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AUDITORIA TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIA AULA 6 Profª Sayuri Unoki de Azevedo 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula trataremos dos papéis de trabalho da auditoria, abordando como elaborá-los e revisá-los. Você também entenderá sobre o relatório de auditoria e como a empresa deve proceder em relação ao planejamento das correções dos apontamentos de auditoria, com o cronograma de ações direcionado para o aperfeiçoamento dos controles internos. Por fim, contextualizaremos sobre o papel dos controles internos e do compliance em relação à auditoria trabalhista e previdenciária. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO A Folha de Pagamentos é, na grande maioria dos casos, o maior custo dentro de uma empresa e, um bom sistema de controles internos para a redução de riscos e custos, que conjugue o cumprimento das regras legais, poderá reduzir os custos, mas sem dúvida alguma irá reduzir riscos e custos fiscais e trabalhistas. (Rezende, 2018, n/a) Nesse sentido, as auditorias são relevantes para verificação das questões legais e normatizadoras condizentes à empresa em que estão auditando, auxiliando a gestão para regularização de inconsistências de controles internos e compliance, inclusive relacionada às questões trabalhistas e previdenciárias. TEMA 1 – PAPÉIS DE TRABALHO Para consecução do trabalho delineado no programa de auditoria, o auditor se utiliza de papéis de trabalho, que são os seus registros em relação aos procedimentos executados e se destinam a amparar o planejamento e a execução da auditoria, facilitando o processo de revisão do trabalho. Além disso, busca apoiar o registro das constatações do que foi executado pela auditoria, para que o objetivo final esteja em acordo com o parecer do auditor (Almeida, 2010). Attie (2011) relata que o papel de trabalho tem por finalidade permear a justificativa do trabalho feito, as conclusões alcançadas que serviram de base para os relatórios ou pareceres sobre as demonstrações. Quando executado, considerando seus aspectos fundamentais: completabilidade, objetividade, concisão, lógica e limpeza, também servem como fonte de informação para consultas, permitindo adequada revisão para determinar se o serviço foi feito de forma efetiva e julgar a solidez das conclusões enunciadas, bem como poder https://portaldeauditoria.com.br/seis-aspectos-importantes-que-o-rh-precisa-saber-da-lei-13-42917-terceirizacao-e-trabalho-temporario/ 3 facilitar o estudo e avaliação dos controles e avaliar o desempenho individual do auditor. Os papéis de trabalho: Formam o conjunto de formulário e documentos que contêm as informações e apontamentos obtidos pelo auditor durante seu exame, bem como as provas descrições dessas realizações; constituem a evidência do trabalho executado e o fundamento da sua opinião. (Attie, 2011, p. 233) Os papéis de trabalho são essenciais para a organização e andamento da auditoria, bem como para elaboração do respectivo relatório. Estes devem ser arquivados em pastas próprias, ou seja, uma para papéis correntes e outra para os papéis permanentes. Na frente da pasta, devem estar identificados o nome da empresa, a data base do exame e o índice dos papéis de trabalho. Na empresa de auditoria, os papéis de trabalho devem ser armazenados em local fechado, com o controle de entrada e saída de pessoas e protegidos contra incêndio. Além disso, conforme a CVM e CFC, os papéis de trabalho do auditor devem ser conservados em boa guarda pelo prazo de cinco anos. TEMA 2 – ELABORAÇÃO E REVISÃO DOS PAPÉIS DE TRABALHO Neste tópico, trataremos da elaboração, codificação e revisão dos papéis de trabalho. Salienta-se que não há um padrão para elaboração dos papéis de trabalho, e sim um direcionamento quanto à disposição das informações e utilização de referências cruzadas, notas e tickmarks. Nesse sentido, um papel de trabalho elaborado por um determinado auditor nunca será igual ao papel de trabalho de outro auditor, diante da subjetividade existente na forma de apresentação dos procedimentos realizados. 2.1 Elaboração dos papéis de trabalho Com o avanço tecnológico, os papéis de trabalho são elaborados em arquivos eletrônicos. Contudo, em caso de necessidade de serem desenvolvidos em meio físico, recomenda-se serem feitos de lápis preto, como antigamente, e não se deve usar o verso da folha. Normalmente, o nome da empresa auditada, a data-base do exame e o título da conta auditada são apresentados no canto superior do papel de trabalho: 4 Os números e as informações devem ser colocados na parte superior do papel de trabalho (logo após o título) e as explicações sobre o trabalho executado na parte inferior. Ou seja, primeiro, deve-se apresentar as informações e dados da conta que se está examinando e, após estes, devem constar as explicações e as notas relacionadas. Dessa forma, há destaque para os dados e os tickmarks no papel de trabalho. Os tickmarks e as referências devem estar ao lado do número auditado e explicados na sequência do papel de trabalho, evidenciando dessa forma as análises do auditor. Além disso, os tickmarks ou as referências devem ser escriturados, como padrão, na cor vermelha. O auditor pode também utilizar notas para dar explicações necessárias nos papéis de trabalho. 5 Exemplos de tickmarks em papéis de trabalho: Somente devem ser elaborados os papéis de trabalho necessários para a auditoria. As informações nos papéis de trabalho e os comentários do auditor devem ser relevantes, sucintos e com redação clara e inteligível. A forma de apresentação dos papéis de trabalho e de seus conteúdos deve permitir que uma pessoa externa à equipe de auditoria do trabalho compreenda-os perfeitamente. Salienta-se que, nos papéis de trabalho, devem constar as conclusões alcançadas nas análises. 2.2 Codificação dos papéis de trabalho Os papéis de trabalho devem ser codificados de forma a possibilitar que as informações sejam facilmente encontradas. A codificação (normalmente azul) pode ser feita por sistema numérico ou alfabético, ou a combinação dos dois, sempre em cor diferente dos tickmarks e das referências (normalmente vermelhos) e posto na parte direita superior do papel de trabalho. 6 A codificação dos papéis de trabalho deve ser feita com base nas áreas constantes no programa de auditoria, dessas referenciadas ou cruzadas para as análises gerais, e dessas para as análises específicas. O sistema de codificação e cruzamento também deve permitir que se saia da análise específica até chegar aos números das demonstrações financeiras. Os papéis de trabalho são de propriedade dos auditores e representam o registro do trabalho executado e a base para emissão do relatório de auditoria. Além disso, devem ser adequadamente armazenados durante a execução do trabalho no cliente, guardados em malas com fechaduras, por ocasião do almoço e à noite. 2.3 Revisão dos papéis de trabalho Essa revisão tem como objetivo garantir que o serviço de auditoria foi executado de acordo com as normas de auditoria geralmente aceitas. Uma equipe de auditoria normalmente é formada de auditores-assistentes (0 a 2 anos de experiência); semi-sêniores (2 a 4 anos de experiência); sênior (4 a 8 anos de experiência); gerente (8 a 12 anos de experiência) e sócio (acima de 12 anos de experiência). 7 A revisão dos papéis de trabalho é efetuada em três fases: 1. Revisão pelo sênior responsável (detalhista); 2. Gerente de auditoria responsável pela empresa que está sendo auditada (detalhista); 3. Sócio (genérica). Os papéis devem ter assinatura ou rubrica de quem os preparou e de quem os revisou (normalmente colocada no lado direito superior). A revisão deve ser feita no cliente à medida que as áreas são completadas e antes da emissão do relatório de auditoria.Os pontos a serem observados na revisão dos papéis de trabalho são principalmente: Completude e assinaturas no programa de auditoria; Se os exames de auditoria foram ajustados com base nas falhas de controle interno identificadas; Preparação adequada das análises específicas em termos de clareza, natureza, extensão e datas dos procedimentos de auditoria, bem como se apresentam o nome da empresa auditada, a data-base dos dados auditados (ou balanço patrimonial) e nome do auditor que elaborou o papel de trabalho; Codificação correta dos papéis de trabalho considerando o cruzamento com as bases de dados ou demonstrações financeiras. TEMA 3 – RELATÓRIO DE AUDITORIA Anteriormente às demonstrações encerradas em 31 de dezembro de 2016, o resultado de trabalhos de auditoria executados consistia em um parecer do auditor, contendo sua opinião. Com a vigência das Resoluções do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o parecer passa a denominar-se relatório dos auditores independentes e apresenta um novo formato. O relatório dos auditores independentes de auditoria pode ser definido como " um instrumento pelo qual o auditor expressa sua opinião, em obediência às normas de auditoria" (Attie, 2011, p. 93). Além disso, o relatório dos auditores independentes é dirigido aos acionistas, ao conselho de administração ou à diretoria, a outro órgão equivalente, ou ainda ao contratante dos serviços, como um investidor ou futuro comprador da empresa. 8 A opinião do auditor pode ser classificada em: Sem ressalva: quando o auditor concluir que as Demonstrações Contábeis (DCs) são elaboradas, em todos os aspectos relevantes, em conformidade à posição patrimonial da empresa; Com ressalva: quando o auditor encontra distorção relevante em relação à posição patrimonial da empresa; Adverso: quando o auditor concluir que as distorções, individualmente ou em conjunto, são relevantes e generalizadas para as DCs; Com abstenção de opinião: quando há impossibilidade do auditor obter evidência apropriada e suficiente de auditoria. (Almeida, 2010, p.419 e 420) Há ainda a possibilidade de o auditor dar negativa de opinião. Isso ocorre quando, durante o trabalho de auditoria, o auditor não consegue obter elementos comprobatórios suficientes para firmar sua opinião, levando a limitação de escopo ou incerteza que influem significativamente no objeto em análise (Almeida, 2010). As modificações decorrentes da mudança de parecer de auditoria para relatório de auditoria são (Relatório, 2016, n/a): 1. Opinião vem no início do relatório: a opinião que sempre foi apresentada no final do relatório, em uma estrutura que sempre nos pareceu muito racional, já que a opinião sempre foi tratada como uma conclusão e, conclusão, se coloca no final, ou colocava-se. O texto da opinião é uma mescla do início do relatório anterior e o antigo parágrafo da opinião. Descreve as demonstrações que foram examinadas e em seguida a opinião dos auditores. 2. Ressalva, opinião adversa ou abstenção de opinião: o parágrafo sobre essas circunstâncias será o 2º. Parágrafo, logo após a opinião. 3. Principais assuntos de auditoria: exigida para as empresas listadas em Bolsa de Valores, podendo ser adotada para outras sociedades, opcionalmente. Segundo a NBC TA 701: “O auditor deve descrever cada um dos principais assuntos de auditoria, utilizando um subtítulo adequado para cada um deles, em seção separada do relatório, sob o título de Principais assuntos de auditoria. [...] o texto de introdução dessa seção do relatório deve afirmar que: os principais assuntos de auditoria são aqueles que, segundo o julgamento profissional do auditor, foram os mais significativos na auditoria das demonstrações contábeis do período corrente.” 4. Outras informações que acompanham as DF: No Brasil, as informações adicionais contidas no conjunto de demonstrações contábeis estão contidas no Relatório da Administração, mas podem incluir outras informações além dessa. Anteriormente, o auditor tem a obrigação de ler estes documentos e verificar se não há nenhuma inconsistência de dados em relação ao conteúdo do conjunto das demonstrações contábeis sobre a qual emite sua opinião. No novo formato, o auditor não emitirá opinião sobre estas Outras Informações, no entanto deverá revelar no seu relatório, que estas informações são de responsabilidade da Administração da Companhia, mas deverá incluir no seu relatório o seguinte texto: “Em conexão com a auditoria das demonstrações contábeis, nossa responsabilidade é a de ler o relatório da administração e, ao fazê-lo, considerar se esse relatório está, de forma relevante, inconsistente com as demonstrações contábeis ou com nosso conhecimento obtido na auditoria ou, de outra forma, aparenta estar distorcido de forma relevante. Se, com base no trabalho realizado, concluirmos que há distorção relevante no relatório 9 da administração somos requeridos a comunicar esse fato. Não temos nada a relatar a este respeito.” 5. Parágrafo sobre responsabilidade da administração: a administração, além das declarações já contidas no modelo atual de relatório, deverá, também, declarar que é ela responsável pela avaliação da continuidade operacional da Companhia pelo e o uso dessa base contábil na elaboração das demonstrações contábeis. 6. Parágrafo sobre a responsabilidade dos auditores: Neste parágrafo, além das declarações já contidas no modelo atual de relatório, os auditores afirmarão que “segurança razoável é um alto nível de segurança”; essa expressão que pode parecer pouco importante dá um peso maior ao termo “razoável.” Além disso, esse parágrafo é bem mais detalhado do que o modelo atual. Outro ponto importante é que o auditor conclui sobre a adequação do uso pela administração, da base contábil da continuidade – o auditor não opina sobre a continuidade, que continua sendo uma responsabilidade da Administração, mas diz que concorda com a avaliação da Administração sobre esse assunto. No caso de empresas não listadas, a norma prevê a possibilidade de que as informações sobre a responsabilidade dos auditores (que é um texto mais detalhado) possa ser suprimida do relatório e apresentada no site da Cia. No caso específico de auditoria trabalhista e previdenciária, não há obrigatoriedade em lei que exija que a empresa realize a auditoria com essa finalidade. Desta forma, como resultado do trabalho do auditor, existirá um relatório contendo a opinião deste, incluindo as sugestões de resolução em caso de inconformidade com normas e regulamentações. Esse relatório de auditoria é a peça fundamental em uma auditoria interna realizada, pois apresenta os resultados do trabalho de auditoria, o que foi examinado pela equipe e o que a empresa deverá melhorar ou modificar (Almeida, 2010). Ou seja, o relatório de auditoria deve conter os fatos apurados e de significância, as sugestões e recomendações para melhoras efetivas, demonstrando todos os acontecimentos no decorrer da auditoria para a entidade auditada. TEMA 4 – PLANEJAMENTO DAS CORREÇÕES (CRONOGRAMA DE AÇÕES) E APERFEIÇOAMENTO DOS CONTROLES INTERNOS Com a finalização da auditoria trabalhista e previdenciária, bem como da entrega do relatório de auditoria interna entregue ao Conselho da Diretoria ou à Alta diretoria da organização, cabe a um desses órgãos direcionar as ações que se fizerem necessárias em caso de apontamento de inconsistências pelo auditor. Normalmente, no relatório de auditoria interna, o auditor aponta as inconsistências informando como seria o procedimento/ação correto(a), com as devidas sugestões de ajuste das rotinas trabalhistas e previdenciárias da 10 empresa. O(a) conselho da diretoria/alta diretoria deve, na sequência, entrar em contato com a(s) gerência(s) da(s) área(s) em que o problema foi identificado e informar a necessidade de ações pertinentes. Nesse momento, a(s) gerência(s)deve(m) estabelecer o planejamento das correções e o cronograma de ações para que a empresa possa estar em conformidade com as normas e legislações trabalhistas e previdenciárias a que está sujeita. No cronograma de ações deve haver, como um dos primeiros passos a serem realizados, o levantamento do fluxograma de atividades, contendo os eventos de risco e os controles internos (se existentes). Para os eventos identificados, deve-se estabelecer os controles internos ou aperfeiçoar os controles internos (se já existentes), com o objetivo de mitigar os riscos relacionados. Nos casos em que o relatório de auditoria interna possui mais de um item de inconsistência, a organização deve estabelecer o cronograma de ação por ordem de prioridade. Ou seja, nem sempre será possível efetuar todas as correções ao mesmo tempo e, nesse caso, geralmente a prática consiste em iniciar pelas inconsistências que apresentam maior risco de passivos trabalhistas e/ou previdenciários que aferem o patrimônio da empresa. No relatório de auditoria interna pode haver apontamentos de inconsistências em que o custo-benefício das correções irá direcionar a empresa a aceitar o risco e não realizar as correções. Essa decisão dependerá de cada organização e de sua aptidão a riscos, bem como do custo em termos de recursos financeiros, tempo e outros recursos que seriam despendidos em caso do direcionamento pela resolução da inconsistência. TEMA 5 – CONTROLES INTERNOS E COMPLIANCE EM RELAÇÃO À AUDITORIA TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIA O Comitê de Procedimentos de Auditoria do Instituto Americano de Contadores Públicos Certificados – American Institute of Certified Public Accountants (AICPA) – define como controle interno: o plano da organização e todos os métodos e medidas coordenados adotados dentro da empresa para salvaguardar seus ativos, verificar a adequação e confiabilidade de seus dados contábeis, promover a eficiência operacional bem como o respeito e obediência às políticas administrativas fixadas pela gestão. (BDO Trevisan, 2007, p. 88) 11 O risco empresarial inclui fatores internos e externos à organização. Os fatores externos que acometem riscos para a organização precisam ser identificados e alinhados às forças internas que possam reduzi-los. Contudo, neste tópico, o foco é em riscos internos à organização, como os riscos de corrupção e relacionados ao ambiente (ex.: riscos trabalhistas). Um fator de risco consiste em uma suposição que façam com que os riscos possam se materializar. Esses riscos, segundo a metodologia Coso (2007), precisam ser identificados, classificados em níveis (mais críticos, pouco críticos etc.). Para cada risco que a empresa pretende controlar internamente, deve-se identificar os controles mitigatórios e desenvolver um plano de ação conforme o nível predefinido do risco, sendo esse conjunto de controles denominado de controle interno. O AICPA ainda estabelece os objetivos do controle interno: 1) “proteção de ativos”; 2) “obtenção de informação adequada”; 3) “promoção da eficiência operacional”; e 4) “estimulação da obediência e do respeito às políticas da administração” (BDO Trevisan, 2007, p. 89). O controle interno é para o Coso (2007, p. 8) “parte integrante do gerenciamento de riscos corporativos. A estrutura do gerenciamento de riscos corporativos abrange o controle interno, originando dessa forma uma conceituação e uma ferramenta de gestão mais eficiente”. Portanto, controles são tarefas ou ações que reduzem um risco em particular para o respectivo objetivo de controle. A importância do controle interno é observada no momento do planejamento sempre que uma equipe de auditores faz um trabalho em uma empresa, pois os procedimentos descritos e adotados pela organização direcionarão o trabalho dos profissionais de auditoria. Neste sentido, o controle interno será componente do risco de auditoria. O risco de controle “é o risco de que um erro material em uma conta não seja prevenido ou detectado em determinada época pelos controles da companhia” (BDO Trevisan, 2007, p. 147). Attie (2011, p. 189) corrobora ao relatar que “o controle interno tem significado e relevância quando é concebido para garantir o cumprimento de um objetivo definido, quer seja administrativo ou gerencial”. Para o auditor, quanto mais adequados forem os controles internos utilizados pela empresa, mais precisos e confiáveis poderão ser considerados os 12 relatórios para fins de verificação da auditoria. Ou seja, quando a empresa possui um sistema de controle interno devidamente formalizado, bem como os procedimentos de controle são cumpridos efetivamente pelos empregados, existe maior confiança de que os dados contidos nos relatórios sejam fidedignos, reduzindo o risco de auditoria. É importante ressaltar que controles internos eficazes previnem ações fraudulentas e minimizam erros ou irregularidades, mas não são passíveis de garantia absoluta de que não ocorram. Além disso, devem detectar tanto as anormalidades de atos propositados quanto de erros provenientes de atos involuntários (Attie, 2011). Assim como o controle interno, o que chamamos de compliance também constitui uma forma de a empresa identificar os riscos e tentar mitigá-los. No Brasil, a Lei Anticorrupção (Lei n. 12.846/13) e outras legislações estatais específicas contemplam as determinações em relação ao compliance. Quanto ao seu conceito, pode-se compreender que: Compliance envolve o que pode e o que não pode ser feito de acordo com o código de conduta da companhia e as melhores práticas da área. [...] tanto o profissional que atua dentro da empresa como aqueles que prestam serviços especializados na área, precisam ter a preocupação extra na hora de avaliar os riscos de suas ações. [...] é muito importante que a comunidade de compliance comece a debater ideias sobre como podemos mitigar os riscos das nossas próprias ações à frente da área. (Gonsales, 2017) Na atualidade, tratar de compliance é inerente a qualquer processo organizacional. O conceito etimológico do termo compliance foi aplicado ao uso popular e, no mundo corporativo, significa "estar de acordo com regras, legislações, especificações, normas de toda e qualquer natureza, estabelecidas para determinada ação" (Cruz, 2017, p. 5-7). No mundo corporativo, a responsabilidade de estar em conformidade (compliance) às regras é das próprias empresas, que devem cuidar de seus processos internos e externos para cumprir as normas aplicáveis. Para que um programa de compliance seja apropriadamente implementado, deve haver maior comunicação da empresa em todos os setores e todos os níveis hierárquicos (empregados, gestores, diretores) sobre as regras, condutas e políticas. É importante que em um programa de compliance não haja foco em protecionismo, pois o objetivo é fazer o que é certo perante a lei. Para que isso ocorra, é primordial para a efetividade de um programa de compliance a existência de um canal de denúncia em que o empregado tenha acesso a uma 13 pessoa que possa resolver conflitos, seja por e-mail, WhatsApp, telefone, ou outro meio, mas sempre garantindo o sigilo de quem fez a denúncia. A empresa pode ter internamente um departamento específico que cuide do programa de compliance, ou pode contratar uma consultoria para esse fim. Além disso, como o compliance trata de estabelecer uma conduta empresarial preventiva, a auditoria pode ser uma ferramenta de compliance ao manter e analisar áreas de maior risco, como ocorre com a área trabalhista e previdenciária. O compliance surge mais fortemente no Brasil em decorrência da promulgação da lei anticorrupção. Não há lei que trate especificamente sobre compliance trabalhista, mas os programas de compliance têm como base as legislações e as regulamentações a que a empresa está sujeita. O compliance tem comoobjetivo prevenir e corrigir práticas contrárias a esses dispositivos legais. Principalmente diante da reforma trabalhista, um programa de compliance voltado para legislações e regulamentações trabalhistas e previdenciárias é essencial para que a empresa possa se prevenir de ações judiciais e de passivos trabalhistas. Dessa forma, a empresa atua de forma mais segura e preventiva em relação a seus Recursos Humanos, eliminando ou reduzindo a ocorrência de reclamatórias e passivos trabalhistas. Para fins de compliance trabalhista e previdenciário, as revisões periódicas de todos os processos (controle da jornada de trabalho, respeito ao pagamento das horas extras, pagamento dos salários em dia, das convenções e acordos coletivos e suas aplicações, folha de pagamento, encargos, obrigações acessórias e seus procedimentos, contemplando toda a legislação aplicada, inclusive prevenção de abusos de gestores e empregados em geral, evitando atribuições que não são de competência do empregado, termos de baixo calão, ameaças diversas – ex.: ameaça de demissão etc.) são imprescindíveis (Compliance, 2018). A auditoria como ferramenta de compliance se justifica pelo fato de que o trabalho de auditoria consiste em uma forma de revisão. No caso de auditoria trabalhista, esta revisa as rotinas trabalhistas e, ao final do trabalho, apresenta um relatório com as práticas que não estão em conformidade com as normas e regulamentações e com sugestões para eliminar ou reduzir o risco trabalhista ou o erro encontrado. 14 A auditoria interna pode, ainda, além de considerar se os controles da empresa estão sendo aplicados apropriadamente, demonstrar como maximizar os ativos fiscais em relação às contribuições previdenciárias, cujos valores não tenham sido corretamente aproveitados. Em alguns casos, não há necessidade de uma demanda judicial para que créditos financeiros sejam revertidos para a empresa, resultando em melhor fluxo de caixa. TROCANDO IDEIAS Créditos: Roobcio/Shutterstock Proposta de discussão no fórum: Como o texto estabelece as principais diferenças entre auditoria interna e compliance? Qual a relevância de uma empresa realizar a técnica do compliance? Empresas que realizam compliance são vistas como tendo um diferencial? Para realizar a discussão, leia o artigo Auditoria interna e compliance: quais são as diferenças? Disponível em: <https://blogbrasil.westcon.com/auditoria-interna-e-compliance-quais-sao-as- diferencas>. Acesso em: 9 jan. 2020. NA PRÁTICA Elabore o papel de trabalho da auditoria para a análise realizada da folha de pagamento (Fopag) do vale do mês de maio de 2019, apresentada a seguir, do empregado João Santos, que trabalha como contador em contrato de trabalho de 220 horas mensais. O empregado possui salário mensal de R$ 4.700 e a empresa faz adiantamento de 30% do salário até o 15º dia útil. Empresa adota sistema de compensação de banco de horas, mas não estabelece essa prática no acordo coletivo ou convenção coletiva: de acordo com a súmula 85, inciso V do TST, isso é incoerente, ocasionando risco trabalhista. A auditoria deve sugerir celebração do acordo coletivo com o sindicato, bem como pode efetuar o cálculo de quanto representa financeiramente o risco relativo ao risco levantado. Em caso de risco com valor financeiro baixo, se a empresa não desejar efetuar a correção, deve-se fazer o contingenciamento do risco trabalhista na contabilidade. https://blogbrasil.westcon.com/auditoria-interna-e-compliance-quais-sao-as-diferencas https://blogbrasil.westcon.com/auditoria-interna-e-compliance-quais-sao-as-diferencas 15 O auditor deve verificar o recálculo do IRRF: Base de cálculo IRRF: R$ 2.978,30 (base de cálculo do saldo de salário pago do 5º dia útil) + R$ 1.410,00 (adiantamento de salário) = R$ 4.388,30. O valor em Fopag da base de cálculo do IRRF é de R$ 4.404,10, resultando em um valor de R$ 15,80 a maior que a base calculada pela auditoria. IRRF: R$ 4.388,30 (base de cálculo) x 22,5% (alíquota tabela IRRF) – 636,13 (parcela a deduzir do imposto tabela IRRF) – R$ 91,95 (IRRF retido na folha de pagamento do saldo de salário pago do 5º dia útil) = R$ 259,29. Diferença encontrada entre o valor em Fopag, R$ 260,48, e o calculado pela auditoria, R$ 259,29, resultando em um total de R$ 1,19 a maior na Fopag. Protocolo de resolução: 1) Leitura do caso; 2) Elabore o papel de trabalho contendo a análise da auditoria realizada da folha de pagamento (Fopag) do vale do mês de maio de 2019 do empregado João Santos; 3) Identificação da teoria/conteúdo que resolve o problema: o aluno deve efetuar a leitura do tema 1; 4) Indicação de leitura complementar: não há; 5) Apresentação da solução do problema. EMPRESA ALFA LTDA CNPJ 12331231/0001-12 Recebimento de pagamento de salário Rua da empresa, 999 (Recibo do empregador) Mês: Maio Ano: 2019 Curitiba-PR Contador Matrícula Nome Filial Centro de custo Departamento 987 João Santos 1 4 123 Código Descrição Referência 11 Adiantamento (vale) 30 122 IRRF 22,5% BANCO 001 AGÊNCIA 0123-4 CONTA SALÁRIO 27891-0 EM 15/05 *Possui um dependente para fins de IRRF *Mês com 25 dias úteis e 5 dias não úteis Salário base Salário contr.INSS Base Cálc. FGTS FGTS do mês Base cálc. IRRF 4.700,00 -R$ -R$ -R$ 4.404,10R$ Vencimentos Descontos 1.410,00R$ 1.410,00R$ 260,48R$ Total Líquido 1.149,52R$ 260,48R$ Total de vencimentos Total de descontos 16 Sugestão de elaboração do papel de trabalho: Empresa ALFA Ltda. Ref. B4 30.06.2019 Elaborado por: Sayuri Azevedo Folha de pagamento Revisado por: Carlos Antônio FOLHA DE PAGAMENTO APRESENTADA PELA EMPRESA: EMPRESA ALFA LTDA CNPJ 12331231/0001-12 Recebimento de pagamento de salário Rua da empresa, 999 (Recibo do empregador) Mês: Maio Ano: 2019 Curitiba-PR Contador Matrícula Nome Filial Centro de custo Departamento 987 João Santos 1 4 123 Código Descrição Referência 11 Adiantamento (vale) 30 ② 122 IRRF 22,5% a ⑦ BANCO 001 AGÊNCIA 0123-4 CONTA SALÁRIO 27891-0 EM 15/05 *Possui um dependente para fins de IRRF a i *Mês com 25 dias úteis e 5 dias não úteis Salário base Salário contr.INSS Base Cálc. FGTS FGTS do mês Base cálc. IRRF 4.700,00 ① -R$ -R$ -R$ 4.404,10R$ ③ RECÁLCULOS DA AUDITORIA: Salário Base 4.700,00R$ ① Adiantamento 30% (4700 x 30%) 1.410,00R$ ② IRRF - base de cálculo Base de cálculo do saldo de salário pago do 5º dia útil 2.978,30R$ B3 Adiantamento de salário 1.410,00R$ ② Base de Cálculo do IRRF auditoria 4.388,30R$ ∑ ④ Base de Cálculo do IRRF empresa 4.404,10R$ ③ Diferença (empresa - auditoria) 15,80R$ (a) – 7,50% 15% 22,5% ⑤ ⑥ 27,50% RECÁLCULO IRRF Base de cálculo (auditoria) 4.388,30R$ ④ Alíquota (tabela IRRF) 22,5% ⑤ Cálculo pela alíquota (4.388,30 x 22,5%) 987,37R$ Parcela dedutível 636,13 ⑥ IRRF retido na folha pgto saldo de salário pago do 5º dia útil 91,95R$ B3 IRRF auditoria (987,37 - 636,13 - 91,95) 259,29R$ IRRF empresa 260,48R$ ⑦ Diferença (empresa - audioria) 1,19R$ (b) Tickmarks Notas a conferido (a) i imaterial valor de R$ 15,80 a maior que a base calculada pela auditoria. ∑ somatória (b) Diferença encontrada entre o valor em FOPAG, R$ 260,48, e o calculado pela auditoria, R$ 259,29, resultando em um total de R$ 1,19 a maior na FOPAG. B3 Referência do papel de trabalho B3 em que foi realizado o recálculo do salário pago no 5º dia útil de Maio/2019, referente à Abril/2019. 869,36 Fonte: Receita Federal (2019). 636,13 O valor em FOPAG da base de cálculo do IRRF é de R$ 4.404,10, resultando em um De 2.826,66 até 3.751,05 De 3.751,06 até 4.664,68 Acima de 4.664,68 Base de cálculo mensal (em R$) Parcela a deduzir do imposto(em R$) – 142,8 354,8 Total Líquido 1.149,52R$ Alíquota Tabela 2 - incidência mensal a partir do mês de abril do ano-calendário de 2015 Até 1.903,98 De 1.903,99 até 2.826,65 Total de vencimentos Total de descontos 1.410,00R$ 260,48R$ Vencimentos Descontos 1.410,00R$ 260,48R$ 17 FINALIZANDO Nesta aula você aprendeu como elaborar e revisar papéis de trabalho de auditoria. Também conheceu o relatório de auditoria (antigo parecer), bem como o procedimento pela empresa para corrigir os apontamentos de auditoria, com o cronograma de ações e direcionado para o aperfeiçoamento dos controles internos. Por fim, pôde entender mais sobre o papel dos controles internos e do compliance em relação à auditoria trabalhista e previdenciária, principalmente relacionado à folha de pagamento, que consiste no maior custo de muitas empresas. 18 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. C. Auditoria: um curso moderno e completo. 7. ed. São Paulo. Atlas, 2010. ATTIE, W. Auditoria: conceitos e aplicações. São Paulo: Atlas, 2011. BAYER, A.; GONSALES, A. Três alterações importantes que você precisa saber sobre compliance financeiro. LEC, 2017. Disponível em <http://www.lecnews.com/artigos/2017/07/31/tres-alteracoes-importantes-que- voce-precisa-saber-sobre-compliance-financeiro/>. Acesso em: 9 jan. 2020. BDO Trevisan. Apostila n. 4: Assistente I – Programa de Treinamento. São Paulo: BDO Trevisan, 2007. BRASIL. Lei n. 12.846, de 1º de agosto de 2013. COSO. Gerenciamento de riscos corporativos: estrutura integrada. Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission (COSO), 2007. Disponível em: <https://www.coso.org/Documents/COSO-ERM-Executive- Summary-Portuguese.pdf>. Acesso em: 9 jan. 2020. RELATÓRIO. Novo relatório do auditor. Grant Thornton, 2016. Disponível em <https://www.grantthornton.com.br/insights/articles-and-publications/novo- relatorio-do-auditor/>. Acesso em: 9 jan. 2020. REZENDE, D. N. B. Qual a relação da reforma trabalhista e o sistema de controles internos para a redução de riscos e custos? Disponível em: <https://portaldeauditoria.com.br/qual-a-relacao-da-reforma-trabalhista-e-o- sistema-de-controles-internos-para-a-reducao-de-riscos-e-custos/>. 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