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AULA 1 TECNOLOGIAS ASSISTIVAS Profª Simone Schemberg 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, iremos discutir alguns aspectos históricos e conceituais acerca das tecnologias de uma forma geral, para que possamos refletir sobre as tecnologias assistivas, que se mostram como artefatos que viabilizam autonomia e acessibilidade para pessoas com deficiência. Ao tratar dessa temática, é importante pensar sobre o papel da tecnologia no nosso próprio cotidiano, na sociedade e nas diferentes culturas. Da mesma forma, é necessário compreender o quanto os recursos tecnológicos influenciam nossas vivências, nossos relacionamentos e as formas de interagirmos uns com os outros. Sobretudo quando se trata do contexto inclusivo, paradigma atual, as tecnologias desempenham um papel de extrema importância, ao passo que abrem novos caminhos e possibilidades, nos mais diversos âmbitos sociais. Por isso, entendê-las enquanto artefatos culturais capazes de oportunizar o desenvolvimento é de extrema importância para as mais diversas áreas, sobretudo no campo educacional. É nesse sentido que a escola, enquanto instituição privilegiada na troca de experiências e na construção do conhecimento, deve proporcionar novos espaços e diferentes formas de aprendizagem, desvinculando-se de um ensino tradicional e engessado, de forma a considerar mudanças e avanços do contexto social, levando em conta as tecnologias. CONTEXTUALIZANDO Falamos muito em tecnologias, vivemos em meio aos mais variados recursos tecnológicos, nos relacionamos e executamos várias tarefas por meio da tecnologia, que a cada dia está mais presente na nossa rotina e cada vez mais mostram-se como facilitadoras no dia a dia. Mas será que a tecnologia diz respeito somente a recursos materiais? O que é tecnologia? Antes de mais nada, é importante pensar que as tecnologias refletem as mudanças sociais, econômicas e culturais pelas quais a sociedade passa; o contexto educacional, por sua vez, reflete as transformações e os avanços tecnológicos. Em meio a isso, as tecnologias assistivas surgem para suprir necessidades e possibilitar a acessibilidade, desvinculando-se de uma visão tradicional sobre sujeito, aprendizagem e ensino. A acessibilidade também tem sido possibilitada e ampliada por determinados tipos de tecnologias. 3 Assim, pensar sobre o papel das tecnologias no desenvolvimento, na aprendizagem e na interação social é essencial, sobretudo quando se trata do contexto inclusivo, onde as diferenças devem ser consideradas. Vivemos o paradigma da inclusão, e para tanto é preciso desvincular-se da visão tradicional sobre sujeito, aprendizagem e ensino. Ou seja, não há mais espaço para uma visão tradicional e fechada acerca do desenvolvimento e da aprendizagem. TEMA 1 – UM OLHAR SOBRE O CONTEXTO DAS TECNOLOGIAS Quando falamos em tecnologia, logo nos vem à mente modernização, recursos avançados, máquinas e equipamentos superdesenvolvidos. No entanto, a tecnologia acompanha o desenvolvimento humano desde seus primórdios. Essa é uma das principais características que nos difere dos outros animais, porque é gerada com base no conhecimento e na cultura. Somos capazes de criar artefatos e recursos que podem suprir nossas necessidades e solucionar nossos problemas, tanto para a sobrevivência quanto para a satisfação de um desejo pessoal. A roda, por exemplo, é uma das tecnologias mais antigas; como as outras, surgiu das necessidades do ser humano, marcando sobremaneira o seu desenvolvimento. Para ilustrar essa ideia, leia os trechos da obra de Monteiro Lobato, História das invenções, analisando o quanto uma tecnologia demanda pensar em outras tecnologias. Veja quantas outras surgiram com base na roda. Curiosidade: no livro, as histórias são narradas por meio da voz de Dona Benta, do Sítio do Pica- Pau Amarelo. Baseado em narrativas, é possível perceber a capacidade do homem de transformar a natureza e a si próprio por meio de invenções tecnológicas, além de nos mostrar que, muitas vezes, uma tecnologia é resultado de outra, e que suas descobertas dependem das concepções históricas e sociais em que foram pensadas, constituindo um processo de produção ao longo da humanidade. Saiba mais A natureza deu ao homem a Mão, que é uma perfeita maravilha. O cérebro deu à Mão a eficiência mecânica, que é mil vezes mais maravilhosa ainda. [...] A roda começou permitindo a multiplicação da força do pé. Sem aquele rolete que 4 o fogo queimou não teríamos os Fordes e os aviões. - Que tem o avião com a roda? - Tem tudo. É movido por meio de uma hélice, que não passa de uma roda com pás de um certo jeito. Entre as várias filhas da roda está a hélice. Mas a roda não se generalizou nos tempos antigos como está generalizada hoje. Houve povos que a ignoravam. As populações primitivas da América, por exemplo, desconheceram-na completamente. Quando os primeiros colonizadores introduziram aqui os veículos de roda, o espanto dos índios foi grande. A roda, ou antes o veículo de rodas, exige uma superfície lisa em que possa rodar; isto é, exige boa estrada. Ora, isso de estrada boa é coisa que só existe em certos países, de maneira que ainda hoje em muitos pontos do mundo há menos veículos de roda do que veículos de quatro pés: o burro que leva carga ao lombo. [...] - E como veio o pé de ferro que corre: o trem? - Ah, isso foi interessante. Depois de descoberta a máquina a vapor, vários ingleses tiveram a ideia de fazer essa máquina puxar carros pesados nas estradas comuns. Montavam num ponto da estrada uma máquina a vapor fixa, para, por meio de enrolamento de uma corda, puxar carros. Era complicadíssimo e de pouco resultado nas distâncias grandes. A boa ideia então ocorreu a Stephenson: e se em vez de a máquina puxar os carros ela se puxasse a si mesma? Estuda que estuda, Stephenson resolveu o problema. Inventou a locomotiva, a máquina que se puxava a si própria. [...] Isso não era tudo. Para que tal máquina pudesse caminhar com rapidez, tornavam-se necessários caminhos ótimos, bem calçados, bem nivelados, sem lama no tempo de chuva. E não havia tal coisa. Como resolver o problema? Stephenson imaginou os trilhos, isto é, duas estradinhas paralelas feitas de ferro, de largura que bastasse para as rodas da sua locomotiva - e hoje o mundo inteiro está cortado de norte a sul e de leste a oeste por maravilhosas estradas de ferro, filhas da estradinha do grande inventor inglês. Fonte: Lobato, 2014. É assim que os artefatos tecnológicos vão moldando a sociedade, os costumes e as formas de se relacionar. Cada fase da história é marcada por avanços que influenciam a vida em sociedade e geram diversas transformações. Segundo Lobato (2014), a tecnologia 5 molda nossa mentalidade, nossa linguagem, nossa maneira de estruturar o pensamento, inclusive a nossa maneira de valorar [...] Toda cultura tem seus valores arraigados. Esses valores são questionados na medida em que a sociedade tecnológica evolui. Na modernidade, já a partir do séc. XVI, os avanços tornam-se ainda mais significativos; a tecnologia passa a “contribuir para alterar a relação do ser humano com o mundo que o cerca, implicando no estabelecimento de uma outra cosmovisão.” (Miranda, 2002, p. 11). Assim, a tecnologia está intimamente ligada ao comportamento sociocultural, de forma que “é impossível separar o humano do seu ambiente material, assim como dos signos e das imagens por meio dos quais ele atribui sentido à vida e ao mundo.” (Lévy, 1999, p. 22). Atualmente, é impossível pensar os estudos e avanços científicos sem considerar as tecnologias, sobretudo na era da informática. Assim, esse novo contexto pode gerar ações, invenções e artefatos benéficos e também maléficos para a sociedade.Por isso, a tecnologia deve sempre ser pensada segundo o desenvolvimento coletivo e do bem social. TEMA 2 – CONCEITUANDO TECNOLOGIA Etimologicamente, tecnologia vem dos termos em grego technê (habilidade, arte, ofício) e logos (estudo, discussão). Ou seja, é o conjunto de estudos acerca de uma arte ou habilidade. Já de acordo com o dicionário Aurélio (2018), trata-se de: “1- Ciência cujo objeto é a aplicação do conhecimento técnico e científico para fins industriais e comerciais; 2 - Conjunto dos termos técnicos de uma arte ou de uma ciência.” Alicerçado nas mudanças da interação homem versus tecnologia, e do seu desenvolvimento, o próprio conceito passa a ganhar outras definições. Numa visão mais utilitarista, a tecnologia é definida com base no seu aspecto instrumental ou material; no entanto, uma visão mais atual a relaciona para além da técnica, pois considera-se que, além dos instrumentos desenvolvidos, a tecnologia envolve desde os estudos até a sua apropriação; ou seja, está vinculada a uma visão sociocultural. Nessa visão, Bastos (1998, p. 92) define tecnologia como sendo: a capacidade de perceber, compreender, criar, adaptar, organizar e produzir insumos, produtos e serviços. Em outros termos, a tecnologia transcende a dimensão puramente técnica, ao desenvolvimento experimental ou à pesquisa em laboratório; ela envolve dimensões de engenharia de produção, qualidade, gerência, marketing, assistência técnica, vendas, dentre outras, que a tornam um vetor fundamental de expressão da cultura das sociedades. 6 Então, o termo não se relaciona apenas a objetos (dispositivos ou equipamentos), mas ao contexto que vai da organização até as ações, o que envolve diversas técnicas (European Commission, 1998). Ou seja, a tecnologia assume um papel para além do caráter técnico e descritivo, pois visa à aplicação do conhecimento científico na resolução dos problemas, passando a ser uma ciência aplicada. Comecemos com a visão utilitarista: aplicação do conhecimento científico; estudo/tratado das aplicações, métodos, experiências e conclusões utilizadas pela técnica; interação entre a técnica e a ciência moderna; conjunto de atividades humanas ligado a símbolos, instrumentos e máquinas, visando construção/fabricação de produtos. Temos também a visão sociocultural (Bastos, 1998): contempla as dimensões socioculturais envolvidas na produção; envolve criação, apropriação e manipulação de técnicas que envolvem cultura, religião, política e economia; visa solucionar problemas enfrentados por determinado grupo; a educação tem um papel fundamental. Outro ponto a ser considerado é que as transformações sociais também estão relacionadas com o desenvolvimento tecnológico, de forma que as tecnologias mudam conforme as necessidades sociais e as demandas culturais. O que serve hoje, amanhã poderá não servir mais! Basta pensar que o primeiro computador do mundo era imenso. Você consegue imaginar um computador que ocupava uma sala inteira? Pois foi ele o primeiro do mundo! No contexto em que vivemos, é impossível pensarmos em formas de interações que não envolvam a internet, o computador e o celular. As tecnologias da informação e da comunicação estão em toda parte a todo momento, e preenchem nosso dia a dia. O espaço da escola também está envolvido nesse contexto, de modo que é inconcebível que educadores e demais profissionais ligados à educação não repensem suas ações e sua própria relação com as tecnologias. TEMA 3 – TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO 7 Ao tratar do contexto tecnológico, é impossível não pensarmos nas tecnologias de Informação e Comunicação, as TICs. Pode-se considerar que elas dizem respeito a um (Pacievitch, citado por Felipe, 2012, p. 20): Conjunto de recursos tecnológicos, utilizados de forma integrada, com um objetivo comum; São utilizadas das mais diversas formas, na indústria (no processo de automação), no comércio (no gerenciamento, nas diversas formas de publicidade), no setor de investimentos (informação simultânea, comunicação imediata) e na educação (no processo de ensino aprendizagem). As TICs abrem novas possibilidades, principalmente quando se trata de acessibilidade e acesso à informação a todas as pessoas. A educação, nesse sentido, ganha novos caminhos para o ensino e muitas barreiras podem ser superadas. Entretanto, é preciso desvincular-se do ensino tradicional, no qual não há espaço para essas novas possibilidades. As TICs, além de possibilitar a democratização da informação, novas formas de interação e trabalho colaborativo, favorecem o processo de inclusão e a acessibilidade. Vejamos alguns exemplos de TICs para refletir sobre seu uso no meio educacional. Primeiramente, as câmeras de vídeo. Atualmente, são recursos acessíveis e que possibilitam várias formas de uso no processo de ensino- aprendizagem, como por exemplo: gravação de vídeos pelos alunos para explanação de conteúdos; exploração de imagens para estudos; visualização posterior de conteúdos; trabalho colaborativo, entre outros. Sobre o uso do vídeo em sala de aula, Moran (2007, p. 38) aponta: Televisão e vídeo são sensoriais, visuais, linguagem falada, linguagem musical, escrita. Linguagens que interagem superpostas, interligadas, somadas, não separadas. Daí sua força. Atingem-nos por todos os sentidos e de todas as maneiras. Televisão e vídeo nos seduzem, informam, entretém, projetam em outras realidades (no imaginário), em outros tempos e espaços (p. 38). Temos também os tablets e celulares. Impossível pensar em distanciar esses dispositivos móveis das crianças e adolescentes. As discussões sobre o uso em sala de aula ainda são polêmicas; o certo é a necessidade de repensar as práticas pedagógicas e trazer essa tecnologia a favor da aprendizagem significativa. Para Pinheiro e Rodrigues (2012, p. 122), “o celular é um instrumento pedagógico poderoso, pois concentra várias mídias, contribuindo para o desenvolvimento de competência comunicativa dos alunos.” Além disso, tais tecnologias contribuem para o processo de inclusão. Silva (et al, 2013, p. 4) afirmam que “Os tablets e os celulares têm permitido que 8 estudantes tenham acesso a conteúdos acadêmicos nos lugares mais diferenciados possíveis. Eles têm a cada dia servido para dar suporte ao processo de ensino e aprendizagem de alunos com ou sem deficiência.” Citamos, por fim, a internet e a informática. O uso da internet e do computador cria novos desafios; no entanto, abre novas formas de aprendizagem, que auxiliam no desenvolvimento de capacidades, podendo colaborar para a construção do conhecimento. Moran (1998, p. 128): sugere: A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor a faz em um clima de confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confiança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua. É preciso pensar que, assim como refere Galvão Filho (2012, p. 2), “as Tecnologias de Informação e Comunicação mudaram definitivamente as formas da humanidade se relacionar com o saber, com o ensinar e o aprender.” Entretanto, de acordo com a Unesco (2015), as TICs: São apenas uma parte de um contínuo desenvolvimento de tecnologias, a começar pelo giz e os livros, todos podendo apoiar e enriquecer a aprendizagem; Como qualquer ferramenta, devem ser usadas e adaptadas para servir a fins educacionais; Várias questões éticas e legais, como as vinculadas à propriedade do conhecimento, ao crescente tratamento da educação como uma mercadoria, à globalização da educação face à diversidade cultural, interferemno amplo uso das TIC na educação. TEMA 4 – TECNOLOGIAS E EDUCAÇÃO Pensar sobre as tecnologias no meio educacional não é tarefa fácil! Principalmente porque é preciso desvincular-se dos padrões tradicionais de ensino que ainda hoje estão enraizados no contexto escolar. Vamos pensar: Será que os espaços educacionais estão efetivamente estruturados fisicamente de forma a contemplar um ensino diferenciado, em que as tecnologias possam estar presentes? Por muito tempo, a sala de aula, de forma padronizada, foi o local de excelência no processo de ensino, e de fato, em muitos contextos, continua a ser. Ultrapassar este espaço é uma tarefa que caberá ao professor, partindo de mudanças nas suas próprias concepções e percepções. Moran (2013) destaca que apenas fornecer laboratórios para acesso à internet não é o suficiente, pois “Hoje, todos os alunos, professores e a 9 comunidade escolar caminham para poder aprender em qualquer espaço presencial e digital.”. É preciso ampliar os espaços para aprendizagem. Um exemplo, são os espaços virtuais, sobre os quais Moran (2000, p. 58) define: Hoje entendemos por aula um espaço e um tempo determinados. Esse tempo e esse espaço serão cada vez mais flexíveis. O professor continua “dando aula” quando está disponível para receber e responder a mensagens dos alunos, quando cria uma lista de discussão e alimenta continuamente os alunos com textos, páginas da internet, fora do horário específico da sua aula. Há possibilidades cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes, quando tanto professores quanto alunos estão motivados e entendem a aula como pesquisa de intercâmbio, com os alunos sendo supervisionados, animados e incentivados pelo professor. Moran (2000, p. 1) aponta também a importância da organização e gerenciamento das práticas didáticas, ressaltando, como exemplo, a reorganização dos ambientes: O ideal seria as salas serem confortáveis, com boa acústica e tecnologias, das simples até as sofisticadas; elas precisam ter acesso fácil ao vídeo, DVD e, no mínimo, um ponto de Internet para acesso a sites em tempo real pelo professor ou pelos alunos, quando necessário. Com o avanço das redes sem fio e o barateamento dos computadores, as escolas estarão conectadas e as salas de aula podem tornar-se espaços de pesquisa, de desenvolvimento de projetos, de intercomunicação on-line, de publicação, com a vantagem de combinar o melhor do presencial e do virtual no mesmo espaço e ao mesmo tempo. Sobre o papel do professor nesse novo contexto, Sousa, Miota e Carvalho (2011) defendem que não se trata mais de ser o detentor e transmissor do conhecimento, e que este não é um mero objeto. Há ainda, no ambiente escolar, um predomínio da visão de que o professor é o detentor maior do conhecimento, o que deixa de levar em conta a experiência do aluno e o conhecimento que cada aluno traz para além do escolar. Muda-se, portanto, o papel do professor, assim como o papel do aluno. As tecnologias, além do professor, também são mediadoras do conhecimento, ao passo que, na interação com os recursos, há diversas possibilidades de aprendizagem. Com relação ao tema, Belloni (2005) trata dos “modos de aprendizagem mediatizada”, que dizem respeito aos processos de aprendizagem fundamentados em um ponto de vista mais abrangente – por um lado, estocam a transmissão de informações, e por outro redimensionam o papel do professor. Ou seja, é necessário rever os papéis no contexto atual. Então, as práticas pedagógicas devem ser reavaliadas; ao professor cabe atualizar sua formação e se apropriar dos conhecimentos sobre as tecnologias, não mais como 10 transmissor, mas como mediador, não se limitando à realidade e ao contexto do aluno, já que, assim como ressaltam Sousa, Miota e Carvalho (2011, p. 23): “Com a mediação das ações pelo professor, que deve estar sempre aberto ao diálogo, os estudantes podem produzir conhecimento numa linguagem próxima de sua realidade, utilizando-se da criatividade e valorização do que cada um sabe nessa ação coletiva”. Além disso, o uso das tecnologias requer o envolvimento de todos os profissionais da área, de forma a repensar as formas de constituição do conhecimento pelo aluno. TEMA 5 – TECNOLOGIAS E APRENDIZAGEM A diversidade de possibilidades de aprendizagem no contexto das tecnologias é um aspecto positivo, sobretudo em relação às diferentes formas de interação do aluno e com a própria aprendizagem. Com base na teoria de Vygotsky (1998, p. 73), podemos vislumbrar a importância dos artefatos culturais, ou seja, dos recursos culturais desenvolvidos pelo homem, em seu desenvolvimento cognitivo. Segundo o autor, O uso de meios artificiais – a transição para a atividade mediada – muda, fundamentalmente, todas as operações psicológicas, assim como o uso de instrumentos amplia de forma ilimitada a gama de atividades em cujo interior as novas funções psicológicas podem operar. Nesse contexto, podemos usar o termo função psicológica superior, ou comportamento superior com referência à combinação entre o instrumento e o signo na atividade psicológica. Então, quanto mais houver mediação, interação e uso de ferramentas e instrumentos mediados, maior será o desenvolvimento das potencialidades. Para compreender melhor as ideias centrais da teoria sociointeracionista, leia o texto abaixo (Ostermann; Cavalcanti, 2011, p. 41-42): O conceito central da teoria de Vygotsky é o de atividade, que é a unidade de construção da arquitetura funcional da consciência; um sistema de transformação do meio (externo e interno da consciência) com ajuda de instrumentos (orientados externamente; devem necessariamente levar a mudanças nos objetos) e signos (orientados internamente; dirigidos para o controle do próprio indivíduo). Uma atividade entendida como mediação em que o emprego de instrumentos e signos representa a unidade essencial de construção da consciência humana, entendida como contato social consigo mesmo e, por isso, constituída de uma estrutura semiótica (estrutura de signos) com origem na cultura. Para Vygotsky, o desenvolvimento humano está definido pela interiorização dos instrumentos e signos; pela conversão dos sistemas de regulação externa em meios de autorregulação. [...] O conceito de zona de desenvolvimento proximal é talvez o conceito 11 mais original e de maior repercussão, em termos educacionais, da teoria de Vygotsky. Trata-se de uma espécie de desnível intelectual avançado dentro do qual uma criança, com o auxílio direto ou indireto de um adulto, pode desempenhar tarefas que ela, sozinha, não faria, por estarem acima do seu nível de desenvolvimento. A implicação pedagógica mais relevante desse conceito reside na forma como é vista a relação entre o aprendizado e o desenvolvimento. Ao contrário de outras teorias pedagógicas, como a piagetiana, que sugerem a necessidade de o ensino ajustar-se a estruturas mentais já estabelecidas para Vygotsky, o aprendizado orientado para níveis de desenvolvimento que já foram atingidos é ineficaz do ponto de vista do desenvolvimento global da criança. Ele não se dirige para um novo estágio do processo de desenvolvimento, mas, ao invés disso, vai a reboque desse processo. Assim, a noção de zona de desenvolvimento proximal capacita-nos a propor uma nova fórmula, a de que o “bom aprendizado” é somente aquele que se adianta ao desenvolvimento. Compreender esses apontamentos em relação à teoria sociocultural de Vygotsky é importante para conceber a aprendizagem, distanciando-se da visão tradicional pelo reconhecimento de diversas novas possibilidades, valorizando assim as potencialidades de cada sujeito. Então, as tecnologias não devem ser percebidas como meros recursos, mas como artefatos que atuam como mediadores da aprendizagem, considerando que o papel do professor aindaé essencial. FINALIZANDO Sintetizando o que vimos nesta aula: As tecnologias refletem as transformações e os contextos sociais, além da cultura, dos costumes e das formas de interação; Nossos comportamentos, relacionamentos e formas de agir no mundo são influenciados pelas tecnologias, da mesma forma que elas mudam e afetam o nosso comportamento; É preciso pensar o conceito de tecnologias para além dos recursos materiais; afinal, ele envolve conhecimentos culturais para a resolução de problemas, constituindo-se desde a pesquisa até a aplicação; No contexto das tecnologias os espaços e das práticas educacionais, o papel do professor e o lugar do aluno devem ser repensados, distanciando- se da visão tradicional de ensino, de forma a valorizar as potencialidades. Nesse sentido, a teoria sociocultural justifica as tecnologias como possibilitadoras da construção do conhecimento e da aprendizagem; As tecnologias são artefatos privilegiados na promoção da inclusão e do acesso à informação e comunicação. 12 LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1991. Texto de abordagem prática MORAN, J. M. M. Os novos espaços de atuação do professor com as tecnologias. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 4, n.12, p.13-21, maio/ago. 2004. Disponível em: <https://periodicos.pucpr.br/index.php/dialogoeducacional/article/download/6938/ 6818>. Acesso em: 20 jun. 2018. Saiba mais LOBATO, M. História das invenções. 1. ed. São Paulo: Globo, 2014. 13 REFERÊNCIAS BASTOS, J. A. S. L. Educação e tecnologia. Curitiba: PPGTE/CEFETPR, 1998. EUROPEAN COMMISSION. Empowering Users Through Assistive Technology. 1998. Disponível em <http://www.siva.it/research/eustat/index.html>. Acesso em: 20 jun. 2018. FELIPE, A. A. C. Reflexões sobre as mudanças sociais motivadas pelo desenvolvimento tecnológico: a necessidade de instituir uma reflexão ética na utilização das tecnologias da informação e comunicação. Biblionline, João Pessoa, v. 8, n. 2, 2012. FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Curitiba: Positivo, 2010. Disponível em: <https://dicionariodoaurelio.com/>. Acesso em: 20 jun. 2018. GALVÃO FILHO, T. Tecnologia assistiva: favorecendo o desenvolvimento e a aprendizagem em contextos educacionais inclusivos. In: GIROTO, C. R. M.; POKER, R. B.; OMOTE, S. (Org.). As tecnologias nas práticas pedagógicas inclusivas. Marília/SP: Cultura Acadêmica, 2012. p. 65-92. LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. LOBATO, M. História das invenções. 1. ed. São Paulo: Globo, 2014. MIRANDA, A. L. Da natureza da tecnologia: uma análise filosófica sobre as dimensões ontológica, epistemológica e axiológica da tecnologia moderna. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) – Programa de Pós-Graduação do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, CEFET-PR, Curitiba, 2002. MORAN, J. M. Internet no ensino universitário: pesquisa e comunicação na sala de aula. Interface, Botucatu, v. 2, n. 3, 1998. _____. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2007. _____. Os novos espaços de atuação do professor com as tecnologias. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 4, n. 12, p.13-21, maio/ago. 2004. OSTERMANN, F.; CAVALCANTI, C. J. de H. Teorias de aprendizagem. Porto Alegre: Evangraf; UFRGS, 2011. PINHEIRO, R. C.; RODRIGUES, M. L. O uso do celular como recurso pedagógico nas aulas de língua portuguesa. Revista Philologus, v. 18, n. 52, 2012. http://www.siva.it/research/eustat/index.html http://www.siva.it/research/eustat/index.html 14 SILVA, R. et al. Dispositivos móveis dentro da escola: possibilidades de aprendizagem que se abrem também para alunos surdos. SIMPÓSIO HIPERTEXTO E TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO, 5., Universidade Federal de Pernambuco, 2013. Disponível em: <http://www.nehte.com.br/simposio/anais/Anais-Hipertexto-2013>. Acesso em: 20 jun. 2018. SOUSA, R. P.; MIOTA, F. M. C. S. C.; CARVALHO, A. B. G. (Org). Tecnologias digitais na educação. Campina Grande: EDUEPB, 2011. UNESCO. Representação da Unesco no Brasil. TIC na educação do Brasil. 2015. Disponível em: <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/communication-and- information/access-to-knowledge/ict-in-education/>. Acesso em: 20 jun. 2018. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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