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ARTIGO_O BOPE E A EXCELÊNCIA ORGANIZACIONAL_2020

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Gestão Estratégica e Vantagem Competitiva 
Artigo 
 
 
 
Pós-graduação | MBA 
1 
O BOPE E A EXCELÊNCIA 
ORGANIZACIONAL by HSM 
 
O professor Marco Tulio Zanini, da FGV e da FDC, juntou-se ao coronel Alberto Pinheiro Neto, o Caveira 
41 e um dos principais líderes do BOPE, e ao ex-subsecretário de Segurança Pública Márcio Colmerauer, 
para identificar os diferenciais da instituição. Eles encontraram um contexto capacitante formado por sete 
elementos e um conjunto de 11 princípios 
 
Hoje o Brasil inteiro e talvez uma parcela razoável do mundo já conheçam o BOPE, o famoso Batalhão de 
Operações Policiais Especiais do Estado do Rio de Janeiro. Muito antes (trata-se de uma instituição com 33 
anos de existência) e muito além das telas de cinema, o BOPE virou lenda por seu histórico de desempenho 
excepcional em condições de absoluta incerteza e risco, tanto que as melhores equipes de operações especiais 
do mundo vêm ao Brasil estudá-lo, do mesmo modo que gestores brasileiros vão aos Estados Unidos fazer 
visitas de aprendizado no Google ou na Zappos. 
 
 
 
Se qualquer força especial já mereceria atenção do universo empresarial por ter de combinar as virtudes da 
hierarquia convencional –organização, planejamento e foco– com as virtudes da coordenação informal –
participação, liberdade de ação e flexibilidade–, o BOPE o merece em dobro, uma vez que, para conquistar 
esse equilíbrio, utiliza como premissa o engajamento incondicional baseado em princípios e valores 
compartilhados, somados, é claro, a treinamento intensivo –especialmente psicológico–, domínio da técnica e 
https://experience.hsm.com.br/entity/459
 
Gestão Estratégica e Vantagem Competitiva 
Artigo 
 
 
 
Pós-graduação | MBA 
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mecanismo de seleção rigoroso. Compreender o êxito do BOPE, portanto, pode servir de inspiração e 
aprendizado para empresas privadas e é por isso que o estudamos em profundidade nos últimos dez meses. 
 
 
3 questões-chave 
A competência distintiva nunca nasce ao acaso. Por trás da construção de um padrão de excelência de 
desempenho, onde quer que seja, sempre há o empenho daqueles que, ao longo do tempo, compreendem que 
são necessárias tenacidade, perseverança e uma ação orientada por valores. Não é diferente da formação de 
equipes de forças policiais especiais, cujas experiências específicas podem nos ajudar a responder, com 
propriedade, às perguntas-chave da gestão atual das empresas privadas: 
 
• Como atribuir sentido e significado ao trabalho? 
• Como construir excelência operacional diante do risco e da incerteza? 
• Como estimular o surgimento das melhores lideranças e equipes? 
Os elementos centrais do modelo de gestão do BOPE são liderança (o que remete a doutrina), treinamento e 
tecnologia, como se vê no quadro da página 47, sendo que nada disso reside em um contrato formal; são, acima 
de tudo, uma construção social e simbólica –ou seja, cultural. As respostas a essas três questões nos permitem 
aprofundar esse modelo. 
 
Confiança e espírito de corpo 
Como atribuir sentido e significado ao trabalho 
Muitos executivos e estudiosos das organizações concordam que as empresas passam por uma profunda crise 
de motivação e sentido para o trabalho. Atualmente, um dos dilemas mais relevantes na vida corporativa é a 
construção de vínculos de confiança nas relações de trabalho que se traduzam em cooperação espontânea e 
motivação, tarefa que costuma ser atribuída aos líderes. Antes de tudo, porém, esse é um dilema da sociedade 
contemporânea, mais individualista e egoísta, portanto de vínculos mais frágeis (nos contratos em geral: 
relações de trabalho, casamentos, amizades e relações com estranhos). 
A vida moderna trouxe maior independência e isolamento social. No mundo do trabalho, relações menos 
dependentes eliminaram os acordos bilaterais de lealdade e fidelidade eterna. A perspectiva das relações de 
curto prazo ameaça o sentimento de responsabilidade pelas tarefas e o comprometimento efetivo com os 
resultados coletivos, reduzindo, consequentemente, a possibilidade da construção de um padrão de excelência 
para a entrega de valor. Organizações que conseguem criar forte sentimento de pertencimento e significado 
para a execução das tarefas ordinárias, conquistando maior devoção dos empregados, adquirem um capital 
social que é uma precondição fundamental para o surgimento de diferenciais competitivos. 
Alguns ensinamentos das equipes de forças especiais, presentes na formação do BOPE, são particularmente 
úteis às empresas –e a criação dos vínculos de confiança e lealdade como base para a ação coletiva está entre 
eles. 
 
Contexto Capacitante 
 
Gestão Estratégica e Vantagem Competitiva 
Artigo 
 
 
 
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Como construir excelência operacional diante do risco e da incerteza 
Desde o início dos anos 1970, o BOPE reúne elementos de gestão que possibilitam a criação de um contexto 
capacitante para a formação da excelência operacional e asseguram sua continuidade. Aqui destacamos sete 
deles: 
1. Missão – A missão declarada do BOPE é intervir e resolver situações extremas, que ameaçam sair ou estão 
fora de controle. Nas paredes do comando lê-se: “Missão dada é missão cumprida”, remetendo a um espírito 
altivo que afirma não haver missão impossível. Seus membros sabem que representam a última instância para 
solucionar problemas críticos e conflitos entre a sociedade e o crime organizado. Sua missão inclui libertar 
todos aqueles que se encontram sob a opressão e a ameaça do crime organizado, grupos ilegais e organizações 
que, pela força, tentam exercer poderes paralelos aos do Estado. O combate em si não é o fim pelo qual vivem 
os combatentes, mas um meio de cumprir sua missão. É melhor evitar o confronto direto, sempre que possível, 
mas os combatentes sabem que, acima de tudo, devem libertar os reféns, mesmo sob a ameaça da própria vida. 
A doutrina e a boa técnica lhes asseguram o sucesso. 
2. Seleção – O BOPE possui um rígido mecanismo de seleção. Pertencer ao grupo significa necessariamente ter 
sido aprovado em um dos dois cursos ministrados pela unidade: o de ações táticas, de cinco semanas, oferecido 
três vezes por ano, e o de operações especiais, de 14 semanas, oferecido uma vez cada dois anos. O objetivo 
desse rígido processo seletivo é identificar, no grupo de aspirantes, aqueles que possuem as competências para 
pertencer à equipe. Não basta ter bom preparo físico, boa técnica e bom caráter. Para que o BOPE mantenha 
seu padrão de excelência, é necessário que os indivíduos selecionados tenham as precondições de um 
combatente: coragem, equilíbrio emocional, constância e força de vontade. Os aprovados que posteriormente 
não têm bom desempenho são dispensados pelas lideranças ou mesmo pelos próprios pares. Os indivíduos que 
conseguem entrar no BOPE por outros motivos que não pela vontade de pertencer ao grupo e seguir sua 
doutrina acabam pedindo para sair, pois não conseguem acompanhar o ritmo das operações e treinamentos. 
3. Significado – Uma vez que tenha sido do BOPE, o indivíduo carrega consigo esse senso de pertencimento 
para sempre. A construção do vínculo de confiança no grupo está fundamentada em um forte significado social 
que fortalece o sentimento de orgulho de pertencimento, missão pessoal e leal-dade. A identidade dos 
“caveiras”, como são conhecidos os membros do BOPE, baseia-se em anos de combate lado a lado com 
pessoas que muitas vezes arriscam a própria vida para salvar um companheiro. Logo, o pacto ético é 
estabelecido sob a premissa de vida e morte. Sabemos pela Antropologia que grupos coesos que se formam 
com forte identidade coletiva estão sujeitos a uma ameaça externa, e esta nunca deixou de existir para o BOPE. 
À medida que o crime organizado foi se transformando e se especializando, também obatalhão cresceu em 
excelência operacional. 
4. Formação deequipes – Um dos valores centrais da organização é o espírito de corpo, pelo qual cada membro 
sabe que a equipe é formada por indivíduos únicos, mas que a vitória somente é possível por meio do trabalho 
em equipe. O BOPE não se caracteriza como um grupo composto pela soma de talentos isolados, e sim como 
um corpo. A excelência está no conjunto. Para tanto, o bem comum tem de prevalecer sobre as ações 
individuais. Na operação não há espaço para o egoísmo. Cada um deve ter a consciência de que seus atos 
influenciam fortemente a segurança e o bem-estar da equipe. O bem comum deve estar acima das escolhas 
pessoais, o que só é possível porque, na prática, todos percebem a importância de ser uma equipe e de agir 
como tal. O indivíduo que toma decisões por si e testa seus limites além do razoável acaba assumindo riscos 
de maneira insensata e torna-se um elo fraco, fragilizando toda a equipe. 
5. Treinamento** – Há uma diferença marcante entre o ritmo do BOPE e o de outras equipes de forças especiais: 
no BOPE, as operações são muito mais frequentes e intensas do que as de algumas das melhores equipes do 
 
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mundo. Isso faz com que os combatentes sejam forjados em combate em um período de tempo bem menor. 
Assim, na Seção de Instrução Especializada do BOPE, pode-se ler a frase: “Treinamento duro, combate fácil”. 
O treinamento intensivo torna a operação menos arriscada e garante a vitória. Ao longo de seus anos de 
existência, apesar dos inúmeros combates, o BOPE tem apresentado pouquíssimas baixas. Nele, o treinamento 
não está relacionado somente à repetição contínua de movimentos, mas ao exercício do uso da razão para 
buscar alternativas possíveis em momentos de alto risco. O medo e o erro são encarados como naturais e 
inerentes a qualquer ser humano. Negá-los é um grande equívoco e sinal de um estado psicológico inadequado 
para o combate. Não reconhecer e não saber lidar com o medo e com a possibilidade do erro inviabiliza a 
construção da excelência operacional. Trabalhar o medo e o erro constitui um treinamento contínuo para as 
operações. 
6. Sucessão**– Como toda organização militar, a sucessão obedece à hierarquia. No entanto, em equipes de 
operações especiais, dificilmente alguém consegue assumir o comando com legitimidade apenas por força de 
um decreto. Em uma organização com cultura coesa e orientada por valores como o BOPE, a legitimidade do 
comando tem peso motivacional fundamental para a manutenção do comprometimento de seus membros e dos 
padrões de excelência nas operações. De maneira geral, o comando é dado a quem demonstra disciplina 
pessoal, autocontrole e liderança em momentos de alto risco. Essas características são adquiridas por aqueles 
que passaram por várias operações e possuem experiência em combate, tornando-se idealmente líderes e 
instrutores. 
7. Punição – Em qualquer sociedade baseada em confiança, os mecanismos de punição estão sempre presentes. 
No BOPE, eles são horizontais, ou seja, os próprios pares inibem o indivíduo de agir de modo inapropriado. 
Mesmo aqueles que são considerados excelentes tecnicamente, quando apresentam falhas de caráter, indícios 
de corrupção ou deslealdade ao grupo, recebem severas punições, a maior delas o afastamento da equipe de 
operações especiais. Não pertencer ao grupo de elite é ser destituído de uma propriedade que não se conquista 
pela indicação pes-soal e não pode ser comprada. 
 
Princípios e valores - O êxito do BOPE não se sustenta apenas na qualidade dos armamentos ou na boa 
técnica, mas, sobretudo, nos princípios e valores que orientam a ação coletiva ao longo dos anos e coordenam 
as operações da equipe. São os valores centrais desse grupo, praticados desde sua fundação, na década de 
1970, que constroem sua identidade e são transferidos, como um DNA, a cada nova geração, informando-lhe 
sobre como agir e realizar sua tarefa da melhor maneira sem a necessidade do comando e controle diretos, seja 
lá quais forem os desafios da operação. Tais valores são: 
Agressividade controlada – Esse valor está fundamentado no princípio: “A técnica suplanta a força”, ou seja, 
o emprego da força é um recurso possível, que deve ser utilizado posteriormente ao uso da razão. A razão tem 
de operar em primeiro lugar, buscando a melhor resposta de acordo com as circunstâncias presentes. 
 
Controle emocional – Significa manter-se sóbrio e lúcido para tomar decisões, mesmo diante de conflitos e 
em momentos de extrema agonia. Sobretudo em situações de combate, nas quais companheiros podem ser 
atingidos gravemente, o combatente deve ficar relativamente calmo para que sua decisão seja o mais assertiva 
possível, com base nas instruções recebidas. Controle emocional é o indivíduo não permitir que o pânico e o 
medo o levem a agir de maneira precipitada, colocando em risco sua vida e a de toda a equipe. Para tanto, ele 
precisa ter uma visão “organizacional” de sua missão. Deve encontrá-la, desenvolvê--la e agarrar-se a ela; 
 
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gerenciar seu tempo; construir consenso, fazendo que sua visão seja aceita pelo grupo; encorajar debates e 
discussões e não se sentir ameaçado por desacordos e divergências de opinião; tomar decisões claras, para 
orientar e assegurar a compreensão e não deixar margem para discussões; assumir o comando quando lhe é 
dado sem vacilar. 
 
Disciplina consciente – Todo combatente sabe que tem de travar uma batalha consigo mesmo e que, para 
tanto, deve adotar uma disciplina pessoal rígida. Ele aprende que, para atingir a excelência na execução das 
tarefas, é necessária uma disciplina pessoal que estimule a força de vontade para vencer o desconforto e a 
tendência ao relaxamento, próprios da natureza humana. Essa disciplina é conquistada no dia a dia. O cuidado 
com as coisas externas ajuda a construir a disciplina interna. 
 
Muitas vezes, a disciplina consciente é alimentada na realização de tarefas ordinárias que visam o bem comum; 
a constante limpeza das armas e do batalhão, por exemplo, exercita o espírito de serviço e a humildade 
necessários para alcançar um nível de consciência superior, ajudando a entender que toda missão exige 
reflexão e autocontrole. O combatente deve se esforçar para sempre ser tática e tecnicamente proficiente em 
tudo; saber que desempenhará um papel em condições desfavoráveis; dizer não à complacência; nunca afirmar 
que ele e sua organização fracassaram porque não fizeram o melhor. 
Espírito de corpo – É um valor que vai bem além da formação convencional de uma equipe de trabalho. 
Revela que a força de um membro nunca estará nele mesmo, mas em seu grupo, e que essa força deve se 
submeter à razão e à boa técnica. Fundamenta-se na crença de que o BOPE é um lugar em que pessoas 
diferentes que perseguem os mesmos valores e adotam os mesmos princípios se reúnem para realizar algo 
maior. Significa que o combatente não constrói absolutamente nada sem uma missão em comum. Ter uma 
missão em comum, treinar e operar juntos com fortes laços de interdependência é o que constrói a excelência 
operacional. Mais importantes do que o indivíduo são a missão e as pessoas encarregadas de cumpri-la. 
Flexibilidade – Esse valor está muito relacionado às questões operacionais. É a capacidade de se adaptar às 
diferentes nuances da missão a ser cumprida, utilizando para tanto os princípios e técnicas de combate. O 
combatente não deve adotar modelos de ação repetitivos ou criar “zonas de conforto”, e sim visar a alternância 
de rotinas, espaços e contextos. Para agir assim, precisa buscar respostas nos princípios para a ação e na boa 
técnica, não se deixando levar por uma rotina operacional repetitiva, que consome sua energia vital. Tudo o 
que ele tem a fazer é preparar-se, com sua equipe, para osucesso da missão e para a sobrevivência. 
Honestidade – A mentira, o roubo e o engano são inaceitáveis, porque não condizem com o espírito daqueles 
que travam o bom combate. Baseado na crença de que um indivíduo só pode ser honesto com o outro se é 
honesto consigo mesmo, esse valor opera como um mecanismo interior de segurança. Todo combatente que 
quer cumprir sua missão com perfeição deve avaliar se está preparado para isso, reconhecendo como se 
encontra seu estado de espírito, e questionar a necessidade e a validade do risco, propondo alternativas, se 
necessário. As regras do jogo têm de ser claras. Cada um tem de se responsabilizar por suas ações de acordo 
com suas posições individuais. 
Iniciativa** – Esse valor significa: manter boa conduta e foco, com atitudes consistentes; nunca ter receio de 
tomar uma posição moral ou ética sobre algo que crê ser o correto a ser feito; ser proa-tivo para se colocar no 
lugar e no momento certos; não se omitir; antecipar--se à ação do inimigo e avaliar possíveis movimentos para 
que a batalha possa ser vencida. A iniciativa diz respeito também à construção do futuro. Partir para a ação é 
adiantar-se e colocar-se à disposição para agir e projetar um futuro desejado, e isso se consegue com boa 
técnica. 
 
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Lealdade** – A lealdade entre os membros do BOPE é um escudo e a principal característica do grupo. Em 
nossos estudos, as relações de confiança entre pares no BOPE superaram qualquer outra já investigada em 
uma pesquisa científica. A lealdade de uns para com os outros blinda o grupo contra quaisquer possibilidades 
de oportunismo. De certa maneira, trata-se da capacidade de reconstruir uma propriedade muito difícil de ser 
observada hoje e altamente desejável em qualquer grupo social. Há um pacto de lealdade entre os membros 
do BOPE que protege o grupo e o indivíduo ao mesmo tempo. Esse pacto só é possível porque a conduta de 
todos é provada constantemente nas operações; baseia-se na escuta e na ajuda a um companheiro, a qualquer 
momento, na esperança de que líderes e subordinados façam o mesmo. 
Perseverança – No comando, significa buscar identificar o “centro de gravidade da organização”, seu “ponto 
de equilíbrio”, ou seja, o núcleo que dá à organização a força necessária para atingir suas metas e objetivos. 
Há um “esforço principal” do líder em comando em nutrir e cuidar desse núcleo permanentemente. Na 
perspectiva do combatente, esse valor está também relacionado à autoconfiança, à certeza de que a rotina 
disciplinar o orienta para a vitória certa, eliminando ao máximo a possibilidade de derrota. Acima de tudo, 
baseia-se na crença fundamental de que a missão precisa ser cumprida e que não se deve desanimar diante das 
vicissitudes e dificuldades impostas, e que o indivíduo é escolhido para cumprir seu papel em certo momento; 
dependerá dele mesmo estar devidamente preparado para entregar seu melhor. 
Versatilidade – No comando, significa observar, escutar e aprender cada vez mais sobre sua organização, 
aproveitar cada oportunidade que surgir para articular claramente qual é o “esforço principal” e alocar recursos 
para assegurar seu sucesso. Na perspectiva do combatente, é manter o espírito altivo, ser capaz de transitar por 
diferentes ambientes e comunicar-se com autoridades, moradores de comunidades e representantes de diversas 
entidades. O combatente deve representar sua missão e seus princípios onde quer que esteja e seja convidado 
a estar. 
Liderança – Finalmente, no BOPE, a liderança não está necessariamente relacionada ao formalismo da 
patente militar, mas é reconhecida como uma dimensão que todos devem possuir. Muitas vezes a liderança 
formal e a informal coexistem em harmonia. Esse equilíbrio é possível nas equipes de operações especiais e 
raramente encontrado nas convencionais. Surge da consciência coletiva sobre a importância da hierarquia para 
o sucesso das operações e do acolhimento e admiração das virtudes de cada membro da equipe. 
 
Liderar é influenciar as pessoas de maneira que elas façam aquilo que deve ser feito, cada uma assumindo suas 
atribuições. No combate, a principal preocupação do combatente é sobreviver para cumprir sua missão. Por 
isso, o líder em comando não pode estar permanentemente na linha de frente. No entanto, o indivíduo que 
assume a liderança de uma operação foi formado em combate por bom tempo, e é importante que ele conheça 
muito bem como a operação ocorre. Uma vez no comando, deve preservar-se para poder tomar decisões livre 
da pressão imposta pelas circunstâncias extremas da operação, pois suas decisões devem pesar a vida de todo 
o grupo. 
 
 
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Objetivo: a paz 
Equipes de forças especiais, como as conhecemos hoje, nasceram durante a Segunda Guerra Mundial com a 
finalidade de empregar recursos de maneira concentrada, por meio da informação, para alcançar resultados 
mais significativos que poderiam alterar o curso de uma batalha ou da própria guerra. Com o tempo, 
especializaram--se segundo os desafios específicos que foram surgindo (antiterrorismo, resgate de reféns, 
combate em locais de alto risco, antidrogas e outros). 
O fato é que os resultados alcançados por elas são surpreendente e consistentemente superiores aos de qualquer 
força policial convencional, provavelmente por serem resultantes do exercício de pensar modos mais eficientes 
e eficazes de coordenação ante o aumento da complexidade dos desafios impostos pelo contexto, conforme os 
expostos neste artigo. 
Mais ainda: os melhores resultados nessas operações não são conquistados apenas pela coragem de seus 
membros em destruir os meios de combate do inimigo, mas, sobretudo, em eliminar das tropas inimigas 
qualquer vontade de combater. 
O foco do BOPE hoje é a busca incessante da paz, entendendo que ela só será possível se for combatido o 
“bom combate”. Por trás dessa missão, os “homens de preto” sabem que inúmeras pessoas ainda estão privadas 
de seus direitos fundamentais de cidadania, coagidas a viver sob um regime local que incita os jovens a se 
alistar no tráfico de drogas. Há uma guerra justa a ser travada cada dia, como ocorre nas empresas. Como já 
 
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afirmava um observador da guerra, Vegécio, em 390 a.C., “aquele que deseja a paz que se prepare para a 
guerra”. 
 
 
Saiba mais sobre o BOPE 
 
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Artigo 
 
 
 
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Criado em 19 de janeiro de 1978, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) é uma força de 
intervenção da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Conta atualmente com 400 policiais especializados 
em ações de resgate de reféns e combate ao crime em áreas de alto risco. O símbolo da faca e da caveira é 
adotado desde o surgimento do grupo. Tais elementos estão presentes em várias equipes de forças especiais 
em todo o mundo: 
• A faca simboliza o caráter de quem faz da ousadia sua conduta; representa também o sigilo da missão. É o 
mais perfeito instrumento de combate que o homem já desenvolveu; basta observar que a forma básica da faca 
não foi alterada em milênios. 
• O crânio simboliza a inteligência e o conhecimento, mas também a morte. A faca nele cravada, 
historicamente na concepção do BOPE, significa “Vitória sobre a morte”. 
• As garruchas são o símbolo da Polícia Militar. 
Ao longo de sua existência, o Batalhão de Operações Policiais Especiais da PolíPolícia Militar do Estado do 
Rio de Janeiro, o BOPE, atingiu um nível de excelência operacional que é reconhecido pelas melhores equipes 
de forças especiais do planeta. Atualmente, é considerado uma das melhores equipesde intervenção em 
conflitos armados em áreas urbanas do mundo. Tornou-se referência no Brasil e no exterior. Não é de estranhar 
que equipes como a Swat, os US Marines, o FBI, os Seals da Marinha dos Estados Unidos, o grupo especial 
GSG9 alemão, a Le Raid francesa e até mesmo a reservada Yaman, unidade antiterror da polícia de Israel, 
dentre outros, tenham vindo ao Rio de Janeiro trocar experiências com o BOPE. 
 
Saiba mais sobre os autores 
Professor e pesquisador da Fundação GetuGetuliogas do Rio de Janeiro (FGV-RJ) e da Fundação Dom Cabral, 
de Minas Gerais, Marco Tulio Zanini é pioneiro no Brasil nos temas “confiança nas empresas” e “gestão 
integrada de ativos intangíveis”. É doutor em management pela Universidade de Magdeburg, da Alemanha, e 
coordenador do mestrado executivo em gestão empresarial da FGV-RJ. 
O coronel Alberto Pinheiro Neto, o Caveira 41, ficou lotado no BOPE por mais de 15 anos e comandou a 
unidade de janeiro de 2007 a julho de 2009, fase dos combates mais intensivos contra traficantes no Rio de 
Janeiro. Sua liderança foi marcada por um salto de qualidade na gestão dos recursos humanos, logística e 
operações. Atualmente é o comandante responsável por todas as unidades de operações especiais da Polícia 
Militar do Estado do Rio de Janeiro. 
Márcio Colmerauer foi subsecretário de Estado de Segurança Pública e é atualmente o chefe de Gabinete da 
Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão do Rio de Janeiro. 
 
 
FONTE: https://experience.hsm.com.br/trails/gestao-e-lideranca-em-momentos-criticos/post/o-bope-e-a-
excelencia-operacional 
https://experience.hsm.com.br/entity/1165930
https://experience.hsm.com.br/entity/33092712

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