Buscar

Relatório ambiental dos igarapés de Boa Vista-RR

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 60 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 60 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 60 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA 
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO 
CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA 
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL 
CURSO DE BACHARELADO EM ENGENHARIA CIVIL 
 
 
 
 
 
NELSON POERSCHKE 
 
 
 
 
 
 
 
RELATÓRIO AMBIENTAL DOS IGARAPÉS DE BOA VISTA-RR 
 
 
 
 
 
 
 
 
Boa Vista 
2011 
 
 
 
 
 
NELSON POERSCHKE 
 
 
 
 
 
 
 
RELATÓRIO AMBIENTAL DOS IGARAPÉS DE BOA VISTA-RR 
 
 
 
18 Jul 2011 
 
 
 
Trabalho apresentado como exigência da 
disciplina de Ecologia Geral do Curso de 
Bacharelado em Engenharia Civil da 
Universidade Federal de Roraima. 
 
 
 
 
 
 
 
Boa Vista 
2011 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 03 
2. RELATÓRIO......................................................................................................... 05 
8. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 51 
9. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................... 52 
 
 
 
01 INTRODUÇÃO 
 
O sistema de drenagem natural da cidade de Boa Vista é formado pelo Rio Branco e 
seus afluentes, sendo os principais, o Rio Cauamé e o Igarapé Grande. Além destes, o sistema 
de drenagem se compõe por uma densa e complexa rede de igarapés e lagoas que possuem 
regime permanente (perenes) ou temporário (intermitentes) durante o ano. 
Com a ocupação humana no decorrer dos anos, a cidade presencia atualmente um 
quadro quanto à preservação de seus recursos hídricos, em que muitos deles desapareceram e 
outros deixaram de ter regime perene e passaram a ser intermitentes (ex. igarapés Mirandinha 
e Pricumã), outros ainda se tornaram valas negras para escoamento de esgotos e depósitos de 
resíduos e entulho. 
 A Região Oeste da Cidade, apesar de concentrar a maioria das nascentes de igarapés 
que cortam o perímetro urbano e que são tributários ou afluentes do rio Branco, sofreu o 
avanço do perímetro urbano, o que levou ao comprometimento e/ou extinção de várias 
nascentes e leitos de igarapés, quer pela retirada da cobertura vegetal, quer por aterro para dar 
lugar a lotes residenciais. 
Esses desrespeitos à legislação ambiental muitas vezes contaram com o aval (ou as 
vistas grossas) de administrações e de políticas públicas eleitoreiras, como exemplo mais 
recente os Bairros Conjunto Cidadão e Brigadeiro, onde por vezes moradores foram 
assentados em lotes situados próximos do leito de lagoas ou nas áreas inundáveis de igarapés, 
causando transtornos e proliferação de doenças. Nesses casos, ao invés do assentado mudar-
se, o que ocorreu foi a retirada da vegetação e o aterro da área, principalmente com entulhos. 
Conseqüentemente à ocupação humana, esse corpo d’água, pela falta de infra-estrutura 
urbana para a coleta e adequado tratamento de esgotos sanitários e pluviais e ainda dado a 
proximidade de muitas casas, acaba por receber dejetos de toda espécie, alterando suas 
características físico-químicas com conseqüências diretas para a microflora e para os próprios 
moradores de seu entorno que dele se utilizam. 
 Nosso objetivo nessas aulas de campo é visualizar cada uma dessas alterações dos 
diversos ecossistemas formados pelas bacias dos principais igarapés comparando-as com os 
conhecimentos teóricos adquiridos em sala, sob a orientação da Professora Doutora Núbia 
Abrantes Gomes. 
 
 
 
02. AULA DE CAMPO 01 - BLOCO IV - UFRR 
 
 Nesta primeira aula de campo, verificamos as condições de plantio das árvores em 
torno do Bloco IV da UFRR. 
 Na oportunidade pudemos observar alguns equívocos nesse plantio na medida em 
que as árvores estão muito próximas umas das outras e, também, muito próximas do prédio, 
conforme se pode observar na figura 01. 
 
(Figura 01 – Bloco IV da UFRR) 
 Calculamos o raio da copa da árvore adulta e chegamos à conclusão de que o mesmo 
mede 3,5 m. Nesse pressuposto, as árvores deveriam ter sido plantadas a uma distância 
mínima do beiral do prédio, que excedesse o raio da árvore. 
 Nas condições em que foram plantadas elas provocam rachaduras nas calçadas e 
acumulam folhas no telhado 
 Ainda seguindo esse raciocínio, a distância entre as árvores deveria ser de, no 
mínino, 7 metros, o que não ocorreu, prejudicando o desenvolvimento das mesmas, 
provocando uma competição entre elas por espaço e luz, entrelaçando suas copas e fazendo 
com que fiquem tortas ou não se desenvolvam completamente. (Figura 02). 
 
(Figura 02 – Distância entre as árvores) 
 Verificamos outro erro grave na figura 03, a qual mostra a árvore plantada sob a 
fiação elétrica. Quando crescer, o movimento de seus galhos em volta da fiação poderá 
provocar acidentes e prejuízos à rede elétrica. 
 
(Figura 03 – Árvore sob a rede elétrica) 
 
03. – AULA DE CAMPO 02 - ENÊ GARCEZ E IGARAPÉ MECEJANA – 2 horas 
 
 Dando continuidade ao programa de aulas de campo, percorremos a Avenida Ene 
Garcez, estudando as peculiaridades do plantio de árvores e o Igarapé Mecejana. 
 Logo no início da visita, próximo à rotatória da Universidade Federal, já verificamos 
alguns problemas em relação ao plantio de árvores. 
 Como se pode observar na figura 04, essas árvores foram plantadas muito próximas à 
pista e estão crescendo tortas. Esse crescimento torto é provocado pela existência de árvores 
adultas muito próximas às recém plantadas, provocando nas mudas a necessidade de ir em 
busca de maior luminosidade. 
 
 
(Figura 04 – Rotatória da Av. Ene Garcez, na entrada da Universidade) 
 Além disso, se observarmos o tamanho dessa espécie, quando adulta, verificaremos, 
como mostra a figura 05, que o raio de sua copa é bem maior que a distância deixada entre os 
indivíduos jovens plantados à beira da pista. Isso provocará o entrelaçamento de seus galhos e 
mais competição por espaço e luz. Observa-se, também, ainda comparando com o indivíduo 
adulto da figura 05, que o diâmetro de seu caule, quando adulto, excede o espaço deixado para 
ele crescer, o que provocará uma elevação e rachaduras na calçada. 
 
(Figura 05 – Árvore adulta na rotatória da Av. Ene Garcez, na entrada da Universidade) 
 Deslocando-nos em direção ao centro da cidade, ainda pela mesma avenida, pudemos 
verificar que os equívocos já comentados se repetem ao longo da avenida. (Figura 06). 
 
(Figura 06 – Árvores plantadas ao longo da Av. Ene Garcez) 
 Ao longo da avenida verifica-se o plantio desnecessário de árvores à beira da pista, 
visto que já existem árvores adultas em número suficiente, no interior do passeio. 
 Seguindo mais em frente, próximo à praça Velia Coutinho, no interior do 
cartódromo, verificamos o início descoberto do Igarapé Mecejana. (Figura 07). Das suas 
nascentes até esse ponto todo o igarapé foi canalizado e coberto. 
 
(Figura 07 – Igarapé Mecejana – Início da parte descoberta) 
 Fazendo uma curva para a direita, passando sob a Av Ene Garcez, o igarapé segue 
paralelamente à Av Terêncio Lima. 
 Deste ponto em diante é que pudemos verificar as reais condições deste igarapé. 
Com a canalização, ele perde a capacidade de autodepuração e percebemos o aparecimento de 
cianofíceas. (Figura 08). 
 
(Figura 08 – Igarapé Mecejana sob a ponte da Av. Ene Garcez) 
 As cianofíceas, ou cianobactérias, são autotróficos fotossintéticos que requerem 
água, dióxido de carbono, substâncias inorgânicas e luz para se manterem. Dependendo da 
oferta de luz, fósforo, nitrogênio e outros poluentes orgânicos, sua população aumenta 
rapidamente contaminando a água. As cianotoxinas comprometem a vida aquática e a dos que 
têm ligação com as mesmas. Algumas destas são neurotoxinas bastante potentes e outras são 
tóxicas, principalmente para o fígado, sendo que há, ainda, aquelas que podem ser irritantes 
ao contato. 
 RAVEN et al. (1999) aponta que ambientes eutrofizados com altos níveis de 
nutrienteslevam ao crescimento de cianofíceas filamentosas. Estes organismos necessitam – 
em ordem de importância: de luz, carbono e nutrientes como nitrogênio e fósforo, sem os 
quais não se desenvolvem. 
 Na figura 09 vemos mais um flagrante do Igarapé Mecejana canalizado. Podemos 
perceber a eutrofização das águas e o aparecimento das cianofíceas. 
 
(Figura 09 – Igarapé Mecejana) 
 O Igarapé Mecejana é afluente do Igarapé Caxangá. O encontro acontece entre as 
avenidas Glaycon de Paiva e Ataíde Teive e será assunto abordado em capítulo posterior. 
 
04 – AULA DE CAMPO 03 – MUSEU INTEGRADO DE RORAIMA 
 
 Dando continuidade ao programa de visitas da disciplina de Ecologia Geral, 
visitamos o Museu Integrado de Roraima. 
 O Museu Integrado de Roraima, que faz parte da Diretoria de Pesquisas e Estudos 
Amazônicos da Fundação Estadual do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia de Roraima 
(Femact). 
 O Museu foi inaugurado, em 13 de fevereiro de 1985, no interior do Parque Anauá, e 
conta com um acervo permanente de objetos da cultura e material representativo dos grupos 
étnicos que habitam Roraima, Yanomami, Wai-Wai, Yekuana/Moingong, Macuxi, 
Taurepang, Ingarikó, Wapixana e Waimiri-Atroari. São artefatos arqueológicos e objetos da 
história cultural referentes à ocupação colonizadora da região. (Figura 10) 
 
(Figura 10 – Trabalhos em madeira e cerâmica) 
 Conta, ainda, com um acervo de várias espécies da fauna roraimense, principalmente 
quelônios (Figura 11), répteis e peixes. 
 O organograma da Diretoria de Pesquisas e Estudos Amazônicos (Museu Integrado 
de Roraima) é subdividia em três divisões que são: a Divisão de Pesquisa e Estudos 
Amazônicos; a Divisão de Documentação e Arquivo; e a Divisão de Divulgação e Educação. 
 Dentre as atribuições e competências dessa Diretoria, destaco as seguintes: 
 “II – pesquisar, resgatar, fiscalizar, preservar e divulgar o patrimônio natural e cultural 
roraimense, utilizando-se dos procedimentos didáticos integrados; 
IV – desenvolver Estudos e Pesquisa Cientifica que promovam o conhecimento de 
Roraima nas questões relativas às ciências naturais, estudos regionais e cultura; 
V – desenvolver atividades pedagógicas e educativas, articuladas ao diversos setores 
do museu, tornando o resultado das pesquisas científicas, bem como as atividades 
desenvolvidas pelos demais setores da FEMACT acessíveis ao publico visitante; 
VI – conservar o acervo museológico existente em Roraima, resguardando-o para 
posteridade;” 
 
(Figura 11 – Quelônios) 
 Prosseguindo a visita, tivemos acesso à vários documentos do acervo, dos quais 
destaco Estudos de Impacto Ambiental de diversas obras, entre os quais o EIA da Hidrelétrica 
de Cotingo. (Figura 11). 
 
(Figura 11 – EIA UHE Cotingo) 
 Em sequência visitamos o insetário, que abriga diversas coleções de insetos, entre as 
quais vimos com mais destaque o estudo de abelhas polinizadoras cujo objetivo é descrever a 
riqueza e a diversidade das abelhas em Roraima e mostrar sua importância para a fauna e flora 
da região, levando em consideração sua distribuição geográfica e seu papel como agente 
polinizador das espécies vegetais do Estado (Figura 12). 
 
(Figura 12 – Abelhas polinizadoras) 
 
 
 
05. – AULA DE CAMPO 04 - LAGO DOS AMERICANOS, IGARAPÉS TIRIRICA, 
JARARACA E CAXANGÁ 
 
 Lago dos Americanos 
 Nesta quarta aula de campo, no dia 07 de maio de 2011, iniciamos os estudos pelo 
Lago dos Americanos, localizado no interior do Parque Anauá. 
 Em virtude da época do ano, as águas estão bastante rasas e foi possível verificar a 
vegetação rasteira que prolifera no local em que na época das chuvas é alagado. (Figura 13). 
 A Cyperaceae tem espécies conhecidas popularmente como tiririca e piriri que 
servem de alimento para alguns animais. (GOMES, 2005). 
 
(Figura 13 – Lago dos Americanos) 
 Com as águas reduzidas a 1/3 do normal, foi observada muita lama e a presença de 
alguns seres vivos, como pássaros alimentando-se de moluscos. 
 
(Figura 14 – Molusco encontrado às margens do Lago dos Americanos) 
 O lago seca principalmente pelo bloqueio da entrada de água das nascentes e pelo 
depósito de esgoto e lixo, além da retirada total da mata ciliar, substituída por passeios e ruas 
calçadas, ocasionando a degradação. 
 Este lago é considerado oligotrófico, pois além de conter poucos nutrientes é provido 
de baixa eutrofização (NETO et al, 2003). 
 
 Igarapé Mirandinha 
 O Igarapé Mirandinha nasce no Lago dos Americanos (Figura 13) e segue no sentido 
sudoeste-nordeste passando pelos bairros dos Estados e Aparecida. Neste trecho o igarapé 
encontra-se totalmente canalizado até o cruzamento com a Avenida Ville Roy. A partir deste 
ponto o igarapé encontra-se na sua forma natura. Próximo ao cruzamento com a Avenida 
Getúlio Vargas tem seu volume de águas acrescido por um igarapé não denominado. Em parte 
do seu curso, o igarapé serve de divisor entre bairros Aparecida e Caçari, e no trecho final 
entre os bairros Canarinho e Caçari. 
 No total o igarapé percorre um trecho em torno de 3,5 km até desaguar no rio 
Branco, cerca de 1,4 km ao sul da foz do rio Cauamé. (RADAMBRASIL, 1975). 
 
(Figura 15 - Pequena comporta que regula a saída de água do lago do Parque Anauá para o 
Igarapé Mirandinha. (Tonello, 2006)). 
 Com sua nascente no Lago dos Americanos, o Igarapé Mirandinha tem seu fluxo de 
água da nascente regulado pelo homem por meio de uma comporta localizada no Lago dos 
Americanos. (Figura 15). 
 Ainda dentro do Parque Anauá já começa a canalização do Igarapé, mesmo que os 
níveis de poluentes neste local sejam relativamente baixos, o igarapé já se apresenta 
desfigurado, com pouca água e com presença de capim que indica já algum nível de 
eutrofização. (Figura 16). 
 
(Figura 16 – Igarapé Mirandinha dentro do Parque Anauá) 
 A aproximadamente 1 quilômetro da nascente, no Bairro dos Estados, o Mirandinha 
já apresenta altos níveis de eutrofização em virtude do lançamento de esgoto das residências 
do bairro e da perda da capacidade de autodepuração em virtude da canalização. 
 
(Figura 17 - Igarapé Mirandinha no Bairro dos Estados) 
 Nesse trecho sob a galeria, o calor e a evaporação da água provoca um efeito estufa. 
Da diminuição do volume de água e a não-diluição do despejo de esgotos, ocasionou-se um 
odor pútrido e proliferação de muitas bactérias. Dentro da galeria não observamos nenhum 
tipo de vegetação. Nesse trecho do igarapé, tanto dentro da galeria com fora dela, não 
detectamos a presença de peixes. 
 As cianofíceas (algas azuis) aparecem em grande quantidade nesse local, bem como 
a existência abundante de vegetação sobre o concreto comprova o nível alto de eutrofização 
das águas nesse ponto. (Figura 17). 
 
(Figura 18 - Igarapé Mirandinha no Bairro dos Estados) 
 Segundo FIGUEIREDO, 2007, a eutrofização das águas significa seu enriquecimento 
por nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, levando ao crescimento excessivo das 
plantas aquáticas, tanto planctônicas quanto aderidas, com conseqüente desequilíbrio do 
ecossistema aquático e progressiva degeneração da qualidade da água dos corpos lênticos. Um 
dos principais problemas relacionados à eutrofização é a proliferação de cianobactérias em 
detrimento de outras espécies aquáticas. Muitos gêneros de cianobactérias quando submetidas 
a determinadas condições ambientais podem produzir toxinas que chegam a ser fatais aos 
animais e aos seres humanos. 
 Seguindo adiante, no trecho entre a confluência das Avenidas Brigadeiro Eduardo 
Gomes e Capitão Júlio Bezerra até a Avenida Presidente Dutra, no Bairro Aparecida, o 
igarapé ainda possui um pequeno resquício de mata ciliar, absolutamente insuficiente. 
 Depois, da passagem sob a Rua Wai-Wai segue-se um trecho um pouco maior de 
mata ciliar, ainda insuficiente, mas o igarapé apresenta a partir daí um volume um pouco 
maior de água. 
 Seguindo pelo igarapé chegamos ao pontoonde as obras estão em pleno andamento, 
aliando a canalização do Mirandinha com a derrubada das árvores nativas que compunham a 
mata ciliar e plantio de grama e árvores ornamentais, que não pertencem à flora de Roraima, 
para a construção de uma praça de lazer e esportes. (Figura 19). 
 Neste local foi constatada a presença de um animal morto dentro do canal e o odor 
pútrido muito acentuado. 
 
(Figura 19 – Igarapé Mirandinha na altura da praça de esportes e lazer do Bairro Caçari) 
 “A Prefeitura de Boa Vista iniciou nesta semana os trabalhos de drenagem do 
Igarapé Mirandinha, na divida entre os bairros Caçari e Aparecida. As ações compreendem a 
construção de 400 metros de canal, instalação de luminárias, jardinagem, bancos e área para 
passeio.” (http://www.roraimaemfoco.com). 
 “A infra-estrutura de toda a praça está sendo feita para oferecer mais conforto e 
qualidade de vida aos moradores” (Nélio Borges, Secretário Municipal de Obras e 
Urbanismo). 
 “A Prefeitura de Boa Vista está investindo na qualidade de vida de todos os 
moradores da cidade. A praça fica às margens do igarapé Mirandinha, entre as ruas Laranjeira 
e Cupuaçuzeiro e terá 2.240 metros quadrados, com uma quadra de vôlei e futebol de areia, 
uma quadra poliesportiva, um módulo central, duas lanchonetes, palco para shows, 
playground e banheiros.” (http://www.roraimaemfoco.com). 
 Notícias como essas levam a população a acreditar que a canalização que está sendo 
feita é a melhor forma de tratamento possível para o problema dos esgotos nos igarapés, 
quando, na verdade, é um mascaramento do verdadeiro problema de saneamento existente na 
cidade de Boa Vista, a falta de canalização do esgoto. Esse é quem tem que ser tratado e 
canalizado, não os igarapés, os quais, se não modificados pela ação antrópica, tratam-se e 
sobrevivem muito bem sozinhos. 
 
 
(Figura 20 – Passagem do Mirandinha sob a Av Ville Roy) 
 A partir do ponto onde o igarapé passa sob a Avenida Ville Roy, ele segue seu curso 
natural. O que posso destacar, que chamou logo à atenção, foi que a poucos metros além da 
passagem sob a Avenida Ville Roy, agora com uma mata ciliar relativamente conservada, já 
se pode perceber o odor da autodepuração e a diminuição (pelo menos a olho nu) das 
cianofíceas. (Figuras 21 e 22) 
 
(Figura 21 – Igarapé Mirandinha entre a Av. Ville Roy e a Av. Getúlio Vargas) 
 
(Figura 22 – Igarapé Mirandinha na Avenida Getúlio Vargas) 
 
(Figura 23 – Igarapé sem nome que deságua no Mirandinha na Avenida Getúlio Vargas) 
 Na altura da Avenida Getúlio Vargas, encerramento do nosso estudo do Igarapé 
Mirandinha, ainda encontramos um pequeno curso d’água, altamente eutrofizado pelo despejo 
de poluentes, que deságua no Mirandinha. 
 Nessa aula de campo pudemos acompanhar o Igarapé Mirandinha desde sua nascente 
até bem próximo a sua foz e percebemos que a ação antrópica prejudicou duplamente esse 
igarapé. Primeiro com a ocupação desordenada, a derrubada da mata ciliar, a destruição de 
suas margens, o despejo de esgotos in natura. Depois, quando o poder público resolveu adotar 
medidas de saneamento, errou, também, ao optar pela canalização ao invés da revitalização. 
Desta forma o homem está duplamente em dívida com esse igarapé. 
 
(Figura 24 – Igarapé Mirandinha da nascente no lago dos Americanos à Foz no Rio Branco: 
Fonte Google Maps) 
 
 Na sequência fizemos uma rápida passagem pela margem do Rio Branco, na altura 
do Restaurante Marina Meu Caso, local que moradores de Boa Vista utilizam para colocar 
seus barcos n’água. Neste local pudemos visualizar um pequeno pedaço de mata ciliar. 
(Figura 25), preservada nas margens do nosso principal rio. 
 Em mais de um local estavam fixadas placas informando sobre essa área de 
preservação permanente, sob jurisdição federal, além da pena em caso de invasão. 
 
(Figura 25 – Mata ciliar às margens do Rio Branco) 
 
 Igarapé Tiririca 
 Na parte da tarde do mesmo dia, nos dirigimos ao Bairro Mecejana para começarmos 
o estudo sobre o Igarapé Tiririca, na intersecção das Ruas Raul Cunha com D. Pedro I. 
 Esse trecho é caracterizado principalmente pelo aterro da nascente e do canal do 
igarapé, pela urbanização na área aterrada e pela grande densidade de residências às suas 
margens, fato este que deve ter provocado a redução do fluxo de água no igarapé. 
 Para Maia (1998) as variadas formas de impactos, tais como: desconfiguração cênica, 
retirada da mata ciliar, influência no regime hidrológico e mudanças no microclima local, 
comprometeram acentuadamente o volume e o fluxo d'água do igarapé. 
 Relatório elaborado pela Prefeitura Municipal de Boa Vista (1998), sobre os recursos 
hídricos de Boa Vista, evidencia que a população residente nesse trecho também assume um papel na 
destruição dos pontos de equilíbrio natural do igarapé, no momento em que produziu significativos 
impactos negativos, tais como: assoreamento do seu leito, com o lançamento de detritos sólidos 
(sucatas, sacos plástico com lixo, restos de construção civil); instabilidade dos taludes (construção de 
residências e retirada da vegetação que o protegia); emissão de esgoto doméstico sem tratamento; 
construção de fossas séptica a menos de 5 metros do talude. 
 
(Figura 26 – Trecho canalizado e coberto do Igarapé Tiririca) 
 Com as nascentes completamente canalizadas e cobertas como vemos na Figura 26, o 
igarapé somente aflora a céu aberto depois de passar sob a Rua Dom Pedro I. (Figura 27). 
 O igarapé apresenta um forte mau cheiro e há a presença de cianofíceas em grande 
quantidade, comprovando a eutrofização desse curso d’água. 
 
 
(Figura 27 – Trecho canalizado descoberto do Igarapé Tiririca) 
 
(Figura 28 - A passagem do igarapé sob a Avenida Mário Homem de Mello) 
 
(Figura 29 – trecho após a Avenida Mário homem de Mello) 
A ocupação humana estende-se até as margens do igarapé, tendo como principal 
conseqüência a retirada da mata ciliar. 
 As pessoas precisam ser conscientizadas que o desmatamento provoca depredação 
dos igarapés e que os mesmos são fundamentais para manter o equilíbrio natural do meio 
ambiente. 
 Enquanto em alguns lugares são gastas enormes fortunas para construir lagos 
artificiais com a finalidade manter a umidade do ar e também humanizar ambientes inóspitos, 
aqui destruímos o que temos à mão e de graça. 
 Em toda a extensão do igarapé, da nascente até a confluência com o Igarapé Jararaca, 
o que veremos logo a seguir, ele se encontra canalizado. Sua mata ciliar completamente 
destruída e, onde não tem cimento, substituída por capim, lixo e dejetos. Sua autodepuração 
completamente incapacitada em virtude da substituição do solo natural por concreto. 
 Nota-se perfeitamente que canalizando o igarapé, o poder público se livra da 
necessidade de instalar uma rede de esgoto descente, já que transforma rapidamente em 
galeria de esgoto, um curso d’água permanente, que revitalizado, traria muitos benefícios para 
a população. 
VASCONCELOS (2005), aponta uma redução em 400 m da extensão total do igarapé 
Tiririca. 
 
 Igarapé Jararaca 
 Em seguida nos dirigimos à Avenida Venezuela, próximo ao Quartel do Corpo de 
Bombeiros, para ver o início não canalizado do igarapé Jararaca. 
 Da sua nascente até esse ponto o Jararaca está canalizado e coberto. Após passar sob 
a Avenida Venezuela termina a canalização e o igarapé segue em seu leito natural, mas o mau 
cheiro provocado pela deposição de esgotos clandestinos está presente. Nota-se a alta 
eutrofização verificando a vegetação que cobre quase completamente o curso d’água. (Figura 
30). 
 
(Figura 30 – Igarapé Jararaca na Avenida Venezuela) 
 O segundo ponto do Igarapé Jararaca visitado foi na ponte da Travessa Nicolau 
Hostmann (Figuras 31 e 32), onde percebe-se que após percorrer aproximadamente 850 
metros, com a presença de mata ciliar e as margens pouco habitadas a autodepuração foi 
possível. Embora não tenhamos feito umacoleta de amostras para estudo das reais condições 
da água, pode-se perceber a ausência de cianofíceas, o cheiro da autodepuração e até a 
presença de pequenos peixes. O volume d’água é superior ao observado no ponto da Avenida 
Venezuela, o que indica a presença de nascentes perenes, já que nos encontramos no período 
de seca, preservadas no espaço entre a Avenida Venezuela e a Travessa Nicolau Hostmann. 
 
(Figura 31 – Igarapé Jararaca na ponte da Travessa Nicolau Hostmann) 
 Pouco mais de cem metros a jusante da ponte começa a canalização e a 
aproximadamente 200m o Igarapé Jararaca encontra-se com o Tiririca formando, dessa 
confluência, o Igarapé Caxangá. (Figura 33). 
 Se compararmos a paisagem desolada de concreto da figura 33, abaixo, com as 
figuras 31 e 32, anteriores, consegue-se perceber a dimensão da destruição ambiental causada 
pela canalização. A margem do curso d’água é literalmente destruída, a mata ciliar substituída 
por terra nua e pedras. Depois plantam uma grama e dizem que a paisagem foi humanizada. 
Não se pode mais chamar esses dois cursos d’água de Igarapés. Daqui em diante são simples 
canais de esgotos. Não haverá autodepuração, os possíveis olhos-d’água foram encobertos por 
concreto, a água que percola das margens não consegue chegar ao igarapé. 
 
(Figura 32 – Igarapé Jararaca na ponte da Travessa Nicolau Hostmann) 
 
 
(Figura 33 – Encontro dos igarapés Tiririca, à esquerda, com o Jararaca, à direita) 
 Seguindo pela margem esquerda teremos a foz do Igarapé Mecejana, outro igarapé 
canalizado e altamente eutrofizado a somar mais dejetos no Caxangá. 
 Em sequência nos deslocamos para o bairro Caetano Filho, mais comumente 
chamado de Beiral, onde se localiza uma série de barracos á beira do Caxangá. É flagrante a 
ocupação desordenada da população. Não há qualquer cuidado com lixo nem tampouco com 
os dejetos humanos. O Igarapé que já vem com uma grande carga de poluição, ao chegar 
nesse ponte recebe, ainda, além de mais esgoto, toda gama de lixo sólido jogado diretamente 
no curso d’água e nas suas margens. (Figura 34). 
 
(Figura 34 – Igarapé Caxangá – Bairro Caetano Filho “Beiral”) 
 A poucos metros à frente encontramos a foz do Caxangá no Rio Branco. 
Testemunhamos o despejo de toda essa carga de poluição no principal rio de Boa Vista. 
(Figuras 35 e 36). 
 A cheiro pútrido já revela o alto grau de poluição e mesmo assim, embora as margens 
do Caxangá não sejam lugares aconselháveis para habitação, já que há um nível muito alto de 
contaminação, existe inúmeros casebres sobre palafitas, que todos os anos, na época das 
chuvas são alagados, e as crianças brincam nas proximidades do igarapé, correndo assim 
muitos riscos. 
 
 
(Figura 35 – Igarapé Caxangá – Bairro Caetano Filho – à montante da Rua Castelo Branco) 
 
(Figura 36 – Foz do Igarapé Caxangá – Bairro Caetano Filho – à jusante da Rua Castelo 
Branco) 
 
 
(Figura 37 – Vista da Bacia do Caxangá: Fonte Google Maps) 
 
 
06. AULA DE CAMPO 05 - IGARAPÉ AUAÍ GRANDE, ANEL VIÁRIO, IGARAPÉ 
CARANÃ 
 
 Dando prosseguimento às aulas de campo, em 14 de maio de 2011. 
 
 Aterro Sanitário 
 Nos dirigimos ao Aterro Sanitário com a finalidade de conhecer suas características e 
condições de funcionamento, o que não foi possível em virtude de que nossa entrada não foi 
permitida pelo pessoal da segurança. 
 O “Aterro Sanitário” localizado a aproximadamente 15 km do centro da cidade, foi 
inaugurado em 2002, após o fechamento do antigo lixão da cidade. Inicialmente a previsão de 
vida útil de 20 anos, mas atualmente cogita-se que o mesmo estará saturado com apenas 10 
anos de uso, o que deverá ocorrer, então, daqui a um ou dois anos. (Figura 38) 
 
(Figura 38 – Aterro Sanitário visto da BR 174) 
 Observando do ângulo fornecido pela Figura 38, com o fotógrafo colocado sobre a 
ponte do Igarapé Auaí Grande, na BR 174, o que se vê é uma montanha de lixo a céu aberto. 
Não se parece com o talude de um aterro sanitário. 
 Segundo o IBAM, 2006, é visível a falta de drenagem superficial nas células, que gera 
o encharcamento e a erosão dos taludes já conformados (agregado ao precário plantio de 
gramíneas); e muitas vezes gera a inviabilidade de disposição dos resíduos na célula e sua 
posterior compactação, sendo os caminhões obrigados a dispor os resíduos em outros locais. 
A falta de drenagem superficial ainda aumenta consideravelmente o volume de chorume 
produzido. 
 Ainda segundo o IBAM, 2006, a estação de tratamento de chorume (ETC) não fora 
concluída. O chorume drenado é acumulado em cisternas e bombeado periodicamente para as 
lagoas de estabilização. Há problemas visíveis na drenagem de chorume, na qual se observam 
manilhas rachadas, sem impermeabilização e poços de visita freqüentemente abertos o que 
certamente possibilita a infiltração de chorume no terreno, gerando contaminação. Não há 
nenhum tipo de monitoramento no aterro, e as obras de expansão estão sendo realizadas sem o 
acompanhamento do projeto, além da operação ser realizada sem que seja seguida por um 
manual de operação. 
 Não nos foi possível constatar se essas irregularidades foram saneadas porque nos foi 
impedido de entrar na área do aterro, mas se atentarmos para reportagem da Folha de Boa 
Vista, de 27 de maio de 2010, pode-se chegar à conclusão de que os problemas somente 
aumentaram. 
 “Um líquido altamente poluente proveniente da 
decomposição do lixo no Aterro Sanitário de Boa Vista 
vem atingindo o igarapé Auaí Grande, que passa ao lado 
do depósito de lixo e deságua no rio Branco. O material é 
conhecido por chorume e, conforme denúncia feita por 
leitor da Folha há quase duas semanas o líquido tem 
vazado do aterro e degradado o recurso hídrico. 
 Conforme estudos feitos por especialistas, o 
problema surge quando o aterro opera sem uma adequada 
impermeabilização das paredes e fundo, e sem um 
eficiente sistema de coleta e tratamento do chorume antes 
da sua destinação final. 
 A Folha esteve no local e confirmou a denúncia. 
Na lateral do aterro sanitário, um líquido escuro que 
exala mau cheiro escorre da parede de lixo amontoado. 
Seguindo o curso do material por entre o mato, constatou-
se que o líquido, o chorume, deságua no igarapé Auaí 
Grande”. 
(Folha de Boa Vista de 27 de maio de 2010) 
 
 O chorume é um líquido escuro e com mau cheiro, proveniente da decomposição 
(processos químicos, biológicos e físicos) de resíduos orgânicos (lixo), altamente 
contaminado. 
 
 
(Figura 39 – Recorte da Carta do IBGE – Boa Vista – Folha NA 20-X-D-II-(MI 54) 
 
 As diretrizes do EIA/RIMA não são cumpridas, tendo em vista que o tratamento do 
chorume no aterro ainda não foi implantado. Os recursos naturais do entorno do aterro 
sanitário não estão sendo monitorados conforme previu o RIMA e o laboratório construído no 
aterro para realizar as análises de controle do solo e da qualidade da água está abandonado. 
(RABELO, 2008). 
 Esse dado já havia sido constatado no relatório do IBAM, em 2006. “Há problemas 
visíveis na drenagem de chorume, na qual se observam manilhas rachadas, sem 
impermeabilização e poços de visita freqüentemente abertos o que certamente possibilita a 
infiltração de chorume no terreno, gerando contaminação”. 
 E acrescenta, ainda: “Não há nenhum tipo de monitoramento no aterro, e as obras de 
expansão estão sendo realizadas sem o acompanhamento do projeto, além da operação ser 
realizada sem que seja seguida por um manual de operação”. 
 Embora não tenhamos tido a oportunidade de verificar in loco, os estudos existentes já 
nos dão uma boa idéia das condições de funcionamento do Aterro Sanitário de Boa Vista. 
 
(Figura 40 – Aterro Sanitário. Fonte: Google Maps) 
 
 Igarapé Auaí Grande 
 Logo após a malograda tentativa de visitar as instalações do Aterro Sanitário, nos 
deslocamos para o igarapé Auaí Grande, a montante do aterro. 
 Neste local, o igarapé apresenta-se bastante preservado,com sua mata ciliar 
praticamente intacta, com ação antrópica bastante reduzida (apenas algumas poucas chácaras), 
as águas possuem boa qualidade e não se observa sinais de eutrofização. (Figuras 41 e 42). 
 Detectamos a presença de fungos mixomicetos (mixo = muco), que são também 
conhecidos como fungos gelatinosos ou amebóides, porque, na fase de crescimento, parecem 
protozoários, sem forma definida e sem parede celular. 
Crescem em galhos e folhas, fagocitando bactérias ou partículas de matéria orgânica, 
que são digeridas no interior do corpo (ao contrário dos outros fungos que fazem digestão 
extracorpórea). Os mixomicetos podem também absorver alimento digerido de matéria 
orgânica morta. Na fase de reprodução, formam esporângios e produzem esporos, como 
fungos típicos. O plasmódio pode atingir até 30 gramas e cobrir uma área de vários metros 
quadrados. Apresenta vários núcleos, mas sem divisão por parede celular. Todos os núcleos se 
dividem ao mesmo tempo. 
 Não tivemos a oportunidade de verificar as condições desse igarapé, a jusante do 
aterro sanitário. Mas segundo RABELO, 2008, a qualidade da água decresce no sentido 
montante-foz, à medida que recebe os afluentes (Figura 39) a partir do aterro para a foz, 
recebendo a classificação do Tipo 3, imprópria para balneabilidade. 
 
 
(Figura 41 – Igarapé Auaí Grande, a montante do Aterro Sanitário) 
 
 
(Figura 42 – Igarapé Auaí Grande, a montante do Aterro Sanitário) 
 
(Figura 43 – Bacia do Igarapé Auaí Grande. Fonte: Google Maps) 
 
 Anel Viário 
 O Anel Viário, que está inserido nas zonas sul/sudoeste do município, zonas estas 
que devem ser submetidas a um cuidado especial, quando da ocorrência de quaisquer 
intervenções antrópicas, se constitui em mais um exemplo de obra realizada sem levar em 
consideração os aspectos ambientais na região. 
 Segundo o IBAM, a obra foi executada sem ter sido feito uma Avaliação do Impacto 
Ambiental. 
 O resultado que se observa é a presença de taludes da via causando assoreamento das 
lagoas da região, e dos próprios dispositivos construídos para possibilitar a passagem hídrica 
sob a via. Figura 45). Alguns desses dispositivos foram implantados em cotas elevadas, 
impossibilitando por si próprios a comunicação hídrica sob a via. 
 Esse assoreamento e a própria construção da via como se deu, já começa a causar 
danos, visíveis a olho nu, à flora e fauna da região. Conforme observado pela Professora 
Núbia, (Figura 44) as veredas de buritis estão desaparecendo em alguns trechos, por causa da 
interrupção do fluxo dos corpos hídricos, e a fauna existente, principalmente nas cabeceiras de 
drenagem (lagoas) não consegue transpassar para os igarapés. (Figura 43) 
 
(Figura 44 – Buritis morrendo pelo represamento do igarapé) 
 
 
(Figura 45 – Passagem hídrica sob a via do Anel Viário) 
 Encontramos nesse curso d’água, macrófitas, espirógiras, (Figura 46) e alguns carás, 
peixes (Geophagus brasiliensis) que as utilizam como proteção. São peixes bastante tímidos, 
porém muito resistentes. 
 As plantas aquáticas conhecidas pelos pesquisadores como macrófitas aquáticas 
(macro = grande, fita = planta) são vegetais que habitam desde brejos até ambientes 
totalmente submersos. As macrófitas aquáticas são, em sua grande maioria, vegetais terrestres 
que ao longo de seu processo evolutivo, se readaptaram ao ambiente aquático, por isso 
apresentam algumas características de vegetais terrestres e uma grande capacidade de 
adaptação a diferentes tipos de ambientes (o que torna sua ocorrência muito ampla). 
 As algas espirógiras, que são muito freqüentes em ambientes de água doce. É um tipo 
de alga verde, não ramificada, constituida por células rectangulares que vive em ambientes de 
água doce, fundamentalmente em charcos e regatos. Têm um aspecto viscoso pois cada 
filamento é envolvido por uma bainha aquosa. 
 
(Figura 46 – Curso d’água próximo à estrada, no Anel Viário) 
 
 Igarapé Caranã 
 A nascente do Caranã é freática porque a água subterrânea está contida em um ambiente 
sedimentar (Formação Boa Vista) e onde o nível hidróstático com o advento do aumento do índice 
pluviométrico controla o surgimento de lagos nas depressões do relevo. Ela é difusa por apresentar-se 
em uma extensa área do terreno, onde surge naturalmente diversos lagos que ao se juntarem formam 
os seguimentos de canais que irão formar o curso d`água principal. Ela, ainda, é perene e intermitente, 
por apresentar oscilação do nível hidrostático em dois períodos bem definidos, um chuvoso e outro 
seco, com baixo índice pluviométrico, fazendo com que alguns lagos sequem no período seco, 
enquanto outros permaneçam. (CARVALHO et al, 2007). 
De acordo com Araújo (2004) o Conjunto Cidadão foi implantado em 1º de janeiro de 2003 
com a premissa de diminuir o déficit habitacional do Estado que era de 20 mil famílias, segundo dados 
do IBGE e de técnicos do setor de construção civil. Assim, procedeu-se a construção de 1.000 mil 
casas distribuídas em 33 quadras residenciais, sendo sua área total de 1.000.492 m², incluídas áreas 
verdes e institucionais. Em destaque na Figura 47. 
O loteamento está situado no bairro Senador Hélio Campos, periferia da cidade de Boa Vista, 
uma área que dista cerca de 14 Km do centro da cidade, onde se destaca a falta de equipamentos 
urbanos e infra-estrutura básica deficiente. 
O Plano de Controle Ambiental destaca que o loteamento está de acordo com a legislação 
vigente, apesar das dificuldades encontradas para a execução do projeto, destacando que na área 
central do loteamento possui duas depressões que no período chuvoso acumulava água. No entanto, 
para resolver este contratempo o referido plano sugere o seguinte: “As duas depressões receberão o 
mesmo tratamento que consistirá em um aterro de aproximadamente 2,0 metros de espessura para que 
se atinja a cota dominante da área que é de 99,50 que é a mesma cota que está implantada a Rua N21”. 
O referido plano salientava que as depressões não eram caracterizadas como sendo nascentes, 
embora mais adiante mencionava-se o igarapé Caranã como receptor destas águas. 
 
(Figura 47 – Bacia do Igarapé Caranã, em destaque o Bairro Conjunto Cidadão. 
Fonte: Google Maps) 
A resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº 303, de 20 de março de 
2002, que dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação de Permanente 
(APP), em seu Artigo 3º define o que constitui uma APP, em particular em seu item II quando diz que: 
“ao redor de nascente ou olho d`água, ainda que intermitente, com raio mínimo de cinqüenta metros de 
tal forma que proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte”. 
 Ocorre que o Conjunto Cidadão encontra-se dentro dessa área de abrangência. 
 A questão das moradias em áreas inundáveis merece especial atenção pelo fato de 
muitas vezes terem sido estimuladas pelo poder público, sendo através de respaldo 
(consignação do título de posse) principalmente durante os anos eleitorais, ou até através da 
construção de loteamentos irregulares, como fora o caso do Conjunto Cidadão (promovido 
pelo Governo do Estado) causando o aterramento de lagoas e igarapés. (IBAM, 2006). 
 Depois desse breve histórico para podermos nos inteirar das peculiaridades do 
Igarapé Caranã, passo ao relato da aula. 
 Próximo às nascentes do igarapé encontra-se a APAIMA - Associação de 
Professores, e foi por lá que começamos o estudo. 
 Em uma espécie de piscina no próprio igarapé verificamos a professora Núbia 
explanou sobre comunidades existentes nos habitats aquáticos. Dentre essas comunidades 
destacou o plâncton, o fitoplâncton e o perifíton. (Figura 48). 
 O plâncton é constituído pelos animais e vegetais que não possuem movimentos 
próprios suficientemente fortes para vencer as correntes que, porventura, se façam sentir na 
massa de água onde vivem. (OMORI & IKEDA, 1984). No nosso caso, o plâncton de águas 
doces (Limnoplâncton).O fitoplâncton é formado por organismos microscópicos vegetais, as algas 
planctônicas, que vivem suspensos na coluna d’água onde constituem a base dos ecossistemas 
aquáticos O fitoplâncton de água doce, em geral rico em algas verdes, compreende também 
diatomáceas, algas verdes-azuis e flagelados verdadeiros. Podem ser encontradas tanto em 
água doce quanto salgada. 
 
(Figura 48 – Flagrante da explanação da Professora Núbia) 
 Perifíton é uma fina camada de seres vivos, ou seus detritos, que colonizam 
superfícies sólidas em habitats aquáticos, tanto em água doce, como no mar. Foram 
inicialmente estudadas as associações que se acumulavam sobre as folhas submersas de 
macrófitas aquáticas ou de plantas terrestres vizinhas. No entanto, podem também 
desenvolver-se nas superfícies de rochas submersas nuas ou nas conchas e carapaças de vários 
animais aquáticos. (Wikipédia). 
 Na ponte da Avenida Carlos Pereira de Mello pudemos observar que, neste ponto, a 
mata ciliar encontra-se bem conservada, com frutos servem de alimentação para os peixes que 
sobem o igarapé para desovar. (Figura 49). 
 
(Figura 49 – Igarapé Caranã na altura da Avenida Carlos Pereira de Mello) 
 
 
(Figura 50 – Igarapé Caranã, no Bairro Jardim Caranã, próximo à sua foz no Rio Cauamé) 
 Depois fomos até o Balneário Caranã, no Bairro Jardim Caranã, que se encontra 
alagado pelo início da cheia que é peculiar da estação das chuvas. 
 É notório o descaso da população ao observarmos a deposição de lixo sólido, 
plásticos, restos de construção etc nas margens da rua e do Igarapé. Esse lixo todo, quando a 
estação das chuvas chegar e o nível da água subir irá ser transportado para o leito do Rio 
Cauamé e, posteriormente, para o Rio Branco. 
 Esta área toda é APP (Área de preservação Permanente), pois se encontra dentro da 
área de alagamento pelas cheias, protegida pelo Código Florestal, podendo ser utilizada pelo 
poder público, mas respeitando seu artigo 2º. 
A Lei 4.771/65 – Código Florestal (BRASIL, 1965) estabelece uma faixa mínima de 
30 m de preservação de mata ciliar para os cursos d’água de até 10 m de largura, como é o 
caso do Igarapé Caranã. Mas como se trata de área de várzea, a proteção é estendida até onde 
alcança as águas na época de cheias. 
A Lei Municipal 244 (BOA VISTA, 1991) em seu art. 38, V, reza que deve ser 
mantida uma faixa de preservação de mata ciliar de 70 m para o igarapé Grande, porém 
visivelmente percebe-se que o avanço da urbanização em vários pontos desobedece ambos 
normativos. 
 
 Igarapé do Frasco 
 Como última visita da dessa manhã, nos dirigimos ao Igarapé do Frasco na altura da 
ponte da BR 174. A mata ciliar do igarapé, na região próxima a BR foi totalmente derruba, 
ação em parte explicada pela necessidade de espaço na margens da rodovia. 
 Conforme a professora Núbia, a água do igarapé encontra-se com algum grau de 
eutrofização pelo despejo de esgotos clandestinos. 
 No local é possível perceber o cheiro de esgotos, mas em intensidade razoavelmente 
fraca. Não se pode afirmar que o igarapé esteja irremediavelmente comprometido pelo 
lançamento de esgotos. 
 Há presença de algas verdes, mas não de cianofíceas. A vegetação aquática ou 
anfíbia é composta por macrófitas como as montrichardias e as ludwigias. 
 A aninga (Montrichardia linifera) é uma macrófita aquática vastamente distribuída 
nas várzeas amazônicas e igualmente encontrada em diversos ecossistemas inundáveis como 
os igapós, margens de rios, furos e igarapés. (AMARANTE, 2009). 
 A ludwigia é anfíbia e cosmopolita. Ela aparece em ambientes úmidos, abertos e 
ensolarados como campos, cultivados ou não, beira de rios e açudes, beira de caminhos e 
estradas. 
 A montante da rodovia, existe uma área alagada. Aparentemente as águas estão 
represadas em virtude da galeria que passa sob a rodovia estar obstruída. Nesse local observa-
se que os buritis estão sendo prejudicados pelo nível alto das águas. 
 As algas espirógiras, também se fazem presentes nesse local, o que indica algum nível 
de eutrofização no igarapé. 
 
(Figura 51 – Igarapé do Frasco na BR 174) 
 
 
 
 
 
07. AULA DE CAMPO 06 - IGARAPÉ GRANDE, LAGOA DE ESTABILIZAÇÃO, 
VILA OLÍMPICA, IGARAPÉ PRICUMÃ, LAGO DO CACHORRO PODRE, LAGO 
GRANDE, IGARAPÉ WAIZINHO E LAGO AZUL 
 
 Na última etapa das aulas de campo, em 28 de maio de 2011, cumprimos extenso 
roteiro. 
 
 Igarapé Grande 
 Na ponte sobre o Igarapé Grande localizada na Rua Rio Afião iniciamos nossa aula 
de campo. Pudemos observar que, nesse local, as águas do Igarapé Grande ainda possuem 
uma boa qualidade, na medida que encontramos peixes, o perifiton e uma boa variedade de 
macrófitas aquáticas indicadoras da boa qualidade da água, como por exemplo as nicéias, as 
montrichardias e as ludwigias. 
 Além disso, a professora Núbia observou que o grande volume d’água do igarapé 
indica a presença de vários olhos-d’água que o abastecem. (Figura 52). 
 
(Figura 52 – Igarapé Grande, sob a ponte da Rua Rio Afião) 
 Na próxima parada, na Ponte da Rua San Vinte e Dois, já bem próximo à Lagoa de 
Estabilização, o igarapé apresenta um volume d’água ainda maior e sua mata ciliar bem 
conservada possui muitas espécies nativas. 
 A professora Núbia nos mostrou o ponto em que o canal da Estação de Tratamento 
de Esgotos (ETE) deságua no igarapé e frisou que a qualidade da água, atualmente está boa 
porque a estação está em reforma e consequentemente, não está lançando o esgoto tratado no 
igarapé. (Figura 53). Comentou, ainda, que na época em que a lagoa lançava efluentes, essa 
região do igarapé era extremamente povoada por cianofíceas. 
 
(Figura 53 – Igarapé Grande, sob a ponte da Rua São Vinte e Dois) 
 
(Figura 54 – Bacia do Igarapé Grande e, em destaque, a Lagoa de Estabilização) 
 Daí prosseguimos para a ETE. Para melhor entender o funcionamento da estação 
pesquisei no site http://www.caer.com.br e obtive as seguintes informações: 
 
 Lagoa de Estabilização (Estação de Tratamento de Esgotos) 
 
 Os Sistemas de Lagoas de Estabilização constituem-se na forma mais simples para o 
tratamento dos esgotos. Há diversas variantes dos sistemas de lagoas de estabilização com 
diferentes níveis de simplicidade operacional e requisito de área. 
 As lagoas de estabilização que operavam no Sistema de Esgotamento Sanitário de 
Boa Vista eram do tipo lagoa Anaeróbia seguida por uma Facultativa e três lagoas de 
Maturação. 
 No sistema anterior a primeira lagoa era anaeróbia, onde as bactérias fariam a 
decomposição da matéria orgânica sem a presença de oxigênio, já na segunda, a facultativa, 
possuía fitoplâncton na superfície e anaeróbia no fundo, e nas três de maturação somente uma 
diversidade grande de fitoplâncton. 
 O sistema não funcionou, pois com a grande quantidade de nutrientes houve a 
proliferação de cianobactérias, as quais inibiram o crescimento das outras, se tornando a única 
espécie presente nas lagoas. Isso provocou a turbidez criogênica, a quantidade de plâncton foi 
tão grande que impediu a penetração da luz, diminuindo a quantidade de algas no fundo e a 
oxigenação do ambiente e impedindo a decomposição da matéria orgânica. 
 
(Figura 55 – Construção das chicanas dentro de cada lagoa) 
 No novo projeto das lagoas foi incluída a construção de chicanas no interior das 
mesmas, o que fará que a água circule pelos corredores aumentando o tempo de retenção e 
permitindo a autodepuração. (Figuras 55 e 56) 
 Este sistema se completa com a construção das estações elevatórias que trará o 
esgoto dos diversos bairros da cidade para a ETE. 
 
 
 
(Figura 56 – Construção das chicanas dentro de cada lagoa) 
 Após completar esse ciclo a água será conduzida por meio de um emissário 
diretamente para o Rio Branco, não sendo mais utilizado o Igarapé Grande para essa 
finalidade. (Figura 57). 
 
(Figura 57 – Início do emissário) 
 
 
 Vila Olímpica 
 Logo na chegada já verificamos que oplantio de árvores foi feito de maneira 
equivocada, não respeitando a distâncias entre as mesmas levando em consideração a 
amplitude de seu raio quando adulta. (Figura 58). 
 
(Figura 58 – Espaçamento entre as árvores na Vila Olímpica) 
 No lago observamos que o nível de eutrofização é bastante alto, visto que o mesmo 
está totalmente coberto por vegetação, como podemos observar na figura 59, principalmente 
as alfaces d’água (Pistia stratiotes), uma espécie que cobre totalmente o ambiente aquático, 
desenvolvendo-se rapidamente nos ambientes poluídos e provocando profundas alterações no 
ecossistema. 
 
(Figura 59 – Lago da Vila Olímpica encoberto pela vegetação) 
 Há, também, como podemos perceber nesta saída de águas pluviais, o despejo direto 
de esgoto (Figura 60). 
 
(Figura 60 – Lago da Vila Olímpica) 
 Em consequência disso, observa-se uma grande quantidade de lixo sólido, 
principalmente plásticos, garrafas e latas. (Figura 61). 
 
(Figura 61 – Lago da Vila Olímpica) 
 
 
 Igarapé Pricumã 
 Na parte da tarde iniciamos as visitas pelo Igarapé Pricumã, a partir do ponto em que 
ele deixa de ser uma galeria e passa a ter canalização aberta, na Avenida Nossa Senhora de 
Nazaré, no Bairro Asa Branca. (Figura 62). 
O igarapé Pricumã está localizado a sudeste da zona urbana de Boa Vista, possui 
aproximadamente uma extensão de 5,7 km a partir de suas nascentes originais até foz até o 
Rio Branco, corta os seguintes bairros: Asa Branca, Jóquei Clube, Buritis, Cinturão Verde, 
Pricumã e 13 de Setembro. 
O processo de ocupação da área teve seu início com a implantação dos bairros 
Cinturão Verde, Asa Branca e Buritis (zona oeste de Boa Vista) a partir da década de 60, e 
mais tarde veio a se intensificar com as invasões principalmente ao longo do igarapé Pricumã. 
Segundo CHAGAS, 2005, até os anos 80, o igarapé Pricumã se caracterizava por 
apresentar riqueza e exuberância, no qual havia a intensa presença da mata ciliar ao longo do 
seu curso, fazendo com a comunidade das proximidades da área utilizassem o corpo hídrico 
para recreação. 
 
(Figura 62 – Igarapé Pricumã. Término da galeria e início da canalização aberta) 
 Como o igarapé está canalizado em forma de galeria (Figura 62) desde as nascentes 
até esse ponto, essas galerias funcionam como uma estufa, não obstante haver um 
considerável volume de água, acelera a fermentação ocasionando o mau cheiro e a 
proliferação das cianobactérias. 
Para que haja uma drenagem de um igarapé tem que ser feito um estudo da área que 
será drenada, através de um projeto chamado PCA – Plano de Controle Ambiental, e segundo 
os próprios moradores, os mesmos nunca foram consultados por nenhum órgão público, sendo 
informados apenas pelos outdoors que se encontravam com os valores da obra e a firma 
construtora. (FALCÃO et al, 2010). 
 
(Figura 63 – Igarapé Pricumã. Presença de cianobactérias e lixo sólido) 
 Constatamos que o igarapé recebe esgotos de toda a área circunvizinha e, por isso, 
encontra-se altamente eutrofizado, com presença de cianobactérias e lixo sólido em seu leito e 
nas margens e com odor característico de esgotos. (Figura 63). 
 
(Figura 64 – Entrada de galeria de águas pluviais no Igarapé Pricumã) 
 Em um ponto mais a jusante, agora na divisa dos bairros Pricumã e Cinturão Verde, 
observa-se a entrada de uma galeria de águas pluviais. Sabe-se muito bem que, na verdade, 
ela não se resume somente a águas pluviais, trazendo, também esgotos clandestinos 
depositados in natura. (Figura 64). 
 
(Figura 65 – Final do trecho canalizado na divisa dos bairros Pricumã e Cinturão Verde) 
 A Professora Núbia relata que mesmo nos bairros onde existe rede de esgoto 
instalada, há a deposição de esgotos clandestinos nos igarapés. Nesse caso, em um bairro que 
não possui rede de esgoto, o problema se agrava. Parte da culpa é do poder público, mas outra 
parte deve ser imputada à população. 
 
(Figura 66 – Igarapé Pricumã 100m após o término do primeiro trecho de canalização. 
 Alguns metros depois do término da canalização, já observamos o efeito da 
autodepuração. A água já melhorou a qualidade e o mau cheiro diminuiu. Observamos a 
presença de um olho-d’água bastante volumoso no leito do igarapé e, também, com muita 
nitidez a água percolando nas margens. Isso aumenta o volume de água no leito do igarapé o 
que ajuda a diluir as impurezas, auxiliando a autodepuração. 
 
Figura 66 – Igarapé Pricumã na área da 1ª Brigada de Infantaria de Selva) 
 
(Figura 67 – Igarapé Pricumã no Bairro 13 de setembro) 
Início do 2º trecho de canalização na Avenida General Sampaio, o que consideramos 
absolutamente desnecessário, pois embora tenha havido a retirada da mata ciliar do lado da 1ª 
Base Logística (Figura 67), pode-se perceber que o igarapé possui um bom volume de água e 
a região é bem afastada da urbanização. 
 
(Figura 68 – Igarapé Pricumã na sua foz no Rio Branco) 
 A foz do igarapé no Rio Branco forma uma área de abundante vegetação anfíbia 
(Figura 68) 
 
 Lagos do Cachorro Podre 
 
(Figura 69 – Lago do Cachorro Podre) 
 Do Igarapé Pricumã nos dirigimos ao bairro Nova Cidade onde visitamos dois lagos. 
Primeiro fomos levados ao Lago do Cachorro Podre. Esse Lago já foi perene, mas hoje é 
intermitente em virtude da ocupação humana que causou assoreamento em suas nascentes. Na 
época da seca, há um pequeno campo de futebol no local em que agora vemos um pouco de 
água. (Figura 69). 
 Constatamos a presença de molumbus, planta que germina na época das cheias e é 
flora característica de lagos perenes. 
 Pudemos visualizar, ainda, a presença de casulos de moluscos. 
 
 Lago Grande 
 Logo após fomos ao Lago Grande, ainda no bairro Nova Cidade. O lago está cercado 
e possui uma grande placa informando que é área de preservação, mas no terreno ao lado do 
lago, presenciamos vários locais de deposição de lixo sólido. Não pudemos constatar a 
presença de esgotos. (Figura 70). 
 
(Figura 70 – Deposição de lixo sólido no terreno do Lago Grande) 
 O Lago Grande possui ligação com o Lago do Cachorro Podre e mais dois outros 
lagos menores e todos juntos formas as nascentes do Igarapé Ingazinho. 
 
 
(Figura 71 – Deposição de lixo sólido no terreno do Lago Grande) 
 
(Figura 72 – Lagos no Bairro Nova Cidade. Fonte: Google Maps) 
 
 Igarapé Waizinho 
 No Igarapé Waizinho encontramos algum lixo sólido depositado no seu leito, mas 
nada que comprometesse a qualidade da água. De acordo com a Professora Núbia, é apenas 
uma contaminação visual, não contamina a água. A presença de peixes e de plantas como a 
montrichardia comprovam isso. 
 O volume d’água está em bom nível e a mata ciliar presente a ponto de se perceber 
até um decréscimo na temperatura nas proximidades do igarapé. 
 
 Lago Azul 
 O encerramento das aulas de campo se deu no Lago Azul, localizado na margem 
direita da BR 174, no sentido Manaus-Boa Vista, atrás da termoelétrica. Não foi possível 
perceber níveis de eutrofização do lago. Como já iniciou-se a temporada de chuvas o lago 
apresenta um considerável volume de água, mas pela vegetação ribeirinha podemos perceber 
que esse volume vai aumentar muito mais quando estivermos no meio do inverno. (Figura 
73). 
 
(Figura 73 – Lago Azul) 
 Dessa forma encerramos as aulas de campo. 
 
 
 
 
07. CONCLUSÃO 
 
A ação antrópica, causada especialmente pela ocupação populacional de forma 
desordenada, tem acarretado diversos problemas ambientais aos igarapés urbanos de Boa 
Vista, levando os gestores públicos a desenvolverem diversos tipos de ação nessas áreas, 
como por exemplo, a canalização de trechos de alguns igarapés. 
Infelizmente o estado de Roraima assim como outros estados, ainda não possui uma 
política de recursos hídricos, o que vem gerando o intenso processo de deterioração dos 
igarapés urbanos, levando as políticas públicas a não conseguirem resolver os problemas de 
ocupação ao longo das margens dosigarapés e a recuperação das áreas degradadas, no caso a 
vegetação ciliar. 
Atitudes como o protecionismo governamental, que muitas vezes possibilitou o uso 
indiscriminado do solo através da permissão do avanço imobiliário formal (loteamentos) e 
informal (invasões) em áreas ambientalmente inviáveis como o leito de rios e igarapés, 
atrelado à carência de saneamento básico sem perspectiva de melhora, precisam ser 
revertidas. 
Para reverter este quadro ou pelo menos estacioná-lo precisam ser tomadas ações 
responsáveis e articuladas em diversos níveis de governo e sociedade em busca do 
desenvolvimento da consciência ecológica local, da preservação e recuperação dos 
mananciais ainda existentes na cidade, sendo estabelecida uma política voltada para a 
sustentabilidade dos recursos hídricos e buscando restaurar o equilíbrio hídrico e ecológico 
local. 
 Nesse pressuposto, temo que demandará algum tempo, ainda, para que nossos 
políticos tomem as decisões baseados em estudos técnicos sérios. Por outro lado, vejo as 
crianças de hoje muito mais focadas no tema que a uma ou duas gerações passadas. A 
mudança de consciência de uma civilização não acontece de uma hora para outra e sim 
paulatinamente conforme vão se passando as gerações. Isso traz alguma esperança que em um 
futuro não muito distante esses problemas todos que relatamos nesse trabalho sejam coisas do 
passado. 
 
 
 
 
 
08. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 
 
SILVA, Ângela Maria Moreira. Normas para Apresentação dos Trabalhos Técnico-
Científicos da UFRR - baseadas nas normas da ABNT – Boa Vista: Editora da UFRR, 
2007. 108p. 
 
FREITAS, Aimberê. Geografia e História de Roraima. 7ª Edição. Editora IAF. Boa Vista. 
2009. 
 
CAVALCANTI, Agostinho Paula Brito; SANTOS Antonio Carlos dos. Análise do controle 
ambiental realizado no Igarapé Mirandinha, Boa Vista - RR, 1999. 
 
COSTA, Afonso Queiroz da; OLIVEIRA, Sandra Kariny S. de. Levantamento das comuni-
dades planctônicas das águas superficiais das margens do lago dos americanos – Parque 
Anauá – Boa Vista – Roraima - Brasil. 
 
NETO, Ângelo Peccini et al. Identificação ambiental das microbacias do município de 
Boa Vista e sua relação com as algas perifíticas. João Pessoa - PB - 2007 
 
FIGUEIREDO, Maria Cléa Brito de et al. Avaliação da vulnerabilidade ambiental de re-
servatórios à eutrofização. Engenharia Sanitária e Ambiental. Vol.12. Nº 4, páginas 399-
409. Fortaleza-CE. 2007. 
 
FERNANDEZ, O. V. Q & SANDER C. Aplicação de um protocolo simplificado de 
avaliação de hábitats aquáticos no Igarapé Caxangá, Boa Vista, RR. VI Simpósio 
Nacional de Geomorfologia. Goiânia-Go. 2006 
 
VASCONCELOS, Elilma Cordeiro de, VERAS, Antônio Tolrino de Rezende. Usos e abusos 
do meio ambiente urbano nas margens do Igarapé Tiririca, no bairro Mecejana – Boa 
Vista – RR. Acta Geográfica, Vol. 1, Nº 2. 2007. 
 
Prefeitura Municipal de Boa Vista. Programa de Recuperação dos Recursos Hídricos de 
Boa Vista (REVIVERDE). Boa Vista: 1998. Relatório de Consultoria. 
 
MAIA, R. Mecanismo de Proteção dos rios e igarapés do município de Boa Vista. Boa 
Vista: 1998. Relatório. 
 
IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal. Diagnóstico Municipal Integrado. 
PRODUTO 7. 2006. 
 
RABELO, Ana Maria Fernandes. Manejo dos resíduos sólidos de hospitais e riscos 
ambientais em Boa Vista-RR. Dissertação. UFRR. Boa Vista-RR. 2008. 
 
CARVALHO, João Quêndido Gomes; ARAÚJO Rosilene Nogueira de. Algumas consi-
derações sobre os impactos na nascente do Igarapé Caranã, Boa Vista, RR. Revista Acta 
Geográfica, Ano I, vol.1, pág. 95 a 103. 2007. 
 
RAMOS, Eder Paes et al. Estudo do fitoplâncton em um lago de águas brancas. Coorde-
nação de pesquisas em biologia aquática – Laboratório Max Planck. Manaus – 2003. 
 
FALCÃO, Márcia Teixeira et al. Implicações ambientais urbanas decorrentes das 
ocupações em fundo de vales: um estudo de caso na microbacia do Igarapé Pricumã em 
Boa Vista, RR. Simpósio. UFV. 2010.