Krans & Diels: [Empédocles] estabelece a existência de quatro elementos corporais: o fogo, a água, o ar e a terra, que são eternos, mas mudam em quantidade, isto é, para mais ou menos, conforme à associação e dissociação; a eles se acrescentam os princípios propriamente ditos, pelos quais os quatro elementos são movidos, o Amor e a Discórdia (DIELS, H.; KRANZ, W 2014) Empédocles entendia que com tal relação entre amor e discória e os elementos, poderia explicar as mudanças que ocorrem no mundo. 11. ANÁXAGORAS DE CLAZÔMENES Encontra-se em Anáxagoras o mesmo objetivo de pensamento que encontra-se em Empédocles. Embora o pensamento de Anáxagoras seja mais sofisticado filosoficamente, com a introdução do princípio da inteligência “pura e simples”. Para Anaxagoras essa inteligência atua sobre uma massa primordial, onde todas as coisas existem de forma conjunta, e com sua atuação, a inteligência as ordena. Instituindo um movmento sobre esta massa originária. Todas as coisas estavam juntas, 66 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA ilimitadas em número e em pequenez. Pois o pequeno era ilimitado e, todas as coisas. estando juntas, nenhuma era perceptível devido a sua pequenez. 12. Demócrito de Abdera 460 – 370 antes de Cristo O atomismo e sua criação estão atreladas a Leucipo, mas esta é uma figura deixada de lado. Dito isso o foco será na filosofia de Demócrito, representante principal desta Escola, a Escola Atomista. Princípios fundamentais da filosofia atomista de Demôcrito: Os princípios de todas as coisas são os átomos e o vazio, e todo o resto só existe por convenção. Os mundos são ilimitados e sujeitos à geração e à corrupção. Nada poderia se engendrado a partir do não ser, e nada poderia, corrompendo- se, retornar ao não ser. Os átomos são ilimitados em grandeza e número, e animado por um movimento em turbilhão no universo, o que tem por efeito engendrar todos os compostos. (Diógenes, 199; 44) Tem-se o átomo e o vazio, e o movimento regido pela necessidade, em forma de turbilhão, fazendo com que os átomos se choquem. Todas as coisas são formadas pelos átomos e eles são imperceptíveis a olho nu. Em Demócrito percebe-se que aquilo que é, o Ser, é criação do átomo, responsável pela gênese de todas as coisas e de todos os mundos. F A C U L D A D E S F A C E T E N | 67 13. PERÍODO CLÁSSICO OS SOFISTAS Os sofistas foram filósofos. O termo sofista significa “sábio”, “especialista do saber”. Percebe-se ser um conceito positivo, mas porque tomou ares negativos na história? Tomou tais percepções pois Platão e Aristóteles levantaram forte polêmica sobre estes pensadores. Como já havia feito Sócrates, eles Platão e Aristóteles sustentaram que o saber dos sofistas era “aparente” e não “efetivo” e que, ademais, não era professado tendo em vista a busca desinteressada da verdade, mas sim com objetivos de lucro. Platão, em especial, insistiu na periculosidade das ideias dos sofistas do ponto de vista moral, bem como em sua inconsistência teorética. Durante muito tempo, os historiadores da filosofia, adotaram os termos de Platão e Aristóteles para se referir aos sofistas, de modo que geralmente o movimento foi desvalorizado, sendo considerado um movimento de decadência do pensamento grego. Somente em nosso século é que se teve uma revisão dessa escola filosófica e de forma positiva se construiu um novo juizo sobre estes pensadores. Como por exemplo as conclusões deW. Jaeger na sua obra Paidéia. Escreve W. Jaeger que os sofistas foram um fenômeno tão necessário para a história da filosofia quanto foram Sócrates e 68 |HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA Platão, e alias sem os sofistas, estes dois não existiriam. Os sofistas operaram uma verdadeira revolução espiritual deslocando o eixo da reflexão filosófica da physis e do cosmos para o homem e aquilo que concerne a vida do homem como membro de uma sociedade. Os sofistas, entre eles Górgias, Leontinos e Abdera, defendiam uma educação, cujo objetivo máximo seria a formação de um cidadão pleno, preparado para atuar politicamente para o crescimento da cidade. Dentro desta proposta pedagógica, os jovens deveriam ser preparados para falar bem (retórica), pensar e manifestar suas qualidades artísticas. É compreensível, portanto, que a sofística tenha feito de seus temas predominantes a ética, a política, a retórica, a arte, a língua, a religião e a educação, ou seja, aquilo que hoje chamamos a cultura do homem. Assim, é exato afirmar que, com os sofistas, inicia-se o período humanista da filosofia antiga. PERÍODO SOCRÁTICO Os séculos V e IV a.C. na Grécia Antiga foram de grande desenvolvimento cultural e científico. O esplendor de cidades como Atenas, e seu sistema político democrático, proporcionou o terreno propício para o desenvolvimento do pensamento. É a época do grande pensador SÓCRATES (469 – 399 a.C.) Sócrates começa a pensar e refletir sobre o homem, buscando entender o funcionamento do Universo dentro de uma F A C U L D A D E S F A C E T E N | 69 concepção científica. Para ele, a verdade está ligada ao bem moral do ser humano. Ele não deixou textos ou outros documentos, desta forma, só podemos conhecer as idéias de Sócrates através dos relatos deixados por Platão. PLATÃO foi discípulo de Sócrates e defendia que as idéias formavam o foco do conhecimento intelectual. Os pensadores teriam a função de entender o mundo da realidade, separando-o das aparências. Outro grande sábio desta época foi ARISTÓTELES que desenvolveu os estudos de Platão e Sócrates. Foi Aristóteles quem desenvolveu a lógica dedutiva clássica, como forma de chegar ao conhecimento científico. A sistematização e os métodos devem ser desenvolvidos para se chegar ao conhecimento pretendido, partindo sempre dos conceitos gerais para os específicos. Sócrates foi o grande marco divisório da filosofia grega. A filosofia
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