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DIREITO ORGANIZACIONAL Fernanda Pimentel da Silva 2DIREITO ORGANIZACIONAL SUMÁRIO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFTEC Rua Gustavo Ramos Sehbe n.º 107. Caxias do Sul/ RS REITOR Claudino José Meneguzzi Júnior PRÓ-REITORA ACADÊMICA Débora Frizzo PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO Altair Ruzzarin DIRETORA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (NEAD) Lígia Futterleib Desenvolvido pelo Núcleo de Educação a Distância (NEAD) Designer Instrucional Sabrina Maciel Diagramação, Ilustração e Alteração de Imagem Igor Zattera, Sabrina Maciel Revisora Carmem Maura Vaccari APRESENTAÇÃO 3 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 4 DIREITO PRIVADO – DIREITO CIVIL 8 DIREITO DO CONSUMIDOR 13 ATIVIDADES 18 GABARITO 18 FUNDAMENTOS DE DIREITO COMERCIAL 19 INTRODUÇÃO AO DIREITO COMERCIAL 20 O DIREITO DA EMPRESA 20 TIPOS DE SOCIEDADE 23 ATIVIDADE EMPRESÁRIA INDIVIDUAL 27 SOCIEDADES COOPERATIVAS 31 MODIFICAÇÕES NA ESTRUTURA DAS SOCIEDADES 31 TÍTULOS DE CRÉDITO 31 NOÇÕES DE DIREITO FALIMENTAR E RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS (Lei n. 11.101/2005) 37 ATIVIDADES 43 GABARITO 43 DIREITO TRIBUTÁRIO E DIREITO AMBIENTAL 44 NOÇÕES DE DIREITO TRIBUTÁRIO 45 PRINCIPAIS ELEMENTOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO 47 NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL 53 ATIVIDADES 58 GABARITO 58 DIREITO DO TRABALHO 59 NOÇÕES DE DIREITO DO TRABALHO 60 CONTRATO INDIVIDUAL DO TRABALHO 63 SUJEITOS DO CONTRATO DE TRABALHO 63 POSTO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 65 CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO DE TRABALHO 66 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS DE TRABALHO 66 REMUNERAÇÃO E SALÁRIO 68 ALTERAÇÃO, INTERRUPÇÃO E SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO 70 AVISO PRÉVIO E EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO 71 TÉRMINO DO CONTRATO DE TRABALHO 72 ATIVIDADES 74 GABARITO 74 3DIREITO ORGANIZACIONAL APRESENTAÇÃO A unidade curricular de Direito Organizacional apresenta os conceitos fundamentais da área jurídica, iniciando pela introdução ao estudo do direito, seus principais conceitos e sua relação com o sistema jurídico brasileiro. Propõe uma visualização da atividade jurídica dentro da sociedade e mostra como as relações sociais, empresariais e de consumo são tratadas pela legislação nacional. Apresenta ainda uma abordagem inicial sobre o direito tributário, ambiental e laboral mostrando como estas ramificações buscam equalizar as relações estabelecidas dentro de nossa sociedade; criando assim jurisprudências e julgados tratados por nosso Direito Público e Direito Privado. 4DIREITO ORGANIZACIONAL INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO O que é Direito? Quais são suas fontes? Quais são seus principais elementos? Do que trata o Direito Civil? Como ele é aplicado ao contexto atual das relações de nossa sociedade? A convivência em comunidade demanda de organiza- ção e respeito. Com a evolução da sociedade, passou a surgir a necessidade de se regrar a conduta humana, de impor limites, de declarar direitos e obrigações de conduta e comportamento humano. Dessa forma, não era mais possível que as regras fossem aleatórias, que o mais forte fosse sempre o vitorioso. Surgiu, então, a necessidade de codificar essas regras, escrevendo-as, nascendo a ordem jurídica por nós, hoje, conhecida. 5DIREITO ORGANIZACIONAL Portanto, as normas jurídicas ser- vem, portanto, para organizar a vida em coletividade, contando com a limitação de direitos e organização de deveres de todos os indivíduos que fazem parte do grupo para o qual o dispositivo é criado. Com o passar dos anos, a sociedade sofre mutações em sua composição e funcionamento e, o Direito, por sua vez, também acompanha tais fatos, adaptando-se constantemente. Podemos ainda usar as palavras de HERMIDA (2007, p.25) para destacar que o papel do Direito é “proteger a ‘vida’, proteger não só a sua existência mínima, mas também garantir o seu desenvolvi- mento de acordo à ótica que a sociedade lhe imprimir”. Mas por que estudar Direito, se mi- nha formação é como Gestor de Processos Gerenciais?! Direito costuma ser chato e distante do que eu preciso para atuar em minha vida profissional!? A imagem ao lado ajuda a encontrar a resposta ao questionamento. Nosso agir é uma soma dos sentimentos e das escolhas racionais determinadas a partir de nosso conhecimento e experiências. Assim, se o Direito é a forma de organizar a sociedade, não há como atuar gerindo uma empresa, atividade ou até mesmo a vida pessoal sem conhecer os padrões aplicáveis. Além de ser necessária para a vida em sociedade, conhecer às regras jurídicas é imprescindível para garantir a saúde fi- nanceira das empresas. Durante nossos estudos retomare- mos o assunto, mas vale, desde já, dedicar atenção especial para os temas da disciplina, pois ensinam métodos e práticas que evitam prejuízos ou transtornos! Por fim, quanto a dúvida de muitos sobre o Direito ser “chato”... meus amigos, tudo depende do quanto vocês estão dis- postos a mergulhar nessa ciência repleta de sinônimos e curiosidades! Tenho certeza que se você dedicar um tempo especial para nossa disciplina e nossos encontros virtuais, ao final, descobrirá, não só, a utilidade, mas a pluralidade do Direito! Conhecer as regras jurídicas é imprescindível para garantir a saúde financeira das empresas. 6DIREITO ORGANIZACIONAL Então, agora, convido você a mergu- lhar em nosso material, que é o mapa para um ramo encantador, dinâmico e que pode ajudar muito no sucesso do Gestor! Vamos lá! Temos muito que desbravar! DIREITO POSITIVO E DIREITO SUBJETIVO De acordo com Venosa (2006) Direi- to Positivo é o conjunto de regras jurídicas, criado numa sociedade e em determinada época. Por ser criado pelo homem – nor- malmente legisladores - as regras seguem à vontade e os objetivos do ser humano. O Direito Positivo está em constante mudança e evolui conforme a evolução da socieda- de. Vale, como exemplo, a Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005, que alterou a legislação falimentar no Brasil. O autor complementa, explicando que o Direito Subjetivo é o direito da pessoa. É a faculda- de, a liberdade que o sujeito tem de agir ou não agir de acordo com o Direito Positivo, ou seja, a pessoa pode ou não reclamar um direito seu. O Direito é, portanto, um conjunto de normas, impostas pelo Estado, e aplicá- veis a determinada sociedade, com propósi- to de garantir a segurança coletiva. Todos os participantes deste grupo aceitam os limites determinados pelos dispositivos legais, pois assim pretendem que os demais também respeitem o que lhes é de direito. DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO O Direito conta com ramificações (Público e Privado), organizando os temas de acordo com o conteúdo das normas. Direito Público é o direito que compõe normas, regras de natureza pública, que a todos obriga, em que há predomínio do interesse social. Direito Privado é composto por regras de ordem privada e que, por isso, podem ser renunciados, conforme à vontade de cada pessoa, desde que não contrarie a ordem jurídica (VENOSA, 2006). Ou seja, após dividir o Direito entre Público e Privado, ocorre nova subdivisão aproximando os temas de acordo com a aplicação. Dessa forma, as áreas em que o interesse seja exclusivo de particulares, serão elencadas no Direito Privado. Já as demais, que contam com interesses ou participa- ção do Estado, são organizadas dentro do Direito Público. A ilustração a seguir esclarece a for- ma de organização dos ramos do Direito: 7DIREITO ORGANIZACIONAL A informação anterior é imprescin- dível também para aqueles que não são acadêmicos do curso do Direito. A justifi- cativa é simples: se o Direito é o norteador das práticas na sociedade, o Gestor, desde o início de sua formação, precisa conhecer os limites e recomendações legais das práticas que encontrará na atuação profissional. FONTES DO DIREITO As fontes são os alicerces das regras jurídicas, afinal são elas que o conteúdo preencheo “livro” norteador das práticas do Direito. Existem fontes diretas e indiretas. As Fontes Diretas são as normas e o costume. As Fontes Indiretas são a doutrina, princí- pios e a jurisprudência, valendo esclarecer os conceitos conforme seguem: • Normas: emanadas em geral pelo Legislativo e são consideradas como a principal fonte do direito. Em regra, há 5 fases no processo de elaboração das leis – iniciativa, discussão, apro- vação, sanção e promulgação; Além das leis, existem outras formas de normas que podem ser emanadas pelo executivo, judiciário ou autar- quias, por exemplo. • Costumes: é a reiteração de uma conduta. Antigamente era conside- rada a fonte principal; • Doutrina: é a interpretação da lei feita pelos pesquisadores, doutores, mestres e juristas. • Princípios: são práticas reiteradas já adotadas em outros ordenamentos jurídicos e conhecidos como norte- adores de conduta. Exemplo: o Princípio da Pacta sunt servanda ensina que há de ser respei- tado e mantido o conteúdo pactuado em contrato. • Jurisprudência: é a interpretação da lei feita pelos juízes e tribunais. Quando é pacífico o entendimento, tem-se como a interpretação mais correta da lei. A seguir consta uma jurisprudência de caso real julgado em Tribunal do Estado do Rio Grande do Sul: Embora o conteúdo seja resumido, obviamente o vocabulário conta com termos jurídicos, que, por sua vez, exigem atenção na leitura. Ainda assim, é interessante o exemplo para que se compreenda de forma prática como são os textos jurisprudenciais e sua função no direito. A G R A V O D E I N S T R U M E N T O . RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. INTEMPESTIVIDADE. O presente recurso foi aforado fora do prazo, razão pela qual não pode ser conhecido. Violação ao prazo do artigo 522, caput, do CPC. A decisão agravada é mera reiteração de provimento jurisdicional exarado anteriormente, não reabrindo o prazo recursal. Precedentes. AGRAVO DE INSTRUMENTO NÃO CONHECIDO. (Agravo de Instrumento No 70066613605, Décima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Roberto Imperatore de Assis Brasil, Julgado em 16/10/2015) 8DIREITO ORGANIZACIONAL LEI E NORMA JURÍDICA A Lei busca organizar a sociedade, para que seja um espaço pacífico. Conforme ensina a doutrinadora DINIZ (2010), so- mente após a identificação do problema ou necessidade é que surge a imposição jurídica regulando a conduta. Como consta no art. 3º da Lei de Introdução ao Código Civil, ninguém pode deixar de cumprir uma lei, alegando, para isso, que não a conhece. A partir do momento em que a lei entra em vigência, ela passa a ser obrigatória, há a presunção legal de que todos a conheçam, ou seja, ninguém poderá alegar em sua de- fesa que não cumpriu uma lei porque não a conhecia. DIREITO PRIVADO – DIREITO CIVIL De acordo com Diniz (2010), o Di- reito Civil é também conhecido como o di- reito dos particulares, por conter, em quase sua totalidade, normas de direito privado. O Código Civil está assim dividido: Parte geral e parte especial. A primeira abriga sujeitos, objeto de direito e fatos ju- rídicos. Já a segunda parte, conhecida como especial, conta com Direito das obrigações, das empresas, das coisas além de família e sucessões. A seguir, material ilustrativo aborda a composição do Direito dos particulares: PESSOA NATURAL Os sujeitos de direito na esfera civil são aqueles que contam com personalidade civil. A legislação divide entre pessoa na- tural e pessoa jurídica. Conforme Martins (2012, p. 219) “[...] pessoa natural é o ser humano provindo da mulher”. A legislação vigente determina ainda que a personalidade civil inicia no momento do nascimento, porém ainda no ventre pode receber doações ou legados, e também ser adotado. Os direitos serão confirmados no momento em que o feto nascer, no entanto para isso deve “nascer com vida”. Para compreender o conteúdo do art. 2º do Código Civil é importante entender o que é nascituro e natimorto: • Nascituro: é o ser já concebido (que está para nascer). A legislação protege as expectativas desde a sua concepção. Lei 10.406/02 – Código Civil Brasileiro Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Lei 10.406/02 – Código Civil Brasileiro Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. 9DIREITO ORGANIZACIONAL Caso o nascituro viva, terá a garan- tia de reconhecimento de todos os direitos das pessoas. • Natimorto: é aquele que “nasceu” morto. Mesmo assim, ele recebe pro- teção jurídica (ex.: nome, imagem, sepultura). CAPACIDADE Exercer pessoalmente atos da vida civil. Necessita ser representado ou assis- tido. A capacidade é a regra, incapacidade a exceção. A incapacidade pode ser: » Absoluta – proibição total do exercí- cio do direito pelo incapaz. Há direi- to, mas não pode ser exercido pesso- almente pelo incapaz. Pode ocorrer a nulidade, se não, estiver devidamente representado e é aplicável aos me- nores de dezesseis anos, conforme ensina o art. 3º do CC. » Relativa: refere-se àqueles que po- dem praticar, por si só, os atos da vida civil, desde que assistidos, sob pena de anulabilidade (art. 4º do CC) São Relativamente incapazes: • Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; • Ébrios habituais e viciados tóxicos; • Aqueles com limitações transitórias ou permanentes que interfiram na expressão de vontade; • Os pródigos; • Os indígenas. Você sabia?! Que para saber se o feto nasceu “com vida” peritos analisam os pulmões do bebê. Os pulmões são inseridos em recipiente com água. Somente se o feto tiver respirado, seus pulmões estarão expandidos e por consequência flutuarão. VOCÊ SABE O QUE SIGNIFICA SER RELATIVAMENTE INCAPAZ? Significa que a pessoa deverá ser assistida (acompanhada) por responsável, para que suas práticas da vida civil sejam válidas. 10DIREITO ORGANIZACIONAL A incapacidade cessa com a idade de 18 anos completos ou pela emancipação, adquirindo capacidade para praticar todos os atos da vida civil (art. 5º do CC). DOMICÍLIO Tanto a pessoa jurídica, quanto a pes- soa física, possuem domicílio. Considera-se domicílio o local onde a pessoa elege a sua sede jurídica, ou seja, o local onde a pessoa pratica os seus negócios. Para a pessoa física o domicílio é o lugar onde ela fixa residência com ânimo definitivo (art. 70 do CC). Em alguns casos, pode existir domicílio duplo ou múltiplo (art. 71 do CC). Para a pessoa jurídica, vale a regra do artigo 75 do CC. AUSÊNCIA Ocorre a ausência da pessoa natural quando ela desaparece do seu domicílio, sem dar qualquer notícia de seu paradeiro e sem deixar procurador. Caso o ausente tenha patrimônio, o juiz nomear-lhe-á um curador para administrá-lo. Não havendo patrimônio, não será nomeado curador (art. 22 a 37 do CC). PESSOA JURÍDICA A pessoa jurídica é a entidade consti- tuída por pessoas ou bens, e que conta com vida, direitos, deveres e acervo patrimonial próprio, podendo ser de direito público ou privado. Ou seja, há pessoas jurídicas de direito público interno (União, Estados, Municípios, autarquias) e externo (estados estrangeiros), e de direito privado (associa- ções, fundações, sociedades) (art. 40, 41, 42, 43 e 44 do CC). Em regra, a pessoa jurídica possui patrimônio próprio, ou seja, o patrimônio da pessoa jurídica não se confunde com o patrimônio das pessoas naturais a ela ligadas. RESPONSABILIDADE DA PESSOA JURÍDICA Lopes (1984) apresenta as respon- sabilidades da Pessoa Jurídica: • Contratual: a pessoa jurídica é res- ponsável pelos contratos que assinar, respondendo com seus bens, caso ocorra inadimplemento contratual. • Extra-contratual: a pessoa jurídi- ca é responsável pelos atos ilícitos praticados por seus representantes/ prepostos, desde que haja culpa. EXISTÊNCIA E DISSOLUÇÃO DA PESSOA JURÍDICA Oinício da pessoa jurídica dá-se com o registro dos seus atos constitutivos no ór- gão competente (art. 45 do CC). Enquanto não for realizado o registro dos seus atos constitutivos, a sociedade ou associação será apenas de fato, sem personalidade jurídica. Lopes (1984) explica que a Pessoa Jurídica termina a sua existência nas se- guintes hipóteses: 1. Decurso de prazo de sua duração: em se tratando de sociedade com pra- zo de duração determinado, a mesma finda quando termina o prazo pre- visto em seu contrato social. 2. Dissolução deliberada entre os 11DIREITO ORGANIZACIONAL membros: quando os sócios ajustam pelo fim da pessoa jurídica. 3. Determinação legal: quando norma jurídica estabelece o fim da empresa. 4. Ato governamental: por decisão do governo determinando o fim da so- ciedade jurídica. 5. Dissolução judicial: quando a so- ciedade é encerrada através de ação judicial. BENS Segundo Diniz (2010), Bens são coi- sas materiais ou imateriais que possuem valor econômico e podem servir de objeto de uma relação jurídica. A seguir, os prin- cipais tipos de bens, definidos pela autora: • CORPÓREOS: são os bens físicos. • INCORPÓREOS: são os bens abs- tratos (um direito). • MÓVEIS: os que podem ser trans- portados (art. 82 do CC). • IMÓVEIS: aqueles que não podem ser transportados, sem destruição de sua substância (art. 79 do CC). • FUNGÍVEIS: os que podem ser substituídos por outros (art. 85 do CC). • INFUNGÍVEIS: os que não po- dem ser substituídos, valendo pela sua individualidade. • ACESSÓRIO: é o bem que depen- de do bem principal. • BENS PÚBLICOS: são bens per- tencentes à União, Estados e Mu- nicípios. Caracterizam-se por serem inalienáveis e impenhoráveis. DOS ATOS JURÍDICOS Todo o acontecimento praticado pelo homem ou pela natureza que pode produzir efeito jurídico, ou, até mesmo, não produzir, mas que, mesmo assim, interessa ao mundo 12DIREITO ORGANIZACIONAL jurídico (DINIZ, 2010). Assim, temos um fato jurídico natural quando ocorre um acontecimento que independe da vontade humana (ex.: maioridade). Outras vezes, o acontecimento ocorre por ato humano, mas sem manifestação da vontade (ex.: ga- rimpo). Em outros casos, temos aconteci- mentos que decorrem da atividade humana e que dependem da vontade humana (ex. rescisão de um contrato). De acordo com Diniz (2010) o ne- gócio jurídico é o ato praticado pela pessoa homem que tenha como objetivo adquirir, transferir, modificar ou extinguir direitos. Se o ato tem objetivo negocial (ex.: con- trato), é chamado de negócio jurídico. Pela importância, o negócio jurídico receberá uma atenção especial no nosso estudo. Segundo a autora, para que um ne- gócio jurídico seja considerado válido, há exigência de que os requisitos existentes no art. 104 do Código Civil Brasileiro sejam atendidos, a saber: Agente capaz: é a pessoa capaz de exercer os atos da vida civil (ex.: o maior de 18 anos). Objeto: O objeto da relação jurídica não deve ser contrário a lei (ex. dívida de jogo). Deve ser também possível (ex.: não posso vender a lua), determinado ou deter- minável (ex.: posso vender uma safra que, embora não seja possível no início saber qual será a produção, saber-se-á ao final). Forma prescrita ou não-defesa em lei: Em regra, o negócio jurídico não tem forma especial (art. 107 do CCB). A von- tade manifestada pelas partes pode ser ver- bal, escrita, ou através de gestos. Somente quando a lei exigir o negócio deve ter forma especial (art. 108 do CCB). Os atos jurídicos são classificados da seguinte forma: • Inter vivos: que ocorrem com todos os envolvidos vivos. Ex.: compra e venda ou doação; • Causa mortis: tem como base o fa- lecimento de uma das partes. Ex.: testamento; • Unilaterais: contam com a vontade apenas de uma parte; • Bilaterais: conta com a vontade de duas partes. Ex.: locação. • Onerosos: determina a obrigação com reciprocidade entre as partes. Ex.: financiamento bancário. • Gratuitos: Embora o bem envolvido tenha valor pecuniário a transação é gratuita. Ex.: doação pura e simples; • Patrimoniais: são aqueles que en- volvem bens e capitais. Ex.: compra e venda. • Pessoais: aqueles vinculados a vida particular, valendo como exemplo o registro do nome. • Formais: com passos de constituição determinados expressamente em le- gislação; • Informais: aqueles que não contam com forma prevista em lei; 13DIREITO ORGANIZACIONAL • Constitutivos: com função de criar extinguir ou modificar direito; • Declaratório: aqueles que declaram existência ou inexistência de relação jurídica ou trata de autenticidade e falsidade documental; • Lícito: que tem como base práticas permitidas em lei; • Ilícitos: aqueles praticados em desa- cordo com a legislação vigente. DIREITO DO CONSUMIDOR Diante da evidente diferença de po- deres entre as partes da relação de consumo, surgiu no Brasil o Código de Defesa do Consumidor, através da Lei 8.078/90, esta- belecendo normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, Nunes (2007) apresenta os princípios fundamentais relacionados ao Direito do Consumidor: » Princípio da Vulnerabilidade: vul- nerabilidade significa que o consu- midor não tem conhecimento técnico e científico sobre o bem ou serviço posto no mercado, podendo facil- mente ser enganado. Há presunção absoluta de que o consumidor no momento de realizar o negócio jurí- dico – relação material – é vulnerável (art. 4º, I do CDC). » Princípio da Hipossuficiência: a hipossuficiência do consumidor só poderá ser declarada no processo ju- dicial, ou seja, o juiz poderá declarar o consumidor hipossuficiente (parte mais fraca). Não há presunção abso- luta nesse caso, ou seja, o consumi- dor tem que comprovar que é a parte mais fraca na relação processual (art. 6, VIII do CDC). » Princípio da Boa-fé Objetiva: todos da relação de consumo devem ter uma conduta leal, honesta, transpa- rente, sem subterfúgios, inclusive o consumidor (art. 4º, III do CDC) » Princípio da Informação: o con- 14DIREITO ORGANIZACIONAL sumidor tem o direito a receber do fornecedor uma informação clara, correta, ostensiva sobre os produtos e serviços. Se é direito do consumidor, é dever do fornecedor (art. 6º, III e 9º do CDC). » Princípio da Segurança: o consumi- dor tem o direito de não ser exposto a perigo, colocando em risco a sua integridade física e mental (art. 6º, I do CDC). Caso o produto ou serviço apresente algum risco para o consu- midor o fornecedor tem o dever de informar. Se algum produto posto no mercado apresente risco exagerado à integridade física do consumidor, o fornecedor tem obrigação de retirá-lo do mercado, bem como de avisar a autoridade competente (arts. 8º, 10º e 64º do CDC). » Princípio da Inversão do Ônus da Prova: para facilitar a defesa judicial do consumidor, o juiz poderá deter- minar que o fornecedor comprove o fato controvertido do processo (art. 6º, VIII do CDC). Consumidor É toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produtos ou serviços como destinatário final, ou seja, é aquele que arca com os custos da aquisição e que não age como profissional (art. 2º do CDC). Ou seja, ao contrário do compreendido pelo senso comum, não são apenas as pes- soas físicas que se enquadram no papel de consumidor. Importante: Segundo o Código de Defesa do Consumidor, equiparam-se aos consumidores: • As vítimas de acidentes causados por produtos defeituosos, mesmo que não os tenha adquirido (art. 17 do CDC). • Todas as pessoas expostas às práticas abusivas, mesmo que não tenham compra- do o produto ou contratado o serviço. Por exemplo: uma pessoa exposta à publicidade enganosa (art. 29 do CDC). Fornecedor São pessoas físicas ou empresas que colocam, com habitualidade, produtos ou serviços à disposição dos consumidores com estrutura profissional/empresarial (art. 3º do CDC). O Professor Sérgio Pinto Mar- tins (2012, p. 383) explica em sua obraque Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, mon- tagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou VOCÊ SABIA QUE O Código de Defesa do Consumidor brasileiro serviu de inspiração para a elaboração de Códigos de outros países? 15DIREITO ORGANIZACIONAL comercialização de produtos ou prestação de serviços. A imagem ao lado chama para re- flexão sobre a importância de práticas que respeitem os Direitos do consumidor, já que independente do tamanho do empre- endimento, todos os fornecedores terão as mesmas responsabilidades. Produto e Serviço Produto é qualquer bem que sirva de objeto para a relação de consumo (art. 3º, § 1º do CDC) e também conforme ensi- na Martins (2012, p. 383) “[...] produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial”. Você sabia que produtos distribu- ídos gratuitamente também podem ser regidos pelas regras do Direito do Con- sumidor? Amostras enviadas ou distribuídas, gratuitamente, é exemplo prático de tal situação, já que elas têm como objetivo es- timular a venda de produtos. Além de regular a comercialização de produtos, o Código de Defesa do Consu- midor também rege as relações, cujo foco o comércio de serviços. Vale destacar que Serviço é qualquer atividade remunerada que sirva de objeto para uma relação de consumo (art. 3º, § 2º do CDC). Da Responsabilidade pelo Fato do Produto ou pelo Fato do Serviço Nas relações de consumo, a respon- sabilidade do fornecedor é objetiva. Assim, independente de comprovação de sua culpa ou intenção de praticar o dano, ele responde pela reparação moral e material. Nunes (2007) explica que o forne- cedor (fabricante, produtor, construtor, nacional ou estrangeiro e o importador) é responsável independentemente da existên- cia de culpa pelos prejuízos causados aos consumidores (art. 12 do CDC). Nesses casos, o acidente atinge a integridade física do consumidor. Nos casos de acidente de consumo, o fabricante, produtor, construtor, nacional ou estrangeiro, o importador só não será responsabilizado se provar, segun- 16DIREITO ORGANIZACIONAL do o art. 12, § 3º do CDC: I - que não colocou o produto no mer- cado; II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Note que, nunca foi falado do comer- ciante, o que significa dizer que o comer- ciante, em regra, não será responsabilizado em casos de acidente de consumo. Nunes (2007) apresenta as únicas exceções previs- tas no art. 13 do CDC, que determinam que o comerciante será responsabilizado quando: I - o fabricante, o construtor, o produ- tor ou o importador não puderem ser identificados; II - o produto for fornecido sem identi- ficação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. Da Responsabilidade pelo Vício do Produto ou Serviço Nos casos de incidente de consumo, ou seja, quando não está em risco a inte- gridade física do consumidor, mas há tão somente um defeito do produto, há res- ponsabilidade dos fornecedores de forma geral, incluindo o comerciante (art. 18 do CDC). Sendo assim, pode-se afirmar que: 1. o consumidor compra uma cane- ta e a tinta dela lhe causa alergia, a princípio, o comerciante não será responsabilizado. 2. o consumidor compra uma caneta e ela não escreve, nesse caso, o comer- ciante poderá ser responsabilizado. Nunes (2007) salienta que em casos de defeito do produto, o fornecedor tem o prazo de 30 dias para sanar o defeito. Após esse prazo, o consumidor pode exigir a sua escolha: I – a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II – a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III – o abatimento proporcional do preço. É possível afirmar, portanto que fato é: quando a anomalia resulta apenas em deficiência no funcionamento do produto ou serviço, colocando em risco a saúde ou segurança do consumidor. 17DIREITO ORGANIZACIONAL Importante também destacar que o fornecedor não responde apenas com ressarcimento do produto ou serviço que comercializa. Caso ele cause prejuízos para o consumidor, atingindo patrimônio diverso ou superior do que vendeu caberá a empresa indenizar. Como exemplo, vale verificar o vídeo (youtube, clique na imagem) a seguir que reproduz uma decisão judicial recente. No material é narrado o caso de uma passageira que teve as bagagens extraviadas durante viagem aérea. No caso exposto, embora o contrato tenha sido de viagem, a empresa foi con- denada ao pagamento, correspondentes aos bens extraviados durante a prestação do serviço de transporte de passageiro. JURISPRUDÊNCIA APLICADA Como já estudamos, a jurisprudência é uma das fontes de direito. Para ilustrar de forma prática, segue modelo de Juris- prudência Aplicada em situação de Direito do Consumidor: É possível afirmar, portanto que vício é: quando a anomalia resulta apenas em deficiência no funcionamento do produto ou serviço, mas não coloca em risco a saúde ou segurança do consumidor. CONSUMIDOR. OBRIGAÇÃO DE FAZER. COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS. QUITAÇÃO INTEGRAL DO PREÇO POR PARTE DOS AUTORES EM FACE DA CONSTRUTORA. TRANSMISSÃO DA PROPRIEDADE A TERCEIRO INVIABILIZADA EM RAZÃO DA PERMANÊNCIA DE ÔNUS REAL DE HIPOTECA LEVADA A EFEITO PELA CONSTRUTORA EM FAVOR DO AGENTE FINANCEIRO QUE FINANCIOU A CONSTRUÇÃO DO EMPREENDIMENTO. INEFICÁCIA DESSA HIPOTECA FRENTE AOS ADQUIRENTES DE BOA-FÉ. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA N° 308 DO STJ. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. QUITADO O NEGÓCIO JURÍDICO HAVIDO ENTRE OS AUTORES E A CONSTRUTORA, OS IMÓVEIS NÃO PODEM MAIS SERVIR COMO GARANTIA A EVENTUAL INADIMPLÊNCIA DESTA PARA COM O AGENTE FIANCIADOR DA OBRA. IMPOSIÇÃO DE OUTORGA DA ESCRITURA PÚBLICA E LIBERAÇÃO DO GRAVAME DE HIPOTECA. Sentença confirmada. Recurso improvido. (Recurso Cível No 71006314124, Quarta Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Ricardo Pippi Schmidt, Julgado em 30/09/2016) https://www.youtube.com/watch?v=1OOWWc9SVNo ATIVIDADES Com base nos estudos desenvolvidos na Unidade 1, responda aos questionamen- tos que seguem: 1. Analisando as fontes de direito é possível afirmar que somente as leis tem força de determinar a solução dos litígios judiciais? 2. Quando começa a personalidade civil do homem? 3. É correto afirmar que os ébrios são absolutamente incapazes, visto que em razão da dependência perdem o pleno discernimento? Justifique. 4. O que são bens infungíveis? 5. Imagine que sua empresa é uma in- dústria que produz peças para maqui- nário. Diariamente são produzidas 2.000 unidades em seu parque fabril. A energia elétrica consumida é ad- quirida da Concessionária. A relação entre sua empresa e a prestadora de serviços de energia elétrica é de con- sumo? Justifique. GABARITO R1: Todas as fontes de direito podem auxiliar na solução dos litígios, posto que elas se complementam. R2: Quando ele nasce, desde que seja com vida. R3: A informação não está correta, posto que os ébrios e pessoas com vícios em tóxicos são relativamente incapazes. R4: São bens que não podem ser substituídos. Por exemplo: uma obra de arte. R5: A relação narrada é de consumo. O elemento básico para justificar a afirmação é simples: a empresa é destinatária final da energia elétrica que consome no processo produtivo que estabelece diariamente. 19DIREITO ORGANIZACIONAL FUNDAMENTOS DE DIREITO COMERCIAL O que é Direito Comercial? Quais são as diretrizes para a formação de uma empresa? O que é uma sociedade empresária? Quais são suas modalidades? E como as relações comerciais atuam desde o início até o fim da sociedade empresária? Conheça nesta unidade as ferramentas do direito criadas para dar vidaao sonho de abrir e gerir uma empresa em nosso país. 20DIREITO ORGANIZACIONAL INTRODUÇÃO AO DIREITO COMERCIAL Mesmo com as constantes alterações da legislação mundial, o Direito Comercial positivo permaneceu por longo período vinculado a teoria obsoleta dos atos de co- mércio, não acompanhando as mudanças normativas mundiais. Portanto, o Direito Comercial atual tem como foco principal a empresa, a atividade desenvolvida pelo empresário ou sociedade empresária, que a faz de forma economicamente organizada. O novo Código Civil de 2002 re- voga então, de forma parcial, o Código Comercial, consagrando o regime jurídico do empresário individual e da sociedade empresária. Interessante notar que o novo Código Civil, em suas disposições finais, preocupou-se em disciplinar a aplicação e controlar a aplicação das leis comerciais até então existentes. FONTE DO DIREITO COMERCIAL As fontes do Direito Comercial são as formas pelas quais surgem as normas ju- rídicas de natureza comercial. São divididas entre diretas e indiretas. As fontes diretas ou primárias são as leis comerciais. Por sua vez, as fontes indiretas ou secundárias são a analogia, os costumes e os princípios gerais. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO COMERCIAL O fato de grande parte do Direito Comercial encontrar-se inserido no Códi- go Civil de 2002, não significa que houve unificação ou confusão do Direito Comer- cial ao Civil. Tais ramos do Direito são autônomos e independentes, com regras, princípios e estrutura própria. O Direito Comercial atual, não se limita apenas às regras empresariais, pois abarca uma sé- rie de outros institutos que chamamos de complementares. O DIREITO DA EMPRESA O Direito de Empresa está discipli- nado no livro II da parte especial do Código Civil 2002, especialmente no conteúdo dos artigos 966 a 1.195. O ponto de partida para a compreensão da teoria da empresa e seu respectivo amparo jurídico, repousa principalmente sobre o que é empresa, e o que é empresário. Apesar de serem diversos os sentidos dados à palavra empresa, encon- tramos no CCB seu verdadeiro significa- do jurídico, que é de atividade econômica organizada para a produção ou circulação de produtos e de serviços. O Art. 966 do CCB traz o conceito de empresário, citando que é aquele que exerce profissionalmente essa atividade. A seguir, é apresentada a explicação de cada trecho do texto legal, para facilitar a com- preensão de seu conteúdo! 21DIREITO ORGANIZACIONAL Importante lembrar que a atividade empresarial é econômica, pois está voltada à obtenção de lucro. A imagem a seguir, convida-nos para uma reflexão sobre a empresa. Ela resume características das sociedades empresárias que enquanto atividades organizadas, con- centram-se em quatro fatores de produção: capital, insumos, mão de obra e tecnologia. OBRIGAÇÕES DOS EMPRESÁRIOS Segundo Venturoti (2005) os em- presários individuais e as sociedades em- presárias, têm basicamente três obrigações fundamentais, para que as suas atividades sejam legalmente amparadas: 1. Dever de arquivamento de seus atos constitutivos na junta comercial; 2. Dever de escrituração dos livros em- presariais; 3. Dever de levantar periodicamente o balanço patrimonial e os resultados econômicos da empresa. O descumprimento desses deveres implica em sanções previstas na legislação comercial e até penal. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA SOCIEDADE Nossa legislação trata de diferentes modelos de sociedade empresária, conforme estudaremos. No entanto, há característi- cas gerais, que são norteadoras e por isso ATENÇÃO: A empresa como convencionado, visa sempre à obtenção de lucros por parte daqueles que a exploram. 22DIREITO ORGANIZACIONAL aqui ganham especial atenção. Segundo o Código Civil de 2002 são características gerais da sociedade: » Constitui-se por contrato, entre duas ou mais pessoas: Podem ser pessoas físicas ou jurídicas de acordo com o modelo societário. » Tem início a existência com o regis- tro do contrato ou estatuto: Serão registradas no Registro das pessoas jurídicas ou na Junta Comercial cor- respondente. » Tem por nome uma firma, também conhecida como razão social: que não se confunde com marca ou nome fantasia. » Extingue-se pela dissolução, por expirado o prazo de duração deter- minado, por iniciativa dos sócios, por determinação legal, por determinação judicial. » É uma pessoa (jurídica), distinta das pessoas dos sócios: conta com personalidade jurídica própria. » Tem “vida”, direitos, obrigações e patrimônio próprios: a comunicação entre o patrimônio dos sócios e da sociedade será regida pelo modelo societário através da responsabili- dade. » É representada por quem o contra- to ou estatuto determinar: poderá contar com administrador, diretor ou preposto de acordo com particu- laridades do modelo societário. » O patrimônio é da sociedade e não dos sócios: não se confunde o patri- mônio da sociedade com o patrimô- nio pessoal dos sócios. » Responde sempre ilimitadamente pelas dívidas da sociedade: não há exclusão de suas obrigações. » Pode modificar sua estrutura, por alteração no quadro social ou por mudança de tipo: é livre a possibi- lidade de modificação da sociedade, desde que analisados os passos pre- vistos em lei. Segundo o Código Civil de 2002 para que uma sociedade seja devidamente constituída, o seu contrato social deverá conter, necessariamente, as seguintes cláu- sulas: I – Nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; II – denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; III – capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; IV - quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;V – prestações a que se obriga o sócio cuja contribuição consista em serviços; VI - pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, bem como seus poderes e atribuições; VIII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais. 23DIREITO ORGANIZACIONAL CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES Seguindo a avaliação da estrutura das sociedades, é importante observar que elas podem ser classificadas como de pes- soas e de capital. As primeiras são assim determinadas, pois o elemento primordial são os sócios, já que tudo gira em torno deles. Já nas sociedades classificadas como de capital, o fator imprescindível é o valor pecuniário envolvido. Também é característica de suma re- levância a classificação em razão da respon- sabilidade dos sócios na sociedade. Existem modelos societários cuja responsabilidade dos participantes é limitada, ilimitada ou mista. Ou seja, no primeiro modelo o ca- pital do sócio que está em risco é o corres- pondente às quotas ou ações que ele com- prar, enquanto no segundo formato todo o capital particular pode sempre arcar com dívidas e obrigações da empresa. O terceiro modelo, conhecido como responsabilidade mista, trata parte dos sócios de uma forma e parte de outra. Trataremos em breve sobre os mo- delos societários, retomando este tema! REGISTRO DE UMA SOCIEDADE Para que a sociedade adquira per- sonalidade jurídica os seus atos devem ser registrados na Junta Comercial ou no Re- gistro de pessoas jurídicas, de acordo com o modelo societário. Somente a partir desse registro é que terá capacidade de contrair direitos e obrigações em nome próprio. Para garantir o nome da sociedade, o registro deverá ser arquivado nos Registros Públicos de Empresas Mercantis de todos os estados em que a sociedade atuar, é uma garantia para a própria sociedade (art. 969 do CC). Para garantir maior proteção, da so- ciedade e de sua atividade, a sociedade deve realizar os seguintes procedimentos: • Nome empresarial: registro na Re- gistroPúblico de Empresas Mer- cantis. • Marca: depósito no INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial. • Domínio internet: registro na FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. TIPOS DE SOCIEDADE Nosso ordenamento jurídico conta com sociedades personificadas e não per- sonificadas, trazendo o rol de modelos com suas características conforme segue. Exemplos: Sociedade de responsabilidade Limitada: Sociedade Limitada Sociedade de responsabilidade Ilimitada: Sociedade Simples Sociedade de responsabilidade Mista: Sociedades em comandita Simples 24DIREITO ORGANIZACIONAL A imagem ao lado ilustra perfeita- mente a possibilidade jurídica existente em nosso ordenamento. Afinal, ela retrata formas diferentes de estabelecer relações entre as pessoas, da mesma forma que os modelos societários permitem eleições so- bre vínculos, participação e responsabilida- des dos sócios. SOCIEDADE NÃO PERSONIFICADA OU IRREGULAR Como já vimos, sociedade é a união de duas ou mais pessoas, físicas ou jurídi- cas, que se obrigam mutuamente a contri- buir com bens ou serviços, visando a um fim (resultado), através de um contrato. O CC/2002 determina que a sociedade não personificada ou irregular é a sociedade constituída por contrato escrito, mas que não teve o registro desse contrato na Junta Comercial. As sociedades não personifica- das ou irregulares podem ser classificadas em: Sociedade em Comum e Sociedade em Conta de Participação. São as sociedades conhecidas como “sociedade de fato, mas não de direito”, ou seja, existe no plano fático, mas não no plano jurídico, pois lhes falta a inscrição de seus atos constitutivos no registro próprio e na forma da lei. Os seus sócios respondem solidariamente e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluindo-se, inclusive, o benefício de ordem do art. 1.024 do CC que prevê que os bens da sociedade devem ser leiloados antes dos bens dos sócios (art. 987 do CC). Na sociedade em Conta de Partici- pação, não há necessidade de que a mesma seja constituída por contrato escrito, pois a Lei não exige qualquer formalidade. Há um sócio ostensivo, em nome do qual são feitos os negócios, e um sócio oculto (par- ticipante), que não aparece entre terceiros. O sócio ostensivo é quem responde inte- ATENÇÃO: Nas sociedades, não, de fato ou irregulares os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade estabelecida! 25DIREITO ORGANIZACIONAL gralmente perante terceiros, pois assume todo o negócio em seu nome individual (arts. 991 e 992 do CCB). SOCIEDADE PERSONIFICADA Sociedade personificada é aquela que registra os seus atos constitutivos no regis- tro próprio e na forma da Lei, adquirindo, assim, personalidade jurídica própria. As sociedades personificadas subdividem-se em Sociedade Simples e Sociedades Em- presárias. SOCIEDADE SIMPLES Ela é constituída por pessoas físicas ou jurídicas e tem como objetivo exercer atividade econômica de cunho artístico ou cultural, também é conhecida por ser utilizada por prestadores de serviços cujo objeto seja profissão regulamentada. Ou seja, é uma sociedade que não é constituída para o exercício de atividade comercial ou empresária. Aspecto importante ao analisar as características deste modelo é que a respon- sabilidade dos sócios da sociedade simples é ilimitada. O contrato social das sociedades personificadas deve conter, além de outras cláusulas que interessem aos sócios, os re- quisitos mínimos enumerados no art. 997 do CC. SOCIEDADE EMPRESARIAL Segundo o Código Civil de 2002 as sociedades Empresárias são as sociedades que têm como objetivo o exercício de ativi- dade econômica organizada para a produ- ção ou a circulação de bens ou de serviços, visando o lucro. As sociedades empresárias devem registrar os seus contratos sociais na Junta Comercial, adquirindo personalidade jurídica. SOCIEDADE EM NOME COLE- TIVO Nessa sociedade, todos os sócios res- pondem ilimitadamente com seus bens particulares pelas dívidas sociais. Se o patri- mônio da sociedade não for suficiente para São exemplos de atividades que exigem adoção da Sociedade Simples: Sociedade de MÉDICOS, ADVOGADOS OU DENTISTAS. PRAZO PARA REGISTRO: A sociedade, depois de criada, tem o prazo de 30 dias para requerer o registro do contrato no órgão competente, sob pena de ficar caracterizada como sociedade em comum, acima estudada (art. 998 do CC). 26DIREITO ORGANIZACIONAL saldar seus compromissos, os sócios poderão ser responsabilizados pelo pagamento. O grande benefício desse tipo de empresa é a facilidade para obter crédito, se os sócios tiverem um bom patrimônio, é claro. SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES Nesse tipo de sociedade há dois tipos de sócios. Os comanditários que contri- buem com capital e não o trabalho, e, não têm qualquer poder na administração da sociedade. Eles somente contribuem com o capital e a responsabilidade deles é limitada. Há, ainda, os sócios comanditos – pessoas físicas - que assumem a direção da empresa e respondem ilimitadamente pelas dívidas da sociedade (art. 1045 do CC). SOCIEDADE POR COTA DE RESPONSABILIDADE LIMITADA Nessa sociedade cada sócio, ou co- tista, contribui com uma parcela do capital social. Após a assinatura do contrato social, o sócio é responsável pela integralização da sua cota que subscreveu, e subsidiariamen- te pela integralização das cotas subscritas pelos demais sócios. Há, então, responsa- bilidade solidária entre os sócios no que se refere à integralização do capital social da sociedade. Uma vez integralizada a cota de cada sócio, não podem mais eles ser res- ponsabilizados com seus bens particulares pelas dívidas da sociedade. A responsabilidade, portanto, é li- mitada à integralização do capital social (art. 1052 do CC). É obrigatório que no nome da sociedade seja colocada a palavra “limitada”, ou de forma abreviada (LTDA.) (art. 1.158 do CC). Todo o capital da so- ciedade por cotas de responsabilidade limi- tada está divido em cotas sociais. É livre o momento da integralização das cotas pelos sócios, podendo ser feita em dinheiro ou qualquer outro bem que possa ser avaliado. Nas sociedades por cotas de responsabili- dade limitada é vedada a contribuição em serviço (art. 1.055, § 2º do CC). A cessão das cotas pode ser regulada livremente pelos sócios no contrato social. Caso não exista nenhuma estipulação no contrato social, a cota poderá ser cedida livremente, se for para outro sócio. Para que as cotas sejam cedidas para terceiros estranhos à sociedade, deverá a cessão ser aprovada por mais de 75% do capital social (art. 1.057 do CC). O sócio poderá ser excluído de for- ma judicial ou extrajudicial. Poderá ser extrajudicial nos casos em que o sócio não tenha integralizado as suas cotas no tem- po e modo devido, previsto no contrato social, pela declaração da falência ou da No Quadro Societário: Não podem ter pessoas jurídicas. Somente pessoas físicas podem fazer parte dessa sociedade (art. 1039 do CC). 27DIREITO ORGANIZACIONAL insolvência do sócio. A judicial ocorrerá quando o sócio a ser excluído da sociedade for majoritário, ou, quando for minoritário, não exista cláusula contratual permitindo a exclusão por justa causa (art. 1.030 do CC). SOCIEDADE ANÔNIMA OU COMPANHIA É a sociedade que possui o capital di- vidido em partes iguais, as chamadas ações. A responsabilidade dos sócios ou acionistas é limitada às ações subscritas ou adquiridas (art. 1.088 do CC). Nessas sociedades há a impessoalidade dos sócios e/ou acionistas. Deve existir na denominação da socieda- de a expressão “Sociedade Anônima” ou abreviadamente “S/A”, ou, ainda, a palavra “Companhia” ou sua abreviatura “CIA”. A sociedade anônima é regida por lei especial – Lei 6.404/76 -, aplicando-se o Código Civil de forma subsidiária. As sociedades anônimas classificam-se em: • Aberta: dependem de prévio registro na Comissão de Valores Mobiliá-rios – CVM -. A partir do registro, podem negociar suas ações na bolsa de valores. • Fechadas: para seu funcionamento, não dependem de registro na comis- são de valores mobiliários. Os acionistas podem ser divididos conforme as ações e quantidade de cada uma delas que possuem: • Comum ou Ordinário: os acionistas têm direitos e deveres comuns de todo acionista. Possuem direito a voto – votar e ser votado - e direito a dividendos, mas sem privilégio ou preferência. • Preferencial: os acionistas não têm direito a voto, mas terá algum bene- fício relativo à distribuição dos lucros da sociedade, ou seja, recebe antes que os portadores de ações comuns ou ordinárias. • Controlador: é a pessoa que detém a maioria dos votos e o poder de ele- ger a maioria dos administradores. Tem os mesmos direitos e deveres do acionista comum, mas responde por abusos praticados. • Dissidente: é o acionista que não con- corda com as deliberações da maio- ria. Tem o direito de se retirar da Companhia, mediante o reembolso do valor patrimonial ou, em alguns casos, pelo valor do mercado de suas ações. • Minoritário: é o acionista que não participa do controle da companhia, ou por desinteresse ou por insufici- ência de votos. ATIVIDADE EMPRESÁRIA INDIVIDUAL Além da prática empresarial através de sociedade, nossa legislação prevê a atua- ção de forma individual, valendo destaque ao Microempreendedor Individual (MEI) e a Empresaria Individual de Responsabi- lidade Limitada (EIRELI). Microempreendedor Individual No ano de 2006 através da Lei Com- plementar 123/06 estabeleceu o Estatuto 28DIREITO ORGANIZACIONAL Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Nesse ato é criada a fi- gura do Microempreendedor Individual, porém, apenas, após as alterações inseridas no ano de 2014 é que o modelo ganhou adesão. A lei complementar 147/2014 vem em resposta à imensa quantidade de pessoas que atuavam à margem da legalidade. Conforme ilustrado abaixo, a legis- lação referida determina menor incidência tributária e burocrática para empreendi- mentos de menor porte como forma de incentivar e viabilizar a sobrevivência desses negócios. As atividades do Microempreende- dor Individual são restritas à lista com- posta por: fabricação e comercialização de produtos, além de prestação de serviços. O anexo XIII da Resolução CGSN nº 94, de 29 de novembro de 2011, trata das ativi- dades permitidas, excluindo todas as que não estiverem nele citadas expressamente. Atividades como padeiro, jardineiro, zelador, comerciante, mecânico e garçom estão na lista das permitidas para enqua- dramento como Microempreendedor. A simplificação tributária é refletida nos valores pagos. O MEI é enquadrado no Simples Nacional, contando com isen- ção de tributos federais. O empreendedor paga apenas os seguintes valores mensais de acordo com sua atuação: 29DIREITO ORGANIZACIONAL Os valores são alternativos e não cumulativos, e serão destinados ao INSS e ICMS ou ISS. Os mesmos são corrigi- dos anualmente, tendo como base o salário mínimo nacional. O MEI pode contratar um funcionário, e caso opte por tal prática também terá custo inferior ao que suportam os outros modelos empreendedores vigentes em nossa legislação. Outra característica do MEI é a des- burocratização. Tal fenômeno é visto desde a inscrição para início das atividades até o seu encerramento. Não há necessidade de controle documental complexo, podendo ser realizado pelo próprio empreendedor toda a documentação necessária. Para fa- cilitar as práticas, ainda, há site com infor- mações, modelos e auxílio. A imagem faz alusão ao sentimento do empresário em busca de atender os trâ- mites de abertura e funcionamento de seu negócio. Enquanto os formatos tradicionais de empreender trazem rotinas burocráticas, parecendo um labirinto para o empresário, o MEI simplifica suas práticas. Os procedimentos relativos ao MEI são feitos através do site: http://www.por- taldoempreendedor.gov.br/ • R$ 45,00 para comércio ou indústria; • R$ 49,00 para quem atua em prestação de serviços; • R$ 50,00 para quem atua em comércio e serviços. Quer empreender? Veja o conteúdo que o SEBRAE disponibiliza! Veja o link. http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraeaz/com-o-sei-voce-aprende-a-cuidar-bem-de-seu-negocio,d4a9f925817b3410VgnVCM2000003c74010aRCRD 30DIREITO ORGANIZACIONAL EIRELI Conforme ensina Martins (2012, p. 348) “A empresa individual de responsa- bilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 vezes o salário mínimo vigente no país”. A imagem faz menção a caracterís- tica principal da EIRELI: Apenas uma pessoa compõe o quadro societário. Ainda assim, a responsabilidade dela é limitada à integralização do capital social, que, por sua vez, é igual ou superior a 100 vezes o salário mínimo. O modelo vem para ofertar configu- ração mais próxima da realidade e, assim, desmotivar a criação de Sociedades Li- mitadas com sócios que não participavam ativamente. O regulamento deste modelo de atuação determina ainda, que, somente poderá ser sujeito a pessoa física. Não pode ser sujeito na EIRELI a pessoa jurídica. 31DIREITO ORGANIZACIONAL SOCIEDADES COOPERATIVAS As sociedades cooperativas não são empresas, porém merecem atenção quando se trata de Direito Empresarial, posto que tem por objetivo a organização de esforços em comum para a obtenção de finalidade específica. Elas contam com personalidade jurídica própria. Além disso, conforme Martins (2012, p.341) “[...] os membros da cooperativa não têm subordinação entre si, mas vivem num regime de colaboração”. MODIFICAÇÕES NA ESTRUTURA DAS SOCIEDADES As sociedades podem durante sua existência alterar seu modelo através das chamadas reorganizações societárias. Ou seja, elas podem durante a sua trajetória sofrer alteração na sua estrutura. O fenô- meno é conhecido pelo senso comum como Fusões & Aquisições, porém conta com diversas fórmulas, de acordo com a preten- são dos envolvidos. Além das alterações geradas pelas aquisições, atualmente, es- sas mudanças na estrutura estão regradas pelo Código Civil e pela lei das Sociedades Anônimas – Lei 6.404/76 -. As alterações podem ser: a. Transformação: a sociedade passa de um tipo para outro (ex.: de LTDA para S/A) (art. 1.113 do CC). b. Incorporação: uma ou mais socie- dade são absorvidas por outra (art. 1.116 do CC). c. Fusão: unem-se duas ou mais socie- dades para formar uma terceira (art. 1.119 do CC). d. Cisão: a sociedade transfere patri- mônio para uma ou mais sociedades (art. 229 da Lei 6.404/76). TÍTULOS DE CRÉDITO O título de crédito é um documento necessário para o exercício do Direito, literal e autônomo, nele mencionado. Os títulos de crédito estão regulados pela Lei Uniforme de Genebra – LUG, Dec. 57.663/1966, pela Lei Nacional – Dec. 2.044/1908 – e pelo atual Código Civil. O art. 887 do Código Civil define os títulos de crédito como sen- do “[...] documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido”. Por expressa determinação desse artigo, o título de crédito “[...] somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei”. Serão alvo de nossos estudos os títulos de crédito mais usuais: letra de câmbio, duplicata, nota promissória e cheque. PRINCÍPIOS Coelho (2007) trata dos princípios dos títulos de crédito, quais sejam: • Cartularidade: Há a necessidade da cártula original, é a materialização do direito, no documento. Sem o do- cumento o credor não pode exigir o seu crédito. • Literalidade: a obrigação do deve- dor, o crédito do credor, deve estar 32DIREITO ORGANIZACIONAL literalmente no título. Só vale o que está escrito no título. • Autonomia: define a relação entre os participantes do título. Quem tem o direito de crédito não precisa provar a legitimidade. O credor nada precisa provar(processo de conhecimento). A presunção é de que o credor tem direito independente do seu ante- cessor. PRINCIPAIS TIPOS LETRA DE CÂMBIO É uma promessa de pagamento, em que o sacador dá uma ordem ao sacado para pagar determinada quantia em favor de alguém – tomador - que pode ser o próprio sacador ou um terceiro. Se o sacado se nega a pagar a letra de câmbio, o tomador pode cobrar diretamente do sacador. São requisi- tos essências da letra de câmbio, segundo o art. 1º da Lei Uniforme de Genebra (LUG): A imagem traz um modelo de Letra de Câmbio, valendo observar que em desta- que temos os elementos que são requisitos básicos. Se faltar qualquer um dos requisitos supracitados, não será considerado título de crédito, ou seja, perde a qualidade de título executivo. De acordo, com o segundo item, a quantia deverá ser determinada. O Decreto-Lei nº 857/69, em seu artigo 1º, estabelece que são nulos os títulos e qual- quer obrigação que estipule o pagamento em ouro, moeda estrangeira ou qualquer outro que restrinja a moeda nacional. A exceção é quando a obrigação venha de contratos de exportação ou importação (art. 2º do Decreto-Lei nº 857/69). A jurispru- dência tem aceitado se o valor expresso no título for em reais e o seu indexador for o dólar, por exemplo. I. a palavra “letra” inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título; II. o mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada; III. o nome daquele que deve pagar (sacado); IV. a época do pagamento; V. a indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento; VI. o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga; VII. a indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada; VIII. a assinatura de quem passa a letra (sacador). 33DIREITO ORGANIZACIONAL Caso exista, no título de crédito, con- tradição entre o numeral e por extenso, vale por extenso, quando confrontado os dois, vale o menor. Isso vale para todos os títulos de créditos (art. 6º Decreto nº 57.663/66). Os títulos de créditos podem ser aceitos com omissões, ou em branco, pois podem ser completados ou preenchidos pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protes- to. Sendo assim, o pós-preenchimento do título não gera a sua anulação, só será nulo se for preenchido de forma abusiva. A letra e os demais títulos de cré- ditos podem ser endossados. O endosso tem como característica a transferência do crédito e a garantia pelo pagamento. Com relação a garantir o pagamento, o Código Civil, em seu artigo 914, estabelece que o endossante não se responsabiliza pelo pa- gamento do título, salvo se for estipulado em contrário. Essa previsão contraria as demais leis extravagantes, Lei Uniforme de Genebra (LUG), Lei das Duplicatas, Lei do Cheque, dentre outras. Por isso, a maioria dos julgados responsabiliza o endossante pelo pagamento do título. O endosso parcial é nulo e não pode ser subordinado a qualquer condição (art. 12 LUG e 912 do CC). O endosso pode ser dado depois de vencido o título – endosso póstumo – (art. 920 do CC). O endosso pode ser dado em “preto” colocando no título o nome do endossatário, ou pode ser dado em “branco”, tornando o título ao portador. Há, ainda, o endosso mandato ou procuração que legitima a posse do título, sem transferir o direito ao crédito (art. 18 da LUG). O título pode ter restrição à circulação através do endosso quando constar a cláusula não à ordem, ou seja, o título não pode circular pelo endosso. O aceite, tratado nos art. 21 a 29 da LUG, é o modo pelo qual o sacado reco- nhece o débito e assume a obrigação de adimplir a obrigação. O aceite pode ser parcial, ou seja, vincula o sacado apenas na parte em que aceitou (art. 26 da LUG). O aceite deve obrigatoriamente ser dado no próprio título (art. 25 da LUG). O aval é uma garantia de pagamento do título de crédito (art. 897 do CC). O aval deve ser dado no verso ou no anverso do próprio título, ou seja, só é valido ser for escrito no próprio título de crédito (art. 898 do CC). Há solidariedade entre o avalista e o devedor principal, isso significa que o credor pode cobrar dos dois em conjunto ou de qualquer um deles isoladamente. Caso o avalista pague o título, ele pode cobrar de forma regressiva do avalizado (art. 899, § 1º do CC). O novo Código Civil exige que o cônjuge para prestar aval tenha a outorga uxória, desde que, não casados em regime da separação total dos bens, ou seja, o cônjuge tem que ter autorização do outro para ser avalista (art. 1647 do CC). Você sabia que nos contratos de Comércio Exterior a Letra de Câmbio é o documento que utilizado para viabilizar o recebimento dos valores negociados? 34DIREITO ORGANIZACIONAL Estabelece também o novo código que o aval não pode ser parcial (art. 897, parágrafo único do CC). É permitido que o aval seja prestado depois de vencido o título, produzindo os mesmos efeitos se tivesse sido dado antes do vencimento (art. 900 do CC). O pagamento é a forma pelo qual se extingue uma obrigação. O credor não é obrigado a receber o pagamento anteci- pado (art. 902 do CC). Mas o credor, no vencimento, não pode recusar o pagamento, ainda que parcial (art. 902, § 1º do CC). Quanto ao vencimento, há possibilidade de serem fixados quatro tipos de vencimento (art. 33 da LUG): à vista; a um certo termo de vista; a um certo termo de data; e pagável num dia fixado. A letra de câmbio prescreve em três anos. E poderá ser protestada, o protesto suspende a prescrição (art. 202, III do CC). O protesto tem que ser lavrado na praça de pagamento do título. Caso haja alguma irregularidade com o título apresentado a protesto, o juiz pode, a pedido do “devedor” determinar a sustação do protesto, ou seja, o devedor não terá o nome protestado. NOTA PROMISSÓRIA A nota promissória é uma promessa de pagamento, na qual o devedor – emitente – assume a obrigação de pagar determinada importância no prazo fixado. A nota pro- missória já nasce aceite, pois tem que ter a assinatura do emitente devedor. Segundo o artigo 75 da LUG, são os requisitos da nota promissória. Caso algum desses requisitos não seja preenchido, a nota promissória não produzirá efeito de título de crédito (art. 76 da LUG). São aplicáveis às notas promissó- rias, as mesmas normas da letra de câmbio, acima citadas, com algumas exceções, como é o caso do aceite, pois aqui não cabe (art. O que é outorga uxória? É a autorização ou participação expressa dada pelo cônjuge ao firmar documento e, assim, confirmar que tem conhecimento sobre determinado negócio. I. denominação “nota promissória” inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título; II. a promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada; III. a época do pagamento; IV. a indicação do lugar em que se efetuar o pagamento; V. o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga; VI. a indicação da data em que e do lugar onde a nota promissória é passada; VII. a assinatura de quem passa a nota promissória (subscritor). 35DIREITO ORGANIZACIONAL 77 da LUG). A nota promissória prescreve em três anos. DUPLICATA A duplicata é um título de crédito causal, ou seja, necessita de uma origem para ser emitida, pois tem que representar uma compra e venda – duplicata mercantil – ou uma prestação de serviço – duplica de prestação de serviço -. São requisitos essenciais da duplicata, segundo o art. 2º da Lei nº 5.474/68: A imagem traduz uma duplicata, apontando com destaque a existência dos requisitos determinados em legislação vi- gente: Pode-se fazer endosso de duplicata e é possível comprovar o adimplemento da obrigação pelo recibo, mas se deve verificar se o pagamento está sendo feito ao credor. A duplicata também comporta aval. A du- plicata prescreve em três anos. A duplicata mercantil exige o comprovante da entrega da mercadoria e a duplicata de prestação de serviço exigea comprovação da contratação do serviço e a prova efetiva da realização da prestação de serviço para que sejam execu- tadas judicialmente, caso não tenham sido aceitas pelo devedor. Também é necessário o protesto da duplicata para o ingresso de ação executiva. CHEQUE O cheque é uma ordem de pagamen- to à vista, regulado pela Lei nº 7.357/85 e Decreto nº 57.595/66 A Lei nº 7.357/85 enumera os re- quisitos essenciais do cheque (art. 1º). Caso falte algum desses requisitos, o documento não vale como cheque (art. 2º). São eles: I - a denominação “duplicata”, a data de sua emissão e o número de ordem; II - o número da fatura; III - a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista; IV - o nome e domicílio do vendedor e do comprador; V - a importância a pagar, em algarismos e por extenso; VI - a praça de pagamento; VII - a cláusula à ordem; VIII - a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite cambial; IX - a assinatura do emitente. 36DIREITO ORGANIZACIONAL Não é necessário protestar o che- que para se ingressar com ação executiva. O cheque não comporta aval parcial. O cheque não pode ser endossado de forma parcial. O cheque deve ser apresentado para pagamento no prazo de 30 dias da emissão, se for emitido na praça de pagamento ou no prazo de 60 dias caso seja emitido fora da praça de pagamento (art. 33 da Lei nº 7.357/85). O prazo da apresentação do cheque é prazo inicial para a prescrição, ou seja, o cheque prescreve em seis meses a ini- ciar da data final para a sua apresentação (art. 59 da Lei nº 7.357/85). Nos moldes do acima referido, o cheque é uma ordem de pagamento à vista (art. 32 da Lei nº 7.357/85). Contudo, o Superior Tribunal de Justiça – STJ – entende que a apresen- tação antecipada do cheque gera o dever de indenizar, tendo em vista que houve uma quebra contratual por parte do credor. EMISSÃO DE TÍTULO SEM ORIGEM Apesar da aparente fragilidade dos títulos de crédito e sua emissão, é crime emitir título sem a devida procedência. O artigo 172 do Código Penal (CP) ensina que: Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. I - a denominação “cheque” inscrita no contexto do título e expressa na língua em que este é redigido; II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada; III - o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado); IV - a indicação do lugar de pagamento; V - a indicação da data e do lugar de emissão; VI - a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais. 37DIREITO ORGANIZACIONAL O desrespeito determina pena de detenção de dois a quatro anos, e multa. O art. 172 do CP em seu parágrafo único reza que “Nas mesmas penas incorrerá àquele que falsificar ou adulterar a escritu- ração do Livro de Registro de Duplicatas”. NOÇÕES DE DIREITO FALIMENTAR E RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS (Lei n. 11.101/2005) FALÊNCIA A falência é considerada um processo de execução coletiva, em que todos os bens da empresa falida são arrecadados para uma venda judicial forçada – leilão. No momento em que ocorre a Fa- lência a empresa encerra suas atividades de forma definitiva. O produto da venda desses bens será distribuído proporcionalmente entre todos os credores. Somente o empresário ou a sociedade empresária, já estudado no nosso curso, pode ir à falência (art. 1º da Lei nº 11.101/08). Há algumas empresas que não podem falir, descritas no art. 2º da Lei nº 11.101/08. A falência caracteriza-se pela impontualidade, pela não nomeação de bens à penhora no prazo legal ou pela prática de um ato de falência (art. 94 da Lei nº 11.101/08). A impontualidade é evidenciada quando o devedor não paga título(s) exe- cutivo(s) protestado. Note que a lei exige que seja(m) protestado(s) o(s) título(s) de crédito(s). Além de ser protestado, o títu- lo ou títulos executivos tem que ter soma superior a 40 salários mínimos. Poderá também ser requerida a falência quando a empresa executada não paga, não deposita e não apresenta nos processos bens à pe- nhora para garantir a dívida no prazo legal. Ainda, poderá ser requerida a falência do empresário que pratique certos atos suspei- tos, aos quais chamamos atos de falência. Tais atos estão citados no art. 94 da Lei nº 11.101/05. O empresário, para não falir, terá o prazo de 10 dias para contestar o pedido de falência, podendo alegar como funda- mento as hipóteses do art. 96, ou requerer a sua recuperação judicial, nos termos do art. 95 dessa lei. Segundo o artigo 97 da lei, podem requerer a falência: JUÍZO REQUERENTE E VENCIMENTOS O juízo competente para julgar a falência é o juízo do local do principal es- tabelecimento do devedor, pois a sede é, em regra, o estabelecimento principal do devedor (art. 3º). Quando o juiz declara a falência, todos os processos da falida serão I - o próprio devedor; II - o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; III - o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade; IV - qualquer credor. 38DIREITO ORGANIZACIONAL suspensos, passando o juízo da falência a ser juízo universal, ou seja, o único competente para conhecer e decidir todas as questões de caráter econômico que envolvam o devedor falido. A falência apenas não suspende as execuções fiscais, as ações trabalhistas e as ações em que a falida for autora (art. 76). A falência produz o vencimento antecipa- do de todas as dívidas do falido. Portanto, mesmo aqueles que detenham títulos ainda não vencidos devem habilitar-se na falência (art. 77). MASSA FALIDA E TERMO LEGAL Massa falida é o conjunto do ativo e passivo da falida. A massa falida passa a ser administrada e representada pelo adminis- trador judicial nomeado pelo juiz. O Termo Legal, também chamado período suspeito, é o período de tempo que antecede à falência. Ele é fixado pelo juiz na sentença declaratória, geralmente 90 dias antes do primeiro protesto (prazo máximo). Vários atos praticados pelo falido dentro do termo legal não produzem efeito dentro da falência, como o pagamento de dívidas não vencidas e a constituição de garantias reais (art. 99, II). SITUAÇÃO DOS SÓCIOS Quem vai à falência é a sociedade e não os sócios, porém, podem ser arrecada- dos também os bens particulares de certos sócios, de acordo com a estrutura da socie- dade e obrigações patrimoniais dos sócios. Também haverá resquícios no patrimônio dos sócios quando eles faltarem com suas obrigações, especialmente no que tange à idoneidade de suas práticas ante a Socie- dade Empresária. O ADMINISTRADOR JUDICIAL A nova lei resolveu criar a figura do “administrador judicial”, substituindo o síndico (processos antigos falimentares) e o comissário (processos antigos de con- cordatas). Com a decretação de falência ou na recuperação judicial, o juiz nomeia um administrador judicial (art. 21). É função do administrador judicial, dentre outras, Na atual legislação Sai o SINDÍCO e o COMISSIÁRIO E entra o ADMINISTRADOR JUDICIAL 39DIREITO ORGANIZACIONAL representar a massa falida, arrecadar os bens do falido, prestar informações aos interessa- dos, elaborar relatórios, organizar o quadro geral de credores, promover a liquidação, vendendo os bens da massa falida e distri- buindo o produto entre os credores (art. 22). O administrador judicial será remunerado pela própria massa falida, não podendo a remuneração fixada pelo juiz ser superior a 5% do valor obtido com a venda dos bens da falida (art. 24). PROCEDIMENTOS E OBRIGAÇÕES DO FALIDO Logo após a declaração da falência, com a nomeação do administrador judicial, dá-se início à arrecadação dos bens da fa- lida. Com a nova lei, poderá dar-se início a venda do ativo antes mesmo de formado o quadro geral de credores (art. 139).Exis- tindo sócio solidário ou de responsabilidade ilimitada, o administrador deverá arrecadar também os seus bens. Uma vez declarada a falência e in- timado os falidos, eles devem comparecer em juízo e prestar informações sobre todos os negócios da empresa, assinando termo de comparecimento. Devem acompanhar o andamento da falência, devendo fiscalizar o administrador judicial da massa falida, sendo que o falido diligente poderá receber módica remuneração (art. 104). Certos atos praticados pela falida, anteriores à declaração da falência, são ine- ficazes perante a massa falida, se praticados pelo devedor com intenção de prejudicar credores mediante fraude. A lei indica, ain- da, outras hipóteses de atos ineficazes, tais como renúncia a herança até dois anos antes da falência (art. 129). Poderá o negócio da falida continuar a funcionar, mesmo após a falência, quando houver interesse dos cre- dores. Caberá ao administrador cumprir o contrato para diminuir ou evitar maiores prejuízos à massa falida (art. 117). CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS Os créditos dos credores são classifi- cados segundo a ordem do artigo 83, sendo o administrador judicial o responsável pela organização do quadro geral dos credores. A principal mudança trazida com a nova Lei foi a de que os titulares de crédito com garantia real (em geral bancos) passam a ter preferência sobre os credores fiscais. A intenção do legislador foi baratear os juros bancários. Esses créditos com garantia real figuravam na 5ª colocação na antiga Lei e passaram agora para a 2ª colocação. CRIMES FALIMENTARES O falido pode ser condenado por cri- me falimentar se praticar certos atos previs- tos na Lei, como por exemplo, o desvio de bens, ou qualquer outro fato fraudulento, de que resulte ou possa resultar prejuízo aos credores (art. 168 e seguintes). Termi- nada a venda dos bens e feita distribuição do resultado proporcional aos credores, o administrador judicial, no prazo de 30 dias, presta contas ao juiz que as julgará. Em seguida, o juiz dá sentença de encerramento da falência (arts. 154, 155 e 156). As obrigações do falido serão extin- tas, conforme a regra do artigo 158: 40DIREITO ORGANIZACIONAL RECUPERAÇÃO JUDICIAL É um processo que tem por obje- tivo o saneamento da crise econômica da empresa, buscando preservar a atividade econômica, seus postos de trabalho e os interesses dos seus credores. Diz-se que, uma vez recuperada, a empresa atenderá a sua função social (art. 47). Segundo estabe- lece o artigo 48, somente poderá requerer a recuperação judicial aquele que também puder falir, pois uma das consequências da recuperação judicial é a decretação da falência. Ainda, esse artigo enumera alguns requisitos: O pedido de recuperação judicial deverá conter, sob pena de não ser aceito (art. 51): I - o pagamento de todos os créditos; II - o pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de cinquenta por cento dos créditos quirografários, sendo facultado ao falido o depósito da quantia necessária para atingir essa porcentagem, se para tanto não bastou a integral liquidação do ativo; III - o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado do encerramento da falência, se o falido não tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei; IV - o decurso do prazo de 10 (dez) anos, contado do encerramento da falência, se o falido tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei. I - não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; II - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; III - não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; IV - não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei. I - a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira; II - as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas, especialmente, para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção; III - a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente; 41DIREITO ORGANIZACIONAL PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDI- CIAL Uma vez aceito pelo juiz, o pedido de recuperação judicial, o devedor terá o prazo de 60 dias para apresentar o plano de recuperação (art. 53). O devedor precisará atender a dois prazos na elaboração do plano de recupe- ração (art. 54). 1) no máximo de 1 ano para pagar os créditos trabalhistas e de aciden- tes de trabalho vencidos até o pedido de recuperação. 2) no máximo 30 dias para pagar, até o limite de 5 salários mínimos por trabalhador, os créditos de natureza salarial, vencidos nos 3 últimos meses antes do pedido. Caso algum devedor apresente obje- ção ao plano de recuperação, a assembléia- -geral de credores irá aprovar, com ou sem alterações, ou rejeitar o plano. Rejeitado o plano pela assembléia, juiz decretará a fa- lência (art. 56). O devedor deve apresentar, no prazo de 5 dias da aprovação do plano pela assembléia de credores, as certidões negativas de débitos tributários (art. 57). O plano de recuperação não pode ser alterado, é imutável. Se o devedor não cumprir com qualquer obrigação prevista no plano, o juiz transforma em falência (art. 61). Cumpridas todas as obrigações do plano de recuperação do devedor no prazo de 2 anos, o juiz decreta o encerramento da recuperação judicial (art. 63). O devedor não poderá durante o pedido de recupera- ção judicial vender ou onerar bens, salvo com autorização judicial ou se constar no plano de recuperação, sob pena de ser de- cretada a falência (art. 66). DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA DU- RANTE A RECUPERAÇÃO Com a nova lei, o devedor que requer a recuperação judicial ou a obtém e cum- pre rigorosamente o plano de recuperação IV - a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento; V - certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores; VI - a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor; VII - os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras; VIII - certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial; IX - a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados. 42DIREITO ORGANIZACIONAL ou terá a falência decretada. Fala-se que a recuperação judicial equivale a uma mesa de cirurgia, ou a empresa sai curada, ou a empresa sai morta (art. 73). RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL A nova lei possibilita que, se todos os envolvidos (devedor e todos credores) estiverem de acordo, a sociedade empresária não precisa atender a nenhum dos requi- sitos