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historia da filosofia

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Prévia do material em texto

HISTÓRIA DA 
FILOSOFIA
Professor Me. Victor Hugo Mazia 
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Acesse o seu livro também disponível na versão digital.
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; MAZIA, Victor Hugo. 
 
 História da Filosofia. Victor Hugo Mazia. 
 Maringá-Pr.: Unicesumar, 2019. 
 222 p.
“Graduação - EaD”.
 
 1. História. 2. Filososfia. 3. Platão 4. EaD. I. História da Filosofia.
ISBN ISBN 978-85-459-1771-7
CDD - 22 ed. 101.9
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Diretoria Executiva
Chrystiano Minco�
James Prestes
Tiago Stachon 
Diretoria de Graduação e Pós-graduação 
Kátia Coelho
Diretoria de Permanência 
Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Head de Produção de Conteúdos
Celso Luiz Braga de Souza Filho
Head de Curadoria e Inovação
Jorge Luiz Vargas Prudencio de Barros Pires
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Gerência de Processos Acadêmicos
Taessa Penha Shiraishi Vieira
Gerência de Curadoria
Giovana Costa Alfredo
Supervisão do Núcleo de Produção 
de Materiais
Nádila Toledo
Supervisão Operacional de Ensino
Luiz Arthur Sanglard
Coordenador de Conteúdo
Eder Rodrigo Gimenes
Designer Educacional
Giovana Vieira Cardoso
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Ilustração Capa
Bruno Pardinho
Editoração
Matheus Silva de Souza
Qualidade Textual
Ariane Andrade Fabreti
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos 
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade, 
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos 
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e 
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos 
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: 
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, 
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos 
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e 
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros 
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por 
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma 
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos 
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos 
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades 
de todos. Para continuar relevante, a instituição 
de educação precisa ter pelo menos três virtudes: 
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de 
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam 
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferentes 
áreas do conhecimento, formando profissionais 
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal 
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual 
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Crian-
do oportunidades e/ou estabelecendo mudanças 
capazes de alcançar um nível de desenvolvimento 
compatível com os desafios que surgem no mundo 
contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógi-
ca e encontram-se integrados à proposta pedagógica, 
contribuindo no processo educacional, complemen-
tando sua formação profissional, desenvolvendo com-
petências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos 
em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no 
mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm 
como principal objetivo “provocar uma aproximação 
entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o 
desenvolvimento da autonomia em busca dos conhe-
cimentos necessários para a sua formação pessoal e 
profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fó-
runs e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe 
das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma 
equipe de professores e tutores que se encontra dis-
ponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em 
seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe 
trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória 
acadêmica.
CU
RR
ÍC
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LO
Professor Me. Victor Hugo Mazia 
Possui graduação em Licenciatura Plena de Filosofia pela Universidade 
Estadual de Maringá (2012) e mestrado em Filosofia pela Universidade 
Estadual de Maringá (2016). Tem experiência na área de Filosofia, com 
ênfase em Metafísica, Filosofia Moderna e Filosofia de Nietzsche, atuando 
principalmente nos seguintes temas: Crítica da moral, Estética, Metafísica e 
Vontade de potência.
<http://lattes.cnpq.br/8453980780365367>
SEJA BEM-VINDO(A)!
Prezado(a) aluno(a), é com muito prazer que apresentamos o livro de História da 
Filosofia, o qual fará parte de sua formação acadêmica. A filosofia tem o seu início no 
século VI a. C., na região grega da Jônia. Isso significa que estamos falando de 2.700 
anos de produção filosófica ao longo da história. Trata-se de um conteúdo pratica-
mente inesgotável.
Diante disso, nós pretendemos apresentar de forma organizada a história do pen-
samento filosófico, destacando os principais nomes de cada período, as principais 
correntes e os conceitos filosóficos mais fundamentais. Por isso, este livro é compos-
to por cinco unidades, dentre as quais abordaremos os seguintes períodos: filosofia 
antiga, medieval, moderna e contemporânea.
Na Unidade 1, abordaremos o surgimento da filosofia, as suas características e os 
principais pensadores dessa época. Na Unidade 2, estudaremos o surgimento da fi-
losofia medieval, bem como os seus aspectos mais relevantes. Na Unidade 3, nos de-
dicaremos ao estudo da filosofia moderna, enfatizando o papel ascendente da razão 
nesse período. Na Unidade 4, examinaremos o início da filosofia contemporânea e as 
primeiras correntes filosóficas dessa época. Por fim, na Unidade 5, apresentaremos 
um tema da filosofia contemporânea, a saber, a pós-modernidade.
Neste panorama, nós passaremos pelos principais nomes da história da filosofia, tra-
zendo indicações sobre as reflexões desses pensadores. De Platão e Aristóteles do 
mundo antigo, até Nietzsche, Kierkegaard e Sartre da filosofia contemporânea.
Finalmente, conhecer a história da filosofia é imprescindível para todos aqueles que 
desejam entender um pouco mais da nossa cultura, para aqueles que desejam fazer 
filosofia ou mesmo ensiná-la apropriadamente. O repertório filosófico é condição 
necessária para que os nossos debates e as nossas reflexões não caiam na superficia-
lidade. Por isso, vale o esforço de conhecer essa história tão rica. Boa leitura!
APRESENTAÇÃO
HISTÓRIA DA FILOSOFIA
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA
15 Introdução 
16 Do Mito à Razão: Uma Introdução 
20 Os Pré-Socráticos, ou Filósofos da Natureza 
27 Sócrates, a Moral e a Maiêutica 
34 Platão, a Dialética e a Teoria das Ideias 
43 Aristóteles, a Ética ea Metafísica 
49 Considerações Finais 
59 Referências 
61 Gabarito 
UNIDADE II
HISTÓRIA DA FILOSOFIA MEDIEVAL
65 Introdução 
67 Os Pensadores Cristãos e a Patrística 
73 Agostinho de Hipona e o Livre-Arbítrio 
80 Anselmo de Cantuária e a Prova da Existência de Deus 
90 Tomás de Aquino, a Escolástica e o Aristotelismo 
97 Considerações Finais 
108 Referências 
110 Gabarito 
SUMÁRIO
10
UNIDADE III
HISTÓRIA DA FILOSOFIA MODERNA
113 Introdução 
114 O Início da Modernidade e o Racionalismo de René Descartes 
120 O Empirismo de Francis Bacon 
125 Immanuel Kant, o Iluminismo e a Filosofia Transcendental 
131 Hegel e a Fenomenologia do Espírito 
135 Karl Marx e o Materialismo Histórico Dialético 
140 Considerações Finais 
148 Referências 
150 Gabarito 
UNIDADE IV
HISTÓRIA DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
153 Introdução 
154 Nietzsche e o Rompimento com a Filosofia Moderna 
164 O Existencialismo Religioso de Soren Kierkegaard 
169 O Existencialismo Francês de Jean-Paul Sartre 
176 O Existencialismo Ateu de Albert Camus 
181 Considerações Finais 
188 Referências 
190 Gabarito 
SUMÁRIO
11
UNIDADE V
PÓS-MODERNIDADE, UMA DISCUSSÃO
191 Introdução 
192 Introdução ao Conceito de Pós-Modernidade 
199 Os Defensores da Pós-Modernidade 
208 Os Críticos da Pós-Modernidade 
213 Considerações Finais 
220 Referências 
221 Gabarito 
222 CONCLUSÃO 
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Professor Me. Victor Hugo Mazia
HISTÓRIA DA FILOSOFIA 
ANTIGA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Entender a ruptura entre o pensamento mitológico e o pensamento 
filosófico.
 ■ Adquirir noções gerais acerca dos primeiros filósofos e de suas 
filosofias.
 ■ Conhecer a figura de Sócrates e as bases de sua filosofia.
 ■ Compreender as bases da metafísica de Platão e as suas concepções 
políticas.
 ■ Adquirir um conhecimento geral da metafísica de Aristóteles.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Do mito à razão: uma introdução
 ■ Os pré-socráticos, ou filósofos da natureza
 ■ Sócrates, a moral e a maiêutica
 ■ Platão, a dialética e a Teoria das Ideias
 ■ Aristóteles, a ética e a metafísica
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), esta unidade apresentará a história da filosofia antiga, perí-
odo em que o pensamento filosófico floresceu. Nós exporemos os principais 
nomes da época, bem como as ideias desses primeiros filósofos. Nomes como 
Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, Heráclito de Éfeso e Parmênides de 
Eléia foram fundamentais para a filosofia antiga, viabilizando o surgimento de 
grandes pensadores, como Platão e Aristóteles. Isto revelará, posteriormente, o 
quanto o pensamento ocidental contemporâneo é tributário das filosofias antigas.
Com base nisso, percorreremos, basicamente, três grandes momentos da 
história da filosofia antiga. Primeiro, trataremos rapidamente do surgimento da 
filosofia, isto é, da passagem do pensamento mitológico para o pensamento filo-
sófico. Segundo, percorreremos as primeiras filosofias do mundo antigo, cujos 
autores são conhecidos pelo título de pré-socráticos. Terceiro, e para encerrar 
o nosso itinerário, faremos um panorama das filosofias de Sócrates, Platão e 
Aristóteles.
Assim, esta unidade pretende ser uma porta de entrada para que você inicie 
os seus estudos da história da filosofia antiga. Esta unidade lhe fornecerá uma 
visão panorâmica desse período da filosofia, elencando os principais temas da 
época e lhe proporcionará a chance de entrar em contato com as primeiras filo-
sofias da Grécia Antiga, as quais ressoam até os dias atuais. Boa leitura!
Introdução
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HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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DO MITO À RAZÃO: UMA INTRODUÇÃO
De acordo com Marilena Chauí (2000, p. 34), a palavra mito vem do grego, 
“mythos”, e ela é uma derivação de dois outros verbos: do verbo “mytheyo”, que sig-
nifica contar, narrar, falar; e do verbo “mytheo”, que significa nomear ou designar. 
O mito é um discurso, uma fala ou uma narração sobre a origem das coisas. 
Na Grécia Antiga, os poetas gregos faziam discursos públicos, recitando alguma 
história sobre essa origem, a qual era transmitida de geração a geração por via 
oral. Os poetas eram os grandes narradores e expositores do mito em ambientes 
públicos. Para uma melhor conceitualização do que é o mito, vejamos a explica-
ção de Junito de Souza Brandão (2001):
É necessário deixar bem claro, nessa tentativa de conceituar o mito, que 
o mesmo não tem aqui a conotação usual de fábula, lenda, invenção, 
ficção, mas a acepção que lhe atribuíam e ainda atribuem às sociedades 
arcaicas, às impropriamente denominadas culturas primitivas, onde 
mito é o relato de um acontecimento ocorrido no tempo primordial, 
mediante a intervenção de entes sobrenaturais. Em outros termos, 
mito, [...] é o relato de uma história verdadeira, ocorrida nos tempos 
dos princípios, [...] o mito é, pois, a narrativa de uma criação: algo, que 
não era, começou a ser (BRANDÃO, 2001, p. 37-38).
Do Mito à Razão: Uma Introdução
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Os poetas que mais contribuíram para a mitologia grega foram Homero (século 
VIII a. C., aproximadamente) e Hesíodo (século VII a. C., aproximadamente). As 
obras destes dois poetas constituíram os fundamentos sobre os quais a cultura 
helênica se originou.
A respeito da importância de Homero e Hesíodo, o historiador grego Heródoto 
não economizou palavras para elogiá-los. Para Heródoto (450 a. C., aproximada-
mente), Homero e Hesíodo foram os que criaram os deuses para os gregos:
Durante muito tempo ignorou-se a origem de cada deus, sua forma e na-
tureza, e se eles sempre existiram. Homero e Hesíodo, que 400 anos antes 
de mim, foram os primeiros a descreverem em versos a teogonia, a aludir 
aos sobrenome dos deuses, seu culto e funções, e a traçar-lhes o retrato. 
Os outros poetas, que dizem tê-los precedido, não existiram, na minha 
opinião, senão depois deles (HERÓDOTO, 2001, p. 215).
Homero compôs duas grandes obras: a Ilíada e a Odisseia. Ambas são cantos poéticos 
que narram histórias e, por isso, são compostas em versos. Na Ilíada, nós encon-
tramos a história da guerra de Tróia, que aconteceu em Ilíon – daí o título. Além 
da guerra dos gregos contra Tróia, a Ilíada também destaca a ira do herói Aquiles, 
que foi injustiçado pelo general Agamemnon na repartição dos despojos de guerra.
Os cinco primeiros versos da Ilíada, a porta de entrada da obra, são dedicados 
a narrar a ira de Aquiles: “A ira, deusa, celebra do Peleio Aquiles, o irado desvario, 
que aos aqueus tantas penas trouxe” (HOMERO, 2002, v. 1-3). A obra de Homero, 
pelo fato de ser composta por versos, poema, é referenciada pelo verso e não pela 
página. Nós seguiremos essa regra, visto que tal convenção da citação da obra de 
Homero é respeitada até pela comunidade internacional.
Na segunda obra, Odisseia, nós encontramos a história de Odisseu, também 
conhecido pelo nome latinizado de Ulisses. Odisseu foi um general grego que par-
ticipou da guerra de Tróia, mas teve dificuldades para retornar à ilha de Ítaca, o 
seu reino (HOMERO, 2012).
O poeta Hesíodo compôs a Teogonia e Os Trabalhos e os Dias. Na primeira, nós 
encontramos a história acerca da origem dos deuses (HESÍODO, 2003). O termo 
teogonia vem da junção de duas palavras gregas: “theós” = deuses, “genos” = ori-
gem; daí a teogonia ser o canto sobre a origem dos deuses.
HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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A obra Os Trabalhos e os Dias assume um tom bastante diferente da 
Teogonia. Nesta obra, Hesíodo trata dotema da necessidade do trabalho e 
da justiça, que é, segundo o poeta, filha predileta de Zeus e única esperança 
dos homens. Nela, nós também encontramos informações sobre a educação 
dos filhos e as estações do ano.
À parte de Homero e Hesíodo, os tragediógrafos gregos também contribu-
íram para a formação e a consolidação da cultura mitológica. Dentre eles, 
destacamos Ésquilo (524-425 a. C.), Sófocles (496-406 a. C.) e Eurípides (480-
406 a. C.). As tragédias gregas eram peças teatrais encenadas em ocasiões de 
festas na cidade. Portanto, não havia alguma esfera da cultura que não era 
definida pelo mito na Grécia Antiga, seja religião, ciência, arte, moral, polí-
tica ou educação.
Mito e arte se confundem na Grécia Antiga. Tanto que a arte trágica, isto 
é, o teatro grego de gênero dramático, teve a sua origem no culto ao deus 
Dioniso. Junito Brandão explica: “a tragédia nasceu do culto de Dioniso: 
isto, apesar de algumas tentativas, ainda não se conseguiu negar. Ninguém 
pôde, até hoje, explicar a gênese do trágico, sem passar pelo elemento 
satírico”. 
Fonte: adaptado de Brandão (2001, p. 9).
Esta é talvez a característica mais interessante do mito grego: a constatação 
de que ele se integrou a todas as atividades do espírito. 
(Pierre Grimal)
Do Mito à Razão: Uma Introdução
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A cultura mitológica, contudo, deu lugar ao pensamento filosófico. O mythos 
foi substituído pelo logos. Sobre isso, nós podemos fazer referência ao comen-
tário de Mircea Eliade:
Em nenhuma outra parte vemos, como na Grécia, o mito inspirar 
e guiar não só a poesia épica, a tragédia e a comédia (e acrescenta-
ríamos o lirismo), mas também as artes plásticas; por outro lado, a 
cultura grega foi a única a submeter o mito a uma longa e penetrante 
análise, da qual ele saiu radicalmente “desmitizado”. A ascensão do 
racionalismo jônico coincide com uma crítica cada vez mais corro-
siva da mitologia “clássica”, tal qual é expressa nas obras de Home-
ro e Hesíodo. Se em todas as línguas européias o vocábulo “mito” 
denota uma “ficção”, é porque os gregos o proclamaram há vinte e 
cinco séculos (ELIADE, 1972, p. 130).
Nessa direção, Marilena Chauí (2000) enumera seis pontos sociopolíticos da 
Grécia Antiga que resultaram na queda do mito: 1) viagens marítimas que 
permitiram a descoberta de novos locais, os quais não existiam nos mitos; 
2) a invenção do calendário, permitindo uma nova abstração em relação ao 
tempo; 3) a invenção da moeda, permitindo uma nova forma de abstração 
em relação ao valor dos objetos; 4) o surgimento do comércio e das relações 
de troca, valorizando a técnica e o artesanato, diminuindo o prestígio das 
grandes famílias proprietárias de terras, para quem os mitos eram criados e 
destinados; 5) a invenção da escrita alfabética, menos figurada, revelando um 
aumento no nível de abstração; 6) a invenção da política, instaurando leis em 
que os próprios cidadãos decidem os rumos de suas vidas, dando origem a 
um discurso claro e organizado, além de ser aberta para todos, diferencian-
do-se das religiões míticas em que só os iniciados tinham acesso.
Por fim, a mitologia realmente alcançava todos os domínios da cultura, da 
arte e até da ciência. Com transformações sociais e com a chegada de novos 
pensadores, porém o mito perdeu as suas forças, sendo cada vez mais subs-
tituído pelo logos.
HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E20
OS PRÉ-SOCRÁTICOS, OU FILÓSOFOS DA NATUREZA
Os primeiros filósofos floresceram no século VI a. C., em colônias gregas que 
ficavam na costa do sul da Itália e na costa ocidental da atual Turquia. Esses pri-
meiros filósofos falavam um dialeto grego, tendo sido educados desde a infância 
nos poemas de Homero e Hesíodo, aprendendo a prestar cultos aos deuses da 
Grécia, como Zeus, Apolo e Afrodite.
Atualmente, convencionou-se classificar os primeiros filósofos de “pré-socrá-
ticos”. Esse título obedece a uma regra cronológica, considerando os primeiros 
filósofos antes de Sócrates (470-399 a. C.). Já Aristóteles, em sua obra Metafísica, 
classifica os pré-socráticos de filósofos da natureza, haja vista que eles se concen-
tram na explicação do cosmo e da natureza.
Nós podemos dividir as escolas dos pré-socráticos em, basicamente, qua-
tro grupos: 1) escola jônica, cujos principais nomes são Tales, Anaximenes e 
Anaximandro de Mileto; 2) escola itálica, cujos principais nomes são Pitágoras 
de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento; 3) escola eleata, cujos 
principais nomes são Parmênides e Zenão de Eléia; 4) escola atomista, cujos 
principais nomes são Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clasômena e 
Demócrito de Abdera. 
Os Pré-Socráticos, ou Filósofos da Natureza
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Além desses nomes, nós não podemos deixar de nos referir a Heráclito de 
Éfeso, mais próximo do primeiro grupo, a escola jônica.
Em função do grande número de pensadores dessa época, contudo, nós sele-
cionamos apenas alguns pré-socráticos para serem analisados neste tópico: Tales 
de Mileto, Anaximandro de Mileto, Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eléia. 
Confira os critérios dessa seleção: 1) nós examinaremos os pré-socráticos que 
resumem, em suas filosofias, toda uma corrente de pensamento daquele período, 
o que facilita o estudo posterior de outros pensadores da mesma época; 2) esse 
recorte elenca os pré-socráticos que foram decisivos para a formação da filosofia 
de Platão e de Aristóteles, os quais estudaremos nos tópicos posteriores.
De acordo com os historiadores da filosofia, nós podemos afirmar que o primeiro 
filósofo foi Tales de Mileto (624-546 a. C.). Além da historiografia moderna, 
Aristóteles (1968, p. 48) também afirma ser Tales de Mileto o primeiro filósofo.
Os textos dos filósofos pré-socráticos, de uma forma geral, não nos chegaram 
inteiramente. Nós contamos com alguns poucos fragmentos, além de resumos 
de outros pensadores sobre esses filósofos. O problema desses escritos é que nem 
sempre retratam de uma forma fiel e confiável a filosofia dos pré-socráticos. Esses 
resumos levam o nome de doxografia, porque são a opinião de alguém sobre um 
filósofo em específico. Como a doxografia é uma opinião, ela corre o risco de ser 
inexata em relação ao pensador analisado. Por isso, não é fácil para os atuais pes-
quisadores recuperarem as ideias dos primeiros filósofos da Grécia.
Atribui-se ao pré-socrático Pitágoras a invenção do termo filósofo. A 
palavra filosofia é a junção de dois termos gregos: “filia”, que significa 
amizade, e “sophia”, que significa sabedoria. Da palavra grega “sophia” 
decorre o termo “sophos”, que significa sábio ou instruído. E da palavra 
grega “filia” origina-se o termo “filos”, que significa amigo. Pitágoras dizia-se 
um “amigo do saber”, portanto, filósofo (“filos” = amigo, “sophos” = saber). 
No entanto, só mais tarde consagrou-se o termo filosofia como designação 
do ofício daqueles que se intitulavam filósofos.
Fonte: adaptado de Gallo (2012, p. 15). 
HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA
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Tales era natural da cidade-estado de Mileto, na Jônia, região da Ásia. Atribui-se 
a ele o título de geômetra, afirmando teoremas como o seguinte: o diâmetro de um 
círculo divide este em duas metades iguais. Tales fez descobertas geométricas bas-
tante práticas, conseguindo, por exemplo, medir a altura das pirâmides por meio 
de suas sombras. Em matéria de astronomia, ele identificou a constelação da Ursa 
Menor, ressaltando a utilidade desta descoberta para as navegações. Estimou os 
tamanhos da Lua e do Sol, além de ser o primeiro grego a dividiro ano em 365 dias 
(KENNY, 1999, p. 16).
No que tange ao seu pensamento filosófico, entretanto, Tales ficou conhecido 
por se afastar da Teogonia de Hesíodo, propondo uma explicação do cosmo a partir 
da experiência e do discurso racional. Com base em suas observações, Tales afirmou 
que tudo é água. Aristóteles explica esta teoria nas seguintes palavras:
Tales, o fundador deste tipo de filosofia, diz que o princípio é a água (por 
este motivo afirmou que a terra repousa sobre a água), sendo talvez levado 
a formar essa opinião por ter observado que o alimento de todas as coi-
sas é úmido e que o próprio calor é gerado e alimentado pela umidade: 
ora, aquilo de que se originam todas as coisas é o princípio delas. Daí lhe 
veio esta opinião, e também de que a semente de todas as coisas são na-
turalmente úmidas e de ter origem na água a natureza das coisas úmidas 
(ARISTÓTELES, 1968, p. 42).
Repare na expressão de Aristóteles ao se referir ao filósofo de Mileto: “Tales, o 
fundador deste tipo de filosofia...”. Isto nos permite pensar que Tales é o primeiro 
filósofo da história do Ocidente. E a sua filosofia está assentada no postulado de que 
tudo é água. Em primeiro lugar, as sementes são úmidas e os alimentos são sucu-
lentos, sugerindo que talvez seja a água o princípio elementar desses dois objetos. 
Em segundo lugar, tudo o que morre seca, inclusive as sementes, sugerindo que a 
falta da água leva à morte e confirmando que tudo é água. Em terceiro lugar, o calor 
convive com o úmido e, na verdade, a umidade parece produzir ainda mais calor, 
tornando o clima abafado.
Ademais, Tales observava que saíam vários animais das margens do rio sem 
que estes tivessem entrado lá antes. A flora que circundava os rios também era mais 
abundante, sugerindo que a vida nascia da água, sendo ela o princípio de tudo. Até 
mesmo a terra está, conforme Tales, suspensa sobre as águas.
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Apesar destas observações, nós podemos resumir a diferença entre o pensa-
mento de Tales e a mitologia da seguinte forma: 1) não recorrer aos deuses para 
explicar a natureza; 2) apresentar as suas proposições com base na experiência, com 
postulados mais ou menos verificáveis; 3) explicar a origem de todos os elementos a 
partir de um único princípio. A respeito disto, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche 
(1844-1900) explica:
A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição 
de que a água é a origem e o seio materno de todas as coisas. Será realmen-
te necessário parar aqui e levar esta ideia a sério? Sim, e por três razões: 
primeiro, porque a proposição assere algo acerca da origem das coisas; em 
segundo lugar, porque faz isso sem imagens e fábulas; e, finalmente, por-
que contém, embora em estado de crisálida, a ideia de que “tudo é um”. A 
primeira destas três razões ainda deixa Tales na comunidade dos homens 
religiosos e supersticiosos, a segunda separa-o dessa sociedade e mostra-o 
como investigador da natureza, a terceira faz de Tales o primeiro filósofo 
grego (NIETZSCHE, 1987, p. 27).
Em outras palavras, Tales não é filósofo por tratar da origem das coisas, pois isso 
também faz a mitologia. Tales também não é filósofo por não usar fábulas em suas 
explicações, pois isto faz dele apenas um físico rudimentar. Mas Tales é filósofo por 
ter explicado a origem de tudo a partir de um único princípio. Tudo é um, ou tudo 
é água, revela uma explicação diferente da Teogonia de Hesíodo, que explica a ori-
gem das coisas a partir de inúmeros princípios.
Apesar das inovações feitas por Tales, é certo que o seu pensamento e a sua 
cosmologia têm alguns problemas. Aristóteles (1968, livro I, capítulo 3) fará duas 
grandes objeções ao pensamento de Tales.
Primeiro, se a terra é uma superfície horizontal suspensa sobre a água, então 
o que sustentaria esta? Segundo, se existe um ciclo na cosmologia de Tales, onde a 
água se transforma em ar, em terra e em água novamente? Então não se sabe corre-
tamente se foi a água a origem dos demais elementos, ou se algum outro elemento 
deu origem a ela. Quem veio primeiro, afinal? A água se transformou em terra, ou 
foi a terra que a originou?
A exemplo de Tales, nós também encontramos Anaxímenes de Mileto, o qual 
defende que tudo é ar (do grego, “pneuma”), e Xenófanes, que defende que tudo é 
terra. O princípio de Anaxímenes é mais abstrato do que o elemento primordial de 
Tales e de Xenófanes, pois o ar é invisível e pouco sensível.
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Diante disso, outro filósofo de Mileto aparece para responder esta lacuna deixada 
por Tales: Anaximandro de Mileto (610-547 a. C.). Para ele, o princípio originário 
(“arché”) de tudo não é a água, nem a terra e nem o ar, mas sim, o “apeiron” (um prin-
cípio abstrato, significando algo de ilimitado e indefinido, que subjaz toda a natureza).
Nós podemos perceber que Anaximandro pretende resolver o problema deixado 
por Tales. A título de recordação, nós vimos que a cosmologia de Tales formava um 
ciclo, em que não se consegue determinar com exatidão qual dos elementos deu ori-
gem aos demais. A água se consolidou em terra ou foi a terra que se diluiu e virou 
água? Nesse ciclo da natureza, o primeiro elemento é confundido com os demais.
Em vista disso, Anaximandro estabelece um princípio originário diferente dos 
elementos naturais: o apeiron. Nesse caso, nós não teríamos o problema de não 
encontrar o início das coisas. O apeiron se distingue do cosmo por ser absoluto e 
indeterminado, enquanto o cosmo é definido e limitado, sendo muito menor. Não 
seria possível, com isto, dizer que o apeiron procede do cosmo, pois ele é maior e 
supera o próprio cosmo.
Entretanto, Anaximandro também permite algumas indagações com essa cos-
mologia. Ora, como o imperfeito, o finito e o injusto podem ter a sua origem naquilo 
que é totalmente justo, perfeito e infinito? Como o imperfeito pode derivar do per-
feito? Como um mundo tão injusto pode ter a sua origem em algo perfeito e justo?
Heráclito de Éfeso foi um grande filósofo da Grécia Arcaica (século VI a. C.). 
Dentre todos os pré-socráticos, os textos de Heráclito foram os que mais resistiram 
ao tempo. Ainda assim, esses textos nos chegaram em pequenos fragmentos, embora 
seja uma das maiores quantidades de fragmentos reunidos de um único pré-socrá-
tico que sobreviveram ao longo dos anos até chegar em nossa época.
Entretanto, apesar de dispormos de bastantes textos de Heráclito, ele ganhou 
o título de “o obscuro” já na Antiguidade, devido ao caráter enigmático de seus 
escritos. Ele também pode ser considerado o grande representante da corrente 
filosófica denominada mobilismo: doutrina que considera o movimento a prin-
cipal característica da realidade natural. Para Heráclito, tudo está em fluxo, nada 
permanece. Por isso, atribui-se a esse filósofo a famosa expressão “tudo muda”.
De acordo com Heráclito (1994), o cosmo é regido por um logos (leis racio-
nais ou uma razão superior – sem qualquer conotação cristã), conferindo uma 
unidade aos opostos. Por exemplo, no fragmento 50, o filósofo afirma: “dando 
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ouvidos não a mim, mas ao logos, é sábio concordar que todas as coisas são 
uma única coisa” (HERÁCLITO, 1994, p. 39). Ele parece defender a ideia de 
que toda a diversidade que existe na natureza é, no fundo, uma única coisa.
Para Heráclito, os opostos são uma única coisa, mas em estados diferentes. 
Da mesma forma que o gelo é água no estado sólido, a injustiça e a justiça são 
o mesmo elemento em estados diferentes. Por vezes, o bem é, para alguns,um 
mal e, este mesmo mal é, para outros, o bem. Ambos são oposição que possui 
uma unidade, mas que, de momento, estão em estados diferentes.
Por este motivo, Heráclito elege o fogo como princípio originário de todas as 
coisas (arché). A chama do fogo, por queimar e se autoconsumir, represen-
taria o caráter dinâmico e transitório da realidade. Qualquer objeto que nós 
colocamos no fogo se transforma rapidamente em outro estado, revelando que 
a essência do mundo é a mudança, o vir-a-ser. Uma madeira, objeto sólido e 
resistente, se colocada no fogo, se transforma rapidamente em carvão e cin-
zas. O fogo parece simbolizar de maneira muito objetiva o caráter dinâmico 
em que a natureza subjaz.
Parmênides parece ser natural da Jônia, embora tenha vivido a maior parte 
de sua vida em Eléia, atual Itália, a 100 quilômetros ao sul de Nápoles. Nós 
poderíamos classificar o pensamento de Parmênides como monista, isto é, a 
doutrina que defende uma única realidade existente, que seja fixa e imóvel.
Como Parmênides, entretanto, poderia sustentar o seu pensamento filosó-
fico? Como ele poderia defender uma realidade imóvel se tudo ao nosso redor 
se movimenta? Como ele poderia discordar da filosofia de Heráclito, se não 
existe nada na natureza que aparente permanecer para sempre?
Heráclito afirma no fragmento 88: “trata-se de uma única e mesma coisa: a 
vida e a morte, a vigília e o sono, a juventude e a velhice; pois a mudança 
de um leva-o ao outro e vice-versa”. 
Fonte: adaptado de Marcondes (2008, p. 16). 
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Em seu pensamento filosófico, Parmênides faz uma separação entre duas 
instâncias: a realidade e a aparência. Com esta divisão, ele caracteriza e define o 
vir-a-ser presente na natureza apenas como aparência daquilo que realmente existe, 
ou seja, o movimento é apenas um aspecto superficial das coisas.
Por isso, o desafio consiste em irmos além de toda a experiência sensível (expe-
riência produzida pelos nossos sentidos – visão, tato, olfato, audição e paladar). 
O desafio é conseguir ir além da visão imediata daquilo que a experiência sensí-
vel nos proporciona.
Primeiramente, cumpre reforçar a tese de que, para Parmênides, a natureza 
que nos cerca é dividida em duas esferas: a esfera da ilusão e a esfera da verdadeira 
realidade. A primeira esfera, que é a do movimento, não passa de uma realidade 
aparente, ilusória e irreal. A segunda esfera compreende a verdadeira realidade, 
imóvel, única, indivisível e eterna. O núcleo da natureza é, portanto, do domínio 
do imóvel e eterno.
Voltemos, no entanto, para o nosso problema inicial: como nós poderíamos 
conhecer esses princípios imutáveis, como seria possível ir além do conhecimento 
imediato da experiência sensível? A chave desta resposta é, segundo Parmênides, 
o intelecto. O nosso pensamento (intelecto) seria capaz de captar os traços ima-
teriais, imutáveis e eternos da natureza. É a partir do intelecto que nós devemos 
buscar a essência imutável da realidade, isto é, aquilo que permanece na mudança.
Nós só podemos conhecer a realidade se conseguirmos captar algo de essen-
cial nos objetos, isto é, algo que permanece, que nos ajuda a identificar o objeto 
como o mesmo. Do contrário, ao conhecermos uma cadeira nova, nós não irí-
amos reconhecê-la quando ela estivesse velha ou quebrada, pois não se trataria 
do mesmo objeto. Porém, nós reconhecemos a cadeira mesmo quando ela está 
quebrada, porque existem características imutáveis nela que, ao captarmos, nós a 
reconhecemos mesmo em suas mudanças.
Em outras palavras, se não existissem essas leis imutáveis, fixas e eternas, nós 
não poderíamos conhecer a natureza que nos cerca, porque ela estaria constan-
temente se modificando e sempre se tornando absolutamente outra. A título de 
ilustração, conhecer o cosmo sem que exista uma realidade verdadeira por trás da 
realidade aparente seria o mesmo que tentar conhecer alguém que se transforma 
em outras pessoas constantemente.
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Para Parmênides, nós precisamos buscar aquilo que está para além da experi-
ência imediata, para além do vir-a-ser, captando aquele elemento que permanece 
mesmo na mudança. Daí a sua contraposição a Heráclito, que dizia que tudo 
muda. Se assim fosse, argumenta Parmênides, nós não teríamos o conhecimento 
de absolutamente nada.
À guisa de conclusão, nós pontuaremos alguns aspectos importantes deste 
tópico, fazendo um fechamento sobre o que foi estudado a respeito dos pré-socráticos.
Em resumo, Tales de Mileto é considerado o primeiro filósofo da Grécia Antiga, 
explicando a origem de tudo a partir de um único princípio: a água. Além disso, 
constata-se um processo gradativo de abstração na filosofia dos pré-socráticos: 
Tales estabelece a água como origem de tudo; Anaxímenes fala sobre o ar, elemento 
invisível e mais abstrato; Anaximandro institui o apeiron; Heráclito estabelece o 
vir-a-ser; e Parmênides o ser fixo, uno e eterno: o logos (discurso racional) cada 
vez mais substitui o mito. Enfim, nota-se um diálogo constante entre as filosofias 
pré-socráticas, produzindo um conteúdo a partir do logos e não mais do mythos.
SÓCRATES, A MORAL E A MAIÊUTICA
Sócrates (470-399 a. C.) é uma figura central e muito importante para a histó-
ria da filosofia. Antes, porém, de entendermos melhor as bases da filosofia de 
Sócrates, cumpre conhecer, mesmo que rapidamente, o contexto histórico em 
que ele viveu. Nós faremos, então, um rápido panorama sobre o contexto de 
Atenas do século V a. C., compreendendo a situação social da vida de Sócrates.
A Grécia Antiga teve o seu apogeu no século V a. C., um período de 50 
anos de paz entre duas guerras. Os gregos começaram o século em combate 
contra a Pérsia e o terminaram com conflitos internos entre as cidades-estado. 
No período intermédio entre essas duas guerras, Atenas floresceu como grande 
metrópole da Grécia. É justamente nessa cidade que Sócrates nasceu, no perí-
odo mais pujante de Atenas.
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Desde meados do século VI, a região grega da Jônia – lugar onde surgiram os 
primeiros filósofos pré-socráticos – estivera sob o domínio do império persa. Em 
499, os jônios se rebelaram contra o rei persa, Dario. Este, por sua vez, represou 
a revolta desses gregos, dirigindo-se também a castigar os apoiadores deles. Só 
que os gregos, com um exército formado predominantemente por atenienses, 
derrotaram a frota bélica de Dario na região de Maratona, em 490.
Em 484, o sucessor de Dario, o seu filho Xerxes, enviou uma frota muito 
maior para se vingar do que os gregos haviam causado ao seu pai. Com um 
Para maiores detalhes sobre essas duas guerras: a primeira guerra, no 
começo do século V, entre Grécia e Pérsia, confira o livro do historiador 
grego Heródoto, intitulado História, sobre as guerras internas entre as 
cidades-estado da Grécia no final do século V, confira o livro do historiador 
grego Tucídides, intitulado História da Guerra do Peloponeso.
Fonte: o autor. 
Sócrates, a Moral e a Maiêutica
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exército persa muito mais numeroso do que o exército grego, Xerxes experimen-
tou uma derrota sem precedentes, perdendo a batalha naval em Salamina e a 
batalha terrestre em Plateia, no ano de 479. Com essa derrota dos persas, os gre-
gos colocaram um fim definitivo nas invasões persas e, nesse momento, Atenas 
se tornou a cidade líder dos aliados gregos.
Em seu apogeu, Atenas passou a controlar os mares Egeu e Jônio, além 
de controlar toda a armada dos gregos.Ela também ficou famosa entre os 
próprios gregos por ter sido uma das cidades responsáveis por livrar a Jônia 
das mãos dos persas. Atenas havia se tornado, nessa época, um verdadeiro 
império (KENNY, 1999, p. 38-39).
No tocante à sua estrutura interna, Atenas era regida pelo regime democrá-
tico, pouco comum no mundo antigo. Clístenes foi o fundador da democracia 
em Atenas, e no século V, Péricles foi o grande mentor, gestor e continuador do 
regime democrático em Atenas. Em grego, “demos” = povo, “cracia” = poder. 
Logo, democracia é o governo do povo.
É importante ressaltar duas grandes diferenças entre a democracia antiga 
e a democracia moderna. Em primeiro lugar, na antiga, sobretudo a de Atenas, 
nós temos uma democracia direta, isto é, o próprio cidadão vota nas assem-
bleias para aprovar ou vetar as leis propostas. Na democracia moderna, como a 
nossa, o cidadão precisa eleger representantes que votarão para a aprovação das 
leis. Na Atenas dos tempos de Sócrates, a democracia era direta, enquanto que 
a democracia moderna é representativa, pois elege representantes para legislar.
Em segundo lugar, existe uma diferença abissal na concepção de cidadão 
entre a Atenas antiga e o mundo moderno. Em Atenas, as mulheres, as crian-
ças, os estrangeiros e os escravos não eram considerados cidadãos, por isso 
não podiam ir às assembleias para votar. Até mesmo as crianças e as mulheres 
nascidas em Atenas não eram consideradas cidadãs. Os estrangeiros (cha-
mados de metecos) eram, em sua maioria, homens gregos que se dirigiam a 
Atenas para viver do comércio, por isso eles falavam a língua grega, possu-
íam a cultura grega, cultuavam os deuses gregos, eram ricos, mas não eram 
considerados cidadãos. Portanto, somente o homem nascido em Atenas era 
cidadão. Na democracia moderna, o cidadão é tanto homem como mulher, 
criança como idoso, e assim por diante. 
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É nesse cenário social que nasce Sócrates, filho de Sofrônico e Fenarete. 
Sócrates não deixou nada escrito para a posteridade. O que nós temos para 
conhecê-lo são relatos dos seus discípulos e de opositores e alguns curtos 
fragmentos em obras de outros pensadores.
Dentre os discípulos de Sócrates, nós temos Platão e Xenofonte. Esses 
dois seguidores escreveram livros na forma de diálogos, quase sempre colo-
cando Sócrates como o personagem principal (a partir daqui, nós usaremos a 
inicial maiúscula e o itálico para nos referir aos livros de Platão, os Diálogos, 
diferenciando-os de casuais conversas).
Com efeito, não é tão fácil definir quem Sócrates era exatamente e qual era a sua 
filosofia, se ele era tal qual relatado nos Diálogos platônicos, se era como relatado 
por Xenofonte, ou se era tal qual descrito nas comédias de Aristófanes, um crítico 
de Sócrates. Em cada uma destas obras, Sócrates apresenta características diferen-
tes, dificultando o trabalho dos pesquisadores em definir as verdadeiras posições 
filosóficas desse pensador.
Nas comédias de Aristófanes, com especial referência para “As Nuvens”, 
Sócrates é descrito de forma burlesca. Nesta, ele é um filósofo da natureza, 
semelhante aos pré-socráticos. Tanto que uma das preocupações da persona-
gem Sócrates de Aristófanes é saber a altura e o comprimento do salto da pulga 
– certamente um desdém de sua figura.
O comediógrafo Aristófanes também descreve Sócrates como um sofista, isto 
é, alguém que ensinava os jovens a se darem bem na vida pública em troca de paga-
mento. O problema dessas caracterizações é que elas são, no fundo, caricaturas 
maldosas, cômicas e ridículas, próprias da comédia. Tanto que Sócrates era conhe-
cido por ser opositor e crítico ferrenho dos sofistas, e não um deles.
No caso de Platão, Sócrates aparece como um personagem ilustre em seus livros, 
Para maiores detalhes sobre as democracias de diferentes épocas, confira o 
livro de Moses Finley, Democracia Antiga e Moderna.
Fonte: o autor. 
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os Diálogos. Nesses livros, Sócrates é um filósofo, expondo conceitos e questões filo-
sóficas. Os Diálogos de Platão ainda são a melhor fonte que dispomos para conhecer 
as ideias filosóficas socráticas.
Os Diálogos de Xenofonte – outro discípulo de Sócrates – possuem um tom 
mais biográfico do que filosófico, com poucos detalhes sobre as ideias de seu mestre.
Disso tudo, o importante é saber que Sócrates, independentemente de quem ele 
realmente foi, tornou-se um marco na história da filosofia, não podendo ser igno-
rado. A sua figura ficou consagrada na história do pensamento ocidental a ponto de 
alguns considerarem o início da filosofia com Sócrates ao invés de Tales de Mileto.
Com base nos Diálogos platônicos, atribui-se comumente a Sócrates o fato 
inusitado de ele ser o primeiro pensador a refletir filosoficamente sobre a moral, 
a política e a conduta humana. Enquanto os pré-socráticos se utilizaram do logos 
(razão) para pensar as suas cosmologias, Sócrates teria projetado o logos para a 
moral. Independentemente de tais afirmações estarem corretas, pois, certamente, 
houve algumas obras dos pré-socráticos que tratava sobre política e moral, Sócrates 
contribuiu significativamente para as reflexões no campo da moral.
Para mais detalhes dessa discussão, confira o livro de Vasco Magalhães-
Vilhena, intitulado O Problema de Sócrates: o Sócrates histórico e o Sócrates 
platônico, e o livro de Rodolfo Mondolfo, intitulado Sócrates. 
Fonte: o autor. 
Sócrates, figura enigmática, possui o perfil de um homem moral, tendo 
sido eleito pela tradição como exemplo de moralidade. 
(Jayme Paviani) 
HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA
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Além do mais, entre os vários fatos que atribuem a Sócrates, nós temos 
o método da maiêutica. No Diálogo platônico intitulado Teeteto, o jovem 
homônimo conversa com Sócrates acerca do conhecimento. Nesse diálogo, 
o pensador ateniense diz que a função do filósofo não é a de produzir ideias 
e respostas prontas aos problemas, mas conduzir as pessoas por meio do 
diálogo, para que elas mesmas produzam as próprias respostas para os seus 
problemas. Daí o termo “maiêutica”, que significa partejar ideias.
A mãe de Sócrates, Fenarete, era parteira. E a função da parteira na Atenas 
antiga não era só a de retirar o filho do útero da mãe, mas o de cuidar da 
mãe durante a gestação com medidas particulares para que ela pudesse ter 
o melhor filho possível. Além disso, a parteira, em muitos casos, escolhia os 
pares adequados para que pudesse existir a melhor das crianças.
Deste modo, ao tomar a profissão da mãe para aludir à função do filó-
sofo, Sócrates está querendo dizer que o filósofo é o responsável por conduzir 
a reflexão, fazendo as perguntas corretas e, com isso, ajudar o interlocutor a 
encontrar a resposta e a produzir a sua própria teoria. O filósofo não é pos-
suidor de ideia nenhuma, mas a sua função é ajudar o seu interlocutor a “dar 
à luz” a sua própria resposta, produzindo a sua própria ideia.
O filósofo tem a tarefa de conduzir o raciocínio, guiar as reflexões por 
meio do diálogo, favorecendo a pessoa para que ela produza a sua própria 
ideia e chegue sozinha até a verdade. Por isso, é comum os diálogos de Sócrates 
começarem com a pergunta “o que é isso?”, buscando definir noções morais 
e epistêmicas. No final do Diálogo Teeteto, em que Sócrates e o jovem homô-
nimo estão a buscar a definição do que é conhecimento, eles não chegam a 
lugar nenhum, encerrando com as palavras de Sócrates, que diz que, naquela 
ocasião, a arte maiêutica deu à luz somente o vento (TEETETO, 2001, 210b).
Os livros de Platão são citados pela seguinte convenção: nome do Diálogo 
(Teeteto), ano da publicaçãoda editora (2001), o número da linha (210) e a 
letra da coluna (b). Nós seguiremos esta forma de citação dos Diálogos platô-
nicos porque é a convenção que os especialistas adotaram no mundo inteiro. 
No próximo tópico, sobre Platão, explicaremos novamente essa forma de citar 
os livros desse pensador.
Sócrates, a Moral e a Maiêutica
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Uma das tarefas da filosofia é, segundo a maiêutica socrática, revisar as teses que 
acreditamos inicialmente serem verdadeiras, submetendo-as a questões. Sócrates 
nunca traz uma definição pronta. Ele conduz os seus interlocutores por meio do 
diálogo, fazendo-os cair em contradições e, assim, encontrar uma definição mais 
sólida do que a anterior. A maiêutica tem por objetivo, portanto, revisar as teses 
iniciais, encontrar possíveis falhas e construir a partir daí um conhecimento mais 
apurado e livre de erros.
Alguns Diálogos de Platão são denominados aporéticos (do grego, “a” = não, 
“poros” = saída). Os Diálogos aporéticos são inconclusivos, “sem saída”, sem resposta 
final. É porque o exame socrático, denominado maiêutico, nem sempre conduz o 
interlocutor para uma resposta, mas também pode guiá-lo para a descoberta dos 
erros dos primeiros postulados, das primeiras opiniões e palpites.
Infelizmente, no final de sua vida, Sócrates recebeu a pena de morte na corte 
de Atenas, formada por 501 cidadãos atenienses que, geralmente, eram sorteados 
para compor o júri. Sócrates foi acusado de introduzir novos deuses em Atenas e 
de corromper a juventude. Os Diálogos que trazem a condenação de Sócrates são 
os seguintes: Apologia de Sócrates, Críton, Fédon e Eutífron. Nos Diálogos Apologia 
e Críton, pode-se encontrar a acusação do júri ateniense, a réplica de Sócrates e a 
sua condenação. No Diálogo Fédon, encontra-se o episódio dos últimos momentos 
da vida de Sócrates, antes de beber a cicuta, vindo a fazer o último diálogo com os 
seus discípulos, cujo tema é a imortalidade da alma. No Diálogo Eutífron, Sócrates 
também faz um dos últimos diálogos com os seus discípulos: sobre a vida piedosa.
Você acredita no progresso da história? No Diálogo Protágoras, o tema central 
é o ensino da virtude, mas, a partir disso, nós podemos retirar uma teoria da 
história: se a virtude pode ser ensinada, então as gerações transmitirão as 
suas experiências morais, culminando em um progresso. Se a virtude, porém, 
não pode ser ensinada, então não haverá acúmulo das experiências morais, 
inviabilizando o progresso. Esta discussão é mobilizada no seguinte artigo: 
“Protágoras, o ensino da virtude e o progresso da história”. 
Fonte: o autor. 
HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA
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IU N I D A D E34
PLATÃO, A DIALÉTICA E A TEORIA DAS IDEIAS
Platão nasceu em 428 a. C., em Atenas. A palavra Platão vem do grego “platós”, que 
significa extenso, largo. O nome verdadeiro de Platão é Arístocles. Ele ganhou o 
apelido de Platão por ter ombros largos – ele foi atleta, daí a sua estrutura física ser 
larga – ou por possuir um rosto e uma testa largos; ou por ter ficado gordo depois 
que abandonou a ginástica e se manteve somente com o ofício da filosofia. De qual-
quer forma, Arístocles entrou para a história da filosofia com o nome de Platão.
Platão nasceu em uma família da aristocracia de Atenas, com riquezas e influ-
ências políticas. Esse filósofo ateniense foi, inicialmente, discípulo de Crátilo, um 
seguidor de Heráclito, mas, posteriormente, seguiu Sócrates durante os dez últi-
mos anos do mestre. Após a morte de Sócrates, Platão foi para Sicília, vindo a 
conhecer a escola pitagórica, Árquitas de Tarento, e os eleatas. Conheceu Dion, 
tirano de Siracusa, mais conhecido por Dioniso I.
Em 389, Platão voltou para Atenas e fundou a sua escola filosófica no giná-
sio de Academos, daí o nome de sua escola ficar conhecida como Academia de 
Platão. No pórtico de sua Academia, nós encontramos a seguinte inscrição: “que 
ninguém entre se não souber geometria”.
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Em 367, Dion, tirano de Siracusa, convidou Platão a ser tutor de Dioniso 
II, o seu sobrinho. A experiência não foi bem-sucedida em função de mui-
tas intrigas da corte. Com isso, Platão retornou a Atenas. Em 361, Platão foi 
novamente convidado a ir para Siracusa, a convite de Dion. E novamente 
a experiência foi um fracasso. Regressou a Atenas, vindo a falecer em 347.
Platão compôs uma obra vasta, contendo cerca de 36 Diálogos ao todo. 
Esses Diálogos possuem temas variados (como a justiça, ou o amor, ou as leis, 
ou o cosmo etc.). Por isso, nós podemos dizer que se trata de uma obra hete-
rogênea. Além disso, os Diálogos possuem uma forma peculiar de escrita, a 
qual resumiremos as suas características a seguir.
Os Diálogos platônicos são compostos por personagens que existiram 
historicamente. Sócrates é o protagonista da maioria deles, sendo, por vezes, 
o porta-voz das teses do próprio Platão. Todavia não se sabe se esses perso-
nagens se encontraram alguma vez na vida real, o que nos leva a crer que o 
enredo é fictício.
Em geral, os títulos dos Diálogos de Platão levam o nome dos interlo-
cutores de Sócrates. Por exemplo, o Diálogo intitulado Protágoras tem como 
enredo a conversa entre Sócrates e Protágoras; o Diálogo intitulado Mênon 
tem como trama a conversa entre Sócrates e o jovem Mênon, e assim por 
diante. Os únicos Diálogos que não levam como título o nome do interlocu-
tor de Sócrates são: A República, O Banquete, O Político, Os Amantes e As Leis.
As citações dos Diálogos de Platão feitas pelos especialistas e pesquisado-
res segue a seguinte ordem: nome do Diálogo, ano de publicação da editora, 
numeração da linha e letra da coluna. Por exemplo: Timeu (nome do Diálogo), 
2011 (ano da publicação pela editora), 83d (número da linha e letra da coluna). 
Todos os Diálogos platônicos terão essa numeração da linha e as letras da 
coluna. Por isso, nós seguiremos, neste livro, a citação na forma convencio-
nal feita pelos pesquisadores, como neste exemplo: (TIMEU, 2011, 84b).
Além do agrupamento por tetralogias, os pesquisadores também dividem 
a obra de Platão em três períodos: Diálogos socráticos, Diálogos intermedi-
ários e Diálogos da maturidade.
Em geral, o critério desta divisão tem a Teoria das Ideias como marco 
divisor. De forma resumida, a Teoria das Ideias de Platão se fundamenta na 
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doutrina da divisão de mundos: existe, por um lado, um mundo sensível e 
material e, por outro lado, um mundo inteligível e imaterial. As Ideias per-
feitas serviram de modelo para a formação do mundo material. Todavia a 
natureza sensível é imperfeita, o que obriga o homem a buscar o conheci-
mento nas Ideias perfeitas para que ele possa se tornar cada vez melhor. Nós 
voltaremos com mais detalhes sobre essa teoria platônica. Por hora, cum-
pre entender que os pesquisadores dividem os Diálogos de Platão com base 
no surgimento e no desenvolvimento dessa teoria ao longo de seus textos.
Existem, porém, mais alguns poucos elementos que nos ajudam a fazer 
essa divisão, os quais exporemos a seguir. Primeiro, os Diálogos socráticos 
são marcados por discussões mais intensas e acirradas entre os persona-
gens, quase sempre terminando sem uma conclusão. Nesse primeiro grupo 
de Diálogos, a figura de Sócrates ocupa um espaço privilegiado na cena. É 
consensual dizer que os Diálogos socráticos foram os primeiros a ser escri-
tos por Platão.
Ainda sobre os Diálogos socráticos, nós podemos observar uma estrutura 
recorrente entre eles: um dos personagens diz possuirum conhecimento em 
determinada área e, após o interrogatório de Sócrates, revela-se que o perso-
nagem não conhece de fato aquilo que achava que sabia tão profundamente. 
É assim que o tema da piedade é tratado no Eutífron, a coragem no Laques, 
a temperança no Cârmides, a amizade no Lísis, a beleza no Hípias Maior, a 
poesia no Íon e as ações reprováveis no Hípias Menor.
Segundo, os Diálogos intermediários são menos dramáticos, assumindo 
tons menos questionadores e mais expositivos, além do fato de Platão apre-
sentar a sua Teoria das Ideias de várias formas diferentes. Nesses Diálogos, 
Sócrates aparece como um mestre, não assumindo mais aquele papel de ques-
tionador assaz, mas agora expondo teses filosóficas sofisticadas. Esses Diálogos 
são mais longos e mais complicados. Eles são: Fédon, Górgias, Protágoras, 
Mênon, O Banquete, Fedro e A República. Eles apresentam, cada um a seu 
modo, a Teoria das Ideias.
Terceiro, nos Diálogos da maturidade, Sócrates perde a centralidade 
que ele ocupava nos Diálogos anteriores. O personagem Sócrates se limita 
a ocupar um lugar secundário e, em alguns, ele sequer aparece. No Diálogo 
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intitulado Parmênides, Sócrates é um personagem receoso e são apresenta-
das objeções difíceis à Teoria das Ideias. No Diálogo Filebo, sobre o prazer, 
e no Sofista, sobre o Ser e o não-ser, Sócrates não protagoniza a conversa, 
nem se posiciona objetivamente na discussão. No Diálogo As Leis, Sócrates 
sequer aparece. Enfim, os Diálogos tardios também são caracterizados pelas 
revisões que Platão faz em suas teses, assumindo um caráter mais moderado 
(KENNY, 1999, p. 58).
No tocante à Teoria das Ideias de Platão, nós podemos encontrar vários 
Diálogos que abordam esta doutrina. Por exemplo: A República, Timeu, Crítias, 
Fédon, Fedro.
No Diálogo intitulado Fedro, Platão propõe uma alegoria (ou mito) para 
facilitar a compreensão de seu interlocutor, a qual ficou conhecida sob o título 
de “alegoria da carruagem alada”. Nessa alegoria, Platão explica o motivo de 
o homem ser corpo e alma, o motivo pelo qual ele não está no Mundo das 
Ideias e alguns pressupostos sobre a teoria da reminiscência (ou anamnese).
Nesse mito, Platão conta que, em um dado momento, as almas dos homens 
e as almas dos deuses saem juntas em direção à abóbada celeste, com o intuito 
de chegarem ao Mundo das Ideias e lá contemplarem o sumo Bem, a Justiça, 
a Verdade e todas as formas perfeitas. Mas ao se dirigirem para a abóbada 
celeste, as almas mortais encontrariam certa dificuldade em chegar ao seu des-
tino, pois elas possuem uma inclinação muito forte a se dirigirem ao mundo 
material, que é este onde nos encontramos.
Platão descreve a alma humana – por meio de uma linguagem alegórica 
– como uma carruagem puxada por dois cavalos. Um dos cavalos buscaria o 
Mundo das Ideias, pois ele representa a tendência humana a tudo aquilo que 
é bom e perfeito. O outro cavalo forçaria o carro para baixo, em direção ao 
mundo sensível, imperfeito, material, do domínio dos desejos e não do inte-
lecto. Como o último cavalo é mais forte, alegorizando a tendência humana a 
tudo aquilo que é da ordem dos desejos e das paixões, o homem conseguiria 
contemplar as Ideias apenas por breves instantes, caindo no mundo material 
e sendo aprisionado em corpos.
De acordo com essa alegoria, o destino da alma estaria determinado 
pela quantidade de tempo que ela conseguiu contemplar o mundo perfeito 
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das Ideias e se alimentar delas. Se a alma conseguisse contemplar por longos 
períodos as Ideias perfeitas, então ela se tornaria, ao cair no mundo material, 
um filósofo. Se ela contemplasse as Ideias perfeitas por um período mediano, 
nem muito e nem pouco tempo, então a alma se tornaria, ao cair no mundo 
material, um artesão. 
Supondo que a alma tenha contemplado as Ideias o mínimo de tempo 
possível, então ela se tornaria um tirano, isto é, o pior tipo de homem que 
uma alma pode se tornar. E caso a alma não conseguisse contemplar nada 
do Mundo das Ideias, então ela cairia em um corpo de animal ou de planta.
Nota-se que, na hierarquia platônica, o tirano é inferior a todos os demais 
seres humanos. Ele é intelectual e moralmente superior somente aos ani-
mais e às plantas. Dito de outra forma, o tirano é o último degrau para uma 
vida irracional e desprovida de leis morais, ele é o último degrau antes da 
vida selvagem. Por trás dessa Teoria das Ideias de Platão, nós encontramos 
as posições políticas do filósofo. O tirano, isto é, o governante que adminis-
tra os recursos públicos para fins privados e não para o bem comum, está à 
beira da total irracionalidade, tornando-se o pior tipo de homem que pode 
existir em uma pólis (termo grego para cidade).
Na continuidade do mito platônico, após uma quantidade de tempo bas-
tante grande, as almas teriam novas oportunidades de contemplar o Mundo 
das Ideias, dando início ao mesmo ciclo. A questão é que, conforme as almas 
cada vez mais contemplam as Ideias, elas cada vez menos caem em corpos 
inferiores, até o ponto de não caírem mais. Nesse Diálogo Fedro, Platão deixa 
claro, por meio de uma alegoria, a doutrina da reencarnação das almas – 
provavelmente herdada de Pitágoras – e a doutrina da divisão de mundos.
Ademais, nós precisamos ressaltar outra doutrina filosófica presente nessa 
alegoria. Nela, Platão desenvolve a teoria da reminiscência – ou rememoração. 
Para Platão, o conhecimento que os seres humanos adquirem neste mundo mate-
rial é, na verdade, uma recordação daquilo que a alma contemplou no Mundo 
das Ideias. É que, ao cair em um corpo material, a alma se esquece de tudo que 
contemplou ou de tudo que viveu em outras vidas materiais. Assim, conhecer 
uma verdade ou identificar algo como belo é, no fundo, estar se recordando 
da Ideia de Verdade e da Ideia de Belo contempladas no Mundo das Ideias.
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No Diálogo Mênon, Platão também apresenta bases de sua teoria da remi-
niscência. Nesse Diálogo, Sócrates convida um escravo do jovem Mênon para 
resolver um problema geométrico. Detalhe importante é que esse escravo não 
conhece nada de geometria, apenas noções muito básicas, como o reconheci-
mento das figuras. Sócrates faz as indagações corretas, conduzindo a reflexão 
do escravo apenas com perguntas e colocando dúvidas. Ao final, o escravo 
encontra a resposta desejada sem, contudo, ter conhecido tais formulações 
geométricas. Sócrates conduziu o escravo de Mênon a resolver uma ques-
tão geométrica, vindo a construir um teorema de Pitágoras sem antes tê-lo 
conhecido (MÊNON, 2001, 82a-85b).
O método empregado por Sócrates para que o seu interlocutor dê à luz 
as novas ideias, antes conhecido por maiêutica, agora é retomado por Platão 
sob o nome de dialética. A dialética também é, para Platão, o método mais 
adequado para que o homem possa relembrar as Ideias contempladas pela 
alma no Mundo das Ideias. A dialética estimularia a memória e, com isso, 
faria com que a alma relembrasse as verdades.
No Diálogo intitulado Timeu, Platão apresenta contornos de sua cosmologia. 
Primeiramente, o Ser é, para Platão, inteligível, nunca foi criado e é indestru-
tível (TIMEU, 2011, 52a). O Demiurgo (do grego, “demiurgos”, que significa 
artesão) toma o Ser como referência para modelar e formar o mundo mate-
rial. Pode-se dizer que o mundo sensível, o vir-a-ser, é uma cópia do Ser, da 
realidade inteligível. Portanto, o Demiurgo é aquele artesão que manipula os 
quatro elementos – terra, água, fogo e ar – para moldar o mundo material 
com baseno Mundo das Ideias (TIMEU, 2011, 31b-31d).
Pois, pelo visto, o procurar e o aprender são, no seu total, uma 
rememoração. 
(Platão).
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No Timeu, o Demiurgo surge como a força organizadora do cosmo, sendo 
anterior à Gaia e a Urano (TIMEU, 2011, 40b-41d). Por isso, nós podemos dizer 
que a natureza e todos os seres vivos, inclusive os seres humanos, são cópias 
das Ideias perfeitas. O corpo material é uma cópia da Ideia perfeita de corpo.
O problema é que, segundo a cosmologia de Platão, a modelagem feita 
pelo Demiurgo é ruim, não sendo exatamente uma cópia fiel das Ideias. Logo, 
a natureza e todos nós somos uma cópia imprecisa, imperfeita, distorcida das 
Ideias. O mundo material é uma cópia imperfeita do mundo Ideal.
Aliás, o próprio tempo é uma criação do Demiurgo com base na eterni-
dade do Mundo das Ideias, do Ser e do inteligível. Para Platão, o tempo é a 
“imagem móvel da eternidade” (TIMEU, 2011, 37d). O mundo material e o 
tempo são uma cópia do Mundo das Ideias e da eternidade. O Demiurgo é 
aquele que faz o mundo vir-a-ser (TIMEU, 2011, 30a).
Diante destas considerações, podemos traçar algumas conclusões acerca 
da filosofia de Platão. Em primeiro lugar, ela divide a realidade em duas: 
mundo material/mundo imaterial, vir-a-ser/Ser, eternidade/temporalidade, 
mundo sensível/mundo inteligível, corpo/alma, paixão/razão, e assim suces-
sivamente. Na filosofia, nós chamamos de dualismo essa cisão da realidade.
Em segundo lugar, parece claro que Platão deprecia tudo que é corporal, 
material e sensível, em oposto ao imaterial, inteligível e eterno. O mundo do 
Ser é imaterial e inteligível, enquanto que o mundo do não-ser é material e 
sensível. Tanto que, na filosofia platônica, o corpo deve ser disciplinado pelo 
intelecto, a fim de que a alma conheça mais do Ser. Viver na dimensão do 
corpóreo e das paixões é o mesmo que viver na esfera do não-ser.
A partir dessas considerações, nós podemos passar para o exame do 
Diálogo intitulado A República. Este sintetiza praticamente todo o pensamento 
de Platão, tornando-se o Diálogo mais popular da obra platônica atualmente.
Nesse Diálogo, Platão investiga a definição de justiça dentro de uma 
cidade ideal. O nome original do Diálogo que hoje traduzimos e chamamos 
de A República é, na realidade, Politéia. Este termo vem da palavra grega pólis 
(cidade). Politéia significa regime político, governo. A pólis é a cidade, e a 
politéia é o regime político que a cidade adotou para ser gerida. A pólis é o 
povo, a politéia é a forma de organização política desse povo.
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Em A República, Platão apresenta um regime político misto, isto é, a jun-
ção de vários regimes políticos em uma única cidade. Ele propõe um regime 
misturado, o qual se assemelha à república, que é a mistura de três regimes 
políticos: monarquia, aristocracia e democracia.
Na república romana, por exemplo, nós temos o cônsul (monarca), o 
senado (aristocracia) e o povo (democracia), todos com funções políticas 
diferentes, formando um regime político misto. Por isso, o Diálogo Politéia 
recebeu o nome de A República, pois a politéia defendida por Platão no 
Diálogo é o resultado da mistura de três outros regimes políticos, muito pare-
cido com a república.
Outra informação importante sobre as formalidades desse Diálogo é a 
sua composição interna. A República é um dos poucos Diálogos platônicos 
formado pela união de vários livros. No total, ela é formada por dez livros, 
sempre referenciados por número romano (ex.: Livro VII, ou Livro IX). Nós 
faremos uma breve exposição dos livros que compõem A República, forne-
cendo a você um conhecimento das principais teses do Diálogo.
No livro I, que vai de 327a até 354c, Sócrates e os seus companheiros bus-
cam a definição de justiça. A primeira conclusão é que a justiça consiste em 
dizer a verdade e restituir aquilo que recebeu. Polemarco, todavia, oferece 
três definições de justiça, todas refutadas por Sócrates. Trasímaco propõe que 
a justiça é o interesse do mais forte e, em seguida, que é mais vantajoso ser 
injusto do que justo. Sócrates questiona os argumentos de Trasímaco, termi-
nando o Livro I em aberto, sem uma definição de justiça, a qual será obtida 
somente no Livro IX. Este Livro I pode ser considerado uma espécie de intro-
dução dos demais que se seguirão.
É desse preâmbulo sobre a justiça que Platão idealizará a formação de 
uma cidade justa, os seus componentes institucionais, a educação dos cida-
dãos e as suas teses sobre a alma e o Mundo das Ideias. Vale a pena ler esse 
Diálogo com atenção.
O livro I de A República busca a definição da justiça (327a-354c); o Livro 
II discute a superioridade do homem justo e a origem da cidade (357a-383c); 
o Livro III discorre sobre a educação ideal (arte, ginástica e alimentação) para 
a formação dos cidadãos (386a-417b); o Livro IV apresenta o Estado ideal em 
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correspondência com a alma, trazendo à luz a noção de justiça (419a-445e); o 
Livro V apresenta os governantes filósofos, o espaço da mulher no Estado ideal, 
a vida dos guardiões e a Teoria das Ideias (449a-480a).
O Livro VI expõe a educação do rei-filósofo e a importância do conhecimento 
do Bem (484a-551e); o Livro VII apresenta a alegoria da caverna e o papel da 
dialética (514a-541b); o Livro VIII fala sobre a corrupção dos regimes políticos 
(543a-569c); o Livro IX apresenta o perfil do tirano e como o homem injusto é 
mais infeliz que o homem justo (571a-592b); enfim, o Livro X condena as artes 
imitativas e apresenta o mito de Er, que fala sobre a vida após a morte (595a-621d).
Para concluirmos este tópico, nós gostaríamos de ressaltar alguns pontos. 
Em primeiro lugar, nota-se como Platão opera com a dualidade, instaurando 
noções como corpo/alma, paixão/razão, mundo sensível/mundo inteligível. 
Em segundo lugar, Platão alinha a sua cosmologia com as suas concepções 
políticas, dando motivos filosóficos para criticar a tirania. Em terceiro, Platão 
concilia o vir-a-ser de Heráclito (que é o mundo material) e o Ser imóvel 
de Parmênides (que é o Mundo das Ideias), oferecendo uma solução para 
essas duas correntes filosóficas dos pré-socráticos (mobilismo e imobilismo). 
Portanto, Platão é um marco na história da filosofia antiga, não podendo ser 
ignorado.
O livro A República de Platão, da autoria de Nickolas Papas, contém 
informações sobre estilo e conteúdo do Diálogo. Já o livro A República 
de Platão: uma biografia, de Simon Blackburn, desenvolve temas mais 
biográficos do filósofo. O livro de Jayme Paviani, intitulado Platão & A 
República, é uma ótima introdução ao Diálogo. Por último, Os Diálogos de 
Platão, de Victor Goldschmidt, faz uma exposição geral da obra.
Fonte: o autor. 
Aristóteles, a Ética e a Metafísica
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ARISTÓTELES, A ÉTICA E A METAFÍSICA
Aristóteles nasceu no ano de 384 a. C., portanto, 15 anos após a condenação e a 
morte de Sócrates em Atenas. Diferente de Platão, Aristóteles não era ateniense, 
nascendo em Estagira, região da Macedônia, no norte da Grécia. Filho de um 
médico da corte do rei Amintas, Aristóteles possivelmente também obteve for-
mação na medicina.
Em 367, aos 17 anos, Aristóteles se dirigiu a Atenas, ingressando na Academia 
de Platão. Lá permaneceu por 20 anos, período em que Platão redigiu os seus 
últimos Diálogos. Aliás, Platão insere um personagem chamado Aristóteles no 
Diálogo Parmênides, fazendo, talvez, alusão ao seu discípulo.
O reinoda Macedônia era uma província grega pequena, sem expressão e 
muito instável. Enquanto Aristóteles esteve na Academia de Platão, porém, a 
Macedônia se transformou em uma grande potência grega. Em 359, Filipe II 
assumiu o reinado, travando guerra contra várias potências rivais do mundo 
grego, inclusive Atenas. Em 338, após várias concessões feitas por Atenas, Filipe 
II se tornou o senhor do mundo grego (KENNY, 1999, p. 82).
Com a morte de Platão, em 347, o seu sobrinho Espeusipo assumiu a direção 
da Academia. Com isto, Aristóteles saiu da Academia e se dirigiu para Asso, costa 
noroeste da atual Turquia. Aristóteles se tornou amigo íntimo do governante de 
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IU N I D A D E44
Asso, Hérmias, que também foi aluno da Academia de Platão. Hérmias ambicionava 
fundar uma escola filosófica em Asso, dando continuidade aos ensinos platônicos.
Em 341, todavia, Hérmias foi executado pelo rei da Pérsia, acusado de trai-
ção. Nessa ocasião, Filipe II convidou Aristóteles para retornar à Macedônia e ser 
o tutor de seu filho, Alexandre. Em 336, com a morte do pai, Alexandre herda o 
trono, vindo a ser, em um intervalo de apenas dez anos, o conquistador de um 
vasto território.
No período de conquista territorial de Alexandre, Aristóteles regressou a 
Atenas, fundando a sua própria escola filosófica, o Liceu. Esta não era uma escola 
fechada como a Academia de Platão. Pelo contrário, a maioria das preleções eram 
abertas ao público e gratuitas.
Em 323, Alexandre morreu, tornando um risco para Aristóteles continuar a 
viver na Atenas democrática. O filósofo, então, mudou-se para Cálcis, uma ilha 
grega vizinha de Atenas. Lá, porém, permaneceu por pouco tempo, falecendo em 
322, exatamente um ano depois da morte de Alexandre.
Os livros de Aristóteles, tal qual conhecemos, são bem diferentes dos Diálogos 
platônicos. Os textos que chegaram até nós são, na maioria dos casos, notas do 
próprio Aristóteles, registros dos ensinamentos feitos pelos discípulos e textos 
ditados pelo mestre aos seus discípulos.
Na Grécia Antiga, existiam duas categorias de textos diferentes: os exoté-
ricos e os esotéricos. Note que a diferença das duas palavras está nos prefixos 
Além do nome Liceu, a escola de Aristóteles também era conhecida 
pelo título de “escola peripatética”, termo que procede da palavra grega 
“perípatos”, que significa passeio. Aristóteles gostava de dar aulas e ministrar 
os seus ensinamentos caminhando com os seus discípulos, os quais ficaram 
conhecidos pelo título de “peripatéticos”, daí o nome escola peripatética. 
Fonte: adaptado de Marcondes (2008). 
Aristóteles, a Ética e a Metafísica
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“ex” e “es”. Os livros do primeiro grupo são mais didáticos do que os livros do 
segundo grupo, por uma razão que explicaremos a seguir.
Por um lado, o primeiro grupo de textos, os exotéricos, eram escritos para a 
comunidade externa, por isso eles eram, em geral, mais didáticos. Por outro lado, 
os textos do segundo grupo, os esotéricos, eram textos escritos para o ensino 
interno da escola, isto é, para discípulos que já conheciam a filosofia do mestre. 
Por isso, os escritos esotéricos são mais áridos e complicados, geralmente por-
que subentendem vários conceitos importantes.
A obra filosófica de Aristóteles que chegou até nós – ou corpus philosophicum 
– foi organizada muito posterior ao próprio Aristóteles. Esse corpus filosófico 
foi organizado por Andrônico de Rodes, cerca de 50 a. C., dois séculos após a 
morte do filósofo de Estagira (MARCONDES, 2008, p. 74-75).
A seguir, confira o nome dos livros de Aristóteles: A Constituição de Atenas; 
Política; Ética a Nicômaco; Ética a Eudemo; Poética; Categorias; Da Interpretação; 
Primeiros Analíticos; Segundo Analíticos; Tópicos; Refutações Sofísticas; Retórica; 
Física; Sobre a Alma; Metafísica.
No tocante à ética, Aristóteles é reconhecidamente o primeiro filósofo a sis-
tematizar um tratado de ética. O seu livro Ética a Nicômaco se tornou um marco 
no estudo sobre esta matéria. Por isso, nós veremos brevemente algumas ideias 
da ética aristotélica.
Em Ética a Nicômaco, Aristóteles afirma que todas as ações humanas visam a 
um objetivo, a um bem qualquer. O bem é, para Aristóteles, aquilo para o qual todas 
as coisas tendem. O filósofo afirma: “admite-se que toda arte e toda investigação, 
assim como toda ação e toda escolha, tem em mira um bem qualquer; por isso foi 
dito que o bem é aquilo a que todas as coisas tendem” (ARISTÓTELES, 1984, p. 49).
Nesse prisma, Aristóteles exemplifica a ideia de que todas as ações huma-
nas visam a um bem: “o fim da arte médica é a saúde, a da construção naval é o 
navio, o da estratégia é a vitória e o da economia é a riqueza” (ARISTÓTELES, 
1984, p. 49). Toda ação tem por objetivo realizar uma atividade excelente, um 
bem excelente, que é o seu fim.
Dentre todas as ações e finalidades, Aristóteles distingue as ações que visam 
a um objetivo prático e as ações que visam a um objetivo contemplativo. No pri-
meiro caso, o fim prático não visa a si mesmo, mas tem como alvo outro fim.
HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Por exemplo, a ação que visa a adquirir dinheiro objetiva um fim prático. 
Para conseguir dinheiro, é preciso trabalhar. Logo, o trabalho é um meio para 
conseguir dinheiro. Mas o dinheiro não é um fim em si mesmo, e sim um 
meio para conseguir outras coisas, como alimentação, casa, móveis. Por isso, 
embora o dinheiro seja um objetivo, ele é um objetivo prático, pois funciona 
como um meio para conseguir outras coisas.
O objetivo contemplativo é um fim em si mesmo. Não há nada para além 
do objetivo contemplativo que possamos alcançar. Ele é uma ação que se basta, 
um objetivo em si mesmo. Se o objetivo contemplativo não existisse, então 
nós não teríamos uma finalidade última para as nossas ações. Para Aristóteles, 
o fim último de todas as coisas é a felicidade (em grego, “eudaimonia”). E, 
para Aristóteles, esse bem supremo só pode ser alcançado por meio da ética.
Se existe um bem supremo, para o qual todos os nossos desejos se direcio-
nam, então esse bem é a felicidade. Do contrário, o nosso desejo cairia em uma 
busca infinita, sem um fim último a ser alcançado. Para a realização dos dese-
jos, a ética é o único meio possível para alcançar a felicidade. Não existe, para 
Aristóteles, uma sociedade feliz se tal sociedade viver em uma crise de ética.
Vale ressaltar que, em Aristóteles, a ética é uma ciência prática e não 
teórica. A vida virtuosa, ética e feliz não é realizada por um mero exercí-
cio intelectual, mas pelo exercício da prática da virtude, pelo hábito em agir 
corretamente. Aristóteles é categórico em ressaltar o caráter prático e não 
teórico da ética: “uma vez que a investigação não visa ao conhecimento teó-
rico como as outras – porque não investigamos para saber o que é a virtude, 
mas a fim de nos tornarmos bons, do contrário o nosso estudo seria inútil” 
(ARISTÓTELES, 1984, p. 68).
“Para o filósofo grego, desenvolver boas virtudes era como aprender a 
tocar bem um instrumento. A ética é uma ciência prática, jamais teórica. 
Não se ensina a coragem a não ser se vivendo a coragem”. 
(Luiz Felipe Pondé) 
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O intérprete Padovani (1974) ressalta, a partir das palavras de Aristóteles cita-
das, como a ética possui um caráter prático e não teórico: “a virtude ética não 
é, pois, uma razão pura, mas aplicação da razão; não é unicamente ciência, mas 
uma ação com ciência” (PADOVANI, 1974, p. 132).
A partir dessas considerações,

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