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Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇAS Circulação Interna Área: Educação/Saúde/Gestão 1 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda SUMÁRIO FICHA TÉCNICA DA DISCIPLINA: Relações humanas e liderança...................... 3 APRESENTAÇÃO............................................................................................ 4 1. UNIDADE : LIDERANÇA...................................................................................... 6 1.1 DEFINIÇÃO DE LIDERANÇA........................................................................ 6 1.2 O PODER E A LIDERANÇA............................................................................ 9 1.3. LIDERANÇA BEM SUCEDIDA, EFICAZ E EFICIENTE.............................. 14 1.4. ESTILOS DE LIDERANÇA............................................................................... 19 1.4.1. LIDERANÇA BASEADA EM PRINCÍPIOS SEGUNDO STEPHEN COVEY..................................................................................................................... 23 1.4.2. A LIDERANÇA SEGUNDO O PENSAMENTO DE PETER F. DRUCKER 26 1.4.3. LIDERANÇA SEGUNDO PETER SENGE.................................................... 28 1.4.4. LIDERANÇA ORIENTADA PARA RESULTADOS DE DAVE ULRICH 28 1.5. ABORDAGENS SOBRE LIDERANÇA........................................................... 30 1.5.1. ABORDAGEM COMPORTAMENTAL...................................................... 31 1.6. LIDERANÇA E PROPÓSITOS ORGANIZACIONAIS.................................. 46 1.6.1. LIDERANÇA CARISMÁTICA..................................................................... 48 1.6.2. LIDERANÇA TRANSFORMACIONAL..................................................... 50 1.6.3. LIDERANÇA VISIONÁRIA......................................................................... 52 2. UNIDADE 2: COMPETÊNCIAS........................................................................... 54 2.1. CONCEITUAÇÃO DE COMPETÊNCIA......................................................... 54 2.2. COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS..................................................................... 62 2.3. CLASSIFICAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS: DOMÍNIO E APLICAÇÃO...... 63 2.3.1. COMPETÊNCIAS ORGANIZACIONAIS.................................................... 66 2.3.1. AS COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS DA EFETIVIDADE HUMANA NEGOCIAÇÃO DE RESULTADOS....................................................................... 67 2.4. COMPETITIVIDADE E COMPETÊNCIAS..................................................... 69 2.5. COMPETENCIA FUNCIONAL....................................................................... 71 3. UNIDADE3: COMPETÊNCIAS DE LIDERANÇA............................................ 73 3.1. TIPOS DE COMPETÊNCIAS SEGUNDO KLEMP JR.................................... 75 4. UNIDADE 4: COMPETÊNCIAS REQUERIDAS DAS ORGANIZAÇÕES GANHADORAS DO PRÊMIO NACIONAL............................................................ 80 4.1. VISÃO SISTÊMICA........................................................................................... 82 4.2. LIDERANÇA E CONSTÂNCIA DE PROPÓSITOS................................... 83 4.3. VISÃO.......................................................................................................... 84 4.4 VISÃO DE FUTURO....................................................................................... 85 4.5 GESTÃO BASEADA EM FATOS E DADOS.................................................. 86 4.6 MOBILIZAÇÃO E COMPROMETIMENTO DAS PESSOAS......................... 87 Texto de apoio do livro........................................................................................... 97 EXERCÍCIOS.......................................................................................................... 109 EXERCÍCIOS DE MÚLTIPLA ESCOLHA............................................................. 110 2 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda FICHA TÉCNICA DA DISCIPLINA: Relações humanas e liderança Ementa: As relações humanas e sua dinâmica. Os padrões de relação. Relações de trabalho. Processos grupais básicos: percepção e comunicação. Liderança e relação entre líder e liderado/a. Por uma ética das relações humanas. Tendências contemporâneas na gestão de pessoas. Gestão versus liderança de pessoas. Visão das pessoas como parceiros das organizações. O trabalho em equipe. Desenvolvimento do potencial humano. Auto-motivação. Relacionamento pessoal na gestão de pessoas. Inteligência emocional e liderança de pessoas. Recrutamento e seleção com foco na atitude pessoal. Remuneração mais do que salário. O novo paradigma de liderança. Objetivos: • Discutir o conceito de liderança, bem como seus estilos na gestão organizacional. • Conhecer a definição de competências. • Estudar as competências organizacionais e humanas Metodologia: A metodologia prevista para a disciplina compreenderá o estudo de 4 unidades sobre os tópicos do programa e sua contextualização; estudos, leitura e discussão de textos selecionados e ainda desenvolvimento de exercícios individuais e em grupo. Ao final do livro, o aluno encontrará uma lista de exercícios de concursos públicos sobre as temáticas discutidas na disciplina. Bibliografia Básica: CHIAVENATO, Idalberto. Gerenciando com as Pessoas: transformando o executivo em um excelente gestor de pessoas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. DAVEL, Eduardo; Vergara, Sylvia Constant (Orgs.). Gestão com pessoas e subjetividade. São Paulo: Atlas, 200l. MINlCUCCI, Agostinho. Relações Humanas: Psicologia das relações humanas in- terpessoais. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. OLIVEIRA, Maria Lúcia de. Educação e Psicanálise: história, atualidade e perspectivas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. OSORIO, Luiz Carlos. Psicologia Grupal - uma nova disciplina para o advento de uma era. Porto Alegre: Artes Médicas, 2004. Bibliografia Complementar: PICHON-RIVIERE, Enrique; QUIROGA, Ana Pampliega de. Psicologia da Vida Cotidiana. São Paulo: Martins Fontes, 2000. POWEL, Johon, S.J. Para Viver em Plenitude - Uma nova vida através de uma nova visão. Belo Horizonte: Crescer, 1999. 3 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda APRESENTAÇÃO As mudanças ocorridas no mundo dos negócios e das organizações trazem à tona várias questões, dentre elas o papel da liderança. Segundo Soto (2002) as novas realidades macroeconômicas e tendências em um mundo globalizado estão modificando o ambiente comercial e industrial e, isso requer organizações competitivas que possam responder de forma positiva a essa realidade e tendência dos mercados futuros. Para atender a essas novas exigências, compete aos líderes conhecer e poder transformar a cultura organizacional dentro de uma dinâmica competitiva de esforço, adaptação, desafios e mudança constante. A liderança tem desempenhado um papel fundamental nas relações humanas e a capacidade de liderar torna-se associada ao sucesso ou fracasso das equipes e organizações. Embora a liderança seja algo que as pessoas vivenciem de alguma forma no cotidiano, o conceito varia de pessoa para pessoa, o que leva a inúmeras discussões sobre o tema. Quando falamos em liderança as pessoas conseguem identificar líderes tais como: Gandhi, Nelson Mandela, Adolf Hitler, Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas, Papa Paulo II, Henry Ford, Bill Gates dentre outros. No entanto, o que torna essas pessoas com características tão diferentes, líderes? O que elas possuem em comum? Os líderes nascem prontos ou podem se desenvolver? Qual o estilo de liderança mais apropriado? Desde os primórdios da humanidade estamos organizados em hierarquias com claros relacionamentos de dominação entre os membros. Segundo Gardner (1996:23) os “processosde dominação” observáveis em primatas não humanos são evidentes mesmo entre os pré-escolares. “As crianças dominantes controlam os brinquedos, iniciam e organizam jogos, e ajudam a manter o grupo unido; as crianças menos dominantes orientam-se com referência aos mais dominantes. Tamanho, força, habilidade, inteligência, atratividade e gênero, tudo isso contribui para determinar quais organismos ocuparão posições superiores na hierarquia social emergente”. (Gardner,1996 p.23). 4 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda As primeiras pesquisas sobre liderança tratavam sobre a identificação de características de líderes e não-líderes, ou entre líderes bem-sucedidos e os mal-sucedidos. Alguns consideram os fatores de personalidade, outros, características físicas, entretanto podemos considerar a liderança como fator decisivo na definição dos rumos da organização e na motivação pelo cumprimento dos propósitos estabelecidos. A liderança passa a ser catalizadora do potencial em realidade. Considerando o caráter fundamental da liderança para o sucesso das organizações, abordaremos as questões que nos levem a uma compreensão básica sobre o tema. 5 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda UNIDADE 1 LIDERANÇA Liderança é comunicar o valor e o potencial das pessoas com tanta clareza que elas passam a ver isso em si mesmas. Stephen Covey 1.1 DEFINIÇÃO DE LIDERANÇA Para ser líder é preciso ter um caráter forte o suficiente para fazer a coisa certa. Caráter é algo mais profundo do que personalidade. É a maturidade moral e o compromisso de agir corretamente com as pessoas. James Hunter Ao analisarmos o tema liderança deparamos com inúmeras definições propostas ao longo dos anos. Conforme definições, apresentadas abaixo, veremos que na grande maioria encontramos como ponto comum a liderança como a capacidade de influenciar pessoas para a consecução de um objetivo numa dada situação. Etimologicamente, liderar significa conduzir e líder é o que conduz o grupo. Assim, Lacombe & Heilborn (2003) dizem que liderar é conduzir um grupo de pessoas, influenciando seus comportamentos e ações para atingir objetivos de interesse comum desse grupo, de acordo com uma visão do futuro baseada num conjunto coerente de idéias e princípios. Kim & Mauborgne (apud DuBrin, 2006) definiram liderança como a habilidade de inspirar confiança e apoio entre as pessoas cuja competência e compromisso depende o desempenho. Bennis (apud Lacombe & Heilborn, 2003) faz referência à diferença entre administrar e liderar: diz que administrar é assumir responsabilidade, fazer acontecer, enquanto que liderar é influenciar, guiar em direção a um dado objetivo. De maneira que o líder age segundo os recursos emocionais e espirituais da organização, sobre seus valores, 6 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda comprometimento e aspirações, enquanto que o administrador age sobre os recursos físicos da organização: seu capital, habilidades humanas, matérias-primas e tecnologia. Liderança é a influência que uma pessoa exerce sobre outros indivíduos e sobre as atividades do grupo. Essa influência, segundo Krech (1969:489) envolve acontecimentos de comportamento interpessoal - casos de interação – onde o líder influi o seguidor e este por sua vez, influencia o líder. Assim, em algum momento em nossas vidas estaremos exercendo a liderança. Sempre que uma pessoa procurar influenciar o comportamento de outra, a primeira é o líder potencial e a segunda o liderado potencial. Para Tannenbaum & Schmidt (1973), a liderança baseia-se em três aspectos ou forças e é através dessas três forças que o líder é capaz de escolher um estilo de liderança que vai adotar naquele momento, com aquelas variáveis, para poder sintonizá-las: forças no gerente, que vem a ser a motivação interna do líder e fatores externos que ele sofre; forças no subordinado, que são a motivação externa, proveniente do líder, e fatores externos que atuam sobre os subordinados; e forças na situação, que são as condições pelas quais a liderança é exercida. Bergamini (1994:103) aponta dois aspectos comuns às definições de liderança: primeiro, que a liderança está ligada a um fenômeno grupal, isto é, envolve duas ou mais pessoas. Segundo, que fica evidente tratar-se de um processo de influenciação exercido de forma intencional por parte dos líderes sobre seus seguidores. Liderar é ter capacidade de influenciar um grupo em direção à realização de metas, visto que a posição de liderança em um ambiente de trabalho está relacionada com o processo de interação entre as pessoas: como as pessoas interagem para responder pelas metas e objetivos a serem atingidos. Para tanto, entende-se que a posição de liderança está associada ao desenvolvimento das seguintes habilidades: saber lidar com a complexidade; saber manter, buscar e integrar parceiros; saber comunicar-se; saber desenvolver a cultura da organização; saber assumir responsabilidades e ter visão estratégica, sem esquecer-se da determinação, caráter, integridade e intuição. Intuição, 7 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda segundo DuBrin (2006) é uma maneira, com base na experiência, de saber ou de raciocinar, na qual o julgamento e o equilíbrio são efeitos automáticos. Podemos observar, portanto, que considerar como definição de liderança somente a capacidade de influenciar pessoas nos leva a crer que qualquer pessoa até mesmo um assaltante ao induzir que as pessoas lhe entreguem os seus pertences esteja exercendo a liderança, e talvez esteja mesmo. Entretanto este enfoque não esgota o tema. Primeiro, porque a influência deve ser de certa maneira sancionada pelos seguidores e, em segundo lugar, uma definição completa de liderança precisa descrever o contexto e o simbolismo captado no líder, e por último, dentro de um contexto real e principalmente organizacional, o líder tem como missão atingir os objetivos propostos. Neste sentido, McGregor (1999) afirma que a liderança não é uma propriedade do indivíduo, mas sim uma relação complexa entre as seguintes variáveis: características do líder; as atitudes, necessidades e outras características pessoais dos seguidores; características da organização, tais como sua finalidade e estrutura. Tendo em vista um ambiente competitivo global, a liderança deverá criar uma arquitetura social capaz de gerar capital intelectual dentro de um contexto em que se obtenha um desempenho em seu máximo de eficiência, respondendo de forma adequada e rápida às mudanças. Na Escola de Administração Científica, Taylor considerava as pessoas como instrumentos, apêndices da máquina e, portanto manipuladas pelos seus líderes. Os trabalhadores deveriam se adaptar à gerência. A função do líder era a de estabelecer e fazer cumprir critérios de desempenho para atender aos objetivos organizacionais. Taylor reduziu o homem a gestos e movimentos, sem capacidade de desenvolver atividades mentais, que depois de uma aprendizagem rápida, funcionava como uma máquina. A redução do trabalho mental também é enfatizada na medida em que a super especialização da tarefa levou à simplificação do trabalho a um nível elevado, desprovendo o indivíduo de sua capacidade pensante (Dallagnelo, 1994). 8 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Na escola das Relações Humanas, com Elton Mayo, a organização deveria se desenvolver em torno dos trabalhadores considerando sentimentos e atitudes. A função do líder passa a ser a de facilitar a consecução dos objetivos, dando oportunidade aos liderados de se desenvolverem. Diante do exposto, vale a pena discutir como os líderes desempenhamesse papel, a natureza da liderança, habilidades, teorias, estilos de lideranças e o poder nas organizações. Para entendermos o processo de liderança nas organizações precisamos verificar como os gerentes utilizam o seu “poder” para influenciar o comportamento das pessoas. 1.2 O PODER E A LIDERANÇA “O melhor de todos os líderes é o aquele ajuda seus seguidores para que eles não precisem mais dele”. Lao Tsé Se podemos dizer que liderar é influenciar pessoas na direção de um determinado objetivo, em que este conceito de influenciar se difere do conceito de poder? Influenciar tem um significado muito próximo ao poder, pois se refere também à habilidade de mudar comportamentos, mas tende a ser mais sutil e mais indireto que o poder. Poder indica a habilidade de afetar os resultados com maior facilidade do que a influência, diz Lyness & Thompson (apud DuBrin, 2006). Portanto, definiremos poder como a habilidade de influenciar pessoas por meio do controle dos recursos organizacionais, ou seja, a habilidade para conseguir que a outra pessoa faça aquilo que se quer. Segundo Lacombi (2003), o poder é a capacidade de controlar indivíduos, eventos ou recursos, impondo a vontade própria e fazendo com que aconteça aquilo que deseja. Faces do Poder: Segundo David McCleland existem duas faces do poder: Face Negativa - Expressa em termos de domínio-submissão. 9 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Se eu vencer, você perde! Pessoas como peões do xadrez a serem usados. Atitude voltada contra quem exerce o poder. Face Positiva - Caracterizada por uma preocupação com os objetivos do grupo. Implica exercer a influência em favor de e não sobre os outros. Mais eficácia no exercício do poder. Etzioni (apud Hersey, 1986) faz a diferença entre poder pessoal e poder de posição e sustenta que o poder deriva de uma função organizacional, de influência pessoal ou de ambos, de maneira que a melhor situação para os líderes é quando possuem os dois tipos de poder: pessoal e de posição. • poder de posição: os gerentes que conseguem a realização de um trabalho em virtude de sua posição na organização induzem o comportamento, possuem o “poder sobre”; • poder pessoal: os gerentes que derivam seu poder dos seus subordinados, influenciam o comportamento, possuem o “poder junto a”. DuBrin (2006) diz que um ponto de partida útil é o reconhecimento de que o poder pode ser usado para incentivar os interesses da organização ou interesses pessoais, classificando-os como: poder socializado - uso do poder para alcançar fins construtivos. Ex.: um gerente que tenta alcançar o poder para desenvolver um programa de total satisfação do cliente. poder personalizado - uso do poder principalmente para grandeza de ganhos pessoais. Os gerentes e profissionais com freqüência usam o poder para influenciar seus liderados na medida em que conhece as fontes e os recursos do poder para conseguir seus objetivos. O poder de posição dos gerentes vem de três fontes: poder de recompensa, coercitivo e legítimo. Poder de recompensa: as pessoas concordam com os desejos ou orientações de outrem porque fazer isso produz benefícios positivos; portanto, alguém que 10 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda possa distribuir recompensas que outros vejam como valiosas terão poder sobre eles. A pessoa é capaz de dar benefícios ou recompensas especiais para os outros, e é entendido então como vantajoso trocar favores com ele. (Robbins, 1998). Para French & Raven (apud Aguiar,1997) esse tipo de poder está relacionado à estrutura organizacional, onde os gerentes influenciam o comportamento de seus liderados utilizando-se de uma variedade de recompensas para motivar o funcionário. Poder coercitivo: as pessoas reagem a este poder por medo dos resultados negativos que possam ocorrer se falharem na concordância. Ele se apóia na ameaça ou na aplicação de sanções físicas como infligir dor, geração de frustração através de restrições de movimento ou de controle à força de necessidades básicas fisiológicas ou de segurança. A pessoa pode tornas as coisas difíceis para os outros e, portanto, as pessoas evitam zangá-la. (Robbins, 1998). Para French & Raven (apud Aguiar,1997) este poder está relacionado à capacidade do gerente de punir como meio de influenciar o comportamento de outras pessoas. A punição se manifesta de várias maneiras, desde a advertência até à demissão. É uma poderosa ferramenta de intimidação. O poder coercitivo é o controle dos outros por meio do medo e as punições típicas dentro das empresas incluem, principalmente, deixar de promover ou despedir o funcionário. Funciona como uma restrição ao poder legítimo e é referida como poder subordinado, diz DuBrin (2006). Poder legítimo: representa o poder que uma pessoa recebe como resultado da sua posição na hierarquia organizacional. É uma posição de autoridade que oferece poderes de coerção e de recompensa. Porém, o poder legítimo é mais amplo do que o poder para coagir ou recompensar. Inclui a aceitação, por membros de uma organização, da autoridade de uma posição. A pessoa tem o 11 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda direito, considerando a sua posição e as responsabilidades do seu cargo, de esperar que você concorde com pedidos legítimos. (Robbins, 1998). Para French & Raven (apud Aguiar, 1997) este poder deriva do local específico ocupado por uma pessoa dentro da organização. As bases do poder legítimo são os valores culturais, aceitação da estrutura social, especialmente da hierarquia de autoridade, e a nomeação por uma autoridade legítima. Quando o individuo deixa o cargo, o poder continua a existir na posição e não pode seguir com o individuo. A eficácia dos poderes coercitivos e de recompensa depende das percepções das necessidades dos funcionários e do quanto temem a punição ou, ainda, da importância que dão ao fato de serem membros da organização, diz DuBrin (2006:303) O poder dos gerentes origina-se, também, de duas características pessoais: conhecimento e personalidade. São os poderes de especialização ou competência e poder de referência. Poder de especialização ou competência: é a influência exercida como resultado de habilidade especial ou conhecimento. A especialização tornou-se uma das mais poderosas fontes de influência à medida que o mundo se tornou mais orientado tecnologicamente. Como os empregos tornam-se mais especializados, tornamo-nos cada vez mais dependentes de especialistas para alcançar metas. As pessoas têm experiência e conhecimento para ganhar seu respeito, e suas avaliações são acatadas nos assuntos nos quais especialistas. Algumas pessoas não passam informações para reter este tipo de poder. (Robbins, 1998). Para que a especialização seja uma eficaz fonte de poder, os integrantes do grupo devem respeitá-la. O exercício do poder da especialização é o ponto de partida lógico para a criação de uma base de poder, diz DuBrin (2006). Poder de referência: sua base é a identificação com a pessoa que tem recursos desejáveis ou traços pessoais. Se eu admiro e me identifico com você, você pode 12 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda exercitar poder sobre mim porque quero agradá-lo. O poder daquele que influencia é baseado no desejo do influenciado de ser parecido ou identificar-se com o que influencia. (Robbins, 1998). Para French & Raven (apud Aguiar, 1997) este é o poder de influenciar o outro pela força do seu carisma ou por características pessoais que são admiradas e servem como referência. Tem como base a identificação com o outro, desejo de ser semelhante ao outro. Portanto, os trêsprimeiros tipos de poder (recompensa, coercitivo e legítimo) têm como base o poder de posição, enquanto os outros dois (competência e referência) as bases de poder são pessoais. Segundo Kelman (apud Hollenbeck,1999) é provável que existam três tipos distintos de respostas ao tipo de poder: obediência, identificação e internalização. Base do Poder Resposta Recompensa Coercitivo Obediência Referência Identificação Legítimo Especialização Internalização A obediência ocorre quando as pessoas se comportam de forma conformada com as diretrizes de outras porque resulta em recompensas ou evita punições. A identificação como resposta ocorre quando as pessoas aceitam a direção ou influência de outra por sua identidade com ela. 13 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda O poder legítimo e o de especialização podem estimular a internalização, pois ambos recorrem à credibilidade pessoal – o grau em que a pessoa é percebida como detentora de autoridade ou experiência. A credibilidade pode ser usada para convencer as pessoas da importância intrínseca das atitudes e comportamentos que estão sendo demandados. 1.3. LIDERANÇA BEM SUCEDIDA, EFICAZ E EFICIENTE Eficiência é fazer certo as coisas, eficácia são as coisas certas, eficiência é fazer certo um processo qualquer. Drucke(1996) Para melhor compreendermos o sentido de liderança eficaz, conceituaremos eficácia e eficiência. Para Drucker (1996), a base da liderança eficaz é compreender a missão da organização, defini-la e estabelecê-la de forma clara e visível. O líder fixa metas e prioridades, bem como fixa e mantém os padrões. Os líderes eficazes raramente são permissivos, têm responsabilidade. Outro requisito vital para a liderança eficaz é obter confiança. É a crença em sua integridade. As ações de um líder e suas crenças professadas devem ser congruentes, ou ao menos compatíveis. A liderança eficaz não se baseia em ser inteligente; ela se baseia principalmente em ser consistente (Drucker, 1996:75). Complementando essa idéia, podemos dizer que: eficiência é o meio de fazer certo um processo correto de boa qualidade, em curto prazo, com o menor numero de erros. Já a eficácia1 seria ligada ao objetivo em si, seria a relação entre os resultados almejados e os previstos, e também, o processo de atingimento das metas propostas, aproveitando as oportunidades oferecidas. Segundo Lacombe: Eficaz = alcança o objetivo visado; capacidade de atingir a meta, os resultados. Eficiente = produz o máximo de rendimento útil com o mínimo dispêndio com relação aos recursos materiais, recursos humanos e tempo. 1 Eficácia é atingir o objetivo. Muitas vezes se considera o quão perto se chegou do objetivo ou o quanto se superou o objetivo. Imagine que uma empresa tem 4 equipes de vendas e cada uma delas tem como objetivo “vender $100.000, no mês”. Se sua equipe ou superou $100.000 foi eficaz, pois alcançou o objetivo. Ser eficiente tem a ver com o desempenho. É algo sempre relativo e comparativo. Admita que sua equipe, para vender $100.000 tenha tido gastos de $20.000; uma outra equipe vendeu $100.000, mas gastou apenas $18.000. Ela, portanto, foi mais eficiente que sua equipe. Eficiência tem a ver com o uso de recursos. 14 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Observar que objetivo é apenas o que se quer alcançar. A meta quantifica o objetivo. Por exemplo: objetivo: emagrecer; meta: 10 kg até dezembro de 200X. A meta temporal (no caso, dezembro de 200X) é obrigatória, caso contrário o tempo fica indefinido. Numa empresa pode-se ter: objetivo: elevar a produtividade; meta: de 7t/h-h2 para 10t/h-h até julho de 200X. Segundo Bass (apud Hersey, 1999) quando o líder tenta influenciar o comportamento de alguém no sentido de realizar alguma tarefa, essa liderança será considerada bem- sucedida ao se atingir os resultados desejados em função do poder de posição do líder e mal-sucedida quando os objetivos não forem alcançados. A liderança será considerada bem-sucedida, eficaz e eficiente quando a pessoa executar a tarefa porque deseja fazê-la, vendo-a como compensadora. Podemos dizer que a influência na realização da tarefa utiliza-se não só do poder de posição, mas também do poder pessoal. A eficácia se apresenta como um contínuo, que pode variar de muito eficaz até ineficaz. Fonte: Hersey & Blanchard (1986:137). Portanto, liderança no gerenciamento de pessoal na área administrativa envolve não apenas a eficácia para a execução das metas, mas também eficiência. Para tanto, os gestores têm como função constituir a própria equipe de trabalho, analisar e planejar as tarefas, motivar o pessoal, monitorar desempenhos e recompensar a eficiência. Vamos analisar o texto de Hersey & Blanchard (1988): 2 Lê-se: 7 toneladas por homem-hora. A Liderança tentada B Bem - sucedido Eficaz Ineficaz 15 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Suponhamos que o gerente Álvaro tenta influenciar o individuo José no sentido de realizar certa tarefa. A tentativa de Álvaro será considerada bem-sucedida ou malsucedida em função da medida com que José executar a tarefa. Não se trata de uma situação excludente tipo ou/ou... ... Se o estimulo de liderança de Álvaro for compatível com as expectativas de José e se José se sentir contrariado e executar o trabalho só por causa do poder de posição de Álvaro, podemos dizer que Álvaro foi bem-sucedido, mas não eficaz. José reagiu conforme Álvaro queria porque Álvaro tem o controle dos prêmios e das punições, e não porque José vê suas próprias necessidades sendo satisfeitas ao atender aos objetivos do gerente ou da organização. ...Os gerentes podem ter sucesso, mas ser ineficaz, exercendo apenas uma influência de curta duração sobre o comportamento dos outros. Por outro lado, se os gerentes forem bem sucedidos e eficazes ao mesmo tempo, sua influência tenderá a levar a uma produtividade e desenvolvimento da organização. Ainda segundo Hersey & Blanchard (1988), esse referencial de sucesso versus eficácia é uma forma de avaliar a resposta a um evento comportamental específico, e não de avaliar o desempenho ao longo do tempo. Uma avaliação a longo prazo não é o resultado de um único evento de liderança, mas a somatória de muitos eventos diferentes. Um líder eficaz em uma organização, segundo DuBrin (2006) deve ter: habilidades cognitivas apropriadas, ou habilidade mental e conhecimento; um grau realista de autoconfiança – característica que determina sua qualidade de manter-se calmo sob pressão; confiabilidade – característica que determina sua integridade comportamental e, principalmente inteligência emocional. A inteligência emocional é considerada por DuBrin (2006:267) como o maior fator de contribuição para a eficácia da liderança. A paixão pelo trabalho e pelas pessoas é um aspecto particularmente importante da inteligência emocional: é difícil inspirar os outros se você não é apaixonado pelas suas principais atividades de trabalho. 16 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda A inteligência emocional refere-se a qualidades como uma compreensão dos próprios sentimentos, empatia pelos outros e controle das emoções. Segundo DuBrin (2006:44) esse tipo de inteligência tem a ver com a habilidade de conectar-se com as pessoas e de compreender suas emoções. Daniel Golerman, mediante pesquisa descobriu que os lideres mais eficazes são parecidos num aspecto essencial: todos têm um alto grau de inteligência emocional. DuBrin (2006) caracteriza, também,a habilidade de administrar polaridades como uma das práticas da liderança eficaz. DuBrin cita o filósofo Koestenbaum, que faz referencia à administração de polaridades como o atributo principal da liderança dizendo que elas são inevitáveis em todos os aspectos da vida: queremos viver, mas não podemos fugir da morte. Como posso me dedicar plenamente à família e também ao trabalho? Sou chefe ou amigo? Amante ou juiz? Como conciliar minhas necessidades com as de minha equipe? Paradoxos como estes são parte da vida. Toda interação comercial ou de trabalho é uma forma de confronto - um conflito de prioridades, uma luta de dignidades, uma batalha de idéias. Não se trata de um convite para você travar uma batalha épica entre bem e mal, certo e errado. O que estou querendo mostrar é que é preciso tomar cuidado para não bater com a cabeça na parede. As polaridades fazem parte da ordem natural das coisas. Como agimos, como reagimos a essas polaridades - é assim que a grandeza se diferencia da mediocridade. O que pode determinar a eficácia de um líder em uma organização? Estamos preocupados não só com o resultado de uma determinada tentativa de liderança, mas com a eficácia da unidade organizacional durante um espaço de tempo. Likert (1975) identifica três variáveis que são úteis para estudar a eficácia ao longo do tempo: causal, interveniente e de resultado final. Variáveis causais: são as variáveis que influenciam o curso dos desenvolvimentos numa organização e seus resultados. Essas variáveis independentes podem ser alteradas pela organização e sua gerencia. Não estão fora do controle da organização, como as condições gerais dos negócios. Ex. de variáveis causais: estratégias, habilidades e comportamentos de liderança, decisões gerenciais, políticas e estrutura da organização. 17 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Variável independente (x) ou causal: XY É uma variável antecedente que influencia, determina ou afeta outra variável; É um fator determinante, condição ou causa para determinado resultado. É também designada de variável explicativa. Exemplos: O número de reclamações dos clientes (Y) é menor quando aumenta o nível de treinamento (X) dos funcionários. O tempo de reação (Y1) a um estímulo visual (X1) é significativamente mais rápido do que o tempo de reação (Y2) a um estímulo auditivo (X2) O barulho forte e inesperado (X) acelera o pulso (Y1), eleva a transpiração (Y2) e dilata as pupilas (Y3) dos indivíduos. Variáveis intervenientes: as estratégias, habilidades e comportamentos de liderança e outras variáveis causais afetam os recursos humanos, isto é, as variáveis intervenientes de uma organização. Refletem-se na dedicação aos objetivos, na motivação e no moral dos membros e nas suas habilidades de liderança, comunicação, solução de conflito, tomada de decisão e solução de problemas. Variável Interveniente (W): XWY. Esta variável se coloca entre a causal (X) e a dependente (Y), ampliando, diminuindo ou anulando a influência de (X) sobre (Y). Darley & Latané (1968) demonstraram que, quando há maior número de espectadores, o comportamento de ajuda numa situação de emergência é menos provável. Quando há muitos espectadores a responsabilidade pessoal de ajuda é diluída. De acordo com esses autores, o número de espectadores (W) afeta a responsabilidade pessoal (X) que, por sua vez, afeta o comportamento de ajuda (Y). Variáveis de resultado final: as variáveis de saída ou resultado final são as variáveis dependentes que refletem as realizações da organização. Na avaliação da eficácia, talvez mais de 90% dos gerentes de organização só olham para os índices de resultados. Assim, em geral a eficácia de gerentes é determinada pelos lucros líquidos; a eficácia dos professores universitários será determinada pelo número de artigos e livros publicados; a eficácia dos técnicos de futebol será determinada pelo número de vitórias ou derrotas do time. Quando se tem uma variável independente ou causal, logicamente se tem a variável dependente ou conseqüente (Y): É a variável afetada, influenciada ou determinada pela variável independente (X). É também designada por variável resultado. 18 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Hersey & Blanchard (1988) demonstram como podemos visualizar a relação entre as três classes de variáveis como estímulos (variáveis causais) que atuam sobre o organismo (variável intervenientes) e criam certas respostas (variáveis de saída), conforme mostra o quadro abaixo: FonteHersey & Blanchard (1988) As variáveis intervenientes referem-se à construção de desenvolvimento da organização e tendem a construir metas de longo prazo. Esta é a parte da eficácia em que muitos gerentes negligenciam, porque enfatizam tanto o potencial de longo prazo quanto o desempenho em curto prazo. O nível ou condição das variáveis intervenientes é produzido em grande parte pelas variáveis causais e, por sua vez, têm influencia sobre as variáveis de resultado final. As tentativas dos membros de uma organização no sentido de melhorar as variáveis intervenientes, alterando diretamente essas variáveis, em geral terão muito menos êxito que as tentativas de modificá-las por meio da alteração das variáveis causais. Da mesma forma, os esforços para melhorar as variáveis de resultado final pela modificação das variáveis intervenientes geralmente serão menos eficazes que a modificação das variáveis causais. Variáveis Causais Estratégias, habilidades e estilos de liderança; Decisões gerenciais; Filosofia organizacional, objetivos, políticas e estruturas; Tecnologia, etc. Variáveis Intervenientes Compromisso com os objetivos, motivação e moral da equipe; Habilidade para liderar, comunicações, resolução de conflito, tomada de decisão, solução de problemas, etc. Variáveis de Resultado Final Produção (saída) Custos, Vendas, Lucros, Relações gerencia- sindicatos 19 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 1.4. ESTILOS DE LIDERANÇA Líderes natos podem existir, mas, com certeza, poucos dependerão deles. A liderança deve e pode ser aprendida. Drucker (1996). Em 1960 foi publicado o livro “Autocracia e democracia: uma investigação experimental”, que tinha como conteúdo um novo estudo na abordagem “estilos de liderança”. Kurt Lewin orientou, na década de 30, Rauph White e Ronald Lippitt numa pesquisa que tinha como participantes três grupos de crianças submetidas a lideranças diferentes: autocrática, democrática e liberal (laissez – faire)3. Essa teoria foi denominada “Os Três Estilos de White e Lippitt”. O resultado da pesquisa demonstrou que os indivíduos se comportam de forma diferente, de acordo com os tipos de liderança a que são submetidos. O líder autocrático era dominador, agressivo e tinha o poder de decisão centralizado nele. O resultado foi o seguinte: Houve forte tensão, frustração e agressividade; nenhuma espontaneidade nem iniciativa, nem formação de grupos de amizade. Embora aparentemente gostassem das tarefas, não demonstraram satisfação em relação à situação. O trabalho somente se desenvolvia com a presença física do líder. Quando este se ausentava, as atividades paravam e os grupos expandiam seus sentimentos reprimidos, chegando a explosões de indisciplina e de agressividade. A liderança autocrática baseia-se no uso do poder de coerção e posição, que despende alta quantidade de energia, procurando o maior controle possível sobre as ações e reações do liderado, o que tende a gerar passividade e alienação. Ameaças, punições e pressões por parte do líder se multiplicam. Isso significa atenção contínua no sentido de evitar desvios dos padrões rigidamenteestabelecidos e presença física constante de uma figura de autoridade para assegurar o cumprimento das atividades. (RAMOS, 2004 p.07). 3 Laissez – faire [pronuncia-se: leçê-fér] é uma expressão francesa que tem o sentido de “deixa andar”, “deixa rolar”. 20 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda O líder democrático era comunicativo e seu objetivo era orientar e motivar o grupo, tornando-o participativo. O resultado foi o seguinte: Houve formação de grupos de amizade e de relacionamentos cordiais entre os meninos. Líder e subordinados passaram a desenvolver comunicações espontâneas, francas e cordiais. O trabalho mostrou um ritmo suave e seguro sem alterações mesmo quando o líder se ausentava. Houve um nítido sentido de responsabilidade e comprometimento pessoal. Na liderança democrática o grau de controle exercido sobre os liderados é menor. Os relacionamentos face a face tendem a ser mais freqüentes. O liderado, por sua vez, goza de um espaço confortável para atuar, desde que não ameace a autoridade, experiência, prestígio e conhecimento dos que ocupam posições de liderança. As normas, regras e procedimentos normais são reduzidos: isso libera o líder da necessidade de exercer um controle maior sobre o liderado, uma vez que esse tem consciência dos limites tolerados pelo contexto social. (RAMOS 2004:8) O líder liberal (laissez–faire) era ausente; deixava a tarefa da tomada de decisão para o grupo. O resultado foi o seguinte: Notou-se forte individualismo agressivo e pouco respeito com relação ao líder. A produção foi medíocre, as tarefas se desenvolviam ao acaso, com muitas oscilações perdendo-se muito tempo com discussões mais voltadas para motivos pessoais do que relacionadas com o trabalho em si. Na liderança liberal (laissez-faire) o líder não se envolve com as atividades de áreas de seus funcionários e exerce pequenas influências, conhecido como “deixa rolar”, tendo, portanto, menor visibilidade por parte dos funcionários. O tipo autocrático pode ser mais eficaz em situações estruturadas e com objetivos bem definidos. Apesar de oferecer mais segurança aos liderados em momentos de tensão, provoca um clima sócio-afetivo negativo e alguma agressividade interna que pode conduzir a uma fraca coesão do grupo. Por outro lado, o tipo democrático parece ser mais eficaz em situações moderadamente estruturadas e com objetivos pouco claros. 21 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda O incentivo à participação estimula a satisfação e promove uma elevada coesão do grupo. No entanto, ao repartir as responsabilidades pode aumentar os níveis de ansiedade de alguns membros do grupo. Em relação ao tipo liberal, este pode conseguir elevados níveis de motivação, mas em contrapartida pode ser desacreditado e visto como fraco. (RAMOS, 2004:10): AUTORITÁRIO DEMOCRÁTICO LIBERAL O líder determina as tarefas. Os membros são livres para trabalhar, podem escolher e a divisão das tarefas é deixada ao grupo. O líder não participa da atribuição de tarefas. As execuções das atividades são ditadas pela autoridade, um de cada vez, de modo que futuros passos ficam, em grande parte, incertos. A atividade é discutida. Os passos gerais para as metas do grupo são esquematizados e, quando o aconselhamento técnico é necessário, o líder sugere dois ou mais procedimentos alternativos, entre os quais o grupo pode escolher. Subsídios são oferecidos pelo líder, que deixa claro que ele fornecerá informações quando solicitado. Fora isso, o líder não toma parte na discussão. Pessoal nos elogios e críticas do trabalho de cada um; permanece distante da participação ativa. O líder é "objetivo" ou "orientado aos fatos" em seus elogios e críticas. Evita fazer comentários sobre as atividades dos membros, a não ser quando interrogado; não tenta avaliar. Fonte: Lewin (1959) 22 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Tannenbaum &. Schimidt (1973) descreveram uma ampla faixa de estilos na forma de um contínuo que vai desde o comportamento autoritário centrado no chefe, até o comportamento democrático ou centralizado no subordinado, conforme figura abaixo: Fonte: Tannenbaum &. Schimidt (1973) adaptação de Arkheia(2008) Às vezes esse contínuo se estende além do comportamento do líder democrático até incluir um estilo laissez-faire, que permite aos subordinados fazerem o que quiserem. Não estar incluído no contínuo pode significar ausência de liderança. Neste modelo a estratégia do líder é baseada em três forças: primeiro, nas forças do líder (seus valores, sua competência); segundo, nas forças do grupo subordinado (suas necessidades de independência ou dependência, responsabilidade, conhecimento e experiência) e por último nas forças da situação (o tipo de organização, natureza da tarefa, tempo). 1.4.1. LIDERANÇA BASEADA EM PRINCÍPIOS SEGUNDO STEPHEN COVEY A liderança sob o ponto de vista de Covey (1998) baseia-se em princípios, leis naturais. Esta abordagem conduz a um novo paradigma ao discutir sobre a vida das pessoas e a liderança que essas exercem nas organizações e sobre outras pessoas, baseadas em princípios invioláveis, leis naturais na dimensão humana. Estas são as leis do universo 23 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda referentes às relações e organizações humanas que fazem parte da condição, percepção e consciência dos indivíduos. A percepção é um processo pelo qual um indivíduo recebe um conjunto de estímulos por meio dos sentidos, selecionando-os, comparando-os e interpretando-os convenientemente. Segundo Kemp (1975:13), percepção é "o processo pelo qual um indivíduo se apercebe do mundo que o rodeia". Os diferentes órgãos sensoriais (olhos, ouvidos, tacto, etc.) estão submetidos a uma multidão de estímulos, produzindo uma sensação no indivíduo. Esta sensação é uma resposta imediata dos órgãos sensoriais aos estímulos. A sensação é um fato fisiológico, já que se trata de uma resposta do organismo aos estímulos, enquanto que a percepção constitui a tomada de consciência dessa reação. Mais que um simples fenômeno sensorial, a percepção é uma conduta psicológica complexa que corresponde a um quadro de referência particular elaborado segundo a nossa experiência pessoal e social. Os princípios são leis naturais comprovadas e validadas por si próprios, que não se alteram nem mudam, mas que indicam um caminho e se aplicam em todos os momentos e em todos os lugares, a partir de valores, idéias, normas e ensinamentos, fundamentadas na realidade. Porém, ao contrário dos valores, que são subjetivos e internos, os princípios são objetivos e externos, operando sob obediência a leis naturais, independente das condições vigentes. Covey (1996) entende que o líder é alguém capaz de desenvolver uma cultura ou um sistema de valores baseados em princípios. Entretanto este é um grande desafio que somente será alcançado por líderes com visão, coragem e humildade para aprender e crescer continuamente. Este é um aprendizado que, segundo Covey acontece ouvindo, observando tendências, percebendo e antecipando necessidades do mercado, avaliando sucessos e erros do passado, e observando as lições que a consciência e os princípios ensinam. A liderança baseada em princípios, considera: imparcialidade, presteza, igualdade, justiça, integridade, honestidade e confiança. Líderes baseados em princípios, segundo Covey (1994), possuem as seguintes características: 24 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 1. Estão continuamente aprendendo: sua competência e capacidadede realização de tarefas está sempre em expansão. Desenvolvem novas habilidades e interesses. A maior parte da energia para o aprendizado e crescimento é espontaneamente gerada e auto-alimentada. 2. Estão voltados para o serviço: encaram a vida como uma missão e não uma carreira. A cada dia se colocam voluntariamente à disposição do serviço. 3. Irradiam energia positiva: tem aparência alegre, agradável e feliz. Sua atitude é otimista, positiva e seu espírito é entusiasta, esperançoso e cheio de fé. 4. Acreditam nas outras pessoas: acreditam no potencial subjacente de todas as pessoas. Não se sentem engrandecidas ao se defrontarem com as fraquezas dos outros. Não rotulam as pessoas, evitam prejulgar, categorizar ou estereotipar. Esta atitude cria um ambiente propício ao crescimento e à oportunidade. 5. Suas vidas são equilibradas: são socialmente ativas, possuindo vários amigos. Mantém-se atualizadas em relação aos assuntos e eventos mais recentes. São intelectualmente ativas, com muitos interesses. São fisicamente ativas. Divertem-se imensamente, distraem-se muito. Possuem um humor saudável. São dotadas de alta consideração e honestidade para consigo mesmas. Reconhecem seu próprio valor, que se manifesta através de sua coragem e de sua integridade. Comunicam-se de forma aberta, simples, direta e não-manipuladora. Pensam em termos de contínuos, prioridades e hierarquias, mas mantém princípios absolutos. Suas ações são proporcionais à situação, ponderadas, temperadas, moderadas, sábias. Vivem sensatamente no presente, planejam cuidadosamente o futuro, e adaptam-se com flexibilidade às circunstâncias mutáveis. Têm boa vontade em admitir e esquecer erros, em executar com alegria as tarefas que os esperam. Não precisam manipular, seja através do medo ou da autopiedade. 6. Sentem-se genuinamente felizes com os sucessos dos outros. Aceitam tanto o elogio quanto a culpa de forma equilibrada. Para eles o único fracasso real é a experiência através da qual nada foi aprendido. 7. Disponibilidade de correr riscos: um de seus princípios definidos é a flexibilidade. Sua segurança está em sua iniciativa, expediente, criatividade, força de vontade, coragem, energia e inteligência, ao invés de depender da segurança, proteção e abundância das áreas de conforto. Buscam "territórios 25 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda desconhecidos", certos de que irão ao encontro do crescimento e de novas contribuições. 8. São sinérgicas: são catalisadoras de mudanças. Trabalham de forma árdua e inteligente, sendo extremamente produtivas, mas de formas novas e criativas. Em trabalhos de equipe procuram complementar suas fraquezas com a força dos outros. Delegam poderes para obter resultados, uma vez que confiam nas forças e capacidades alheias. 9. Não se sentem ameaçadas pelo fato de outros serem mais fortes em determinados aspectos. Em negociações procuram focalizar nos interesses e preocupações das outras pessoas, ao invés de disputar posições. Aos poucos, sua sinceridade é reconhecida pelos outros, que tornam-se parte de um processo criativo de solução de problemas. Chegam então a soluções sinérgicas, superiores às obtidas por conciliação, onde todos cedem e recebem pouco. 10. Exercitam-se pela auto-renovação: regularmente exercitam as quatro dimensões humanas – física, mental, emocional e espiritual. Mantém atividades físicas regulares (aeróbicas, alongamento e resistência). 11. Exercitam suas mentes através da leitura, solução criativa de problemas, escrevendo ou visualizando. Emocionalmente, esforçam-se para serem pacientes, desenvolverem empatia, e aceitar a responsabilidade por suas vidas, decisões e reações. Como afirma Covey (1996), o líder do futuro será o mesmo do presente. Não haverá mudança de pessoal, mas uma mudança interna: alguém se torna o líder do futuro através de uma completa transformação, que o fará mais baseado em princípios. A causa é a insatisfação originada na decepção, no fracasso, na morte, em relacionamentos perturbados ou rompidos com familiares ou amigos, na violação da confiança, na fragilidade pessoal, no desânimo, no tédio, no descontentamento, na saúde debilitada, nas conseqüências de más decisões, na solidão, na mediocridade, no medo, em problemas financeiros, na falta de segurança no emprego ou na vida desequilibrada. A insatisfação gera abertura para novos modelos de vida pessoal, no qual elementos comuns de humildade e sacrifício pessoal levem à mudança total baseada em princípios. 1.4.2. A LIDERANÇA SEGUNDO O PENSAMENTO DE PETER F. DRUCKER 26 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda O pensamento de Drucker representa uma ruptura em relação à Teoria dos traços4. Como afirma Drucker (1996), líderes natos podem existir, mas, com certeza, poucos dependerão deles. A liderança deve e pode ser aprendida. O que define o líder é o atendimento a quatro condições básicas de liderança apresentadas pelos líderes por ele estudados: 1. A única definição de líder é alguém que possui seguidores. Algumas pessoas são pensadoras, outras, profetas. Os dois papéis são importantes e muito necessários, mas, sem seguidores, não podem existir líderes; 2. Um líder eficaz não é alguém amado e admirado. É alguém cujos seguidores fazem as coisas certas. Popularidade não é liderança, resultados, sim; 3. Os líderes são bastante visíveis, portanto, servem de exemplo; 4. Liderança não quer dizer posição, privilégios, títulos ou dinheiro. Significa responsabilidade. A personalidade de liderança, estilo de liderança e traços de liderança não existem: “a polêmica sobre características e traços é pura perda de tempo”, diz Drucker. Porém, vale resgatar a informação que, na obra "Administrando em tempos de grandes mudanças", Drucker (1999) esclarece que o líder deverá desenvolver o que ele chama de competências para atuar nos ambientes atuais, de sucessivas mudanças. Estas competências teriam caráter mais subjetivo, como a empatia, a disposição para correr riscos ou para conviver com a pressão. Elas devem ser identificadas pelo líder através do auto-conhecimento. Muitos fatores devem ser considerados para que cada um compreenda seu próprio estilo de liderança, bem como o impacto desse sobre os outros e sobre o desempenho. Os 4 Teoria dos traços de personalidade: são as teorias mais antigas a respeito da liderança. Um traço é uma qualidade ou característica da personalidade. Segundo esta teoria, o líder é aquele que possui alguns traços específicos de personalidade que o distinguem das demais pessoas. Assim, o líder apresenta características marcantes de personalidade através dos quais pode influenciar o comportamento das demais pessoas. A teoria dos traços parte do pressuposto de que certos indivíduos possuem uma combinação especial de traços de personalidade que podem ser definidos e utilizados para identificar futuros líderes potenciais. Os traços mais comumente apontados foram os seguintes: 1. Traços físicos: energia, aparência e peso. 2. Traços intelectuais: adaptabilidade, agressividade, entusiasmo e autoconfiança. 3. Traços sociais: cooperação, habilidades interpessoais e habilidade administrativa 4. Traços relacionados com a tarefa: impulso de realização, persistência e iniciativa 27 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda líderes simbolizam a situação organizada que lideram e, portanto, devem influenciar de maneira construtiva; tentar lidar com a ambigüidade que permeia muitas situações de interação; tentar interpretar os esquemas dos que estão envolvidos; personificar por meio do uso da linguagem apropriada os rituais e as outras formas de discurso simbólico e valores que conduzem a formas desejáveis de ação organizada. Coma evolução dos estudos sobre liderança surgiram outras abordagens, novos nomes para designar os estilos. Cada estilo engloba diferentes comportamentos, como veremos a seguir. 1.4.3. LIDERANÇA SEGUNDO PETER SENGE De acordo com Senge (1995) “a nova visão de liderança enfoca funções delicadas e importantes, tendo em vista que os dirigentes têm as funções de projetista, regente e professor. É deles a responsabilidade de construir organizações nas quais as pessoas possam expandir suas capacidades de entender a complexidade, definir objetivos e aperfeiçoar modelos mentais, ou seja, eles são responsáveis pela aprendizagem. Assim, todo líder é projetista, professor e regente”. Projetista para construir o alicerce da empresa, referido aos seus propósitos e valores essenciais, para definir políticas e estratégias que os realizem, bem como para criar processos de aprendizagem efetivos. Professor para fazer aflorar os modelos mentais das pessoas e ajudá-las a reestruturar suas visões da realidade e, assim, serem capazes de enxergar as causas subjacentes dos problemas, aquilo que não está explícito, que não está escancarado. Regente para catalisar os esforços das pessoas na realização da missão da empresa. Na condição de “dirigente - professor” ele não “ensina” as pessoas a atingirem seus objetivos, mas trata de promover a aprendizagem, ajudando as pessoas a desenvolverem conhecimentos sistêmicos. Portanto, é impossível reduzir a liderança natural a um conjunto de técnicas ou habilidades. 28 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 1.4.4. LIDERANÇA ORIENTADA PARA RESULTADOS DE DAVE ULRICH Ulrich (2000:20) afirma que, na última década, “desenvolver melhores líderes consistia em identificar e aprimorar os atributos da liderança”. Porém, como a maioria das organizações trabalha visando a ter lucros, ou com foco em algum resultado, Ulrich propõe que a liderança seja orientada para resultados. O estudo da utilização desses atributos faz-se necessário, porquanto a liderança eficaz exige atributos aliados a resultados. Assim, “os atributos que não induzem ou não se conectam com os resultados não são relevantes” e “os líderes que não estão conseguindo resultados almejados não estão verdadeiramente liderando”, diz Ulrich (2000:44). No que se refere ao conjunto de atributos Ulrich (2000) propõe classificá-los em três grupos que formam a abordagem SER – SABER – FAZER , o que são, o que sabem, e o que fazem com resultados: 1. Como os líderes SÃO – valores, motivos, traços pessoais, caráter. 2. O que os líderes SABEM – habilidades, capacidades. 3. O que os líderes FAZEM – comportamentos, hábitos, estilos. Sendo que os modelos de atributos do líder de sucesso se agrupam em quatro categorias, sendo elas: 1. definição da trajetória (visão, clientes e futuro), 2. mobilização do comprometimento pessoal (envolvimento de outras pessoas, compartilhamento do poder), 3. desenvolvimento das capacidades organizacionais (construção de equipes, gerenciamento da mudança) e 4. demonstração do caráter pessoal (hábitos, integridade, confiança). Para que se alcance o equilíbrio entre os fatores atributos e resultados, Ulrich (2000:213) propõe um círculo, denominado círculo virtuoso dos atributos e resultados, desencadeado quando os líderes compreendem o que precisam SABER e FAZER para 29 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda serem bem sucedidos. Tornar-se um líder orientado para resultados, para Ulrich (2000) depende de 14 iniciativas: 1. Comece com foco absoluto nos resultados. 2. Assuma responsabilidade pessoal e integral pelos resultados do grupo. 3. Comunique as expectativas e alvos ao pessoal do grupo, de forma clara e específica. 4. Determine o que você deve fazer pessoalmente para melhorar os resultados. 5. Utilize os resultados como critério de teste para a continuação ou implementação de práticas de liderança. 6. Envolva-se em atividades e oportunidades de desenvolvimento que o ajudem a produzir melhores resultados. 7. Conheça e utilize ao máximo as capacidades de todos os membros do grupo e ofereça a cada um as oportunidades de desenvolvimento adequadas. 8. Experimente e inove em todas as áreas sob a sua influencia, buscando constantemente novas maneiras de melhorar o desempenho. 9. Mensure os padrões certos e aumente o rigor das mensurações. 10. Parta constantemente para a ação; os resultados não melhorarão por si mesmos. 11. Aumente o ritmo ou a velocidade do grupo. 12. Procure o feedback de outros na organização sobre as maneiras como você e seu grupo melhorarão os resultados. 13. Assegure-se de que os subordinados e colegas percebem que sua motivação como líder é a obtenção de resultados positivos e não a conquista de ganhos pessoais ou políticos. 14. Modele os métodos e se esforce pelos resultados a serem adotados e obtidos pelo grupo. 1.5. ABORDAGENS SOBRE LIDERANÇA 30 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Ser diferente é um grande recurso para sua própria segurança emocional. Confere a máxima importância aos sentimentos das pessoas, ao clima de calor humano, ao relacionamento amistoso e à afeição dos outros. Robbins (1999) Por volta dos anos 30 surgiu a Teoria dos traços de personalidade que buscou por atributos de personalidade, sociais, físicos e intelectuais que descrevessem líderes e os diferenciassem dos não-líderes (liderança inata). Já foi visto que para a teoria dos traços de personalidade um traço é uma qualidade ou característica da personalidade. Segundo esta teoria, o líder é aquele que possui alguns traços específicos de personalidade que o distinguem das demais pessoas. Assim, o líder apresenta características marcantes de personalidade através dos quais pode influenciar o comportamento das demais pessoas. A teoria dos traços parte do pressuposto de que certos indivíduos possuem uma combinação especial de traços de personalidade que podem ser definidos e utilizados para identificar futuros líderes potenciais. Os traços mais comumente apontados foram os seguintes: 1-Traços físicos: energia, aparência e peso. 2-Traços intelectuais: adaptabilidade, agressividade, entusiasmo e autoconfiança. 3-Traços sociais: cooperação, habilidades interpessoais e habilidade administrativa e 4-Traços relacionados com a tarefa: impulso de realização, persistência e iniciativa Segundo Cartwright & Zander (apud Ferreira, 1997), ao analisarem os resultados da pesquisas de traços de liderança, os indicadores mostraram que, embora algumas capacidades mínimas sejam comuns a todos os líderes, elas estão amplamente presentes nos não-líderes e, em dada situação, os traços de um líder são totalmente diversos de outro líder em situação diferente. As descobertas de mais de meio século nos levam a acreditar que existem alguns traços que aumentam a probabilidade de sucesso como líder, mas nenhum garante o sucesso. 31 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda A teoria dos traços não considera as necessidades dos seguidores e ignora fatores situacionais. 1.5.1. ABORDAGEM COMPORTAMENTAL No final dos anos 40 até meados dos anos 60 pesquisas deram ênfase aos estilos de comportamento que os líderes demonstravam. Eles imaginavam que muitas características associadas à liderança podiam ser adquiridas. Veremos algumas teorias comportamentais. Estudos de Ohio State University Esta teoria comportamental teve início na Ohio State University no final dos anos 40. Os pesquisadores procuraram identificar dimensões independentes do comportamento do líder, chegando a duas categorias que respondiam pela maioria dos comportamentos de liderança descritos pelos subordinados, conformequadro abaixo. Itens Similares aos Encontrados no Questionário de Descrição do Comportamento do Líder Itens de estrutura inicial ou estrutura de iniciação: 1. Conta para os membros do grupo o que é esperado 2. Promove o uso de procedimentos padronizados 3. Toma decisões quanto aos métodos de trabalho 4. Esclarece as relações de papéis entre os membros do grupo 5. Estabelece metas específicas e acompanha de perto o desempenho Itens de consideração: 1. É fácil conviver com ele 2. Põe em prática as idéias geradas pelo grupo 3. Trata a todos da mesma forma 4. Permite que os seguidores saibam das mudanças por vir 5. Explica as ações a todos os membros do grupo Fonte: WAGNER III; HOLLENBECK ( 1999) Estrutura inicial ou estrutura de iniciação (orientado para tarefa): o líder define e estrutura o seu papel e dos subordinados na busca da realização de metas. A 32 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda estruturação inclui o comportamento que tenta organizar o trabalho, relações de trabalho e metas. O líder caracterizado com alta pontuação em estrutura inicial pode ser descrito como alguém que organiza grupos e suas tarefas, espera que mantenham padrões definidos de desempenho e dão ênfase a prazos. DuBrin (2006) entende que a estrutura de iniciação “descreve o grau para o qual o líder estabelece a estrutura para os membros do grupo”. A estrutura é iniciada mediante atividades, como a designação de tarefas específicas, a especificação de procedimentos a serem seguidos, a esquematização do trabalho e o esclarecimento das expectativas. Consideração (orientado para as pessoas): o líder terá relações de trabalho caracterizadas por confiança mútua, respeito pelas idéias dos subordinados e interesse por seus sentimentos. O líder com alta pontuação em consideração pode ser descrito como alguém que ajuda seus funcionários, é amigo, disponível e trata a todos igualmente. Segundo Stodgill & Coons (apud DuBrin, 2006) a consideração descreve o grau para o qual o líder cria um ambiente de apoio emocional, conforto, amizade e confiança. Ele o faz por meio de um tipo de comportamento que inclui ser amigável e acessível, sempre buscando o bem-estar pessoal do grupo, mantendo-o informado dos novos desenvolvimentos e fazendo pequenos favores aos integrantes do grupo. De acordo com essa teoria, todos os líderes, em qualquer situação e cultura, revelariam os mesmos traços psicológicos. Foram feitas inúmeras pesquisas onde se pretendia isolar traços de liderança, tais como: energia, ambição, inteligência, integridade, autoconfiança, que estivessem consistentemente ligados à liderança. Na verdade estas pesquisas fracassaram, pois, foram encontrados cerca de 80 traços, mas só cinco deles eram comuns a quatro ou mais investigações. Estudos de Michigan University Os estudos feitos pelo Centro de Levantamento e Pesquisa da Michigan University tinham como objetivo localizar características comportamentais de líderes que pareciam 33 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda estar relacionadas a medidas de eficácia de desempenho. Investigaram as diferenças em resultados obtidos por gerentes centrados na produção e gerentes centrados nos funcionários, assim caracterizados: Orientação para a produção - estabeleciam padrões rígidos de trabalho, organizavam as tarefas cuidadosamente, determinavam os métodos de trabalhos a ser seguidos e supervisionavam bem de perto a realização das tarefas. Orientação para o funcionário - davam ênfase às relações interpessoais, tinham interesse pelos subordinados e aceitavam as diferenças individuais. Encorajavam os membros do grupo a participar do estabelecimento das metas e de outras decisões de trabalho, assim como ajudavam a garantir o alto desempenho, gerando confiança e respeito entre os componentes do grupo. Os pesquisadores da Universidade de Michigan chegaram a conclusões que favoreciam fortemente os líderes de comportamento orientado para o funcionário, que eram associados a maior produtividade de grupo e maior satisfação no trabalho. Líderes orientados para a produção tendiam a ser associados a baixa produtividade do grupo e satisfação no trabalho mais baixa (ROBBINS, 1999). Sobre este resultado, segundo DuBrin (2006) os estudiosos descobriram que os grupos de trabalho mais produtivos tendiam a ter líderes centrados nos funcionários mais do que centrados na produção. Além disso, os estudos concluíram que os lideres mais eficazes eram os que mantinham relacionamento de apoio com a equipe, assim como tendiam a usar o processo de tomada de decisão em grupo, mais do que individual, assim como, encorajavam os funcionários a atingir metas de alto desempenho Para Blake & Mouton (1982), o termo orientação para não é específico para indicar a quantidade de produção real ou o real comportamento para com as pessoas, mas sim para indicar a natureza e a força das premissas que estão presentes por detrás de um determinado estilo gerencial. Quando o gerente aborda uma determinada situação, ele 34 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda não atua conforme a realidade objetiva, mas conforme a apreciação subjetiva5 que ele faz da situação, baseando-se em seus próprios pressupostos. Grade Gerencial ou Grid Gerencial Blake & Mouton (1964) propuseram uma grade gerencial baseados nos estilos de “preocupação com pessoas” e “preocupação com produção”, que representa as dimensões da Ohio State de consideração e estrutura inicial ou as dimensões da Michigan de orientação para pessoas e orientação para a produção. A Grade Gerencial é uma representação gráfica de uma visão bidimensional que apresenta 81 posições diferentes, nas quais o estilo do líder deve se encaixar. A grade distingue cinco estilos básicos de liderança: Posição 1.1 – Gerência empobrecida – preocupação mínima tanto com a produção quanto com as pessoas. Este estilo algumas vezes é chamado de liberal (lassez-faire) porque o líder abdica de seu papel de liderança. Fonte: WAGNER III; HOLLENBECK (1999). 5 A apreciação subjetiva depende da interpretação de cada indivíduo, portanto, de acordo com suas crenças e valores. Pr eo cu pa çã o c om as pe sso as Baixo alto 1 2 3 4 5 6 7 8 1 2 3 6 5 4 9 8 7 1.1 Gerência empobrecida 9 9.9 Gerência em equipe 1.9 Gerência de Clube de Campo 9.1 Obediência-Autoridade 5.5 Gerência de organização humana Baixo Alto Preocupação com a produção 35 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Segundo Robbins (1999) o gerente na posição 1.1 não está preocupado nem com pessoas nem com a organização, espera pouco e oferece pouco, fazendo o mínimo para evitar a demissão. Comumente justifica sua apatia e improdutividade, atribuindo culpa a algo fora dele e, com essa racionalização acredita que justifica sua conduta e não admite que a causa seja seu não- envolvimento. Em relação ao planejamento, confere amplas atribuições sem especificar metas e programações, deixando os subordinados cada um por sua conta Quanto à organização do trabalho, acredita que não há o menor problema em deixar sob a responsabilidade dos subordinados, pois considera que conhecem sua tarefa melhor que ninguém. Posição 1.9 – Gerência de clube de campo – muita preocupação com os empregados e pouca preocupação com a administração. Cria um ambiente de trabalho amigável e confortável, mas, compromete o trabalho. Segundo Robbins (1999) o gerente na posição 1,9 baseia-se nas incertezas criadas por ele mesmo e não nas propriedades objetivas da situação. Em seu empenho, paraevitar a rejeição, mostra-se atencioso, bondoso e, sobretudo, solícito no atendimento a pessoas. Ser diferente é um grande recurso para sua própria segurança emocional. Confere a máxima importância aos sentimentos das pessoas, ao clima de calor humano, ao relacionamento amistoso e à afeição dos outros. Para ele é fundamental sentir a compreensão, o apoio e a aceitação dos que lhe rodeiam. Posição 9.1 – Gerência de obediência/autoridade – muita preocupação com a produção e eficiência e pouca preocupação com as pessoas. Os gerentes que adotam este comportamento podem conseguir que as tarefas sejam realizadas, mas, não proporcionam um bom ambiente de trabalho. Segundo Robbins (1999) o gerente na posição 9,1 é estimulado, ao mesmo tempo, pela necessidade do poder, de controlar e dominar e pelo medo do fracasso, da derrota e da perda de controle. Ele se empenha firmemente porque sua meta é vencer e provar a si mesmo que é capaz de dominar a todos e de não se submeter a ninguém. Procura até as últimas conseqüências, evitar o fracasso, 36 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda mas, se é mal sucedido ele se enraivece e imputa a culpa aos outros Na maioria das vezes conclui que não se pode confiar nas pessoas e desta conclusão emana sua idéia de auto-suficiência. Posição 5.5 - Gerência moderada ou do meio do caminho – adequação entre a orientação para a produção e para as pessoas. Gerente realista. Segundo Robbins (1999) a motivação do gerente na posição 5,5 é participativo, busca causar boa impressão, obter aceitação do seu grupo, ser sociável, angariar um extenso círculo de relacionamento, demonstrar status. Por outro lado, a motivação negativa deste gerente é causar má impressão, tornar-se marginalizado pelo grupo, cair no ridículo, sentir-se impopular e isolado, mesmo que sua posição possa ser a mais válida. Assim o gerente 5,5 faz o possível para conquistar popularidade, desenvolvendo maneiras agradáveis nos seus relacionamentos. Posição 9.9 – Gerência de equipe – muita preocupação tanto com a produção quanto com as pessoas. Esta posição fundamenta-se nas necessidades organizacionais de produção, assim com nas necessidades que das pessoas. Busca a participação ativa e a integração das pessoas por meio da responsabilidade compartilhada e na consecução de metas claras e desafiadoras. A grade gerencial apresenta uma definição de estilos de liderança e não informações tangíveis para o esclarecimento da questão de liderança, onde, também não se pode afirmar que o estilo 9.9 seja o mais apropriado em todas as circunstâncias. Parte-se do princípio de que não existe um único estilo de liderança válida para toda e qualquer situação, visto que cada situação requer um tipo de liderança para alcançar a eficácia dos funcionários. ABORDAGEM CONTINGENCIAL A palavra Contingência significa incerto ou eventual, o que pode suceder, ou não. A teoria das Contingências estabelece que situações diferentes solicitam práticas 37 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda diferentes, fazendo uso das teorias tradicionais, comportamentais e de sistemas separadamente ou combinadas, para resolver problemas das organizações. A Abordagem Contingencial defende a idéia de que não se atinge a eficácia organizacional seguindo um único modelo organizacional. De maneira que não existe uma única forma de alcançar os objetivos altamente variados das organizações dentro de um ambiente também altamente variado: a estrutura de uma organização e seu funcionamento são dependentes da interface com o ambiente externo. A mais notável contribuição dos autores da abordagem contingencial está na identificação das variáveis que produzem impacto sobre a organização, como ambiente e tecnologia, sendo que as diferenças ambientais exigem diferentes relações organizacionais, ou seja, um modelo próprio para cada situação e, diferenças tecnologias conduzem a diferentes desenhos organizacionais. Para esta teoria, líder é aquele capaz de ajustar um grupo específico de pessoas, com características específicas, em situação específica e sob condições extremamente variadas, identificando que atitude, procedimento ou técnica administrativa poderá, e em um momento específico, contribuir melhor para a obtenção dos objetivos organizacionais. Segundo Santos (1997) existe em cada situação particular, um conjunto específico de vários fatores, que conduz à escolha de uma determinada forma de organização do trabalho. Dentre estes fatores pode-se citar: os procedimentos técnicos de produção; as características da população disponível (compreendendo também os supervisores e os gerentes); os grupos sociais existentes, as relações que existem entre eles e suas estratégias. TEORIA DA CONTINGÊNCIA DE FIEDLER Fred Fiedler descreveu o efeito moderador da situação entre a personalidade do líder e a eficácia do grupo. A expressão estilo de liderança significa, em geral, o comportamento do líder tal como ele é percebido pelos seguidores ou subordinados, mas, para Fiedler, estilo de liderança refere-se às necessidades e motivos do líder e não propriamente aos comportamentos explícitos (FIEDLER, 1967). 38 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Esta autor propõe que o desempenho eficaz do grupo depende da combinação apropriada entre o estilo de interagir do líder com seus subordinados e o grau em que a situação dá controle e influência ao líder. Fiedler (1967) desenvolveu um instrumento a que chamou questionário do colega de trabalho menos preferido (CTMP), ou (LPC Least Prefered Coworker) para medir se uma pessoa é orientada para tarefas ou para relacionamentos. Além disso, isolou três critérios situacionais - relações líder X membro, estrutura da tarefa e poder de posição, acreditando que eles possam ser manipulados para criar a combinação apropriada com a orientação comportamental do líder. As três dimensões contingenciais que irão definir os fatores situacionais chaves são assim descritos: 1. relações líder-membro: que determina o grau de segurança, confiança e respeito que os subordinados têm em seu líder. 2. estrutura da tarefa: que determina o grau de procedimento que as missões de trabalho tem (isto é, estruturadas ou desestruturadas) 3. poder da posição: o grau de influência que um líder tem sobre variáveis de poder como contratações, demissões, atos disciplinadores, promoções e aumentos de salário. Fiedler (1987) associou-se a Joe Garcia (1987) e criaram outra teoria: a Teoria do Recurso Cognitivo. Esta teoria foi uma forma de atualizar a teoria anteriormente proposta por Fiedler, em que os autores analisaram duas proposições: 1. líderes inteligentes e competentes formulam planos, ações e estratégias de ações mais eficazes do que líderes menos inteligentes e menos competentes. 2. líderes comunicam seus planos, decisões e estratégias através dos comportamentos diretivos. A nova teoria prevê três comportamentos: 1. Comportamento diretivo, resultando em bom desempenho apenas em ambientes onde há alta inteligência e apoio, sem tensão. 2. Em situações tensas há uma correlação positiva entre experiência no cargo e desempenho. 3. As capacidades intelectuais dos líderes correlacionam-se com o desempenho do grupo, em situações em que o líder percebe as situações como não tensas. 39 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda TEORIA CAMINHO-META OU CAMINHO-OBJETIVO DE HOUSE O estudo sobre liderança desenvolvido por Robert House, a chamada "Teoria Caminho- Objetivo", classificou o líder em quatro categorias: diretivo, apoiador, participativo e orientado para realizações: o diretivo dá a direção de como as tarefas devem ser realizadas; o apoiadoré atento às necessidades dos subordinados; o participativo utiliza as sugestões dos subordinados em suas decisões; e o orientado para realizações determina metas desafiadoras. A teoria foi desenvolvida a partir de 1970 por Martin Evans e Robert House e representa uma aproximação com a teoria contigencional, pois focaliza a situação e o comportamento do líder e não os traços do líder. As suas premissas básicas possuem raízes na teoria da expectativa da motivação, com os seguintes fatores inter-relacionados: - o grau da crença da performance no trabalho e - o valor dessas crenças para cada pessoa Os subordinados são motivados pelo líder e há a influência do comportamento do líder nas expectativas dos subordinados. O líder afeta a performance dos subordinados esclarecendo a conduta que atingirá as metas e que as recompensas / premiações esperadas dependerão da performance dos subordinados. Identifica quatro tipos de comportamento dos líderes: -direto -apoiadores -participativo -orientado para realização. Sugere que o líder deve se comportar de diferentes maneiras em diferentes situações. Diversos autores identificam características que diferenciam os lideres carismáticos de seus equivalentes não carismáticos. Robert House identificou três: uma autoconfiança 40 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda extrema, dominância e convicções fortes em suas crenças. Warren Bennis, descobriu que os lideres carismáticos possuíam quatro competências comuns: uma visão ou sentido de objetivo que os impulsionava; capacidade de comunicar essa visão de forma clara para que seus seguidores rapidamente se identificassem com ela; coerência e foco na perseguição dessa visão; e consciência de seus próprios pontos fortes. Esta é, atualmente, uma das abordagens mais respeitadas de liderança. Desenvolvida por Robert House, a teoria extrai elementos-chave da pesquisa de liderança da Ohio State University e da Teoria Motivacional da Expectativa6. Segundo DuBrin (2006) uma importante contribuição desta teoria está no fato de que ela tanto especifica o que os lideres precisam fazer em diferentes situações quanto explica suas razões implícitas em tal comportamento. O comportamento do líder é motivacional na medida em que: • torna a necessidade de satisfação do subordinado contingencial ao desempenho eficaz. • fornece o treinamento, direção, apoio e recompensas necessários para o desenvolvimento eficaz. Segundo DuBrin (2006) o líder precisa escolher entre quatro diferentes estilos de liderança para lidar com as demandas contingenciais de uma dada situação: A liderança diretiva, liderança de apoio, liderança participativa e liderança orientada pela realização: liderança diretiva – envolve estabelecer diretrizes sobre padrões e comunicar expectativas. Segundo House (2002) o subordinado sabe o que se espera dele, o 6 A Teoria da Expectativa, de Vroom, baseia-se na motivação que é o processo que governa a escolha de comportamentos voluntários alternativos. Segundo esta teoria uma pessoa pode escolher entre fazer A, B ou C. Segundo Vroom, a motivação da pessoa para escolher uma das alternativas dependeria de 3 fatores: i) do valor que ela atribui ao resultado advindo de cada alternativa (que Vroom chama de "valência"); ii) da percepção de que a obtenção de cada resultado está ligada a uma compensação (que Vroom chama de "instrumentalidade") e iii) da expectativa que ela tem de poder obter cada resultado (que Vroom chama de "expectativa"). 41 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda líder programa o trabalho a ser feito e dá a direção. Paralelo com a dimensão de estrutura inicial dos estudos de Ohio State University. liderança de apoio – dá ênfase e demonstra a preocupação com o bem-estar dos membros e desenvolve relacionamento mutuamente satisfatório. Segundo House (2002) o líder é amigável e demonstra interesse pelas necessidades dos subordinados. Paralelo à dimensão de consideração da Ohio State University. liderança participativa – consulta os subordinados e utiliza as sugestões antes de tomar uma decisão. liderança orientada pela realização – determina metas desafiadoras e espera que os subordinados se desempenhem no mais alto nível, promove a melhoria do trabalho e espera que os integrantes do grupo assumam responsabilidades. Segundo a teoria caminho-meta o líder pode exibir qualquer ou todos esses comportamentos dependendo da situação, contrastando com a teoria de Fiedler que considera que os estilos de liderança são fixos. A teoria cominho-meta propõe duas classes de variáveis contingenciais que irão moderar o comportamento da liderança e o resultado. Uma classe de variáveis estaria no ambiente e estão fora de controle do subordinado, conforme figura abaixo. A outra de variáveis constitui-se de parte das características pessoais do subordinado. Os fatores ambientais determinam o tipo necessário de comportamento do líder, quando os resultados dos subordinados devam ser maximizados e, as características dos subordinados, determinam a forma como o ambiente e o comportamento do líder são interpretados. Segundo esta teoria os líderes oferecem apoio aos empregados nas tarefas e nos aspectos psicológicos e podem eliminar restrições do ambiente que possam inibir o desempenho do funcionário. Os líderes exercem influência nos níveis superiores, 42 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda concedem reconhecimento pelo esforço e desempenho e apóiam psicologicamente os funcionários estimulando o desejo à realização das metas. O quadro a seguir apresenta a correlação entre a situação, o estilo de liderança, o impacto nos seguidores e os resultados. Fonte: SOTO ( 2002). Algumas hipóteses evoluíram da teoria caminho-meta: A liderança diretiva leva a maior satisfação quando as tarefas são ambíguas ou cheias de tensão. A liderança de apoio resulta em alto desempenho e satisfação quando os subordinados estão executando tarefas estruturadas. A liderança diretiva pode não ser bem aceita por subordinados com alta capacidade percebida e com experiência considerável. Quanto mais claras e burocráticas as relações formais de autoridade, mais os líderes devem demonstrar comportamento de apoio. Quando houver conflito dentro de um grupo de trabalho a liderança diretiva é a que leva a satisfação maior do empregado. Carência de segurança em si mesmo, por parte dos seguidores De apoio Incremento de segurança na realização de tarefas Maior esforço; elevação da satisfação e desempenho. Falta de interesse no trabalho Orientado a resultados Estimulo ao estabelecimento de metas ambiciosas, mas alcançáveis Melhor desempenho e satisfação profissional. Estímulo do estabelecimento de metas ambiciosas, mas alcançáveis Tarefas ambíguas Participativo Diretivo Necessidade por parte dos seguidores de fazer sugestões e participar Necessidade do caminho para obtenção de retribuições. Melhor desempenho e satisfação; menor rotatividade Melhor desempenho e maior satisfação profissional Situação Estilo de liderança Impacto nos resultados Seguidores Carência de segurança em si mesmo, por parte dos seguidores De apoio Incremento de segurança na realização de tarefas Maior esforço; elevação da satisfação e desempenho. Falta de interesse no trabalho Orientado a resultados Estimulo ao estabelecimento de metas ambiciosas, mas alcançáveis Melhor desempenho e satisfação profissional. Estímulo do estabelecimento de metas ambiciosas, mas alcançáveis Tarefas ambíguas Participativo Diretivo Necessidadepor parte dos seguidores de fazer sugestões e participar Necessidade do caminho para obtenção de retribuições. Melhor desempenho e satisfação; menor rotatividade Melhor desempenho e maior satisfação profissional Situação Estilo de liderança Impacto nos resultados Seguidores CORRELAÇÃO ENTRE A SITUAÇÃO, O ESTILO DE LIDERANÇA 43 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Subordinados com um local de controle interno (acreditam que controlam seu próprio destino) ficam mais satisfeitos com a liderança participativa. Subordinados com um local de controle externo ficam mais satisfeitos com a liderança diretiva. A liderança orientada para as realizações aumenta as expectativas dos subordinados de que o esforço leva ao alto desempenho quando as tarefas estão estruturadas de forma ambígua. MODELO DE LIDERANÇA SITUACIONAL DE HERSEY & BLANCHARD A liderança da abordagem situacional é classificada, segundo DuBrin (2006) de acordo com a intensidade relativa do comportamento voltado para a tarefa ou para o relacionamento em que o líder se envolve. O comportamento voltado para atarefa é a medida para a qual o líder comunica os deveres e responsabilidades do indivíduo ou grupo. O comportamento voltado para o relacionamento é a medida em que o líder se envolve em comunicações de duas ou mais vias. Ele inclui atividades como: ouvir, prover, encorajar e orientar. A liderança situacional é baseada na abordagem contingencial que se concentra no comportamento dos seguidores - pois reflete o pensamento de que são os seguidores que aceitam ou rejeitam os líderes. Independentemente do que o líder faça; a eficácia depende das ações dos seus seguidores. Isto é uma dimensão importante que foi ignorada ou subestimada na maioria das teorias da liderança. Na liderança situacional de Hersey & Blanchard, embora todas as variáveis situacionais (líder, liderados, superiores, colegas, organização, exigências do cargo) sejam importantes, a ênfase recai sobre o comportamento do líder em relação aos subordinados. Hersey & Blanchard apud Sanford (1986:187) consideram os liderados “como fator crucial de qualquer processo de liderança”, uma vez que além de individualmente aceitarem ou rejeitarem o líder, como grupo determinarem o poder pessoal que o líder possa ter. 44 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Segundo Hersey & Blanchard (1986) a liderança situacional baseia-se numa inter- relação entre: a quantidade de orientação e direção (comportamento e tarefa) que o líder oferece; a quantidade de apoio sócio-emocional (comportamento de relacionamento) dado pelo líder e o nível de prontidão (maturidade) dos subordinados no desempenho de uma tarefa, função ou objetivo específico. A maturidade é definida como a capacidade e a disposição das pessoas de assumir a responsabilidade de dirigir seu próprio comportamento, considerado em relação a uma tarefa específica. A pessoa não é totalmente imatura ou madura, deve-se considerar a tarefa e verificar o nível de maturidade individual, o nível de maturidade do individuo dentro do grupo e o nível de maturidade do grupo. Portanto a maturidade possui dois componentes: maturidade de trabalho – refere-se ao conhecimento e a capacidade técnica (instrução, experiência), e maturidade psicológica – refere-se à disposição ou motivação para fazer algo (confiança em si mesmo, empenho). Fonte: Modelo de liderança situacional de Hersey & Blanchard (1986) 45 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda A liderança situacional trabalha a relação entre a maturidade relativa à tarefa e os estilos adequados a serem adotados à medida que os liderados vão passando da imaturidade para a maturidade. Cada um dos quatro estilos de liderança, “determinar”, “persuadir”, “compartilhar” e “delegar”, é uma combinação de comportamento de tarefa e de relacionamento. No comportamento de tarefa, o líder dirige as pessoas dizendo o que fazer, quando, onde e como. No comportamento de relacionamento, o líder empenha-se em se comunicar bilateralmente com as pessoas, dando-lhes apoio, encorajamento. O estilo apropriado a cada um dos quatro níveis de maturidade inclui a dosagem certa de comportamento de tarefa (direção) e comportamento do relacionamento (apoio). Considera que a chave da utilização consiste em avaliar o nível de maturidade dos liderados e comportar-se de acordo com o modelo. O líder deve ajudar os liderados a amadurecerem até o ponto em que sejam capazes (maturidade para o trabalho) e que tenham disposição para realizar um trabalho (maturidade psicológica). Podemos considerar como pontos fortes da teoria de Hersey & Blanchard o reconhecimento da competência e motivação como elementos importantes no processo de liderança, bem como a visão da maturidade como algo dinâmico. Por outro lado, torna-se difícil medir de forma confiável a maturidade das pessoas. E4 Delegar Pouca direção e pouco apoio. Maduros não necessitam de muito apoio. Relacionamento baixo/tarefa baixa M4 Maturidade alta Pessoas capazes (competentes) e Dispostas (seguras) E3 Compartilhar O líder deve apoiar o liderado no sentido de utilizarem a capacidade que possuem. Relacionamento alto / tarefa baixa. M3 Maturidade entre moderada e alta Pessoas que tem capacidade, mas não têm disposição ou são inseguras. E2 Persuadir O líder ainda dá a direção, mas em função da falta de capacidade, apóia para reforçar a disposição. Tarefa alta / relacionamento alto. M2 Maturidade entre baixa e moderada Pessoas que não possuem capacidade, mas confiança em si. E1 Determinar O líder dá a direção. Tarefa alta / relacionamento baixo. M1 Maturidade baixa Pessoas não possuem capacidade nem disposição; inseguras. ESTILO APROPRIADONÍVEL DE MATURIDADE E4 Delegar Pouca direção e pouco apoio. Maduros não necessitam de muito apoio. Relacionamento baixo/tarefa baixa M4 Maturidade alta Pessoas capazes (competentes) e Dispostas (seguras) E3 Compartilhar O líder deve apoiar o liderado no sentido de utilizarem a capacidade que possuem. Relacionamento alto / tarefa baixa. M3 Maturidade entre moderada e alta Pessoas que tem capacidade, mas não têm disposição ou são inseguras. E2 Persuadir O líder ainda dá a direção, mas em função da falta de capacidade, apóia para reforçar a disposição. Tarefa alta / relacionamento alto. M2 Maturidade entre baixa e moderada Pessoas que não possuem capacidade, mas confiança em si. E1 Determinar O líder dá a direção. Tarefa alta / relacionamento baixo. M1 Maturidade baixa Pessoas não possuem capacidade nem disposição; inseguras. ESTILO APROPRIADONÍVEL DE MATURIDADE E4 Delegar Pouca direção e pouco apoio. Maduros não necessitam de muito apoio. Relacionamento baixo/tarefa baixa M4 Maturidade alta Pessoas capazes (competentes) e Dispostas (seguras) E3 Compartilhar O líder deve apoiar o liderado no sentido de utilizarem a capacidade que possuem. Relacionamento alto / tarefa baixa. M3 Maturidade entre moderada e alta Pessoas que tem capacidade, mas não têm disposição ou são inseguras. E2 Persuadir O líder ainda dá a direção, mas em função da falta de capacidade, apóia para reforçar a disposição. Tarefa alta / relacionamento alto. M2 Maturidade entre baixa e moderada Pessoas que não possuem capacidade, mas confiança em si. E1 Determinar O líder dá a direção. Tarefa alta / relacionamento baixo. M1 Maturidade baixa Pessoas não possuem capacidade nem disposição; inseguras. ESTILO APROPRIADONÍVEL DE MATURIDADE E4 Delegar Pouca direção e pouco apoio. Maduros não necessitam de muito apoio. Relacionamento baixo/tarefa baixa M4 Maturidade alta Pessoas capazes (competentes) e Dispostas (seguras) E3 CompartilharO líder deve apoiar o liderado no sentido de utilizarem a capacidade que possuem. Relacionamento alto / tarefa baixa. M3 Maturidade entre moderada e alta Pessoas que tem capacidade, mas não têm disposição ou são inseguras. E2 Persuadir O líder ainda dá a direção, mas em função da falta de capacidade, apóia para reforçar a disposição. Tarefa alta / relacionamento alto. M2 Maturidade entre baixa e moderada Pessoas que não possuem capacidade, mas confiança em si. E1 Determinar O líder dá a direção. Tarefa alta / relacionamento baixo. M1 Maturidade baixa Pessoas não possuem capacidade nem disposição; inseguras. ESTILO APROPRIADONÍVEL DE MATURIDADE 46 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 1.6. LIDERANÇA E PROPÓSITOS ORGANIZACIONAIS. “Em crise não há liderança partilhada, quando o barco está afundando o capitão não pode convocar uma reunião para ouvir as pessoas, tem de dar ordens. Esse é o segredo da liderança partilhada: saber em que situações deve agir como chefe e em que situações atuar como parceiro”. Peter Drucker (1997) À medida que as organizações evoluem e ainda, diante de um cenário globalizado e altamente competitivo, é natural que surjam novas teorias sobre liderança e que cada vez mais se discuta o papel do líder. Hoje, estuda-se a liderança na perspectiva estratégica na medida em que o líder cria uma arquitetura social capaz de gerar capital intelectual dentro de um contexto em que se obtenha um desempenho em seu máximo de eficácia, respondendo de forma adequada e rápida às mudanças. Vale ressaltar aqui a importância dos valores e convicções dos líderes uma vez que eles modelam os valores culturais da organização. Segundo Soto (2002:233) “as organizações deverão estar comprometidas com a sua missão transcendente, criando e mantendo uma cultura, valores que sejam a base de sua rentabilidade e compromisso social”. O líder aparece assim como figura central, como um construtor da cultura organizacional. O conceito de liderança parece ainda ser um conceito masculino. A explicação mais provável tem a ver com os estereótipos daqueles que tomam a decisão na contratação. Embora muitas pesquisas não demonstrem uma diferença acentuada na forma de condução da liderança, existem indicadores de que as mulheres apresentam uma liderança mais interativa, focalizando a construção do consenso, boas relações 47 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda interpessoais, onde a liderança é estabelecida através da criação de redes e delegação de poder. Outra tendência atual é a autogestão. Manz & Sims (apud Stoner, 1995) sugerem um novo estilo de liderança para grupos autogerenciados, o que eles chamam de autoliderança. Autoliderança seria a capacidade dos trabalhadores se motivarem tanto para realizar tarefas recompensadoras quanto tarefas necessárias, porém pouco atraentes. Todas essas abordagens nos levam a refletir sobre a complexidade a respeito do tema liderança, bem como sobre a sua importância, uma vez que são os líderes guiam as organizações e implementam ações. Vale a pena ressaltar a importância da questão ética da liderança, considerando a importância de seu papel na condução da organização e das pessoas. Torna-se importante evidenciar que não existe um “modelo” único de liderança e que diante da realidade da globalização, os líderes devem saber enfrentar os desafios que se apresentam em um cenário cada vez mais competitivo e instável. As lideranças estão se convencendo de que as organizações só conseguirão ser competitivas através das pessoas que a constituem e que, para isso, precisarão gerar alguns atributos, tais como: motivação, criatividade, qualidade, satisfação de clientes, redução de custos, etc. Portanto, faz-se necessário um líder capaz de desenvolver competências essenciais que lhe permitam guiar a organização e um corpo pluricultural de trabalhadores que atuem de forma ética e responsável. 1.6.1. LIDERANÇA CARISMÁTICA Gary Yukl apud (Bergamini & Coda, 1997:259) explica que, em grego, a palavra carisma significa dom de inspiração divina e, portanto é a habilidade de realizar milagres ou predizer acontecimentos futuros. O carisma em um líder geralmente inspira os membros do grupo e facilita as transformações. Contudo, o carisma depende, em 48 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda grande parte, da percepção da pessoa e envolve um relacionamento entre o líder e o seguidor. (DUBRIN, 2006) Os lideres carismáticos são mestres da comunicação. Eles formulam sonhos acreditáveis e apresentam uma visão do futuro como o único caminho a seguir. Inspiram confiança e com freqüência os seus seguidores estão dispostos a apostar suas carreiras para seguir a visão do chefe; são ativos e usam um estilo de liderança voltado para a ação; são habilidosos em administrar bem suas impressões, que pode ocorrer no nível físico como também em um nível intelectual. (DUBRIN, 2006:287) Segundo Robbins (2002) na teoria carismática os seguidores fazem atribuições de capacidades heróicas ou extraordinárias à liderança quando eles observam certos comportamentos. Delega (apud Maximiano, 2000:355) define carisma como a influência que o líder transformador exerce sobre os seguidores. O carisma apela às emoções dos seguidores e estimula sua identificação com o líder. O carisma é a condição mais importante, mas não a única para que surja um líder transformador. A TEORIA LIDERANÇA CARISMÁTICA DE HOUSE House (1976) estudando versões sobre a teoria carismática defendeu que carisma é um termo comumente usado na sociologia e ciência da literatura política para descrever líderes que, pela força de suas habilidades potenciais, são capazes de ter um efeito profundo e extraordinário nos seguidores. Esses efeitos são comando real e devoção pelo líder e inspira os seguidores a aceitar e executarem sem hesitação ou questionar seus próprios interesses. Segundo House (1977) o termo Liderança Carismática é usado para referir-se a qualquer líder que tenha os efeitos carismáticos em um grau excepcionalmente alto. A definição operacional de líder carismático aguarda pesquisas que permitirão clarear os efeitos citados. House (1977) considera improvável que esses líderes obtenham todos os efeitos carismáticos citados, visto que tais efeitos podem estar presentes e inteirados de maneira complexa. E define carisma como influência exercida ao nível das orientações 49 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda normativas dos subordinados, do envolvimento pessoal com o líder e do desempenho dos subordinados, devidos ao verdadeiro comportamento do líder. House (1977:191) afirma que os efeitos da liderança carismática são mais emocionais do que racionais, o seguidor é inspirado entusiasticamente, age com obediência inquestionável, lealdade, compromisso e devoção ao líder. O autor faz referencia a três características pessoais para os líderes carismáticos: elevada auto-confiança; domínio e convicção na integridade moral de suas crenças. House (1977) aponta algumas proposições da Liderança Carismática; Proposição 1: Características que diferenciam os líderes de efeitos carismáticos daqueles que não os têm são: domínio, autoconfiança, necessidade de influenciar pessoas, e forte convicção na integridade moral de suas crenças (p.194). Proposição 2: Quanto mais as percepções dos seguidores com respeito ao líder forem favoráveis, mais eles o seguirão como modelo: a) os valores do líder, b) as expectativas de que o desempenho efetivo do líder resultará em efeito desejado ou indesejado para o seguidor; c) resposta emocional do líder para o estímulo relatado; d) as atitudes do líder para como trabalho e a organização (p.196). Proposição 3: Os líderes que têm efeitos carismáticos são mais freqüentemente engajados em comportamentos que dão impressão de competência e sucesso do que os líderes que não possuem tais efeitos (p.197). Proposição 4: Os seguidores detentores de efeitos carismáticos apresentam mais probabilidade de articular objetivos ideológicos que os que não os têm (p. 198). Proposição 5: Os líderes que comunicam simultaneamente alta expectativa e confiança nos seguidores e acreditam que eles possam contribuir para o alcance dos objetivos têm 50 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda mais probabilidade de ter seus objetivos aceitos pelos seguidores, os quais esforçam-se para alcançar metas específicas e desafiam os padrões de desempenho (p. 201). Proposição 6: Os líderes carismáticos têm mais probabilidade de se engajarem em comportamentos que despertam motivos relevantes para o alcance da missão que aqueles que não têm estes efeitos (p. 203). Proposição 7: A condição necessária para o líder ter efeitos carismáticos nos seguidores é definida em termos ideológicos requeridos pelos seguidores. (p.205). 1.6.2. LIDERANÇA TRANSFORMACIONAL Segundo DuBrin( 2006) líder transformacional é aquele que ajuda as organizações e as pessoas a fazer mudanças positivas no modo com elas conduzem suas atividades. A liderança transformacional está intimamente ligada à liderança estratégica, que provê direção e inspiração da organização. Segundo este autor, um dos principais fatores que contribuem para a liderança transformacional é o carisma – a habilidade de lidar com os outros baseada no charme, magnetismo, inspiração e emoção. Os líderes transformacionais também são carismáticos e inspiram os seguidores a transcenderem seus próprios interesses para o bem da organização. Eles exercem uma forte influência sobre os liderados, oferecendo consideração individualizada e estimulo intelectual aos seus liderados. Portanto, não basta possuir traços de liderança, conhecer comportamentos da liderança e entender as contingências, o líder precisa liderar de modo inspirador e impulsionador. A liderança transformacional é construída sobre as bases da liderança transacional. Por isso não devem ser vistas como opostas, embora estudos evidenciem uma superioridade em termos de resultados da liderança transformacional sobre a transacional, quando tratadas de forma separada. 51 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda A maior parte das teorias apresentadas, (estudos de Ohio e Teoria Caminho-meta) refere-se a líderes transacionais. Na liderança transacional os líderes guiam ou motivam os liderados rumo aos objetivos estabelecidos, tornando mais claros os papéis e exigências da tarefa. Através de uma variedade de “transações” com os seguidores, o líder ajusta tarefas, recompensas e estruturas para ajudar os seguidores a satisfazerem as suas necessidades enquanto trabalham na realização dos objetivos organizacionais. A transformação ocorre de uma ou mais maneira, segundo Hater & Bass (apud DuBrin, 2006): 1) Aumentando o nível de consciência das pessoas sobre a importância e o valor das recompensas designadas e o modo de alcançá-las; 2) Fazendo com que as pessoas ultrapassem os riscos pessoais pelo sucesso do trabalho em equipe e da organização; 3) Expandindo o foco das pessoas, de satisfações menores para a busca da auto- realização. Ao mesmo tempo, os integrantes do grupo são encorajados a buscar a satisfação das necessidades de níveis mais altos; 4) Ajudando os trabalhadores a adotar uma perspectiva ampla, de longo alcance, e focar-se menos nas preocupações do dia-a-dia 5) Ajudando as pessoas a entender as necessidades de mudança. O líder transformacionista deve ajudar os integrantes do grupo a compreender a necessidade de mudança, tanto emocional quanto intelectualmente. Esse líder reconhece o componente emocional da resistência à mudança e lida com isso de maneira aberta. 6) Investindo em gerentes com o senso de urgência. Se os gerentes dentro da organização não percebem uma necessidade vital de mudança, a visão do líder não será realizada 7) Compreendendo-se com grandeza. A grandeza inclui o esforço para a eficácia da empresa, como obtenção de lucros, alto valor das ações, bem como uma ética impecável. 1.6.3. LIDERANÇA VISIONÁRIA 52 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda A teoria da liderança visionária é a capacidade de criar e articular uma visão realista e atraente do futuro para a organização que cresce e melhora a partir do presente. Uma visão extrai energia e emoção das pessoas. Articulada apropriadamente uma visão cria o entusiasmo. Nanus (apud Robbins, 1999:235) afirma que “as organizações do século XXI exigem uma liderança visionária na medida em que vivemos mudanças tecnológicas aceleradas, globalização, necessidades individuais de clientes e exigências incessantes”. As visões devem ser capazes de criar possibilidades que sejam inspiradoras, únicas, e que ofereçam uma nova ordem que possa produzir distinção organizacional. Visões desejáveis deverão combinar tempo e circunstâncias, oferecendo uma imagem do futuro percebida como desafiadora, porém factível. A liderança visionária vai além do carisma, como afirma Robbins (2000:400) a liderança visionária é a habilidade para criar e articular uma visão do futuro, realista, digna de crédito e atraente, que cresce a partir do presente e o aperfeiçoa. A liderança visionária necessita ser apoiada por planos detalhados, ou seja, uma organização excepcional precisa de uma visão e de um alto nível de atenção nas operações cotidianas, resumindo, a visão e a boa administração devem andar lado a lado. Os líderes visionários influenciam as opiniões e atitudes de outras pessoas dentro da organização (Hosmer,1982). Valem-se de pensamento não linear e acreditam na adoção de estratégias, ou seja, acreditam que suas decisões estratégicas fazem diferença para as organizações e afetam o ambiente de trabalho. A liderança visionária é voltada para o futuro e preocupa-se em correr riscos, além disso, líderes visionários não dependem de suas organizações para conceber uma percepção sobre si próprios. Sob a liderança de visionários, o controle organizacional é mantido por meio da socialização, do compartilhamento de visões se da conformidade com um conjunto de normas, valores e opiniões em comum. De certa forma, a liderança visionária é parecida com o componente inspirador da liderança transformacional (Bass, 1985; Yukl, 1994). Exercício reflexivo: ao final desta unidade, assista ao vídeo “Chefia e Liderança” no link: http://www.youtube.com/watch?v=QMAkPOzc75g&feature=related 53 http://www.youtube.com/watch?v=QMAkPOzc75g&feature=related Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Após os estudos da unidade e do vídeo elabore um paralelo apresentando as características do líder e do chefe de modo a demonstrar as diferenças entre esses dois papéis. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ UNIDADE 2 COMPETÊNCIAS O líder do futuro será alguém capaz de desenvolver uma cultura ou um sistema de valor baseado em princípios. Além de ser um grande desafio, somente será alcançado por líderes com visão, coragem e humildade para aprender e crescer continuamente. Aprendizado que acontece ouvindo, 54 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda observando tendências, percebendo e antecipando necessidades do mercado, avaliando sucessos e erros do passado, e observando as lições que a consciência e os princípios ensinam. Covey (1996) 2.1. CONCEITUAÇÃO DE COMPETÊNCIA Etimologicamente competência vem do verbo latino ‘competere’, com o significado de aproximar-se, encontrar-se, que significa ‘responder a, corresponder’, que dá lugar ao adjetivo ‘competensentris’ como competente convincente e ao substantivo competio- onis, como sentido rival. (TEJADA, 1999:3) As definições de competências enfocam a condição de aplicação adequada de conhecimentos, habilidades e destrezas, juntamente com atitudes e compromissos, bem como a capacidade integral de exercer uma atividade. Esta definição contrapõe- se à aplicação do conceito em um campo restrito da educação, onde se considera competências, como desenvolvimento de múltiplas capacidades (IRIGON, 1998). Uma pessoa competente em seu trabalho deve adquirir conhecimento e desenvolver habilidades variadas para a tomada de decisão, solução de problemas e conflitos e para negociar. Trabalhar com competência é ter conhecimentos, habilidades e atitudes em lugar do antigo esquema de conhecimento e de destrezas (IRIGON, 1996:3). No âmbito organizacional, a definição de competência recebe noções de autoridade, capacitação e qualificação. Tejada (1999:3), considera que a “competência refere-se a funções, tarefas e atuação de um profissional-incumbência, para desenvolver, adequada e idoneamente suas funções de trabalho-suficiência, que é resultado e objeto de um processo de capacitação e qualificação”. Hoje, muito se ouve sobre “você precisa adquirir novas competências”, “o processo de seleção da empresa é por competência”, “gestão por competência”. O conceito de competência pode ser atribuído a diferentes elementos, pessoas - com um conjunto de competências e as organizações que também apresentam um conjunto de competências. Faz-se necessário a definição de competências da empresa e das pessoas que nela trabalham, para que ambos possam atingir resultados satisfatórios. 55 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Estamos vivendo uma época de profundas transformações e as últimas décadas foram marcadas por mudanças substanciais nas relações capital-trabalho, patrão-funcionário, organização-sociedade. As mudanças decorrentes e intensificadas pela emergência de novas tecnologias estão provocando impactos sobre os diversos segmentos da sociedade. A economia está se tornando cada vez mais complexa e as informações rapidamente tornam-se obsoletas. O progresso e a criação de riqueza dependem do uso da informação e do conhecimento. Com o aumento do número de organizações e, conseqüentemente o aumento da competitividade, as máquinas não serão as que irão definir a organização mais competitiva, pois os concorrentes também as possuem. A vantagem competitiva residirá na organização que possuir os melhores profissionais, pois, são as pessoas e não as máquinas que possuem a capacidade de gerar e buscar informações, antecipar-se às necessidades, decidir, criar, inovar, aprender e liderar. Portanto, é a soma de talentos, da eficácia do sistema gerencial, do caráter de relacionamento com os clientes, enfim, é a soma de todo o conhecimento existente na organização e que pode ser usado como vantagem competitiva e para isso, as pessoas precisam desenvolver competências que permitam atender as novas demandas. Nesta perspectiva, o conceito de competência é pensado como conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes (isto é, conjunto de capacidades humanas) que justificam um alto desempenho, acreditando-se que os melhores desempenhos estão fundamentados na inteligência e personalidade das pessoas. Em outras palavras, a competência é percebida como estoque de recursos, que o indivíduo detém. Embora o foco de análise seja o indivíduo, a maioria dos autores americanos sinalizam a importância de se alinharem as competências às necessidades estabelecidas pelos cargos, ou posições existentes nas organizações.(FLEURY & FLEUTY, 2000) Conhecimento (saber) os domínios do conhecimento são construídos de três partes – os domínios: cognitivo, afetivo e psicomotor. “O domínio cognitivo inclui os objetivos vinculados à memória ou recognição e ao desenvolvimento de capacidades habilidade intelectuais”. O segundo domínio é denominado de afetivo, envolve os objetivos que descrevem mudanças de interesse, atitudes e valores e o desenvolvimento de análise e 56 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda ajustamento adequados. O terceiro domínio é a área das habilidades manipulativas ou motora. (BLOON et al., 1972:7). Nonaka & Takeuchi (1997:7) citam dois tipos de conhecimento, o tácito e explícito. O tácito como sendo “altamente pessoal e difícil de formalizar o que dificulta sua transmissão e compartilhamento com outros [...] estando enraizado na ação, e experiência do indivíduo, bem como em suas emoções, valores ou idéias”. O conhecimento tácito pode ser segmentado em duas extensões: a primeira dimensão é técnica, compreende um tipo de capacidade simples e complexa de definir ou habilidades, envolvendo o termo know-how. O conhecimento explícito é transmitido em linguagem formal, sistemática e é facilmente ‘processado’ por um computador, transmitido eletronicamente, ou armazenado em bancos de dados. O conhecimento pode ser distinto entre conhecimento do indivíduo, do grupo, da organização e da rede de organizações interagentes. Para Morin (1999:21) o conhecimento é: uma competência (aptidão para produzir conhecimentos); uma atividade cognitiva (cognição), realizando-se em função da competência; um saber (resultante dessas atividades). Ainda segundo Morin (1999:20) as competências e atividades cognitivas humanas necessitam de um aparelho cognitivo, o cérebro, que é uma formidável máquina bio- físico-química; esta necessita da existência biológica de um indivíduo; as aptidões cognitivas humanas só podem desenvolver-se no seio de uma cultura que produziu, conservou, transmitiu uma linguagem, uma lógica, um capital de saberes, critérios de verdade. É nesse quadro que o espírito humano elabora e organiza o seu conhecimento utilizando os meios culturais disponíveis. Habilidade (saber fazer) é um conceito que varia de autor para autor, porém, geralmente são consideradas como algo menos amplo do que as competências, porquanto a competência é constituída por várias habilidades. Uma habilidade, por exemplo, não pode pertencer a uma determinada competência, uma vez que esta mesma habilidade pode contribuir para competências diferentes. Porém, a habilidade é inseparávelda ação e exige domínio de conhecimentos. Desta forma, podemos concluir 57 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda que as habilidades estão relacionadas ao saber fazer como: identificar variáveis, compreender fenômenos, relacionar informações, analisar situações-problema, sintetizar, julgar, correlacionar e manipular informações. A atitude (querer fazer) representa uma predisposição das pessoas para um objeto, situação ou pessoa, que condiciona a sua atuação ou conduta para o mesmo. As atitudes representam uma forma de expressão dos sentimentos internos das pessoas, refletindo a sua posição favorável, desfavorável ou indiferente para o objeto, situação ou pessoa. As atitudes são constituídas por três componentes: cognitiva, afetiva e de ação. (ORTEGA, 1998). Atitude é uma predisposição de reação que exerce uma influência frente à resposta de uma pessoa à outra, a uma coisa, uma idéia ou a uma situação (DuBrin, 2003:63). Fonte: ORTEGA (1998:58) - Componentes da atitude - A componente cognitiva está representada por todos os conhecimentos e percepções que cada pessoa recebe por meio de diferentes fontes sobre o objeto a que se refere a atitude. O resultado de tudo isto representa o conjunto de atributos que a pessoa recebe do objeto. A componente afetiva está representada pela apreciação ou avaliação que cada pessoa faz de cada um dos atributos do objeto num determinado momento. A componente de ação é constituída pela tendência de atuar. No campo do comportamento do consumidor representará a intenção de comprar ou não comprar uma determinada marca. Um conceito de competência pode ser apresentado como o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes demonstrados pela pessoa na realização de uma tarefa. Dizemos que somos competentes numa atividade quando esse conjunto de comportamentos apresentados resulta no sucesso para a realização daquela atividade. 58 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Do ponto de vista empresarial, é a prática que interessa: é o conhecimento aplicado que gera capacidade de produzir resultados, ou seja, competência. Segundo Fleury & Fleury (2000) cada indivíduo, cada equipe, cada área precisa ser competente de modo a agregar valor econômico para a organização e valor social para o individuo. O individuo deve ser competente no sentido de atender as expectativas da organização e organização deve valorizar essa competência. Neste sentido, Fonte: Fleury & Fleury (2001) Os líderes têm uma importância vital na construção e desenvolvimento das competências requeridas, pois, eles devem possuir a capacidade de articular diferentes competências individuais, transformando-as em competências coletivas, segundo Quinn et al. (2003). Para este autor os líderes desempenham muitas vezes papéis antagônicos nas organizações. Para estabelecer os papéis dos líderes, os autores tomaram como base quatro grandes modelos de gestão, (metas racionais, processos internos, relações humanas e sistemas abertos) entendendo que o surgimento de um novo modelo não exclui os anteriores. A figura abaixo mostra os modelos e os oito papéis dos líderes. Podem existir pessoas competentes em uma empresa incompetente, mas não pode haver uma empresa competente sem pessoas competentes. 59 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Fonte: QUINN, et Al.( 2003) adaptado por FIRIGOTTI (2006) Pode-se observar que os modelos de processos internos e de relações humanas possuem foco interno em contraste com os modelos de metas racionais e de sistemas abertos que possuem foco externo. Os modelos de relações humanas e sistemas abertos definem-se pela flexibilidade enquanto os modelos de processos internos e metas racionais compartilham o controle. Os autores por entenderem que as organizações devam ser adaptáveis e flexíveis, mas, que também, sejam estáveis e controladas, portanto, tenham foco interno e também externo, não consideram os modelos mutuamente excludentes. Quinn et al. (2003) acreditam que cada modelo aponta para os benefícios de estratégias diferentes e até contrárias e que se deve ampliar o pensamento e incrementar as possibilidades de escolha e eficácia se forem resolvidos três desafios: Apreciar vantagens e desvantagens de cada um dos quatro modelos. Adquirir e utilizar as competências associadas a cada modelo. Integrar de maneira dinâmica as competências de cada um dos modelos às situações gerenciais encontradas Dutra (2002) afirma existir uma grande diversidade de conceitos sobre competências, os quais podem ser complementares. O autor estrutura esses vários conceitos, no qual as competências são entendidas como entrega da pessoa (inputs) para a organização, que 60 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda são também apresentadas como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessário para a pessoa exercer suas atividades que vai agregar valor a organização (outputs), conforme a figura abaixo. Fonte: Autora Dentre as abordagens citadas por Dutra, salientaram-se duas. Aquela defendida na década de 90 por Lê Bortef, Zarifian e Elliot Jacques em que: Competência é na verdade colocar em prática, o que sabemos em determinado contexto, contexto esse, geralmente, marcado pelas relações de trabalho, cultura da empresa, imprevistos, limitações de tempo e recursos, etc. Portanto, podemos falar de competência nessa abordagem apenas quando há competência em ação, traduzindo-se em saber ser, e saber mobilizar conhecimentos em diferentes contextos. Zarifian (2001:68) propõe uma "definição que integre várias dimensões, assim, a competência é ‘o tomar iniciativa’ e ‘o assumir responsabilidade’ do indivíduo diante de situações profissionais com as quais se depara". Zarifian entende que as mudanças fundamentais nas organizações do trabalho são a abertura de espaço para a autonomia e a auto-mobilização do indivíduo. De maneira que a competência ‘é assumida’, resultante de um procedimento pessoal do indivíduo, que aceita assumir seu trabalho e ser responsável por ele. Competências Organizacionais Retroalimentação Competências Humanas Desenvolvimento Profis s ional Ciclo das CompetênciasCiclo das Competências Inputs Outputs Conhecimentos Habilidades Atitudes Agregação de valor Orientam Subsidiam 61 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Segundo Santos et al (2001) competência é o elo entre conhecimento e estratégia, é a capacidade de gerar resultados observáveis. Ela está relacionada à prática, ou seja, colocar em prática aquilo que se sabe em um determinado contexto. Portanto, a competência está associada às realizações das pessoas, àquilo que elas produzem e/ou entregam. A competência não é um estado ou um conhecimento que se tem e nem é resultado de treinamento. Há competência apenas quando há competência de ação. È o saber (conhecimento), saber fazer (habilidade) e querer fazer (atitude). Assim como não é adquirida como algo acabado, ela deve ser mantida em constante construção, por meio da aprendizagem profissional e pessoal. Por este motivo, configura-se como uma análise do processo de evolução do saber necessário ao trabalho e sugere uma postura diferente para o exame dos contextos pessoais e de trabalho. A aprendizagem é um processo pelo qual as pessoas adquirem um conhecimento derivado de uma experiência, treino ou prática, que conduz a um comportamento repetitivo. (ORTEGA, 1998:62). Fonte: Autora Do ponto de vista empresarial, é a prática que interessa: é o conhecimentoaplicado que gera capacidade de produzir resultados, ou seja, competência. Iremos, então, adotar como definição de competência: 2.2. COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS Capacidade de transformar conhecimentos, habilidades e atitudes em resultados. CONHECIMENTOS Humildade para reconhecer que não sabe, e Conhecer objetivos e metas HABILIDADES Técnica de estudo dirigido. Saber administrar o tempo. Auto-desenvolvimento. Planejamento. ATITUDES Curiosidade Interesse Disponibilidade Concentração Disciplina Motivação APRENDIZAGEM Pré-disposição e vontade para aprender e manter- se atualizado. COMPETÊNCIA 62 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Para Prahalad (1997:46), competência essencial é a capacidade própria, difícil de ser imitada pelos outros - core competence. A alta administração das organizações precisa definir quais são as competências essenciais ao seu negócio. Hamel & Prahalad (1995) definem competência essencial como: “um conjunto de conhecimentos, habilidades, tecnologias, sistemas físicos, gerenciais e valores que geram um diferencial competitivo para a organização. Para esses autores, competências essenciais nas empresas são aquelas que atribuem vantagem competitiva, criam valor percebido pelos clientes e são difíceis de ser imitadas pela concorrência”. Prahalad (1997) afirma que, para ter competência essencial, são necessários três fatores: treinar os funcionários continuamente, pois o conhecimento explícito não acontece por acaso. Usar as competências continuamente, desdobradas, reformuladas de diversas formas, significando transferir os funcionários de um setor para outro dentro da organização. As competências podem ser desenvolvidas quando a empresa rompe suas barreiras funcionais e organizacionais para haver trabalho em equipe. A competência essencial é uma a capacidade própria, difícil de ser imitada pelos outros, diz Prahalad (1997:46) é através da perspectiva da competência essencial que podemos ver as novas possibilidades dos concorrentes. Relata que a competência essencial está na mente dos trabalhadores das empresas e a competência essencial é um ativo invisível. Uma competência é considerada essencial, quando preenche os seguintes requisitos: o valor percebido pelos clientes é a contribuição que ela traz aos benefícios que os clientes esperam de um produto ou serviço. A diferenciação entre concorrentes: quando a competência foi identificada e desenvolvida pela empresa, poderá responder aos aspectos valorizados pelos clientes. A capacidade de expansão: a tendência natural do uso das competências essenciais é usar as habilidades e conhecimentos que possuímos e ampliá-los. Esta capacidade ajuda a empresa a direcionar a atenção para aquelas competências situadas no centro e que contribuem para o sucesso a longo prazo (HAMEL & PRAHALAD, 1995). 63 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Fleury & Fleury (2000) observam que “para ser considerada uma competência essencial, esse conhecimento deve estar associado a um sistemático processo de aprendizagem, que envolve descobrimento/inovação e capacitação de recursos humanos.” Para Zarifian (1996), há cinco diferentes competências na organização: 1. competências sobre processos: os conhecimentos sobre o processo de trabalho; 2. competências técnicas: conhecimentos específicos sobre o trabalho que deve ser realizado; 3. competências sobre a organização: saber organizar os fluxos de trabalho; 4. competências de serviço: aliar a competência técnica à pergunta: qual o impacto que este produto ou serviço terá sobre o consumidor final? 5. competências sociais: saber ser, incluindo atitudes que sustentam os comportamentos das pessoas. O autor identifica três domínios dessas competências: autonomia, responsabilização e comunicação. Segundo Hamel & Prahalad (1995), a competência essencial envolve três aspectos fundamentais: 1. identificação de um conjunto único de habilidades, que inclui um componente tecnológico e um componente de aprendizagem, e se esse conjunto está presente em múltiplas Unidades de Negócio; 2. verificação se outras empresas têm dificuldade de imitar; 3. avaliação se pode ser utilizado em novas oportunidades de negócios. Assim, acentua-se a necessidade de garantir que esta visão traga uma arquitetura estratégica que elabore uma planta para construção das competências necessárias para dominar os mercados futuros. Portanto, os funcionários devem ter competência técnica para exercer sua função, competência social para interagir com outras pessoas e competência de negócio para buscar os resultados empresariais pretendidos. 2.3. CLASSIFICAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS: DOMÍNIO E APLICAÇÃO Segundo Ruano (2003) o entendimento da competência passa necessariamente pela dimensão estratégica (competências organizacionais) e pela dimensão individual (competências dos funcionários), que estão intimamente relacionadas. Organizações 64 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda não vivem sem a expertise das pessoas e as pessoas, por sua vez, sem as da organização. A agregação de valor dos indivíduos é, a sua contribuição efetiva ao patrimônio de conhecimentos da organização, o que lhe permite manter vantagens competitivas ao longo do tempo. Quanto as competências dos funcionários, essas podem ser divididas em individuais e profissionais segundo Nisembaum (2000), sendo: Individual é a integração sinérgica das habilidades, conhecimentos e comportamentos, manifestados pelo alto desempenho da pessoa que contribui para os resultados da organização. As competências que partem dos resultados que contribuem com a estratégia da empresa, incluindo o desempenho já adquirido ou que se precisa ter, de acordo com o modelo de performance e as funções exercidas na posição ocupada. Nisembaum entende que as competências individuais devem levar em conta as mudanças nos locais de trabalho e as necessidades da indústria, de maneira que a competência específica inclua a capacidade de aplicar habilidades, conhecimentos e comportamentos a situações novas e às mudanças no processo de trabalho e, não apenas, nas tarefas desempenhadas atualmente. Isso reforça a “tese de desenvolver as competências individuais e específicas à luz das competências essenciais, ao invés de trabalhar somente com base em características de personalidade”. Fonte: Fleury & Fleury (2001): inspirado na obra de Le Boterf. Profissional: é a competência que consistem em construir uma interpretação dos resultados a serem produzidos para o cliente, a partir do que ele mesmo propõe, mas, também, a partir de informações que espelham outras perspectivas. Interpretar é atribuir um significado a enunciados lingüísticos (NISEMBAUM, 2000). 65 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda A competência humana, profissional, segundo Nisembaum (2000), desde o início, é decisiva na eficiência de uma produção de serviço, pois é preciso interpretar e compreender as expectativas do cliente-usuário quanto aos resultados a serem gerados. Referem-se às tarefas profissionais e sociais, estando ligadas à descrição das funções do conteúdo funcional de cada categoria e nas normas de atuação profissional. Desenvolvem-se, para enfrentar a improvisação, e na colocação do talento pessoal na resolução dos problemas. Referem-se aos valores individuais, traduzidos na capacidade de análise critica, na constituição do seu projeto pessoal e na capacidade de auto- formação e de pesquisa. As atitudes de relação e de comunicação, as capacidades relativas à auto-imagem, conhecimento próprio, valorização, auto-estima e autoconfiança, as capacidadesde adaptação e mudança, facilidade de integração e aceitação da mudança. Competência individual, na visão de Nisembaum (2000), é a integração sinérgica das habilidades, conhecimentos e comportamentos, manifestados pelo alto desempenho da pessoa que contribui para os resultados da organização. Destaca o modelo de competência, propondo a seguinte seqüência de análise, resultados – performance – papéis – competências. Nisembaum (2000) define as competências individuais, partindo dos resultados que contribuem com a estratégia da empresa, incluindo o desempenho já adquirido ou que se Conhecer e entender o negócio da organização, o seu ambiente, identificando oportunidades e alternativas. Ter visão estratégica Ser responsável, assumindo os riscos e conseqüências de suas ações e sendo por isso reconhecido. Saber assumir Responsabilidades. Saber empreender, assumir riscos. Comprometer-se. Saber engajar-se e comprometer-se. Trabalhar o conhecimento e a experiência, rever modelos mentais; saber desenvolver-se. Saber aprender Compreender, trabalhar, transmitir informações, conhecimentosSaber comunicar Criar sinergia e mobilizar recursos e competências.Saber mobilizar recursos. Saber o que e por que faz. Saber julgar, escolher, decidir Saber agir Conhecer e entender o negócio da organização, o seu ambiente, identificando oportunidades e alternativas. Ter visão estratégica Ser responsável, assumindo os riscos e conseqüências de suas ações e sendo por isso reconhecido. Saber assumir Responsabilidades. Saber empreender, assumir riscos. Comprometer-se. Saber engajar-se e comprometer-se. Trabalhar o conhecimento e a experiência, rever modelos mentais; saber desenvolver-se. Saber aprender Compreender, trabalhar, transmitir informações, conhecimentosSaber comunicar Criar sinergia e mobilizar recursos e competências.Saber mobilizar recursos. Saber o que e por que faz. Saber julgar, escolher, decidir Saber agir Competências para o Profissional Fonte: Fleury & Fleury(2001): inspirado na obra de Le Boterf. 66 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda precisa ter, de acordo com o modelo de performance e as funções exercidas na posição ocupada. Assim: - Pessoas potencialmente competentes: desenvolvem e possuem características, atributos e requisitos como: conhecimento, habilidade, habilitações, porém não conseguem sua aplicação na prática, ou não demonstraram seus resultados nas ações e nos trabalhos desenvolvidos. Exemplo: aprender o domínio de uma língua estrangeira e não conseguir trabalho onde poderá aplicar o conhecimento (RESENDE, 2000). - Pessoas efetivamente competentes: aplicam os requisitos e atributos com êxito em suas ações e atividades, com resultados claros. Ex. resolução de problemas rapidamente. (NISEMBAUM, 2000) 2.3.1. COMPETÊNCIAS ORGANIZACIONAIS No início da década de 1990 emerge com grande força a visão estratégica da empresa baseada em recursos, como contra-ponto da predominância da visão do ambiente externo como determinante da estratégia empresarial. Nessa discussão, o conhecimento surge como principal recurso empresarial. Hamel & Prahalad (1995) defendem a idéia de que para se estabelece a visão estratégica, continuamente revisada e adequada ao contexto do momento, faz-se necessário energia intelectual substancial constante da empresa para desenvolver respostas sólidas e de alta qualidade para perguntas como: que novas competências específicas da organização teremos de criar? Que novos conceitos de produtos devemos lançar? Que novas alianças precisamos formar?. Em síntese, o que a empresa necessita é ter a capacidade de antever o futuro, não adianta para tanto, a empresa estar apenas preocupada em ser mais eficiente; deve estar preocupada também em ser capaz de ser diferente. Nesse sentido, Hamel & Prajalad (1995) entendem que se torna clara a necessidade de elaboração de uma visão estratégica, que precede à liderança de produtos e concebe a necessidade de incorporação de um portifólio de competências. Para Santos (2000:13) a competência das organizações não está no conhecimento em si, mas na mistura de habilidades técnicas, funcionais, gerenciais e comportamentais. 67 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 2.3.1. AS COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS DA EFETIVIDADE HUMANA NEGOCIAÇÃO DE RESULTADOS Segundo Wanderley (2005) não importa qual seja a atividade em que alguém esteja envolvido, existe um conjunto de competências que são essenciais para que se obtenham desempenhos expressivos. Competências que dizem respeito à capacidade de reflexão, decisão e ação de uma pessoa e que são sempre necessárias, quer estejamos negociando, liderando, solucionando problemas, tomando decisões, desenvolvendo uma equipe ou em qualquer outra atividade. Elas constituem as competências essenciais da efetividade humana. E o ponto relevante é que são fundamentais para que se obtenham resultados expressivos. Vejamos algumas das mais significativas: Identificação e formulação de objetivos Wanderley (2005) entende que saber identificar e formular objetivos é o ponto básico, não importa a atividade em que estejamos envolvidos. Para a boa formulação de objetivos devemos ter presente que eles devem ser: significativos, desafiantes, realizáveis, verificáveis e, hoje em dia, mais do que nunca, ecológica e eticamente corretos. A Negociação de Resultados é aquela em que o negociador sabe com extrema precisão o que quer e o para que quer e, em função disto, estabelece caminhos, procedimentos e alternativas que lhe permitam chegar os seus objetivos obedecendo ao princípio do menor esforço, ou seja, da máxima produtividade. Portanto, formular bem objetivos é o ponto de partida. Entretanto, inúmeros equívocos são cometidos e o surpreendente é que as pessoas, em geral, não têm consciência dos pecados em que estão envolvidas. (WANDERLEY, 2005) • Manter o foco nos objetivos. Uma das coisas mais difíceis De nada adiante termos objetivos, se perdemos o foco. Em negociação, não existe nada tão fácil quanto perder o foco, sobretudo nos momentos de tensão e impasses, sempre presentes, como decorrência da existência de interesses opostos ou de falhas no processo de comunicação. Nestes momentos é bastante comum o surgimento de 68 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda comportamentos absolutamente negativos como agressão, resignação, fixação, regressão, racionalização e compensação, que acabam se sobrepondo aos próprios interesses dos negociadores, além de comprometerem o relacionamento entre as partes. (WANDERLEY, 2005) Perder o foco resulta também em má administração do tempo. E neste sentido convém considerar um alerta de Peter Drucker: Se o tempo não puder ser administrado, nada mais pode ser administrado. • Processo básico para obtenção de objetivos e flexibilidade Para Wanderley (2005) pessoas que atingem seus objetivos e obtém resultados expressivos tem um padrão ou processo de atuação que as leva a conquistar sistematicamente o que se propõe. O processo é seguido persistentemente e se compõe de algumas etapas bastante simples:Definição de objetivos, ou seja, saber exatamente o que se quer; 1. Reflexões, decisões e ações, isto é, medidas para transformar os objetivos em realidade. Caso contrário eles não passarão de pura fantasia; 2. Comparação entre objetivos e os resultados ou respostas das ações que estão sendo efetuadas, para saber se estão sendo feitas as coisas certas, isto é, para aferir se o rumo está correto ou se há necessidade de se efetuar correções; 3. Caso não se estiver caminhando na direção dos objetivos é preciso identificar o que se fez, aprender com a experiência e procurar outras ações para alcançar os objetivos. Isto é, ter flexibilidade. Flexibilidadeé a capacidade de ter um comportamento que permita responder de forma adequada às exigências de cada situação. Assim é indispensável saber que o que importa não é o que se faz, mas a resposta que se obtém pelo que se faz. Se o que você estiver fazendo não produz os resultados que você quer, mude. Não se apegue ao equívoco. Na sua essência, flexibilidade tem a haver com a oração da sabedoria: Dai-me força para mudar o que pode ser mudado, paciência para aceitar o que não pode ser mudado e sabedoria para distinguir uma coisa de outra. (WANDERLEY, 2005) Estudos sobre pessoas que obtiveram sucesso comprovam a importância do processo básico para obtenção de objetivos e da flexibilidade. 69 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda • Crenças e Valores Segundo Wanderley (2005) o nosso sistema de crenças vai definir como vamos nos sair. Há um ditado que diz: quer você acredite que pode, quer você acredite que não pode, você está certo. O nosso sistema de crenças é algo muito poderoso para o nosso bem ou nosso mal. Há até quem diga que o ditado: "Contra fatos não há argumentos" deveria ser substituído por: "Contra os fatos existem o sistemas de crenças de uma pessoa". Entre as crenças que conduzem ao êxito temos: 1o. Considere tudo o que lhe acontece como uma oportunidade e não como uma ameaça; 2o. Assuma responsabilidade pelas coisas que lhe acontecem. Só assim é possível assumir o comando da própria vida; 3o. Considere os próprios erros não como fracasso, mas como um feedback negativo, ou seja, uma informação de que a ação escolhida para alcançar o objetivo levou a um resultado indesejado; 4o. Não é preciso saber tudo para agir. É preciso saber correr riscos. Nunca riscos do tipo tudo ou nada. • Aprendizado com a experiência Primeiro, aprenda com seus acertos e erros. Mas também com os acertos e erros de outras pessoas. Depois, tenha presente que o verdadeiro saber vem quando o que conhecemos está incorporado à nossa ação. Caso contrário, este conhecimento pode ser apenas uma ilusão. Assim, só quando se pratica alguma coisa é que se pode identificar os fundamentos em que se baseiam. A ação é o verdadeiro teste ácido. É o sal e o tempero da vida. Portanto, apenas saber que existem competências essenciais da efetividade humana está longe de ser suficiente. É preciso vivê-las. (WANDERLEY, 2005) 2.4. COMPETITIVIDADE E COMPETÊNCIAS O conceito da competência como fonte de vantagem competitiva, segundo Prahalad & Ramaswamy (2000:43) teve origem em estudos sobre a diversificação. Tais estudos 70 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda começaram a conceber as organizações como uma série de competências e não mais como uma carteira de diferentes negócios. Prahalad & Ramaswamy (2000:43) propõem quatro fundamentos para o aproveitamento das competências do consumidor pela empresa: as empresas devem envolver seus clientes em um dialogo aberto, claro, contínuo; devem mobilizar grupos de clientes, os quais podem ter muita influência sobre o mercado; e devem gerenciar as diversidades dos consumidores, criando oportunidades para o cliente definir seu envolvimento e a criação conjunta de experiência, entre a empresa e o cliente. Segundo Soto (2002) a competitividade é uma questão de sobrevivência, é a forma de aprender e crescer para enfrentar o ambiente e os desafios com êxito, dentro de um processo de mudança, desenvolvimento e melhoria continua. O autor faz uma distinção entre competitividade e competição. Competição seria estabelecer uma relação ganha- perde, já competitividade, significa uma medida de satisfação do consumidor em um mercado globalizado. Portanto, competitividade é uma estratégia de sobrevivência de médio e longo prazo. A competitividade não implica em uma luta entre as partes, pois seus principais valores estão em “o que fazer” para a consecução da produtividade e serviço visando a satisfação do cliente, da sociedade e da própria empresa. A empresa precisa definir em que precisa melhor, sendo assim a empresa deve ter como foco principal as oportunidades de melhoria. Soto (2002) estabelece uma diferença entre três conceitos: Competência em si, competência diante dos outros e competitividade. Competência em si – grau de preparação teórica, técnica e moral que constitui o perfil profissional particular de cada pessoa. Competência diante dos outros ─ é o exercício pelo qual a minha competência enfrenta outras competências em disputa por um mesmo benefício. Competitividade – conjunto de condições ótimas derivadas da competência em si e da experiência ante os outros, para ter êxito na consecução dos objetivos. “NÃO SE CONCENTRE NA COMPETIÇÃO; CONCENTRE-SE NA SUA INCOMPETÊNCIA”. 71 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Brandão & Guimarães (1997:14) afirmam que competência é o “conjunto de conhecimentos, habilidades e experiências que credenciam um profissional a exercer determinadas funções”. A concepção atual sobre as competências, bem como a necessidade de uma visão mais ampla e integral da experiência e do desenvolvimento humano, demanda novas formas para a formação de pessoal e considera as necessidades da educação permanente para uma sociedade mais ampla e, ao mesmo tempo, verifica- se a ruptura entre os elementos mais tradicionais de educação e as novas formas que enfocam o indivíduo em seu desenvolvimento (IRIGON, 1998). No entender de Zarifian (1999), a qualificação tende a ser substituída pela competência. As competências supõem um atendimento mais estrito das necessidades do capital e a um preparo adequado aos novos tempos. As virtudes pessoais são elencadas como parte das competências em escala maior neste momento em que os empregos dependem do capital intelectual e social. 2.5. COMPETENCIA FUNCIONAL Züñiga (1999) propõe a definição funcional das competências como: - Unidade de competência: refere-se as funções relacionadas com o objetivo do emprego, como, também, exclui qualquer requerimento relacionado com a saúde, à segurança, à qualidade de vida e às relações de trabalho. - Elemento de competência: é a descrição de uma realização que deve ser alcançada por uma pessoa no desempenho do seu trabalho. Refere-se a uma ação, um comportamento ou um resultado que o trabalhador deve demonstrar, tornando, assim, uma função realizada por um indivíduo. - Critério de desempenho: é uma descrição dos requisitos de qualidade para o resultado obtido no desempenho do trabalho. Permite estabelecer se o trabalhador alcança ou não o resultado descrito no elemento competência. - Grau de aplicação: é a descrição das circunstâncias, ambiente materiais, máquinas e instrumentos em relação com os quais se desenvolve o desempenho descrito no elemento de competência. - Evidências de desempenho e de conhecimento: são descrições sobre as variáveis, cujo estado permite inferir se o desempenho foi efetivamente alcançado e que se domina o conhecimento necessário para alcançá-lo. 72 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Exercício reflexivo: elabore um texto dissertativo a partir do conceito abaixo: “Competência: um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo” ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 73 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda UNIDADE3 COMPETÊNCIAS DE LIDERANÇA O líder ideal é aquele que atua como orientador, buscando nas pessoas seus melhores talentos, ajudando-as a desenvolvê-los, inspirando-as com seus valores, energia e entusiasmo,valorizando-as e respeitando suas individualidades; enfim, regendo estes talentos para que a sua combinação possa oferecer a “mais bela música”. Klemp Jr (1999) Falamos de competências de uma forma geral, tendo em vista que, as competências variam de organização para organização, bem como, os requisitos de liderança também variam de acordo com a época e o modelo de gestão adotado pela organização. Os líderes têm uma importância vital na construção e desenvolvimento das competências requeridas, pois, eles devem possuir a capacidade de articular diferentes competências individuais, transformando-as em competências coletivas. As competências são passíveis de serem aprendidas e seu estudo faz parte dos currículos das escolas de Administração. Para Motta (1994), o aprendizado gerencial envolve quatro dimensões básicas: a cognitiva, a analítica, a comportamental e a habilidade de ação, demonstradas no quadro a seguir: Significado e objetivo das habilidades gerenciais 74 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Fonte: Motta,1994:29. Para Motta (1994), a ação gerencial reflete o comprometimento, a autodisciplina e a adaptabilidade pessoal na consecução de uma missão, aliando, portanto, toda a dimensão de segurança fornecida pelo conhecimento administrativo com o comportamento pessoal na busca de novos horizontes. Um estudo realizado pela Cambria Consulting com 62 modelos revelou 30 atributos e 30 práticas usados para codificar as competências de liderança de todos os modelos e lançá-las em uma base de dados comum. Mais de 99% de todas as competências da amostra de modelos de liderança puderam ser codificadas nessas categorias. O processo de codificação revelou três tipos de modelos de liderança: o modelo concentrado em atributos, o concentrado em práticas e o que mistura os dois modelos. Dentre as competências definidas como práticas, nove aparecem como as mais comuns e nove são citadas com freqüência suficiente para merecer atenção especial. Práticas mais citadas Práticas Principais Perc. Outras práticas importantes Perc. Desenvolver pessoas Cooperar / 64% participar de equipes 36% Obter resultados 55% Criar equipes 36% Comunicar-se 52% Criar um ambiente de alto desempenho 32% Orientar a visão e a direção 46% Impulsionar mudanças 32% Criar laços de relacionamento comercial 43% Ser um modelo em sua função 29% Tomar decisões 41% Gerenciar a diversidade / valorizar o outro 29% Gerenciar o desempenho 39% Desenvolver estratégias 25% Influenciar a organização 38% Assumir responsabilidade pelas coisas 23% Fonte: Cambria Consulting (2002:15) Atributos mais citados Principais atributos Perc. Outros atributos importantes Perc. Integridade /sinceridade /ética 77% Iniciativa /orientação para a ação 58% Capacidade de realização 76% Capacidade de comunicação 52% Habilidade de lidar com pessoas 73% Energia /entusiasmo 50% Orientação para o aprendizado 73% Habilidade política 50% Capacidade de direcionar e controlar 66% Cooperação 48% Capacidade de influenciar pessoas 64% Raciocínio analítico 48% Raciocínio estratégico 64% Responsabilidade /comprometimento 48% Compreensão de conceitos 63% Capacidade de julgamento 44% Flexibilidade/adaptabilidade 61% Capacidade de tomar decisões 44% Autoconfiança/coragem 60% Conhecimento do negócio 40% Fonte: Cambria Consulting (2002:16) 75 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Conclui-se que nem todos os atributos de liderança possíveis são necessários para um desempenho eficaz de determinado papel de liderança. Muitos dos atributos citados com grande freqüência estão enraizados na personalidade, nas características pessoais ou nas capacidades individuais, não sendo aspectos de fácil desenvolvimento. O estudo da Cambria Consulting foi descrito com exclusividade para HSM Management por George O. Klemp Jr., fundador da Cambria Consulting, conforme veremos abaixo. 3.1. TIPOS DE COMPETÊNCIAS SEGUNDO KLEMP JR. Klemp na década de 50 definiu competência como “uma característica subjacente do individuo que resulta em desempenho efetivamente superior em um dado cargo”. Klemp (1999:2) estudou o que vêm a ser as principais competências de um líder efetivo, de modo a estabelecer um modelo para relacionar liderança com estratégias organizacionais e, além disso, identificar maneiras de reconhecer e desenvolver líderes. As competências para liderança são baseadas em atributos e práticas. Klemp diferencia dois tipos de competências: práticas e atributos. Práticas: o que as pessoas fazem, exercendo suas funções, para obter resultados, como por exemplo, um líder pode “orientar a visão e o direcionamento”, “colocar o foco no cliente”, e “tomar decisão”. As práticas são o que as pessoas fazem com os atributos que elas detêm e que são observados em seu comportamento no trabalho. Atributos: são ingredientes básicos para performance, ou seja, são as capacidades necessárias para que as pessoas realizem uma atividade, como: conhecimentos, técnicas e outras características que as pessoas trazem para a função, que lhes permitem exercer as tarefas de liderança. Um líder pode, por exemplo, demonstrar capacidade de “pensamento estratégico”, “iniciativa” e “grande energia” como atributos pessoais. “Os atributos são a matéria-prima do desempenho. São as habilidades necessárias para exercer a função. As práticas estão relacionadas ao que as pessoas fazem, exercendo suas funções, para obter resultados”. Klemp Jr (1999) Existe uma relação muito estreita entre esses dois tipos de competências de liderança. As práticas dependem dos atributos (conforme vimos em Liderança orientada para resultados de Dave Ulrich). Não é possível “tomar decisões duras” (prática) sem um altograu de “autoconfiança” (atributo). Embora possuir os atributos necessários não 76 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda garantam os comportamentos (prática) necessários, aumentam muito a probabilidade de os comportamentos necessários virem a se repetir. Por outro lado, “nem todos os atributos de liderança possíveis são necessários para a eficácia do líder”. Ao analisar o conteúdo de 60 modelos de competência foram revelados 30 atributos e 30 práticas, cujos 19 principais são apresentados no quadro que segue abaixo. Mais de 99% de todas as competências puderam ser codificadas nessas categorias. O processo de codificação revelou três tipos de modelos de competências de liderança: o modelo concentrado em atributos (8% das empresas pesquisadas); o modelo concentrado em práticas (27%) e o modelo misto (65% das empresas pesquisadas). Mais uma vez, seria importante ressaltar que além de ter as qualidades certas, os líderes precisam fazer as coisas certas. ATRIBUTOS PRÁTICAS Pr in ci pa is Integridade /sinceridade/ ética - 77% Capacidade de realização 76% Habilidade em lidar com pessoas 73% Orientação para o aprendizado 73% Capacidade de direcionar e controlar 66% Capacidade de influenciar pessoas 64% Raciocínio estratégico 64% Compreensão de conceitos 63% Flexibilidade / adaptabilidade 61% Autoconfiança / coragem 60% Desenvolver pessoas 64% Obter resultados 55% Concentrar-se no cliente 52% Comunicar-se 52% Orientar a visão e a direção 46% Criar laços de relacionamento comercial 43% Tomar decisões 39% Gerenciar o desempenho 39% Influenciar a organização 38% O ut ro s ( as ) Iniciativa/ orientação para a ação 58% Capacidade de comunicação 52% Energia/ entusiasmo 50% Habilidade política 50% Cooperação 48% Raciocínio analítico 48% Responsabilidade/comprometimento 48% Capacidade de julgamento 44% Capacidade de tomar decisões 44% Conhecimento do negócio 40% Cooperar/ participar de equipes 36% Criar equipes 36% Desenvolver soluções criativas 34% Criar um ambiente de alto desempenho 32% Impulsionar mudanças 32% Ser um modelo em sua função 29% Gerenciar a diversidade/valorizar o outro 29% Desenvolver estratégias 25% Assumir responsabilidade pelas coisas 23% Fonte: Extraído de Klemp Jr, 1999. Será que existe um grupo de competências que podem ser chamadas de universais? Aplicáveis a todos os líderes e a todas as situações? Quantas competências deve ter um modelo de liderança? 77 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda A resposta dependerá da escolha por uma definição de competências de cada empresa, se são práticas, atributos ou mistas. Os modelos baseados em atributos tendem a ter um número maior de competências dos que os modelos baseados em práticas. Os modelos de base atual são de dois tipos: Abrangentes – contém longas listas de competências que podem ser usadas para várias aplicações. Seletivos – concentram em poucas competências de grande impacto. Partem do principio de que existem competências básicas ou mínimas, mas preferem se concentrar nas competências que diferenciam os líderes “de destaque” dos líderes “comuns”. Com base no identificado, Klemp identificou nove “metacompetências”. Este modelo é chamado de “Modelo de nove baldes”, dividido em: cinco “baldes” ou compartimentos de atributos de liderança e quatro “baldes” ou compartimentos de práticas de liderança. “Baldes” ou compartimentos de ATRIBUTOS DE LIDERANÇA: Balde 1 “QI” (capacidade mental) – A liderança eficaz exige um alto grau de inteligência para gerenciar as complexidades inerentes a um papel executivo. Exemplo: capacidade de compreender conceitos, capacidade de análise, pensamento estratégico e habilidade de fazer julgamentos rápidos em situações ambíguas ou novas. Balde 2 “IE” (inteligência emocional) – Percepção das próprias emoções, pontos fortes e fracos. Percebem o outro sendo capazes de entender a reação de outras pessoas; têm contato com o moral e o ambiente de trabalho e estão cientes da dinâmica interpessoal e política entre as pessoas em toda a organização. Balde 3 “Conhecimento” (conhecimentos técnicos e do negócio) – Um bom know-how da área de atuação e uma ampla visão de como operar o negócio são aspectos imprescindíveis. Conhecimentos de assuntos financeiros, técnicos ou funcionais são fundamentais. 78 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Balde 4 “Crescimento” (desenvolvimento pessoal) – Líderes eficientes são curiosos e ávidos de conhecimentos, querem defrontar novas situações e aprender. Eles possuem mente flexível e estão sempre dispostos a levar em consideração pontos de vista diferentes. Enxergam o erro como oportunidade de aprendizagem. Balde 5 “Ego” (ego saudável) – São autoconfiantes e decididos. Seu ego tem que ser saudável a ponto de admitir quando estão errados e se cercarem de pessoas capazes sem se sentirem ameaçados. Este é o fundamento para a ação com integridade, honestidade e ética. “Baldes” ou compartimentos de PRÁTICAS DE LIDERANÇA Balde 6 “Dizer” (dar a direção) – Os líderes devem estabelecer a direção a se seguida, concentrar-se em resultados, tomar decisões, delegar autoridade, gerenciar o desempenho e dar responsabilidade as outras pessoas. Balde 7 “Vender” (influenciar pessoas) – Os líderes são mestres em influenciar pessoas. Trabalham canais de influência formais e informais de forma eficaz. Criam equipes eficazes, conseguem um ambiente de alto desempenho e comunicam-se de forma habilidosa e freqüente. Balde 8 “Iniciar” (fazer com que as coisas aconteçam) - Significa que os líderes devem impulsionar mudanças, correr riscos, buscar melhorias mesmo nas operações melhores administradas e agir de forma decisiva ao invés de deixar que as circunstâncias e os acontecimentos orientem o seu comportamento. Balde 9 “Relacionar-se” (estabelecer relacionamentos) – Os líderes devem compreender a importância de manter relacionamentos sólidos, de confiança e respeito. Relacionamentos em vários níveis, tanto fora da empresa (clientes, parceiros, fornecedores) quanto dentro (pares, superiores, funcionários). Klemp (apud Lamb, 2007) diz que são várias as formas como se combinam as práticas e atributos em estilos de liderança de diferentes organizações: variam de competências gerais, obedecendo a um padrão comum a várias empresas, a competências estratégicas, 79 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda reveladas de acordo com reflexões da cultura organizacional predominante, bem como a posição da empresa no mercado, sua relação com os consumidores, fornecedores, empregados e comunidade em geral, o que demandam competências específicas de liderança. O fato de que muitas competências de liderança não são universalmente representadas sugere que a liderança seja situacional: líderes diferentes enfrentam situações diferentes, e situações diferentes requerem comportamentos diferentes. A distinção entre práticas e atributos de liderança ajuda a responder a questão sobre se a liderança é uma característica intrínseca da pessoa (nasce com ela) ou pode ser formada, treinada e ensinada. Pessoas consideradas líderes natos têm a oportunidade de exercer capacidades próprias, motivações e preferências e podem desenvolver certas qualidades e características de um líder muito cedo. Porém, nem todas as pessoas que possuem os atributos necessários para exercer um liderança surgem com líderes: as pessoas precisam estar motivadas para aceitar esse desafio. Enquanto a presença de modelos de função bem definidos e mentores que instiguem uma pessoa a assumir uma posição de líder podem acelerar esse processo, além de considerar que uma educação bem embasada também é importantepor preparar líderes com know-how essenciais, não há substituto para a experiência adequada em líderes capazes, afirma Klemp (1999) Algumas considerações quanto ao uso de modelos de competências de liderança: Sejam suas competências definidas como atributos ou práticas, não deixem que ultrapassem dez. Se estiver considerando uma abordagem ampla concentre-se nas competências que tem mais impacto sobre o desempenho organizacional. Selecione de acordo com os atributos e gerencie conforme as práticas. Recorra as cinco metacompetêcias de atributos para identificar pessoas com potencial de liderança e avalie os líderes atuais pelas quatro metacompetências de práticas. Reveja as competências de tempos em tempos. À medida que as condições do negócio e as exigências mudam, faz sentido reexaminar e reorientar as competências. Os atributos são ingredientes necessários para uma liderança eficaz, mas sua presença não garante um bom líder. Os pontos cruciais são os comportamentos – as práticas de liderança – que transformam capacidades em ação. 80 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda O poder dos atributos está na capacidade de prever o potencial de liderança, enquanto o poder das práticas está em sua definição daquilo que os líderes eficazes realmente fazem. Exercício reflexivo: faça um levantamento dos conceitos principais discutidos nesta unidade e registre-os, de modo sintético, a seguir: ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 81 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ UNIDADE 4 COMPETÊNCIAS REQUERIDAS DAS ORGANIZAÇÕES GANHADORAS DO PRÊMIO NACIONAL O fato de que muitas competências de liderança não são universalmente representadas sugere que a liderança seja situacional: líderes diferentes enfrentam situações diferentes, e situações diferentes requerem comportamentos diferentes. Klemp (1999) ALTA ADMINISTRAÇÃO Autoria: Leonor Brandão Até aqui abordamos as competências de liderança que podem ser aplicadas em qualquer nível de liderança em uma organização. No entanto, é preciso analisar mais cuidadosamente o que compete aos dirigentes da organização. O QUE COMPETE À ALTA ADMINISTRAÇÃO A alta administração é composta pelos presidentes, diretores e/ou gerentes-chave, que são responsáveis pela formulação e implementação de estratégias da organização. Segundo Hitt (2002) a qualidade das decisões estratégicas tomadas pela equipe da alta administração afeta a capacidade da organização de inovar e se envolver numa mudança estratégica efetiva. Segundo o Prêmio Nacional da Qualidade – PNQ (2006) existem alguns fundamentos que orientam diretamente o papel da alta administração, quando da definição das 82 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda práticas de gestão a serem empreendidas pela organização. Portanto compete à alta administração possuir: 4.1. VISÃO SISTÊMICA Forma de entender a organização, como sendo um sistema integrado, inclusive à sociedade, no qual o desempenho de um componente pode afetar não apenas a própria organização, mas suas partes interessadas. Como este conceito é colocado em prática: As organizações são constituídas por uma complexa combinação de recursos, interdependentes e inter-relacionados, que devem perseguir os mesmos objetivos e cujos desempenhos podem afetar, positiva ou negativamente, a organização em seu conjunto. Um sistema organizacional pode se dividido em subsistemas e componentes, com menor grau de complexidade, permitindo maior facilidade no gerenciamento das atividades e processos, porém, a tomada de decisão, o gerenciamento dos processos e a análise do desempenho da organização devem considerar o conjunto dos subsistemas e suas inter-relações. A visão sistêmica pressupõe que as pessoas da organização entendam seu papel no todo as inter-relações entre os elementos que compõem a organização, bem como a importância da integração desta com o mundo externo. Inclui a focalização de toda a organização na estratégia, o que significa monitorar e gerenciar o desempenho com base nos resultados do negócio e no atendimento, harmônico e equilibrado, das necessidades de todas as partes interessadas. Portanto, à liderança compete o preparo para uma leitura sistêmica das variáveis que influenciam a organização direta ou indiretamente, a fim de extrair as informações adequadas para orientar o processo decisório da organização. 83 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 4.2. LIDERANÇA E CONSTÂNCIA DE PROPÓSITOS Comprometimento dos líderes com os valores e os objetivos da organização; e a capacidade de construir e manter um sistema de gestão que estimule as pessoas a realizar um propósito comum e duradouro. Como este conceito é colocado em prática: A participação pessoal ativa e continuada da alta direção cria clareza e unidade de propósito na organização. No exercício da liderança, a alta direção serve de exemplo a todos. Por meio de seu comportamento ético e transparente, habilidades de planejamento, comunicação e análise, a alta direção estimula as pessoas à busca da excelência. Seu papel inclui a criação de um ambiente apropriado à autonomia, melhoria, inovação, agilidade e aprendizado. A organização deve contar com líderes capazes em todos os níveis, com perfil adequado, capacitados e com habilidade para motivar e engajar as equipes. Ao lado do exercício pessoal da liderança, a organização precisa desenvolver um sistema capaz de manter o engajamento das pessoas na causa da organização. Critérios e procedimentos devem ser definidos para orientara tomada de decisão e a comunicação em todos os níveis da organização. A ação da alta direção e dos demais líderes deve conduzir ao equilíbrio e à harmonia no relacionamento com todas as partes interessadas, de forma a conseguir o engajamento e o consentimento geral para concretizar a visão da organização. 84 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 4.3. VISÃO A visão compreende dois componentes principais: ideologia central e visualização do futuro. A ideologia central define o que cada organização defende e o por que da sua existência O futuro é o que a organização aspira em se tornar, o que espera alcançar e criar, tudo que requer mudanças significativas e progresso a ser atingido. A função da visão é criar o futuro e não prevê-lo. IDEOLOGIA CENTRAL – MISSÃO E VALORES BÁSICOS A ideologia central define o caráter permanente de uma organização – é o que permite saber o que a organização é. O conceito de visão incorpora a ideologia central, que por sua vez, compõe-se de duas partes: valores básicos e missão (finalidade básica). MISSÃO – FINALIDADE BÁSICA A missão de uma organização é a finalidade básica, ou seja, a razão de ser da organização. Algumas organizações chamam a isso de declaração de propósito ou a razão central pela qual estão no negócio. Uma boa declaração da missão exigirá liderança e que ela seja externamente focalizada, com os clientes em mente, e servirá como um motivador para ser ou fazer. A finalidade básica deve refletir as motivações das pessoas para executar seu trabalho na organização. Não é uma simples descrição do produto ou dos clientes-alvo. A finalidade não deve ser confundida com metas ou estratégias comerciais. O principal papel da finalidade básica é orientar e inspirar. As empresas precisam compreender claramente sua finalidade para dar significado ao trabalho e, assim, atrair, motivar e reter funcionários de peso. 85 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Características desejáveis na Missão Deve ter ampla divulgação, sendo de completa compreensão por todos os empregados da organização. Não deve ser muito específica, devendo ser ampla o suficiente para permitir o crescimento criativo da Organização, embora definindo o que a organização é e o que ela aspira ser. VALORES BÁSICOS Valores básicos são os preceitos essenciais e permanentes de uma organização. Formando um pequeno conjunto de princípios de orientação perenes, esses valores têm valor e importância intrínsecos e são importantes para aqueles que fazem parte da organização. Uma empresa decide quais são os seus valores independentemente do ambiente, de necessidades competitivas ou de modismos gerenciais. Não existem valores básicos corretos e, eles não precisam agradar ou serem humanitários. O importante é que sejam definidos dentro do que é verdadeiramente importante para a organização. Eles devem resistir ao teste do tempo. Portanto, é importante que para cada valor estabelecido, sempre faça a seguinte pergunta. Se as circunstâncias mudarem e a organização passar a ter uma desvantagem por abraçar esse valor, mesmo assim continuaríamos a defendê-lo? Não devemos perguntar em quais valores básicos devemos acreditar e sim em quais acreditamos. 4.4 VISÃO DE FUTURO Compreensão dos fatores que afetam o negócio e o mercado a curto e longo prazo, visando o crescimento sustentado e o aumento da probabilidade de êxito no alcance do desempenho desejado para a organização. Qual é a diferença entre uma visão e uma missão para uma organização? Ou qual o propósito da organização? Por visão queremos dizer uma idéia de como a organização ficará daqui a 5 ou 10 anos. 86 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda A visão tem a dimensão de um estado futuro desejado para a organização, é fundamental caracterizá-la dentro de um espaço de tempo, que pode variar de 5 a 10 anos. Ela deve apresentar características desafiadoras, a fim de promover o deslocamento da organização na direção definida e desejada. A visão serve dentro das organizações como um norte a ser conquistado e estimula o compromisso das partes interessadas com o processo de melhoria continua. “É uma representação mental de estratégia, criada ou ao menos expressa na cabeça do líder, ela serve como inspiração e também como um senso daquilo que precisa ser feito”. (Mintzberg, 2000) Como este conceito é colocado em prática A organização com visão de futuro: planeja, pensa e aprende estrategicamente, obtendo sucesso sustentado e duradouro em suas atividades. O planejamento deve ser voltado para o sucesso no longo prazo e para resultados no presente, sem comprometer o futuro em função de ganhos no curto prazo. Antecipar-se às novas tendências de mercado, aos novos cenários, às novas necessidades dos clientes, aos desenvolvimentos tecnológicos, aos requisitos legais, às mudanças estratégicas dos concorrentes e aos anseios da sociedade é essencial ao sucesso de uma organização. A alta administração compete à construção, o desenvolvimento e a disseminação de uma visão de futuro que se mostre consistente com as necessidades das várias partes interessadas e que promova desafios que estimulem a busca continua da excelência. 4.5 GESTÃO BASEADA EM FATOS E DADOS Tomada de decisões, em todos os níveis da organização, apoiada na medição e análise do desempenho, e considerando informações qualitativas internas e externas, incluindo os riscos identificados. 87 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Como este conceito é colocado em prática A base para a tomada de decisão, em todos os níveis da organização, é a análise de fatos e dados gerados em cada um de seus processos internos, assim como de competidores e outros referenciais. A análise dos fatos e dados se traduz em informações relacionadas a todos os aspectos importantes para a organização, ou seja, clientes, mercados, finanças, pessoas, fornecedores, produtos, processos, sociedade e comunidade. A organização retém o conhecimento adquirido por meio das informações, para que possa funcionar de maneira mais ágil e independente. Para que o processo de tomada de decisões seja eficaz e, a introdução de melhorias e inovações seja mais rápida, a organização deve dispor de sistemas estruturados de informação adequados ao seu negócio e desenvolver formas de obtenção e uso sistemático de informações comparativas. Dispondo de informações íntegras e atualizadas, os gestores podem qualificar suas decisões no dia-a-dia, assim como àquelas relacionadas à estratégia, aumentando a probabilidade de êxito no alcance de seus objetivos. Portanto, compete à liderança a construção de uma gestão baseada em dados e fatos, que possibilitem a diminuição dos riscos organizacionais e uma maior precisão no processo decisório dentro dos vários níveis organizacionais, desenvolvendo um ambiente mais seguro para o emprego das práticas organizacionais. 4.6 MOBILIZAÇÃO E COMPROMETIMENTO DAS PESSOAS Cabe a alta direção após a definição da visão, valores e missão a comunicação e disseminação dos mesmos e das diretrizes e estratégias da organização. E, para isso será necessário identificar canais e mecanismos que permitam não só a divulgação, mas, principalmente a adesão ou o comprometimento das pessoas que trabalham na organização. 88 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Segundo o PNQ (2006): “é da competência da alta administração o desenvolvimento de um sistema de liderança capaz de promover as condições necessárias para que os objetivos organizacionais possam ser alcançados, para isto é fundamental o comprometimentopessoal dos membros da alta direção no estabelecimento, disseminação e atualização de valores e diretrizes organizacionais que promovam a cultura da excelência, considerando as necessidades de todas as partes interessadas, bem como realizar analises críticas periódicas do desempenho global da organização, com a finalidade de orientar e reorientar as ações da organização”. As organizações que possuem uma filosofia clara e explícita, sintonia entre valores e o ambiente de negócio e, valores conhecidos e compartilhados por todos, essa possui uma cultura forte. Uma cultura forte de apoio à estratégia promove a identificação dos funcionários com a empresa, motivando-os a darem o melhor de si. O fundador ou líder tem um papel fundamental na criação de uma cultura forte, pois o mesmo deverá estar comprometido em operar o negócio de acordo com o estabelecido, criar um ambiente propício à implementação das estratégias e gerar o bem estar de todas as partes interessadas. Práticas éticas devem modelar o processo de tomada de decisão da organização e serem uma parte integrante da cultura organizacional. As organizações que estabelecem e mantém práticas éticas têm mais probabilidade de obter competitividade estratégica e ganhar retornos acima da média. Em suas visões de longo prazo, os líderes estratégicos deverão incluir práticas éticas, bem como desenvolver e apoiar uma cultura na qual essas práticas sejam as normas comportamentais esperadas. Os líderes estratégicos devem desenvolver e utilizar efetivos controles organizacionais, pois eles ajudam a construir credibilidade, demonstrar o valor das estratégias para os acionistas, fornecer parâmetros para implementação de estratégias e possibilitar ações corretivas quando ajustes à implementação de estratégias se fizer necessário. Os líderes são responsáveis pelo desenvolvimento e efetivo uso de dois controles: o financeiro e o estratégico. O controle financeiro concentra-se em resultados financeiros de curto prazo e o controle estratégico concentra-se no conteúdo das ações, encoraja a tomada de 89 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda decisão que incorpore riscos moderados e aceitáveis. Para que se obtenha retornos positivos de longo prazo faz-se necessário um equilíbrio entre os dois tipos de controle. Segundo Hitt (2002), por meio desses controles os líderes focalizam a atenção em questões estratégicas, apóiam uma cultura competitiva, fornecem direção para a utilização de suas competências essenciais na busca de oportunidades de mercado e constroem compromisso para o propósito estratégico. A equipe da LIDERANÇA, de posse destes conceitos deve estabelecer os valores e as diretrizes da organização, praticá-los e vivenciá-los, impulsionando com seu exemplo, a cultura da excelência na organização. Os líderes são os principais responsáveis pela obtenção de resultados que assegurem a satisfação de todas as partes interessadas e a perpetuidade da organização. Devem analisar criticamente o desempenho global da mesma e executar, sempre que necessário, as ações requeridas, consolidando o controle e o aprendizado organizacional. QUESTÕES ATUAIS SOBRE LIDERANÇA À medida que as organizações evoluem e ainda, diante de um cenário globalizado e altamente competitivo, é natural que surjam novas teorias sobre liderança e que cada vez mais se discuta o papel do líder. Hoje, estuda-se a liderança na perspectiva estratégica na medida em que o líder crie uma arquitetura social capaz de gerar capital intelectual dentro de um contexto em que se obtenha um desempenho em seu máximo de eficácia, respondendo de forma adequada e rápida às mudanças. Vale ressaltar aqui a importância dos valores e convicções dos líderes uma vez que eles modelam os valores culturais da organização. Segundo Soto (2002, p. 233) “as organizações deverão estar comprometidas com a sua missão transcendente, criando e mantendo uma cultura, valores que sejam a base de sua rentabilidade e compromisso social”. O líder aparece assim como figura central, como um construtor da cultura organizacional. O conceito de liderança parece ainda ser um conceito masculino. A explicação mais provável tem a ver com os estereótipos daqueles que tomam a decisão na contratação. Embora muitas pesquisas não demonstrem uma diferença acentuada na forma de 90 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda condução da liderança, existem indicadores de que as mulheres apresentam uma liderança mais interativa, focalizando a construção do consenso, boas relações interpessoais, onde a liderança é estabelecida através da criação de redes e delegação de poder. Outra tendência atual é a autogestão. Manz e Sims apud Stoner (1995) sugerem um novo estilo de liderança para grupos autogerenciados, o que eles chamam de autoliderança. Autoliderança seria a capacidade dos trabalhadores se motivarem tanto para realizar tarefas recompensadoras quanto tarefas necessárias, porém pouco atraentes. Todas essas abordagens nos levam a refletir sobre a complexidade a respeito do tema liderança, bem como sobre a sua importância, uma vez que são os líderes guiam as organizações e implementam ações. Vale a pena ressaltar a importância da questão ética da liderança, considerando a importância de seu papel na condução da organização e das pessoas. Torna-se importante evidenciar que não existe um “modelo” único de liderança e que diante da realidade da globalização, os líderes devem saber enfrentar os desafios que se apresentam em um cenário cada vez mais competitivo e instável. As lideranças estão se convencendo de que as organizações só conseguirão ser competitivas através das pessoas que a constituem e que, para isso, precisarão gerar alguns atributos, tais como: motivação, criatividade, qualidade, satisfação de clientes, redução de custos, etc. Portanto, faz-se necessário um líder capaz de desenvolver competências essenciais que lhe permitam guiar a organização e um corpo pluricultural de trabalhadores que atuem de forma ética e responsável. Dentro da perspectiva clássica a determinação da direção estratégica da organização envolve uma visão de longo prazo da intenção estratégica. Esta visão deve conter uma ideologia central e um futuro visado, enquanto a primeira serve como motivadora, a segunda serve como guia para o processo de implementação de estratégias, devendo incluir uma análise dos ambientes internos e externos e o atual desempenho da organização. As competências essenciais, ou seja, os recursos e capacidades que servem como fonte de vantagem competitiva e que estão relacionadas com as habilidades funcionais, devem ser enfatizadas nos esforços de implementação da estratégia.O desenvolvimento e 91 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda exploração de tais competências passam necessariamente pelo desenvolvimento do capital humano. Capital humano refere-se ao conhecimento e habilidades da força de trabalho de uma organização e requer um constante desenvolvimento e a construção de compromisso com as metas organizacionais, tendo em vista que esse capital fará a diferença na formulação e implementação das estratégias. A capacidade de cada membro aliada ao desenvolvimento de habilidades e conhecimento irá gerar competência permitindo uma visão sistemática da organização, promovendo, assim, a visão estratégica e a coesão organizacional. Políticas de recursos humanos que englobam planos de remuneração e recompensa possibilitam a retenção de talentos que se constitui em uma poderosa fonte de vantagem competitiva e uma parte importante para desenvolvimento e sustentação de uma cultura organizacional efetiva. As organizações que possuem uma filosofia clara e explícita, sintonia entre valores e o ambiente de negócioe valores conhecidos e compartilhados por todos, essa possui uma cultura forte. Uma cultura forte de apoio à estratégia promove a identificação dos funcionários com a empresa, motivando-os a darem o melhor de si. O fundador ou líder tem um papel fundamental na criação de uma cultura forte, pois o mesmo deverá estar comprometido em operar o negócio de acordo com o estabelecido, criar um ambiente propício à implementação das estratégias e gerar o bem estar de todas as partes interessadas. Práticas éticas devem modelar o processo de tomada de decisão da organização e serem uma parte integrante da cultura organizacional. As organizações que estabelecem e mantém práticas éticas têm mais probabilidade de obter competitividade estratégica e ganhar retornos acima da média. Em suas visões de longo prazo, os líderes estratégicos deverão incluir práticas éticas, bem como desenvolver e apoiar uma cultura na qual essas práticas sejam as normas comportamentais esperadas. Os líderes estratégicos devem desenvolver e utilizar efetivos controles organizacionais, pois eles ajudam a construir credibilidade, demonstrar o valor das estratégias para os acionistas, fornecer parâmetros para implementação de estratégias e possibilitar ações 92 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda corretivas quando ajustes à implementação de estratégias se fizer necessário. Os líderes são responsáveis pelo desenvolvimento e efetivo uso de dois controles: o financeiro e o estratégico. O controle financeiro concentra-se em resultados financeiros de curto prazo e o controle estratégico concentra-se no conteúdo das ações, encoraja a tomada de decisão que incorpore riscos moderados e aceitáveis. Para que se obtenha retornos positivos de longo prazo faz-se necessário um equilíbrio entre os dois tipos de controle. Segundo Hitt, op. cit., por meio desses controles os líderes focalizam a atenção em questões estratégicas, apóiam uma cultura competitiva, fornecem direção para a utilização de suas competências essenciais na busca de oportunidades de mercado e constroem compromisso para o propósito estratégico. Em Resumo: Este módulo teve como objetivo a compreensão da importância do papel da alta administração na definição dos rumos organizacionais, a partir da definição da visão de futuro, missão e valores da organização. Cabe ressaltar a importância da disseminação dos mesmos e a mobilização de todos os envolvidos, bem como, constância de propósitos e uma gestão baseada em fatos e dados. Referencias Bibliográficas AGUIAR, M. A. F. Psicologia Aplicada à Administração. São Paulo: Excellus, 1997. BASS, B.M. Leadership and performance beyond expectations. New York: Free Press, 1985. BASS, B.M. Stogdill s handbook of leadership. New York: Free Press, 1981. BLAKE, R.R.; MOUTON,J.S. A comparative Analisys of Situationalism and 9,9 anagement by Principle . Organizational Dynamics, Spring 1982, p. 20-43. Business, v.3, 1974. CAMBRIA CONSULTING. Competências de Liderança. In: JÚLIO, C. A.; SILIBI COVEY, Stephen R. Liderança baseada em princípios. Rio de Janeiro: Campus, 2002. 93 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda COVEY, Stephen R. Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes. São Paulo: Best Seller, 2003. COVEY, Stephen. Liderança baseada em princípios. 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Manifesto, entretanto, a posição de que em matéria de gestão como em todo o conhecimento humano o saber acumulado é a base para a elaboração de novos saberes. As questões sobre a Indústria Cultural, como já sabemos, foram expostas pela primeira vez nas reflexões dos filósofos frankfurtianos (Adorno & Horkheimer, 1969), mas as relações com a gestão da educação ainda não foram suficientemente exploradas. Tendo, pois, como referência teórica, as reflexões feitas pela Escola de Frankfurt sobre cultura, ciência, técnica e tecnologia na sociedade industrial contemporânea ( irei me referir a elas como "Teoria Crítica") arrisco-me a fazer um "vôo" para estabelecer alguns liames entre aquelas reflexões e os esforços para se construir um modelo de gestão na área educacional. O vôo exige, preliminarmente, para ganhar alguma altura, o estabelecimento de alguns pressupostos. Aceito, para início de discussão, que para se propor uma "teoria de gestão" é necessário que o discurso se apresente definindo pressupostos relativos à tomada de decisão, à visão e percepção dos integrantes da organização quanto ao meio em que atuam ou quanto às relações externas da organização, à comunicação, ao poder e à autoridade. Estes pressupostos referem-se mais a uma "teoria de administração" do que de "gestão" em sentido amplo (Griffiths, 1986), mas servem-nos como ponto de partida. Não se está fazendo aqui, portanto, uma diferença conceitual entre "gestão" e "administração". Diz-se que uma organização é o espelho de seu processo de tomada de decisão (ou vice- versa). Processos altamente centralizadores refletem organizações igualmente centralizadoras. Ao contrário, organizações democráticas são aquelas que possibilitam 98 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda um razoável grau de participação e intervenção de seus membros nos processos decisórios. É possível, portanto, classificar as organizações, de acordo com seus processos decisórios, em democráticas, mais ou menos autoritárias, centralizadoras, burocráticas etc. Supõe-se, igualmente, que o estilo de liderança, direção ou autoridade acompanhem o modelo característico de tomada de decisão, embora alguns estudos em teoria organizacional, como os de Tanneubaun & Schmidt (1979), tenham demonstrado que isto não é tão rigoroso, havendo "escalas" ou "níveis" de democracia, de centralismo ou de autoritarismo, conforme o problema a ser enfrentado que condicionaria o tipo de decisão a ser praticado. Na perspectiva da Teoria Crítica, a sociedade industrial contemporânea, mais do que uma sociedade constituída de organizações, é uma sociedade constituída de organizações onde predominam processos mecânicos de decisão, fechando-se ao redor de seus membros um círculo de normas, regras, formalidades, rotinas que desestimulam sua participação ativa, crítica e criativa. As organizações, sejam aquelas onde ocorrem processos de produção de bens, sejam as que oferecem serviços à sociedade, operam dentro de uma racionalidade que é a racionalidade instrumental, na qual a estrutura predomina sobre os indivíduos que integram a organização que deles espera eficiência e resultados. Ao mesmo tempo, a estrutura funciona como um condicionante, uma determinação, da qual os membros da organização não escapam, não tendo, inclusive, precisa consciência da situação em que se encontram. A participação e a intervenção nos processos decisórios são puramente formais, ocorrendo dentro de instâncias e canais onde é possível controlá-las e limitá-las, sobretudo com relação às decisões de ordem estratégica, ou seja, aquelas que irão determinar o posicionamento futuro da organização em relação às outras organizações congêneres ou em relação à sociedade como um todo. Em última análise, esta estrutura que tende a ser altamente excludente em termos de intervenção consciente - ou profundamente includente se considerarmos a sua capacidade em obter a adesão incondicional e o envolvimento não-crítico de seus integrantes a seus objetivos - é por eles internalizada e pode parecer-lhes, inclusive, perfeitamente normal. Organizações deste tipo tornaram-se generalizadas desde a extensão da lógica da eficiência, da produtividade e do trabalho ao conjunto da sociedade, como uma das dimensões das transformações do capitalismo industrial, que transformou a técnica e a ciência em forças produtivas (Habermas, 1983). A percepção que os indivíduos têm das 99 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda organizações - e entramos aqui no segundo pressuposto acima definido - é que elas são altamente operativas e úteis, responsáveis pela produção de bens e serviços para a sociedade. Eles a percebem, portanto, como organizações que satisfazem suas necessidades. Não lhes ocorre que estas necessidades são, emmuitos casos, artificialmente produzidas, como não lhes ocorre que é mínima a condição de intervir no quanto, quais e para quem estes bens e serviços estão sendo produzidos ou se efetivamente correspondem às necessidades sociais e humanas. Internamente, a percepção dos membros da organização é que é perfeitamente natural e necessária à organização de trabalho no qual estão inseridos, mesmo que os torne isolados em suas especialidades, estanques em suas tarefas cotidianas, indiferentes aos fins últimos da organização e alienados quanto às suas conexões com a totalidade social. Externa e internamente, os indivíduos estão convencidos e os pensadores de Frankfurt mostraram como a ideologia dominante exerce um papel importante neste convencimento de que é este o preço que devem pagar para continuarem a ter conforto material. Entrando aqui no terceiro pressuposto a comunicação, a Teoria Crítica tem muito a contribuir para a compreensão das organizações (e sua gestão) no contexto das sociedades capitalistas industriais desenvolvidas. É extremamente rico o conceito de comunicação para os frankfurtianos, porque, na condição de prática social, é através dela que se realiza a verdadeira interação humana e social e se reproduz a riqueza cultural da sociedade. É pelo cultivo, ampliação e manutenção de sua capacidade comunicativa que os seres humanos transcendem o isolamento, a fragmentação, o insulamento da divisão técnica e social do trabalho. O "mundo comunicativo", na perspectiva da Teoria Crítica, é parte do "mundo da vida" cuja dinâmica não é facilmente apropriada e conduzida pelas normas técnicas que movem a dinâmica produtiva e econômica Contudo, nas organizações nas quais a gestão é orientada pela racionalidade da eficiência e resultados, a comunicação aparece tão-somente como transmissão de ordens, determinações, normas e regulamentos. Ela é instrumental à manutenção e funcionamento de uma dada estrutura técnica que se sobrepõe aos indivíduos da organização e dos quais se espera que, instruídos e treinados sobre o que devem e não devem fazer, contribuam o máximo possível para o bom funcionamento da organização, considerando-se que ela não pode perder seu lugar em uma sociedade altamente competitiva. A racionalidade organizacional é técnica, é instrumental e não é 100 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda verdadeiramente comunicativa no sentido que lhe dão os frankfurtianos. A comunicação, enfim, é apenas mais um instrumento para manter a máquina administrativa em funcionamento, que reproduz internamente a racionalidade dominante na sociedade. Ela própria como veremos logo a seguir está contaminada por esta racionalidade. Chegamos, enfim, aos dois últimos pressupostos: o poder e a autoridade. A perspectiva clássica de administração encara o poder e a autoridade como estando sempre e necessariamente juntos em uma organização, correspondentes às suas diversas instâncias hierárquicas e mantendo bem definidos os espaços e os níveis decisórios. Mas esta é uma perspectiva muito pobre de poder e autoridade, é uma visão mecânica que os considera como atributos da própria organização e, como tais, inquestionáveis. Os indivíduos que integram a gestão superior das organizações são os portadores do poder e da autoridade e os exercem como algo que está fora deles ou que é informado e comandado por uma dada estrutura organizacional. Da mesma forma, seus subordinados cumprem as determinações que lhes vêm de cima porque emanadas dos níveis superiores de gestão que não lhes compete questionar ou discutir. A Teoria Crítica demonstrou que o relacionamento hierárquico, o poder e a autoridade são necessários para a sobrevivência e a funcionalidade da organização, dentro da lógica econômica dominante, mas não necessariamente este modelo de relacionamento hierárquico, cuja origem é uma determinada organização racional do trabalho que se justifica técnica e cientificamente (como a organização taylorista). Por um lado, esclareceu que poder e autoridade poderiam ser exercidos, desde que livre e conscientemente aceitos por indivíduos enquanto agentes esclarecidos e informados sobre a sua finalidade e conseqüências. Por outro, denunciou que a mesma racionalidade que integrou a ciência e a tecnologia invadiu também o campo da interação comunicativa (a esfera pública, por excelência), direcionando-a para fins exclusivamente industriais, embora isto não seja definitivo, não seja completo e tenha que ser continuamente refeito face à possibilidade de os indivíduos recusarem tal invasão. O fato de a esfera cultural e comunicativa ter sido invadida pela racionalidade industrial, com fins econômicos (daí, o termo "Indústria Cultural" criado por Adorno, referindo-se, neste caso, à cultura de massas), significa que os indivíduos são predispostos a aceitar 101 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda formas políticas e ideológicas de dominação que resguardam, em última análise, poderosos interesses econômicos e que isto ocorre sem que tenham plena consciência disto este é um tipo sofisticado e profundo de alienação. As instituições educacionais estão entre aquelas que atuam, predominantemente, na esfera pública, cultural da sociedade. E na perspectiva da Teoria Crítica, como notamos anteriormente, a cultura nas sociedades industriais é um campo onde se processou o estágio final da invasão da racionalidade técnica e instrumental, largamente facilitada pelos aperfeiçoamentos tecnológicos no campo da comunicação os chamados veículos de comunicação de massa. Isto quer dizer que a dominação penetrou a subjetividade dos indivíduos, incutindo-lhes conformismo e empobrecendo, se não neutralizando, sua capacidade crítica. Nunca se viu, como atualmente nas sociedades industriais, uma invasão tão grande das instituições educacionais, notadamente das escolas, pela chamada "Indústria Cultural" que, pretensamente, tenta substituir, com base nas novas formas de comunicação (TV, rádio, cinema, imprensa, publicidade e, atualmente, computadores) as formas convencionais e tradicionais de se educar e ensinar, ganhando a cada dia novos espaços. Tudo indica que, nas próximas décadas, as organizações educacionais estarão disputando espaço com esta indústria o papel de instituição de produção e transmissão de ciência e cultura e de formação de comportamentos e mentalidade. Isto já está ocorrendo, como foi denunciado na produção filosófica dos pensadores frankfurtianos, em detrimento da dimensão verdadeiramente comunicativa, crítica, social e humanamente enriquecedora (dentro de uma práxis histórica de transformação social) e em favor dos objetivos e interesses da Indústria Cultural. Neste contexto, os gestores se colocam como mediadores de grande importância para viabilizar, dentro das organizações educacionais, este domínio crescente da subjetividade dos jovens educandos pela Indústria Cultural. E o fazem, inicialmente, à medida que assimilam e reproduzem internamente as práticas de gestão características da racionalidade dominante (e reforçam a cultura organizacional correspondente); depois, à medida que se tornam indiferentes ou não dão a devida importância ao que está, efetivamente, ocorrendo no processo educativo e, por último, quando se preocupam somente com a transmissão conteudística, formal e mecânica dos conhecimentos, facilitada pela "tecnologia educacional". Dito de outra forma, quando a 102 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda prática de gestão preocupa-se mais com os aspectos técnicos processuais da organização e da transmissão de saberes do que com os seus aspectos substantivos, formativos e institucionais justamente o educação em sentido amplo mais um espaço importante da sociedade, o espaço daeducação, tornou-se vulnerável à invasão da Indústria Cultural e o campo comunicativo, em seu sentido humano e social, perdeu mais uma batalha. Arriscamo-nos, nas reflexões anteriores, a enveredar por um beco sem saída e a cair em um certo pessimismo com relação à possibilidade de criarmos uma outra cultura organizacional, baseada na dimensão cultural e comunicativa, se aceitamos que não há, nas condições históricas atuais, alternativas diferentes de gestão das organizações que sejam de resistência à industrialização da cultura e seu mais caro instrumento, a educação. Entretanto, um olhar mais atento para os argumentos centrais da Teoria Crítica estimula-nos a pensar em alternativas, a partir das próprias categorias de análise que ela utiliza para analisar a sociedade industrial. Trata-se da própria categoria da "racionalidade", que é utilizada sobretudo por Habermas (1983), que cunhou a expressão "ação-racional-com-respeito-a-fins", um tipo de ação predominante nas sociedades industriais, de natureza prática, utilitária e objetiva, dando à racionalidade um caráter essencialmente técnico e instrumental, do qual se serve a Indústria Cultural. Para opor-se a esta racionalidade, que opera no plano tecnológico e econômico- produtivo e que informa a atuação das organizações e dos indivíduos em geral, Habermas afirmou a possibilidade de despertar (já que ela está, devido às atuais circunstâncias históricas, apenas momentaneamente inerte) um outro tipo de racionalidade, cuja base está na dimensão psicológica, subjetiva, simbólica e cultural em sentido amplo dos indivíduos. No plano da "comunicabilidade", está a dimensão mítica, estético-artística e, de certa forma, "irracional" dos indivíduos, no sentido de algo que não se pode prever, controlar ou manipular tecnologicamente, embora o possa ideologicamente. É este o plano, por excelência, da subjetividade, do sentimento, das emoções, enfim, das relações sociais e humanas dos indivíduos. É o campo, por exemplo, que pode ser profundamente tocado por uma autêntica obra de arte. Para os objetivos deste artigo estamos tentando vincular estas reflexões a uma proposta de gestão é possível considerar que, enquanto a racionalidade técnico-instrumental tenderia a privilegiar os objetivos da organização e de sua estrutura técnico-normativa 103 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda em detrimento dos indivíduos que a integram, a racionalidade comunicativa, agindo no campo cultural, daria ênfase aos objetivos dos indivíduos e sua subjetividade. A gestão, desta forma, teria que escolher, na sua tarefa de mediar produtivamente essa relação organização-indivíduo, entre "administrar" os conflitos que eventualmente pudessem surgir entre eles, colocando em risco a própria organização ou tentar fazê-lo, mas em benefício dos interesses dos indivíduos. É oportuno lembrar, inclusive, que na história das teorias administrativas e organizacionais, o modelo clássico de gestão (ou de gerência), representado por Taylor e seus discípulos, não admitia em hipótese alguma a possibilidade de conflito de interesses entre os indivíduos e as organizações no local de trabalho, tendo desenvolvido um aparato de controles, normas e regulamentos que expressava e, ao mesmo tempo, garantia a rígida divisão do trabalho, sobretudo entre o planejamento e a execução das tarefas. Tão logo este modelo esgotou-se, tentou-se sua substituição por um outro que levava em consideração as relações humanas e informais no local do trabalho (com base nas pesquisas de Elton Mayo e seus associados), mas que, de qualquer maneira, tinha também por objetivo evitar a ocorrência de conflitos e aumentar a produtividade no trabalho. São casos típicos de uma escolha feita pela gestão em favor da organização de forma unilateral, para atender ao objetivo de aumento da produtividade. O modelo clássico de gestão e o modelo que lhe seguiu podem ser facilmente enquadrados na racionalidade instrumental, de natureza positivista, na perspectiva das ciências gerenciais e administrativas. Os problemas das organizações devem ser tratados pelos gestores sempre como sendo causados por "indivíduos" que não se ajustam a elas e que, portanto, precisam ser afastados de seu meio. Mesmo que, no caso do segundo modelo, sejam realçadas as relações humanas, elas devem ser "administradas" pelos gestores para que se tire o maior proveito possível delas em benefício das organizações. Ambos os modelos têm em comum o fato de impedir que se estabeleça um clima organizacional que facilite a estruturação de relações humanas e sociais dentro da organização, de forma coletiva e enriquecedora para cada um e para todos os indivíduos, e que isto possa afetar, por exemplo, o processo decisório. Ora, é exatamente isto o que ocorre na sociedade como um todo, se considerarmos que as estratégias utilizadas pela Indústria Cultural são, exatamente, no sentido de homogeneizar gostos, comportamentos, para facilitar a circulação dos "produtos culturais" que são, apenas, mais um tipo qualquer de mercadoria (música, pintura, 104 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda filmes, fotos etc.). A ideologia expressa pelos representantes da Indústria Cultural é a de que cada indivíduo tem "a liberdade de adquirir no mercado o bem cultural que lhe interessar". Mas, no momento em que são oferecidos apenas bens culturais tecnicamente reproduzidos e padronizados (a base da cultura de massa), ela oculta o fato real da massificação, ou seja, da perda da subjetividade de cada indivíduo, deixando-o pouco disponível a desenvolver, através da esfera cultural, autênticas relações humanas e sociais, base para o início de uma ação coletiva cuja dinâmica está na relação dialética entre o subjetivo e o objetivo. Este fato ocorre, também, nas organizações educacionais que são geridas, de qualquer forma, sob estes mesmos valores, ou seja, os valores imperantes na sociedade industrial, de consumo e de massas. Trata-se, pois, de construir um modelo de gestão cujas estratégias potencializem a outra racionalidade ou que operem sob valores referentes à comunicabilidade e à subjetividade. Será que poderíamos encontrar, entre os elementos que constituem a forma e o conteúdo da comunicação humana visto que é neste campo que a racionalidade instrumental tem tentado penetrar e o tem conseguido com grande êxito algum no qual se possa desenvolver estratégias opostas ou, pelo menos, de resistência? Os filósofos de Frankfurt entenderam que era no próprio campo estético que poderia ser desenvolvida uma ação de recuperação dos espaços invadidos pela racionalidade instrumental. Criticaram, inclusive e a crítica já apontava o caminho, o fato de a Indústria Cultural ter transformado o momento de se usufruir da arte e do lazer em uma oportunidade de se auferir mais lucros, oferecendo opções que não representavam uma satisfação completa, mas sempre um consumo passivo e manipulado. Adorno, inclusive, demonstrou que a organização do campo do lazer e da arte acaba sendo, apenas, mais um prolongamento da organização do trabalho. Este perdera seu sentido como espaço de criação e, portanto, de afirmação da subjetividade. Creio que a primeira iniciativa para se construir um modelo alternativo de gestão deva partir de um posicionamento teórico no campo das teorias de gestão. Os pressupostos a partir dos quais foi feita a análise da racionalidade, atualmente hegemônica nas organizações e que se estendeu ao campo educacional, podem ser, mais uma vez, este ponto de partida para o oferecimento deste modelo alternativo. Assim, é evidente que a opção dos gestores, no caso dos processos de tomada de decisão em um modelo alternativo de gestão, deve se situar fundamentalmente no campo democrático. A aceitação de que tomar decisões é um processo e, maisdo que isso, um processo 105 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda coletivo e não pessoal ou subjetivo, garantido por uma prerrogativa de quem, por imperativo bucrocrático, ocupa cargos nas organizações, é fundamental para se construir um modelo de gestão fundado na racionalidade cultural e comunicativa. Na história das teorias de gestão, a percepção de que os processos de decisão eram altamente centralizadores, lentos e burocráticos surgiu a partir da percepção da necessidade de adequar o modelo organizacional das grandes corporações industriais em uma fase de luta por mercados e, consequentemente, de acirrada competição e necessidade de obter maior produtividade dos trabalhadores (Lodi, 1982). Até então, a teoria de gestão hegemônica não se atrevia a propor processos democráticos de decisão nas organizações industriais, ao contrário, proporcionava a justificativa "científica" para que os métodos centralizadores e autoritários fossem mais sofisticados e eficientes. Quem primeiro explicitou de forma teoricamente bem elaborada a amplitude dos níveis decisórios nas pequenas, médias e grandes empresas, como sabemos, foi Henry Fayol, na sua teoria de "amplitude de campo", e seu propósito foi, a partir dela, definir a extensão da autoridade dentro de uma organização (Fayol, 1986). A "descoberta" da necessidade de se ampliar o campo decisório, portanto, nas clássicas teorias de gestão, não significou que seus proponentes desejavam, convictamente, que houvesse democracia nas organizações. O objetivo era integrar de forma mais efetiva os trabalhadores e funcionários aos objetivos da empresa, para que os produtos e serviços de melhor qualidade possibilitassem melhor posição no mercado em relação a seus concorrentes. O estabelecimento de processos democráticos, na perspectiva da racionalidade comunicativa, dependeria de implantar-se na organização espaços de encontro, integração e discussão aberta e livre entre seus integrantes, após abrir-lhes as informações estratégicas da própria organização, inclusive para melhor fundamentação das decisões coletivamente tomadas. Isto pode implicar, em alguns tipos de organização, no abandono do tradicional "organograma" e na adoção de uma estrutura organizacional que privilegie as relações horizontais entre seus integrantes. Não é algo que se possa implantar da noite para o dia, mas acredito que é impossível trilhar-se um caminho que não seja este, se se deseja realmente a adoção de uma gestão democrática. Nas condições de um modelo vertical e piramidal de organização, seria impossível a adoção de verdadeiros processos democráticos. 106 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda Em segundo lugar, uma teoria de gestão com base na racionalidade cultural e comunicativa deve admitir que dentro das organizações haja um amplo debate sobre a posição da organização na sociedade como um todo e, principalmente, a consciência crítica da qualidade das relações sociais nela predominantes, ou seja, restabelecer a percepção da conexão da organização com o todo social. Este debate é fundamental, na medida em que proporciona, de forma gradativa, o que eu denominaria um processo de "desfocalização", que vai de encontro ao que a ideologia dominante tenta implantar na sociedade atual que é deslocar o foco do geral para o particular, exatamente para que a história de sucessos e fracassos da organização e dos indivíduos que a compõem se explique em termos individuais e organizacionais e não em termos sociais. Em terceiro lugar, no que diz respeito ao poder e à autoridade, uma teoria de gestão deve considerar que os integrantes da organização não são peças de uma engrenagem ou portadores ambulantes de uma estrutura morta. São seres sociais e atores políticos, circunstancialmente atuando no espaço restrito de seu departamento ou de sua seção, mas cada qual com um imenso potencial de ação. O sentimento de que estão sendo manipulados ou de que as decisões tomadas pelas instâncias superiores da organização expressam, por exemplo, os interesses de um grupo em luta por poder, prestígio ou maior participação nos benefícios da organização, os condiciona a desenvolver uma atitude de resistência que dificulta o estabelecimento de um ambiente cooperativo de trabalho. O reconhecimento de que em qualquer lugar onde se estabeleçam relações de hierarquia há manifestações de poder não é a questão fundamental. A questão fundamental é que este poder seja legítimo, ou seja, que a maioria contribuiu para a sua formação, com a consciência de que deve ser utilizado em benefício da organização como um todo e do alcance de seus objetivos enquanto organização. O estabelecimento de poder com base na discussão implica, portanto, consenso fundamentado em acordos e negociações. Quanto à comunicação, creio que se deva promover uma completa reformulação de seu conceito tradicional de "transmissão de informações", em que se pressupõe um emissor e um receptor passivo, como nos modelos clássicos de gestão. Se considerarmos que os integrantes de uma organização são atores, a comunicação deve considerar que há, por parte deles, formas de reinterpretação de significados que não estão limitadas aos padrões da racionalidade técnica, mas também e com mais ê simbólicos, culturais, originados das experiências pessoais de cada ator, trazidas de fora 107 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda da organização e/ou constituídas nas relações com outros atores dentro da organização. Gestores formados na perspectiva de modelos clássicos tendem a pensar que suas "ordens e determinações", por estarem supostamente baseadas em critérios técnicos, dificilmente deixarão de ser compreendidas ou interpretadas como tal e serão naturalmente acatadas e cumpridas. Menosprezam a capacidade de reinterpretação por outros critérios e valores que não os técnicos e normativos, ou seja, desconsideram que verdade e objetividade são produtos humanos (Giroux, 1986). A propósito, a Teoria Crítica, proporcionando-nos uma base filosófica para o questionamento da racionalidade instrumental ou do "agir estratégico" e a alternativa do "agir comunicativo", abriu-nos a possibilidade de pensar a comunicação nas organizações muito além de seu aspecto formal e ritualístico. Estou pensando em uma gestão que valorize os aspectos substantivos da linguagem ou que faça da comunicação verbal (mais do que aquela feita por intermédio da escrita fria e impessoal dos memorandos, ordens e despachos) o veículo por excelência de contatos entre as diversas instâncias hierárquicas e entre os integrantes da organização. É óbvio que uma prática deste tipo deve sofrer limitações em virtude do gigantismo das organizações, mas isto pode ser equacionado na medida em que o modelo de gestão a ser implantado seja aquele que valorize as relações horizontais e não as verticais, como foi dito anteriormente. Uma teoria de gestão alternativa, portanto, deve aceitar que as organizações se justifiquem enquanto instrumentos inventados pelo homem para promover o bem-estar da sociedade sob todos os aspectos a satisfação de necessidades materiais, culturais, simbólicas etc. e não o sofrimento, a opressão e o desconforto sociais. Criar um ambiente organizacional que não se limite ao ambiente de "segredos" que caracteriza uma gestão clássica fonte constante de desconfiança é uma forma de respeito à subjetividade, à criatividade, à inovação consentida, enfim, à autonomia dos integrantes da organização. É evidente que a criação de um clima organizacional efetivamente comunicativo dependerá de acordos e consensos que sejam claramente estabelecidos entre os diversos níveis e instâncias hierárquicas da organização, para que seus objetivos últimos sejam resguardados. A Indústria Cultural,tal como exposta pelos frankturtianos, não teria a mesma eficácia ideológica se a sociedade fosse constituída de atores conscientes, críticos, capazes de 108 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda reelaborar o volume de informações que lhes é oferecido de forma limitada, dirigida e massificada, através de veículos de comunicação de massa cada vez mais aperfeiçoados. Não teria a mesma eficácia, para impedir o surgimento de uma contra-ideologia que tenha em seu horizonte a emancipação humana e social, a preservação de subjetividades (e não de subjetivismos), a solidariedade, a convivência e a construção de relações que não sejam as da sociedade de consumo. Neste sentido, sem superestimar a capacidade de resistência e ação das organizações educacionais, podemos afirmar que elas estão estrategicamente melhor situadas em relação às outras organizações, para iniciar uma mudança que, necessariamente, deve começar no âmbito de suas relações internas de poder e autoridade, tais como estão estruturadas; no âmbito da organização do trabalho educativo e, logicamente, do modelo de gestão que o viabiliza. Isto implica pensar modelos de gestão inovadores que devem, entretanto, ser teoricamente justificados e antecedidos pela reflexão em torno de uma teoria de gestão, na qual a questão da racionalidade seja o ponto central da própria reflexão. Uma teoria de gestão inspirada nas reflexões da Teoria Crítica, por caminhar justamente na direção do que é mais forte e presente em uma sociedade de consumo e de comunicação de massas a racionalidade instrumental tem um significativo potencial teórico para fundamentar um modelo inovador de gestão. As estratégias possíveis para a sua implantação, entretanto, não dependeriam exclusivamente do voluntarismo bem- intencionado dos gestores, mas, obviamente, da análise e consideração de todo um contexto político, social, político, ideológico e cultural em sentido amplo e, particularmente, da posição estratégica das instituições e organizações educacionais neste contexto. Mas isto, sem dúvida, seria objeto de uma outra reflexão.3 Referências ADORNO, T. Dialética do Iluminismo. São Paulo: Tempo Brasileiro, 1978. ADORNO, T. & HORKHEIMER, M. "A Indústria Cultural". In: Adorno et al., Teoria da Cultura de Massas, Editora Saga, 1969. GIROUX, Henry. Teoria Crítica e resistência em educação. São Paulo: Vozes, 1986 FAYOL, Henry. Administração geral e industrial, Editora Atlas, 1986. 109 http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32622001000200005&script=sci_arttext&tlng=in%23b3 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda GRIFFITHS, Daniel E. Teoria da administração escolar. São Paulo: Nacional, 1982 HABERMAS, J. "Técnica e ciência enquanto ideologia". In: Os Pensadores. 2ª ed., São Paulo: Abril Cultural, 1983. LODI, João B. História da Administração. Editora Pioneira, 1982. TANNEUBAUN & SCHMIDT. Como escolher um modelo de liderança. São Paulo: MacGrill do Brasil, 1987. TAYLOR, Frederick. Princípios da administração científica. São Paulo: Atlas, 1980. Avaliação Ao final deste estudo você irá realizar um momento individual de avaliação. Você e o conhecimento aprendido. Procure responder as questões sem o auxílio dos textos. Se não conseguir, não desanime. Releia tudo e tente novamente. Lembre-se que o compromisso em aprender deve ser a meta principal do seu esforço. Boa sorte, Fé e força na busca de seus sonhos! EXERCÍCIOS AVALIATIVOS 1) Defina o que é liderança bem como a sua importância no seu dia a dia de trabalho. 2) Defina o que é poder, mostre as suas diversas faces, por último mostre a sua importância para o ato de liderar. 3)Diferencie liderança autocrática, democrática e liberal. 4) Explique o que é inteligência emocional, mostre como ela pode contribuir para a sua evolução profissional. 110 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 5)Explique e cite o que são competências organizacionais. Não se esqueça de colocar Nome, Curso e Cidade. Boa atividade! EXERCÍCIOS DE MÚLTIPLA ESCOLHA A seguir segue uma lista com exercícios retirados de concursos sobre a temática abordada neste livro. Indique se cada sentença é verdadeira ou fala. 1. (Cespe / Inmetro 2009) Na gestão por competências, pode ocorrer a captação pela seleção externa de competências e sua integração ao ambiente organizacional, podendo ocorrer tanto pelo recrutamento e pela seleção, no nível individual, e no meio organizacional, por meio de alianças estratégicas. ( ) VERDADEIRO ( ) FALSO 2. (Cespe/ANA 2006) Competência corresponde a adquirir, usar, mobilizar, integrar, desenvolver e transferir conhecimentos, recursos, habilidades e experiências que agreguem valor à organização e valor social ao indivíduo. ( ) VERDADEIRO ( ) FALSO 3. (Cespe/ANA 2006) A gestão por competências, por ser considerada ultrapassada pelas modernas técnicas de gestão, caiu em desuso nas organizações do conhecimento, tendo sido substituída pela gestão por objetivos e processos. ( ) VERDADEIRO ( ) FALSO 111 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 4. (Cespe/ANA 2006) É consensual entre os diversos autores a noção de que as competências individuais não formam a base das competências organizacionais e que a aprendizagem não é capaz de promover o desenvolvimento das mesmas. ( ) VERDADEIRO ( ) FALSO 5. (Cespe/ANA 2006) Gestão por competências, muito mais do que uma forma de administrar, é uma filosofia de desenvolvimento de talentos nas empresas. Por meio dela é possível orientar as ações das pessoas no intuito de se construir uma organização eficaz, ou seja, aquela que atinge as suas metas e os seus objetivos traçados. ( ) VERDADEIRO ( ) FALSO 6. (Cespe / MPS 2009) O modelo de gestão por competências é considerado um fator motivacional, já que incentiva o desenvolvimento profissional dos colaboradores. ( ) VERDADEIRO ( ) FALSO 7. (Cespe / MPS 2009) Uma das vantagens da gestão por competências é a possibilidade de se trabalhar com os recursos humanos estratégicos. ( ) VERDADEIRO ( ) FALSO 8. (Cespe/INSS 2008) As competências humanas ou profissionais podem ser entendidas como combinações sinérgicas de conhecimentos, habilidades e atitudes, expressas pelo desempenho profissional dentro de determinado contexto organizacional. ( ) VERDADEIRO ( ) FALSO 112 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 9. (Cespe/INSS 2008) A identificação das competências já existentes na organização é um processo sofisticado, não se valendo para isso de instrumentos como a avaliação de desempenho. ( ) VERDADEIRO ( ) FALSO 10. (Cespe/INSS 2008) O desenvolvimento de competências serve de pilar para a busca da manutenção de desempenhos e perpetuação, nos mesmos moldes, do modelo organizacional. ( ) VERDADEIRO ( ) FALSO 11. (Cespe/INMETRO 2007) O mapeamento de competências possibilita a identificação das competências institucionais e individuais instaladas na empresa, bem como a definição das competências pessoais necessárias para se concretizarem as estratégias e metas corporativas. ( ) VERDADEIRO ( ) FALSO 12. (Cespe/INMETRO 2007) Instrumento amplamente utilizado no setor privado, a gestão por competências não se inclui entre as técnicas de gerenciamento de recursos humanos praticadas no setor público. ( ) VERDADEIRO ( ) FALSO 13. (Cespe/Anvisa 2004) A gestãode competências nas organizações pressupõe o adequado mapeamento de conhecimentos, habilidades e atitudes, individuais e organizacionais. ( ) VERDADEIRO ( ) FALSO 14. (Cespe/Anvisa 2004) Autores modernos do tema gestão de competências, como Prahalad e Hamel, partem da premissa de que a competência ou o desempenho individual exercem influência na 113 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda competência ou desempenho da organização, não sendo influenciados pelo desempenho organizacional. ( ) VERDADEIRO ( ) FALSO 15. (Cespe / ANA 2006) As competências podem ser definidas a partir de conhecimentos, habilidades e atitudes dos funcionários e, também, como produto de três fatores: saber fazer, querer fazer e poder fazer. ( ) VERDADEIRO ( ) FALSO GABARITO: 1. V 2. V 3. F 4. F 5. V 6. V 7. V 8. V 9. F 10. F 11. V 12. F 13. V 14. F 15. V 114 Biblioteca online - sem valor comercial, proibida a reprodução e venda 115 1.1 DEFINIÇÃO DE LIDERANÇA ABORDAGEM CONTINGENCIAL TEORIA CAMINHO-META OU CAMINHO-OBJETIVO DE HOUSE Um sistema organizacional pode se dividido em subsistemas e componentes, com menor grau de complexidade, permitindo maior facilidade no gerenciamento das atividades e processos, porém, a tomada de decisão, o gerenciamento dos processos e a análise do ... A visão sistêmica pressupõe que as pessoas da organização entendam seu papel no todo as inter-relações entre os elementos que compõem a organização, bem como a importância da integração desta com o mundo externo. 4.2. LIDERANÇA E CONSTÂNCIA DE PROPÓSITOS Comprometimento dos líderes com os valores e os objetivos da organização; e a capacidade de construir e manter um sistema de gestão que estimule as pessoas a realizar um propósito comum e duradouro. Como este conceito é colocado em prática: 4.3. VISÃO Como este conceito é colocado em prática Como este conceito é colocado em prática À medida que as organizações evoluem e ainda, diante de um cenário globalizado e altamente competitivo, é natural que surjam novas teorias sobre liderança e que cada vez mais se discuta o papel do líder. Hoje, estuda-se a liderança na perspectiva estratégica na medida em que o líder crie uma arquitetura social capaz de gerar capital intelectual dentro de um contexto em que se obtenha um desempenho em seu máximo de eficácia, respondendo de forma adequa...