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BOAS PRÁTICAS NA MANIPULAÇÃO DE ALIMENTOS PARA SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO AULA 1 Profª Thais Regina Mezzomo 2 INTRODUÇÃO Este curso tem o objetivo de instruir você sobre as boas práticas para produção e manipulação de alimentos, a fim de que sejam produzidos de forma segura para a população. Dividimos o conteúdo em quatro temas, os quais irão abordar: os perigos nos alimentos, as doenças transmitidas por alimentos e como preveni-las, Manual de Boas Práticas de Manipulação e Procedimentos Operacionais Padronizados; higiene de ambientes, utensílios e equipamentos, qualidade da água, manejo de resíduos, controle integrado de vetores e pragas urbanas; higiene e conservação dos alimentos; e higiene pessoal, equipamentos de proteção individual e controle de saúde dos manipuladores. Você está pronto para começar? Bons estudos! TEMA 1 – DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS Vamos começar nossa aula compreendendo o que é um alimento seguro, quais os perigos que podemos encontrar nos alimentos, como os micro- organismos se proliferam e desencadeiam as doenças transmitidas por alimentos (DTA), como preveni-las e como elaborar um Manual de Boas Práticas de Manipulação com os Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) exigidos pela nossa legislação. Um alimento seguro é livre de substâncias nocivas que possam causar danos à saúde do consumidor. Essas substâncias nocivas ou contaminantes são conhecidas como perigos, os quais podem ser prevenidos ou reduzidos com cuidados e regras adotadas durante as etapas de preparo dos alimentos. Os perigos nos alimentos podem ser de origem biológica, física ou química, estranhos ao alimento, nocivos à saúde humana ou que comprometem a integridade do indivíduo. Veja no Quadro 1 a definição de cada um. 3 Quadro 1 – Tipos de perigos nos alimentos nocivos à saúde humana Perigo Conceito Físico São materiais estranhos ao alimento que podem causar injúrias ao consumidor ou ser repulsivos, causados por falhas na manipulação. São exemplos os adornos (brincos, anéis), fragmentos de plástico, parafusos de equipamentos, palha de aço e fios de cabelo. Químico São contaminantes químicos naturais ou sintéticos que, quando presentes no alimento, podem comprometer a qualidade e a inocuidade dele e causar efeitos agudos e crônicos (tardios) à saúde. São exemplos água sanitária, detergente, inseticida, lubrificante e desengordurante, entre outros. Biológico Incluem a presença de micro-organismos não visíveis a olho nu como bactérias patogênicas, fungos, vírus e parasitas nos alimentos e podem causar doenças transmitidas por alimentos. 1.1 Perigos biológicos: micro-organismos e sua proliferação Como vimos, os micro-organismos são organismos vivos que não podem ser vistos a olho nu, necessitando de equipamentos potentes de microscopia (microscópio) para a sua visualização (Figura 1). Figura 1 e Figura 2 – Micro-organismos nos alimentos não visíveis a olho nu Crédito: Lightspring/Shutterstock; Giovanni Cancemi/Shutterstock Os micro-organismos compreendem as bactérias, os vírus, os fungos e alguns parasitas e são encontrados no chão, no ar, nos alimentos, na água, nos 4 animais e no lixo; também podem estar na pele, no cabelo, nas unhas e nas partes internas do corpo humano como boca e narinas. Dentre esses, as bactérias são os principais perigos biológicos nos alimentos. As excreções humanas, como urina e fezes, e os ferimentos também contêm bactérias prejudiciais à saúde. Ressalta-se que há mais micro-organismos em uma mão suja do que pessoas no planeta todo. Eles podem ser patogênicos e não patogênicos. Veja na Figura 3 como se classificam. Figura 3 – Tipos de micro-organismos nos alimentos Crédito: JuleDesign/Shutterstock. A multiplicação dos micro-organismos ocorre em condições ideais de disponibilidade de oxigênio, água, nutrientes e temperatura, e não altera, obrigatoriamente, as características sensoriais dos alimentos. Veja no Quadro 2 mais informações sobre as condições e fatores que favorecem a proliferação desses agentes nocivos. Micro-organismos Úteis na produção de alimentos, como na fabricação de pães, iogurtes e queijos Deteriorantes, pois estragam o alimento, alterando a cor, o sabor, o odor e a textura Patogênicos, isto é, causam doenças em quem os consome, mesmo sem causar alteração nos alimentos 5 Quadro 2 – Fatores e condições ideais para a multiplicação de micro-organismos nos alimentos Fatores Desenvolvimento Oxigênio Muitos micro-organismos necessitam de oxigênio para sobreviver, por isso embalagens a vácuo (sem oxigênio) são usadas para conservar os alimentos. Mas há também os que sobrevivem sem oxigênio e podem estar presentes em alimentos enlatados ou envasados, como a bactéria Clostridium botulinum, que causa o botulismo (doença neuroparalítica grave, não contagiosa). Essa bactéria aparece quando há falhas durante o processo de produção dos alimentos. Água Alimentos perecíveis (leite, iogurtes, queijos, carnes, muitas frutas e legumes) contêm elevado teor de água em sua composição, o que facilita a multiplicação de micro-organismos; por isso, devem ser conservados em temperaturas específicas. Alimentos secos ou não perecíveis (como feijão cru, massas secas, biscoitos e farinhas) não possuem umidade adequada para a multiplicação dos micro-organismos e podem ser conservados em temperatura ambiente. Nutrientes Alimentos e restos de alimentos conferem nutrientes para o desenvolvimento e sobrevivência de micro-organismos. Temperatura Temperaturas entre 5 °C a 60 °C fazem parte da chamada zona de perigo ou temperatura de risco para a proliferação deles. Na temperatura ambiente, há rápida multiplicação de micro- organismos. Quanto menor ela for, mais lentamente ocorrerá a multiplicação; temperaturas superiores a 70 ºC eliminam a maioria das bactérias. pH pH ≤ 4,5 não possibilita o desenvolvimento de Clostridium botulinum, bem como, de forma geral, de bactérias patógenas. Alguns micro-organismos formam esporos, que não são destruídos pela ação da temperatura, mesmo elevada. O arroz cru, por exemplo, pode conter bactérias na forma esporulada, o que permite a sobrevivência da bactéria no alimento seco. Após cozido, se mantido em temperatura ambiente por algum 6 tempo, a bactéria se multiplica rapidamente. Portanto, após o cozimento, o alimento deve ser mantido em temperatura superior a 60 °C ou ser rapidamente refrigerado (menor que 5 °C), garantindo assim a segurança dele. 1.2 Doenças transmitidas por alimentos (DTA) e formas de prevenção A ocorrência de DTA tem aumentado significativamente em todo o mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, a cada ano, as DTA causem o adoecimento de uma a cada dez pessoas e provoquem 2,2 milhões de mortes no mundo devido a doenças diarreicas, relacionadas, em sua maioria, ao consumo de alimentos ou água contaminados (WHO, 2015). Como as DTA podem ter várias causas, não há um quadro clínico específico. No entanto, os sintomas mais comuns são náuseas, vômitos, dores abdominais, diarreia, falta de apetite e febre. Desidratação severa, diarreia sanguinolenta, doença renal e insuficiência respiratória e até morte também podem ocorrer. Crianças, idosos, gestantes e pessoas com saúde debilitada são mais suscetíveis às DTA e podem apresentar quadros mais graves. O período de incubação, ou seja, o tempo que o organismo leva para apresentar os primeiros sinais após infecção é curto e varia de 1-2 dias a, no máximo, 7 dias. Além de o próprio consumidor sofrer com as DTA, os serviços de alimentação são penalizados com prejuízos econômicos decorrentes da divulgação na imprensa e redes sociais, perda de clientes, ações judiciais e administrativas, custos hospitalares, multas e até fechamento do estabelecimentoe perda de empregos. Todos os casos de DTA devem ser imediatamente comunicados à Secretaria de Saúde, a qual investigará as causas para que outras pessoas não adoeçam. Para evitar as DTA, recomenda-se a utilização de Boas Práticas de Manipulação de Alimentos: procedimentos que devem ser adotados a fim de garantir a qualidade higiênico-sanitária desde a compra dos produtos a serem utilizados no preparo do alimento até a venda ao consumidor. Abordaremos esse tema a seguir. 7 1.3 Boas Práticas de Manipulação de Alimentos As boas práticas estão definidas na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n. 216, de 15 de setembro de 2004, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com a finalidade de garantir as condições higiênico-sanitárias do alimento preparado. Ela se aplica a serviços de alimentação que realizam algumas das seguintes atividades: manipulação, fracionamento, preparação, armazenamento, distribuição, transporte, exposição à venda e entrega de alimentos preparados ao consumo (Brasil, 2004). São exemplos de locais em que isso ocorre: cantinas, bufês, padarias, delicatéssens, confeitarias, pastelarias, lanchonetes, cozinhas industriais, cozinhas institucionais, restaurantes, rotisserias e congêneres. A RDC n. 216/2004 estabelece que os serviços de alimentação devem dispor de Manual de Boas Práticas de Manipulação (MBP), documento que descreve as operações realizadas pelo estabelecimento, incluindo minimamente os requisitos sanitários dos edifícios; a manutenção e a higienização das instalações, dos equipamentos e dos utensílios; o controle de vetores e pragas urbanas, o abastecimento de água e controle de resíduos, os requisitos para compra e armazenamento de matérias-primas, ingredientes e embalagens e preparo dos alimentos, e o armazenamento, transporte e exposição ao consumo do alimento preparado (Brasil, 2004). O MBP é um documento exclusivo do serviço de alimentação e deve estar disponível a todos os funcionários a fim esclarecer as dúvidas das rotinas e dos processos. A Resolução dispõe também que os serviços de alimentação devem ter um responsável técnico, que pode ser o proprietário ou funcionário designado, comprovadamente capacitado sobre contaminantes alimentares, doenças transmitidas por alimentos, manipulação higiênica dos alimentos e boas práticas, conteúdos abordados por este curso. Estabelece ainda que tais serviços devem implementar e disponibilizar aos funcionários Procedimentos Operacionais Padronizados (POP), relacionados aos itens: higienização de instalações, equipamentos e móveis; controle integrado de vetores e pragas urbanas; higienização do reservatório de água; e higiene e saúde dos manipuladores. Esses itens serão discutidos nos próximos temas. 8 O POP é um documento que descreve passo a passo a execução das tarefas. Ele deve ser aprovado, datado e assinado pelo responsável do estabelecimento e ser assim estruturado: 1. Nome, número e definição do objetivo do POP: por exemplo, “POP 1 – Higienização de pisos, ralos e rodapés: higienizar corretamente a fim de garantir as condições higiênico-sanitárias do estabelecimento”. 2. Definição dos materiais necessários: detergentes, saneantes, utensílios (como vassouras e rodos) e equipamentos (como pressurizadores de água, se for o caso). 3. Definição dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) necessários: para higienização de pisos, botas com solado antiderrapante e luvas de borracha. 4. Estabelecimento da frequência da operação ou periodicidade: definida pelo responsável técnico com a finalidade de garantir as condições higiênico-sanitárias (exemplo: imediatamente após o uso, diariamente, semanalmente, quinzenalmente). 5. Descrição do procedimento, passo a passo (de forma simples, concisa, de fácil leitura e interpretação): as etapas podem ser numeradas e/ou, se necessário, se utilizar um esquema ou desenho que as ilustre. Para o exemplo de higienização de pisos, ralos e rodapés, temos: • remover os resíduos sólidos com vassoura e pá; • espalhar solução detergente e esfregar com vassoura; • enxaguar com mangueira ou balde com água; • remover o excesso de água com rodo. 6. Definição do funcionário responsável pela operação. 7. Definição da ação corretiva: a ação corretiva contempla falhas no processo e a atitude a ser tomada nesse caso. Por exemplo, caso haja derramamento de óleo no piso, o procedimento deverá ser repetido até que o piso esteja limpo. 8. Rodapé da página: o rodapé é útil para a organização do documento, e traz informações como “elaborado por”, “aprovado por”, “data da elaboração” e número da revisão, se for o caso. Os procedimentos de higienização e os controles realizados devem ser registrados em planilhas para a comprovação da realização, além de gerar 9 subsídios para melhoria das rotinas e corrigir falhas de processo. Essas planilhas devem ser arquivadas por, no mínimo, 30 dias. Veremos exemplos nos próximos temas. TEMA 2 – HIGIENE DE AMBIENTES, UTENSÍLIOS E EQUIPAMENTOS A higiene do ambiente, dos utensílios e equipamentos é indispensável para a produção de um alimento seguro, além da adequada higiene dos alimentos, da saúde dos manipuladores e do apropriado funcionamento do serviço de alimentação. 2.1 Funcionamento do serviço de alimentação Em situações de surtos (aumento repentino do número de casos, dentro de limites muito restritos, como por exemplo várias crianças com infecção respiratória em uma escola), epidemias (aumento do número de casos de determinada doença muito acima do esperado e não delimitado a uma região) e pandemias (número de casos de doença acima do esperado, sem respeitar limites entre países ou continentes, como Aids, tuberculose e COVID-19), os proprietários e responsáveis técnicos pelos serviços de alimentação devem avaliar a situação, entender a gravidade do problema e avaliar a necessidade de manutenção ou adequação do serviço de alimentação e nutrição durante o estado de alerta. É preciso que obedeçam às recomendações e normativas municipais, estaduais e federais, visto que há a indispensabilidade de se assegurar uma alimentação adequada e saudável para a população. Dessa forma, eventualmente devem ser realizadas alternativas para reduzir agrupamentos de pessoas em serviços de alimentação e nutrição. Veja no Quadro 3 algumas sugestões. 10 Quadro 3 – Soluções alternativas para reduzir agrupamentos de pessoas em serviços de alimentação e nutrição Fonte: Adaptado de CFN, 2020, p. 9. 2.2 Boas práticas para serviços de alimentação: edificação, instalações, equipamentos, móveis e utensílios e recomendações de higienização A Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) n. 216/2004 estabelece as boas práticas para serviços de alimentação e prevê que as instalações devem possibilitar um fluxo ordenado e contínuo (Figura 4) em todas as etapas do preparo dos alimentos, a fim de evitar acidentes e/ou contaminação cruzada (transferência de micro-organismos patogênicos de um alimento contaminado, normalmente cru, para outro). Elas precisam estar adequadas ao preparo dos alimentos e construídas de forma a facilitar a higienização e manutenção, quando necessário. O acesso de pessoas deve ser controlado e independente, não comum a outros ambientes, como residências ou garagens. As áreas do estabelecimento devem estar organizadas, sem objetos em desuso nem a presença de animais. Ampliar horário de atendimento Fracionar os clientes em turnos Definir horário exclusivo para grupos de risco Substituir refeições por entrega de cestas de alimentos ou marmitas, com estratégias para evitar filas Substituir o autosserviço/bufê por prato feito/marmitas ou, no mínimo, evitar o manuseio livre dos talheres de servir, utilizando luvas ou papel- toalha pelos clientes Aumentar para dois metros a distânciaentre as pessoas/mesas 11 Figura 4 – Fluxo ordenado e sem cruzamentos de um serviço de alimentação Crédito: TeraVector/Shutterstock. Os revestimentos de pisos, paredes e teto devem ser lisos, laváveis e impermeáveis. Toda a estrutura precisa ter boa conservação, sem rachaduras, vazamentos, infiltrações, bolores e descascamentos, para evitar contaminação dos alimentos. É necessário que as instalações elétricas sejam embutidas ou protegidas contra explosão, quedas acidentais e permitir a higienização (Figura 5). Figura 5 – Modelo de luminária com proteção contra explosão Crédito: Magnon Almeida As portas e as janelas precisam fechar adequadamente. As portas da área de preparo e armazenamento de alimentos devem ter fechamento automático – veja na Figura 6 um exemplo. As aberturas externas (portas e janelas) e o sistema de exaustão das áreas de armazenamento e preparação de alimentos devem ter telas milimetradas em perfeito estado de conservação para impedir a entrada de vetores e pragas urbanas. As telas devem ser removíveis para limpeza adequada. O local deve ser bem ventilado, e o fluxo de ar não deve dirigir sobre os alimentos. Fluxo de produção de alimentos 12 Figura 6 – Mola área de fechamento automático para porta Crédito: Somsit/Shutterstock. As instalações do serviço de alimentação devem ter água corrente e rede de esgoto ou fossa séptica. Se houver ralos, estes devem ser sifonados (o ralo sifonado tem uma bolsa que mantém um pouco de água parada evitando que os gases retornem ao ambiente), e as grelhas devem ter dispositivo de fechamento (Figura 7). Figura 7 e Figura 8 – Exemplos de sifão sifonado e grelha de ralo com fechamento Crédito: Premium Art/Shutterstock; Murugesan Sundaram/Shutterstock. As instalações sanitárias e os vestiários não podem se ligar com as áreas de produção e armazenamento de alimentos ou refeitórios. As instalações sanitárias devem ter lavatórios, papel higiênico, sabonete líquido inodoro antisséptico ou sabonete líquido inodoro e produto antisséptico e toalhas de papel não reciclado ou outro sistema higiênico para secagem das mãos. Os coletores de resíduos devem ter tampa e funcionar sem contato com as mãos. Na área de manipulação de alimentos deve haver lavatórios exclusivos para a higiene das mãos, em posições estratégicas. 13 O termo higienização compreende duas etapas: limpeza e desinfecção. O processo de limpeza compreende a remoção de substâncias indesejáveis, tais como terra, poeira, gordura e outras sujidades. Já a desinfecção é uma operação de redução, por método físico e/ou agente químico, de micro-organismos em nível que não comprometa a qualidade higiênico-sanitária do alimento. Os produtos saneantes utilizados devem estar regularizados pelo Ministério da Saúde e o seu modo de uso precisa seguir às instruções do fabricante, além de se verificarem no rótulo do produto o nome da empresa fabricante, o modo de aplicação e o número de registro no Ministério. Os produtos saneantes devem ser identificados e guardados em local específico. Os utensílios utilizados na higienização de equipamentos e do local devem estar conservados, limpos e guardados em local adequado e separado. Os funcionários encarregados da higienização das instalações sanitárias devem utilizar uniformes apropriados e diferenciados daqueles utilizados na manipulação de alimentos e devem cuidar com a contaminação dos alimentos. As instalações, os equipamentos, os móveis e os utensílios devem ser mantidos em condições higiênico-sanitárias adequadas. A área de preparo do alimento deve ser higienizada quantas vezes for necessário e logo após o término do trabalho/turno. São exemplos de locais de limpeza diária: pisos, rodapés e ralos, áreas de lavagem e de produção, bancadas, pias, sanitários, cadeiras e mesas do refeitório, maçanetas e recipientes de lixo. Estes últimos devem ser limpos na área externa da cozinha, em local próprio para essa finalidade, com esponja específica. Semanalmente, portas, paredes, janelas, prateleiras, armários, câmaras frias, freezers, geladeiras, exaustores e coifas e demais equipamentos devem ser higienizados; quinzenalmente, estrados, caixas de gordura; mensalmente, luminárias, interruptores, tomadas e telas de aberturas; semestralmente, caixa d’água. A limpeza deve ser iniciada com lavagem com água e sabão, secagem e sanitização com produto recomendado. Durante o processo, apenas a pessoa responsável pela ação deve permanecer na área. Essas rotinas devem estar descritas no POP de higienização de instalações, equipamentos, móveis e utensílios. A higienização das instalações e equipamentos, quando não realizada rotineiramente, deve ser registrada em planilhas. Todos os utensílios e equipamentos do serviço devem ser higienizados e sanitizados com álcool a 70% ou solução clorada antes do início da distribuição, 14 a cada turno e sempre que necessário. Para a limpeza e desinfecção frequente de bancadas, cadeiras, maçanetas, corrimões e demais superfícies, pode-se utilizar solução clorada (hipoclorito de sódio a 0,1% - 50 ml de hipoclorito de sódio em 1 litro de água). É preciso que haja utensílios de limpeza (baldes, panos, esponjas, vassouras etc.) específicos e separados para sanitários e vestiários. Vassouras não devem ser utilizadas para varrer na área de alimentos. Vale lembrar que objetos nas mesas dos consumidores podem ser potenciais veículos de contaminação como jogos americanos, displays de propaganda, porta- guardanapos, galheteiros, ornamentos e outros. 2.3 Qualidade da água, manejo de resíduos e controle integrado de vetores e pragas urbanas Nos serviços de alimentação, deve ser utilizada somente água potável para manipulação de alimentos. Quando for alguma solução alternativa de abastecimento de água, a potabilidade deve ser atestada semestralmente mediante laudos laboratoriais. O gelo para utilização em alimentos deve ser fabricado com água potável e mantido em condição higiênico-sanitária que evite sua contaminação. O reservatório de água deve ser revestido de materiais que não comprometam a qualidade da água, além de livre de vazamentos, infiltrações, descascamentos, em adequado estado de higiene e conservação, tampado e higienizado, no máximo, semestralmente, com registros do procedimento. O processo de higienização desse reservatório deve estar descrito em um POP, como vimos no Tema 1. Quanto ao manejo de resíduos, o estabelecimento de alimentação deve ter recipientes identificados e íntegros, com tampa, sem acionamento manual, de fácil higienização e transporte. Os resíduos devem ser frequentemente coletados e armazenados em local fechado e isolado da área de preparo e armazenamento dos alimentos, a fim de evitar contaminação, vetores e pragas urbanas. Em relação ao controle integrado de vetores e pragas urbanas, é preciso haver várias medidas eficazes e contínuas, visto que as instalações de alimentos devem ser livres de vetores e pragas urbanas. 15 Quando as medidas de prevenção adotadas não forem eficazes, o controle químico deve ser empregado e executado por empresa especializada, com produtos desinfetantes regularizados pelo Ministério da Saúde. Equipamentos e os utensílios, antes de reutilizados, devem ser higienizados para remoção dos resíduos dos produtos. Todos os procedimentos adotados para o controle e eliminação de vetores e pragas urbanas devem estar descritos em um POP, conforme visto no Tema 1. TEMA 3 – HIGIENE DE ALIMENTOS Os cuidados com a higiene na manipulação dos alimentos são fundamentais para controlar a contaminação e evitar as doenças transmitidas por alimentos. Por isso, a atenção ao alimento deve ocorrer desde a escolha do fornecedor deles até a entrega ao consumidor. 3.1 Validação de fornecedores e matérias-primas Os serviços dealimentação devem especificar os critérios para avaliação e seleção dos fornecedores de matérias-primas, ingredientes e embalagens. Esse procedimento é chamado homologação de fornecedores. São exemplos de requisitos para tal avaliação e seleção: • alvarás e autorizações de funcionamento e de fornecimento de produtos; • documentos e registros que comprovem a implantação de programas de qualidade; • evidências da existência e habilitação do responsável técnico; • evidências da capacitação dos profissionais envolvidos; • dados de mercado: outros clientes, existência de processos, reclamações; • resultado da auditoria no local (observação e análise in loco das condições do fornecedor e de fornecimento); • observação das condições de transporte. As matérias-primas, os ingredientes e as embalagens devem ser submetidos à inspeção e aprovados na recepção. No ato do recebimento, as temperaturas dos produtos que necessitam de condições especiais de temperatura devem ser conferidas e registradas em planilhas (Quadro 4). 16 Quadro 4 – Modelo de planilha de recebimento de mercadorias Data Produto Temperatura Responsável A seguir, elencamos as recomendações de temperaturas de alimentos a serem conferidas no ato de recebimento no serviço de alimentação: • Congelados: -12 °C ou temperatura menor, ou conforme recomendação do fabricante; • Refrigerados: pescados de 2 a 3 ºC ou conforme recomendação do estabelecimento produtor; • Carnes: de 4 a 7 ºC ou conforme recomendação do frigorífico produtor; • Demais produtos: de 4 a 10 ºC ou conforme recomendação do fabricante. No armazenamento, as matérias-primas, os ingredientes e as embalagens devem ser estocados em local limpo e organizado, sobre paletes, estrados ou prateleiras, respeitando-se o espaçamento mínimo necessário à adequada ventilação e limpeza. Paletes, estrados e/ou prateleiras devem ser de material liso, resistente, impermeável e lavável. Os insumos devem ser adequadamente armazenados, identificados e utilizados dentro do prazo de validade. 3.2 Preparo, armazenamento de alimentos e higienização de frutas, legumes e verduras Durante o preparo dos alimentos, é preciso que sejam adotadas medidas para minimizar o risco de contaminação cruzada (transferência de micro- organismos patogênicos de um alimento contaminado, normalmente cru, para outro). Portanto, deve-se evitar o contato entre alimentos crus, semipreparados e prontos para o consumo. Os funcionários que manipulam alimentos crus devem realizar a higienização das mãos antes de manusear outros alimentos. 17 Alimentos perecíveis devem permanecer em temperatura ambiente somente pelo tempo mínimo necessário para a preparação do alimento, a fim de não comprometer a qualidade higiênico-sanitária do que está sendo preparado. Quando as matérias-primas e os ingredientes não forem utilizados em sua totalidade, devem ser acondicionados e identificados com as informações: designação do produto, data de fracionamento e prazo de validade após a abertura ou retirada da embalagem original. Quando aplicável, antes de iniciar a preparação dos alimentos, as embalagens das matérias-primas e dos ingredientes devem ser limpas para minimizar o risco de contaminação. Caso o alimento seja armazenado sob refrigeração ou congelamento, deve-se identificá-lo com: nome do produto, data de preparo e prazo de validade. A temperatura de armazenamento deve ser monitorada e registrada em planilha. As temperaturas de armazenamento de produtos sob congelamento e sob refrigeração devem obedecer às recomendações dos fabricantes indicadas nos rótulos. Na ausência dessas informações e para alimentos preparados no estabelecimento, devem ser usadas as recomendações listadas nos Quadros 5 e 6. Quadro 5 – Recomendações de temperatura de armazenamento para alimentos congelados Produtos congelados Temperatura recomendada (graus Celsius) Prazo de validade (dias) 0 a -5 (entre zero e cinco graus negativos) 10 - 6 a -10 (entre seis e dez graus negativos) 20 -11 a -18 (entre 11 e 18 graus negativos) 30 < -18 (menor que 18 graus negativos) 90 Fonte: São Paulo, 2013. 18 Quadro 6 – Recomendações de temperatura de armazenamento para alimentos resfriados Produtos resfriados Temperatura (°C) Validade (dias) Pescados e seus produtos manipulados crus Máximo 2 3 Pescados pós-cocção Máximo 2 1 Alimentos pós-cocção, exceto pescados Máximo 4 3 Carnes bovina e suína, aves e outras, e seus produtos manipulados crus Máximo 4 3 Espetos mistos, bife rolê, carnes empanadas cruas e preparações com carne moída Máximo 4 2 Frios e embutidos, fatiados, picados ou moídos Máximo 4 3 Maionese e misturas de maionese com outros alimentos Máximo 4 2 Sobremesas e outras preparações com laticínios Máximo 4 3 Demais alimentos preparados Máximo 4 3 Produtos de panificação e confeitaria com coberturas e recheios, prontos para o consumo Máximo 5 5 Frutas, verduras e legumes higienizados, fracionados ou descascados; sucos e polpas de frutas Máximo 5 3 Leite e derivados Máximo 7 5 Ovos Máximo 10 7 Fonte: São Paulo, 2013. O estabelecimento deve, ainda, implementar e manter documentadas as planilhas de controle e a garantia da qualidade dos seus alimentos. Quanto à higienização de frutas, verduras e legumes, deve-se, primeiramente, avaliar a força com que esse alimento será servido. Frutas, verduras e legumes que serão consumidos in natura, sem sofrer tratamento 19 térmico, desde que não sejam retiradas as cascas, devem ser higienizados. O procedimento de higienização compreende duas etapas: • limpeza (para remoção da sujeira visível, como terra, insetos), que deve ser feita sob água potável e, quando for o caso, detergente neutro e escova com cerdas de náilon exclusivas para essa finalidade; • sanitização (para remoção da contaminação), que deve ser feita com imersão em solução sanitizante por 15 minutos e posterior enxágue. Importante A solução sanitizante a 200 ppm é 10 ml de água sanitária (2,0 a 2,5% de cloro ativo) para cada litro de água. Observações importantes: • A solução clorada deve garantir a concentração mínima de 200 ppm de cloro livre em solução para garantir a desinfecção adequada. • O produto à base de cloro a ser utilizado na desinfecção deve ter registro no Ministério da Saúde. • A solução clorada é instável e volátil. Para reaproveitamento, deve-se monitorar a solução com fita monitora de ppm (partes por milhão). 3.3 Descongelamento e dessalgue, tratamento térmico, resfriamento de alimentos, conservação, transporte e exposição do alimento preparado Alimentos congelados devem ser descongelados antes do tratamento térmico para garantir adequada penetração do calor. Excetuam-se os casos em que o fabricante recomenda que eles sejam submetidos ao tratamento térmico ainda congelado. O descongelamento deve ser feito sob refrigeração em temperatura inferior a 5 ºC ou em forno de micro-ondas (quando for submetido imediatamente à cocção). Os alimentos descongelados precisam ser mantidos sob refrigeração se não forem imediatamente utilizados, mas não devem ser recongelados. O processo de dessalgue consiste na retirada do excesso de sal adicionado aos alimentos salgados e pode ser feito de duas maneiras: • sob refrigeração, com o produto imerso em água, em temperatura não superior a 5 °C; 20 • por meio de fervura com trocas constantes de água. Após o dessalgue sob fervura, é necessário resfriar adequadamente o produto até a sua utilização. O tratamento térmico deve garantir que todas as partes do alimento atinjam a temperatura mínima de 70 ºC. Temperaturas inferiores podem ser utilizadas desde que as combinações de tempo e temperatura sejam suficientes para assegurar a qualidade higiênico-sanitária dos alimentos. Os óleose gorduras utilizados devem ser aquecidos a temperaturas não superiores a 180 ºC, sendo substituídos sempre que houver alteração das características físico-químicas ou sensoriais como aroma, sabor e formação intensa de espuma e fumaça. Para conservação sob refrigeração ou congelamento, os alimentos devem ser submetidos ao processo de resfriamento. O processo objetiva minimizar o risco de contaminação cruzada e a permanência deste em temperaturas que favoreçam a multiplicação microbiana. Assim, a temperatura do alimento preparado deve ser reduzida de 60 ºC a 10 ºC em até duas horas. Em seguida, ele deve ser conservado sob refrigeração a temperaturas inferiores a 5 ºC, ou congelado à temperatura igual ou inferior a -18 ºC. Após a cocção, os alimentos devem ser mantidos em condições de tempo e de temperatura que não favoreçam a multiplicação microbiana. O Quadro 7 ilustra o tempo máximo de exposição dos alimentos conforme a temperatura do alimento em seu centro geométrico. Quadro 7 – Relação de temperatura e tempo de exposição de alimentos prontos Temperatura no centro geométrico (° C) Tempo de exposição (horas) Alimentos quentes Mínima de 60 Máximo 6 Abaixo de 60 Máximo 1 Alimentos frios Até 10 Máximo 4 Entre 10 e 21 Máximo 2 Fonte: São Paulo, 2013. Os alimentos preparados mantidos na área de armazenamento ou aguardando o transporte devem estar identificados (nome do produto, data de 21 preparo e prazo de validade) e protegidos contra contaminantes. É importante ressaltar que o armazenamento e o transporte do alimento preparado, da distribuição até a entrega ao consumo, devem ocorrer em condições de tempo e temperatura que não comprometam sua qualidade higiênico-sanitária, e a temperatura do alimento preparado deve ser monitorada durante essas etapas. Os veículos de transporte do alimento preparado devem ser higienizados e ter medidas para garantir a ausência de vetores e pragas urbanas. Também devem ser dotados de cobertura para proteção da carga, não devendo transportar outras cargas que comprometam a qualidade higiênico-sanitária do alimento preparado. As áreas de exposição e os equipamentos de exposição do alimento pronto devem estar organizados e em adequadas condições higiênico-sanitárias. A temperatura desses equipamentos deve ser monitorada e registrada. O equipamento de exposição do alimento na área de consumo deve ter barreiras de proteção que previnam a contaminação em decorrência da proximidade ou da ação do consumidor. Utensílios como pratos, copos, talheres, quando não descartáveis, devem ser higienizados e armazenados em local protegido. Os manipuladores devem minimizar o risco de contaminação dos alimentos prontos com a antissepsia das mãos e com o uso de utensílios ou luvas descartáveis. A área onde se realiza recebimento de dinheiro e cartões deve ser reservada. Os funcionários responsáveis por essa atividade não devem manipular alimentos. TEMA 4 – HIGIENE PESSOAL, EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E CONTROLE DE SAÚDE DOS MANIPULADORES Os cuidados com a higiene pessoal, a saúde e segurança do manipulador de alimentos são imprescindíveis nos serviços de alimentação para a produção de um alimento seguro. Mas, quem é o manipulador de alimentos? É todo funcionário do serviço de alimentação que entra em contato de forma direta ou indireta com o alimento; todos os que recebem, armazenam, preparam e distribuem os alimentos, além daqueles que realizam a limpeza de todas as áreas. Assim, a forma de garantir os cuidados de higiene, segurança e saúde 22 deve estar listada no Manual de Boas Práticas de Manipulação do seu serviço de alimentação para que todos possam ter acesso a ele, caso haja dúvidas. 4.1 Comportamento do manipulador: uniformização e hábitos de higiene Os manipuladores devem ter asseio pessoal, apresentando-se com uniformes compatíveis à atividade, conservados e limpos (Figura 8). Os uniformes devem ser trocados, no mínimo, diariamente e usados apenas nas dependências internas do estabelecimento. Roupas e objetos pessoais devem ser guardados em local específico. Figura 8 – Modelo de uniformização de um manipulador de alimentos Crédito: Gorodenkoff/Shutterstock. Os manipuladores devem lavar cuidadosamente as mãos ao chegar ao trabalho, antes e depois de manipular alimentos, após qualquer interrupção do serviço, após tocar materiais contaminados, após usar os sanitários e sempre que se fizer necessário. Devem ser afixados cartazes de orientação aos manipuladores sobre a correta lavagem e antissepsia das mãos (Figura 9) e demais hábitos de higiene, em locais de fácil visualização, inclusive nas instalações sanitárias e lavatórios. 23 Figura 9 – Modelo de cartaz sobre higienização das mãos Crédito: elenabsl/Shutterstock. Outro ponto importante diz respeito à etiqueta da tosse e higiene respiratória. Deve-se cobrir a boca ou o nariz com a parte interna do cotovelo quando tossir ou espirrar (Figura 10); no caso de usar lenços, descartá-los em coletor apropriado e higienizar adequadamente as mãos. 24 Figura 10 – Etiqueta da tosse e higiene respiratória Crédito: stas11/Shutterstock. Durante o desempenho das atividades, os manipuladores de alimentos não devem fumar, falar desnecessariamente, cantar, assobiar, espirrar, cuspir, tossir, comer, manipular dinheiro ou praticar outros atos que possam contaminá- los. Devem trabalhar com os cabelos presos e protegidos por redes (Figura 11), toucas ou outro acessório apropriado para esse fim, não sendo permitido o uso de barba nem bigode. As unhas devem estar curtas e sem esmalte ou base. Durante a manipulação, devem ser retirados todos os objetos de adorno pessoal e a maquiagem. Os visitantes devem cumprir os mesmos requisitos de higiene e de saúde estabelecidos para os manipuladores. São considerados visitantes os entregadores, clientes e funcionários terceirizados de manutenção, entre outros. Figura 11 – Modelo de cabelos presos para manipuladores de alimentos Crédito: Jacob Lund/Shutterstock. 25 4.2 Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) São Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) do manipulador de alimentos: luvas, óculos de proteção, protetor auricular, calçados de segurança e botas de borracha, máscara facial, jaquetas térmicas e avental de napa. Vamos falar sobre cada um deles. Quando falamos de luvas, é preciso estabelecer dois critérios: luvas para proteção dos alimentos (luvas descartáveis ou nitrílicas) e luvas para proteção do manipulador (luvas de borracha, de malha de aço e térmica). Os diferentes tipos são aplicáveis a situações específicas, como a seguir: • Luvas descartáveis: quando não houver outra opção, o uso é recomendado na manipulação de alimentos prontos para o consumo e no preparo daqueles que não sofrerão tratamento térmico. Devem também ser usadas nas aferições de temperatura dos alimentos, na preparação das mesas e em qualquer situação que constitua risco de contaminação cruzada. Devem ser empregadas apenas para a finalidade a que destina e descartadas imediatamente. O uso de luvas descartáveis não substitui a correta higienização as mãos. É proibido o uso dessas luvas em superfícies quentes, equipamentos emissores de calor, na operação de máquinas de moagem ou na manipulação e uso de água quente. Devem ser específicas para a manipulação de alimentos, sem talco ou substâncias lubrificantes. • Luvas de borracha: devem ser usadas para higienização, visando à proteção do manipulador contra agentes biológicos (fungos, bactérias, vírus) e agentes químicos (produtos de limpeza). Essas luvas devem ser de uso individual e mantidas em bom estado de higiene e conservação, trocadas sempre que deixar de oferecer proteção (se furadas ou rasgadas). • Luvas térmicas: devem ser usadas na manipulação de utensíliosquentes no forno ou fogão. Precisam ser mantidas em bom estado de higiene e conservação. • Luvas de malha de aço: devem ser usadas para proteção das mãos contra corte no manuseio de facas e serras fitas. Quando do manuseio de facas, a luva deve proteger a mão contrária àquela que segura a faca. Devem ser mantidas em bom estado de higiene e conservação. 26 Assim como para o uso de luvas, o uso de máscaras obedece ao mesmo critério: máscara para proteção do alimento e máscara para proteção do manipulador. Recomenda-se o uso de máscara para proteção do manipulador quando os procedimentos de higienização envolvam produtos químicos que possam ser inalados (limpadores alcalinos para fornos, por exemplo). A utilização de máscaras no desempenho das demais atividades do manipulador em serviços de alimentação não é recomendada, pois, se usada indevidamente, pode facilitar a permanência de vírus e bactérias. O funcionário que apresentar algum sintoma respiratório deve ser afastado das atividades. O uso de óculos de proteção se aplica também aos procedimentos de higienização que envolvam produtos químicos e para o preparo de alimentos em chapas e fritadeiras. Já os protetores auriculares são indicados para a proteção do manipulador em ambientes com ruídos além do aceitável, produzidos por máquinas e equipamentos. Os uniformes – calças e jalecos – devem ser adequados a cada atividade, completos, fechados, de cor clara, sem botões ou bolsos acima da cintura. Devem ser mantidos em bom estado de higiene e conservação, trocados diariamente e utilizados somente nas dependências da empresa. Aqueles utilizados nas atividades de manutenção e higienização devem ser diferenciados. Para o trabalho realizado em áreas molhadas, o uso de avental de napa é recomendado para proteção do uniforme. Quem opera câmaras frias devem utilizar jaquetas térmicas, que precisam estar disponíveis logo na porta dos equipamentos. Esses EPI são de uso coletivo. Os calçados adequados aos manipuladores de alimentos são a bota de borracha (de cano alto) e o sapato de segurança. Ambos têm solado antiderrapante e protegem contra escorregões e quedas, contra água e contra choque com algum objeto que possa machucar os pés. Esses EPIs são de uso pessoal, devem ser mantidos em bom estado de higiene e conservação e trocados sempre que deixarem de oferecer proteção ao manipulador. 4.3 Saúde e segurança no trabalho e capacitação de manipuladores Os manipuladores e entregadores que apresentarem lesões e/ou sintomas de enfermidades que possam comprometer a qualidade higiênico- sanitária dos alimentos devem ser afastados da atividade de preparação de alimentos enquanto persistirem essas condições de saúde. 27 O controle de saúde dos manipuladores deve ser registrado e realizado anualmente de acordo com a Norma Regulamentadora n. 7 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que determina a implantação do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), elaborado por médico do trabalho e que estabelece os exames médicos necessários ao acompanhamento da saúde dos funcionários e à prevenção contra doenças (Brasil, 1978). Os exames exigidos são: hemograma, coprocultura e coproparasitológico. Outros exames adicionais podem ser realizados, de acordo com o perfil clínico epidemiológico da atividade como micológico de unhas, audiometria e cultura de orofaringe. Os resultados dos exames compõem os Atestados de Saúde Ocupacional (ASO) dos funcionários, que devem ser mantidos atualizados e disponíveis às autoridades sanitárias, quando solicitados. Além dos cuidados em saúde, os manipuladores de alimentos devem ser supervisionados e capacitados periodicamente em higiene pessoal, em manipulação higiênica dos alimentos e em doenças transmitidas por alimentos. Sugere-se organizar o calendário anual com os temas propostos. Devem ser mantidos registros da participação dos funcionários nas atividades de capacitação, de modo a evidenciá-las. Para aquelas realizadas dentro da empresa, deve ser mantida lista de presença, contendo, no mínimo, conteúdo abordado, responsável pela atividade, carga horária, data da realização e assinatura de cada participante. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste curso, aprendemos sobre os perigos nos alimentos, como prevenir as DTA, além de fornecer subsídios para o responsável técnico iniciar a elaboração do Manual de Boas Práticas de Manipulação de Alimentos. Abordamos a higiene de ambientes, utensílios e equipamentos, o monitoramento da qualidade da água, o manejo de resíduos, o controle integrado de vetores e pragas urbanas, os cuidados necessários com os alimentos desde a sua recepção no serviço de alimentação até a exposição dos alimentos para o consumo seguro, com os equipamentos de proteção individual e coletivos que podem ser utilizados durante o trabalho para o bem-estar, saúde e conforto dos manipuladores de alimentos. Por fim, apresentamos o controle periódico de 28 saúde dos manipuladores e os cursos de capacitação e educação continuada que devem ser realizados frequentemente. De posse de todas essas informações, agora é possível montar ou, se necessário, sugerir atualizações no Manual de Boas Práticas de Manipulação de Alimentos do seu serviço de alimentação. Saiba mais Para saber mais sobre os assuntos discutidos em nossa aula, acesse os artigos disponíveis nos links a seguir. • <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24915334>; • <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-974775>. 29 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças transmitidas por alimentos: causas, sintomas, tratamento e prevenção. [S.d.]. Disponível em: <https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/doencas-transmitidas-por-alimentos>. Acesso em: 16 abr. 2020. ______. Ministério da Saúde. Guia para Investigações de Surtos ou Epidemias. Brasília: Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis, 2018. ______. Ministério da Saúde. Manual integrado de vigilância, prevenção e controle de doenças transmitidas por alimentos. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010. ______. Ministério da Saúde. Resolução n. 216, de 15 de setembro de 2004. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, 16 set. 2004. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/388704/RESOLU%25C3%2587% 25C3%2583O- RDC%2BN%2B216%2BDE%2B15%2BDE%2BSETEMBRO%2BDE%2B2004.p df/23701496-925d-4d4d-99aa-9d479b316c4b>. Acesso em: 16 abr. 2020. ______. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora n. 7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional. Diário Oficial da União, Brasília, 06 jul. 1978. Disponível em: <http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/nr-7-atualizada-2018.pdf>. Acesso em: 16 abr. 2020. CFN – Conselho Federal de Nutricionistas. Boas Práticas para a atuação do nutricionista e do técnico em nutrição e dietética durante a pandemia do novo coronavírus (covid-19). Brasília: CFN, 2020. Disponível em: <https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/2020/03/nota_coronavirus_3- 1.pdf>. Acesso em: 16 abr. 2020. PIENIZ, S. et al. Identificação molecular e avaliação microbiológica de isolados de equipamentos e superfícies de contato com alimentos em uma unidade hospitalar de nutrição e nutrição. Braz J Biol., v. 79, n. 2, p. 191-200, 2019. SÃO PAULO (Estado). Centro de Vigilância Sanitária. Portaria CVS 5, de 9 de abril de 2013. Diário Oficial do Estado, Poder Executivo, São Paulo, 19 abr. 30 2013. Disponível em: <http://www.cvs.saude.sp.gov.br/up/PORTARIA%20CVS- 5_090413.pdf>. Acesso em: 16 abr. 2020. TUCANOBRASIL. [S.d.]. Disponível em: <http://www.tucanobrasil.com.br/explo/lumex/lum_ex.htm>. Acesso em: 16 abr. 2020. WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Home care for patients with COVID-19 presenting with mild symptoms and management of their contacts. Geneva:WHO, 2020. ______. Food safety. Infographics: estimates of the global burden of foodborne diseases. 2015. Disponível em: <https://www.who.int/foodsafety/areas_work/foodborne- diseases/ferg_infographics/en/>. Acesso em: 16 abr. 2020.
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