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Atividade da andressa o mulato

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE LINGUAGENS, CULTURA E EDUCAÇÃO
Curso: Licenciatura em Educação do Campo
Disciplina: Literatura Brasileira II – 7º Período
Profª. Drª. Andressa Dias Koehler
Aluno: José Eduardo de Souza
ATIVIDADE DE TEMPO COMUNIDADE / OUTUBRO 2019
O Mulato, obra naturalista de Aluísio Azevedo, retrata, além do racismo e da crítica à sociedade burguesa, a maneira como eram tratadas as mulheres, fossem elas brancas ou negras. No romance, a filha de Manuel Pescada, Ana Rosa, desde pequena almeja o casamento e somente nele vê uma forma de ser feliz. O pai, dono de comércios e apólices, é viúvo e cuida da moça, juntamente com a avó, Maria Bárbara. No livro, vemos o quanto a moça necessita e pensa sobre o matrimônio, de tal maneira, que chega a adoecer.
Tal como é retratado nesta obra, a mulher do século XIX era vista pelos homens como inferior, e sua capacidade se limitava às atividades ligadas ao casamento – serviços domésticos, criação dos filhos e zelo pela imagem (física e moral) do marido diante da sociedade. Essa imagem da mulher fez com que fosse arraigada uma cultura de dependência do homem, de forma que a figura masculina, constituída de respeito, equilíbrio e inteligência, fosse indispensável a uma possível estabilidade da mulher. 
Disponível em: <http://periódicos.ufam.edu.br/Decifrar/index>. Acesso em: 21 out. 2019.
Feitas essas reflexões, leia a obra O Mulato atentamente; em especial observe as personagens femininas. Selecione uma delas e estabeleça um paralelo com a história de uma mulher pertencente à sua comunidade, podendo ser de sua família ou não. Cite trechos da obra O Mulato, comparando semelhanças ou diferenças da vida da personagem fictícia com essa mulher da vida real. 
DESCRIÇÃO DO TRABALHO 
A história que irei produzir é de uma mulher da comunidade que, desde nova pensava em estudar, ser professora, mas que dadas as condições de valor da sociedade da época, a fala de sua mãe era que ela deveria arrumar um marido e este custearia seus estudos, caso permitisse que assim o fosse. 
Trata-se de uma senhora de 64 anos de idade, casada, com dois filhos e um neto. Passou toda sua vida a cuidar dos filhos, da casa e do marido. Desde que casou- se, tratou de ter um filho logo, e em seguida e mais vários e outros que seguiram uma escalada em degraus. 
A escolha do matrimônio foi uma coisa curiosa, dramática para ser mais exata. Ela era a mais velha de um conjunto de filhas e o pai do seu futuro esposo, dirigiu-se à casa do pai da moça e disse a este que seu filho já estava adulto e que necessitava de uma esposa, a fim de ajudá-lo na lide com o trabalho, a casa e os cuidados. Ela foi oferecida pelo pai em matrimônio e a seguir este foi consumado, sem nenhum tipo de namoro, de conhecimento, convivência. 
O noivado seguiu e o casório em seguida e já na primeira semana de casados, a primeira decepção: já era tarde e após preparar a janta, deixar toda a casa em ordem, tomou seu banho, perfumou-se e ficou a esperar pelo consorte. Eis que este ao chegar, dirige-se a ela e a repreende, duramente, por sua postura: 
--- Aqui, em minha casa, mulher é a última a tomar banho; somente depois de cuidar de toda a higienização da casa, da cozinha, organizar o trabalho doméstico e, se por acaso, não tenha nada que fazer durante o dia, que vá lascar lenha para cozinhar no fogão à lenha, até mesmo porque não havia fogão a gás.
Esta parte do relato pode ser comparada com a fala de Dona Amância Sousellas:
No seu tempo, dizia ela com azedume, as meninas tinham a sua tarefa de costura para tantas horas e haviam de pôr pr’ali o trabalho! se o acabavam mais cedo iam descansar?... Boas! Desmanchavam minha senhora! desmanchavam para fazer de novo! E hoje?... perguntava, dando um pulinho, com as mãos nas ilhargas — hoje é o maquiavelismo da máquina de costura! Dá-se uma tarefa grande e é só “zuc-zuc-zuc!” e está pronto o serviço! E daí, vai a sirigaita pôr-se de leitura nos jornais, tomar conta do romance ou então vai para a indecência do piano! (AZEVEDO, 2014, p. 38).
A vida seguiu, cada dia mais apertada, porque os filhos foram aumentando em números e à medida que cresciam, careciam de entendimentos e cuidados mais finos e ela tinha que cozinhar para peões que trabalhavam na lavoura de café, além de auxiliar na lide com as colheitas do grão nos terreiros.
Isto bem poderia parecer uma história do século XIX, mas trata-se de uma que ocorreu até fins do Século XX, porque a situação somente muda quando o marido morre e a esposa e os filhos se mudam da fazenda para a cidade, junto com filhos ainda adolescentes, apesar da idade já avançada. 
É uma história clássica de uma mulher brasileira, que viveu toda sua vida sem conhecer o que representa o amor abstrato por um homem, porque algum pai, na iminência de casar os filhos, procura em outra família, junto ao chefe desta uma moça que possa ser oferecida em matrimônio, como um negócio que se faz, uma mera troca de mercadorias. Esta questão de conhecer o amor abstrato por um homem é dado pelo fato que não teve a oportunidade de experimentar outros diálogos prováveis e nem mesmo de confrontar o que sentia com o que poderia sentir, sendo que tudo o que poderá traduzir ao fim de sua existência como amor é respeito, obediência e subserviência ao seu marido, que lhe foi imputado pela autoridade soberana e inapelável do pai. 
Até mesmo o amor de mãe representa-lhe um conflito, a saber, com exatidão se é ou não, porque geralmente este é uma extensão do amor do marido transferido para os pequenos e o que se tem é uma obrigação de amar o esposo sendo transferida como uma obrigação de cuidar, zelar e amar os filhos, não uma construção que se faz a dois, a quatro mãos...
O texto de Aluísio de Azevedo (1857-1913), marcado por seu humor sádico, ao estilo Voltaire (1694-1778), acre, retrata uma realidade do Século XIX, que somente foi transferida como herança para o Século XX e persiste no Século XXI, em que a mulher ainda continua sendo tratada como um objeto de troca, figura diabólica, sinistra, devendo obediência cega àquele que a toma por esposa, assim sendo até a consumação da morte, vendo-se obrigado a guardar sob rigoroso segredo toda a sua obstinação a esta condição de ser.
O livro O Mulato, publicado em 1881, foi uma sátira e uma crítica pesada ao termo e à escravidão, especialmente à maternidade, porque mulato é uma derivação de mula, animal híbrido resultante da mistura de Equus asinus e Equus cabalus, cujo resultado é um animal que não reproduz, somente em casos muito raros. Daí a ideia de que se misturasse duas raças humanas, uma branca e uma negra, resultasse em um produto que não criaria, todos os produtos, machos e fêmeas, seriam ideais para o trabalho escravo.
Agregado a isto, se assemelhava todo o espírito mais bravio e menos puro do animal que resultava do cruzamento zootécnico e assim, se presumia que fosse o produto resultante da mistura entre humanos. É um livro frio, pesado, que procura fazer uma crítica severa e a questão da mulher aí inserida é para esconder ou disfarçar a crítica que o autor deseja dirigir ao sistema social de sua época.
Tem-se na obra duas figuras que são postas como párias na sociedade, a mulher, submissa ao pai e depois ao marido, privada de todo sentimento de conhecimento fora daquilo que lhe é dado ou permitido conhecer por seu senhor e o mulato, a quem nada é permitido, além do desprezo social.
Fonte: AZEVEDO, Aluísio de. O Mulato. São Paulo: Martin Claret, 2005.

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