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Prévia do material em texto

Apostila Esquematizada 
Direitos Reais 
Direito Civil IV - 2020.1 
Amanda Guedes Ferreira – OAB/RJ 163.260 / amandaguedesferreira@gmail.com 
www.amandagferreira.com.br 
 Instagram: @civilizandoficial 
1 
 ATENÇÃO: a presente apostila NÃO 
substitui a leitura de doutrina e do 
material complementar e o 
acompanhamento das aulas. 
O conteúdo aqui abordado não 
exaure a matéria e NÃO vincula o 
conteúdo da prova. 
 
“A Esperança é o único bem real da 
vida”. (Olavo Bilac) 
 
 
Introito 
 
Conceito de Direitos Reais: conjunto de 
normas que visam regular as diferentes 
relações jurídicas existentes entre as 
coisas suscetíveis de apropriação pelo 
homem. 
 
Flávio Tartuce: “as relações jurídicas 
estabelecidas entre pessoas e coisas 
determinadas ou determináveis, tendo 
como fundamento principal o conceito de 
propriedade, seja ela plena ou restrita. (...) 
Relação de domínio exercida pela pessoa 
(sujeito ativo) sobre a coisa.” (TARTUCE, 
Flávio. Direito Civil - Vol. 4 - Direitos das 
Coisas, 10ª edição. Forense, 12/2017). 
 
Clóvis Beviláqua: “o complexo das normas 
reguladoras das relações jurídicas 
referentes às coisas suscetíveis de 
apropriação pelo homem”. (in Curso de 
Direito Civil – Reais; Cristiano Chaves de 
Farias e Nelson Rosenvald – p. 31) 
 
 
 
 
Cristiano Chaves de Farias e Nelson 
Rosenvald: “(...) o direito das coisas regula 
o poder do homem sobre certos bens 
suscetíveis de valor e os modos de sua 
utilização econômica. Certamente, ao 
longo de nossa abordagem, saltará claro 
que tal poder de atuação sobre bens 
encontrará seus contornos modernamente 
definidos pelo princípio da função social”. 
(p. 32) 
 
Simplificando: direito real regulamenta a 
relação entre pessoa e coisa, qual seja: o 
TITULAR DO DIREITO (ex.: proprietário, 
usufrutuário, titular de direito real de 
habitação, credor hipotecário, etc) e uma 
coisa passível de apropriação. 
 
O titular do direito possui poderes sobre 
o bem; possui uma relação sobre a coisa. 
 
Simplificando: Direito Real nada mais é do 
que o vínculo jurídico que liga uma pessoa 
a um bem (COISA). O objeto do Direito 
Real é a COISA! 
 
Dependendo do tipo de titular teremos 
direitos diferentes sobre a coisa e 
determinadas limitações. Por exemplo, o 
proprietário tem enorme poder em relação 
ao objeto – coisa. Por outro lado, o 
usufrutuário também possui direitos em 
relação ao objeto, mas esses direitos são 
mais restritos do que seria se ele fosse o 
proprietário, ou seja, ele poderá usar e 
fruir do bem, mas não poderá dispor 
(alienar, por exemplo) do mesmo. 
 
Ou seja, quando falamos em 
PROPRIEDADE, é importante 
observarmos as faculdades dispostas no 
artigo 1.228 do Código Civil de 2002: 
 
I. USAR 
II. GOZAR 
III. DISPOR 
IV. REAVER 
DICA: 
GRUD 
Apostila Esquematizada 
Direitos Reais 
Direito Civil IV - 2020.1 
Amanda Guedes Ferreira – OAB/RJ 163.260 / amandaguedesferreira@gmail.com 
www.amandagferreira.com.br 
 Instagram: @civilizandoficial 
2 
Art. 1.228 CC/02. O 
proprietário tem a faculdade 
de usar, gozar e dispor da 
coisa, e o direito de reavê-la 
do poder de quem quer que 
injustamente a possua ou 
detenha. 
 
Diferentemente do caso da POSSE, em que 
a relação estabelecida entre o titular e a 
coisa gera direitos distintos e mais 
restritos do que na propriedade. Por 
exemplo: a faculdade de uso de 
determinado bem, inexistindo o poder de 
dispor do mesmo, se o possuidor também 
não for seu dono. 
 
NOMENCLATURA - Atenção: alguns 
autores como Flávio Tartuce afirmam que 
tecnicamente o mais correto é utilizarmos 
a terminologia ‘DIREITO DAS COISAS’, 
visto que os direitos reais são os 
‘taxativamente’ dispostos no artigo 1.225 
do Código Civil de 2002 (visão tradicional), 
quais sejam: 
 
Art. 1.225. São direitos reais: 
I - a propriedade; 
II - a superfície; 
III - as servidões; 
IV - o usufruto; 
V - o uso; 
VI - a habitação; 
VII - o direito do promitente 
comprador do imóvel; 
VIII - o penhor; 
IX - a hipoteca; 
X - a anticrese. 
XI - a concessão de uso especial 
para fins de moradia; (Incluído 
pela Lei nº 11.481, de 2007) 
XII - a concessão de direito real 
de uso; e 
XIII - a laje. (Redação dada pela 
Lei nº 13.465, de 2017) 
 
 
 
 
 
 
Entretanto, o objeto do estudo da presente 
disciplina incluirá não só os direitos reais 
estabelecidos pelo Código Civil, mas outros 
direitos como, por exemplo, a posse e os 
direitos de vizinhança (inclusive é uma 
delícia de matéria!). 
 
Por outro lado, doutrina como a de Orlando 
Gomes, ao diferenciar ‘bem’ de ‘coisa’ 
acaba concluindo que a utilização da 
terminologia Direito das Coisas também 
seria restrita, pois remete a noção de 
economicidade e materialidade. 
 
Tecnicamente ‘bem’ constitui gênero, do 
qual são espécies: 
 
a) Bens corpóreos/ materiais/ 
tangíveis: denominados ‘coisas’ 
(carro, casa, caneta, roupa etc). 
 
b) Bens incorpóreos/imateriais/ 
intangíveis: honra, liberdade, 
propriedade sobre conhecimento 
(softwares, know how, artes etc). 
 
Desta forma, essa doutrina entende que a 
terminologia ‘Direitos Reais’ é ainda mais 
abrangente que ‘Direito das Coisas’. 
 
Seguindo tal entendimento podemos citar 
a obra de Cristiano Chaves de Farias e 
Nelson Rosenvald. 
 
Na prática, em prol do princípio da 
operabilidade (vamos simplificar as coisas 
galera!), as expressões ‘Direito das Coisas’ 
e ‘Direitos Reais’ são utilizadas como 
sinônimas. Mas CUIDADO! Tal afirmação 
não permite que se insira todos os 
institutos estudados nesta disciplina como 
Direitos Reais, conforme veremos no 
decorrer do estudo. 
 
 
 
 
Apostila Esquematizada 
Direitos Reais 
Direito Civil IV - 2020.1 
Amanda Guedes Ferreira – OAB/RJ 163.260 / amandaguedesferreira@gmail.com 
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3 
TEORIA PERSONALISTA 
OU TEORIA REALISTA?! 
 
Mas, afinal, o direito real é a relação entre 
sujeito e coisa; ou entre pessoas?! 
 
Duas correntes buscam responder tal 
questionamento: 
 
1ª Corrente - Teoria Personalista: 
 
Esta corrente NÃO admite a existência de 
relação jurídica entre um homem e uma 
coisa – premissa kantiana. 
 
Assim, é imprescindível que a relação 
jurídica possua um sujeito ativo, que é o 
titular do direito real, e um sujeito passivo: 
a coletividade / universalidade. 
 
Se equipara, com menos intensidade, à 
relação existente nos direitos pessoais 
(obrigacionais), salvo em razão da 
ausência de delimitação dos sujeitos 
passivos. 
 
Nesse sentido, Antunes Varela (Das 
Obrigações em Geral, p.166) ensina que os 
direitos reais seriam direitos mais fortes; e 
os direitos pessoais (obrigacionais), mais 
fracos, visto que a relação existente, nesse 
último caso, é apenas entre credor e as 
pessoas adstritas à prestação. 
 
Segundo o professor Luciano Figueiredo: 
 
“Nessa ótica, direito real seria a 
relação jurídica que impõe a todos 
um dever geral de abstenção, 
respeito à propriedade alheia. A 
teoria em comento é de Marcel 
Planiol, mas foi amplamente 
divulgada por Michas, demogue, 
Ripert, Ferrara, Ortolan e 
Windsheid” p. 24 
 
Crítica: Orlando Gomes – tal teoria levaria 
a extinção dos direitos reais, pois todos os 
direitos seriam pessoais. 
 
 
 
 
 
Esquematizando a Teoria Personalista: 
 
 
 
Relação 
 
 
 TEORIA PERSONALISTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os direitos reais implicam no regramento 
da relação entre o titular do direito, a 
coletividade e a coisa. 
 
 
2ª Corrente - Teoria Realista, Clássica ou 
Impersonalista: 
 
Os direitos reais regulamentam a relação 
jurídica entre pessoa e coisa, de forma 
direta e imediata. É desnecessária a 
presença do sujeito passivo. 
 
Admite apenas a vinculação da coisa com 
o sujeito, sem intermédio de outrem. 
 
 
 
SUJEITO 
COISA 
COLETIVIDADE 
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Direitos Reais 
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4 
Tal corrente é defendida por Gaudemet, 
Saleilles, Teixeira de Freitas e Orlando 
Gomes. 
 
Visto que a legislação adota tratamento 
diverso entre os direitos reais e os direitos 
pessoais, a doutrina contemporânea tende 
a caminhar com a tese clássica 
(REALISTA), adequando-a à realidade. 
 
Crítica: os críticos desta corrente afirmam 
que todo o direito se constitui entre 
humanos. Se foi criado o ordenamento 
jurídico, é porque existem os seres 
humanos, os quais precisam manter 
relações. Logo, não posso ver os direitos 
reais somente como o vínculo entre 
pessoas e coisas. 
 
! Meu direito só se legitima com olhar da 
sociedade! Inclusive hoje temos a função 
social que reforça ainda mais essa ideia da 
Teoria Personalista, limitando o exercício 
da propriedade em prol da coletividade. 
 
Esquematizando a Teoria Realista: 
 
 
 
 
 
Relação 
 
TEORIA REALISTA 
 
 
 
 
 
 
 
Características 
 
1. Absolutismo 
 
Há verdadeira situação de dominação do 
titular dos direitos reais sobre seu objeto 
(coisa). 
 
Poder de Agir oponível erga omnes 
(universalidade). 
 
 
 
As normas relativas aos direitos reais 
limitam o poder de agir de terceiros, 
proibindo uma interferência na atuação do 
titular sobre o seu objeto. 
 
 
Assim, é possível se afirmar que os direitos 
reais são excludentes, pois TODOS se 
encontram vinculados a não perturbar o 
seu exercício. 
 
Este é um forte ponto de distinção entre os 
direitos reais e os direitos pessoais. 
Quando estamos diante de um direito 
pessoal em decorrência de um contrato, 
por exemplo, há uma relação entre 
contratante e contratado. Há a limitação 
da obrigação entre as partes. Aqui, em 
direitos reais, a vinculação é erga omnes: 
todos devem respeitar! 
 
 
 
 
 
 
Apostila Esquematizada 
Direitos Reais 
Direito Civil IV - 2020.1 
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5 
Como consequência de tal característica, 
há a incidência do princípio da 
publicidade, especialmente aos bens 
imóveis, eis que os direitos reais só podem 
ser alegados contra todos os que possuem 
o conhecimento de sua existência (ao 
menos em tese). 
 
Citamos como exemplo a situação 
existente entorno das transações 
imobiliárias, conforme disposto no artigo 
1.227 do Código Civil / 2002: 
 
Art. 1.227 CC/02. Os direitos reais 
sobre imóveis constituídos, ou 
transmitidos por atos entre vivos, só 
se adquirem com o registro no 
Cartório de Registro de Imóveis dos 
referidos títulos (arts. 1.245 a 
1.247), salvo os casos expressos 
neste Código. 
 
PUBLICIDADE* REGISTRO 
*Imóveis 
 
EFICÁCIA ERGA OMNES (boa-fé de 
terceiros) 
 
Entretanto, faz-se importante observar, 
desde já, a necessidade de se funcionalizar 
os direitos reais em prol da pessoa 
humana. Em outras palavras, há de se 
respeitar a FUNÇÃO SOCIAL da ‘coisa’, 
havendo, inclusive, situações viáveis de 
‘perda’ da propriedade quando o sujeito 
(proprietário) deixa de utilizá-la conforme 
critérios sociais. 
 
Nesse sentido, transcrevemos 
ensinamento de Cristiano Chaves e Nelson 
Rosenvald: 
 
“(...) o absolutismo dos direitos 
reais não decorre do poder 
ilimitado de seus titulares sobre 
os bens que se submetem a sua 
autoridade. Há muito, a ciência 
do direito relativizou a 
sacralidade da propriedade. 
Como qualquer outro direito 
fundamental, o ordenamento 
jurídico a submete a uma 
ponderação de valores (...)”(p. 33) 
 
Reforçamos, assim, que o absolutismo não 
quer dizer que a utilização do bem é 
ilimitada, absoluta. O que se afirma, aqui, 
é a necessidade de absoluto respeito ao 
direito real por todo o mundo. 
 
O sujeito passivo (titular do dever de 
respeitar / de não fazer), aqui, é 
indeterminado. Ou seja: todos devemos 
respeitar o direito real do coleguinha ao 
lado. O sujeito passivo só se torna 
identificado quando este deixa de respeitar 
tal dever, o que o torna inadimplente com 
suas obrigações de não fazer. 
 
2. Sequela 
 
Tendo em vista que os direitos reais 
ADEREM (‘COLAM’) na coisa, ao titular é 
dada a possibilidade de ‘perseguir’ (no 
sentido de buscar / obter) a mesma em 
poder de terceiros, onde quer que se 
encontre. 
 
Art. 1.228 CC/02. O proprietário 
tem a faculdade de usar, gozar e 
dispor da coisa, e o direito de 
reavê-la do poder de quem quer 
que injustamente a possua ou 
detenha. 
 
Exemplificaremos para facilitar a 
compreensão: 
 
Fase 1: 
 
Waldicreuza é proprietária de alguns 
bens imóveis (ou seja, ela possui uma 
relação jurídica com os bens, e essa 
relação jurídica é um direito real – 
propriedade). Com o intuito de obter um 
empréstimo bancário no valor de 
R$ 400.000,00, deixa como garantia real 
um de seus imóveis (veremos adiante), 
localizado na Praia do Sono, em 
Trindade. Estamos diante de uma 
hipoteca -> direito real de garantia. 
 
Por outro lado, o Banco Nunkabank, ao 
proceder o empréstimo do mencionado 
valor, torna-se CREDOR de 
Waldicreuza, possuindo o aludido 
imóvel como garantia do cumprimento 
da obrigação. 
Apostila Esquematizada 
Direitos Reais 
Direito Civil IV - 2020.1 
Amanda Guedes Ferreira – OAB/RJ 163.260 / amandaguedesferreira@gmail.com 
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6 
Insta reforçar que houve o devido 
registro de tal garantia real no ofício 
imobiliário – princípio da publicidade. 
Nesse momento, criou-se uma relação 
jurídica entre Nunkabank e a casa, e 
essa relação jurídica é o direito real de 
garantia, denominado de hipoteca. 
 
Fase 2: 
 
Em que pese a aludida hipoteca, e 
observando que Waldicreuza ainda não 
cumpriu com sua obrigação junto ao 
Banco Nunkabank, houve a venda da 
casa para Pablito. 
 
Fase 3: 
 
Tendo em vista o atual cenário, e em 
decorrência da sequela advinda dos 
direitos reais, pode o Banco Nunkabank 
retirar o imóvel do poder de Pablito, 
caso Wal deixe de pagar o empréstimo, 
mediante declaração de ineficácia da 
compra e venda, tendo em vista a 
afetação da coisa (o Banco é titular de 
um direito real sobre coisa alheia / 
direito real de garantia – houve a 
aderência da hipoteca à coisa). 
 
Veja que não se está afirmando que a 
venda não poderia ser realizada, até 
mesmo porque eventual cláusula 
proibitiva neste sentido é nula! Pode 
sim Wal vender o imóvel. O que não 
pode é deixar de pagar a dívida. Se isso 
acontecer, como o imóvel possui um 
ônus real, ou seja, está hipotecado, 
Pablito perderá em relação ao banco. É 
o famoso: ‘comprou porque quis, pois 
sabia da hipoteca! Agora chora…’ Mais 
ou menos pois há possibilidade de pedir 
indenização à Wal, mas, em tese é isso 
mesmo. 
 
ATENÇÃO: NÃO é necessária a 
propositura de ação pauliana ou 
revocatória para recuperar a coisa em 
poder de terceiro, visto que há a 
INEFICÁCIA de qualquer transação 
posterior em razão do seu direito de 
sequela, se existir o inadimplemento. 
 
CUIDADO: como grande parte dos temas 
jurídicos, a regra da sequela em relação à 
hipoteca também tem exceção. Vejamos o 
disposto no Enunciado 308, da Súmula do 
STJ: 
 
“A HIPOTECA FIRMADA ENTRE A 
CONSTRUTORA E O AGENTE 
FINANCEIRO, ANTERIOR OU 
POSTERIOR À CELEBRAÇÃO DA 
PROMESSA DE COMPRA E VENDA, 
NÃO TEM EFICÁCIA PERANTE OS 
ADQUIRENTES DO IMÓVEL.” 
 
Tal se dá em razão dos novos paradigmas 
que envolvem a propriedade, preservando, 
especialmente, a boa-fé de terceiro que 
está envolvido no pagamento do imóvel 
hipotecado. Iremos aprofundar no tema 
em momento oportuno (propriedade 
fiduciária e direito real de aquisição - 
compromisso de compra e venda). 
 
Além disso, é importante reforçar, a título 
de conhecimento, que a característica da 
sequela não é exclusiva dos direitos reais. 
 
Existem alguns direitos obrigacionais que, 
ao serem registrados no Registro Geral de 
Imóveis (RGI), adquirem eficácia real, mas 
NÃO SÃO CONSIDERADOS DIREITOSREAIS em razão da característica 
‘taxatividade’ dos direitos reais. 
 
3. Preferência 
 
Ocorre predominantemente nos direitos 
reais de garantia. 
 
Consiste no privilégio do titular do direito 
real “em obter o pagamento de um débito 
com o valor do bem aplicado 
exclusivamente à sua satisfação”. 
(Cristiano Chaves de Farias e Nelson 
Rosenvald, p. 39) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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7 
Exemplificando: 
 
Waldicreuza, devedora contumaz, 
possui inúmeras dívidas no comércio; 
entretanto, apenas um bem imóvel 
encontra-se hipotecado. Nesse caso, esse 
imóvel servirá, preferencialmente, a 
garantia do credor hipotecário. Simples 
assim. 
Se Wal também for fiadora, o seu único 
imóvel poderá ser penhorado para o 
pagamento da dívida; entretanto, se o 
credor ajuizar ação requerendo a 
aludida penhora, deverá 
obrigatoriamente intimar o credor 
hipotecário para se manifestar nos 
autos. Havendo a venda do imóvel, o 
credor hipotecário, ou seja, o credor com 
garantia real, terá direito de receber 
primeiro o valor integral para satisfazer 
seu crédito! O que sobrar irá para os 
demais credores! 
 
Atenção: 
 
A preferência nos demonstra, conforme 
artigo 1.419 do CC/02, que na eventual 
hipótese de concorrência entre direitos 
reais e créditos quirografários (créditos 
comuns, como é o caso da fiança 
supramencionada), prevalecerá aqueles, 
salvo legislação especial que disponha em 
sentido contrário. 
 
Art. 1.419 CC/02. Nas dívidas 
garantidas por penhor, anticrese 
ou hipoteca, o bem dado em 
garantia fica sujeito, por vínculo 
real, ao cumprimento da 
obrigação. 
 
Entretanto, faz-se importante consignar 
que atualmente, em prol da dignidade da 
pessoa humana e do interesse público, há 
legislações que estabelecem privilégios 
específicos para determinadas classes, 
afastando, consequentemente, a 
prioridade ora analisada. Assim, podemos 
citar como exemplo de privilégio a 
satisfação de créditos acidentários e 
trabalhistas. 
 
 
Nesse sentido, artigo 1.422, parágrafo 
único do CC/02: 
Art. 1.422 CC/02. O credor 
hipotecário e o pignoratício têm o 
direito de excutir a coisa hipotecada 
ou empenhada, e preferir, no 
pagamento, a outros credores, 
observada, quanto à hipoteca, a 
prioridade no registro. 
Parágrafo único. Excetuam-se da 
regra estabelecida neste artigo as 
dívidas que, em virtude de outras 
leis, devam ser pagas 
precipuamente a quaisquer outros 
créditos. 
Esclarece-se, ainda, que a preferência 
recai sobre um bem específico. Ou seja, não 
há preferência na universalidade de bens 
do devedor, mas sim sobre um bem 
previamente afetado pelo direito real de 
garantia. 
 
Por fim, devemos observar o disposto no 
artigo 1.476 do CC/02: 
 
Art. 1.476 CC/02. O dono do 
imóvel hipotecado pode 
constituir outra hipoteca sobre 
ele, mediante novo título, em 
favor do mesmo ou de outro 
credor. 
 
Diante da possibilidade da coexistência de 
várias hipotecas sobre o mesmo imóvel, o 
direito de preferência deverá observar a 
ordem de registro das garantias, do mais 
antigo ao mais recente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Primeiro no 
tempo, melhor no 
direito... 
Apostila Esquematizada 
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8 
4. Taxatividade 
 
Tendo em vista o absolutismo já estudado, 
não pode qualquer direito real ser 
reconhecido juridicamente sem que haja 
prévia previsão legal. 
 
 Assim, a doutrina clássica (e até o 
presente momento predominante) leciona 
que os direitos reais são taxativos, 
numerus clausus, localizados no rol do 
artigo 1.225 CC/02, o qual encontra-se 
supratranscrito, e em leis especiais. 
 
A taxatividade nos demonstra que fora do 
catálogo legal encontra-se excluída a 
possibilidade de se ter uma autonomia 
privada e, consequentemente, de se cogitar 
a existência de direitos reais. 
 
Entretanto, isso não significa a 
impossibilidade de criação de novos 
direitos reais, já que os legisladores podem 
tanto inovar incluindo quanto excluindo 
certos institutos de tal rol. 
 
Podemos citar como exemplo a supressão, 
pelo Código Civil de 2002, da possibilidade 
de constituição de novas enfiteuses a 
partir de 11 de janeiro de 2003, mantendo 
as já constituídas até a sua extinção. 
 
Como exemplos de direitos reais não 
expressos no artigo 1.225 do Código Civil 
citamos a propriedade fiduciária (artigo 
1.361 CC/02). Na verdade a propriedade 
fiduciária constitui um desdobramento da 
propriedade, o qual será estudado em 
tópico a parte. 
 
Vejamos: 
 
Art. 1.361 CC/02. Considera-se 
fiduciária a propriedade resolúvel 
de coisa móvel infungível que o 
devedor, com escopo de garantia, 
transfere ao credor. 
 
§ 1º Constitui-se a propriedade 
fiduciária com o registro do contrato, 
celebrado por instrumento público 
ou particular, que lhe serve de 
título, no Registro de Títulos e 
Documentos do domicílio do 
devedor, ou, em se tratando de 
veículos, na repartição competente 
para o licenciamento, fazendo-se a 
anotação no certificado de registro. 
§ 2º Com a constituição da 
propriedade fiduciária, dá-se o 
desdobramento da posse, tornando-
se o devedor possuidor direto da 
coisa. 
§ 3º A propriedade superveniente, 
adquirida pelo devedor, torna eficaz, 
desde o arquivamento, a 
transferência da propriedade 
fiduciária. 
Elementos 
 
 
 
1. Sujeitos: de um lado, aquele que 
detém a titularidade formal do 
direito (por exemplo, usufrutuário, 
credor hipotecário, proprietário 
etc) – sujeito ativo; e, de outro, a 
comunidade – sujeito passivo. 
 
- Sujeito ativo: pode exercer o 
direito de sequela e será sempre 
possuidor (ainda que, 
dependendo do desdobramento 
da relação, seja possuidor 
indireto). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Direitos 
Reais
Sujeitos
Objetos
Relação 
Jurídica
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9 
- Sujeito passivo: sobre quem 
recai o dever de respeito ao 
exercício do direito pelo sujeito 
ativo. Conforme já visto 
anteriormente, diz-se que na 
relação de direito real há sujeição 
passiva universal. O sujeito 
passivo é indeterminado, já que 
todos devem respeitar os direitos 
reais do sujeito ativo. 
 
2. Objeto: o ‘bem’ (coisa) sobre o qual 
o titular exerce a intervenção. 
 
O objeto pode ser corpóreo, móveis ou 
imóveis, ou incorpóreos. Essa última 
característica não é unânime 
(incorpóreos). 
 
Mas verifiquem: uma obra intelectual, um 
crédito, um software de computador etc, 
também podem ser objetos de direitos 
reais. Esses bens incorpóreos são passíveis 
de negociação. 
 
Todavia, o Superior Tribunal de Justiça 
editou o Enunciado n.º 228 de sua Súmula, 
o qual versa que: 
 
 “É inadmissível o interdito 
proibitório para a proteção do 
direito autoral”. 
 
Esse enunciado cai em provas com uma 
deplorável frequência! Você verificará o 
que é esse estranho interdito proibitório 
quando estivermos estudando posse! 
���� 
 
Diferença entre 
Direitos Reais e 
Direitos 
Obrigacionais 
 
Outra discussão acadêmica é relativa a 
diferença entre os Direitos Reais e os 
Direitos Obrigacionais/Pessoais. 
 
DIREITOS REAIS -> Verbo TER 
DIREITOS OBRIGACIONAIS -> Verbo 
AGIR 
 
Analisaremos o quadro comparativo a 
seguir, o qual contém as maiores e mais 
importantes diferenças entre os direitos 
reais e os direitos obrigacionais. 
 
 
 
 
DIFERENÇAS Direitos 
Reais 
Direitos 
Obrigacionais 
 Apropriação 
de bens 
Cooperação entre 
pessoas 
Quanto a 
eficácia: 
Erga omnes 
(absoluta) 
Inter partes 
(relativa) 
Quanto ao 
objeto: 
A coisa A prestação 
Quanto ao 
exercício: 
Açãodireta 
e imediata 
sobre o bem. 
Não existe 
intervenção 
de terceiros. 
Necessita da 
colaboração do 
devedor para a 
satisfação da 
obrigação. 
Mediatividade. 
 Rol taxativo, 
‘mas sem 
rigidez 
absoluta’ 
(tipicidade 
legal) – 
art. 1.225 
CC/02 
Rol 
exemplificativo – 
art. 425 CC/02 
 Prerrogativ
a da sequela 
Mera execução 
patrimonial 
 Ocasionam 
preferência 
(bem 
específico) 
Ocasionam, 
quando muito, 
privilégios 
 Princípio da 
publicidade 
Princípio da 
autonomia 
privada 
(liberdade) 
 Perpétuo 
(direitos 
reais 
perpetuados 
no seio da 
mesma 
família) 
Transitórios 
(obrigação nasce 
para ser 
cumprida) 
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10 
Em que pese tais diferenciações, os 
manuais costumam aproximar tais ramos, 
visto que ambos possuem um viés 
patrimonial; ademais, os direitos 
obrigacionais não podem ser vistos única e 
exclusivamente mediante a relação entre 
sujeito ativo (credor) e sujeito passivo 
(devedor), podendo muitas das vezes o 
crédito alcançar terceiros, observando 
sempre as funções sociais e econômicas dos 
direitos. 
 
Entretanto, é importante reforçar que o 
Código Civil atual adotou a teoria dualista 
ou binária, diferenciando expressamente 
direitos reais e obrigacionais. 
 
Além da diferenciação entre Direitos Reais 
e Direitos Obrigacionais, há conceitos 
híbridos (ou intermediários), que estão 
localizados em um ponto intermediário ou 
no ‘limbo jurídico’: 
 
I. Posse – trata-se de direito de 
natureza especial, não se 
enquadrando nem como direito 
real, nem como direito 
obrigacional / pessoal, em que 
pese doutrina minoritária (ao 
menos até o presente 
momento), encabeçada por 
Maria Helena Diniz, afirmar 
que posse seria sim um direito 
real, visto que figura como 
desdobramento da 
propriedade. 
Aprofundaremos em tópico 
próprio. 
 
 
II. Obrigações propter rem (ou 
próprias da coisa; ou 
obrigações ambulatórias) – 
encontram-se em uma zona 
entre os direitos reais e os 
direitos obrigacionais, pois 
perseguem a coisa onde quer 
que ela esteja. 
Por ex.: IPTU, Condomínio, 
ITR, art. 1.345 CC/02. 
 
 
 
Insta esclarecer, desde já, 
que o STJ vem entendendo 
que dívidas relacionadas à 
água, luz e esgoto não se 
enquadram na presente 
categoria, sendo, em 
verdade, dívidas pessoais do 
usuário do serviço – vide 
STJ, AgRg no AREsp 
265.966/SP. 
 
-> Atenção, Ementa sobre o 
tema enviada pelo SIA para 
Leitura Complementar <- 
 
 
Importante, ou melhor, 
IMPORTANTÍSSIMO: O STJ publicou, no 
ano de 2018, a ‘Jurisprudência em Teses’ 
n.º 30, a qual possui como tese 9 a seguinte: 
“A obrigação de recuperar a degradação 
ambiental é do titular da propriedade do 
imóvel, mesmo que não tenha contribuído 
para a deflagração do dano, tendo em 
conta sua natureza propter rem”. 
 
III. Abuso de direito no exercício 
de propriedade ou ato 
emulativo – 
Arts. 187 e 1.228, parágrafo 2º, 
do CC/02, “trata-se de um 
instituto híbrido uma vez que 
o exercício de um direito real 
repercute no direito das 
obrigações, gerando o dever de 
indenizar” (Tartuce, p. 605) 
 
Em que pese essa breve conceituação, os 
temas serão estudados de forma 
aprofundada no decorrer da apostila. 
 
 
 
 
 
 
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11 
CLASSIFICAÇÃO 
 
Antes de iniciarmos o estudo das 
classificações dos direitos reais é 
imprescindível termos em mente ao menos 
uma breve compreensão da propriedade 
para que possamos estudar os demais 
tipos de direitos reais. 
 
Assim, é possível afirmarmos que a 
propriedade é o único direito real 
originário. 
 
Para que possamos evoluir no estudo das 
características dos direitos reais, devemos 
fazer um parêntese para diferenciarmos 
PROPRIEDADE de DOMÍNIO, os quais 
possuem conceitos autônomos e 
complementares. 
 
PROPRIEDADE DOMÍNIO 
 
 
 
 
 
 
 
Relação do titular 
da coisa ‘com a 
coletividade’. 
Situação de poder 
do titular sobre a 
coisa (faculdade de 
uso, gozo e 
disposição). 
 
Poder de soberania 
exercitado sobre a 
coisa. 
 
Há o 
desmembramento 
dos direitos do 
titular, e é 
justamente tal 
desdobramento 
que origina um 
novo direito real. 
 
Em que pese essa diferenciação didática, 
atualmente a maioria da doutrina utiliza 
os termos propriedade e domínio como 
sinônimos. 
 
Quando temos o desdobramento 
temporário do domínio há a origem da 
propriedade LIMITADA, a qual 
obrigatoriamente concorre com os direitos 
reais em coisa alheia. 
 
Assim, a propriedade poderá ser plena ou 
limitada dependendo do domínio que se 
tem sobre a coisa. 
 
Titular -> privado de alguns poderes 
dominiais, mas continua sendo 
proprietário (propriedade limitada). 
 
GRAVAME = transferência temporária de 
uma das faculdades do domínio. 
 
Entretanto, interessante é o ensinamento 
de Tartuce sobre a diferenciação ora 
mencionada: 
 
Para muitos doutrinadores, a 
expressão propriedade é 
sinônima de domínio, 
entendimento este que é o 
majoritário a ser adotado na 
prática. (…) 
Os conceitos diferenciadores, de 
ontem e de hoje, não convencem 
este autor. Como se pode notar, 
existem discrepâncias entre os 
critérios de distinção, o que torna 
a matéria confusa. Por certo é 
que os conceitos de propriedade e 
de domínio são muito próximos, 
não se justificando, 
metodologicamente, as 
diferenciações expostas. E, como 
o Código Civil de 2002 adota o 
princípio da operabilidade, em 
um primeiro sentido de 
facilitação do Direito Privado, 
não há razões para a distinção. 
Quanto aos princípios, acredito 
que aqueles que regem o domínio 
são os mesmos da propriedade, 
caso da função social. Assim, o 
domínio também é relativo. Por 
fim, quanto aos exemplos 
expostos por Cristiano Chaves e 
Nelson Rosenvald, parecem 
envolver por igual a propriedade, 
particularmente a propriedade 
aparente, que ainda será 
estudada. (TARTUCE – P. 145). 
 
 
 
 
 
 
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12 
Os direitos reais limitados, ou seja, os que 
incidem em coisa alheia, são divididos em 
três grupos: 
 
a) Direitos reais de gozo e fruição: 
usufruto, servidão, uso e habitação 
 
Dicas: 
 
USUH 
 
USO -> USUFRUTO 
SERVIDÃO -> HABITAÇÃO 
 
b) Direitos reais de garantia: penhor, 
hipoteca, anticrese 
 
Dica: 
 
PAH 
 
c) Direitos reais à aquisição: 
promessa de compra e venda 
 
Dica: 
 
Meio de se adquirir: comprar e 
vender... 
 
Entretanto, temos também os direitos 
reais em coisa própria (propriedade 
superficiária e propriedade fiduciária), os 
quais se diferenciam da propriedade por 
não serem perpétuos, o que permite 
falarmos em propriedade resolúvel, ou 
seja, que poderá ser resolvida se ocorrer 
um evento futuro e incerto (condição). Em 
momento posterior aprofundaremos esse 
tema. 
 
OBRIGAÇÃO 
PROPTER REM 
 
Como brevemente exposto, as obrigações 
propter rem estão inseridas entre os 
direitos reais e os direitos obrigacionais, já 
que são figuras híbridas (pegam um pouco 
do direito real e um pouco do direito 
obrigacional). 
 
 
 
A obrigação propter rem é aquela imposta 
ao titular de um direito real pelo simples 
fato de assumir tal condição, ou seja, em 
razão de ser proprietário de um bem. 
 
Assim, quando uma pessoa adquire a 
propriedade de determinado bem imóvel, 
torna-se obrigado a arcar com eventuais 
dívidas relativas ao IPTU e condomínio, 
por exemplo, querendo ou não assumir tal 
encargo. 
 
Por isso é tão importante ter cautela 
quando da aquisição. 
 
Devemos observar o ensinamento de 
Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves: 
 
“Suaparticularidade consiste na 
inerência ao objeto da posição do 
titular ativo ou passivo da 
relação. O obrigado é o titular do 
direito real, havendo a 
possibilidade de sucessão no 
débito fora das hipóteses normais 
de transmissão das obrigações”. 
(p. 56) 
 
 
 
 
Obrigações com natureza propter rem 
vinculam os atuais e os futuros titulares 
da coisa. 
Não interessa quem deixou de pagar, 
mas sim quem possui a propriedade da 
‘coisa’ / bem. 
 
Fugindo um pouco da relação existente 
entre titular e bem imóvel, podemos citar 
como exemplo as obrigações que incidem 
sobre a titularidade de veículos (bem 
móvel): multas de trânsito e IPVA. 
Ressalva-se, entretanto, em relação às 
multas de trânsito, o disposto no CTB 
(alteração trazida pela Lei 13.495/17), o 
qual permite a indicação do real autor do 
ilícito e responsável legal pelo 
adimplemento da obrigação. 
 
 
 
 
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13 
AGRAVO DE INSTRUMENTO 
Nº 1.305.403 - SP (2010/0079230-
4) RELATOR : MINISTRO LUIZ 
FUX AGRAVANTE : 
MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ 
PROCURADOR : SIMONE DE 
ANDRADE PLIGHER E OUTRO 
(S) AGRAVADO : ANTÔNIO 
CARLOS SOARES ADVOGADO 
: ANDRÉA EVELI SOARES 
MAGNANI DECISÃO 
PROCESSUAL CIVIL. 
ADMINISTRATIVO. AGRAVO 
DE INSTRUMENTO. ART. 544 
DO CPC. TRANSFERÊNCIA DE 
PROPRIEDADE DE VEÍCULO. 
PROVA. ART. 134 DO CTB. 
SÚMULA 7/STJ. 1. O Recurso 
Especial não é servil ao exame de 
questões que demandam o 
revolvimento do contexto fático-
probatório dos autos, em face 
doóbice contido na Súmula 
07/STJ. 2. In casu, a conclusão do 
Tribunal de origem acerca da 
suficiência da prova produzida 
pelo recorrido, bem como a 
certeza da propriedade do veículo 
transferido, resultou do exame de 
todo o conjunto probatório 
carreado nos presentes autos. 
Consectariamente, infirmar 
referida conclusão implicaria 
sindicar matéria fática, 
interditada ao E. STJ em face do 
enunciado sumular n.º 07 desta 
Corte. Vejamos o aresto recorrido 
(fls. 83/85):"Consta dos autos que 
o condutor foi autuado em 13 de 
maio de 1999 quando realizava 
transporte remunerado irregular 
de passageiros. Nos termos da 
Lei municipal 5.035/1997, a 
infração acarreta a pronta 
apreensão do veículo e o 
pagamento de multa no valor de 
R$ _TTREP_37(mil e quinhentos 
reais). O autor, em razão de 
constar nos registros do 
DETRAN como proprietário do 
veículo, foi autuado e notificado 
para o pagamento da multa. 
Todavia, trouxe aos autos cópia 
do contrato particular de compra 
e venda de veículo datado de 20 
de março de 1998, bem como a 
cópia da autorização para 
transferência do veículo, com 
firma reconhecida em 17 de maio 
de 1999." (fl. e-STJ 49) 3. Ainda 
que não realizada a transferência 
de propriedade do automóvel 
autuado junto ao DETRAN, não 
obsta que a prova da alienação se 
faça por outros meios. 
Precedentes: REsp 
804.458/ES(DJe de 31.08.2009), 
REsp 961.969/RS (DJe de 
01.09.2008) e REsp 599.620/RS 
(DJ de 17.05.2004). 4. Agravo de 
instrumento desprovido. Trata-
se de agravo de instrumento 
interposto pelo MUNICÍPIO DE 
JUNDIAÍ, com fulcro no art. 544 
do Código de Processo Civil, no 
intuito de ver reformada a 
decisão que inadmitiu seu 
recurso especial, sob os seguintes 
fundamentos: (a) "os argumentos 
expendidos não são suficientes 
para infirmar a conclusão do v. 
aresto combatido que contém 
fundamentação adequada para 
lhe dar respaldo"; (b) "tampouco 
restou evidenciado qualquer 
maltrato a normas legais ou 
divergência jurisprudencial, não 
sendo atendida qualquer das 
hipóteses das alíneas 'a', 'b' e 'c' 
do permissivo constitucional" (fl. 
e-STJ 82). Noticiam os autos que 
ANTONIO CARLOS SOARES 
ajuizou ação declaratória de 
inexistência de débito contra o 
ente municipal, porquanto foi 
autuado por infração 
administrativa cometida por 
terceiro, que realizava 
transporte clandestino de 
passageiros. O juízo de primeiro 
grau julgou procedente o pedido. 
O recurso voluntário e a remessa 
necessária foram desprovidas à 
unanimidade dos componentes 
da Sétima Câmara de Direito 
Público do Tribunal de Justiça do 
Estado de São Paulo, em acórdão 
assim ementado: 
 
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14 
"TRÂNSITO. MULTAS. 
ALIENAÇÃO DO VEÍCULO. 
RESPONSABILIDADE. 1. Ação 
ordinária ajuizada em face da 
Prefeitura Municipal de Jundiaí, 
na qual se questiona a cobrança 
de multa de trânsito Alegação de 
que a infração foi cometida por 
terceiro, em data posterior à 
alienação do veiculo 2. As 
obrigações decorrentes da 
imposição de multa de trânsito 
têm natureza 'propter rem', vale 
dizer, o devedor é assim 
caracterizado por ser titular do 
direito real. Na forma como 
estatui o art. 257,§ 3º, do Código 
de Trânsito Brasileiro: 'Ao 
condutor caberá a 
responsabilidade pelas infrações 
decorrentes de atos praticados na 
direção do veículo'. 
Inadmissibilidade de cobrança de 
multas em face do antigo 
proprietário. Precedentes do 
Superior Tribunal de Justiça 
Recurso e remessa necessárias 
desprovidos." Os embargos de 
declaração opostos foram 
rejeitados. Nas razões do apelo 
excepcional, fundado nas alíneas 
a e c do permissivo 
constitucional, o recorrente 
apontou, além de divergência 
jurisprudencial, violação dos 
arts. 134 e 231, VIII, do Código de 
Trânsito Brasileiro. Defendeu, 
em síntese, que: "no presente 
caso, diante da prova colhida, 
pairam dúvidas sobre a data de 
transferência do veículo ao 
terceiro, fato corroborado pela 
não comunicação da alienação 
aos órgãos de trânsito, cabendo, 
desta forma, a responsabilização 
do proprietário que poderá 
ingressar com ação própria para 
reaver o montante em relação ao 
suposto comprador"(fl. e-STJ 70). 
Foram apresentadas 
contrarrazões ao recurso especial 
e contraminuta ao presente 
agravo de instrumento, 
respectivamente, às fls. e-STJ 
72/81 e 87/97. Na minuta de 
agravo, o agravante impugna os 
fundamentos da decisão 
agravada. Relatados, decido. 
Preenchidos os requisitos de 
admissibilidade do agravo de 
instrumento, passa-se à análise 
do recurso especial. A 
controvérsia posta sob análise 
refere-se à possibilidade de se 
responsabilizar o original 
proprietário de veículo que gerou 
multas de trânsito com base nos 
arts. 134 e 231, VIII, do CTB, 
uma vez não comprovada ao 
órgão competente a transferência 
da propriedade a terceiro 
adquirente. Os dispositivo legais 
apontados como violados são os 
arts. 134 e 231, VIII, do Código de 
Trânsito Brasileiro, in 
verbis:"Art. 134. No caso de 
transferência de propriedade, o 
proprietário antigo deverá 
encaminhar ao órgão executivo 
de trânsito do Estado dentro de 
um prazo de trinta dias, cópia 
autenticada do comprovante de 
transferência de propriedade, 
devidamente assinado e datado, 
sob pena de ter que se 
responsabilizar solidariamente 
pelas penalidades impostas e 
suas reincidências até a data da 
comunicação." "Art. 231. 
Transitar com o veículo:(...) VIII - 
efetuando transporte 
remunerado de pessoas ou bens, 
quando não for licenciado para 
esse fim, salvo casos de força 
maior ou com permissão da 
autoridade competente: Infração 
- média; Penalidade - multa; 
Medida administrativa - 
retenção do veículo;(...)"Ocorre 
que, quanto à quaestio iuris, o 
Tribunal de origem concluiu 
acerca da suficiência da prova 
produzida pelo recorrido, bem 
como a certeza da propriedade do 
veículo transferido, com base no 
exame de todo o conjunto 
probatório carreado nos 
presentes autos. 
 
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15 
Consectariamente, infirmar 
referidaconclusão implicaria 
sindicar matéria fática, 
interditada ao Superior Tribunal 
de Justiça em face do óbice 
contido no enunciado da Súmula 
7 desta Corte Superior, in 
verbis:"A pretensão de simples 
reexame de provas não enseja 
recurso especial."Por oportuno, 
confira-se o seguinte excerto do 
voto condutor do acórdão 
recorrido (fls. e-STJ 
49/52):"Consta dos autos que o 
condutor foi autuado em 13 de 
maio de 1999 quando realizava 
transporte remunerado irregular 
de passageiros. Nos termos da 
Lei municipal 5.035/1997, a 
infração acarreta a pronta 
apreensão do veículo e o 
pagamento de multa no valor de 
R$ _TTREP_174(mil e 
quinhentos reais). O autor, em 
razão de constar nos registros do 
DETRAN como proprietário do 
veículo, foi autuado e notificado 
para o pagamento da multa. 
Todavia, trouxe aos autos cópia 
do contrato particular de compra 
e venda de veículo datado de 20 
de março de 1998, bem como a 
cópia da autorização para 
transferência do veículo, com 
firma reconhecida em 17 de maio 
de 1999. 3. A questão desenhada 
nos autos é saber se o contrato de 
compra e venda é instrumento 
hábil para transferência da 
responsabilidade pelo 
pagamento de muitas ou se 
depende da apresentação da 
referida autorização para 
transferência, com firma 
reconhecida. As multas de 
trânsito tem natureza de 
obrigação 'propter rem', vale 
dizer, é 'aquela em que o devedor, 
por ser titular de um direito 
sobre uma coisa, fica sujeito a 
uma determinada prestação que, 
por conseguinte, não derivou da 
manifestação expressa ou tácita 
de sua vontade. 
O que o faz devedor é a 
circunstância de ser titular do 
direito real, e tanto isso é 
verdade, que ele se libera da 
obrigação se renunciar a esse 
direito' (Sílvio Rodrigues, in 
Direito Civil, vol 2/105, 12a. ed. 
Saraiva). Tendo em mente esta 
espécie de obrigação, necessário 
ponderar que a partir da 
tradição, meio pelo qual se 
transfere o domínio da coisa 
móvel (art. 520, inciso II e 620 do 
Código Civil), passa o novo 
proprietário à ostentar a 
responsabilidade pelo 
pagamento de infrações à 
legislação de trânsito. Em 
atenção a esta espécie de vínculo 
obrigacional; vale dizer, 
obrigação 'propter rem', o 
Superior Tribunal de Justiça tem 
afirmado em iterativa 
jurisprudência que 'aplicada a 
penalidade por infração de 
trânsito, caso ocorra 
posteriormente à venda do 
automóvel, o novo proprietário 
deverá responder por todas as 
obrigações que se vinculam à 
coisa, dentre elas encontram-se 
as multas de trânsito, categoria 
de obrigação denominada de 
'propter rem', pois acompanha o 
bem ainda que venha a ser 
transferida a sua titularidade' 
REsp 687021/RS, Rei Ministro 
Francisco Falcão, primeira 
turma, julgado cm 19 05 2005, DJ 
0107 2005 p 414 e REsp 920 
276/RS, Rei Ministro Castro 
Mcira, segunda turma, julgado 
em 14 08 2007, DJ 27 08 2007 p 
213 e REsp 856086/RS, Rei 
Ministro Humberto Martins, 
segunda turma, julgado em 05 10 
2006, DJ 18 10 2006 p 234 Neste 
mesmo diapasão, oportuno 
ressaltar que o condutor é o 
responsável pelo pagamento de 
quantias oriundas de infração à 
legislação de trânsito, na forma 
como estatui o art. 257, § 3º do 
Código de Trânsito Brasileiro: 
'Ao condutor caberá a 
Apostila Esquematizada 
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responsabilidade pelas infrações 
decorrentes de atos praticados na 
direção do veículo'. 4. Logo, sob 
qualquer aspecto que se analise a 
demanda, seja sob a ótica do 
Direito Civil ou Código de 
Trânsito Brasileiro, necessário 
considerar a correição da r. 
sentença. "No mesmo sentido, o 
juízo monocrático consignou às 
fls. e-STJ 29/30, que: "Não se 
discute o mérito da autuação, 
mas sim quem é o responsável 
pelo pagamento da multa. Sabe-
se que o condutor do veículo foi 
surpreendido, em 13 de maio de 
1999, quando realizava 
transporte irregular, à margem 
da Lei Municipal 5.035/97, que 
veda o transporte coletivo de 
passageiros não autorizado ou 
permitido pelo Poder Público, 
estabelecendo a pronta 
apreensão do veículo e 
condicionando sua liberação ao 
pagamento de multa no valor de 
R$ 1.500,00. O art. 2º do aludido 
diploma considera infrator a 
pessoa física ou jurídica 
proprietária do veículo (fls. 35). A 
partir de então, por constar dos 
registros do Detran ser o autor o 
proprietário do veículo, ele foi 
autuado e notificado a pagar a 
multa (fls. 10). Veio aos autos 
cópia do contrato particular de 
compra e venda do veículo datado 
de 20 de março de 1999 (fls. 08). 
Já a cópia da autorização para 
transferência recebeu a firma 
reconhecida da assinatura do 
vendedor em 17 de maio de 1999 
(fls. 09), fato, contudo, que não 
exclui a tradição como forma de 
aquisição do domínio. Conclui-se 
que a propriedade do veículo foi 
transferida antes da autuação, 
pela tradição quando da 
assinatura do contrato, mesmo 
com o posterior reconhecimento 
da firma, pois, repise-se, é com a 
tradição que se transfere o 
domínio da coisa móvel (artigos 
520, II, e 620 do Código Civil). 
Frise-se que o registro perante o 
órgão de trânsito é necessário 
para fins de controle e 
fiscalização, mas não pode ser 
considerado ato que atribui a 
propriedade, prevalecendo, 
apenas, a presunção juris 
tantum, ou seja, o registro no 
Detran vale até prova em 
contrário. Oportuno consignar, 
ainda, que a forma e o conteúdo 
do contrato de fls. 08 não foram 
impugnados pelo réu. No caso 
vertente, há prova inequívoca de 
ter ocorrido a alienação do 
veículo antes de sua apreensão e 
da lavratura da autuação, 
conforme sobredito. Assim, o 
autor não pode ser 
responsabilizado por débito do 
veículo quando já não era seu 
proprietário, sendo cediço que 
compete ao comprador 
providenciar a expedição do novo 
certificado do veículo (art. 123, § 
1º, da Lei 9.503/97).(...) Assim, 
restando inequívoco que a 
propriedade foi transferida antes 
da autuação, deve a autoridade 
cancelar a multa imposta ao 
proprietário antigo." Ad 
argumentandum tantum, ainda 
que não realizada a transferência 
de propriedade do automóvel 
autuado junto ao DETRAN, nada 
obsta que a prova da alienação se 
faça por outros meios, como se 
deu no caso dos autos. É nesse 
sentido os seguintes precedentes 
desta Corte de Justiça, senão 
vejamos: "ADMINISTRATIVO. 
INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. 
ALIENAÇÃO DE VEÍCULO. 
TRADIÇÃO. AUSÊNCIA DE 
REGISTRO DE 
TRANSFERÊNCIA JUNTO AO 
DETRAN. 1. Ainda que 
inexistente a comunicação de 
venda do veículo por parte do 
alienante, restando - de modo 
incontroverso - comprovada a 
impossibilidade de imputar ao 
antigo proprietário as infrações 
cometidas, a responsabilização 
solidária prevista no art. 134 do 
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17 
CTB deve ser mitigada. 
Precedentes. 2. Recurso especial 
a que se nega provimento."(REsp 
804.458/ES, Primeira Turma, 
Rel. Min. Teori Albino Zavascki, 
DJe de 
31.08.2009)"ADMINISTRATIVO 
INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. 
ALIENAÇÃO DE VEÍCULO. 
TRADIÇÃO. AUSÊNCIA DE 
REGISTRO DE 
TRANSFERÊNCIA JUNTO AO 
DETRAN. 1. 'O fato de não ter 
sido realizada a transferência de 
propriedade do automóvel 
autuado junto ao DETRAN não 
obsta que a prova da alienação se 
faça por outros meios' (REsp 
599620/RS, 1ª T., Min. Luiz Fux, 
DJ de 17.05.2004). 2. Recurso 
especial a que se nega 
provimento."(REsp 961.969/RS, 
Primeira Turma, Rel. Min. Teori 
Albino Zavascki, DJe de 
01.09.2008)"PROCESSUAL 
CIVIL. ADMINISTRATIVO. 
OFENSA AOS ARTS. 480 e 481 
DO CPC. INFRAÇÃO DE 
TRÂNSITO. PENALIDADE. 
PRÉVIA NOTIFICAÇÃO. 
AMPLA DEFESA E 
CONTRADITÓRIO. 
APLICAÇÃO ANALÓGICA DA 
SÚMULA 127/STJ. O CÓDIGO 
DE TRÂNSITO IMPÔS MAIS 
DE UMA NOTIFICAÇÃO PARA 
CONSOLIDAR A MULTA. 
AFIRMAÇÃO DAS GARANTIAS 
PÉTREAS CONSTITUCIONAIS 
NO PROCEDIMENTOADMINISTRATIVO. 
PROCESSUAL CIVIL. 
VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO 
CPC. INOCORRÊNCIA. 1. 
Inexiste ofensa ao art. 535 do 
CPC, quando o Tribunal de 
origem, embora sucintamente, 
pronuncia-se de forma clara e 
suficiente sobre a questão posta 
nos autos. Ademais, o magistrado 
não está obrigado a rebater, um a 
um, os argumentos trazidos pela 
parte, desde que os fundamentos 
utilizados tenham sido 
suficientes para embasar a 
decisão. 2. O fato de não ter sido 
realizada a transferência de 
propriedade do automóvel 
autuado junto ao DETRAN não 
obsta que a prova da alienação se 
faça por outros meios. 
Precedentes do STJ.(...) 14. 
Recurso especial provido." (REsp 
599.620/RS, Primeira Turma, 
Rel. Min. Luiz Fux, DJ de 
17.05.2004) Ex positis, NEGO 
PROVIMENTO ao agravo de 
instrumento. Publique-se. 
Intimações necessárias. Brasília 
(DF), 06 de setembro de 2010. 
MINISTRO LUIZ FUX Relator 
(STJ - Ag: 1305403, Relator: 
Ministro LUIZ FUX, Data de 
Publicação: DJ 17/09/2010) 
 
Além disso, é importante observar que em 
razão da função social da propriedade, bem 
como da boa-fé objetiva, quando 
estivermos diante de uma relação oriunda 
de promessa de compra e venda de bem 
imóvel, com efetivo exercício da moradia 
pelo promitente comprador (houve a 
imissão na posse), restará afastada a regra 
da obrigação propter rem, devendo este ser 
responsável pelas dívidas condominiais 
mesmo sem o devido registro da escritura 
de compra e venda (e, consequentemente, 
sem a transmissão da propriedade). 
 
Art. 1.227 CC/02: os direitos 
reais sobre imóveis constituídos, 
ou transmitidos por atos entre 
vivos, só se adquirem com o 
registro no Cartório de Registro 
de Imóveis dos referidos títulos, 
salvo os casos expressos neste 
Código. 
 
Art. 1.245, parágrafo primeiro, 
CC/02: enquanto não se registrar 
o título translativo, o alienante 
continua a ser havido como dono 
do imóvel. 
 
 
 
 
 
 
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18 
Nesse sentido vem decidindo o STJ, o qual 
admite a legitimidade passiva do 
promitente comprador nas ações de 
cobrança de cotas condominiais: 
 
"Se a ocupação a esse 
título da unidade 
imobiliária é conhecida 
pelo condomínio, mesmo 
que a promessa de compra 
e venda não tenha sido 
registrada no ofício 
imobiliário" (REsp. 
657.506/SP, j. 7.12.2006). 
 
Por fim, especificamente em relação a 
renúncia ao direito real, é importante 
termos em mente que a mesma não 
extingue a obrigação em si, podendo 
simplesmente liberar o renunciante. 
 
Entretanto, a renúncia liberatória terá, 
assim, efeitos apenas para o futuro, 
mantendo os débitos passados que foram 
incorporados ao patrimônio do até então 
proprietário. 
 
Futuramente vocês entenderão melhor 
esse ponto… Por favor, sem desespero!… 
 
OBRIGAÇÃO DE 
ÔNUS REAIS 
 
As obrigações de ônus reais muitas das 
vezes são tidas como sinônimos de 
obrigações propter rem; entretanto, em 
que pese semelhantes, são institutos 
diversos. 
 
Obrigação de ônus real acaba por limitar o 
uso e o gozo (fruição) da propriedade, 
constituindo verdadeiro gravame. 
 
Como exemplo citamos a renda constituída 
sobre imóvel, havendo um direito 
temporário que grava determinado bem, 
obrigando o proprietário a realizar o 
adimplemento de prestações periódicas. 
 
 
Ex.2: Waldicreuza doa para Joeberson 
um pedaço de terra, o qual fica obrigado, 
em razão da doação, a destinar, 
anualmente, 15% do total da safra 
produzida no terreno, para Maytê. 
 
Além do aludido exemplo, também há ônus 
reais quando observamos a hipoteca, o 
penhor e a anticrese, os quais, como já 
visto, enquadram-se na categoria de 
direitos reais de garantia, onerando o bem. 
 
A maior diferença entre a obrigação 
propter rem e a obrigação de ônus real é o 
fato de que esta está limitada ao valor da 
coisa. 
 
Fácil de observar: enquanto o valor da 
obrigação propter rem pode acabar 
ultrapassando o valor da coisa, como 
ocorre, por exemplo, se houver o acúmulo 
de anos de IPTU não pagos, ou até mesmo 
na incidência de IPTU progressivo, na 
obrigação de ônus reais observamos a 
impossibilidade de oneração de um bem 
acima do seu principal. 
 
Recomendamos a leitura do artigo 
“Contribuição ao estudo das obrigações 
propter rem e institutos correlatos”, de 
autoria de Tom Alexandre Brandão, o 
qual fora enviado pelo SIA. 
 
Obrigada e sejam muito bem-
vindos ao mundo dos DIREITOS 
REAIS! Bom divertimento! � 
 
 
 
 
 
 
 
 
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19 
"Toda a sensação de perda vem 
da falsa sensação de posse." 
Luiz Gasparetto 
POSSE 
 
Poder físico (poder de fato) sobre a 
coisa. 
 
“(...) a posse constitui um direito, com 
natureza jurídica especial.” (TARTUCE, 
32) 
 
Para que possamos definir posse é 
imprescindível a compreensão das duas 
maiores e mais importantes teorias que 
tratam do assunto. 
 
Com vocês, de um lado, a Teoria 
Subjetiva (clássica) de Savigny; e 
de outro, a Teoria 
Objetiva, de Ihering. Divirtam-se! 
 
TEORIA SUBJETIVA – SAVIGNY 
 
Em 1803, Savigny, com um brilhantismo 
peculiar de um jovem de 24 anos, elaborou 
sua monografia denominada “Das Recht 
des Besitzes” – O Tratado da Posse, 
afirmando que a posse seria o poder que 
alguém tem de dispor materialmente da 
coisa, demonstrando verdadeira intenção 
de tê-la para si, além de defendê-la contra 
a intervenção de quem quer que fosse. 
 
Verificamos, então, a presença de dois 
elementos constitutivos: 
 
a) corpus: traduz o controle material 
da pessoa sobre a coisa, podendo 
dela se servir, dispor e apoderar. 
Não basta apenas o contato 
corporal, mas deve haver, 
também, a disponibilidade física 
no sentido do indivíduo poder agir 
imediatamente sobre a coisa “e 
dela afastar toda a ação de 
estranhos” (Nelson Rosenvald e 
Cristiano Chaves, p. 63) 
b) animus: constitui a intenção do 
possuidor de exercer o direito como 
se proprietário fosse – sentir-se o 
dono da coisa, mesmo não sendo. 
Ou seja, somente se cogita em 
posse se houver o animus 
possidendi. 
 
P = C + A 
 
Por outro lado, caso alguém atue 
materialmente sobre a coisa, havendo o 
corpus, mas sem a existência do animus, 
teremos a DETENÇÃO, e não a posse: 
 
D = C – A 
 
Segundo esta teoria, são exemplos de 
detentores: locatário, comodatária, 
usufrutuário etc, os quais não possuem 
qualquer intenção de se tornarem 
proprietários dos respectivos bens, por 
questões óbvias! 
 
Conclusão: os sujeitos mencionados não 
gozam de proteção direta, inviabilizando a 
utilização de ações possessórias -> NÃO 
PODEM SER AUTORES DE 
DETERMINADAS AÇÕES, AS QUAIS 
VEREMOS EM BREVE. 
 
A crítica em relação a tal doutrina repousa 
no fato do excesso de autonomia privada 
relativa à vontade, bem como a dificuldade 
em demonstrar sua existência. 
 
Entretanto, foi justamente a partir de tal 
teoria que a posse começou a receber tutela 
jurídica, observando a necessidade de 
proteção à pessoa, manutenção da paz 
social e estabilização das relações 
jurídicas. 
 
Posse = Fato na origem; direito nas 
consequências – natureza jurídica eclética. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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20 
Com o início da proteção da posse houve a 
possibilidade do possuidor invocar os 
interditos possessórios1 toda vez que o 
estado de fato for violado, estando 
totalmente desconectado e sem qualquer 
dependência da comprovação da existência 
de propriedade. 
 
Na prática tal observação se revela 
importantíssima, pois muitas das vezes 
‘operadores’ do direito se valem de ações 
possessóriascom o nítido fito de proteger a 
propriedade, conduta totalmente atécnica 
e desprovida de embasamento jurídico, o 
que pode inclusive levar um indeferimento 
de plano da petição inicial. 
 
EM AÇÃO POSSESSÓRIA SE DISCUTE 
A POSSE, E NÃO A PROPRIEDADE2! 
 
Deixaremos desde já consignado que esta 
teoria NÃO foi adotada pelo Código Civil 
de 2002, tendo espaço somente para fins 
da usucapião, como demonstraremos em 
tópico específico. ISSO É 
IMPORTANTÍSSIMO! 
 
TEORIA OBJETIVA (ou 
SIMPLIFICADA) – IHERING 
 
Segundo Ihering, a posse constitui mero 
exercício da propriedade. 
 
A título de conhecimento é interessante 
transcrevermos as palavras de Cristiano 
Chaves e Nelson Rosenvald sobre as 
conclusões de Ihering: 
 
“O célebre romanista admite a 
anterioridade histórica da posse 
em relação a propriedade, para 
justificar a inferioridade daquela 
em relação a esta. Na prática, 
traz para o direito o 
determinismo darwiniano que 
expressa a evolução biológica 
pela necessária precedência na 
natureza dos seres inferiores aos 
superiores.” (p. 64) 
 
1 Manutenção da posse; reintegração da posse; 
interdito proibitório (ou legítima defesa da posse) 
2 Em que pese o assunto ser trabalhado em 
Processo Civil, deixamos claro que a ação 
 
Posse = poder de fato. 
Propriedade = poder de direito. 
 
Sendo a posse situação fática de poder 
sobre a coisa, não nos importa a condição 
jurídica de quem a exerce (proprietário ou 
não proprietário), já que a posse recai 
sobre o bem, e não sobre o direito. 
 
 
Propriedade sem posse equivale a um baú 
de tesouros sem a chave, pois a 
propriedade sem posse restará paralisada. 
 
Em outras palavras, segundo a Teoria 
Objetiva de Ihering, o respeito à posse se 
deve em razão da mesma corresponder à 
exteriorização e complemento necessário à 
proteção da propriedade. 
 
Consequentemente, seguindo tal 
entendimento, os interditos possessórios 
servem como proteção da propriedade, e 
não da posse em si mesma, mesmo que em 
uma primeira análise culminem em 
socorrer a posse (e, indesejavelmente, a 
figura do não proprietário). 
 
Quanto aos elementos constitutivos, a 
Teoria Objetiva estabelece a necessidade 
da presença apenas do corpus. 
 
P = C 
 
Ou seja, há possibilidade de se reconhecer 
a posse por sua destinação econômica, 
independentemente de qualquer critério 
petitória possui como fundamento a propriedade, 
enquanto as ações possessórias – ação de 
reintegração de posse, ação de manutenção de 
posse e interdito proibitório – tratam única e 
exclusivamente da posse. 
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21 
subjetivo (manifestação volitiva do 
possuidor de ser dono), sendo suficiente 
apenas que ele se comporte, perante a 
coisa, como se comportaria se proprietário 
fosse – não estamos diante de uma relação 
subjetiva, mas sim de uma circunstância 
objetiva em razão da conduta visível 
diante da coisa. 
 
Não temos um QUERER, mas sim um 
AGIR. 
 
Além disso, ao contrário do entendimento 
de Savigny, o corpus não corresponderia a 
possibilidade física de dispor da coisa, mas 
apenas a visibilidade da propriedade em 
seus elementos caracterizadores. 
 
“(...) nem a presença física, nem o 
contato material, nem a 
presença, nem a custódia, são 
elementos decisivos, portanto em 
cada caso teremos que indagar 
como se comportaria o 
proprietário perante a coisa. A 
determinação do corpus é uma 
questão de pura experiência e de 
senso comum.” (C. Chaves e N. 
Rosenvald, p. 65) 
 
Exemplo: 
 
Waldicreuza mora em um bem imóvel 
residencial. Há, assim, o exercício de um 
ato de apreensão, visto que a mesma 
confere à coisa o destino econômico 
determinado. 
Por outro lado, em um loteamento 
específico, Waldicreuza se beneficia de 
um determinado lote, o qual encontra-se 
sem qualquer ato de apreensão, ou seja, 
Waldicreuza não realiza o 
aproveitamento direto no mesmo. 
Entretanto, visto que o aludido terreno 
também cumpre seu destino econômico, 
qual seja, reserva imobiliária à que se 
destina, podemos cogitar na existência 
de posse, a qual deve ser respeitada por 
terceiros. 
 
Verifica-se que em momento algum eu 
mencionei que Wal é dona dos imóveis… 
Apenas que ela age como se dona fosse. 
 
Ao contrário do que ocorre na Teoria 
Subjetiva (clássica), quando a Teoria 
Objetiva dispensa a presença do animus 
domini acaba por estender a condição de 
possuidor àqueles que seriam, naquela, 
meros detentores, como é o caso de 
locatários, arrendatários etc. Como 
consequência, há proteção possessória 
direta e imediata para tais sujeitos (art. 
554 e seguintes do Código de Processo 
Civil). 
 
Suponhamos que Pedrosa alugue para 
Waldicreuza uma fazenda na região 
norte, apesar desta morar na região sul. 
Meses após o início do aluguel 
Waldicreuza é cientificada de que a 
fazenda fora invadida (violação que 
juridicamente é denominada de 
esbulho). 
 
Imediatamente Waldicreuza procura 
Pedrosa, o qual está viajando pelo 
mundo, impossibilitando qualquer 
contato. 
 
Questiona-se: há alguma medida que 
pode ser adotada por Waldicreuza?! 
 
Resposta: se adotarmos a Teoria 
Subjetiva, Waldicreuza, por não ser 
proprietária, não pode ajuizar ação 
reivindicatória (petitória); e, por outro 
lado, também não é possuidora, o que 
impossibilita o ajuizamento de ação 
possessória (por ser esbulho caberia 
reintegração de posse). Waldicreuza 
seria apenas detentora e não 
possuidora: não se pode pedir de volta o 
que não se tem! 
 
Por outro lado, adotando-se a Teoria 
Objetiva, a qual foi adotada por nosso 
ordenamento jurídico, Waldicreuza 
seria possuidora, podendo manejar a 
ação de reintegração de posse (ação 
possessória). Como não é proprietária, 
não pode se valer de ação 
reivindicatória. 
 
Importante também registrarmos, desde 
já, que a teoria objetiva consagra a 
coexistência de posses direta e indireta 
(posses paralelas). 
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22 
A maior crítica existente em relação a tal 
teoria é o fato de que Ihering subordina a 
posse à propriedade, afastando sua 
autonomia e reduzindo a posse a um 
direito ínfimo. 
 
Resumindo, segundo a Teoria Objetiva, 
para se falar em posse basta que a pessoa 
disponha fisicamente da coisa, ou que ao 
menos possa exercer esse contato, e que se 
comporte como o dono comportaria. 
 
O Código Civil de 2002 adotou 
parcialmente a Teoria Objetiva, conforme 
se afere em seu artigo1.196: 
 
Art. 1.196 CC/02. Considera-se 
possuidor todo aquele que tem de 
fato o exercício, pleno ou não, de 
algum dos poderes inerentes à 
propriedade. 
 
Nem todo possuidor é proprietário. 
Finalizando os estudos das teorias da 
posse, insta ressaltar que atualmente há 
uma tímida mas forte corrente doutrinária 
que defende a necessidade de se criar uma 
teoria mais moderna, a qual visa, acima de 
tudo, analisar a função social da posse – 
Teoria Social da Posse. 
Fortalecendo tal doutrina, a qual possui 
como integrantes, por exemplo, Flávio 
Tartuce e Marco Aurélio Bezerra de Melo, 
há o projeto 699/2011 em trâmite no 
Congresso Nacional com o fito de alterar o 
teor do artigo 1.196 do Código Civil, o qual 
poderá conter a seguinte redação: 
“Art. 1.196. Considera-se 
possuidor todo aquele que tem 
poder fático de ingerência 
socioeconômica, absoluto ou 
relativo, direto ou indireto, sobre 
determinado bem da vida, que se 
manifesta através do exercício ou 
possibilidade de exercício 
inerente à propriedade ou outro 
direito real suscetível de posse”. 
 
Para facilitar a diferença de tais teorias, 
transcreveremos o ensinamento de 
Tartuce: 
“Destaque-se o estudo que o 
doutrinador faz da doutrina de 
Perozzi, utilizando a felizsimbologia do sujeito que anda 
com um chapéu por uma rua. 
Vejamos, na leitura feita por este 
autor, com adaptações. 
De acordo com a teoria de 
Savigny, é ele possuidor, pois tem 
a intenção de ser dono do chapéu 
e se apresenta com o bem. A par 
da teoria de Ihering, há posse 
porque a pessoa se apresenta com 
o chapéu, tendo o domínio fático 
da coisa. Por fim, pela visão de 
Perozzi e Gil há posse diante do 
reconhecimento e da aceitação da 
coletividade de que essa pessoa é 
possuidora, além da destinação 
que é dada ao chapéu. 
(TARTUCE 34) 
Com a teoria social da posse não se está 
afirmando que a propriedade não possui 
valor, mas só faz sentido falar em proteção 
da propriedade se o proprietário der 
destinação social para a mesma. Os 
adeptos desta corrente afirmam que o 
Direito serve à coletividade, e se o 
indivíduo não possuir como parâmetro a 
coletividade para agir, não merece 
proteção. 
 
Quem tem a melhor posse, tem o melhor 
direito. 
 
Finalizando tal estudo é importante 
mencionarmos o disposto no enunciado 
elaborado na V Jornada de Direito Civil, 
de 2011, com a seguinte redação: 
 
“A posse constitui direito 
autônomo em relação à 
propriedade e deve expressar o 
aproveitamento dos bens para o 
alcance de interesses 
existenciais, econômicos e sociais 
merecedores de tutela” 
(Enunciado n. 492). 
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23 
Independentemente da alteração ou não 
do artigo supramencionado, certo é que a 
função social da posse encontra-se 
implícita em nossa legislação, 
especialmente ao observarmos a 
valorização da posse-trabalho disposta nos 
artigos 1.238, parágrafo único; 1.242, 
parágrafo único, e 1.228, §§ 4.º e 5.º 
(desapropriação judicial privada por posse 
trabalho), todos do atual Código Civil. 
 
Art. 1.238 CC/02. Aquele que, por 
quinze anos, sem interrupção, 
nem oposição, possuir como seu 
um imóvel, adquire-lhe a 
propriedade, independentemente 
de título e boa-fé; podendo 
requerer ao juiz que assim o 
declare por sentença, a qual 
servirá de título para o registro 
no Cartório de Registro de 
Imóveis. 
 
Parágrafo único. O prazo 
estabelecido neste artigo reduzir-
se-á a dez anos se o possuidor 
houver estabelecido no imóvel a 
sua moradia habitual, ou nele 
realizado obras ou serviços de 
caráter produtivo. 
 
Art. 1.242 CC/02. Adquire 
também a propriedade do imóvel 
aquele que, contínua e 
incontestadamente, com justo 
título e boa-fé, o possuir por dez 
anos. 
 
Parágrafo único. Será de cinco 
anos o prazo previsto neste artigo 
se o imóvel houver sido 
adquirido, onerosamente, com 
base no registro constante do 
respectivo cartório, cancelada 
posteriormente, desde que os 
possuidores nele tiverem 
estabelecido a sua moradia, ou 
realizado investimentos de 
interesse social e econômico. 
 
 
 
 
 
 
Art. 1.228, § 4º CC/02 - O 
proprietário também pode ser 
privado da coisa se o imóvel 
reivindicado consistir em extensa 
área, na posse ininterrupta e de 
boa-fé, por mais de cinco anos, de 
considerável número de pessoas, 
e estas nela houverem realizado, 
em conjunto ou separadamente, 
obras e serviços considerados 
pelo juiz de interesse social e 
econômico relevante. 
 
§ 5º - No caso do parágrafo 
antecedente, o juiz fixará a justa 
indenização devida ao 
proprietário; pago o preço, valerá 
a sentença como título para o 
registro do imóvel em nome dos 
possuidores. 
----------------------------- 
Facilitando... 
 
Teoria Subjetiva Teoria Objetiva 
 
Posse: poder físico 
imediato sobre a coisa 
por quem tem a 
vontade de ser dono e 
se defende contra 
agressões. 
 
Posse: O corpus 
configura-se 
sempre que alguém 
age como se fosse 
dono da coisa, ou 
seja, quando 
exterioriza o 
domínio, ainda que 
sabidamente não 
seja dono. 
Corpus + Animus Apenas o corpus 
Corpus – controle 
físico imediato. 
Existe o corpus: 
segurar uma caneta, 
sentar em uma 
poltrona, pegar um 
celular, ter ao seu 
alcance imediato 
inúmeros livros 
localizados no cômodo 
onde se encontra 
naquele momento. 
Não existe o corpus: 
quem está em um 
shopping passeando e 
tem uma caneta, uma 
poltrona, um celular e 
Destinação 
econômica da coisa. 
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livros em seu 
escritório, não teria o 
corpus. 
 
Posse versus Detenção 
 
Ao operador do Direito é VEDADO tratar 
posse e detenção como termos sinônimos. 
 
Observemos o disposto nos artigos 1.198, e 
1.208, ambos do Código Civil de 2002: 
 
Art. 1.198 CC/02. Considera-se 
detentor aquele que, achando-se 
em relação de dependência 
para com outro, conserva a posse 
em nome deste e em 
cumprimento de ordens 
ou instruções suas. 
 
Parágrafo único. Aquele que 
começou a comportar-se do modo 
como prescreve este artigo, em 
relação ao bem e à outra pessoa, 
presume-se detentor, até que 
prove o contrário. 
 
Art. 1.208 CC/02. Não induzem 
posse os atos de mera permissão 
ou tolerância / assim como não 
autorizam a sua aquisição os atos 
violentos, ou clandestinos, senão 
depois de cessar a violência ou a 
clandestinidade. 
 
Vamos por partes, já que a legislação trata 
de três tipos diferentes de detentores. 
 
Também denominado fâmulo de posse, 
gestor da posse, detentor dependente ou 
servidor da posse, esse tipo de detentor 
tem o bem exclusivamente em decorrência 
de uma situação de dependência 
econômica ou um vínculo de subordinação. 
 
Também é detentor aquele que está 
utilizando o bem por mera tolerância ou 
permissão do proprietário ou do possuidor. 
 
Face ao ato de mera custódia não se pode 
cogitar a existência de posse nessas 
situações. 
Nessa três hipóteses temos o exercício de 
um poder de fato, mas em nome alheio. 
 
Detentor: exercício, em nome alheio, de 
um dos poderes inerentes à 
propriedade. 
 
A forma primordial para se averiguar se 
alguém é detentor ou possuidor de 
determinada coisa é a análise se a posse é 
exercida de forma direta (em nome 
próprio) ou em nome de outrem. 
 
Exemplos mais tradicionais de 
detenção: 
Waldicreuza é caseira em uma mansão 
localizada no interior de Fernando de 
Noronha, sendo responsável, 
juntamente com seu marido, por cuidar 
da horta, dos animais e da residência 
principal, onde dormem diariamente. 
Ambos são detentores e não possuidores 
dos bens mencionados. (Relação de 
trabalho ou de emprego, em que o 
empregador entrega bem de sua 
propriedade ao trabalhador, diante de 
uma relação de confiança decorrente do 
contrato). 
 
Waldicreuza e Eleoberto resolvem 
comemorar o aniversário de casamento 
em um luxuoso hotel. Ao chegar no local, 
entregam o veículo para o manobrista 
(contrato de depósito). Neste caso, o 
hotel é possuidor do carro, face o 
contrato atípico com elementos do 
depósito. Por outro lado, o manobrista é 
detentor, já que o veículo fora entregue 
em nome do hotel, com quem possui 
relação de subordinação. 
 
Eleoberto resolve vender seu veículo. 
Face a dificuldade em encontrar 
compradores, decide entregá-lo em uma 
revendedora. Nesse caso, segundo 
julgamentos do TJSP (TJSP, Apelação 
0957508-2/00), há mera detenção da loja 
de revendas, com simples custódia do 
bem móvel. 
Waldicreuza convida uns parentes para 
passar algumas semanas em sua casa 
em frente à praia de Ipanema – RJ. Wal, 
a qualquer momento, poderá colocar 
ordem na casa, determinando horário de 
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entrada e saída, por exemplo, já que 
seus parentes não são possuidores, mas 
meros detentores e lhe devem 
obediência -> permissão.Como consequência da ausência de posse, 
ao detentor é vedada a utilização de 
quaisquer das ações possessórias, bem 
como usucapir. Entretanto, lhe é possível 
a defesa da posse alheia por meio da 
autotutela disposta no artigo 1.210, 
parágrafo 1º, do Código Civil de 2002: 
 
Art. 1.210, § 1º CC/02 - O 
possuidor turbado, ou esbulhado, 
poderá manter-se ou restituir-se 
por sua própria força, contanto 
que o faça logo; os atos de defesa, 
ou de desforço, não podem ir além 
do indispensável à manutenção, 
ou restituição da posse. 
 
Nesse sentido, segue enunciado da V 
Jornada de Direito Civil: 
 
 “O detentor (art. 1.198 do Código 
Civil) pode, no interesse do 
possuidor, exercer a autodefesa 
do bem sob seu poder” 
(Enunciado n. 493). 
 
Também vale transcrever o ensinamento 
de Tartuce quanto a limitação de atuação 
do detentor: 
 
Voltando-se a ilustração concreta 
do Superior Tribunal de Justiça, 
entendeu a Corte, em aresto de 
2017, que a concessionária de 
veículos incumbida de fazer o 
reparo de um automóvel é mera 
detentora e não possuidora do 
bem. Sendo assim, não é o caso de 
se reconhecer o direito de 
retenção da coisa, diante da falta 
do pagamento de serviços que 
foram por ela prestados, nos 
termos do que consta do art. 
1.219 do Código Civil. 
 
 
 
 
Conforme trecho da ementa do 
acórdão, “na hipótese, o veículo 
foi deixado na concessionária 
pela proprietária somente para a 
realização de reparos, sem que 
isso conferisse à recorrente sua 
posse. A concessionária teve 
somente a detenção do bem, que 
ficou sob sua custódia por 
determinação e liberalidade da 
proprietária, em uma espécie de 
vínculo de subordinação. O 
direito de retenção, sob a 
justificativa de realização de 
benfeitoria no bem, não pode ser 
invocado por aquele que possui 
tão somente a detenção do bem” 
(STJ, REsp 1.628.385/ES, 3.ª 
Turma, Rel. Min. Ricardo Villas 
Bôas Cueva, j. 22.08.2017, DJe 
29.08.2017). (TARTUCE 41) 
 
FACILITANDO... 
 
Com o intuito de facilitar a identificação da 
detenção, faremos uso do disposto no 
artigo 1.253 do Código Civil de Portugal: 
 
São havidos como detentores ou 
possuidores precários: 
a) os que exercem o poder de 
facto sem intenção de agir 
como beneficiários do direito; 
b) os que simplesmente se 
aproveitam da tolerância do 
titular do direito; 
c) os representantes ou 
mandatários do possuidor e, 
de um modo geral, todos os 
que possuem. 
 
Ainda sobre a detenção, na IV Jornada de 
Direito Civil de 2006, foi aprovado o 
Enunciado n. 301 do CJF/STJ, 
determinando a inversão do caráter da 
posse (ou transmutação da posse) ao 
prescrever que 
 
“É possível a conversão da 
detenção em posse, desde que 
rompida a subordinação, na 
hipótese de exercício em nome 
próprio dos atos possessórios”. 
 
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Assim, desaparecendo o vínculo de 
dependência e de subordinação 
previamente existente, como é o caso do 
contrato de trabalho, por exemplo, não 
haverá mais mera detenção, mas sim 
posse, podendo o novo possuidor desfrutar 
de todos os efeitos materiais e processuais 
decorrentes do novo título, inclusive os 
instrumentos de defesa. 
 
O fundamento legal para tal conversão 
(chamada de TRASMUTAÇÃO) é o 
parágrafo único do artigo 1.198 CC/02, 
supratranscrito, cumulado com o artigo 
1.204 CC/02: 
 
Art. 1.204 CC/02. Adquire-se a 
posse desde o momento em que se 
torna possível o exercício, em 
nome próprio, de qualquer dos 
poderes inerentes à propriedade. 
 
Nesse sentido: 
 
“Ação possessória. Indeferimento 
da petição inicial sob o 
fundamento de existência de 
mera detenção. Possibilidade de 
conversão da detenção em posse, 
com o rompimento da 
subordinação relativa àquela 
possibilidade da modificação do 
caráter originário da posse. Fatos 
afirmados com a inicial que 
merecem ser melhor examinados 
sob o crivo do contraditório. 
Impossibilidade, entretanto, de 
concessão de liminar. Recurso 
provido para ser anulada a 
decisão, a fim de se propiciar o 
processamento, sem liminar, da 
ação” (TJSP, Apelação 7170778-
3, Acórdão 3468220, Piratininga, 
17.ª Câmara de Direito Privado, 
Rel. Des. Paulo Pastore Filho, j. 
28.01.2009, DJESP 09.03.2009). 
 
Atenção: o servidor (ou servo) da posse tem 
o dever de conservar a coisa, mas poderá 
(deverá) requerer a restituição de todas as 
despesas necessárias à tal ato. 
 
 
 
Também se faz oportuno frisar que aquele 
que ostentava a condição de possuidor 
direto poderá se tornar detentor, na 
condição de servidor da posse. 
 
É o exemplo do comodatário que começa a 
receber pagamentos periódicos do 
proprietário com o intuito de conservação 
do imóvel, havendo nítidas instruções 
quanto às devidas manutenções. Nesse 
caso, o possuidor indireto (mesmo que sem 
tal intenção), rompe o vínculo negocial 
originário (comodato), transformando a 
posse em detenção. Atenção: sei que ainda 
não explicamos posse indireta e posse 
direta (desdobramento da posse – posses 
paralelas), mas marque esta página para 
ler novamente no final deste capítulo que 
tudo fará mais sentido!) 
 
Também não há posse decorrente de atos 
de mera permissão ou tolerância, conforme 
disposto no artigo 1.208, primeira parte, 
do Código Civil de 2002, o qual já fora 
transcrito. 
 
As situações de permissão ou tolerância 
são facilmente verificadas quando estamos 
diante de relações de parentesco, 
vizinhança, hospedagem ou mera 
caridade, ocasião em que uma pessoa 
exerce ato de mera detenção sobre 
determinado bem. 
 
Quem nunca ouviu a frase: “Enquanto 
estiver sob o meu teto tem que me 
obedecer!”. 
 
Há, nesses casos, situação de dependência 
perante o real possuidor. E, observe: não é 
dependência econômica! 
 
Desta forma, quando Waldicreuza convida 
seu vizinho Leanderson para assistir um 
jogo em sua casa, este nunca será 
possuidor da poltrona que ocupa, sendo 
mero detentor da mesma. 
 
Da mesma forma, quando Waldicreuza 
convida seus pais para passarem uma 
temporada em sua casa, estes serão meros 
detentores, e não possuidores dos 
aposentos. 
 
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Permissão Tolerância 
Comportamento 
positivo e prévio. 
Autorização. 
Conduta 
negativa; 
consentimento 
tácito do uso. Não 
oposição. 
 
Eis transcrição dos exemplos de Cristiano 
Chaves e Nelson Rosenvald: 
 
“quando A permite verbalmente 
que seu vizinho B utilize a sua 
vaga de garagem, no prédio em 
que ambos residem, poderá a 
qualquer tempo revogar o 
consentimento, sem que o 
usuário B a tal possa opor-se.” 
(Exemplo de permissão – p. 135) 
 
“se B guarda o seu veículo na 
vaga de garagem de seu vizinho 
A sem qualquer permissão 
prévia, é possível caracterizar os 
atos materiais de utilização da 
coisa como de mera tolerância, 
tendo em vista que o usuário B 
tem a perfeita noção de que a 
passividade de A decorre de sua 
condescendência, sendo que essa 
atitude de benevolência é 
fundamental para que continue 
utilizando a vaga de garagem” 
(Exemplo de tolerância – p. 135) 
 
“Se A permanece no imóvel de 
propriedade de B por longos 
anos, em virtude do abandono do 
titular, não será possível a B 
alegar que tolerou a presença de 
A. Nessa hipótese, B foi desidioso 
e inerte, e A agiu como possuidor, 
sendo factível a usucapião sobre 
o imóvel” (p. 135) 
 
Interessante que muitas doutrinas como a 
de Flávio Tartuce não se preocupam com o 
aprofundamento das questões relativas à 
permissão e tolerância, havendo, 
inclusive, o tratamento do fâmulo da posse 
como sinônimo de detentor, conduta pela 
qual não concordamos, pois realmente são 
institutos diversos – ou seja, o fâmulo da 
posse é apenas um dos tipos de detenção 
(no

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