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COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR NA ERA DIGITAL AULA 2 Profª Victoria Vilasanti da Luz 2 CONVERSA INICIAL Olá! Seja bem-vindo(a) a mais aula de nossa disciplina. Aqui serão apresentadas algumas “consequências” das mudanças da nova era para o marketing. Vamos abordar os seguintes tópicos: 1. Consumidor informado e o processo de compra; 2. Consumo ético e sustentável: marketing verde; 3. Novas formas de consumo: Spotify, Netflix, Kindle, podcasts; 4. Dependência versus independência digital; 5. Comportamentos nocivos: cyberbullyng, haters, violência na web. CONTEXTUALIZANDO Nesta aula vamos entender melhor algumas implicações que o mundo digital trouxe para o marketing. Conforme explicado anteriormente, a cibercultura trouxe uma série de mudanças na vida dos consumidores, que se estende desde como o consumidor constrói sua identidade até como ele se comporta com relação às marcas (Lévy, 1999). Dentro deste processo dinâmico que é a tecnologia, é necessário que as marcas estejam atentas para se adaptar a novas realidades. Como introdução do que vamos conversar nesta aula, assista à história da Netflix, contada pelo canal TecMundo (2017), disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=uRfwKgm_hTM>. TEMA 1 – CONSUMIDOR INFORMADO E O PROCESSO DE COMPRA A busca por informações faz parte do processo de compra do consumidor. A diferença entre fazer compras em um mundo off-line e fazer compras na atualidade é a comodidade que o consumidor pode ter. O acesso a informações a partir de um computador ou smartphone permite economia de tempo e de recursos. Mas será que isso, de fato, mudou a forma como os consumidores se comportam? Neste tópico vamos buscar responder a esta pergunta. 3 1.1 Decisões baseadas em opiniões de terceiros De maneira geral, o processo de compra de um consumidor acontece na seguinte sequência: (1) reconhecimento de uma necessidade de compra; (2) coleta de informações; (3) avaliação das informações; (4) decisão; (5) avaliação pós-compra. O advento da tecnologia não só facilitou este processo como também fez com que os consumidores se tornassem mais dependentes da opinião de terceiros (Rowley, 2000; Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2016). No estágio de busca por informações, a tecnologia proporciona uma série de ferramentas para melhor aproveitamento e eficiência do consumidor. Nesse sentido, existem diversas plataformas nas quais o consumidor pode aprender sobre determinada categoria de produtos ou então comparar preços e características de produtos específicos. Por exemplo, o site Tudo Celular é uma plataforma em que o consumidor consegue conferir as configurações técnicas e valores de cada aparelho. Observe que esta etapa de busca de informações é mais saliente dependendo do nível de conhecimento prévio do consumidor. Ou seja, quanto menos ele sabe sobre aquela categoria de produtos, maior sua tendência de confiar nas informações que ele encontra na internet. Além dos sites que oferecem serviços para este tipo de comparação, o consumidor também pode buscar informações com outros consumidores. No mundo off-line, as fontes de informação a partir de consumidores se resumiam ao boca-boca com familiares, amigos e demais pessoas próximas. Já no mundo digital, um consumidor tem acesso a conteúdos feito por pessoas em qualquer lugar por meio de fóruns, blogs, comunidades, vídeos e assim por diante (Rowley, 2000). Assim, observa-se que o consumidor já baseava algumas de suas decisões na opinião de outros, antes mesmo da era digital. No entanto, a conectividade fez com que ele começasse a utilizar a opinião de seus pares como forma de aprendizagem e como mecanismo de defesa contra possíveis “propagandas enganosas” (Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2016). Destaca-se aqui que a confiança na fonte virtual de informações é um antecedente fundamental para que o consumidor chegue ao estágio de decisão de compra de um produto. Neste contexto, a confiança diz respeito a uma expectativa de que a opinião de um indivíduo é segura. Existem alguns 4 parâmetros para que o consumidor perceba determinada fonte de informações como credível. O primeiro deles é a familiaridade com os membros do grupo e/ou fórum que está sendo consultado. Isso também se estende para blogs, canais de vídeos e redes sociais de algum indivíduo em específico. Para que haja familiaridade não há necessidade de que o consumidor realmente conheça aquele indivíduo que está lhe dando informações. Basta que ele já tenha visto alguma de suas respostas e/ou posts dentro daquela mídia. O segundo parâmetro é a similaridade percebida, ou seja, o quanto o consumidor se vê com qualidades parecidas com aquele grupo que ele está solicitando informações. Essa similaridade inclui interesses pessoais e características demográficas, por exemplo. Finalmente, o terceiro parâmetro é a propensão que um consumidor tem em confiar em fontes de terceiros. Isto é, de acordo com a personalidade do consumidor, o quanto ele tende a acreditar em fontes de informação que não sejam familiares ou amigos muito próximos (Lu; Zhao; Wang, 2008). Neste sentido, a dependência da opinião de terceiros está ligada ao desejo de tomar uma decisão eficiente, pois tomar decisões é uma tarefa complexa para seres humanos. Então, um consumidor sempre tem a tendência de utilizar sistemas de suporte para minimizar seu esforço cognitivo. Em outras palavras, o consumidor tem, por via de regra, um sistema preguiçoso de tomada de decisões (Haubl, 2000). 1.2 Algumas implicações para a comunicação de marketing Uma vez que o consumidor na era digital tem como subsídio um universo de informações, pode-se dizer que ele faz uma compra com muito mais “conhecimento” do que um consumidor no mundo off-line fazia. Esse acesso quase irrestrito a informações tem algumas implicações para a gestão do mix de marketing, principalmente no tange o “P” de promoção. Conforme explicado anteriormente, os consumidores confiam cada vez menos na comunicação feita por empresas, ainda que estas sejam endossadas por figuras públicas (Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2016). Desta forma, observa-se uma crescente tendência de formar parcerias pagas com os chamados influenciadores digitais. Estes são pessoas comuns, que se tornaram famosas com a internet (normalmente alguma rede social). Note que, antes de escolher uma ação com influenciadores, as marcas devem atentar- 5 se tanto ao conteúdo do influenciador quanto à quantidade de influenciadores que vai desenvolver aquela mesma estratégia. Isso porque desenvolver a mesma estratégia com uma grande quantidade de influenciadores pode diminuir a credibilidade da marca, uma vez que ela perde a percepção de ineditismo (Peng et al., 2018). Ainda falando dos influenciadores digitais, eles também podem ser um fator chave no “P” de produto. Vamos utilizar aqui o exemplo da categoria de eletrônicos. Essa categoria está diretamente ligada à tecnologia e, portanto, é uma categoria dinâmica que está em constante mudança. Assim, nem todos os consumidores conseguem acompanhar todas as atualizações; consequentemente, a maioria deles não sabe como utilizar as funcionalidades de seus aparelhos eletrônicos. Então, um influenciador digital pode melhorar consideravelmente a usabilidade desses produtos ao ensinar aos consumidores como aproveitar o máximo de ferramentas possíveis. Outro desafio dos gestores de marketing é aumentar o tempo de desfruto de um produto, afinal, todo e qualquer indivíduo tem a tendência de enjoar de seus produtos. E quanto mais rápido ele enjoa, maior é a tendência de esse consumidor ficar insatisfeito com uma marca. Tal processo é chamado de saciedade do consumidor. Um fator que ajuda a mitigar a percepção de saciedade é demostrar ao consumidor uma perspectivade variedade no seu consumo (Sevilla; Zhang; Kahn, 2016). Assim, quando um influenciador digital ajuda o consumidor a enxergar diversas formas de utilizar um mesmo produto ele está ajudando a marca a desacelerar o processo de saciedade. Quer um exemplo prático? A marca Bepantol da Bayer pode nos ajudar a ilustrar esse processo. A Bepantol é uma pomada para a pele, usada para cuidar de assaduras de crianças pequenas. Há alguns anos, influenciadoras digitais começaram a utilizar essa pomada para hidratar lábios e cutículas. Hoje a marca tem uma linha de extensão que engloba, além da pomada “multiuso” na versão para crianças, pomadas específicas para uso adulto, que podem ser utilizadas nos cabelos e como hidratante para lábios. Recentemente, a marca fez uma campanha com um grupo seleto de influenciadores digitais para demostrar o uso da pomada por quem possui tatuagens. 6 1.3 Excesso de informações Se, por um lado, a conectividade e o acesso às informações ajuda o consumidor a fazer escolhas mais conscientes, por outro, pode atrapalhá-lo na hora de tomar uma decisão. Isso acontece porque o excesso de informações pode deixar o consumidor “distraído”. A “hiperconectividade” que acontece por meio das diversas mídias disponíveis faz com que seja mais difícil prender a atenção do consumidor em apenas um canal (Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2016). Além disso, o excesso de informações pode ter uma série de consequências negativas nas avaliações pós-compra. Na maioria das vezes, a escolha de um produto implica na rejeição de outro. Por exemplo, pense em um consumidor que vai comprar um celular e fica em dúvida entre a Samsung e a Apple. Se ele escolher a Apple, a opção da Samsung estará descartada, e vice-versa. Então, observa-se que um consumidor tem a necessidade de saber que fez a escolha certa quando opta por um produto em detrimento de outro. Se ele recebe alguma informação que o faz duvidar de sua escolha, provavelmente sentirá arrependimento. Por sua vez, o arrependimento pode levar à devolução do produto e insatisfação com a marca. Esse processo acontece por causa de um fenômeno chamado dissonância cognitiva. A dissonância cognitiva nada mais é do que um estado psicológico de desconforto, causado por situações em que há inconsistência de informações (Festinger, 1962). Desta forma, gestores de marketing devem atentar-se ao conteúdo exposto nas mídias digitais para que possam reduzir as chances de dissonância cognitiva. Ou ainda, devem criar mecanismos de relacionamento com os consumidores para que a dissonância seja mitigada. Um detalhe interessante é que gestores de marketing têm cada vez menos controle sobre o que é falado acerca de sua marca nas comunidades online. É como se parte do poder estivesse nas mãos dos próprios consumidores. O conteúdo de blogs, comunidades e fóruns é um assunto delicado a ser tratado, uma vez que a censura das marcas nesses meios pode causar impactos negativos para a sua imagem (Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2016). Agora, observe que, ao mesmo tempo em que o excesso de informações dificulta o trabalho do gestor de marketing, ele pode trazer algumas oportunidades. Por exemplo, a transmissão de dados pelo smartphone pode ser 7 utilizada para segmentar e criar mercados-alvo. Para entender melhor o uso da geolocalização no marketing, leia o texto extraído do newsletter Ponte do Marketing (2017): Smartphones, tablets e outros dispositivos móveis modificaram a maneira como os consumidores acessam informações e representam uma oportunidade para os profissionais de marketing. Ao mesmo tempo que os consumidores acessam informações a todo momento, eles também deixam rastros de dados online e de localização física. Até pouco tempo, os dados de localização física estavam restritos à localização estática, ou seja, informações apenas do endereço de residência coletados por meio de cadastros. Hoje é possível ter conhecimento dos dados dinâmicos, que mostram os locais mais frequentados pelos consumidores-alvo. Baseando-se em teorias de comportamento econômico e de mercado, descobriu-se que consumidores que frequentam os mesmos lugares tendem a ter os mesmos hábitos de consumo em determinada categoria de produto. Sendo que consumidores que estão co-localizados (estão no mesmo lugar, no mesmo horário) apresentam hábitos mais próximos do que consumidores que tenham as mesmas características demográficas ou psicográficas. Desta forma, a localização dinâmica pode ser considerada uma nova maneira segmentação de mercado, sendo útil ao estabelecer estratégias de propaganda e promoção (Vilasanti, 2017). TEMA 2 – CONSUMO ÉTICO E SUSTENTÁVEL: MARKETING VERDE Cada vez mais há uma preocupação dos consumidores com os impactos socioambientais do consumo. Essa preocupação se torna ainda mais saliente no contexto atual, no qual as informações são disseminadas com facilidade. Neste tópico vamos expor algumas reflexões sobre o consumo sustentável. 2.1 Propaganda verde, greenwashing e o ceticismo do consumidor Em decorrência de mudanças climáticas, excesso de lixo e outros fatores, a discussão sobre impactos ambientais e consumo consciente vem acontecendo intensamente nos últimos 25 anos. Observa-se o desenvolvimento desta pauta principalmente a partir da década de 1990, que foi denominada a década verde (em inglês, green decade). O desejo de preservar o meio ambiente criou uma cultura de consumo na qual a decisão de compra, uso e descarte de produtos está associada com a sustentabilidade ambiental. Diversas empresas realizaram adaptações em suas culturas e método de produção para atender à demanda de produtos verde. Enquanto isso, outras aproveitaram a publicidade positiva do movimento para promover produtos que muitas vezes não traziam benefício ao 8 meio ambiente. Essa prática de propaganda ambígua e/ou enganosa recebeu o nome de greenwashing e pode ser classificada em três categorias: ambiguidade de informações (argumento geral ou amplo); omissão de informações importantes; e enganação/mentira (Kangun; Grove; Carlson, 1991). O greenwashing gerou dois desafios aos profissionais de marketing e publicitários. Primeiro, a propaganda ficou mais restritiva, uma vez que as agências reguladoras impuseram regras mais severas. Segundo, os consumidores nem sempre respondiam da maneira desejada aos produtos verdes. Ademais, a falta de entendimento dos argumentos postos na propaganda green também fez com que os consumidores se tornassem mais céticos. Neste contexto, o ceticismo é um sentimento de desconfiança dos consumidores com a propaganda, marca ou produto, sendo que uma das principais consequências do ceticismo é o chamado “gap verde”. Ou seja, existe uma diferença entre a atitude – que é favorável ao estilo de vida verde – e o comportamento, ou seja, o consumo efetivo de produto verdes (Kangun; Carlson; Grove, 1991; Leonidou et al., 2014). A propaganda verde possui diferentes níveis. Ela pode ser ampla, promovendo a preservação do meio ambiente de maneira mais geral, ou pode estar focada em promover qualidades ambientalmente amigáveis dos produtos ou serviços. Ademais, pode ainda ser uma mensagem advinda dos próprios consumidores que estão preocupados em diminuir o impacto ambiental (Fowler; Close, 2012). A primeira forma de propaganda, mais ampla, normalmente mostra a relação de uma marca com o meio ambiente. Ou ainda, conscientiza os consumidores a fazer escolhas mais sustentáveis. A fonte desse tipo de propaganda não precisa ser, necessariamente, uma marca. Existem campanhas de políticas públicas, por exemplo, que incentivam a economia de água e energia elétrica. O segundo tipo de propaganda, que promove os atributos sustentáveis de um produto, é aquela que demostra como a produção ou composição daquele produto contribui para o meio ambiente. Porexemplo, a Crystal (marca de água da Coca-Cola) lançou em 2011 uma garrafa de água de 500ml que tem menor impacto ambiental. A marca anunciou que a garrafa pode ser torcida após o consumo, reduzindo o volume do lixo. Além disso, é 100% reciclável e utiliza um percentual menor de plástico nocivo (Quartim, 2011). Outro exemplo de marca 9 que utiliza esse tipo de propaganda é a Natura. A Natura traz em suas campanhas informações sobre as embalagens sustentáveis e os cuidados na produção dos produtos (eficiência energética, prédios e fábricas sustentáveis). Além disso, o consumidor tem acesso à composição no rótulo dos produtos. A última forma de incentivo ao comportamento verde, de consumidor para consumidor, vem ganhando mais força a partir das diversas plataformas de interação do mundo digital. Um exemplo prático é o surgimento do movimento “low poo” e ”no poo”. Essas são duas técnicas de cuidados com os cabelos que envolvem o uso de produtos que não possuem sulfatos, derivados de petróleo e/ou alguns tipos de silicones insolúveis. Ambas as técnicas são amplamente difundidas no meio virtual por meio de fóruns, vídeos e blogs de influenciadores digitais. Consumidores trocam experiências tanto para entender melhor a técnica e a diminuição dos impactos no meio ambiente, como também para saber quais produtos podem ou não ser utilizados. Ademais, os participantes são ensinados a entender a composição dos produtos por meio da leitura do rótulo. Diversas empresas também aproveitaram esse movimento para fazer o lançamento de linhas de produtos específicos. A parceria dessas marcas com influenciadores digitais é bastante saliente; ações notáveis são: desenvolvimento de produtos em conjunto e envio de produtos para teste e avaliação, a qual normalmente acontece em forma de texto ou vídeo. 2.2 Ações ambientalmente amigáveis O consumo verde e/ou sustentável diz respeito à ação de buscar a preservação ambiental por meio dos padrões de comportamento. Nesse sentido, as marcas têm buscado oferecer produtos e serviços com menor impacto, bem como realizar ações ambientalmente amigáveis. Por exemplo, a revista Veja publicou uma matéria dizendo que a Starbucks anunciou que até 2020 eliminará o uso de canudos descartáveis em toda a rede de franquias. Gradualmente as lojas devem passar a utilizar um novo modelo de tampa (que é inclinada) para substituir o canudo. No artigo, a Veja explica que essa “guerra contra canudos” teve início com um vídeo de uma tartaruga com canudos descartáveis em suas narinas, no ano de 2015 (Veja, 2018). A partir desse exemplo percebe-se o papel-chave da conectividade, proporcionada pelo mundo digital, na adoção de medidas sustentáveis. A transparência de informações faz com que cada vez mais o consumidor, os 10 competidores e as agências reguladoras exerçam pressão para que as marcas se ajustem à realidade verde. A marca Levis nos ajuda a ilustrar este cenário. Ela desenvolve uma série de iniciativas para a sustentabilidade ambiental, tais como uso de algodão orgânico, seleção de produtos químicos e redução do uso de água. Especificamente para esta última, a Levis criou a campanha Water Less (menos água), com uma cartilha para incentivar a redução do uso de água no dia a dia do consumidor por meio do tempo de banho, uso da descarga no banheiro e da diminuição da lavagem do jeans. Na cartilha, a Levis explica como o uso da tecnologia os ajuda a economizar água no processo produtivo. Além disso, ela convida os consumidores a lavarem suas calças jeans menos vezes para que também economizem água e para maior durabilidade da peça (Levis, 2011). Observa-se, então, que as ações para a sustentabilidade se estendem desde a adequação do processo produtivo para melhor aproveitamento e descarte de recursos (ex.: economia de água e energia) até mudanças na composição dos produtos. Um exemplo de mudanças na composição do produto é o notebook XPS 2 em 1 da Dell, feito inteiramente com plástico reciclado. Além disso, 25% deste plástico é proveniente de grupos que recolhem e separam lixo do fundo dos oceanos (Dell, 2018). Saiba mais Acesse o site da Dell Brasil e entenda melhor o processo: <https://www.dell.com/learn/br/pt/brcorp1/corp-comm/ocean- plastics?c=br&l=pt&s=corp&cs=brcorp1>. Ainda que a sustentabilidade seja quase um requisito nos dias de hoje, algumas mudanças, principalmente na composição do produto, podem ser negativamente avaliadas. Isso acontece porque, em determinadas situações, o consumidor ainda percebe produtos verdes como mais frágeis e/ou menos eficientes. Uma pesquisa realizada por Lin e Chang (2012) demostra, por exemplo, que consumidores tendem a usar maior quantidade de produtos, tais como sabonete líquido e detergente de roupas, quando estes têm atributos sustentáveis. Desta forma, faz-se importante que as marcas avaliem tanto como introduzirão ações sustentáveis quanto quais ações sustentáveis mais combinam com sua estratégia de posicionamento. Por exemplo, as marcas de 11 luxo são conhecidas pela sofisticação, exclusividade e altíssima qualidade de seus produtos. Considerando estas características, uma série de estudos realizados demostra que quando uma marca de luxo anuncia uma coleção de produtos feitos com material reciclado, por exemplo, ela pode ser mal avaliada. Isso acontece porque os consumidores de luxo tendem a perceber menor qualidade nos produtos que têm materiais reciclados como matéria-prima (Achabou; Dekhili, 2013). Mais uma vez temos exemplos de como a facilidade de obter informações vem transformando o comportamento de consumo. O mundo digital dá voz a diversas ações para a sustentabilidade. Além disso, ele deixa essas ações mais transparentes, dando oportunidade aos consumidores de as entenderem melhor e de checarem sua veracidade. TEMA 3 – NOVAS FORMAS DE CONSUMO: SPOTIFY, NUBANK, NETFLIX, KINDLE, PODCASTS Em sentido mais amplo, o marketing está intimamente ligado a trocas. Sabemos, é claro, que fazer trocas não é a única função do marketing. Porém, em um aspecto mais genérico podemos fazer este paralelo. Dentro desta linha de raciocínio, podemos observar, também, que o universo digital transformou a maneira como os indivíduos realizam trocas. Já enfatizamos bastante, anteriormente, algumas mudanças que aconteceram no relacionamento entre os indivíduos e as marcas, as quais também têm influência na forma como eles consomem. Neste tópico trataremos dessas novas formas de consumo que surgiram com a tecnologia. 3.1 As ideias brilhantes que modificaram as trocas Anteriormente argumentamos que o mundo digital também trouxe mudanças ao macroambiente das empresas, principalmente no que tange a competição. A “horizontalização” das relações e a quebra de barreiras geográficas abriram as portas para que empresas competissem de igual para igual, independentemente de tamanho ou foco competitivo. Ou seja, empresas de nicho conseguem competir com empresas de massa; mercados em ascensão ganham espaço; e startups se transformam em grandes negócios (Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2016). 12 Vimos até aqui que a tecnologia exerce diferentes papeis na vida dos consumidores. Para uns ela é apenas uma ferramenta, enquanto para outros é uma forma de expressão, tendo um papel essencial na construção de sua identidade. Independentemente deste papel, a tecnologia está presente no cotidiano dos consumidores. Pode-se dizer que ela apresenta soluções para as necessidades dos consumidores, acompanhando a evolução dos indivíduos e da sociedade como um todo (Lévy, 1999; DM9DBB, 2012). Com esta pequena reflexão, podemos entender que o mundo digital pode ser uma ferramenta de marketing utilizada para criar novos desejos de consumo, que sejam mais adequados com essa nova realidade. Neste sentido, observa- se o surgimentode diversos “novos” produtos e serviços que se utilizam da tecnologia como base para o seu negócio. Este é o caso de produtos tais como Netflix, Spotify, podcasts e Kindle (Belk, 2014; Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2016). Acredito que você já conheça a Netflix, não é mesmo? Este é um serviço de streaming (transmissão) de filmes e séries em uma plataforma online. A Netflix é tida como responsável por substituir os serviços de locadoras de vídeo e TVs por assinatura. Se analisarmos este caso mais de perto, podemos entender que a Netflix supriu a necessidade de entretenimento de maneira mais eficiente do que os dois serviços anteriores. Veja, a necessidade do consumidor continua a mesma, o que mudou foi a forma de atender a essa necessidade de acordo com a era digital. O Spotify serve a um propósito similar à Netflix. Ele também é um serviço de streaming, porém está focado em músicas. Além disso, ambos são serviços pagos e podem ser considerados como alternativas viáveis contra a pirataria (Belk, 2014). A indústria da música vem sofrendo algumas mudanças há algum tempo. Walkmans, iPod, Youtube e downloads colaborativos de músicas são exemplos de pequenas revoluções nessa indústria. Podcasts também são uma forma de consumir mídia, mas estão mais focados em comunicação de informações. Eles podem ser considerados uma evolução da rádio. Ambos são mídias de áudio que transmitem informações das mais diversas áreas do conhecimento. A diferença entre a rádio e o podcast é que o segundo é uma mídia por demanda. Ou seja, o consumidor escolhe o tema do podcast que ele quer assinar, quais episódios ele quer ouvir, quando ele quer ouvir e até em que velocidade de reprodução ele quer ouvir. Normalmente, o 13 consumidor assina um canal de podcast, faz o download dos episódios e os escuta quando for mais conveniente. Por fim, o Kindle é um leitor de e-books (livros digitais) da Amazon. Esse aparelho atende a diversas demandas que surgiram com o mundo digital. Primeiro, o Kindle é, por definição, ambientalmente amigável. Uma vez que promove o consumo de livros digitais, tem impacto ambiental significativamente menor do que livros impressos. Segundo, ele é um aparelho portátil específico para leitura; assim, possui iluminação própria para este fim, diferente de um tablet ou celular, por exemplo. Além disso, por se tratar de um aparelho de leitura apenas, ele tem um preço mais acessível do que um tablet. Colocando esses exemplos no mesmo lado da moeda, o que eles têm em comum? Bem, primeiramente, eles utilizam a tecnologia como elemento central de seu negócio. Ou seja, o produto (ou serviço) dessas empresas não existiria em um mundo off-line. Em segundo lugar, propositalmente ou não, eles acompanharam a evolução tecnológica e criaram desejos de consumo para suprir necessidades específicas da era digital: poupar tempo e recurso dos consumidores. Vídeo Para ilustrar melhor esse argumento, veja o vídeo do consultor e palestrante Arthur Igreja (2016), explicando a evolução das mídias televisivas até chegarmos à Netflix: <https://www.youtube.com/watch?v=17J18x8ZBsU>. 3.2 Economia do compartilhamento O ciberespaço é, por natureza, um ambiente inclusivo, pois indivíduos têm acesso e compartilham informações, músicas, fotos e demais mídias. Independentemente do tipo de compartilhamento, ele normalmente está pautado no uso, primeiramente, da tecnologia e depois em recursos que são de propriedade de outros indivíduos (Belk, 2014). Um dos principais resultados desse ambiente de inclusão é o surgimento do mercado da economia compartilhada, também chamado de peer-to-peer (pessoa para pessoa). Isto é, um mercado em que as trocas são feitas por pessoas que estão no mesmo nível e interagem entre si. Por exemplo, você conhece o Airbnb? O Airbnb vem causando uma revolução no setor hoteleiro. Ele é um serviço online que conecta pessoas; de um lado estão aqueles 14 indivíduos que desejam alugar seu apartamento, casa ou quarto. De outro estão os consumidores que viajarão e precisam de um lugar para sua estadia. Veja, o Airbnb não oferece um quarto ou hotel para o consumidor. Ele apenas funciona como intermediário entre dois consumidores (Zervas; Proserpio; Byers, 2017). Outras empresas que possuem plataformas similares para trocas são Uber e Enjoei. A Uber oferece serviços de transporte particular e o Enjoei é uma loja online (brasileira) de produtos usados. Note que essas três empresas citadas como exemplo não vendem um produto especificamente, afinal, nenhuma delas fabrica um produto para entregar ao consumidor. A Uber é uma empresa de transporte que não possui nenhum carro. O Airbnb não possui uma casa ou apartamento sequer, e o Enjoei não é fabricante ou distribuidor de roupas e acessórios. Neste sentido, observa-se que as empresas da economia compartilhada fazem uso dos recursos já existentes no mercado para criar soluções, ao invés de inventar novos produtos. Se levarmos o termo “economia compartilhada” ao pé da letra, podemos entender que essas empresas criaram soluções baseadas no compartilhamento que realmente economiza recursos (seja tempo ou dinheiro). Eles utilizam a tecnologia para lançar plataformas de interação, funcionando como conectores de trocas. Desta forma, o produto da Uber, por exemplo, não é apenas o transporte em si. A Uber, na verdade, oferece um serviço intermediário a partir de uma plataforma de relacionamento (Zervas; Proserpio; Byers, 2017; Perren; Kozinets, 2018). Além das plataformas peer-to-peer, a cultura do compartilhamento também deu origem ao crowdsourcing. O termo em inglês não tem tradução exata; o significado mais próximo seria “terceirização pelas multidões”. Portanto, essa é uma abordagem que se fundamenta em gerar ideias a partir da interação de consumidores em plataformas digitais. A Wikipedia é um exemplo de plataforma totalmente crowdsourced. Ou seja, todo o conhecimento exposto na Wikipedia é colaborativo, sendo que qualquer indivíduo pode contribuir editando e/ou criando novos conteúdos para o site (Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2016; Allen; Chandrasekaran, 2018). Falando especificamente de marcas que desejam utilizar essa estratégia, o crowdsourcing é uma boa fonte para gerar ideias de novos produtos, design de embalagens, solução de problemas, entre outros. Exemplos de marcas que utilizaram dessa estratégia são: a Azul Linhas Aéreas, que teve seu nome 15 escolhido por consumidores, em 2008; o McDonald’s, que lançou uma campanha para que consumidores criassem seus próprios hambúrgueres em 2014; a Netflix, que propôs um desafio com premiação em dinheiro para que consumidores desenvolvessem um algoritmo de programação; e o Airbnb, que convidou os consumidores a compartilharem seus vídeos pessoais enquanto viajavam (Kearns, 2015). TEMA 4 – INDEPENDÊNCIA VERSUS DEPENDÊNCIA DIGITAL Conforme discutimos nos tópicos anteriores, a tecnologia criou um novo ambiente, chamado de ciberespaço, o qual, além de ser sem fronteiras, também cabe na palma da mão (Levy, 1999; Yang; Kim, 2012). Neste tópico conversaremos sobre a relação entre os aparelhos móveis (smartphones, tablets etc.) e o consumidor. 4.1 Aparelhos móveis e as compras on-line Os smartphones e demais aparelhos móveis são ferramentas presentes no dia a dia da maioria dos consumidores. Eles fazem valer o conceito de multitarefas a partir das infinitas possibilidades que um indivíduo tem com um aparelho em suas mãos; ele pode fazer telefonemas, checar e-mails, ler livros e artigos, montar sua agenda, fazer compras, entre outras tantas funcionalidades. Assim, pode-se dizer que os dispositivos móveis são um fator-chave tanto para entender alguns comportamentos online dos consumidores quanto para influenciá-los. Isso porque esses dispositivos também são um canal de relacionamentoentre consumidor e marca (Holmes; Byrne; Rowley, 2013). Com relação ao ambiente de varejo, os dispositivos móveis possibilitam que consumidores tenham presença em diversos lugares ao mesmo tempo. Conforme conversamos no primeiro tópico desta aula, os consumidores têm mais acesso a informações. Eles podem comparar preços e atributos com maior facilidade e em menor tempo. Ou seja, os dispositivos móveis têm influência em quase todo o processo de compra. Consequentemente, os consumidores estão cada vez mais se tornando “onipresentes” (Yanf; Kim, 2012). No que tange compras online, alguns pesquisadores defendem que os smartphones devem ser tratados como um canal à parte, diferente das compras realizadas por computadores, por exemplo. Particularmente, os consumidores 16 tendem a perceber maior risco nas compras por smartphones, o que faz com que a participação dos smartphones seja maior nos primeiros estágios do processo de compra. Ademais, aqueles consumidores que preferem utilizar dispositivos móveis para efetivar suas compras tendem a ter um perfil diferente daqueles que preferem realizar compras em lojas físicas ou nos demais meios de compras online. Consequentemente, é interessante que gestores de marketing se atentem às motivações de uso do smartphone bem como ao estilo de vida de seus consumidores (Yang; Kim, 2012; Holmes; Byrne; Rowley, 2013). Independentemente de serem utilizados para realizar compras ou não, os dispositivos móveis representam avanço na vida dos indivíduos no que diz respeito à economia de tempo e recursos financeiros (Yang; Kim, 2012). Neste contexto, nota-se que as marcas vêm adotando algumas estratégias para se adequar a este cenário. Por exemplo, a maioria dos provedores de internet faz o envio dos boletos de cobrança por e-mail, ao invés de pelos correios. Esse tipo de estratégia economiza recursos das empresas e, ainda, pode ser utilizado como posicionamento sustentável, ao anunciar a diminuição do uso de papel. Além disso, observa-se o surgimento de diversos serviços que funcionam especificamente nessas plataformas. Por exemplo, a Nu Bank e a Digio são empresas que oferecem serviços bancários 100% baseados nos dispositivos móveis. Ambos se diferem de bancos tradicionais porque todas as transações, inclusive a abertura de conta do cliente, é feita exclusivamente por um aplicativo. 4.2 A dependência dos aparelhos móveis Não há dúvidas de que a tecnologia gerou conveniência. Porém, ao mesmo tempo em que os dispositivos móveis proporcionam comodidade para os consumidores realizarem suas tarefas do dia a dia em qualquer lugar e a qualquer hora, eles também podem gerar certa dependência. Essa dependência acontece justamente pela facilidade de interagir com instituições e com outros indivíduos em tempo real (Lee; Park; Jun, 2014). Ademais, fatores como a necessidade social e a influência de grupos também desempenham papel fundamental no processo de dependência. A necessidade social está intimamente ligada com a pirâmide de Maslow, lembra dela? Essa necessidade social inclui os sentimentos de afeto e pertencimento. Já a influência de grupos é aquilo sobre o que conversamos em outro momento, quando o comportamento de um indivíduo é influenciado por seus grupos de 17 referência. Finalmente, a dependência também tem consequências nos comportamentos de compra. Mais especificamente, o uso de aparelhos móveis tende a aumentar as compras compulsivas (Lee; Park; Jun, 2014; Wang, 2016). A dependência pode ser, também, em sentido de autoexpressão. Desde o mundo off-line, sabe-se que as posses de um indivíduo podem ter a função de expressar sua identidade; elas exprimem a personalidade daquele indivíduo ou “eu” que aquele indivíduo deseja ser no futuro. No entanto, a conectividade amplia esse espectro, pois o consumo e a identidade das pessoas passam a ser públicos ao invés de privados. Nesse sentido, o consumidor constrói uma imagem por meio de mídias e essas podem ser editadas conforme a imagem que se quer passar. Assim, um indivíduo tem a possibilidade de se reinventar no mundo digital. Por sua vez, os smartphones estão presentes a todo momento na vida dos consumidores, o que facilita que estes compartilhem aquilo que desejam mostrar aos seus pares (Belk, 2013). Exemplos que ilustram esse argumento são os grupos dos “imersos” e o grupo dos “fascinados”. Conforme visto na anteriormente, ambos são perfis digigráficos, compostos por indivíduos que dependem da conectividade para definir a dimensão de personalidade. Eles usam a tecnologia para trazer o “eu” almejado mais perto da realidade. Com o uso de aparelhos móveis, eles têm a opção de testar diversas personalidades e escolher aquelas que melhor retratam o “eu” almejado, por meio da edição de fotos, vídeos e textos em suas redes sociais (DM9DDB, 2012; Belk, 2013). TEMA 5 – COMPORTAMENTOS NOCIVOS: CYBERBULLYING, HATERS, VIOLÊNCIA NA WEB Tudo na vida tem pelo menos dois lados, e com a tecnologia não é diferente. Assim, o paradoxo mais saliente da conectividade é: aproximar quem está longe e afastar quem está perto (Baccarella et al., 2018). Esse paradoxo nos ajuda a enxergar que, por mais que a tecnologia tenha trazido diversos avanços para a sociedade, ela também pode ser geradora de alguns comportamentos nocivos. Neste tópico trataremos do lado negativo da conectividade. 18 5.1 Algumas consequências negativas da conectividade Comunidades virtuais, mídias sociais e demais plataformas de comunicação digital mudaram a forma como os indivíduos consomem informações e interagem uns com os outros, bem como seu relacionamento com marcas. Ainda que os maus comportamentos de relacionamento já existiam no mundo off-line, a tecnologia, infelizmente, tem o poder de potencializar alguns deles e de proporcionar o surgimento de outros novos. Isso acontece pela proporção que as informações podem tomar diante de um ambiente sem fronteiras. Existem diversos tipos de “maus comportamentos” online. Na esfera dos compartilhamentos, um indivíduo pode, mesmo sem saber, compartilhar conteúdos indesejados para alguns, de veracidade duvidosa (fake news) ou, ainda, que ferem a propriedade intelectual de outros. Já na esfera da privacidade e localização pessoal, o excesso de dados e a “onipresença” de dispositivos móveis facilitam o rastreamento e a exposição de dados particulares (Baccarella et al., 2018). Em breve detalharemos melhor a respeito de direitos autorais e vazamento de dados na web. No que tange comunicação e relacionamentos no mundo digital, observa- se comportamentos nocivos tais como comentários e/ou conversas hostis, surgimento de haters e cyberbullying. Os haters (odiadores) são aqueles que difamam uma pessoa ou uma marca por não gostarem dela. Eles expressam agressividade por meio de seus comportamentos online. Por outro lado, são classificados como cyberbullying quaisquer tipos de comportamentos online que tenham a intenção de agredir a terceiros. Destaca-se aqui dois fatores que distinguem o cyberbullying de outros comportamentos hostis no meio digital: a intenção de causar desconforto e a frequência (necessariamente acontece mais de uma vez). Ainda, observa-se que o cyberbullying apresenta uma assimetria entre o agressor e a vítima. Ou seja, a vítima de cyberbullying, muitas vezes, não consegue se defender sozinha, até porque o ambiente virtual facilita o anonimato do agressor (Cuadrado-Gordillo; Fernández-Antelo, 2016). Ademais, Kotler, Kartajaya e Setiawan (2016) afirmam que existem grupos específicos de indivíduos que são mais propensos a apresentar atitudes e comportamentos nocivos, como a prática de cyberbullying. De acordo com os 19 autores, os netizens, que são nativos da internet, são indivíduos que expressam suas opiniões com mais avidez tantopara o lado positivo quando para o lado negativo. Assim, eles tendem a ser mais agressivos do que outros grupos. 5.2 O mau comportamento do consumidor O ciberespaço pode ser um ambiente propenso a maus comportamentos de consumidores, o que prejudica a imagem e a reputação de uma marca, bem como demais indivíduos. Além disso, alguns tipos de comportamentos podem desencadear problemas mais sérios, colocando em risco o bem-estar coletivo, tais como: pirataria digital de livros, músicas e filmes; falsificação de dados para utilizar serviços pagos; burlar sistemas de senhas; espalhar boca-boca negativo e enganar outros consumidores (Golf-Papez; Veer, 2017). O boca-boca negativo pode ser causado por uma série de fatores: frustração, sentimento de raiva, arrependimento de compra e falhas de produto ou execução de serviços (abordaremos o tema do boca-boca negativo em mais detalhes posteriormente). Ademais, a prática de enganar outros consumidores é também chamada de trolling. O trolling é definido por Golf-Papez e Veer (2017, p. 1, tradução nossa) como “comportamentos deliberados, enganosos e perniciosos que tentam provocar reações de outros usuários online”. Assim, trolling tenta estimular consumidores a cometerem ações erradas com o propósito de ser engraçado ao prejudicar pessoas ou marcas. Essa prática normalmente acontece em fóruns, comentários em mídias sociais, vídeos, entre outros. Note que existe uma diferença entre boca-boca negativo e o trolling. No primeiro caso, pode haver até algum tipo de criticismo construtivo. O consumidor provavelmente está demostrando sua frustração com falhas de produto ou serviços. Já no segundo, o consumidor quer, deliberadamente, enganar outras pessoas e a marca também (Baccarella et al., 2018). De maneira mais informal, o termo trolling também é usado para descrever a “troca de farpas” entre duas marcas concorrentes. No Brasil existe uma regulamentação que proíbe marcas de fazerem propagandas denegrindo a imagem de outras. No entanto, fora do país é comum encontrar propagandas ou comentários em mídias sociais que sejam um pouco mais “ácidos” do que aqueles aos quais estamos acostumados aqui no Brasil. 20 TROCANDO IDEIAS Nesta aula falamos de algumas implicações da tecnologia para o consumidor e para o marketing. Diante da discussão exposta, pense nas seguintes questões: Como os dispositivos móveis influenciam no processo de compra do consumidor? Compare os 4Ps de uma marca da economia compartilhada (Ex.: Airbnb) com os 4Ps de uma marca do mundo off-line (Ex.: hotéis). NA PRÁTICA Como exemplo prático desta aula, leia a matéria do Portal Administradores (Redação Administradores, 2017) a respeito de uma ação conjunta entre Netflix e Spotify, disponível em: <http://www.administradores.com.br/noticias/marketing/netflix-e-spotify-fazem- parceria-em-acao-para-stranger-things/121917/>. As duas marcas de streaming se juntaram para o lançamento da segunda temporada de Stranger Things (série original da Netflix). Após a leitura da matéria, reflita sobre os seguintes questionamentos: Qual a relação entre esta ação e o conceito de economia compartilhada? Se houvesse algum comportamento de trolling durante esta ação, como você, enquanto gestor, resolveria a situação? FINALIZANDO Nesta aula foram discutidos os seguintes tópicos: consumidor informado e o processo de compra; consumo sustentável; novas formas de consumo; dependência vs. independência da tecnologia; e comportamentos nocivos. Iniciamos a aula abordando como o acesso às informações influencia no processo de compra do consumidor. Destaca-se que a conectividade fez com que o consumidor tivesse mais acesso a seus pares, por meio de fóruns, blogs e redes sociais. Assim, persuadir o consumidor por meio de propagandas tradicionais é um desafio para gestores de marketing. Além de “desconfiado”, o consumidor bem informado é também mais questionador. Nesse sentido, observa-se o fortalecimento de movimentos 21 voltados à sustentabilidade. O consumo “verde” é todo aquele tipo de comportamento de consumo que leva em consideração os impactos ambientais, tanto na produção quanto no descarte. No mundo conectado em que vivemos, a percepção de tempo e espaço é relativa. Assim, observa-se o surgimento de novos produtos e serviços que visam melhor suprir as necessidades dos consumidores. São exemplos de produtos advindos da tecnologia: Netflix, Spotify, Airbnb e Uber. Os dois últimos são considerados produtos da economia compartilhada, isto é, são plataformas que aproveitam recursos existentes ao integrar pessoas. Sem dúvida alguma o universo digital facilitou a vida dos consumidores em termos de praticidade, acessibilidade e comunicação. No entanto, é necessário que os gestores tenham um olhar para os possíveis danos causados pela tecnologia. São exemplos de problemas gerados pela conectividade: dependência dos dispositivos móveis, trolling e cyberbullying. 22 REFERÊNCIAS ACHABOU, M. A.; DEKHILI, S. Luxury and sustainable development: is there a match? Journal of Business Research, v. 66, n. 10, p. 1896-1903, 2013. ALLEN, B. J.; CHANDRASEKARAN, D; BASUROY, S. Design crowdsourcing: the impact on new product performance of sourcing design solutions from the “crowd”. Journal of Marketing, p. jm. 15.0481, 2018. BACCARELLA, C. V. et al. Social media? It's serious! Understanding the dark side of social media. European Management Journal, v. 36, n. 4, p. 431-438, 2018. BELK, R. W. Extended self in a digital world. Journal of Consumer Research, v. 40, n. 3, p. 477-500, 2013. _____. You are what you can access: Sharing and collaborative consumption online. Journal of business research, v. 67, n. 8, p. 1595-1600, 2014. CUADRADO-GORDILLO, I.; FERNÁNDEZ-ANTELO, I. 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