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COSTA, Emilia Viotti da A Expansão cafeeira e a mão de obra escrava

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COSTA, Emilia Viotti da. A Expansão cafeeira e a mão de obra escrava. In: Da senzala à colônia. São Paulo: Difel, 1996 p. 19–64.
 “As primeira informações que possuímos se referem a uma precária produção do Rio de janeiro, ainda na época colonial, nos fins do século XVIII. Esta produção desenvolve-se rapidamente. Exigente quanto as condições de clima e de solo, necessitando terras férteis, temperatura sem oscilações excessivas, pluviosidade bem distribuída durante todo o não, sem épocas de secas prolongadas, o café encontrará nessas regiões seu habitat ideal.” (p. 19).
 “Mas o resultado das tentativas que se fazem nos arredores do Rio de Janeiro e nas regiões paulistas, onde o agricultor ensaia o plantio de café ao lado do açúcar e do algodão, só se torna significativo pouco tempo antes da independência.” (p. 19).
 “O plantio de café foi estimulado pela solicitação crescente do produto, por parte dos paises europeus, principalmente depois de cessadas as convulsões político-econômicas provocadas pelas guerras napoleônicas e pelo Bloqueio Continental.” (p. 21).
 “A substituição das antigas culturas pelo café era observada também na região do “Oeste”. Na zona de Campinas, mentícios, que haviam constituído a grande riqueza do passado, tinham sido substituídas pelos cafezais. A cultura da cana e o fabrico da aguardente, entretanto, não haviam desaparecido, continuando a ser explorados com vantagem.” (p. 22).
 “O ouro verde dos cafezais iria substituir o ouro fulvo das minerações. Famílias das antigas zonas mineradoras povoaram os distritos novos das regiões de fluminense e paulista dedicando-se a lavoura de café.” (p. 24).
 “Com a inauguração da estrada União e Industria, em 1861, ligando o Rio de Janeiro a Juiz de Fora, e graças às ramificações empreendidas, tornou-se mais fácil o escoamento da produção dessas regiões. Por sua vez, a estrada de ferro Pedro II, que em 1864, chegava com seus trilhos à Barra do Piraí, atingia Entre Rios, três anos depois seguindo para Barra Mansa e Juiz de Fora, servia as regiões cafeeiras de Mar de Espanha e municípios vizinhos. Graças a esta rede de ferroviária, crescera acentuadamente a produção de café mineira que triplicará em um decênio passando de 757.773 arrobas na safra de 1857/58 para 2.149.354 em 1867/68. Na província de São Paulo, observa-se o mesmo fenômeno: a construção de ferrovias possibilitava a expansão maior em direção ao interior.” (p. 25).
 “Em Minas, a extração do ouro exigira, no século XVIII, grande numero de braços. Ao iniciar-se a expansão cafeeira, o excedente de mão-de-obra deixado pela economia aurífera em decadência ira suplementar as necessidades da lavoura.” (p. 26).
 “Foi o café o grande responsável pelo aumento do numero de escravos e pela modificação das estatísticas. São Paulo passará com o Rio e Minas a deter, em 1887, 50% da população escrava do País.” (p. 26).
 “Uma Constituição que igualava todos perante a lei e revestia-se de formulas liberais copiadas de Constituições européias, principalmente a francesa, no que se refere às garantias dos direitos do homem e do cidadão, ao mesmo tempo que permitia a persistência do regime servil, com todo seu quadro herdado do Brasil colonial.” (p. 26).
 “A atividade era incessante e exigia mão-de-obra abundante, variada e adaptada a serviços rústicos e grosseiros.” (p. 27).
 “Aceitar o trabalho livre era abdicar de uma parcela de autoridade profundamente arraigada na mentalidade senhorial. Era colocar-se nas mãos do trabalhador. Era ter que ouvir suas pretensões e cedo ou tarde medir-se com ele, quem sabe ate numa situação de inferioridade. Isso seria para o senhor uma inversão da “ordem natural”.” (p. 28).
 “Juridicamente o país era independente, novas possibilidades se abriam para a economia, mas a cultura do café se organizava ainda nos moldes coloniais, e com ela se prolongava o sistema escravista. Herdava-se uma solução econômica: o latifúndio exportador escravista, uma tradição cultural: a mentalidade senhorial, um habito a escravidão.” (p. 28).
 “Mas era principalmente nos serviços mais perigosos que os fazendeiros temiam arriscar seus escravos, que o trabalhador livre era empregado. Empreitava-se a derrubada e a roçada.” (p. 29).
 “Em algumas regiões o trabalho livre persistiu, pois sob a forma de meação (parceria) ou arrendamento dedicando-se ao cultivo de gêneros de primeira necessidade. A situação do trabalhador livre, entretanto, não deveria ser muito melhor do que a do escravo: sem propriedade, recebendo salários ínfimos, produzindo pouco, podia ser mandando embora a qualquer hora, não tendo para onde ir. A facilidade de obter mão-de-obra escrava reduzia as possibilidades do trabalhador livre que não tinha a quem alugar a sua força de trabalho.” (p. 30).
 “Por ocasião da Independência, nova investida de Inglaterra. Suas pretensões foram consubstanciadas no tratado de 1826, feito entre o Governo brasileiro e o britânico, o qual formalizou o reconhecimento da Independência do Brasil. Alem de outra concessões concordava o Governo brasileiro em endossar acordos anteriormente havidos entre a Inglaterra e Portugal no que se referia ao problema da escravidão e do trafico e, ao mesmo tempo, se comprometia a proibir definitivamente o trafico dentro de três anos, isto é, em 1830, uma vez que os tramites do acordo se prolongaram ate 1827. A partir de então o comercio de negros seria considerado pirataria e punido severamente.” (p. 31).
 “O café se firmava definitivamente por volta de 1830 nas regiões do Vale do Paraíba fluminense. Passava-se das incertezas do pioneirismo para uma época de grande desenvolvimento. A pequena propriedade não pudera resistir ao latifúndio. A cultura do café exigia grandes investimento: a terra, as construções e os escravos. A imobilização do capital durante largo período eliminava os pequenos concorrentes. O trabalho livre não podia concorrer com o escravo. Tudo levava a que cada vez mais se recorresse aos mercados africanos. A procura de negros aumentou. Enquanto nos tratados políticos a nação se comprometia a fazer cessar o trafico, o interesse da lavoura exigia, cada vez mais, mão-de-obra escrava abundante, e o trafico se intensificava. A sorte do café e dos escravos estava unida nestes primeiro tempos. A riqueza do senhor era medida pelo numero de pés de café em sua fazendo e pelo numero de negros.” (p. 32).
 “O comercio de escravos compensava largamente os riscos de apresamento em alto mar. Maria Graham, que visitava o Brasil entre 1821 e 23, conta que um mercador de escravos se dava por satisfeito se um carregamento em cada três chegasse a seu destino e que oito ou nove viagens fazem uma fortuna.” (p. 36).
 “A perseguição aos negreiros não conseguia, até 1845, reprimir o trafico. Resultara, num antagonismo crescente contra a Inglaterra e a questão, habilmente explorada pelos interessados na manutenção do comercio de escravos, se transformava numa questão de honra nacional.” (p. 36).
 “A hostilidade contra a Inglaterra tinha, alias, origens mais remotas e causas mais profundas. O predomínio do comercio inglês, a invasão do mercado pelos seus produtos, defendidos desde 1810 por clausulas excepcionais, reiteradas posteriormente em 1826, tinham despertado a animosidade da população local que via nessa situação a causa de todos os males, dando origem a uma xenofobia que extravasou, as vezes, nas revoltas do período regencial.” (p. 37).
 “A partir de 1845, o numero de escravos entrados triplicava como que a desafiar as medidas de repressão levadas avante pela Inglaterra”. (p. 39).
 “Durante todo esse período, as incursões inglesas em águas territoriais prosseguiam. Navios nacionais, com carga nacional, tripulação nacional, que se dedicavam a navegação costeira eram apreendidos sem qualquer consideração e enviados para Santa Helena, mesmo que não fossem encontrados sinais evidentes de traficância de escravos.” (p. 39).
 “No Brasil a opinião publica começa a se dividir. Fazendeiros abarrotados de escravos encaram com maior complacência a perspectiva de interdiçãodo trafico, viam talvez nisso a valorização de sua propriedade. Eram os traficantes os maiores interessados em prosseguir, e com estes os lavradores da zonas mais novas que ainda não contavam com braços suficientes para cultivar suas terras.” (p. 40).
 “O empolgamento da questão pelo jogo político partidário, a pressão britânica, o reecrudescimento da vigilância nos mares pela marinha inglesa, o fato de setores mais ou menos extensos estarem momentaneamente abastecidos de escravos, criaram as condições que serviram de base para que se resolvesse definitivamente a questão do trafico. Foi assim que a Câmara dos Deputado, reformando e emendando em julho de 1850 o projeto do Senado nº 133 de 1837 sobre a repressão do trafico de africanos, acabará por votar, em 4 de setembro, a lei nº 581. por essa lei foi determinado que as embarcações brasileiras encontradas em qualquer parte e as estrangeiras encontradas nos portos, enseadas, ancoradouros, ou mares territoriais do Brasil, tendo a seu bordo escravos ou havendo-os desembarcado, seriam apreendidas pelas autoridades ou pelos navios de guerra brasileiros e consideradas importadoras de escravos.” (p. 40).
 “A lei de 1831 pretendera sufocar o trafico, a realidade a desmentira. Apesar de todos os protestos e repressões por parte do Governo britânico, ela permanecera letra morta. O mesmo não sucedera com a de 1850. a despeito do contrabando que continuou a ser feito durante algum tempo, acabou por ser respeitada. Isso exigiu, entretanto, alguns anos de fiscalização e repressão.” (p. 41).
 “A verdade é que diante das dificuldades antepostas à importação de negros, as zonas cafeeiras, em franco desenvolvimento, apelaram para o mercado interno, datando daí as grandes migrações de escravos do nordeste e do sul para a região do café e, concomitantemente, o deslocamento da população escrava da cidade para o campo.” (p. 42).
 “O zelo de uns poucos funcionários esbarrava assim na forte oposição dos interesses coligados. A justiça, amesquinhada, nas mãos das oligarquias, não chegava a representar ameaça a esses interesses. Na maior parte das vezes os membros da justiça estavam ligados por laços de família ou amizade aos grupos dominantes. Quando isso não se davam, sua segurança e estabilidade, ficariam ameaçadas se pretendessem inculpar fazendeiros, figuras representativas na sociedade local – potentados do ponto de vista econômico e pessoas de projeção social e política.” (p. 46).
 “A presença de famílias inteiras monopolizando a Administração e a política em certos municipios, constituindo verdadeiras oligarquias, dificultava, quando não impedia, a ação judicial.” (p. 47).
 “Os emissários do Governo, enviados para esclarecer denuncias de trafico ilícito, viam suas ações cerceadas pelas autoridades locais.” (p. 47).
 “Agencias de compra e venda de escravos, assim como de escravos alugados, multiplicavam-se nas cidades.” (p. 54).
 “A busca de alugados era grande. Nas fazendas menores, que não contavam com grande escravaria, na época de serviços extras, era usual contratar escravos, aos quais se pagava um certo salário. Este salário era recebido integralmente pelo senhor. Nas cidades, o aluguel de escravos tornara-se um negocio. Alugavam-se amas, mucamas, cozinheiras, sapateiros, ferreiros, mascates, quitandeiras, pedreiros.” (p. 54).
 “Foi depois da cessação do trafico que se acentuou a alta de preços pela dificuldade maior na obtenção de escravos, principalmente a partir do momento em que cessou definitivamente o contrabando e em que os fazendeiros se viram obrigados a apelar para o mercado nordestino, que passou a exportar mão-de-obra para as zonas cafeeiras, por altos preços. Em vinte anos, de 1855 a 1875, o preço de escravo quase triplicou, passando de um conto a dois e quinhentos e as vezes mais.” (p. 56).
 “Fica assim demonstrada a importância representada pela lavoura cafeeira no século XIX na fixação e no ritmo de crescimento da população escrava na Província de São Paulo. A onde verde dos cafezais que invadia o Vale e alcançava o Centro e Médio Oeste era acompanhada da onde negra da escravidão.” (p. 58).
 “Finalmente aconselhava aos fazendeiros que procurassem aumentar o numero de escravos existentes promovendo casamento entre eles, e dando melhor assistência aos recém-nascidos.” (p. 60).
 “Poucos municípios das diferentes áreas cafeeiras chegaram a apresentar concentrações de escravos tão altas quanto as da região fluminense: a primeira em que se desenvolveram as plantações de café antes da cessação do trafico, a primeira a atingir o maximo da produção e também a entrar em declínio. Em meados do século, na maioria dos municípios cafeeiros localizados nesta zona, o numero de escravos superava de muito a população livre.” (p. 64).

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