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CONTABILIDADE CONTABILIDADE C O N T A B IL ID A D E ÉrICO ELEuTÉrIO DA Luz Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-3570-0 9 7 8 8 5 3 8 7 3 5 7 0 0www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Érico Eleutério da Luz Contabilidade IESDE BRASIL S/A Curitiba 2013 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br © 2013 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos auto- res e do detentor dos direitos autorais. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ __________________________________________________________________________________ L994c Luz, Érico Eleutério da Contabilidade / Érico Eleutério da Luz. - 1.ed. - Curitiba, PR : IESDE BRASIL, 2013. 252 p. : 24 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-3570-0 1. Contabilidade. I. Título. 13-0319. CDD: 657 CDU: 657 15.01.13 17.01.13 042181 __________________________________________________________________________________ Capa: IESDE BRASIL S/A Imagem da capa: Shutterstock IESDE BRASIL S/A Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Érico Eleutério da Luz Mestre em Contabilidade e Controladoria pela Universidade Norte do Paraná (Unopar). Especialista em Auditoria pela Faculdade de Administração e Economia (FAE). Especialista em Finanças pela FAE. Graduado em Ciências Contábeis pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná (FESP). Graduado em Direito pela Univer- sidade Tuiuti do Paraná (UTP). Leciona discipli- nas relacionadas a finanças e direito em cursos de graduação e pós-graduação, nas modalida- des presencial e a distância em diversas institui- ções. Trabalha como consultor na área contábil e jurídica. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io Contabilidade: aspectos introdutórios 13 13 | Contabilidade financeira 14 | Contabilidade tributária 16 | Contabilidade gerencial 24 | Plano de contas Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações 35 36 | Princípio da Entidade 37 | Princípio da Continuidade 37 | Princípio da Oportunidade 38 | Princípio do Registro pelo Valor Original 39 | Princípio da Competência 40 | Princípio da Prudência ou Conservadorismo Escrituração Contábil e Contas retificadoras do Ativo e do Passivo 53 54 | Obrigatoriedade da escrituração contábil 57 | Técnica de Escrituração 59 | Contas retificadoras do Ativo e do Passivo Demonstrações Contábeis: modelos de representação da situação econômica e financeira I 71 71 | Estrutura dos Relatórios Contábeis: Balanço Patrimonial Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Demonstrações Contábeis: Modelos de representação da situação econômica e financeira II 89 89 | Balanço Patrimonial: passivo – obrigações 96 | Critérios de avaliação 97 | Importante: diferença entre “reservas” e “provisões” Demonstrações Contábeis: Demonstração do Resultado do Exercício 105 105 | Modelo de representação da rentabilidade das empresas 105 | Demonstração do Resultado do Exercício Operações contábeis 121 121 | Controle de estoques 122 | Métodos de avaliação dos estoques quando da baixa das mercadorias por venda 126 | Depreciação 129 | Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io Demonstração do Resultado Abrangente e Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido 139 139 | Demonstração do Resultado Abrangente – DRA 143 | Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido – DMPL Demonstração dos Fluxos de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 159 159 | Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC 166 | Demonstração do Valor Adicionado Notas Explicativas e Parecer de Auditoria 181 181 | Notas Explicativas 183 | Conceito e evolução de auditoria 184 | Auditoria Interna e Externa 190 | Programa de Auditoria 191 | Procedimentos de auditoria 192 | Parecer da auditoria externa Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Indicadores de Gestão 205 205 | Análise econômica e financeira de empresas 207 | Metodologia da análise 219 | Análise da Gestão do Caixa 222 | Prazos Médios 223 | EBIT e EBITDA Consolidação das Demonstrações Contábeis 235 235 | Conceito e objetivo 238 | Técnicas de Consolidação 245 | Equivalência Patrimonial 246 | Juros sobre o capital próprio Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br C ontabilidade Apresentação Você tem em mãos um material que se propõe a contribuir para diversos conceitos inerentes à contabilidade, ou seja, está alicerçado na apreen- são, avaliação e reporte de informações financei- ras. A informação é a ferramenta mais eficaz para o adequado gerenciamento de um negócio. Perce- be-se, cada vez mais, a necessidade que os gesto- res têm de acompanhar o desempenho de sua ati- vidade, a rentabilidade dos ativos e a mensuração adequada do resultado empresarial. A contabilida- de se posiciona cada vez mais como um fantástico banco de dados cujo uso é imprescindível para a gestão de negócios. Está claro que grande parte dos problemas atuais das organizações é oriunda da ausência de dois produtos essenciais: controle e informação. Os capítulos do livro foram estruturados e dis- postos de forma que você, caro leitor, possa com- preender desde os conceitos iniciais, o processo contábil (captação e registro dos fatos econômi- cos) até a estruturação e análise dos relatórios. En- contrará também conceitos avançados, como consolidação, demonstração do valor adicionado e fluxo de caixa, porém se procurou dar a esses conceitos um tratamento mais objetivo e prático, facilitando a leitura e a compreensão para aplica- ção no dia a dia. Lembremos que os executivos devem estar preparados para, no mínimo, ler e in- terpretar relatórios que contenham dados relativos ao seu negócio. Nesse sentido, a contabilidade, em sintonia com a ordem econômica brasileira e mun- dial experimentou, nos últimos tempos, profundas transformações que se traduzem numa evolução constante, sempre tendo como objetivo principal proporcionar aos seus usuários a possibilidade de controlar seu patrimônio, estudando sua estrutu- ra e suas respectivas variações. Embora a contabi- lidade financeira ou societária seja regulada por normas e leis, as alterações ocorridas trouxeram Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br C ontabilidade uma certa aproximação entre o enfoque contábil societário e a contabilidadegerencial, sempre com o objetivo de aproximar cada vez mais a contabili- dade da gestão empresarial. A tecnologia da infor- mação fornece os meios para que isso ocorra, basta que os utilizemos da forma mais eficaz possível. Embora os conceitos expostos neste livro pare- çam um tanto técnicos e, portanto, de uso restrito pelos contadores, a contabilidade deve ser vista cada vez mais como uma ferramenta imprescindí- vel de todos aqueles que, direta ou indiretamen- te, estão envolvidos na busca do objetivo maior de uma organização: maximizar o retorno dos investimentos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Contabilidade: aspectos introdutórios Este capítulo trata dos conceitos iniciais relativos à contabilidade, suas principais abordagens, finalidades e usuários, enfocando aspectos dos im- pactos tributários e gerenciais na estrutura dos relatórios contábeis mais tra- dicionais, como o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado. Des- taca-se, inclusive, a importância do plano de contas, pois o conhecimento e o uso adequado das informações contábeis, sejam de natureza financeira, tributária ou gerencial, é dependente de uma estrutura e sequência lógica de contas contábeis. Contabilidade financeira Conceito É uma ciência que capta, registra, resume, analisa e interpreta todos os fatos ocorridos em determinado período e que afetam o patrimônio e o de- sempenho (resultado) de uma entidade. O artigo 176 da Lei 6.404/76, Lei das Sociedades por Ações, define: Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na escrituração mercantil da companhia, as seguintes demonstrações financeiras, que deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no exercício: I - balanço patrimonial; II - demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados; III - demonstração do resultado do exercício; e IV - demonstração dos fluxos de caixa; e (Redação dada pela Lei nº 11.638, de 2007). V - se companhia aberta, demonstração do valor adicionado. (Incluído pela Lei nº 11.638, de 2007). Objetivo O objetivo da contabilidade é o estudo visando ao controle do Patrimô- nio e do Resultado das entidades, sejam elas de fins lucrativos ou não. Sendo assim, o Patrimônio é o objeto da Contabilidade. O objetivo será cumprido 13Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 14 Contabilidade: aspectos introdutórios 1515 quando os usuários tiverem acesso ao conjunto de informações financeiras que deverão estar contempladas nos relatórios listados anteriormente. Campo de aplicação As técnicas de contabilidade aplicam-se a todas as entidades que necessi- tem de informações acerca de sua situação econômica e financeira, indepen- dentemente de porte, tipo de atividade ou regime tributário a que estiverem sujeitas. Finalidade Prestar informações visando ao controle e ao planejamento de um deter- minado Patrimônio. Controle � : através dos relatórios contábeis, o administrador certifica-se de que as metas estabelecidas para a consecução dos seus objetivos estão sendo cumpridas. Planejamento � : o sistema contábil deve integrar-se ao plano orça- mentário, permitindo a comparação entre os valores orçados e os realizados (extraídos da contabilidade) e, dessa forma, permite que a administração possa agir rapidamente no caso de não atingimento de qualquer objetivo. Contabilidade tributária O enfoque tributário da contabilidade concretiza-se no registro contábil das provisões relativas aos tributos a recolher, em obediência aos Princípios de Contabilidade e às regras fiscais. A Contabilidade Tributária tem a respon- sabilidade de informar, de forma correta e tempestiva, os valores das pro- visões de tributos, ocupando-se também da escrituração dos documentos fiscais em livros próprios ou registros auxiliares, para apurar e determinar o montante dos tributos a serem recolhidos. Mas, sem dúvida, um dos objeti- vos mais nobres da contabilidade tributária é prestar orientações adequadas aos diversos setores da empresa acerca da legislação tributária e suas altera- ções, bem como de possíveis planejamentos fiscais que possam ser feitos e que ofereçam, dentro da legalidade, ganhos para todos os envolvidos, sejam filiais, departamentos ou sociedades participantes de um grupo econômico. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 15 Contabilidade: aspectos introdutórios 15 Uma gestão tributária responsável compreende o cuidado com políticas e ações que visem reduzir o impacto dos tributos no resultado e no caixa das empresas, porém sempre com a observância dos princípios e normas fiscais. A busca constante da elisão fiscal, que compreende o planejamento tributá- rio, deve superar a visão imediatista e insensata da evasão, posto que esta é proibida e reside na simples burla da legislativa tributária. O emaranhado de leis, normas, resoluções e outros tantos tipos legislati- vos que compreendem a estrutura tributária brasileira, por vezes dificultam o estudo e a análise dos efeitos fiscais sobre o patrimônio e o resultado das entidades. A contabilidade tributária deve contribuir com conceitos tributá- rios e contábeis que possam, de maneira conjunta, auxiliar na compreensão e na definição de políticas que conduzam a uma gestão tributária eficaz. O controle estatal sobre a arrecadação está se aprimorando a passos largos, com a informatização de controles e informações sobre contribuin- tes e tributos. É imprescindível, portanto, que o gestor tributário entenda do negócio com o qual está envolvido e tenha uma considerável compreensão da contabilidade financeira e dos efeitos tributários das operações. A conta- bilidade tributária é, em essência, a combinação adequada entre a legislação tributária e a legislação contábil societária. A legislação relativa aos tributos no Brasil tem como fonte originária a Constituição Federal. É na Carta Magna que estão os princípios basilares que norteiam a relação fisco/contribuinte para, quiçá, frear o ímpeto arrecadatório do Estado. Os princípios e normas, notadamente constitucionais, são fundamentais para a compreensão e apli- cação das regras da contabilidade tributária. Sem o conhecimento da legis- lação tributária e dos seus enunciados, a prática da contabilidade tributá- ria arrisca-se a ser uma mera escrituração, sem o aproveitamento de todo seu arcabouço teórico e, obviamente, sem a obtenção do resultado que se almeja, ou seja, uma adequada gestão tributária visando a uma economia com o pagamento de tributos, porém sem o risco de se adotar medidas fis- cais que possam levar a futuras autuações por parte do Fisco. As organizações de qualquer porte e atividade buscam sempre a raciona- lização dos gastos, sejam estes de qualquer natureza. O impacto tributário na estrutura de custos e no fluxo de caixa das empresas é alvo de constante preocupação e ações visando minimizá-lo. A contabilidade tributária com- preende a junção dos aspectos contábeis com os aspectos tributários. Por- tanto, há que se ter uma compreensão adequada desses conceitos para que a gestão tributária possa ter eficácia. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 16 Contabilidade: aspectos introdutórios 1717 Contabilidade gerencial A contabilidade gerencial refere-se a uma abordagem diferente daquela que caracteriza a chamada contabilidade financeira. Teve origem na neces- sidade de controleque os proprietários e gestores tinham de seus negócios. Essas necessidades continuam extremamente atuais, pois verifica-se que sua razão de ser é o apoio ao processo decisório empresarial. Histórico A contabilidade, como elemento de controle de uma riqueza, teve origem há aproximadamente 10 000 anos. Interessante observar que na sua origem, embora de forma rudimentar, ela servia a propósitos específicos como meio de controle do patrimônio. Antes do surgimento da moeda, do valor como hoje o conhecemos, da propriedade e até mesmo da escrita, o homem já se preocupava em separar e assegurar um domínio sobre elementos que lhes eram essenciais. A evolução da contabilidade ocorre na esteira da evolução da própria sociedade. Como o objetivo neste momento não é discorrer lon- gamente sobre aspectos históricos, pode-se considerar que o sistema contá- bil voltado para a gestão da empresa teve sua prática efetivamente levada a efeito a partir da Revolução Industrial, na Inglaterra. Para o Ricardino (2005), é difícil precisar quem criou a expressão mana- gement accounting (contabilidade gerencial), embora possamos considerar que esse termo tenha sido desenvolvido posteriormente à Segunda Guerra Mundial para descrever o fornecimento de informações estatísticas para pro- pósitos de planejamento, decisão e controle. Entretanto, é no fim do século XIX e início do século XX, nos Estados Unidos, que percebemos uma pre- ocupação das corporações com medições e controles para fins gerenciais. Kaplan e Johnson (1987, p. 18) trazem essa perspectiva quando afirmam que “a contabilidade gerencial surgiu pela primeira vez nos Estados Unidos, quando as organizações comerciais, em vez de dependerem dos mercados externos para trocas econômicas diretas, passaram a conduzir trocas econô- micas internas”. Clóvis L. Padoveze (2000) informa que o campo da atividade organiza- cional abarcado pela contabilidade gerencial foi desenvolvido através de quatro estágios reconhecíveis. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 17 Contabilidade: aspectos introdutórios 17 Estágio 1 – antes de 1950, o foco era na determinação do custo e con- � trole financeiro, através do uso das tecnologias de orçamento e conta- bilidade de custos. Estágio 2 – por volta de 1965, o foco foi mudado para o fornecimento � de informação e para o controle e planejamento gerencial, através do uso de tecnologias tais como análise de decisão e contabilidade por responsabilidade. Estágio 3 – por volta de 1985, a atenção foi focada na redução do des- � perdício de recursos usados nos processos de negócios, através do uso das tecnologias de análise do processo e administração estratégica de custos. Estágio 4 – por volta de 1995, a atenção foi mudada para a geração ou � criação de valor através do uso de tecnologias, tais como exame dos direcionadores de valor ao cliente, valor para o acionista, e inovação organizacional. Observe que a ideia da contabilidade gerencial como criadora de valor para o negócio iniciou-se a partir do momento em que a tecnologia da informação possibilitou a mensuração e o contro- le de variáveis que até então eram de difícil, para não se dizer impos- sível, mensuração e controle, tais como processos, clientes, tecnologia de produção etc. 1.º estágio Determinação do Custo e Controle. 2.º estágio Informação para Planejamento de Controle Gerencial. 3.º estágio Redução de desperdício de Recursos nos Processos do Negócio. 4.º estágio Criação de Valor através do uso Efetivo dos Recursos. Figura 1 – A evolução da contabilidade gerencial através dos tempos. Ér ic o El eu té rio d a Lu z. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 18 Contabilidade: aspectos introdutórios 1919 Conceito A contabilidade gerencial é reconhecida como um enfoque especial con- ferido a números e eventos econômicos já tratados pela contabilidade finan- ceira. Essa abordagem específica no tratamento dos dados contábeis é útil para a tomada de decisões gerenciais. Ao conceituarmos contabilidade gerencial, não podemos deixar de con- siderar que é um processo de captação, processamento e distribuição de in- formações sob uma perspectiva diferente daquela inerente à contabilidade financeira. O próposito fundamental da contabilidade gerencial ou conta- bilidade administrativa é oferecer ao decisor, ou usuário, a possibilidade de utilizar um conjunto de informações que o habilitem a melhor decisão. Daí reside a importância da caracterização de um adequado sistema de informa- ção gerencial que dê o devido suporte a essa contabilidade. É importante, igualmente, buscarmos vários conceitos abordados por di- versos autores para que nós nos posicionemos tecnicamente sobre o tema. Kaplan (2000, p. 18), define contabilidade gerencial como sendo “proces- so de identificar, mensurar, reportar e analisar informações sobre os eventos econômicos das empresas”. Robert Anthony (1974) faz uma distinção clara entre a contabilidade financeira e gerencial, pois segundo o autor, a con- tabilidade financeira tem como objetivo primário proporcionar informação financeira a terceiros – acionistas, banqueiros, outros credores e agências governamentais. As técnicas, os regulamentos e as convenções segundo os quais os dados contábeis são coletados e relatados refletem, em grau consi- derável, as exigências desses terceiros. Já a contabilidade gerencial, para Anthony, preocupa-se com a infor- mação contábil útil à administração. Útil, nesse contexto, traz sempre a co- notação de algum propósito para o qual os números devem ser usados. Li (1977), no clássico livro Contabilidade Gerencial ressalta que a contabilidade gerencial é o resultado da interação da Contabilidade com a Administração. Li (1977, p. 51) foi um dos primeiros autores a definir a contabilidade (no sentido amplo de ciência) como sendo a “linguagem universal dos negócios”, pois se a linguagem é um meio de expressar e comunicar ideias em geral, a contabilidade é um meio de relatar os resultados da administração. Charles T. Horngren (2000), no mesmo sentido dado à expressão por Kaplan, escreve que a contabilidade gerencial é um processo de identificar, Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 19 Contabilidade: aspectos introdutórios 19 mensurar, acumular, analisar, preparar, interpretar e comunicar informações que auxiliem os gestores a atingir objetivos organizacionais. Fess, Warren e Reeve (2001) afirmam que as informações da contabilidade gerencial in- cluem dados históricos e estimados usados pela administração na condu- ção de operações diárias, no planejamento de operações futuras e no de- senvolvimento de estratégias de negócios integradas, pois as características da contabilidade gerencial são influenciadas pelas variadas necessidades da administração. Os mesmos autores citados propõem, graficamente, o que seria a essência da contabilidade gerencial comparativamente à contabilidade financeira: Figura 2 – Contabilidade financeira versus contabilidade gerencial. Contabilidade Gerencial Critérios objetivos e subjetivos de registro e mensuração Relatórios Gerenciais Administração Contabilidade Financeira Critérios objetivos de registro e mensuração Demonstrações Financeiras Usuários externos e administração Ér ic o El eu té rio d a Lu z. Jiambalvo (2002) inicia seu trabalho discorrendo sobre a meta da conta- bilidade gerencial, que segundo ele seria a de fornecer as informações de que os gerentes precisam para o planejamento, o controle e a tomada de decisões. Se o seu objetivo é ser um gerente eficaz, afirma o autor,é impres- cindível um entendimento profundo de contabilidade gerencial! Então, pelos conceitos obtidos de respeitáveis doutrinadores contábeis, podemos perceber que existem certos atributos específicos à contabilidade gerencial e que a caracterizam como instrumento fundamental para uma gestão empresarial criadora de valor. Esses atributos ou qualidades especí- ficas serão expostos como comentários no quadro a seguir, que demonstra as diferenças existentes entre a contabilidade financeira e a contabilidade gerencial. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 20 Contabilidade: aspectos introdutórios 2121 Quadro 1 – Características básicas da contabilidade financeira e gerencial Contabilidade Financeira Contabilidade Gerencial Clientela Externa: acionistas, credores, go-verno. Interna: funcionários, administra- dores, executivos. Propósito Reportar desempenho passado às partes externas; contratos com proprietários e credores. Informar decisões internas toma- das pelos funcionários e gerentes; feedback e controle sobre desem- penho operacional. Data Histórica, atrasada. Atual, orientada para o futuro. Restrições Regulamentada: dirigida por re- gras e princípios da contabilidade e por autoridades governamen- tais. Desregulamentada: sistemas e informações determinadas pela administração para satisfazer ne- cessidades estratégicas e opera- cionais. Tipo de informação Somente para mensuração finan- ceira. Mensuração física e operacional dos processos, tecnologia, forne- cedores e competidores. Natureza da informação Objetiva, auditável, confiável, con- sistente, precisa. Mais subjetiva e sujeita a juízo de valor, válida, relevante, acurada. Escopo Muito agregada; reporta toda a empresa. Desagregada; informa as decisões e ações locais. Se observarmos atentamente o quadro anterior, podemos captar a essên- cia e a utilidade da informação gerencial, produto da contabilidade geren- cial. Senão, vejamos: Clientelaa) – há aqui uma nítida separação entre dois públicos interes- sados na informação contábil. O gestor, que necessita de informações para uso no cotidiano, precisa de uma base informativa que contenha, não raro, atributos estratégicos. Os relatórios do sistema orçamentário são exemplos disso. Mas as informações estratégicas não devem ser disponibilizadas ao mercado, pois podem ser utilizadas pela concor- rência. Propósitob) – as observações acerca da clientela servem para o propó- sito da informação. Clientes diferentes, propósitos diferentes, informa- ções diferenciadas. Mensuraçãoc) – este é um aspecto importantíssimo para a contabilida- de gerencial. Já sabemos que as mensurações utilizadas pela contabili- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 21 Contabilidade: aspectos introdutórios 21 dade financeira para atribuição de valor aos elementos do patrimônio e do resultado empresarial estão restritas às normas e princípios con- tábeis. A contabilidade gerencial poderá utilizar-se de quaisquer critérios de mensuração, desde que melhor retratem a quantidade monetária que repre- sentará aquele elemento ou evento econômico. Um exemplo: os estoques (mercadorias, matérias-primas, produtos acabados etc.) na contabilidade fi- nanceira são avaliados pelo seu custo de aquisição e devem permanecer por esse valor até sua baixa do ativo. Na contabilidade gerencial podemos utilizar o critério de preço de reposição desses estoques, quando formos construir uma informação gerencial que utilize o valor desses ativos. Outro aspecto da contabilidade gerencial, e que determina sua utilidade, é a possibilidade de termos uma desagregação de valores, ou seja, mensu- rarmos e reportamos cada segmento ou unidade relevante da organização, por exemplo, um produto, um centro de resultados e outros. Objetivo A Contabilidade Gerencial permite o uso da informação contábil como ferramenta para o empresário. Para uma utilização eficaz dessa ferramenta, é necessário que os usuários da informação (administradores e empresários) tenham um conhecimento relativo em conceitos de contabilidade financei- ra, de custos e, é claro, de contabilidade gerencial. Observe que a relação custo/benefício na construção da informação deve ser favorável, ou seja, o custo para obtenção da informação não pode ser maior do que o seu valor para a entidade. Podemos, então, concluir que o objetivo fundamental da contabilidade gerencial é fornecer, aos interessados (internos à organização), relatórios gerenciais que contenham informações de natureza financeira, física e de produtividade para possibilitar a estes a escolha da melhor alternativa numa decisão, visando à criação de valor para o negócio. O fluxo gráfico a seguir demonstra de forma mais técnica esse pressupos- to: informação para uma melhor decisão. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 22 Contabilidade: aspectos introdutórios 2323 Ér ic o El eu té rio d a Lu z. Figura 3 – Informações para tomada de decisões. Relevância Confiabilidade MaterialidadeLimite de reconhecimento Responsáveis pelas tomadas de decisões 4. Oportunidade 5. Valor Preditivo 6. Valor como feedback 1. Verificabilidade 2. Fidelidade de representação 3. Neutralidade Restrição geral Benefício > Custo Qualidades específicas a usuários Compreensiblidade Utilidade na tomada de decisões Qualidades específicas a decisões Podemos entender pela figura disposta anteriormente que o início de um pensamento gerencial em contabilidade se dá pela figura do usuário. É ele que, agindo gerencialmente, vai necessitar de informações que subsidiem suas decisões. A área de controladoria, responsável pela implementação do sistema de contabilidade gerencial, verificará se é possível atender ao solicita- do pelo usuário, observando a relação entre custo e benefício da informação objeto da solicitação. Mesmo diante das dificuldades que surjam para avaliar tal relação, é importante não perder de vista essa análise, pois, se for desfavo- rável, devemos descartar a possibilidade de construção dessa informação. Se o benefício da informação é maior que seu custo de processamento e distribuição, devemos na sequência avaliar sua compreensibilidade, ou seja, a condição que esta proporciona de ser efetivamente compreendida pelo usuário, que poderá, neste caso, fazer dela um melhor uso. A compreensi- bilidade deve ser analisada também em relação ao perfil do usuário, pois seguidamente percebemos que a não compreensão ou uma compreensão limitada de um relatório gerencial, ocorre em virtude de falta de preparo do usuário e não, necessariamente, por características intrínsecas das informa- ções. Neste caso, recomenda-se um treinamento prévio para as pessoas que utilizarão os relatórios. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 23 Contabilidade: aspectos introdutórios 23 Se a informação é compreensível considera-se, então, que poderá ser útil nas tomadas de decisões. É necessário, entretanto, verificar se ela contém ca- racterísticas que a tornam segura e eficaz para motivar adequadamente uma decisão. Primeiro analisa-se sua relevância, ou seja, a importância dela para sugerir o melhor caminho entre as alternativas disponíveis ao decisor. A relevância é percebida quando a informação é oportuna, requisito também chamado de tempestividade. É a informação que está disponível no momento adequado para a decisão. A oportunidade é avaliada também com relação ao valor preditivo da informação, melhor dizendo, se toda a decisão tem impacto futuro, entãotoda informação tem que observar os impactos dessas decisões para um dado futuro almejado. Relatórios orçamentários e relatórios que informam as margens de contribuição de produtos e serviços também são exemplos disso. A confiabilidade é outro atributo que deve ser verificado como inerente a uma informação gerencial. Uma informação é confiável quando pode ser rastreada, testada. Nisso reside a importância de que as informações sejam produtos de sistemas estruturados de informações, possibilitando o acesso e a reconstrução das mesmas em qualquer momento desejado. A fidelida- de de representação significa que, na medida do possível, os valores mone- tários, por exemplo, que representam os eventos e elementos informados devem expressar o mais fielmente a essência econômica desses elementos. Esse aspecto fica facilitado na contabilidade gerencial por não estar sujeita a critérios padronizados de avaliação monetária, como ocorre com a conta- bilidade financeira. Neutralidade é uma característica importante, pois recomenda-se que a informação gerencial auxilie a decisão do gestor pelo seu conteúdo e forma, e não por eventuais distorções motivadas por interesses escusos de determi- nada pessoa ou área. O limite para tratamento e reconhecimento de uma informação é sua ma- terialidade. Se o valor do elemento informado é imaterial, não devemos, por uma questão de objetividade e racionalização de custo, dar um tratamento especial. Não devemos esquecer, entretanto, que materialidade é conceito que deve ser verificado caso a caso. Um determinado valor pode ser imate- rial para uma empresa de grande porte, mas constituir grandeza considerá- vel para uma pequena ou média empresa. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 24 Contabilidade: aspectos introdutórios 2525 Plano de contas Estrutura e funcionamento Conta contábil é um código alfanumérico, cuja finalidade é registrar os fatos contábeis, identificando-os por natureza, de acordo com os eventos econômicos ocorridos. Portanto, a conta contábil expressa individualmen- te os elementos conforme suas características e particularidades essenciais. As contas contábeis representam facilmente as operações realizadas pelas entidades, figurando num relatório denominado plano de contas. A gestão desse plano de contas (inclusão, alteração e exclusão de contas) deve ficar a cargo da área contábil, pois tais contas servirão como parâmetros para a geração dos relatórios contábeis, tais como Balanço Patrimonial, Demonstra- ção de Resultado, Demonstração do Fluxo de Caixa e outros. A estruturação de um plano de contas deve ser efetuada considerando-se o porte da empresa, sua atividade e necessidades de informações personali- zadas que os usuários possam demonstrar, pois conforme Sá (2004, p. 22), o plano de Contas é uma peça na técnica contábil que estabelece previamente a conduta a ser adotada na escrituração, através da exposição das contas em seus títulos, funções, funcionamento, grupamentos, análises, derivações, dilatações e reduções. O plano de contas, na sua elaboração, deve ser organizado em níveis: grupo, subgrupo, contas sintéticas e contas analíticas. Cada nível e conta deve ser identificado com um código numérico específico. Nível 1: � Ativo, Passivo, Patrimônio Líquido, Receitas, Custos e Despesas. Nesse nível tem-se a consolidação dos saldos dos subgrupos. Nível 2: � Ativo: Circulante, não Circulante Passivo: Circulante, não Circulante e Patrimônio Líquido. Receitas: Receita Bruta, Deduções da Receita Bruta, Outras Receitas Operacionais, Custos e Despesas Operacionais. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 25 Contabilidade: aspectos introdutórios 25 Nesse nível obtém-se o resumo dos saldos das contas sintéticas, ou seja, aquelas contas que serão desdobradas em contas analíticas para melhor compreensão e visualização dos valores. Nível 3: contas que evidenciem os grupos a que se referem, como: � Nível 1 – Ativo Nível 2 – Ativo Circulante Nível 3 – Bancos Conta Movimento Nesse nível visualizam-se os valores relativos a contas sintéticas, confor- me explicado no item anterior. Nível 4: subcontas que evidenciem o tipo de registro contabilizado, � como: Nível 1 – Ativo Nível 2 – Ativo Circulante Nível 3 – Bancos Conta Movimento Nível 4 – Banco Ambrosiano S/A Nesse exemplo, os lançamentos contábeis serão efetuados originalmente no nível 4 – que é onde estão cadastradas as contas analíticas, que servirão de código inicial de registro das operações. Objetivo do Plano de Contas Seu principal objetivo é estabelecer regras e parâmetros para a conta- bilização e evidenciação dos eventos econômicos e, se possível, atender a quatro objetivos fundamentais: Permitir aos usuários dos relatórios contábeis informações bem estru- � turadas e claras, possibilitando o uso racional e efetivo dessas informa- ções. Apresentar uma estrutura condizente com o que a legislação contábil � preconiza acerca das Demonstrações Contábeis, atendendo ao dis- posto nas Leis 6.404/76 (Lei das Sociedades por Ações) e 10.406/2002 (Código Civil, na parte que dispõe sobre o direito de empresa). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 26 Contabilidade: aspectos introdutórios 2727 Adaptar-se tanto quanto a determinações de agentes externos, faci- � litando a consolidação das demonstrações contábeis e compatibili- zando-se, se possível, com os preceitos da legislação do Imposto de Renda. Facilitar a integração do sistema contábil às demais áreas operacionais � da entidade, como financeiro, recursos humanos, produção etc. Nesse caso, o registro contábil será feito nas áreas geradoras dos eventos, facilitando a rapidez e integridade no reconhecimento dos fatos con- tábeis. Portanto, ao se projetar e implementar um Plano de Contas, a entidade deve considerar os vários tipos de usuários da contabilidade (externos e in- ternos) visando à criação e à disponibilização de relatórios contábeis e ge- renciais, evitando a dupla entrada de dados conforme o tipo de relatório que se quer. Percebe-se que um plano de contas adequadamente estruturado é ga- rantia de informações e relatórios que têm grande possibilidade de cumprir suas finalidades informacionais. Dessa forma, o plano de contas deve conter as seguintes características: ser uma matriz destinada a orientar a execução de serviços contábeis, vi- � sando à padronização de procedimentos e à racionalização de tarefas; estabelecer previamente a conduta a ser adotada na escrituração; � relacionar as contas em que são registrados os fatos contábeis perti- � nentes às atividades de cada empresa, contendo, além dos títulos, as respectivas funções e as regras de funcionamento; ser estruturado agrupando as contas para que se possam realizar aná- � lises setoriais e ser flexível para permitir dilatações e reduções sem pre- juízo do conjunto; O manual de procedimentos contábeis poderá acompanhar o plano de contas para que as pessoas responsáveis pela contabilidade possam geren- ciar o plano de contas de forma padronizada e segura. Nesse manual deve constar para cada conta contábil sintética ou analítica sua função e respecti- vo funcionamento, como no exemplo: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 27 Contabilidade: aspectos introdutórios 27 Conta: 1.1.1.1 – Caixa Função: Registrar a movimentação de dinheiro na empresa. Funcionamento: debita-se pelas entradas (recebimentos) e credita-se pelas saídas (pagamentos e outros eventos que demandem retiradas de nu- merários da empresa). Ampliando seus conhecimentosA contabilidade e sua verdadeira função (SILVA, 2008) A Contabilidade é a principal ferramenta de auxílio nas tomadas de deci- sões por parte dos administradores na gestão das empresas, pois os relató- rios contábeis viabilizam a análise da situação da empresa e assim se pode verificar as metas preestabelecidas e proporcionar melhores planejamentos e controles futuros. Mas ainda existe uma grande parte de empresários e ad- ministradores que se utiliza da Contabilidade apenas para calcular tributos e preencher declarações e guias. Isso acontece, em grande parte, por culpa do próprio contabilista, que não demonstra aos administradores o quão útil pode ser uma Contabilidade bem executada, com informações corretas e verdadei- ras. É preciso mudar essa realidade, conscientizando-se todos os interessados sobre a importância da Contabilidade e, consequentemente, dos profissionais da área. Este artigo tem por objetivo tentar criar uma consciência na sociedade em geral a respeito da importância da Contabilidade na vida das empresas e pes- soas. Por se tratar de uma Ciência Social, influencia a vida das pessoas. Mas ainda existe uma grande resistência em se admitir o verdadeiro valor da Con- tabilidade, principalmente nas empresas de pequeno e médio porte. A Contabilidade, por meio de seus relatórios, é, sem dúvida alguma, o prin- cipal recurso a ser utilizado na análise da situação econômica de uma em- presa, e serve como instrumento de avaliação das metas planejadas, além de fornecer suporte ao desenvolvimento de novos objetivos. À classe contábil cabe difundir a importância dessa ciência, bem como pelo reconhecimento e valorização da profissão. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 28 Contabilidade: aspectos introdutórios 2929 A grande dificuldade dos contadores sempre foi fazer com que o empre- sário entendesse que a Contabilidade tem a função de apresentar as informa- ções necessárias para auxiliá-lo na tomada de decisões para o bom andamen- to da empresa. Franco e Marra (2007, p. 25) definem que “[...] o objetivo da contabilidade é fornecer informações sobre o estado patrimonial e suas variações em deter- minado período”. Essa dificuldade se deve em grande parte ao próprio contabilista, que não se empenha em mostrar ao empresário a real função e utilidade da Contabili- dade. Mas o empresário também possui uma parcela de culpa, pois a vê como “um mal necessário”, servindo apenas para apurar impostos e preencher guias de recolhimento. A Contabilidade, na prática, não é somente preencher guias de impostos, declarações acessórias ou mesmo lançar mecanicamente a movimentação financeira de determinada empresa. Shank e Govindarajan (1997, p. 5) consi- deram que “[...] a contabilidade existe na administração principalmente para facilitar o desenvolvimento e a implementação da estratégia empresarial”. A Contabilidade, se usada de forma correta e eficiente, é uma ferramenta única e indispensável no processo de tomada de decisões. No decorrer de todo pro- cesso na organização, a Contabilidade vai adicionando e criando valor para os gestores, e assim passa a gerar informações necessárias para o crescimento, continuidade e obtenção de lucro para a organização. A Contabilidade bem elaborada e realizada oferece todas as informações necessárias à tomada de decisão na gestão das empresas. Uma empresa sem contabilidade é uma em- presa sem memória e sem condições de estabelecer metas e alcançar obje- tivos. A Contabilidade não pode ser utilizada apenas por ser uma exigência legal e formal, mas sim como a principal ferramenta de auxílio para a tomada de decisões quanto ao futuro das empresas. Muitas vezes, os contabilistas encontram dificuldades para negociar seus salários ou honorários, pois não conseguem transmitir ao empresário a real importância de sua função. Com a contínua evolução das mudanças no ce- nário mundial introduzidas pela globalização e, consequentemente, maior velocidade na obtenção das informações, é cada vez mais necessário que o profissional da Contabilidade tome consciência de sua real função nas empre- sas e junto à sociedade. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 29 Contabilidade: aspectos introdutórios 29 O contabilista deverá exercer a parte mais nobre da sua profissão: de con- tador a consultor. Deve abandonar a figura do contador que só executa as funções de registro da movimentação contábil para se tornar um novo tipo de profissional de Contabilidade, com ampla habilidade e com mais tempo para aplicar essa ciência como instrumento de gestão. Na prática, significa deixar de ser apenas o profissional da organização e execução de serviços de registro e escrituração contábil e fiscal para atuar como o orientador em face das mudanças da lei, dos procedimentos para emissão de documentos fiscais, das exigências bancárias de determinados re- latórios, das sugestões sobre decisões da vida empresarial, dos requisitos de arquivos e proteção de dados, de estudos tributários e outros. Precisa entender a empresa em todos os seus aspectos, desde a compra, passando pela produção, chegando até a comercialização dos seus produtos e serviços; ter presença e ciência de todas as etapas de produção/comerciali- zação do negócio. Deve passar de uma postura passiva para uma postura pro- ativa. Olhar para o negócio item a item, em seus mínimos detalhes e peculiari- dades. Essa nova realidade passa a se chamar “Contabilidade de Gestão”, peça fundamental para aumentar a eficiência das empresas em seus negócios. O novo contador, pela própria natureza das funções que lhe são solicitadas a desempenhar, necessitará de formação bem diferente daquela exigida para o profissional que atua na contabilidade formal, precisando assim de bons conhecimentos matemáticos e estatísticos, pesquisa operacional e técnicas de planejamento. O principal requisito para que a Contabilidade seja utilizada em sua função verdadeira, que é a de prestar informações para a tomada de decisões, é que esteja atualizada, conciliada e de acordo com as normas e técnicas contá- beis. Assim, fornecerá informações para as tomadas de decisões seguras e coerentes. Essa nova realidade vem ganhando destaque em função da diminuição das margens de lucros provenientes da pressão da concorrência, necessida- des permanentes de análise, planejamento, controle, avaliação de desem- penho e informações para as tomadas de decisões que necessitam de maior eficiência nos negócios. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 30 Contabilidade: aspectos introdutórios 3131 Outro aspecto interessante é que o aperfeiçoamento dessas informações, cuja essência visa ao impacto de eventos futuros, realizados mediante aná- lises específicas, ainda não é feito pelos computadores. Ou seja, os estudos de situações críticas imprescindíveis ao negócio pressupõem a utilização de técnicas apuradas e necessidades específicas da atividade empresarial para as quais a tecnologia da informação oferece ferramentas importantes de supor- te na tomada e compilação dos dados, mas que sozinhas não resolvem os pro- blemas, pois quem realmente irá decidir será o profissional da Contabilidade juntamente com o gestor/administrador da empresa. Portanto, a atividade contábil em tempos modernos ganha em amplitude e cresce simultaneamente em importância e responsabilidade. O profissional que busca realização e reconhecimento de seu trabalho deve estar consciente de que sua trajetória de atuação é diretamente proporcional ao investimento que faz em buscar amplo aperfeiçoamento para conquistar estabilidade fi- nanceira e profissional. Cabe exclusivamente a nós, contabilistas, a responsabilidadede buscarmos o nosso aperfeiçoamento constantemente, para que possamos aplicar as téc- nicas e normas contábeis de forma produtiva e útil aos empresários e à socie- dade, disseminando assim a verdadeira função de nossa honrosa profissão. Conclusão A Contabilidade é uma área de grande importância para a sociedade em geral, pois é ela que registra todo o patrimônio das entidades, ou seja, todo o movimento da economia. Ainda existe muito a ser feito para que consigamos conscientizar a todos da real função da Contabilidade e da importância dos profissionais dessa área. Já começamos a observar alguns avanços, mas ainda há muito a ser feito. O órgão regulador da profissão, o Conselho Federal de Contabilidade, jun- tamente com os Conselhos Regionais, já fazem um grande trabalho nesse sentido, mas precisamos agora que os contabilistas assumam esse compro- misso de valorização da profissão para que possamos, num futuro próximo, alcançar esse objetivo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 31 Contabilidade: aspectos introdutórios 31 Atividades de aplicação Indique uma diferença entre a Contabilidade Tributária e a Contabilidade 1. Financeira tradicional. Qual a importância do plano de contas para o sistema contábil?2. Com relação ao plano de contas, pode-se afirmar que:3. As contas sintéticas são códigos alfanuméricos que servem para re-a) cepcionar os valores objetos dos lançamentos contábeis. As contas analíticas são códigos que servem para acumulação de va-b) lores relativos a objetos de natureza semelhante. O agrupamento de contas deve ser feito de forma a permitir análises c) gerenciais de fácil visualização por parte dos usuários. Num sistema contábil descentralizado, as áreas responsáveis pelos d) lançamentos devem também ter a possibilidade de fazer alterações nas contas contábeis. Referências ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Manual Prático de Interpretação Contábil da Lei Societária. São Paulo: Atlas, 2010. ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. Imposto de Renda das Empresas. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009. ANTHONY, Robert N. Contabilidade Gerencial. São Paulo: Atlas, 1974. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 4 jul. 2012. BRASIL. Lei 5.172, de 25 de Outubro de 1966. Código Tributário Nacional. Dis- ponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5172.htm>. Acesso em: 4 jul. 2012. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 32 Contabilidade: aspectos introdutórios 3333 BRASIL. Lei 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 4 jul. 2012. BRASIL. Lei 6.404, de 15 de Dezembro de 1976. Lei das Sociedades por Ações. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm>. Acesso em: 4 jul. 2012. CAMPOS, Cândido Henrique de. Planejamento Tributário. São Paulo: Saraiva, 2006. FABRETI, Láudio Camargo. Contabilidade Tributária. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2009. FESS, Philip E.; WARREN, Carl S.; REEVE, James M. Contabilidade Gerencial. São Paulo: Pioneira, 2001. HIRASHIMA, Taiki. Guia para Pesquisas de Práticas Contábeis. São Paulo: Atlas, 2005. HORNGREN, Charles T. Introdução à Contabilidade Gerencial. Rio de Janeiro: LTC, 2000. HORNGREN, Charles T.; SUNDEN, Gary L.; STRATTON, Willian O. Contabilidade Gerencial. 12. ed. 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Manual de Contabilidade Tributária. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2004. PADOVEZE, Clóvis Luís. Contabilidade Gerencial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. RICARDINO, Álvaro. Contabilidade Gerencial e Contabilidade Societária: ori- gens e desenvolvimento. São Paulo: Saraiva, 2005. SÁ, Antonio Lopes de. Plano de Contas. São Paulo: Atlas, 2004. SANTOS, Roberto Fernandes (Org.). Introdução à Contabilidade. São Paulo: Sa- raiva, 2006. SILVA, Lourivaldo Lopes. Contabilidade Geral e Tributária. São Paulo: IOB, 2009. SILVA, Luiz Alneir Garcez da. A contabilidade e sua verdadeira função. Revista do CRCRS. Rio Grande do Sul, n. 9, dez. 2008. Disponível em: <www.ebah.com.br / content/ABAAAAq0kAH/a-contabilidade-sua-verdadeira-funcao>. Acesso em: 17 jul. 2012. WEYGANDT, Jerry J.; KIESO, Donald E.; KIMMEL, Paul D. Contabilidade Financei- ra. Rio de Janeiro: LTC, 2005. Gabarito A contabilidade financeira se ocupa do preparo e distribuição de informa-1. ções acerca da situação econômica e financeira geral de uma entidade. Já a contabilidade tributária tem como função o controle e gestão dos valores dos tributos que impactam o patrimônio e o resultado das enti- dades. São enfoques complementares e interdependentes, porém com objetivos muito bem definidos e delimitados. Uma estrutura adequada e bem planejada de plano de contas permitirá 2. o registro e o controle contábil de forma mais segura e útil para o gestor, pois a disposição dos elementos e valores que comporão os relatórios contábeis serão efetuados de forma que possam ser mais facilmente vi- sualizados. C3. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 35 Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações Os princípios contábeis são regras adotadas pelos profissionais de conta- bilidade que devem ser observadas na elaboração das Demonstrações Con- tábeis. São de aplicação obrigatória por força da Lei 6.404/76, que em seu artigo 177, determina que: A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência. Para um enunciado com força de aplicação geral pelos contadores ser classificado como princípio contábil, é necessário que contenha duas carac- terísticas essenciais: deve ser praticável e útil. A utilidade diz respeito ao valor agregado à informação contábil pela aplicação daquele princípio. A pratica- bilidade está vinculada à premissa de que se de alguma forma não puder ser exigida de todos os contadores a observância daquele procedimento, então faltará a esse enunciado a generalidade, tornando-se impraticável para algum segmento, região ou atividade econômica especificamente. O CFC – Conselho Federal de Contabilidade, por meio da Resolução 1.282/2010, atualizou e consolidou dispositivos da Resolução CFC 750/93, que dispõe sobre os Princípios de Contabilidade. Os fundamentos que jus- tificaram essa atualização, conforme o teor da Resolução 1.282/2010,estão vinculados ao processo de convergência às normas internacionais de con- tabilidade, o que anteriormente já havia sido justificativa da emissão, pelo Conselho Federal de Contabilidade, da NBC – TG Estrutura Conceitual – Es- trutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis, através da Resolução CFC 1.121/2008 (revogada/substituída pela Resolução CFC 1.374/2011). Segundo a Resolução CFC 1.282/2010, a decisão por manter a Resolução 750/93 baseou-se: CONSIDERANDO a necessidade de manutenção da Resolução CFC 750/93, que foi e continua sendo referência para outros organismos normativos e reguladores brasileiros; CONSIDERANDO a importância do conteúdo doutrinário apresentado na Resolução CFC 750/93, que continua sendo, nesse novo cenário convergido, o alicerce para o julgamento profissional na aplicação das Normas Brasileiras de Contabilidade; Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 36 Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações 3737 Consta também como justificativa para a citada Resolução 1.282/2010 a necessidade de harmonização dos dois documentos vigentes até aquele momento (Resolução CFC 750/93 e NBC T11), o que implicou a alteração na denominação de Princípios Fundamentais de Contabilidade para somente Princípios de Contabilidade, pois o entendimento do CFC é de que a nova denominação é “suficiente para o perfeito entendimento dos usuários das demonstrações contábeis e dos profissionais da Contabilidade”. A Resolução CFC 750/93, atualizada, elenca os seguintes princípios de contabilidade: entidade;a) continuidade;b) oportunidade;c) registro pelo Valor Original;d) competência;e) prudência.f ) Princípio da Entidade Conforme o artigo 4.º da Resolução 750/93, o patrimônio, a teor do prin- cípio da entidade, é reconhecido como objeto da Contabilidade. Afirma-se, assim, a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um Pa- trimônio particular de um universo de patrimônios existentes a ele vincu- lados juridicamente, independentemente de pertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. O princípio tem como axioma que o Patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou instituição, determinando-se pelo seu enunciado a clara distinção entre o que pertence à entidade do que é das pessoas, físi- cas ou jurídicas, que são seus sócios e acionistas. Quando não se distingue claramente o que pertence à entidade daquilo que é do sócio, podem surgir contingências fiscais, como no exemplo de se considerar como despesa um recurso consumido exclusivamente pelo sócio. Ressalte-se que o parágrafo único do artigo em comento destaca que: 1 A NBC T1 teve sua nomenclatura e conteúdo alterados pelas resoluções CFC 1.329/2011 e 1.374/2011, passando a ser denominada NBC TG Estrutura Conceitual. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 37 Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações 37 Patrimônio pertence à Entidade, mas a recíproca não é verdadeira. A soma ou agregação contábil de patrimônios autônomos não resulta em nova entidade, mas numa unidade de natureza econômico-contábil, Como no caso de diversos patrimônios objetos de uma consolidação contábil. Princípio da Continuidade O artigo 5.º da Resolução 750/93, com redação dada pelo Resolução 1.282/2010, dispõe que o Princípio da Continuidade pressupõe que a Entidade continuará em operação no futuro e, portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta essa circunstância. As empresas são criadas com a intenção de operarem indefinidamente. Essa premissa deve ser observada quando do registro e avaliação das muta- ções patrimoniais, só se alterando esse princípio se surgirem fortes evidên- cias de descontinuidade. A regra, portanto, é a perenidade dos negócios e é essa premissa que determina os critérios para reconhecimento e avaliação de ativos e passivos pela entidade. Princípio da Oportunidade Conforme o disposto no artigo 6.º da Resolução CFC 750/93 (redação dada pelo Resolução CFC 1.282/2010): O Princípio da Oportunidade refere-se ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais para produzir informações íntegras e tempestivas. Define ainda, em seu parágrafo único, que a falta de integridade e tempestividade na produção e na divulgação da informação contábil pode ocasionar a perda de sua relevância, por isso é necessário ponderar a relação entre a oportunidade e a confiabilidade da informação. O registro das operações deve ser efetuado no tempo certo e com a ex- tensão correta, sendo que existindo apenas razoável possibilidade de ocor- rer um evento, este deve ser considerado, como no exemplo das provisões constituídas, quando um evento econômico está se potencializando. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 38 Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações 3939 Princípio do Registro pelo Valor Original O enunciado deste princípio trazido pelo artigo 7.º e seus parágrafos da Resolução 750/93 (com redação dada pela Resolução CFC 1.282/2010), diz expressamente que: O Princípio do Registro pelo Valor Original determina que os componentes do patrimônio devam ser inicialmente registrados pelos valores originais das transações, expressos em moeda nacional. Inicialmente, os ativos e passivos devem ser contabilizados pelos valo- res originais que representam as quantidades de moedas representativas dos eventos. Porém, na permanência desses elementos como componentes de um determinado patrimônio, outros critérios de mensuração devem ser cuidadosamente estudados para se estabelecer os melhores parâmetros de atribuição de valores a esses objetos ou eventos. Os componentes do Patrimônio devem ser registrados pelos valores originais das transações, expressos a valor presente na moeda do país. Por exemplo, a regra como base para avaliação dos ativos é o seu valor de custo ou de mercado, o que for menor. Entretanto, poderão ser utilizados outros critérios quando da mensuração desses ativos na permanência destes no patrimônio, como custo corrente, valor de realização líquida, valor justo e outros conforme o caso. De acordo com a redação dada pela Resolução 1.282/2010, no critério do custo histórico (Res. 750/93, artigo 7.º, §1.º, I) I - Os ativos são registrados pelos valores pagos ou a serem pagos em caixa ou equivalentes de caixa ou pelo valor justo dos recursos que são entregues para adquiri-los na data da aquisição. Os passivos são registrados pelos valores dos recursos que foram recebidos em troca da obrigação ou, em algumas circunstâncias, pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais serão necessários para liquidar o passivo no curso normal das operações. Entretanto, os ativos e passivos, uma vez incorporados ao patrimônio, podem sofrer variações em seu custo histórico, influenciadas por outros cri- térios, indicados no inciso II desse mesmo artigo: a) Custo corrente. Os ativos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais teriam de ser pagos se esses ativos ou ativos equivalentes fossem adquiridos na data ou no período das demonstrações contábeis. Os passivos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que seriam necessários para liquidar a obrigação na data ou no período das demonstrações contábeis; b) Valor realizável. Os ativos são mantidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais poderiam ser obtidos pela venda em uma forma ordenada. Os passivossão mantidos pelos valores em caixa e equivalentes de caixa, não descontados, que se espera seriam pagos para liquidar as correspondentes obrigações no curso normal das operações da Entidade; Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 39 Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações 39 c) Valor presente. Os ativos são mantidos pelo valor presente, descontado do fluxo futuro de entrada líquida de caixa que se espera seja gerado pelo item no curso normal das operações da Entidade. Os passivos são mantidos pelo valor presente, descontado do fluxo futuro de saída líquida de caixa que se espera seja necessário para liquidar o passivo no curso normal das operações da Entidade; d) Valor justo. É o valor pelo qual um ativo pode ser trocado, ou um passivo liquidado, entre partes conhecedoras, dispostas a isso, em uma transação sem favorecimentos; e e) Atualização monetária. Os efeitos da alteração do poder aquisitivo da moeda nacional devem ser reconhecidos nos registros contábeis mediante o ajustamento da expressão formal dos valores dos componentes patrimoniais. Princípio da Competência As receitas e despesas devem ser incluídas no resultado no período em que ocorreram, e não quando efetivamente recebidas ou pagas. O resultado (lucro ou prejuízo) de um exercício deve corresponder ao confronto das re- ceitas e despesas geradas naquele exercício. O artigo 9.º da Resolução CFC 1.282/2010, determina que, na competência, os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou pagamento. O Princípio da Competência, que se contrapõe ao regime de caixa, pressu- põe a simultaneidade da confrontação de receitas e de despesas que sejam correlatas. Szuster (2011) afirma que os fatos contábeis devem ser reconhe- cidos quando ocorridos os eventos econômicos, independentemente dos seus efeitos financeiros. O princípio da competência exige que se estabeleça claramente quando a receita é considerada realizada. Nesse sentido considera-se que houve a realização efetiva da receita quando, tornando-se passível de registro pela Contabilidade quando produtos ou serviços produzidos ou prestados pela Entidade são transferidos para outra Entidade ou pessoa física, com a anuên- cia destas, e mediante pagamento ou compromisso de pagamento. Ou seja, é a transferência de propriedade ou a execução do serviço que, regra geral, determina a obrigatoriedade do reconhecimento contábil da receita. Já em relação às despesas e aos custos, estes devem ser adequadamente confrontados com as receitas para que o lucro possa ser mensurado e reco- nhecido no momento econômico de sua geração. Nesse caso, toda despesa diretamente delineável com as receitas reconhecidas em determinado perío- do com estas deverá ser confrontada; os consumos ou sacrifícios de ativos (atuais ou futuros), realizados em determinado período e que não puderam ser associados à receita do período nem às dos períodos futuros, deverão ser descarregados como despesa do período em que ocorreram. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 40 Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações 4141 Princípio da Prudência ou Conservadorismo Este princípio determina a adoção do menor valor para o Ativo e o maior valor para o Passivo, sempre que as alternativas para a quantificação das mu- tações patrimoniais se apresentem de forma igualmente válidas. O Parágrafo único, do artigo 10 da Resolução CFC 750/93 impõe que na observância do princípio da Prudência deve prevalecer o emprego de certo grau de precaução no exercício dos julgamentos necessários às estimativas em certas condições de incerteza, no sentido de que ativos e receitas não sejam superestimados e que passivos e despesas não sejam subestimados, atribuindo maior confiabilidade ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais. A contabilidade deve pautar-se pela escolha de critérios de mensuração de ativos e passivos que resultem no menor valor para os ativos e receitas e o maior valor para os passivos e despesas, sempre que se apresentem alter- nativas igualmente válidas de atribuição de valores diferentes a um elemen- to do ativo (ou do passivo). O conservadorismo ou cautela nesses casos é recomendado para se evitar que as informações evidenciadas nos relatórios contábeis criem falsas expectativas no mercado, induzindo pessoas a efetu- arem transações com a empresa baseadas em eventos que tenham riscos potenciais de não se realizarem da forma como foram divulgados. Todas as expectativas de perdas de ativos devem ser reconhecidas e os seus riscos mensurados. A empresa pode experimentar perdas nos estoques, nos clien- tes, nos ativos financeiros, entre outros, e essas perdas potenciais devem ser contabilizadas. A prudência também deve ser utilizada no julgamento de passivos que estejam surgindo, embora não exista naquele momento uma obrigação lí- quida e certa com terceiros. As provisões para contingências fiscais, traba- lhistas e ambientais são exemplos de passivos que estão se potencializando e devem ser reconhecidos contabilmente. A contabilização de uma provável perda no ativo é efetuada tendo como contrapartida uma conta de despe- sa ou ajuste na receita, como no exemplo das perdas prováveis com o não recebimento de créditos junto a clientes. A contabilização de uma provável obrigação no passivo deve ser reconhecida tendo como contrapartida uma conta de despesa, como no exemplo da provisão para indenizações traba- lhistas, nos casos de ações trabalhistas movidas contra a empresa. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 41 Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações 41 Convenções As convenções contábeis caracterizam-se como restrições ou limitações aos princípios, visto que estes permitem aos contadores uma certa liberdade na escolha dos critérios de registro e mensuração dos eventos. Embora não constem na Resolução 750/93 do Conselho Federal de Con- tabilidade, temos as seguintes convenções: convenção da Consistência; � convenção da Materialidade; � convenção da Objetividade. � Convenção da Consistência O contador deve ser consistente na escolha dos critérios para registrar e mensurar os eventos econômicos relevantes para a contabilidade. Uma vez adotado determinado critério, este deve, se possível, ser utilizado ao longo de diversos períodos contábeis, facilitando a comparabilidade e a análise de tendências a partir dos relatórios contábeis. Se, por exemplo, for adotado determinado critério para avaliação dos es- toques quando das baixas por vendas, este deve ser mantido o mais con- sistentemente durante os períodos contábeis. Porém, essa convenção não deverá prejudicar a qualidade da informação contábil, pois em diversas si- tuações é recomendável que se utilizem critérios diferentes de um período para outro, mas nesses casos deve constar em nota explicativa a natureza da alteração e quais foram as implicáveis no valor do patrimônio e no resultado empresarial, decorrentes especificamente da mudança de critério. Convenção da Materialidade Esta convenção orienta que o contador deve observar sempre a compa- tibilidade da necessidade e utilidade da informação com o custo incorrido para sua geração e formalização na contabilidade, ou seja, o contador deve registrar as operações à luz da relação custo versus benefício da informação. Por exemplo, os valores despendidos com aquisição de materiais de expe- diente. Embora não haja o consumo imediato desses ativos (consumo do Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 42 Princípiosde Contabilidade: conceitos e aplicações 4343 recurso é o fato gerador da despesa), dado seus valores imateriais (nenhuma influência no resultado, pela antecipação do seu reconhecimento contábil) devem ser contabilizados como despesas no momento da compra desses elementos e não quando consumidos fisicamente. O juízo de valor do profissional de contabilidade acerca da quantidade e qualidade de informação a ser disponibilizada aos usuários é de vital im- portância para não se incorrer em informações desnecessárias (pela sua ir- relevância), porém não é recomendável prejudicar o nível adequado de in- formação pela omissão de valores pretensamente imateriais. Vale ressaltar que a definição de o quão material ou não é uma informação deve ser efe- tuada levando-se em consideração o porte da empresa. Para um pequeno negócio demonstrar de forma analítica a despesa com pessoal no momento de R$5.000,00 pode ser extremamente útil ao gestor, porém esse valor para uma multinacional seria agregado com outros valores sem necessidade de sua divulgação de forma isolada, dada sua imaterialidade no contexto da- quele resultado. Convenção da Objetividade O contador deve ser objetivo no momento do registro de uma transação, valendo-se prioritariamente de documentos de consubstanciem tal opera- ção. Na falta de uma nota fiscal, recibo, contrato ou outro documento idôneo deverá valer-se de um laudo de especialista. A razão para a estrita obser- vância dessa convenção é impedir que os contadores utilizem-se de critérios não formalizados em documentos para definição dos critérios de registro e avaliação dos elementos patrimoniais. A opinião do contador, como técnico, deverá ser sempre fundamentada em documentos, planilhas e outros tipos de controles internos. Qualquer ativo ou passivo reconhecido na contabi- lidade e que não tenha um documento atestando sua existência, valor de entrada e outras informações essenciais, será de responsabilidade pessoal do contador. Portanto, essa convenção limita o livre-arbítrio do contador ao formalizar as operações na contabilidade. Não havendo nenhuma indicação de um critério ou parâmetro que possa ser utilizado para avaliar o item, o contador deverá abster-se de registrá-lo contabilmente, como no caso de ativos contingentes. No máximo poderia evidenciar em notas explicativas. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 43 Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações 43 Ampliando seus conhecimentos A essência sobre a forma – aplicada na ciência da contabilidade (HOOG, 2010) Resumo Este tema tem um forte apelo no momento de implantação das IFRS para as sociedades anônimas e as sociedades de grande porte. Motivo pelo qual apresento uma breve análise sobre o teorema da essência sobre a forma, em decorrência da importância desta na ciência da contabilidade. Enfatizando que não se trata de um princípio ou método, e sim, de um teorema explica- do pela teoria pura da contabilidade, que sempre foi essencial para afastar a figura dos indesejáveis balanços putativos. Neste sucinto artigo, busca-se contribuir com uma força doutrinária con- temporânea, que além de prestigiar a epiqueia contabilística, é deveras im- portante para a criação de uma contabilidade fidedigna, afastando-se com isso a figura das interpretações polissêmicas e as ambíguas em relação às in- formações e relatórios contábeis. Palavras-chaves Teorema da essência sobre a forma; teoria da essência sobre a forma, prin- cípios da essência sobre a forma. Desenvolvimento A teoria contábil é um conhecimento meramente racional. Pode ser uma opinião sistematizada com a possibilidade de um viés de utopia. Contudo, a teoria contábil consagrou-se como sendo um conjunto de conhecimen- tos não pueril, que apresenta uma sistematização e credibilidade, e que se propõe a explicar, elucidar ou interpretar um fenômeno ou acontecimen- to que se oferecem à atividade da práxis da ciência. Cria um ponto de vista estritamente formal, em que não se encontram proposições contraditórias, Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 44 Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações 4545 nem nos axiomas, nem nos teoremas que deles se deduzem. A teoria deve alcançar o domínio filosófico e consiste em considerar esses fenômenos ou acontecimentos não como a soma de elementos isolados para uma análise, mas como parte de um conjunto que constitui unidades autônomas de uma célula social. Manifesta um vínculo da práxis contabilística, além de possuir leis próprias, donde resulta que o modo de ser de cada elemento depende da estrutura do conjunto e das leis que o regem. Pode ser simplesmente um conjunto de princípios da ciência da contabilidade, positivados pela doutrina, ou seja, opiniões sistematizadas por conjuntos de informações que têm por objeto o conhecimento científico, visando explicar os seus condicionamentos, sejam eles tecnológicos, históricos, linguísticos ou sociais. E o teorema da substância sobre a forma é uma proposição dialética da moderna teoria pura da contabilidade que, para ser admitida ou se tornar evi- dente, teve uma aprovação científica, que compreendeu três elementos: o sujeito, que é o fato estudado (patrimônio);1. a hipótese, que é o que se conhece como verdadeiro (supremacia da 2. equidade); e a tese, que é o que se pretende concluir ou demonstrar (a verdade 3. real se sobrepõe à verdade formal, uma vez que, se existir um Ativo ou um Passivo oculto em decorrência da forma de norma jurídica, tem-se a distorção do valor do Patrimônio Líquido). Pois, se existir um Ativo ou um Passivo oculto em decorrência da forma ditada pela política contábil, tem-se a distorção do valor do Patrimônio Lí- quido com a consequente perda da finalidade da contabilidade, cumulada com o erro de valoração, uma vez que a equidade prega a informação precisa e correta. Como exemplos de Ativos ocultos têm-se o não registro do fundo de comércio internamente desenvolvido e ausência de reavaliações de bens e direitos. Como exemplo de Passivos ocultos têm-se a não escrituração de provisões trabalhistas, ambientais e sociais. A essência sobre a forma hospeda a verdade real como uma supremacia de interesses científicos sobre a verdade formal. Esse teorema tem como valores: o princípio da fidelidade; o princípio da dialeticidade; o princípio da eticidade; o princípio da socialidade; o prin- cípio da operabilidade; o princípio da veracidade e o princípio da epiqueia contabilística. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 45 Princípios de Contabilidade: conceitos e aplicações 45 Princípios científicos do teorema da substância sobre a forma Princípio da fidelidade Para a contabilidade, no abrigo da teoria da substância sobre a forma, a fidelidade é um princípio que tem por finalidade demonstrar a situação real das atividades peculiares de uma célula social. E representa um predicado na escrituração contábil. É uma característica essencial do balanço patrimonial, por força de norma positivada pela política contábil (artigo 1.188 do CC/2002). Representa uma das regras fundamentais do Balanço Patrimonial, que deve assumir sempre a mesma posição de constância, ou seja: firmeza nas afeições e aferições, nas informações de ordem social, ambiental, econômica e finan- ceira; observância rigorosa da verdade; exatidão na valorimetria. Opõe-se aos ilícitos e delitos, que geram o balanço putativo. A ausência da fidelidade na prestação de contas implica a quebra da personalidade jurídica e, consequen- temente, a quebra da autonomia patrimonial, impondo aos administradores a responsabilidade ilimitada pelas dívidas e atividades