Buscar

HOLANDA, Sérgio Buarque de O homem cordial In Raízes do Brasil

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Eder José Pereira de Carvalho
HOLANDA, Sérgio Buarque de. O homem cordial. In: Raízes do Brasil. 36ª ed. São Paulo: Companhia de Letras, 1995.
No Brasil, círculo familiar e família patriarcal, muitas vezes são confundidos com Estado. Sérgio Buarque afirma e reafirma que são completamente diferentes, explicando que um comportamento pessoal e familiar não funciona numa burocracia democrática, pois um é individual e o outro é coletivo, um é privado e o outro é público.
“O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades particularistas, de que a família é o melhor exemplo. (…) Há nesse fato um triunfo do geral sobre o particular, do intelectual sobre o material, do abstrato sobre o corpóreo e não uma depuração sucessiva” (p. 129).
Famílias patriarcais, que insistiam em educar seus filhos apenas para o círculo doméstico, tais famílias tenderiam a desaparecer, pela exigência da sociedade e as novas condições de vida.
 “Para o empregador moderno – assinala um sociólogo norte-americano – o empregado transforma-se em um simples número: a relação humana desapareceu.” (p. 130).
“O novo regime tornava mais fácil, além disso, ao capitalista, explorar o trabalho deseus empregados, a troca de salários ínfimos” (BUARQUE, pág. 142).
Naquela época o capitalismo já estava consolidado como modelo econômico social, e era considerando como o principal agente do esfriamento das relações humanas.
“No Brasil, onde imperou, desde tempos remotos, o tipo primitivo da família patriarcal, o desenvolvimento da urbanização – que não resulta unicamente do crescimento dos meios de comunicações, atraindo vastas áreas rurais para a esfera de influencia das cidades – ia acarretar um desequilíbrio social, cujos efeitos permanecem vivos ainda hoje.” (p. 135).
O Brasil não tinha estrutura econômica, política e social para desenvolver a indústria e o comércio. Os homens do campo que migravam para a cidade eram os mais importantes, os colonos que diziam que o trabalho físico não dignificava o homem, mas sim o intelectual. Assim, a vida na cidade se desenvolveu de forma desorganizada e prematura.
A urbanização no Brasil, irregular que foi, criou um desequilíbrio social.
“No “homem cordial”, a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio expansão para com os outros reduz o individuo, cada vez mais, à parcela social, periférica, que no brasileiro – como bom americano – tende a ser a que mais importa.” (p. 138).
O homem cordial é aquele que vem da família, é o homem hospitaleiro e generoso. No entanto, é apenas aparente, um disfarce que serve de defesa ante a sociedade, preservando a sensibilidade e emoções do indivíduo e mantendo sua supremacia ante o social.
A manifestação de respeito, por exemplo, aqui no Brasil, concretiza-se no desejo de estabelecer intimidade: os tratamentos pelo diminutivo ou pelo primeiro nome são exemplos disso. Dessa forma, é possível aproximar pessoas e objetos dos sentidos e do coração.
“O desconhecimento de qualquer forma de convívio que não seja ditada por uma ética de fundo emotivo representa um aspecto da vida brasileira que raros estrangeiros chegaram a penetrar com facilidade. E é tão característica, entre nós, essa maneira de ser, que não desaparece sequer nos tipos de atividade que devem alimentar-se normalmente da concorrência. Um negociante da Filadélfia manifestou que, no Brasil como na Argentina, para conquistar um freguês tinha necessidade de fazer dele um amigo.” (p. 140).
De tal modo, Sérgio Buarque destaca o homem cordial como sendo um grande problema social e político. Para ele o Estado não é uma continuidade da família, o autor faz essa referência, correlacionando às dificuldades de transições que o Brasil sofreu com a industrialização.
“A vida íntima do brasileiro nem é uma reação coesa, nem bastante disciplinada, para envolver e dominar toda a sua personalidade, integrando-a, como peça consciente, no conjunto social. Ele é livre, pois, para se abandonar a todo o repertorio de idéias, gestos e formas que encontre em seu caminho, assimilando-os frequentemente sem maiores dificuldades.” (p. 144).
A salvação para o Brasil, seria uma revolução que daria fim aos resquícios da história colonial e começar a traçar uma história brasileira, diferente, particular e moderna. Trata-se de adotar o ritmo urbano e elevar as camadas oprimidas da população, pois apenas estas poderão revitalizar a sociedade e propiciar novo sentido à vida política, já que são fisicamente melhores que a classe alta e também seriam mentalmente se as oportunidades fossem favoráveis, como seriam no caso da “revolução”. Porém, com a cordialidade, o brasileiro dificilmente chegará nessa revolução.

Continue navegando