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Medicina FTC – 2019.1 Catarina Viterbo AMEBÍASE Caso 3 O Sr. Emerson, 65 anos, vigia noturno há 40 anos, procurou a médica, Dra. Mércia, por estar sentindo-se fraco, sem disposição para o trabalho. Referiu emagrecimento de 12 Kg em dois meses e sensação de dispneia aos esforços médios, como andar no plano. Refere que sempre teve tosse, mas nos últimos três meses ela está produtiva, purulenta, algumas vezes com hemoptise. Na última semana, após carregar sacolas no supermercado, teve dispneia e ficou com uma dor no ombro. A dor irradia para a axila e escápula e o impede de realizar atividades com o braço direito. Interrogatório sistemático (IS): refere diarreia há um mês com dejeções em pequenas quantidades, oito vezes ao dia, com muco e sangue. É hipertenso e vem em uso de besilato de anlodipino 5 mg ao dia. AM: refere que teve algumas pneumonias na infância; perdeu um irmão por uma infecção pulmonar longa, tratado por vários meses. Sempre fumou, desde os 9 anos de idade, ensinado pelo pai, e atualmente fuma vinte cigarros por dia há 20 anos, principalmente à noite para se manter acordado. Ao exame físico: Dados vitais: PA: 140 X 90 mmHg; PR: 87ppm, rítmico, cheio; FR: 25ipm; temp.: 37,4oC; Estatura 1,66 m; Peso 46 Kg. Paciente lúcido, orientado, levemente dispneico, emagrecido, com aparência de doença crônica, idade aparente maior do que a referida. Pele: pálida, com presença de algumas placas avermelhadas, descamativas, em tronco, braços, cotovelos e pernas. Gânglios palpáveis em região supraclavicular e axilar à direita. Mucosas hipocrômicas ++/IV. TCSC: sem edema. Cabeça sem alterações de formato ou cicatrizes. Tórax: forma normal. AR: MV diminuído em ápice de pulmão direito com aumento do frêmito tóraco-vocal e macicez à percussão nesta região. ACV: Ictus no 5o EIE, LMC; BRNF sem sopros. Abdome: Escavado, com dor à palpação de flanco direito, sem visceromegalia, com RHA normais. Extremidades: dedos com dilatações tipo baqueta de tambor. Notada atrofia de músculos da mão e braço direito. Em 1924, Henry Pancoast descreveu “um aparentemente infreqüente tipo de crescimento, que ocorre na região apical do hemitórax” e produz “o fenômeno clínico constante e característico de dor (de distribuição de C8, T1 e T2), atrofia muscular do braço e síndrome de Horner”. Síndrome de Claude Bernard-Horner caracterizada por miose (diminuição do diâmetro da pupila), ptose discreta (queda da pálpebra superior por fraqueza do músculo de Müller), anidrose facial (ausência de transpiração na face e pescoço) e enoftalmia (afundamento do globo ocular dentro da órbita) em conseqüência da interrupção da atividade simpática. O quadro sintomático observado por Pancoast seria causado por neoplasia maligna derivada de células residuais da 5ª bolsa faríngea e localizada no “sulco pulmonar superior” e ele não considerava o câncer brônquico como entidade capaz de provocar a síndrome. Atualmente, sabe-se que a imensa maioria dos pacientes com esta síndrome tem carcinoma brônquico não de pequenas células como doença primária (carcinoma epidermóide é o mais frequente, seguido do adenocarcinoma). Além disso, foram descritos raríssimos casos em que a síndrome foi causada por carcinoma de pequenas células, processo benigno, metástases ou doenças neoplásicas extrapulmonares. AMEBÍASE A amebíase é a segunda principal causa de morte por parasito em todo o mundo. O protozoário responsável, Entamoeba histolytica, apresenta elevada patogenicidade. É capaz de secretar proteases que dissolvem o tecido do hospedeiro, matar suas células por contato, fagocitar eritrócitos e invadir a mucosa intestinal causando a colite amebiana. Protozoa, Philum Sarcomastigophora, ordem Aemoebida, família Entamoebidae e gêneros Entamoeba, Iodamoeba e Endolimax. Todas as espécies do gênero Entamoeba vivem no intestino grosso de humanos ou de animais, à exceção da E. moshkoviskii, que é uma ameba de vida livre. Gênero Entamoeba As espécies deste gênero foram reunidas em grupos diferentes, segundo o número de núcleos do cisto maduro ou pelo desconhecimento dessa forma: 1) Entamoeba com cistos contendo oito núcleos, também chamada grupo coli: E. coli (homem), E. muris (roedores). E. gallinarum (aves domésticas). 2) Entamoeba com cistos com quatro núcleos, também chamada grupo histolytica: E. histolytica (homem), E. dispar (homem), E. ranarum (sapo e rã), E. invadens (cobras e répteis), E. moshkoviskii (vida livre). 3) Entamoeba de cisto com um núcleo: E. polecki (porco, macaco e, eventualmente, humanos), E. suis (porco, para alguns sinonímia de E. polecki). 4) Entamoeba cujos cistos não são conhecidos ou não possuem cistos: E. gengivalis (humanos e macacos). Entamoeba histolytica (Shaudinn, 1903); E.hartmanni (Von Prowazek, 1912); E. dispar (Brumpt, 1925); Entamoeba coli (Grassi, 1879); Endolimax nana (Wenyon & O'Connion, 1917); Iodamoeba butschlii (Von Prowazek, 1912); Diantamoeba fragilis (Jepps & Dobell, 1918). A E. gengivalis vive na cavidade bucal. A E. histolytica é a única que em determinadas situações pode ser patogênica. As amebas citadas se distinguem umas das outras pelo tamanho do trofozoíto e do cisto, pela estrutura e pelo número dos núcleos nos cistos, pelo número e formas das inclusões citoplasmáticas (vacúolos nos trofozoítos e corpos cromatóides nos cistos). E. histolytica encontra-se distribuída amplamente em todo o mundo. Sua prevalência é maior nos países das zonas tropicais e subtropicais, onde a população é carente e é baixo o nível de saneamento. Suas formas evolutivas são: trofozoíto, cisto ou forma de resistência, pré-cisto e metacisto. CICLO BIOLÓGICO Os trofozoítos da E. histolytica normalmente vivem na luz do intestino grosso, são essencialmente anaeróbios, podendo, ocasionalmente, penetrar na mucosa e produzir ulcerações intestinais ou em outras regiões do organismo, como fígado, pulmão, rim e raramente, no cérebro. A locomoção se dá através de pseudópodes, e a ingestão de alimentos por fagocitose (partículas sólidas: hemácias, bactérias ou restos celulares) e por pinocitose (ingestão de partículas líquidas). A multiplicação ocorre por divisões nucleares e citoplasmáticas dos trofozoítos. É monoxênico e muito simples, por divisões nucleares. O ciclo se inicia pela ingestão dos cistos maduros em alimentos e água contaminados.Os cistos passam pelo estômago, resistindo à ação do suco gástrico, chegam ao final do intestino delgado ou início do intestino grosso, onde ocorre o desencistamento, com a saída do metacisto, através de uma pequena fenda na parede cística. Podem sofrer a ação da desidratação, eliminar substâncias nutritivas presentes no citoplasma, transformando-se em pré- cistos. Em seguida, secretam uma membrana cística e se transformam em cistos, inicialmente mononucleados. Através de divisões nucleares sucessivas, se transformam em cistos tetranucleados, que são eliminados com as fezes normais ou formadas. CICLO PATOGÊNICO Em situações que não estão bem conhecidas, o equilíbrio parasito-hospedeiro pode ser rompido e os trofozoítos invadem a submucosa intestinal, multiplicando-se ativamente no interior das úlceras. Enzimas, como as cisteíno-proteases e as metalo-proteases, são reconhecidamente capazes de destruir as células intestinais causando a invasão da mucosa intestinal. As proteases são consideradas um importante fator de virulência na patogenicidade de E. histolytica. ASPECTOS CLÍNICOS Formas assintomáticas - a grande maioria das infecções humanas pela E. histolytica, 80% a 90%, são completamente assintomáticas e a infecção é detectada pelo encontro de cistos no exame de fezes. Formas sintomáticas Colites não disentericas: manifesta por duas a quatro evacuações, diarreicas ou não, por dia, com fezes moles ou pastosas, às vezes contendo muco ou sangue.Pode apresentar desconforto abdominal ou cólicas, em geral localizadas na porção superior. Disentéricas: acompanhada de cólicas intestinais e diarréia, com evacuações mucossanguinolentas ou com predominância de muco ou de sangue, de tenesmo ou calafrio. O paciente apresenta inúmeras evacuações mucossanguinolentas, prostrações e grave desidratação. Frequentemente ocorrem perfurações do intestino, por vezes fulminantes. Ciclo patogênico O megacólon tóxico é uma complicação potencialmente letal da colite caracterizada pela dilatação cólica não obstrutiva, segmentar ou total (5,5cm diam.) associada a toxicidade sistémica. Carga parasitária elevada - Febre (>38,5ºC), anemia - desidratação, perturbação do estado de consciência, - distúrbio electrolítico e/ou hipotensão - distensão massiva e espessamento do colon - destruição do tecido - edema e trombose venosa - perfuração da alça intestinal - peritonite - alta mortalidade Aspectos clínicos Outros órgãos podem ser acometidos pela amebíase como os do sistema urinário, genital (podendo apresentar fístulas retovaginais), região perianal, pele e até osso, os quais são muito raramente observados. Diagnóstico Clinico: Laboratorial: parasitologico de fezes (objetivo identificar trofozoítos ou cistos), soro exsudato Parasitologico de fezes: método de Faust e cols. e método de Lutz, Hoffmam, Pons e Janer Métodos sorológicos: ELISA, imuno-fluorescência indireta, hemaglutinação indireta, contra-imuno-eletroforese, imuno-difusão em gel de ágar, radio-imuno-ensaio. Métodos sorológicos: pesquisa de coproantígenos pelo método de ELISA pode diagnosticar, com certa segurança, tanto cisto como trofozoíto nas fezes, mesmo que em pequenas quantidades, o que não seria facilmente detectado pelos exames de fezes comuns. Aspectos epidemiológicos Mais d e 10% da população mundial estão infectados por E. dispar e E. histolytica. Ocorrência estimada em 50 milhões de casos invasivos/ano. Em países em desenvolvimento, a prevalência da infecção é alta, 90% dos infectados podem eliminar o parasito durante 12 meses. Sua ocorrência está associada com condições inadequadas de saneamento básico, deficiência de higiene pessoal/ambiental e determinadas práticas sexuais Profilaxia Tratamento: atuam tanto na luz intestinal quanto a nível tissular metronidazol, tinidazol, omidazol, secnidazol, teclozan, etofamida. Mais recentemente, o nitaxozanida
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