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2ª AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA DO DIREITO – 2ª UNIDADE NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 1 AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA DO DIREITO – 2ª UNIDADE NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 1ª QUESTÃO (4,0 PONTOS) Ao longo do semestre, foram examinadas diversas influências estrangeiras que foram importantes para a construção do Direito brasileiro: romanas, portuguesas, francesas, estadunidenses. Para grande parte da doutrina, o Direito brasileiro se filia à tradição jurídica romano-germânica (ou da civil law), uma decorrência da colonização portuguesa e da implantação do Direito português no Brasil. Essa é a opinião de Pontes de Miranda, para quem o Direito brasileiro "(...) nasceu do galho de planta que o colonizador português – gente de rija têmpera, no ativo século XVI e naquele cansado século XVII em que se completa o descobrimento da América – trouxe e enxertou no novo continente." [DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes. Fontes e evolução do direito civil brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1981, p. 27]. Para Hermes Zanetti Jr., não seria possível chegar tão facilmente a esta conclusão [ZANETTI JR, Hermes. Brasil: um país de Common Law?. Disponível em: https://www.academia.edu/16745875/Brasilum_pa%C3%ADs_de_common_la w._As_tradi%C3%A7%C3%B5es_jur%C3%ADdicas_de_civil_law_e_common_l aw, sobretudo em razão da influência marcante do Direito dos Estados Unidos da América (vinculado à tradição jurídica da common law) a partir da instalação do regime republicano, quando instituições jurídicas do Direito constitucional americano inspiraram a formatação do novo regime político brasileiro. Para Fredie Didier Jr., considerando as características híbridas do Direito brasileiro, seria o caso, até mesmo, de se falar em uma tradição jurídica própria para o Direito brasileiro - um brazilian law - considerando as suas peculiaridades e as misturas de variadas tradições jurídicas na sua formação [DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, V. 1, 19a ed. Salvador: JusPodivm, 2017, p. 69]. Considerando a leitura do texto em anexo, a sua própria pesquisa, e levando em consideração o que se discutiu ao longo do semestre a respeito da educação jurídica no Brasil, as fontes do Direito, as influências conteudísticas sobre o Direito brasileiro etc., responda à seguinte pergunta: a qual tradição jurídica se filia o Direito brasileiro? OBS: esta é uma pergunta que não tem necessariamente uma única resposta correta. É importante que o aluno responda à pergunta apresentando argumentos relevantes para sustentar o seu ponto de vista. Instruções: 1. Cite os artigos e livros doutrinários que você utilizar para fundamentar a sua resposta. 2. O plágio ou cópia de trechos de artigos, livros ou outros materiais acadêmicos é proibido e poderá resultar em anulação total ou parcial da sua prova, a critério exclusivo do docente. https://www.academia.edu/16745875/Brasilum_pa%C3%ADs_de_common_law._As_tradi%C3%A7%C3%B5es_jur%C3%ADdicas_de_civil_law_e_common_law https://www.academia.edu/16745875/Brasilum_pa%C3%ADs_de_common_law._As_tradi%C3%A7%C3%B5es_jur%C3%ADdicas_de_civil_law_e_common_law https://www.academia.edu/16745875/Brasilum_pa%C3%ADs_de_common_law._As_tradi%C3%A7%C3%B5es_jur%C3%ADdicas_de_civil_law_e_common_law 2ª AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA DO DIREITO – 2ª UNIDADE NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 2 A história jurídica brasileira, abrange uma imensidão de influências que foram sendo firmadas ao longo do tempo, e que construíram o ordenamento tal qual temos hoje. Sem sombra de dúvidas, não há uma resposta única quando o questionamento diz respeito a quem influenciou ou auxiliou na consagração da evolução desse sistema. A conclusão é plural e, já traz uma clara ligação com o que fora exposto no comando da questão, quando se trouxe à luz das discussões a possibilidade de, segundo Fredie Didier Jr., considerando as características híbridas do Direito brasileiro, se falar em uma tradição jurídica própria para o Direito brasileiro, o brazilian law. No exercício de entendimento de qual seria a tradição jurídica ao qual o Brasil está vinculado, não há como deixar de lado um estudo a respeito de todo o seu processo de formação. O Brasil, na época em que fora colônia de Portugal, tinha suas bases jurídicas alicerçadas no direito que na metrópole predominava. Neste sentido, existia a divisão em Portugal entre o ius proprium, o direito próprio composto pelas leis de cada reino e costumes de cada povo e, o ius commune que intregrava o uso do Corpus Juris Civilis (direito romano) e o direito canônico. Remontando-se a este período, ressalta-se que houve um aumento expressivo das leis que exigiu uma compilação destas para facilitar a vida dos advogados e juízes, trazendo mais segurança jurídica: as Ordenações Filipinas. Não restam dúvidas da significante influência que o Direito Romano teve na regulação das relações em sociedade. Tal fato, é comprovado quando se analisa a influência das Ordenações Filipinas, que traziam o Direito Romano como fonte subsidiária ao se tratar de matérias não ligadas a “pecado”, integrando o ius commune (Direito Comum). Essa Ordenações, ainda que por inúmeras vezes alteradas, constituíram a base do Direito português até a promulgação dos códigos sucessivos do século XIX, ressaltando-se que muitas destas disposições tiveram vigência até o advento do Código Criminal de 1916. Outra prova desta influência do Direito Romano no Direito português, que consequentemente estava em vigor no ordenamento jurídico brasileiro, está de forma muito clara presente na obra de Perdigão Malheiro, “A escravidão no Brasil: ensaio histórico-jurídico-social”, publicado em 1866, que demonstrou esta interferência do sistema jurídico romano em orientar e subsidiar diversas temáticas no direito português em vigência no Brasil, em assuntos como a origem da escravidão, modos de ser escravo, estado, família, propriedade, pecúlio, obrigações, dentre outras temáticas nesse universo discutido. A partir do Direito Romano se viabilizou, por exemplo, as ações de liberdade. Neste caso, os escravos poderiam processar seus senhores para viabilizar sua liberdade. Estas, por sua vez, se dividiam em ações declaratórias de liberdade (escravo já livre que entrava com um processo para dizer que estava sendo infortunado pelo senhor), ações de liberdade constitutiva (escravo requerendo ser livre em, pro exemplo, uma situação em que o seu senhor morreu e deixou a liberdade para o escravo em seu testamento, mas que seus descendentes não aceitavam) e as ações de liberdade em que o escravo tentava arbitrar seu preço e comprar sua própria liberdade. 2ª AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA DO DIREITO – 2ª UNIDADE NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 3 Todo esse contato com o Direito Romano foi possível e influenciado pela grande influência do Direito Português no ordenamento jurídico do Brasil. O Marquês de Pombal, fez inúmeras mudanças em nosso ordenamento e, inclusive, alterações em partes das Ordenações Filipinas, que resultaram, em por exemplo, o fim dos estilos como fonte do direito. Por sua vez, o século XIX no Brasil, um período de grande e intensa modernização para o Direito brasileiro foi, para além do legislado, um momento de importantes atualizações jurídicas no tocante a Teoria do Direto e a compreensão teórica sobre o Direito em si. Foi possível ver o abando no das teorias eclesiásticas, uma substituição por um raciocínio de caráter mais naturalista, muito devido a influência da Lei da Boa Razão e da Teoria do Direito Natural, que estava em voga no sistema jurídico Europeu desde a segunda metade do século XVIII. O Direito alemão, teve também o seu papel, tal quando influenciou os estudantes de Direito da Faculdade de Olinda, que posteriormente deram início a Escola de Recife, uma escola de pensamento jurídico brasileiro muito influente no século XIX. No tocante as característicasdeixadas pelo modelo republicano que se instalou, nesse contexto de transição do 2º reinado para a República, o surgimento do controle de constitucionalidade difuso incidental foi uma exportação do Direito Estadunidense, que já tinha o “judicial review of legislation” como realidade. A própria escolha do estado federativo, criação de uma república presidencialista, o sistema de freios e contrapesos proposto por James Madison ao repensar a ideia de Montesquieu, foram também influências dadas pelos EUA. Ademais, das influências plantadas pelos Estados Unidos da América, não há como suprimir o fato da ideia de supremacia da constituição, como uma fonte do direito que está acima das demais leis e que foi consolidada em nosso ordenamento jurídico brasileiro com a República. Cita-se, neste momento, também, a faculdade de interpretação das leis destinada para o poder judiciário. As fontes do direito, dizem respeito aos diversos modos de manifestação da normatividade jurídica que exprimem os fatores econômicos, políticos, ideológicos e culturais presentes numa dada sociedade humana. Estas, por sua vez, podem ter sua origem ligada a duas tradições jurídicas, o Common Law, de origem anglo-americana ou o Civil Law, de origem romano-germânica. Em Portugal, o Civil Law tem seu lugar de protagonista, ao passo que nos Estados Unidos da América, as bases são fixadas pelo sistema de Common Law. Desde sempre, fomos um país influenciado tradicionalmente pelo Civil Law e pelo Positivismo (que prega, de um modo geral, a superioridade da lei e a desvinculação com a moral), tendo a lei escrita como fonte do direito. A própria Constituição Federal, expressa a origem romano-germânica do sistema jurídico-pátrio, com suas bases positivistas, com clara incorporação do modelo do Civil Law, tal qual expõe em seu artigo 5º que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei“. Contudo, como bem expressa a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, em seu artigo 4º: “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. 2ª AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA DO DIREITO – 2ª UNIDADE NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 4 Tal fato, demonstra que imersos nessas trocas potencializadas pela globalização, não houve como não aproximar esse modelo do Civil Law e Common Law em nosso ordenamento. De tal forma que, se observa um processo crescente de flexibilização da rigidez exigida pelo Positivismo em face de um maior poder de autonomia para o judiciário no processo de interpretação legislativa e valorização de precedentes judiciais. Essa aproximação, esteve presente em um cenário de maior constitucionalização do direito, fruto do Estado Democrático de Direito e do neoconstitucionalismo. Prova disso, é também, de forma muito clara, é a produção das petições iniciais no âmbito jurídico, em que não há somente uma exposição do direito, mas uma correlação com os fatos, as jurisprudências dos tribunais e outras possíveis discussões. Utilizamos a legislação, que é a principal fonte do direito dos sistemas jurídicos de Civil Law, e que é também a principal fonte do direito ocidental desde o contexto de pós revoluções liberais burguesas, as quais estabeleceram o modelo democrático de direito centrado na primazia da legalidade. Contudo, como já dito inclusive nos parágrafos acima, também nos apropriamos das jurisprudências dos tribunais, isto é, um conjunto de decisões judiciais no mesmo sentido, que criam um padrão interpretativo capaz de influenciar julgamentos futuros, que é, pois, um mecanismo importado do Common Law. A jurisprudência em nosso ordenamento, ganhou bastante ênfase com o advento do Código de Processo Civil de 2015, que trouxe uma espécie de “commonização” do direito brasileiro. Essas reiteradas decisões, acabam por criar enunciados interpretativos capazes de sintetizar a jurisprudência pacificada e amadurecida, as súmulas. Ademais, os costumes jurídicos, práticas sociais repetidas de natureza não escrita que oferecem padrões normativos para regular a vida humana em sociedade, também são utilizados em nosso ordenamento. A título exemplificativo, têm-se que a maioria das normas do Direito Internacional, são consuetudinárias. Outras são as fontes do direito que fundamentam o nosso ordenamento jurídico, que é, em regra, de tradição romano-germânica, isto é, de Civil Law. Contudo, é evidente que ao passar dos anos, temos nos aproximado cada vez mais de mecanismos utilizados no sistema de Common Law, muito devido ao aumento dos “hard cases” no sistema judiciário, em outras palavras, casos complicados que necessitam de estudo de não só aplicação do direito tal qual está escrito nos diplomas, mas uma análise dos precedentes e interpretações que tais casos têm recebido ao longo do tempo. A sociedade se transforma em um ritmo muito célere e querer puramente aplicar o que está escrito, sem um estudo de casos, antecedentes, interpretações e outros fatores, é não entender que o direito não é algo estático, mas dinâmico em sua essência. 2ª AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA DO DIREITO – 2ª UNIDADE NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 5 2ª QUESTÃO (6,0 PONTOS) A respeito da Constituição Imperial de 1824, responda: por que é possível afirmar que ela contemplou aspectos conservadores e modernizadores do Direito Brasileiro? Apresente, também, de forma fundamentada, pelo menos três exemplos de aspectos conservadores e três aspectos modernizantes da referida Constituição. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm Instruções: 1. Cite os artigos e livros doutrinários que você utilizar para fundamentar a sua resposta. 2. O plágio ou cópia de trechos de artigos, livros ou outros materiais acadêmicos é proibido e poderá resultar em anulação total ou parcial da sua prova, a critério exclusivo do docente. O século XIX, de fato, foi um período de grande modernização no direito brasileiro, até então ainda muito preso em tradições medievais e do antigo regime, para uma vertente do direito que aderia, pois, as atualizações jurídicas do mundo e as novas premissas valorativas, políticas e jurídicas que este cenário oferecia. Muitas dessas mudanças, para além de restritas a aquele contexto, se mantém até hoje presentes em nosso ordenamento jurídico e representam que, de forma clara, não foi uma ruptura qualquer, mas algo que produziu grandes efeitos a longo prazo, conforme será discutido no discorrer dessa questão. O esforço em transformar e atualizar o aparato legislativo brasileiro, partiu de um trabalho contínuo de abandono das velhas fontes, tais como as Ordenações Filipinas e as leis esparsas do antigo regime, para a criação de um direito escrito que trouxesse o direito brasileiro para o século XIX, na medida em que outros países já tinham um sistema jurídico muito mais atualizado e compatível com a sociedade daquele século. Sem nem mesmo que a independência tivesse sido proclamada, em 23 de junho de 1822, o príncipe-regente D. Pedro I convocou uma Assembleia Constituinte que viria a ser efetivamente instalada em maio de 1823, após a independência. O objetivo deste feito, era a formulação de uma constituição escrita que pudesse organizar um modelo monárquico representativo e reforçasse um poder centralizador. Entretanto, em meio a fortes tendências liberais revolucionárias, houveram contradições e divergências entre D. Pedro I e a Assembleia Constituinte, desencadeando um contragolpe conservador que dissolveu essa Assembleia e outorgou a Constituição do Império do Brasil em 1824. Insta salientar, que a marca dessa Constituição de 1824, estava amparada em progredir em alguns aspectos, assumindo voz bastante liberal, mas também em traços de conservadorismo e manutenção de velhas ordens. Como jáse sabe, de várias formas, D. Pedro I tentou legitimar esta Constituição como se o povo tivesse delegado a ele essa função de produção unilateral. Mas, na verdade, foi outorgada sem que tivesse qualquer tipo de movimento político nacional para legitimar esse texto constitucional. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm 2ª AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA DO DIREITO – 2ª UNIDADE NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 6 Esta Carta Magna, foi a responsável por firmar o Brasil como um Império, sob a égide de uma organização de Estado Unitário, dividido em províncias que eram administradas por um presidente de livre nomeação do Imperador, que apesar de deterem de alguma autonomia local, era em suma dependente da sede do Império no Rio de Janeiro. Consagrou um Governo Monárquico (um governo em que o Imperador é uma espécie de soberano), hereditário e constitucional, isto é, não seria uma monarquia absoluta, pois o governo estaria sujeito a uma constituição. Assim também estão todos os poderes, pessoas e órgãos estatais sujeitos as limitações dessa Carta Constitucional. Por fim, também operou em um governo representativo, onde o povo se faz representado por seus representantes em uma Assembleia Geral que une a Câmara dos Deputados e o Senado. Manteve a religião Católica Apostólica Romana como oficial no Império, tal qual expressa o Artigo 5º dessa constituição. Contudo, permitiu, ao menos em tese, o culto à outras religiões, desde que esse fosse realizado em ambiente doméstico e particular ou em casas específicas para tal que não possuíssem marca exterior indicando tal fato. Isso, claramente, demonstra o que foi dito anteriormente, das alternâncias entre modernidade versus conservadorismo, que foram propostas nesta constituição. Isso porque, no tocante a liberdade de cultos, configurou-se um grande avanço, haja vista que no período colonial, em um estado confessional, que tinha o catolicismo também com papel de oficialidade, outras religiões que fossem professadas, estariam sujeitas a processos no âmbito jurídico. Mas, também não foi uma modernidade em sua totalidade, pois ainda assim trouxe as restrições ditas acima, e a cobrança com relação a essas determinações de local para profecia, foi feita de forma distinta entre grupos religiosos. No tocante a matéria de cidadania, os critérios foram pela primeira vez fixados, conforme se pode observar no Artigo 6ª desta constituição. E, dessa forma, passou a se existir uma cidadania brasileira propriamente dita. Estabeleceu-se que, o estado de liberdade do indivíduo era um requisito para adquirir tal cidadania. Mais uma vez, reforça que houve uma atualização importantíssima ao se inserir essa cidadania no Brasil, mas uma manutenção de exclusão daqueles que ainda não possuíam liberdade, em um país que permanecia alicerçado na escravidão. Cabe ainda frisar, que ainda que detentores de liberdade, os libertos, isto é, aquele que embora possuísse já liberdade havia sido escravo em algum momento anterior, lidavam com uma situação jurídica com muito mais restrições do que os ingênuos (cidadão brasileiro livre desde sempre). Conforme demonstra o Artigo 6º, esta Carta Imperial deixou de impor como condição para ser cidadão brasileiro, a religião. Pela primeira vez na história do Brasil, tinha-se uma divisão constitucional de poder que decorria da limitação de um destes, conforme expresso no Artigo 10 desta constituição. Foi contemplado um 4º poder em relação a divisão feita por Montesquiéu: o poder moderador, que teria a função de mediação e intervenção nos demais poderes em face da possibilidade de choque entre eles. No tangente ao sistema eleitoral, este fora pensado para manter-se em si excludente. Isso porque, estabeleceu-se o voto para o poder legislativo (Assembleia 2ª AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA DO DIREITO – 2ª UNIDADE NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 7 Geral) no intuito de conferir um caráter popular à esta Carta, que se divida em eleições primárias e secundárias. Contudo, embora as eleições primárias fossem, teoricamente, permitidas a todos os cidadãos, ela trazia restrições que obrigavam o indivíduo a ter uma condição de liberdade, sem antecedentes criminais e com uma renda anual superior a 200 mil réis. Ainda nesse assunto, embora a Constituição tentasse trazer liberdade religiosa, ela exigia que os deputados que seriam escolhidos na eleição secundária, através da assembleia provincial, fossem católicos. Tal fato está amparado pelo Artigo 95 dessa Constituição. O poder judiciário, fora concebido para ser um poder independente, fato que fica bastante claro no início do Artigo 151º. Essa independência é inédita, na medida em que anteriormente a esse momento da história, o poder judiciário nunca havia nem mesmo existido, tinha-se a justiça, mas não como um bem jurídico independente. Também não existia em um momento anterior, uma separação entre a função de julgar e de administrar. Frisa-se, dessa forma, que a Constituição brasileira de 1824 trouxe importantes contribuições alicerçadas em modernizações do direito brasileiro, sob influência de diversos sistemas políticos no mundo, contudo, ainda sim, manteve, como dito anteriormente, restrições e marcas claro do conservadorismo, como a restrição do título de cidadão, exigência de deputados que professassem a religião oficial do Estado, mais restrições para os libertos do que para os ingênuos, proibição de culto de outras religiões não oficiais em ambiente que não privado, dentre outras questões que aqui foram citadas. 2ª AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA DO DIREITO – 2ª UNIDADE NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 8 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, V. 1, 19a ed. Salvador: JusPodivm, 2017, p. 69 MALHEIRO, Agostinho Marques Perdigão. A escravidão no Brasil: ensaio histórico- jurídico-social. v. 1. Rio de Janeiro: Typografia Nacional. PORTUGAL. Ordenações Filipinas. Universidade de Coimbra. Disponível em: http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/ordenacoes.htm. Acesso em: 25 mar. 2020. http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/ordenacoes.htm
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