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REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO

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Direito Penal II - Resumo 
 
REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO 
 
Regime disciplinar diferenciado 
 As previsões legais consagradas pela Lei n. 10.792/2003, que criou o regime 
disciplinar diferenciado, não se destinam a fatos, mas a determinadas espécies 
de autores, impondo o isolamento de até um ano, não em decorrência da prática 
de determinado crime, mas porque, na avaliação subjetiva do Judiciário, 
representam “alto risco” social ou carcerário, ou porque há suspeitas de 
participação em quadrilha ou bando. 
 Não importa o que se faz – o direito penal do fato – mas sim quem faz – ou seja, 
o direito penal do autor. Então, não se pune pela prática de um fato 
determinado, mas sim pela qualidade, pela personalidade ou pelo caráter de 
quem faz, num autêntico Direito Penal do autor. 
 De acordo com a nova redação do art. 52, LEP, quando o fato ocasionar 
subversão da ordem ou da disciplina internas, o preso provisório ou condenado, 
além da sanção penal correspondente, pode estar sujeito ao regime disciplinar 
diferenciado, e as características desse regime estão previstas no próprio 
dispositivo. O regime disciplinar diferenciado pode ser aplicado: 
o diante da prática de fato previsto como crime doloso que ocasione 
subversão da ordem ou disciplina internas (art. 52, caput, CP); 
o em casos de presos que apresentem alto risco para a ordem e a 
segurança do estabelecimento penal ou da sociedade (art. 52, §1º, CP); 
o quando houver fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a 
qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando. 
 De modo geral, esse regime tem duração máxima de 360 dias, sem prejuízo de 
repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um 
sexto da pena aplicada. O recolhimento deve ser feito em cela individual, 
admitindo visitas semanais de 2 pessoas, sem contar as crianças, com duração 
de duas horas. O preso tem ainda direito à saída da cela por duas horas diárias 
para banho de sol. 
Prática de fato previsto como crime doloso que ocasione subversão da ordem ou 
disciplina internas 
 Para aplicação do regime disciplinar diferenciado, não basta a prática de crime 
doloso. É necessário que ele ocasione a subversão da ordem ou da disciplina. Há 
 
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uma exigência cumulativa, ou seja, a prática de crime doloso e a sua 
consequência. 
 Ainda assim, a prática de crime doloso e a consequente subversão da ordem e 
da disciplina não são suficientes para impor o regime disciplinar diferenciado, 
que é, em última instância, uma sanção cruel, degradante e que viola o princípio 
da humanidade da pena. Em cada caso concreto, uma vez superadas as 
questões de adequação típica, o juiz deve examinar a real necessidade da 
adoção do regime disciplinar diferenciado, considerando que se trata de uma 
medida cautelar, ou seja, que deve ser conduzida pelos princípios orientadores 
das medidas cautelares, o fumus boni juris e o periculum in mora. 
 Sem dúvida, a parte mais complexa é a definição teórica do que seria subversão 
da ordem ou da disciplina internas e na sua aplicação conforme o caso. É 
importante entender que o regime disciplinar diferenciado é um estado de 
emergência, por ser um regime muito violento para o apenado. A violência e a 
gravidade desse regime estão na sua essência e na sua motivação. O juiz das 
execuções criminais é, em tese, a autoridade competente para aplicar e 
fiscalizar o regime, depois de ouvir o MP e a defesa, decidindo nos termos do 
art. 93, IX, CRFB/88, sob pena de nulidade. Não havendo nenhuma forma de 
evitar a decretação do regime disciplinar diferenciado, é crucial que seja 
observado o procedimento previsto no art. 59 e no art. 60, LEP, sendo 
asseguradas todas as garantias constitucionais. 
Presos que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal 
ou da sociedade 
 No caso de presos que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do 
estabelecimento penal ou da sociedade existem duas situações que são 
contempladas de forma alternativa e não cumulativa, já que o elevado risco 
pode ser tanto para o estabelecimento penal quanto para sociedade, ou para 
um e para outro. 
 O que seria alto risco para ordem e para segurança do estabelecimento penal ou 
da sociedade? Não seria a realização de um delito ou de uma falta grave 
regulada pela administração da cadeia, porque isso já está na redação principal 
do art. 52, CP. Na verdade, a previsão do §1º é contraditória. O caput do art. 52 
institui o regime disciplinar diferenciado para presos, tanto provisórios quanto 
condenados, que pratiquem crime doloso no interior do estabelecimento 
prisional. Não é possível que outros presos ingressem diretamente no regime 
disciplinar diferenciado sem já se encontrarem no interior de algum 
estabelecimento, e onde tenham praticado um crime dolos com as 
características e consequências previstas. A prática do crime doloso nessas 
circunstâncias é o fundamento da aplicação do regime. É inadmissível que 
algum preso ingresse no sistema penitenciário diretamente no regime 
disciplinar diferenciado, já que o fundamento legal para sua aplicação é a prática 
de fato definido como crime doloso, no interior de uma penitenciária, que 
produza as consequências previstas legalmente. 
 
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 A única possibilidade é estender a interpretação do caput para conjugar essa 
previsão com a previsão do §1º considerando que quando da prática do fato 
definido como crime doloso, no interior da penitenciária, não decorrer 
“subversão da ordem ou disciplina internas”, mas for constatado que presos 
envolvidos no fato “apresentam alto risco para a ordem e a segurança” do 
estabelecimento prisional. 
 Em relação ao alto risco para ordem e para segurança da sociedade, fica bem 
complicado. Para quem já está preso, que risco seria esse ao qual essa pessoa 
poderia expor a sociedade, de forma a justificar o regime disciplinar 
diferenciado? 
Quando houver fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, 
em organizações criminosas, quadrilha ou bando 
 Essa hipótese adota claramente um direito penal do autor, no lugar do direito 
penal do fato e transforma o primado da certeza em meras suposições. Essa 
situação é muito complicada principalmente por conta dos abusos do “poder de 
denunciar” que se tem praticado no Brasil nas últimas décadas, já durante o 
regime democrático de Direito. O crime de quadrilha ou bando tem sido 
explorado de maneira abusiva e indevida, na medida em que qualquer concurso 
de mais de três pessoas acaba sendo denunciado como formação de quadrilha. 
Essa prática inclusive está bem próxima do abuso de autoridade. 
 A mera suspeita de participação em bandos ou organizações criminosas acaba 
justificando o tratamento diferenciado.

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