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DIREITOS SOCIAIS E CIDADANIA Professor: Me. Jéferson Soares Damascena Diretoria Executiva Pedagógica Janes Fidelis Tomelin Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Head de Projetos Educacionais Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Projeto Gráfico Thayla Guimarães Designer Educacional Marcus Vinicius Almeida Da Silva Machado Editoração Ellen Jeane da Silva Ilustração Marcelo Goto DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site shutterstock.com C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; DAMASCENA, Jéferson Soares. Direitos Sociais e Cidadania. Jéferson Soares Damascena. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 31 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Direito. 2. Social. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 340 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 04 sumário 06| DOS GREGOS À MAQUIAVEL: ESTADO, SOCIEDADE E O 21| ESTADO E SOCIEDADE CIVIL EM MARX 18| SOCIEDADE CIVIL E ESTADO EM HEGEL 11| OS CONTRATUALISTAS E A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE SOCIEDADE CIVIL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Relatar o trabalho de alguns dos pensadores mais importantes que estu- daram as relações entre o Estado e a sociedade. • Abordar a evolução do conceito de Estado e de sociedade civil entre os autores dessa corrente de pensamento. • Discutir a ideia central de sociedade civil e de Estado no pensamento de Hegel • Apresentar uma breve abordagem sobre o Estado e a sociedade civil na perspectiva de Karl Marx. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Dos gregos à Maquiavel: Estado, sociedade e berço da Democracia • Os contratualistas e a construção do conceito de sociedade civil • Sociedade Civil e Estado em Hegel • Estado e sociedade civil em Marx AS ORIGENS DO CONCEITO DE ESTADO E SOCIEDADE INTRODUÇÃO introdução Nesse momento do estudo buscamos apresentar objetivamente, a partir das determinadas sínteses, as categorias que envolvem o Estado e a sociedade civil, buscando fundamentos nos autores clássicos e contemporâneos, como forma de situar as questões que envolvem o Direito Social e a Cidadania, levando também cada aluno e aluna a refletir sobre as determinações que envolvem a participação democrática na sociedade civil no Brasil e nos demais contextos. Escolhemos esse caminho para que possamos compreender a construção da democracia, que ao mesmo tempo em que se democratiza o Estado também se expande as condições para o exercício da cidadania, a partir de momentos que supõe conflitos e contradições entre os sujeitos sociais, isto quer dizer que esse processo começa a se configurar de uma forma dualista, ou seja, carrega- da de contradições. Dessa maneira, buscamos autores renomados como Hegel, Marx, Maquiavel, entre outros, para que possamos entender os preceitos por eles propostos para a questão que envolve o Estado e a sociedade civil. Nesse primeiro momento, por meio da literatura escolhida, realizamos uma síntese das concepções sobre o Estado e sociedade civil nos contratualistas, Marx e Engels, Hegel e Maquiavel. Procuramos debruçarmo-nos, sobretudo, nas questões que remetem as con- tradições ligadas as concepções de Estado, o qual coloca este muito próximo da concepção de sociedade civil. Em meio a uma contextualização em torno desses autores, justificamos que os mesmo são essenciais para compreender como essas categorias (Estado e Sociedade Civil) estiveram e ainda estão for- temente ligadas às elaborações ocorridas ao longo do século XX e XXI. Mesmo que as proposições, em torno da categoria sociedade civil na mo- dernidade, perpassem as ideias de uma instância separada do Estado, nesse estudo, buscamos aparatos teóricos e metodológicos que demonstrem que a sociedade civil é parte fundante do Estado, e ela se constitui enquanto um núcleo necessário de ser estudado, entendemos que esse é o caminho para que cada educando e educanda, apreenda sobre a processualidade da parti- cipação política. Bons estudos! As relações entre os governos e o povo têm sido observadas desde a Grécia antiga. A busca do entendimento da dinâmica, dos conflitos no desenvolvimento da socie- dade e os princípios da compreensão do que é o Estado, tanto na pólis grega quanto na res publica romana, foi objeto de estudos de pensadores e filósofos, e continua sendo até os presentes dias. Na sociedade grega antiga, berço da Democracia (de demokratía: demos- povo e kratos- forma de governo), a pólis teve um papel fundamental na conformação do que se entende hoje por Estado e sociedade e suas relações por meio do poder outorgado ao “governo”. dos gregos à Maquiavel: estado, sociedade e o berço da democracia Figura 1 - Democracia Pós-Universo 7 As pólis gregas, também eram conhecidas pelo termo “cidades-Estado”, pois eram independentes, com governo próprio, com liberdade e autonomia política e econô- mica, tendo como maiores exemplos Atenas e Esparta (JÚNIOR, 2017). A pólis grega consistia em pequeno Estado soberano que compreendia tanto a zona urbana como a área rural (não havendo distinção), e, eventualmente, alguns povoados urbanos secundários. Para os gregos a essência da pólis passa necessaria- mente pela definição do o povo (demos) que a compõe, à exceção dos estrangeiros na cidade, aos quais cabiam nem direitos, nem proteção. Assim, a pólis era “ Uma coletividade de indivíduos submetidos aos mesmos costumes funda- mentais e unidos por um culto comum às mesmas divindades protetoras. Em geral uma cidade, ao formar-se, compreende várias tribos; a tribo está dividida em diversas frátrias e estas em clãs, estes, por sua vez, compostos de muitas famílias no sentido estrito do termo, pai, mãe e filhos (FUNARI, 2002, p.19). Nas pólis não existia separação entre as áreas rural e urbana, nem existiam relações de dependência e seu centro político-administrativo era a Acrópole, geralmente situada na região mais alta da cidade-Estado. Era na Acrópole que ficavam os edifícios públi- cos, a Ágora (espaço em que ocorriam debates e decisões políticas) e a Gerúsia, que além de funcionar como Tribunais Supremos, tinha funções administrativas, onde seus membros preparavam as propostas a serem apresentadas à Assembleia: “ O fenômeno geográfico e político associavam-se de tal modo que, na língua grega, ‘pólis’ era ao mesmo tempo uma expressão geográfica e uma expressão política, designando tanto o lugar da cidade, quanto a população submeti- da a sua soberania. (PESSANHA, 1991, p.7). Segundo Pessanha (1991), a própria questão da dimensão da cidade-Estado condicio- nava um forte laço de solidariedade entre os habitantes, facilitando a ação coercitiva dos padrões de conduta, ao mesmo tempo, propiciava à pólis o desenvolvimento de uma conformação social peculiar e única, motivo do orgulho do patrimônio comum de seus cidadãos. Neste sentido, um grego antigo pensava a si mesmo, antes de tudo, como um cidadão ou como um “animal político”. https://pt.wikipedia.org/wiki/Corte_suprema Pós-Universo 8 Para um grego antigo a felicidade está condicionada ao fato de convívio com os outros em sociedade, pois “o homem é por natureza um animal político - zoon poli- tikon” (ARISTOTE, 1982, in RAMOS, 2014). As duas maiorescidade-Estados, Atenas e Esparta, tinham sistemas de governo diferentes. Enquanto Esparta tinha sua administração comandada por uma oligar- quia militarizada, Atenas se caracterizava por uma sociedade assentada em práticas mais democráticas, cabendo a todos os seus cidadãos o direito de debater os des- tinos da coletividade. O próprio sistema educacional ateniense, era voltado para a formação de um cidadão preparado para a reflexão e o debate acerca da realidade, sendo um traço distintivo da política de Atenas. Essencial para o entendimento do Estado e a construção do conceito de “direi- tos”, a Democracia grega, enquanto forma de governo, lançou as bases do que se estuda até os dias de hoje sobre o poder outorgado, sociedade civil, participação e a formulação de normas ou “políticas” que regulam essas relações. Evidentemente, a fim de evitar análises que tendam ao anacronismo, é preciso lembrar que a sociedade grega antiga tinha sua concepção própria e singular de li- berdade, direitos e cidadania. Na Grécia Antiga, o filósofo Platão (428-348 a.C.), em uma de suas obras clássicas, “A República”, defendia aqueles que condenavam o “governo do povo”, con- ceituando o Estado, utilizando-o como se fosse um corpo humano. Associando as funções de forma a exemplificar sua tese, Platão afirmava que, tal como um corpo saudável e harmônico apresenta moderação e equilíbrio, o Estado justo se caracte- rizaria pelo fato de que, nele, cada um conheceria o seu lugar no todo. Assim, a “cabeça” (a expressão da razão), representava os filósofos, a quem caberia o poder de governar, aqueles detentores da cólera, a qual ele associava ao “peito”, seriam os corajosos, os guerreiros, que lutariam pela manutenção da organização e da paz da cidade; e por fim o terceiro grupo, comandado pelos desejos, que no corpo humano seria a região do “baixo ventre”. Essa classe, o povo, eram os artesãos, que deveriam empregar a força de seus desejos nos seus trabalhos específicos, devendo ser monitorada e dominada (ARAÚJO, 2003). Evidentemente, para os padrões atuais, considera-se uma visão conservadora e aristocrática da sociedade, na perspectiva do autor a “pólis” deve ser governada pelas elites, liberta da atividade produtiva, dedicada a pensar e a buscar o conhecimento, condições que estavam dadas para a maioria da população ateniense. Pós-Universo 9 “ [...] a democracia é o governo não do povo, mas dos mais pobres contra os ricos [revelando seu caráter vil, ignóbil, e infame]. O princípio da democra- cia é a liberdade, mas é uma liberdade que se converte imediatamente em licenciosidade [...] pela irrupção do desejo imoderado de satisfazer as carên- cias supérfluas além das carências necessárias, pela ausência de respeito às leis e pela condescendência geral para com a subversão de toda autorida- de... (BOBBIO, 2012, p. 141). Neste cenário germinava o embrião da Democracia, uma forma de governo que buscava atender aos anseios de uma sociedade poderosa, politizada e orgulhosa das suas tradições e sua cultura e, embora avançada para sua época, não tinha as mesma concepções a respeito de direitos, liberdade e cidadania que temos hoje. Utilizando-se dos conceitos dos pensadores da Antiguidade Clássica sobre a política e a relação do Estado com a sociedade por meio dos governos, mas abor- dando-os de maneira inovadora, o historiador, poeta e diplomata renascentista de origem florentina, Nicolau Maquiavel (1469-1527) mudou os rumos dos estudos an- teriores sobre o tema. Reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna, Maquiavel, ao contrário dos gregos, que estudavam o “político” (no campo institucio- nal), esmiúça a “política como espaço da ação”, ou seja, como o Estado e os governos são realmente e não como idealmente deveriam ser. O caráter inovador da análise de Maquiavel consiste em incorporar, ao debate político, uma dicotomia, até então negligenciada, entre Estado e sociedade. O Estado, chamado de “pólis” pelos gregos e “res publica” pelos romanos, é o espaço da “ordem social” onde os atores políticos atuam. Utilizando a figura do “Príncipe” como o detentor do poder de comandar o Estado, o autor dá um outro sentido ao debate: “ A sociedade, por outro lado, é o que Maquiavel entende por “privado”; o espaço onde o povo desenvolve as atividades econômicas, onde se gera a propriedade privada, onde se constrói a família. E é aqui onde o “Príncipe” (o Estado), não deve intervir (MONTANÕ E DURIGUETTO, 2011, p.21). Pós-Universo 10 Neste sentido, o interesse pelos estudos sobre o Estado e a sociedade, desde os filósofos da Grécia Antiga até Maquiavel, demonstram a importância e a complexi- dade do tema na busca da compreensão dos mecanismos do processo político de disputas, conflitos de interesses e seus desdobramentos sobre o dia a dia das nações e do próprio cidadão comum até nossos dias. Na Grécia Antiga as cidades tinham independência, contando com um governo próprio e autônomo. Estas comunidades eram autogovernadas, compostas de um centro cívico e/ou econômico (o centro urbano) e um território adjacente, no qual tirava seus meios de subsistência. Por serem pequenas em área e em população, eram denominadas “cidade-Estado” ou “pólis”. “O regime da cidade-Estado, nas suas variantes, existiu na Grécia, entre os séculos VIII e IV a.C. e na Roma republicana, entre os séculos VI e I a.C” (MACHADO, 2017, p.9). saiba mais Para que se compreenda a trajetória da construção dos direitos civis é indispensável reconhecer a importância das transformações na concepção do conceito de Estado moderno e, por consequência, a definição de “sociedade civil” em um ambiente po- lítico e econômico em transição com o surgimento do capitalismo, que modificou as formas de relação entre esses atores. Neste sentido, as bases da concepção do Estado moderno têm sua origem nas teorias “contratualistas” do “direito natural”, ou “jusnaturalismo”, desenvolvidas no pro- cesso de hegemonia do capitalismo. os contratualistas e a construção do conceito de sociedade civil Figura 2 - Governo Pós-Universo 12 O termo “jusnaturalismo” refere-se ao desenvolvimento do ideário do “Direito Natural” desde o início do século XVII até o fim do século XVIII. Essa corrente teórica foi determinante na concepção das doutrinas de cunho individualista e liberal, afirma- tivas da necessidade de um Estado que respeitasse (e protegesse) os direitos inatos dos indivíduos, restringindo o exercício do seu poder a uma função assentada nos direitos individuais. Assim, o ordenamento político passa a ter a finalidade de coibir a violação desses direitos (MONTANÕ E DURIGUETTO, 2011, p.22). A teoria do direito natural abrange uma grande parte da filosofia desde a anti- guidade, passando por pensadores como Sócrates, até a Idade Média com Tomás de Aquino e modernidade com Thomas Hobbes, John Locke, Jean-Jacques Rousseau, entre outros. O jusnaturalismo, mais conhecido como contratualismo, é uma doutrina baseada na afirmação de um “direito natural”, que tem validade em si e é anterior ao “direito positivo”. Enquanto para o direito positivo só há um direito, que é o estabelecido pelo Estado, para os contratualistas os direitos naturais foram estabelecidos e revelados por Deus aos homens, ou derivam da própria ideia de que existem leis naturais no universo, ou constituem leis naturais da vida e cabe ao homem, usando a razão, des- cobri-las. (FASSÓ, 1998). Os principais autores contratualistas, Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), lançaram uma nova concepção acerca do poder político e sua função de governo sobre o indivíduo, denominado de “contrato social”, uma forma de organização com normas, autoridades, usos e costu- mes em comum, de forma a proporcionar uma convivência pacífica, cujo preço foi nada menos que a superação da liberdade individuale natural, lançando as raízes do conceito de Estado moderno. http://www.portalconscienciapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-moderna/os-contratualistas/hobbes/ http://www.portalconscienciapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-moderna/os-contratualistas/locke/ http://www.portalconscienciapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-moderna/os-contratualistas/rousseau/ Pós-Universo 13 Thomas Hobbes, em sua obra Leviathan (1651), afirmava que o “estado de natureza” é caracterizado pela existência de homens em busca desenfreada de poder e a com ele a capacidade de amealhar reputação e domínio sobre os demais. Nesse “estado de natureza” todos são concorrentes, com capacidades semelhantes para obter seus fins, mesmo pelo uso da violência na defesa de seus interesses. Em consequência, o estado de natureza conduziria à guerra em função da escassez dos bens e contraste com a ganância ilimitada, conduzindo, na ausência, leis, dispondo sobe essa situa- ção, à uma situação insustentável: “ Desta guerra de todos os homens contra todos os homens também isto é consequência: que nada pode ser injusto. As noções de bem e de mal, de justiça e injustiça, não podem aí ter lugar. Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. Na guerra, a força e a fraude são duas virtudes cardeais. A justiça e a injustiça não fazem parte das faculdades do corpo e do espírito. Se assim fosse, poderiam existir num homem que es- tivesse sozinho no mundo, do mesmo modo que seus sentidos e paixões. São qualidades que pertencem aos homens em sociedade, não na solidão. Outra consequência da mesma condição é que não há propriedade, nem domínio, nem distinção entre meu e o teu; só pertence a cada homem aquilo que ele é capaz de conservá-lo. É, pois, esta a miserável condição em que o homem realmente se encontra, por sua obra da simples natureza. (HOBBES, 1997, p.110) Hobbes defendia a necessidade de um poder que intervenha, regule e proteja os in- teresses individuais em nome da ordem e do bem comum, sendo esse o papel do Estado. Assim se daria a transição do estado de natureza para constituição da socie- dade política ou sociedade civil, mesmo que isso signifique a negação da liberdade para obtenção da paz e segurança. Há um pacto no qual os indivíduos passam a submeter-se ao soberano e a obedecer suas leis (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010). Pós-Universo 14 John Locke também se dedicou a estudar qual a melhor forma que o poder polí- tico deveria assumir para garantir a segurança, a paz e a liberdade da esfera privada. Em seu Segundo tratado sobre o governo (1690), Locke concorda com o argumento de que os homens se encontravam, no estado de natureza, de um estado de ab- soluta liberdade, mas discorda de Hobbes em relação à natureza da propriedade privada. Para Locke o fundamento originário da propriedade é o trabalho. Os homens tornavam-se proprietários à medida que transformavam o “estado comum” da natu- reza por meio de seu trabalho, visando a sua subsistência e satisfação (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010). Enquanto em Hobbes o homem renuncia à sua liberdade para obter a paz, Locke, ao contrário, considera que é o Estado que assume o papel de proteger o homem e sua propriedade. Para o autor, a propriedade preexistia, sendo, então, um direito natural legitimado pelo trabalho e deveria ser protegido pelo Estado. Assim, para Locke, o Estado é resultante de um pacto de consentimento para proteção da pro- priedade. Dessa forma, o poder político permanece nas mãos dos indivíduos, uma vez que sua outorgasse é condicionada ao cumprimento dos seus interesses, con- forme as normas e as leis estabelecidas no contrato social: “ A única maneira pela qual uma pessoa qualquer pode abdicar de sua liber- dade natural e revestir-se dos elos da sociedade civil é concordando com outros homens em juntar-se e unir-se em uma comunidade, para viverem confortável, segura e pacificamente uns com os outros, num gozo seguro de suas propriedades e com maior segurança contra aqueles que dela não fazem parte (LOCKE, 1998, p.468). Entre os pensadores políticos clássicos, Rousseau tem um lugar à parte pelas singu- lares formulações a respeito das relações entre Estado e sociedade. Para o autor, o primeiro passo da transição do estado de natureza para o estado de sociedade se realiza por meio do “pacto social”, em que os indivíduos se associam, assumindo o compromisso recíproco de reconhecimento e respeito aos direitos de cada um. Mas este “pacto social” implica a necessidade de um Estado que exerça o cumprimento da lei, estando os cidadãos obrigados a respeitar o compromisso assumido, seguin- do-se, num segundo momento, o pacto político. Pós-Universo 15 Assim como Hobbes, a propriedade, para Rousseau, não é considerada como direito natural, mas sim como um direito civil. No estado de natureza de Hobbes e no estado de sociedade em Rousseau a posse da terra não é uma garantia, porque não existia a lei, que só fora formulada por contrato social, com o decreto do soberano. A relevância no tratamento que o autor dá ao significado de consenso e “povo” é o que torna tão original o seu pensamento. Para Rousseau, o soberano, constituí- do pelo pacto social, é o povo, por meio da “vontade geral”, cuja expressão é a lei, e estas não podem ser injustas, pois “as leis são apenas registro de nossas vontades” (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010, p.29). Assim, só o povo, apenas o soberano (o povo), tem a prerrogativa de fazer as leis: “o povo, submetido ás leis, deve ser seu autor. Só àqueles que se associam, cabe regu- lamentar as condições da sociedade.” (ROUSSEAU, 1983, p. 27). Rousseau elevou-se acima de seus precursores, ao afirmar que o princípio da liberdade é um direito ina- lienável do ser humano: “ Renunciar à liberdade é renunciar à qualidade de homem, aos direitos da humanidade, e até aos próprios deveres. Não há recompensa possível para a quem tudo renuncia. Tal renúncia não se compadece com a natureza do homem, e destituir-se voluntariamente de toda e qualquer liberdade equi- vale a excluir a moralidade de suas ações (ROUSSEAU, 1987, p. 27). Embora se encontre diferenças (e até oposições) entre os principais autores contratua- listas, Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau, todos entendem que o surgimento da sociedade atual se dá com a dicotomia entre estado de natu- reza x estado de sociedade. Segundo essa premissa, foi o acirramento de inúmeros conflitos que ameaça- vam a paz, a segurança, a liberdade e a propriedade privada, que tornou imperioso o estabelecimento de um “contrato social”, em que, em troca da alienação da liber- dade individual irrestrita, criava-se um conjunto de instrumentos capazes de impedir a guerra generalizada e garantir, de forma mais adequada, os interesses de cada um: Pós-Universo 16 “ Em sentido muito amplo, o Contratualismo compreende todas aquelas teorias políticas que veem a origem da sociedade e o fundamento do poder políti- co (chamado, quando em quando, potestas, imperium, Governo, soberania, Estado) num contrato, isto é, num acordo tácito ou expresso entre a maioria dos indivíduos, acordo que assinalaria o fim do estado natural e o início do estado social e político (MATTEUCCI, in BOBBIO, 2000, p. 272). A razão maior dessa importante deliberação comum, a de outorgar seus direitos à um soberano, fica pactuado que o exercício do poder constituído está condicionado à busca do bem-estar privado, defendendo o florescimento dos interesses particu- lares e garantindo liberdade dos indivíduos. Em consequência, os homens passavam do estado de natureza para o “estado de sociedade”, que abarca tanto o conteúdo de sociedade civilizada como o de socie- dade política, ou seja, é um estado regido por normas às quais todos se submetem voluntariamente a um conjunto de regras gerais, que outorgam a uma entidade maior a legitimidade e o poder para agir em nome de todose garantir o cumprimento da vontade coletiva pactuada: “ Surgia, assim, o Estado, com seu aparato jurídico, político e administrati- vo, oriundo do consenso dos indivíduos e com finalidade bem definida de assegurar o livre exercício dos direitos naturais desses mesmos indivíduos (TONET, 2017, p.1). Assim, para os contratualistas o Estado representa um momento superior da existência social, uma vez que nele o interesse geral prevalece sobre os interesses particula- res. Contudo, para Hobbes e Locke, enquanto sociedade civil significa, ao mesmo tempo, político e civilizado, em Rousseau a noção de sociedade civil vai ter sentido único de sociedade civilizada, que só se torna sociedade política após o contrato social (BOBBIO, 2007). Pós-Universo 17 Neste sentido, à semelhança de Rousseau, o conceito atual de sociedade civil expressa “o momento em que os indivíduos são cidadãos, isto é, sujeitos de direitos, anteriores ao Estado, a quem cabe, enquanto governo apenas ser a expressão da vontade geral.” (TONET, 2017, p.6). A ideia de um contrato social aparece teorizado em filósofos como J. Althusius (1557-1638), Thomas Hobbes (1588-1679), B. Spinoza (1632-1677), S. Pufendorf (1632-1694), John Locke (1632-1704), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), I. Kant (1724-1804) (MATTEUCCI, 1998). Leia mais: http://www.portalconscienciapolitica.com.br/filosofia-politica/ filosofia-moderna/os-contratualistas/ Fonte: o autor saiba mais http://www.portalconscienciapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-moderna/os-contratualistas/?utm_source=copy&utm_medium=paste&utm_campaign=copypaste&utm_content=http%3A%2F%2Fwww.portalconscienciapolitica.com.br%2Ffilosofia-politica%2Ffilosofia-moderna%2Fos-contratualistas%2F http://www.portalconscienciapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-moderna/os-contratualistas/?utm_source=copy&utm_medium=paste&utm_campaign=copypaste&utm_content=http%3A%2F%2Fwww.portalconscienciapolitica.com.br%2Ffilosofia-politica%2Ffilosofia-moderna%2Fos-contratualistas%2F A interpretação da formação social moderna tal como essa foi se reorganizando em seus desdobramentos históricos resultantes das “revoluções burguesas”, se deve à inestimável contribuição da obra daquele que é considerado um dos mais impor- tantes filósofos da história, o alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), que estabeleceu o conceito de sociedade civil deixando de identificar-se com o Estado, representando apenas um momento em sua formação. A obra de Hegel marca a ruptura decisiva para com a corrente contratualista. No pensamento hegeliano não há espaço para a concepção de um eventual contrato, estabelecido de forma voluntária ou compulsória, entre indivíduos que viveriam, hi- poteticamente, um “estado de natureza, que fosse constantemente ameaçado, como em Hobbes, ou pacífico, como em Locke e Rousseau” (SOUZA, 2010, p.26). sociedade civil e estado em Hegel Figura 3 - Hegel Pós-Universo 19 Hegel trata de duas importantes questões que serão a base de seus estudos acerca da política. Enquanto lida com a concepção política aristotélica da polis grega antiga que se mostra anacrônica em relação aos arranjos da sociedade moderna, também discorda com a concepção contratualista que fundamenta a vontade geral na vontade das particularidades. A família é o ambiente da ética natural, uma instituição a partir da qual cada membro liga-se ao outro por intermédio dos laços de afinidade, e sua dissolução se dá, segundo o autor, por dois motivos: a) um processo de dissolução natural oca- sionada com a falência dos pais; b) maioridade dos filhos resultando da educação recebida. A dissolução da família significa “[...] o aparecimento de pessoas independen- tes e reconhecidas como tais pela sua maioridade, bem como de uma multiplicidade de novas famílias a serem constituídas.” (MENDES, 2012, p.235). Da dissolução da unidade familiar surgem as classes sociais e as consequentes oposições entre diferentes grupos motivados por seus interesses econômicos. Para Hegel, a sociedade civil aparece como momento intermediário entre a família e o Estado. Para Hegel, ao contrário dos contratualistas, o Estado é um momento, um passo à frente no processo de construção de um nível superior de existência que é a so- ciedade política. Assim, Hegel considera que o surgimento da sociedade civil se dá no momento em que sucede à família como lugar da satisfação das necessidades. Na medida em que cada um desses grupos tem por objetivo principal a defesa dos seus interesses, a tendência é estabelecer-se uma anarquia generalizada, um “bellum omnium contra omnes” (“A guerra de todos contra todos”), colocando em risco a própria condição de sobrevivência da sociedade e necessitando do Estado como princípio superior de ordenamento racional, já que a própria sociedade civil, per se, não tem condições de superar esse estado de anarquia: “ Os grandes proprietários, tal como todos os que exercem uma profissão ou possuem um bem ou uma indústria qualquer, têm certamente interesse na manutenção da ordem burguesa, mas o seu fim direto em tudo isto conti- nua a ser a sua propriedade privada (HEGEL in TONET, 2017, p.2). Pós-Universo 20 O Estado representa a preponderância do interesse geral sobre os interesses par- ticulares. A proposta de Hegel se assenta em que não é a sociedade civil que funda o Estado, mas é o Estado que funda a sociedade civil como “sociedade política”, regida pelo princípio da universalidade. Ao contrário do Estado, como um momento de alienação da liberdade natural defendida pelos contratualistas, em Hegel é o Estado que torna os indivíduos livres: “ O Estado é a realidade eficaz da liberdade concreta e a liberdade concreta consiste em que a pessoa, com os seus interesses particulares, nele encontra o seu pleno florescimento, tanto como o reconhecimento dos seus direitos. (HEGEL in TONET, 2017, p.3). Em Hegel, a sociedade civil é definida como um sistema de necessidades em que se desenvolvem as relações e atividades econômicas, um sistema de mútuas dependên- cias recíprocas, em que os indivíduos buscam satisfazer seus interesses e necessidades por meio do trabalho, da divisão do trabalho, das trocas e das regulamentações jurí- dico-administrativas - que visam assegurar a defesa das liberdades - da propriedade privada, da administração da justiça, do poder de polícia a política e dos interesses das corporações (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010). O pensamento de Hegel se dirige a construção de uma “vida ética”, que se concreti- zaria pela articulação entre os interesses particulares e parciais presentes na sociedade civil em um ambiente em que prevalecesse a defesa de um “interesse comum”. Entretanto, para o autor, o mesmo Estado condensador dos interesses conflitantes da sociedade civil, com capacidade e legitimidade para produzir (e exigir obediência das) normas, incluindo o uso da coação, também tem o papel de manter e organizar a ordem resultante do desenvolvimento de laços sociais e históricos, ou seja, “a esfera estatal seria o reino em que se expressariam os interesses públicos e as vontades uni- versais, construídos a partir das vontades particulares existentes na sociedade civil. O Estado em Hegel é a conservação/ superação da sociedade civil.” (BOBBIO, 1987, p.28). Assim, para Hegel, caberia ao Estado garantir o bem público concomitantemen- te à preservação da sociedade civil e seus fundamentos, incluindo a propriedade privada, ou seja, o Estado é transformado no “sujeito real que ordena, funda e mate- rializa a universalização dos interesses privatistas e particularistas da sociedade civil (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010, p.33). O uso atual da expressão “sociedade civil” como um termo associado ao Estado, ou sistema político, tem suas bases no pensamento do filósofo alemão Karl Heinrich Marx (1818-1883). Com sua concepção teórica, Marx deu outro sentido à discussão acerca darelação entre estas categorias e sua obra é considerada uma ampla revisão teórico-crítica do pensamento social produzido na modernidade. estado e sociedade civil em Marx Figura 4 - Karl Marx Pós-Universo 22 Para que se compreenda a discussão levantada por Marx sobre a relação entre Estado e sociedade civil é preciso destacar a influência da obra de Hegel em seu trabalho. Segundo o italiano Bobbio (2012), a influência da literatura marxista em relação ao termo sociedade civil é tanta que “devemos a frequência com que é utilizada a ex- pressão “sociedade civil” no debate político contemporâneo, principalmente na Itália”. Segundo o autor, em outros países, como a Alemanha, país de origem do próprio Marx, a expressão “sociedade civil” é substituída pelo termo “sociedade”. A adoção do significado usual de “sociedade civil”, concebido por Marx, se dá a partir do trecho contido no prefácio da sua obra “Para a crítica da economia po- lítica” (1859), em que o pensador alemão escreve que estudando Hegel chegou à convicção de que as instituições jurídicas e políticas tinham suas raízes nas relações materiais de existência, “cujo conjunto é incorporado por Hegel sob o termo “socie- dade civil””, daí derivando a consequência de que “a anatomia da sociedade civil deve ser buscada na economia política” (BOBBIO, 2012, p.38). Um dos principais pontos de discordância de Marx, em relação à concepção de Hegel, para Estado e sociedade civil se assenta no fato de que para o autor, a síntese hegeliana “camufla” o jogo de interesses entre as duas instâncias da sociedade. Na perspectiva de Marx, “a forma de organização da sociedade política seria dada pela sociedade civil, baseada no campo de intercâmbios comerciais, determinados pela produção material” (MENDES, 2012, p. 244). Em sua outra obra conjunta com o filósofo Friedrich Engels (1820-1895), “A Ideologia Alemã” (1986), Marx reafirma o pressuposto central que perpassa toda sua obra. Para o autor, as condições materiais de existência constituem a matriz ontológica, ou seja, a concepção de todo social. “ A forma de intercâmbio, condicionada pelas forças produtivas existentes em todas as fases históricas e que, por sua vez, as condiciona, é a sociedade civil (...). Vê-se já aqui que esta sociedade civil é a verdadeira fonte, o verdadeiro cenário de toda a história. (...) A sociedade civil abrange todo o intercâmbio material dos indivíduos, no interior de uma determinada fase de desenvol- vimento das forças produtivas (MARX, in TONET, 2017, p. 27). Pós-Universo 23 Para Marx, a sociedade civil hegeliana, passou a significar “sociedade burguesa” no sentido próprio determinante de uma sociedade de classe. A burguesia, enquanto classe emancipou-se politicamente dos vínculos do Estado absolutista, contrapondo a este Estado tradicional os direitos do homem e do cidadão que são, na verdade, os direitos que protegem os interesses particulares próprios da classe burguesa (BOBBIO, 2012). Assim, a sociedade civil seria o resultado do desenvolvimento das relações econô- micas como determinantes do momento político, ou seja, o Estado, a ordem política, é o elemento subordinado, enquanto a sociedade civil, o reino das relações econô- micas, é o elemento decisivo (BOBBIO, 1987). Esta conformação social, determinante e ao mesmo tempo subordinada ao reino privado das relações entre indivíduos, é um espaço que se desvinculou tanto do uni- verso da família quanto do domínio formal do Estado mediante o triunfo das relações capitalistas de produção na Europa: “ A sociedade civil abrange todo o intercâmbio material dos indivíduos, no interior de uma fase determinada de desenvolvimento das forças produti- vas. [...] A sociedade civil, como tal, desenvolve-se apenas com a burguesia (MARX, 1993, p. 53). Neste sentido, Marx define a sociedade civil enquanto “sociedade burguesa”, como a esfera da produção e da reprodução da vida material. Para o autor, sociedade civil e estrutura economia possuem, essencialmente, a mesma definição. Marx e Engels consideram as condições materiais existentes em uma sociedade, ou seja, o modo como as coisas são produzidas, distribuídas, consumidas e, especial- mente, as relações sociais resultantes deste processo, determinantes da sua estrutura social e da construção da consciência humana de classe. Contrapondo-se à teoria hegeliana, segundo a qual o Estado transcende à socie- dade, para Marx e Engels, ao contrário, o Estado emerge das relações de produção, pois “não é o Estado que molda a sociedade mas a sociedade que molda o Estado. A sociedade, por sua vez, se molda em função do modo de produção dominante e das relações de produção inerentes à esse modo” (CARNOY in MONTAÑO E DURIGUETTO, 2010, p.35). Pós-Universo 24 Marx, com a colaboração de Engels, inova e avança consideravelmente ao per- ceber a conformação de um modo de produção que se tornaria hegemônico: o capitalismo nascente. Os autores se dedicam a esmiuçar profundamente o processo de entificação do capitalismo, sua essência, seus desdobramentos e consequências. A sociedade civil é, essencialmente, o campo no qual se dão relações econô- micas e, via de consequência, os conflitos de classes advindos dessas relações. Para o autor, uma das “artimanhas” das classes dominantes é apresentar o Estado como instituição “neutra”. Para Marx, o Estado representa os interesses da classe economica- mente hegemônica, que, ao conduzir as linhas gerais da economia política, segundo seus interesses, estabelece como função do Estado reproduzir o poder da classe que domina o ambiente da economia. Se para Hegel o Estado representa o “divino na terra”, para Marx o Estado, enquanto conformação resultante da divisão de classes, é uma esfera eminentemente repres- sora. Ao passo que Hegel considera o Estado um ambiente em que predomina-se a “eticidade”, Marx considera que este aparato repressor existirá enquanto a divisão de classes imperar nas relações sociais. “ Nenhum dos chamados direito humanos ultrapassa, portanto, o egoísmo do homem, do homem como membro da sociedade burguesa, isto é, do indivíduo voltado para si mesmo, para seu interesse particular, em sua arbitra- riedade privada e dissociada da comunidade. Longe de conceber ao homem como ser genérico, estes direitos, pelo contrário, fazem da própria vida gené- rica, da sociedade, um marco exterior aos indivíduos, uma limitação de sua independência primitiva. O único nexo que os mantém em coesão é a ne- cessidade natural, a necessidade e o interesse particular, a conservação de suas propriedades e de suas individualidades egoístas (MARX, 2005, p. 37). Assim, discutimos nesta unidade alguns autores e conceitos que embasam as discus- sões e estudos sobre a origem natureza e o papel do Estado, sociedade e governo, bem como suas relações. Longe de esgotar o tema, pretende-se aqui fomentar a busca do aprofundamento deste campo profundamente vasto, atual e tão importante. atividades de estudo 1. Quando falamos das relações existentes entre Estado, sociedade civil e mercado, podemos compreender que essas relações sofreram profundas transformações em diversos momentos da história do mundo. Algumas correntes teóricas buscam ex- plicar essas alterações, sobre essas correntes teóricas e os modelos de intervenção do Estado, é correto afirmar que: a) O Estado interventor ganhou formas definidas ao longo do século XIX e se impôs ao mundo contra o poder dos reis. b) O Estado liberal desenvolveu princípios somente no século XX, após o fim da I Guerra Mundial. c) A Lei dos Pobres do governo inglês e os programas que surgiram são exemplos de iniciativas do liberalismo. d) O Estado Liberal segundo Marx tem três elementos fundamentais: trabalho, rela- ções de produção e divisão de classes. e) O Estado providencia deve ser caracterizado pelo controle social que exerce, seja na área industrial ou financeira. 2. Sobreo Estado e sua evolução histórica, analise o item a seguir: “Os contratualistas, trazem a perspectiva de que o contrato é base de relações jurí- dicas que estão facultadas aos membros que dele pactuam e por meio do qual se institui o Estado de natureza”. Essa afirmação está Certa ou Errada, assinale a alterna- tiva abaixo: )( Certo. )( Errado. 3. Sobre os conceitos e teorias que se relacionam à ciência política, podemos dizer que nas _______________ liberais, a existência de relativa _______________do governo local em referencia ao governo ________________ caracteriza o estado de direito. Assinale a alternativa que preenche as lacunas acima: a) Cidadanias; autonomia; pariental. b) Democracias; autonomia; central. c) Ações; autonomia; lateral. d) Democracia; pariental; central. e) Cidadania; autonomia; lateral. resumo Buscamos desenvolver nesse estudo os debates que envolvem as questões sobre a origem do conceito de Estado e de Sociedade Civil, perpassamos pelas denominações que envolvem a de- mocracia representativa, como os autores aqui retratados mantêm a defesa da democracia. Apresentar as questões que se relacionam a um Estado representativo, significa apresentar as principais deliberações a respeito de questões políticas, como saber os fundamentos do modelo democrático que envolve nossa sociedade. Os clássicos aqui apresentados apresentam uma nova maneira de pensar sobre as questões democráticas as quais devem ser esfera de tomada de decisões para os mesmos, autores como Hegel, Marx, Weber entre outros, contribuíram para reformular as concepções a respeito de democracia, liberdade, Estado e sociedade civil. A partir dos estudos desses teóricos surgem novas formas de pensar a respeito da democracia e da sociedade civil, a partir do momento que se incorpora a participação da sociedade civil, com a concepção do que é ser um cidadão portador de direitos, propondo mudanças na forma de pensar e exercer política. Ressaltamos que o conceito de democracia é o princípio da cidadania, e somente a partir de uma cidadania integral, em que todos tenham pleno acesso aos direitos civil, políticos e sociais que poderemos garantir a existência de uma verdadeira sociedade civil e uma democracia. material complementar Um Estado de Liberdade Ano: 2016 Sinopse: durante a Guerra Civil Americana, o fazendeiro Newton Knight (Matthew McConaughey) forma um grupo de rebeldes contra a Confederação. Ele é contrário à escravidão, mas também à secessão. Assim, reunindo pobres fazendeiros, o pequeno condado de Jones rompe com o grupo majoritário e forma um pequeno estado livre. Ao longo dos anos, Knight combate a influência racista do Ku Klux Klan e forma a primeira comunidade in- terracial do sul, casando-se com a ex-escrava Rachel (Gugu Mbatha-Raw). referências ARAÚJO, Sérgio Onofre Seixas. Gestão democrática no ensino público: “entraves no pro- cesso – um estudo de caso”, Dissertação (Mestrado em Serviço Social) -Universidade Federal de Pernambuco, Recife, setembro de 2003. BOBBIO, Noberto. O conceito de sociedade civil. Rio de Janeiro, Graal, 1987. _____________ et al. (Org.) Dicionário de política. Brasília: Editora UnB, 2000. _____________. Estado, governo e sociedade: para uma teoria geral de política. 18ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2012. FASSÓ, Guido. Jusnaturalismo. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 11ª. ed. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1998, v. 1, p. 655-656. FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma, São Paulo: Contexto, 2002. HOBBES, Thomas. Leviathan - Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1997. JÚNIOR, Demercino José Silva. As cidades gregas; Brasil Escola. Disponível em: <http://brasilesco- la.uol.com.br/historiag/as-cidades-gregas.htm>. Acesso em: 13 de agosto de 2017. LOCKE, John. 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Democracias; autonomia; central. _l94hvvcx8phs _zghiw6up7y15 _894tqan0wr0j _wuwggohvs3qh _hvi51xav2mug _svnurhffdhvi _GoBack dos gregos à maquiavel: estado, sociedade e o berço da democracia
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