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1 2 Complementação Pedagógica Coordenação Pedagógica – IBRA 3 SUMÁRIO Apresentação UNIDADE I - Motivação e desempenho escolar Por que começo, contínuo e termino uma atividade ou deixo de fazê-la? Padrões e processos de Comportamento; Motivação para a Aprendizagem; Organização das atividades. UNIDADE II - Avaliação da Aprendizagem e Motivação Como motivar os alunos; Aprendizagem e motivação; Aprendizagem significativa; Condições de aprendizagem significativa; Processo de Ensino-Aprendizagem; UNIDADE II - A Motivação para Aprender Classes da motivação; Teorias sobre a motivação; Professor como figura-chave na motivação do aluno; Influência da figura do professor na motivação do aluno; É urgente valorizar o trabalho do professor; A Arte de educar e motivar; A importância da competência técnica para ensinar; O professor – objeto de conhecimento de seus alunos; O professor como pesquisador; O professor deve ensinar seus alunos a pensar; O professor como orientador; 4 O professor como transmissor de valores; O professor como membro de uma equipe; Metodologia motivadora; Fatores motivacionais; Estratégias de aprendizagem dos alunos; Utilização didática do erro; Medidas organizacionais para ajudar a motivação e a aprendizagem; Técnicas de Motivação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 5 APRESENTAÇÃO É possível compreender a motivação como resultado da busca de necessidades e desejos em realizar ou empreender algo. A motivação ainda que complexa, é inerente ao ser humano, pois determina o fazer, tornando-se o elemento chave para os resultados de vários projetos e para a obtenção da excelência. O que leva o ser humano a se motivar, voltando o seu foco para a realização de seus projetos? Para responder esta pergunta, parece necessário conhecer as variáveis pessoais que influem na motivação com que os alunos enfrentam as tarefas escolares e as mudanças que se produzem à medida que uma atividade transcorre, e como as diferentes formas de atuação que os professores podem adotar, interagem com tais características, contribuindo para a motivação ou desmotivação dos alunos. Este Curso apresenta uma diversidade de textos, princípios e técnicas de motivação para que os educadores possam cada vez mais compreender o desenvolvimento motivacional dos seus alunos, ajudá-los a perseverar nas etapas dos processos de ensino- aprendizagem e a buscar elementos para responder a indagação acima. 6 UNIDADE I MOTIVAÇÃO E DESEMPENHO ESCOLAR Por que Começo, contínuo e termino uma atividade ou deixo de fazê-la? O fato de os alunos realizarem a atividade escolar inclinados basicamente a esta ou àquela meta é apenas um dos fatores que explicam sua motivação. É preciso considerar que, quando os alunos estudam ou tentam realizar as diferentes tarefas escolares, se inicia um processo no qual, desejos, pensamentos e emoções se misturam, configurando padrões de enfrentamento associados, que têm diferentes repercussões na motivação e na aprendizagem. Esses padrões foram mostrados, entre outros, por Dweck e Elliot, Kuhl e Bockaerts. Consideremos o que ocorre, por exemplo, na explicação de um professor, durante o tempo em que um aluno trata de aprender um tema de História e enquanto tenta resolver alguns problemas de Matemática. No primeiro caso, pode ser que o aluno comece atentando para a explicação, mas, se em algum momento não entende ou perde o fio da meada, pode reagir de diferentes modos. Vejamos: Pode perguntar – se o professor permite que o interrompa, o que possibilita que continue prestando atenção. 7 Pode ficar tenso ao perceber que não é capaz de acompanhar a explicação e pensar que vai ter dificuldades com essa matéria. Pode ocorrer que, mesmo entendendo a explicação, não veja importância no que é explicado. Pode fazer com que se sinta incomodado com a tarefa e com a própria situação de aula. No segundo caso, quando está tratando de aprender um tema, o aluno pode experimentar problemas por diferentes motivos. Por um lado, pode ser que a matéria não lhe interesse. Então, quanto mais tempo tentar realizar uma tarefa, maior será o desgosto que experimentará e mais fácil será que se distraia e até mesmo a abandone. Por outro lado, mesmo que a matéria seja interessante, pode ser que tenha dificuldades para compreender os conceitos e idéias tratadas, ou que lhe custe memorizar. Num ou noutro caso, o aluno pode reagir de duas maneiras: Ou procurar quem o ajude a entender o que não compreende, encontrando uma estratégia diferente que lhe facilite a memorização do tema; ou concentrar-se no fato de que não progride, ficando nervoso ou procurando sair da situação de qualquer modo. Finalmente, quando um aluno ou uma aluna estão tentando resolver problemas de Matemática, podem desencadear-se emoções e forma de agir diferente ao longo da tarefa, dependendo da natureza e do progresso ou dificuldade que vão experimentando durante sua realização. 8 Ter de fazer uma tarefa em que se tenham experimentado dificuldades no passado, pode provocar certa ansiedade ao esperar que elas apareçam de novo. Ainda que isso não ocorra, ler o enunciado dos problemas e não saber como resolvê-los, ou experimentar dificuldades quando se passa trabalhando um tempo, algumas vezes leva o aluno a ensaiar estratégias diferentes, mas frequentemente gera uma experiência de impotência que o levará a abandonar a tarefa. Como se pode comprovar nos três casos descritos, as experiências emocionais dos alunos e a forma de reagir diante das dificuldades são diferentes. Algumas vezes geram tensão, angústia, desgosto, sentimentos de incompetência e, como resultado, desmotivação e abandono da tarefa ou de todo o esforço para tirar o máximo proveito. Outras vezes, não se produz a reação anterior - ao menos não imediatamente. Ao contrário, o aluno ou aluna perguntam e ensaiam de modo reiterado novos modos de estudo ou de solução de problemas, o que aumenta a possibilidade de compreensão, aprendizagem e de resolver corretamente os problemas. Padrões e Processos de Comportamento Diante desse duplo modo de reagir surgem várias perguntas: Trata-se de comportamentos mais ou menos sistemáticos que permitem diferenciar tipos de alunos? Em que consistem exatamente esses comportamentos? De que modo afetam a aprendizagem? Como surgem ao longo do desenvolvimento? 9 E, sobretudo, uma vez que é chave para poder ajudar aos alunos, de que dependem que os alunos adotem preferencialmente um tipo ou outro de padrão? A resposta à primeira pergunta é afirmativa. Comprovou-se em numerosos estudos que as diferenças na reação emocional e no enfrentamento das atividades escolares tendem a ser regulares, isto é, cada aluno tende a reagir – em maior ou menor grau - de modo semelhante diante do estímulo que as atividades supõem e das dificuldades que apresentam. Tais diferenças se encontram associadas fundamentalmente às metas visadas pelos alunos durante a realização das tarefas escolares. Algumas dessas diferenças, assim como metas, estão ilustradas na tabela da página seguinte. Imaginemos que dois alunos tenham de fazer uma redação descrevendo o que observaram em uma recente visita a um museu. Se os observássemos, poderíamos deparar com o seguinte: Alunos Cuja Meta é Aprender Alunos Cuja Meta é Salvar sua Auto Estima Diferenças É interessante. Como poderia contar o que vi? Vou tentar um bom trabalho. O que posso contar? Que chateação! Vai valer nota? Para o aluno A, a tarefa apresenta um desafio; para o B, uma ameaça. Vejamos... Vou imaginar que conto para X. Como tornar um texto interessante?Vejamos... Segunda-feira fomos visitar um museu... Que mais conto? Só tenho uma hora... O aluno A se concentra no processo a seguir; o aluno B, no resultado. Prof.: A, você cometeu um erro com o verbo “tinha”. A: Por quê? Escrevi corretamente “tinha”. Prof.: Mas, quando diz “tinha muitos quadros”, o verbo que deveria usar é Prof.: B, você empregou errado o verbo “tinha”. B: Não me dei conta (Pensando consigo mesmo. Que coisa, não deixa passar uma. Será que consegui boa O aluno A procura esclarecimento e valoriza o professor como um recurso para aprender; ao contrário, o aluno B, se mostra defensivo, se concentra 10 “havia”. A: Obrigado, não vou mais esquecer. nota?) nos resultados e considera o professor um juiz hostil. Mas como vou saber se se trata de um verbo ou outro? Prof.: Se substituir “havia” por “existiam”, o sentido continua o mesmo. (Voltando para seu lugar e dirigindo-se a um colega): O que ele falou para você? Corrigiu-lhe quatro erros? A mim só um. O aluno A procura a informação que lhe permita aprender; enquanto o aluno B procura uma que lhe permita salvar sua auto- estima. O exemplo utilizado para mostrar como evoluem os pensamentos, reações e emoções dos alunos ao longo da tarefa, associados às diferentes metas, mostra algumas diferenças fundamentais entre os dois modos de encarar uma tarefa. Por um lado, o aluno motivado fundamentalmente a aprender, tende a perceber as tarefas e realizar como um convite a conseguir algo, como um desafio. A pergunta de partida ou a intenção com que encara a tarefa ou atividade em questão – como realizá-la? – faz com que sua atenção se oriente para cada passo em busca de estratégias para resolver o problema. Por isso, se não entende uma explicação, ou mesmo se não compreende algo enquanto estuda, o aluno pergunta, em vez de ficar nervoso. E, se não consegue resolver um problema, busca outra maneira de fazê-lo, dividindo a tarefa em passos mais manejáveis. Se, ainda assim, não consegue resolver os problemas ou lhe dão uma avaliação baixa porque não compreendeu algo, tende a perguntar a fim de encontrar a origem de seus erros e o modo de corrigi-los. 11 Ao contrário, o aluno que tende a conservar sua auto-estima diante dos outros, começa encarando a tarefa de outro modo. Antes de tudo, ao se pôr a tarefa, está alerta principalmente à possibilidade que tem de realizá-la corretamente: “Sou capaz de entender sem problemas? Aprendo com facilidade? Sei resolver esse tipo de problema?” Essa preocupação do aluno em saber se é ou não capaz, além de ser menos adequada que se perguntar como fazer a tarefa, já que ela não concentra a atenção na busca das estratégias necessárias para resolvê-las, costuma vir acompanhada de tensão, nervosismo e insegurança. Isso se deve ao fato de que, em caso de fracasso, ficará evidente a falta de capacidade pessoal, o que prejudica a própria auto-estima e aumenta o seu nível de insegurança. A insegurança e tensão crescem principalmente quando, após concluir uma tarefa, os alunos são avaliados. Nesse momento, os alunos cuja meta é aprender, se obtêm maus resultados, tendem a se perguntar o que não está bom, para poder corrigi-lo. É o caso, por exemplo, dos alunos - talvez a minoria - que pedem a revisão de uma prova não tanto para ver se o professor lhe aumenta a nota, mas, para saber porque se saíram mal. Ao contrário, o aluno dependente de sua auto-estima, se obtém maus resultados, tende a pensar que não tem jeito para a matéria e que é muito difícil, diminuindo sua auto-estima, ou manifestar que a culpa é do professor ou que não teve tempo de estudar, etc. Isto é, tende 12 a atribuir seus resultados a fatores pessoais ou contextuais, os quais não acredita poder controlar, e isso incide na diminuição de suas expectativas de êxito e, consequentemente, em sua desmotivação. Na medida em que os processos que acabamos de descrever se repetem em diversos momentos e com relação a diferentes matérias, consolidam-se diferentes modos de pensar e sentir que podem se manifestar em determinada matéria ou tarefa - por exemplo, alguns alunos crêem que não têm talento para matemática, outros se consideram uma negação nos esportes, outros ainda pensam que não têm jeito para trabalhos manuais ou línguas estrangeiras, etc. Aqueles que se consideram de modo generalizado pouco inteligentes e habilidosos, não conseguem resolver tarefas com a motivação necessária. Quando isso ocorre, muitos alunos, deixando de se esforçar, entendem cada vez menos o que devem estudar, o que produz uma perda generalizada de interesse e induz a buscar justificativas de baixo rendimento que permitem salvar a auto- estima: “Os estudos não servem para nada. Não me interessam. Por isso não me esforço”. Com frequência dão a impressão de ser desinteressados, mas isso pode não ser verdade, como mostra às vezes o interesse e esforço que dedicam a atividades não escolares. O que determina, então, que os alunos persigam de modo predominante algumas metas e enfrentem as atividades escolares do modo descrito? 13 Um Dilema: não aprendo porque não me esforço ou não me esforço porque não aprendo, porque não sei o que fazer... As pesquisas atribuem os diferentes modos de encarar a atividade escolar a duas razões. Primeiramente, encontraram-se diferenças entre os alunos, já a partir dos 10 anos aproximadamente, quanto à idéia que têm sobre a possibilidade ou impossibilidade de modificar a capacidade intelectual, as atitudes e as habilidades. Dois ditados populares mostram que se trata de concepções muito arraigadas em nossa cultura: “O que a natureza não dá, Salamanca não empresta”. Esse ditado recorre à ideia corrente de que “vai bem em matemática, línguas, música, dança, esportes quem tem boa memória, é habilidoso, etc.”, ou seja, quem nasce com determinadas predisposições mais ou menos estáveis. Essa idéia costuma estar ligada ao pensamento de que, se tem capacidade, as coisas têm de sair bem desde o principio e quase sem esforço. Independentemente disso ser correto ou não - pelo menos, essas predisposições não são tão importantes quanto parecem - o fato de que compreender, aprender e resolver problemas custa trabalho e não é fácil, especialmente se realizaram repetidos esforços, o fundamental é dar valor ao aluno ou não. Pensar assim faz com que a preocupação com o próprio valor fique em primeiro plano e que a busca de auto-estima seja uma meta básica. Quando isso ocorre, qualquer situação que possa levar ao fracasso é uma ameaça, especialmente se foi precedido de 14 grande esforço, porque então, a única conclusão a que se chega é que não se tem valor. O segundo ditado a que nos referimos é: “Quem persevera alcança”. Como se pode comprovar, esse ditado encerra uma idéia diametralmente oposta à anterior. Aqui, tudo se pode conseguir desde que se ponha o esforço necessário para buscar e levar a termo a estratégia adequada. Essa ideia favorece muito mais a motivação, a aprendizagem e as conquistas escolares. Se o êxito é uma questão de estratégia e dedicação, a atenção se concentra nos passos dados, nos processos seguidos, especialmente quando alguém se encontra em dificuldades. Não importa - ao menos não tanto como no caso anterior que se cometam erros ou que as coisas deem errado, porque se considera que “errar é humano” e leva ao aprendizado. A segunda razão para buscar determinada meta ao realizar a atividade escolar é de outra ordem. É possível comprovar que muitas vezes não se tenta aprender no sentido mais profundo do termo, simplesmente porque não se sabe como fazê-lo, nem que estratégias empregar para abordar um tema, superar uma dificuldade ou resolver um problema.Em contrapartida, quando um aluno não consegue resolver um problema, mas sabe que deve buscar especificamente o que não entende, seja num texto, num colega ou em outra parte, e que, na ausência de ajuda externa, nunca deve dizer “Isto é muito difícil”, mas perguntar-se “Como posso fazê-lo?” e ir tentando diferentes hipóteses e modos de atuação, é mais provável que tenha êxito. Nesse caso, a estratégia empregada será reforçada e com ela a 15 idéia de que em se tentando, em maior ou menor medida, tudo se consegue. Motivação para Aprender Para que nossos alunos realizem a atividade escolar com motivação suficiente parece necessário intervir, no mínimo, em duas direções: 1. Tentando mudar a idéia geral sobre a possibilidade de melhorar ou não as capacidades e habilidades, e o conceito que o aluno tem de si mesmo com relação às possibilidades de êxito nas diferentes áreas. 2. Ensinando modos de pensar que, no momento de realizar as tarefas escolares, permitam enfrentá-las a fim de aprender, com a atenção voltada para a busca e utilização de estratégias que permitam superar as dificuldades, aprender com os erros e construir representações conceituais e procedimentos que facilitem a percepção de progresso e contribuam para manter a motivação elevada. Como os professores podem conseguir as duas coisas? Assinalamos inicialmente que os professores, ao definir objetivos de aprendizagem, apresentar a matéria, propor tarefas, responder às perguntas dos alunos, avaliar a aprendizagem e exercer o controle e a autoridade criam ambientes que afetam a motivação e a aprendizagem. 16 As diferentes formas de enfrentar a atividade escolar que descrevemos não surgem por si sós, mas se vêem afetadas pelo contexto que nós, professores, e, em certa medida, os pais criamos com nosso modo de atuação. Como nossos modos de atuação contribuem para criar ambientes facilitadores da motivação para aprender ou, ao contrário, inibidores dela? Para responder a essa pergunta é necessário examinar em que medida a atividade do professor na sala de aula responde aos objetivos almejados em diferentes momentos do desenvolvimento da aula. Vamos mostrar quais são esses objetivos, que padrão de atuação os professores podem adotar o que os faz ser mais ou menos adequados e o que se pode fazer para melhorá-los. Inicio da Aula Algo que todo professor deve conseguir no começo de uma aula, como condição necessária para motivar seus alunos a aprender, é atrair sua atenção despertando sua curiosidade e interesse e mostrando a importância do que vão aprender. Curiosidade A curiosidade é uma atitude manifesta na conduta exploratória, ativada pelas características da informação tais como sua novidade, complexidade, caráter inesperado, ambiguidade e variabilidade, aos quais o professor pode utilizar para atrair a atenção dos alunos. 17 Por exemplo, começar uma aula sobre pressão atmosférica com alunos de 12 anos dizendo: “Hoje vamos falar das características da atmosfera... uma delas é a pressão... etc.” e continuar a explicação não é o mesmo que começar pedindo-lhes que observem o que acontece quando enchem um copo de água, tapam-no com a mão, viram- no, introduzem-no rapidamente em outro recipiente com água e observam que o copo não se esvazia - fenômeno que não ocorre se fazemos um orifício na parte posterior do copo. Os dois fenômenos implicam - em geral - experiências novas e inesperadas, capazes de despertarem a curiosidade dos alunos. Sua aplicação em diferentes momentos da aula pode servir para despertar a curiosidade. Ainda que para muitos alunos, acostumados a aceitar sem questionar o que os professores apresentam, não seja necessário introduzir a matéria de modo exposto, agir dessa maneira pode ajudar muito - não que seja o suficiente - no caso dos alunos que não progridem, já que em princípio, esse modo de ensinar supõe orientar a aprendizagem para a compreensão de fenômenos, e não para a memorização dos fatos. Iniciar as aulas sem tentar despertar a curiosidade mediante a apresentação de problemas ou de informação nova ou surpreendente mas, como comprovamos que alguns professores fazem, começando diretamente a explicar, pode contribuir para que os alunos considerem que o objetivo é memorizar e ser aprovado, e isso talvez desencadeie formas negativas de enfrentar as atividades como descrevemos. 18 Por esse motivo, os professores deveriam examinar o grau em que usam estratégias como apresentar informação nova, incerta, surpreendente ou incompatível com os conhecimentos prévios do aluno e variar os elementos da tarefa para despertar a curiosidade de todos em sala de aula. Interesse Este termo faz referência ao fato de manter a tensão centrada em algo - nesse caso o desenvolvimento de uma explicação ou de uma tarefa, na medida em que a informação que se recebe pode relacionar-se com o que já se sabe. Trata-se, pois, de um processo diferente da curiosidade, a qual implica dirigir a atenção para um fenômeno novo, incerto, surpreendente, seguido de uma atividade orientada para a exploração dele que facilite seu conhecimento e sua compreensão. Uma vez que o interesse depende da facilidade com que a informação se relaciona com o que já se sabe, é particularmente motivador por um lado, o professor começar as aulas levando em conta o que seus alunos sabem sobre o tema, bem como o ritmo da exposição do professor deve permitir ao aluno assimilar seu conteúdo e, finalmente, a informação se apresentar sempre que possível com imagens concretas, especialmente se permitem ao aluno estabelecer uma conexão com ele mesmo. 19 Quando essas características não estão presentes, torna-se mais difícil manter a atenção centrada na informação que se recebe. Isso pode propiciar lacunas na compreensão que, como assinalamos antes, desencadeiam frequentemente processos de má adaptação como tensão, atribuição do problema à falta de capacidade, etc. Por esse motivo, parece claro que nós, professores, não devemos deixar de examinar, de um lado, em que medida a forma e o ritmo em que apresentamos a informação podem contribuir para manter o interesse não só dos alunos mais rápidos, mas também dos que não progridem, e, de outro, o grau em que tanto a forma com que expomos como as perguntas, tarefas e problemas que apresentamos em sala de aula, estão suficientemente ilustrados com exemplos concretos. Importância dos Conteúdos Outro processo que pode ser afetado positiva ou negativamente pela atividade que os professores desenvolvem no inicio da aula é a percepção da importância dos conteúdos que se devem aprender ou das tarefas que se devem realizar. Todo aluno enfrenta a atividade escolar com a seguinte pergunta - explícita ou implícita: “Para que necessito saber isto?”, buscando assim o significado instrumental ou da meta da tarefa. A resposta a essa pergunta vai condicionar em boa medida os incentivos que o sujeito terá para acolher uma explicação, estudar um tema ou realizar uma tarefa e, 20 em consequência, o esforço que empregará. A determinação do significado de uma atividade depende ao menos de dois fatores: Do grau em que o aluno é capaz de situar a tarefa no contexto de que já sabe; Do grau em que é capaz de determinar as implicações futuras de sua realização. Que o aluno seja capaz de ambas as coisas depende em boa medida da atividade do professor. Esse pode ou não relacionar explicitamente o conteúdo da matéria com as experiências, conhecimento prévios e de valores dos alunos, na medida em que os conhece por terem sido estabelecidos em aulas anteriores. O professor pode deixar mais ou menos explícita a meta pela qual seria relevante aos alunos - talvez por diversos motivos - aprender o que seapresenta como conteúdo da instrução ou realizar a atividade proposta. Por exemplo, numa aula de redação o professor pode dizer: “Vamos aprender a relatar a alguém o que outra pessoa nos contou”. (salientar a importância direta da tarefa). “Vocês devem estudar essa lição porque vou avaliá-los e quem não for bem será reprovado na avaliação (salientar que a aprendizagem ajuda a evitar uma situação indesejável)”. “Lembre-se que sem saber inglês cada vez é mais difícil arranjar emprego”. (salientar a importância instrumental da tarefa tendo em vista uma meta externa desejável). 21 “Vejamos se somos capazes de aprender a contar a alguém o que outra pessoa nos disse sem alterar o sentido”. (Salientar o caráter de desafio da tarefa, algo ligado à antecipação da experiência gratificante por dominar as capacidades e habilidades necessárias para a realização), etc. Se nós, professores, não utilizamos atividades que manifestem a importância interna da aprendizagem almejada ou se as mensagens utilizadas indicam que o que está em jogo é sair-se bem ou mal diante dos outros, etc. Em vez de gerar processos de enfrentamento motivacionalmente adequados, ativam-se as ansiedades e as estratégias de enfrentamento centradas mais na consecução ou evitação de um resultado externo à tarefa - o juízo de êxito ou fracasso que se vai receber do professor. A motivação, como se pode comprovar, não depende só do aluno, mas também do contexto. Daí a importância de os professores avaliarem e modificarem, se preciso as metas que suas mensagens privilegiam, já que elas definem por que é relevante ao aluno fazer ou aprender o que se pede. Organização das Atividades Após introduzir um tema e dar as explicações relevantes, os professores normalmente propõem aos alunos diferentes tipos de atividade. A apresentação de uma atividade qualquer - resolver problemas, fazer experiências, analisar textos, fazer uma redação, 22 etc. - pode variar de acordo com certas características que têm repercussões importantes na motivação. Referimo-nos ao grau de autonomia de que o aluno dispõe para a realização de uma tarefa e ao tipo de interação entre os alunos que tal tarefa requer. Vejamos cada um desses aspectos separadamente. Autonomia Para que uma pessoa assuma de bom grado a tarefa de mudar suas normas de comportamento, a primeira condição é que, embora essa mudança possa vir sugerida de fora, ela a assuma como algo que deseja e escolhe de forma autônoma e voluntária. Isso também é válido no caso dos alunos porque, se essa condição não ocorre, podem rejeitar a atividade escolar como algo positivo e desejável se vê facilitada ou dificultada dependendo da forma como os professores a apresentam. Para que os alunos sintam que trabalham no que querem porque eles assim o querem, é importante que o professor ofereça o máximo de possibilidades de opção, por exemplo, deixando que escolham o companheiro ou companheira quando têm de trabalhar em grupo, oferecendo-lhes vários temas de trabalho para que escolham um quando possível, etc. Esse é um recurso que o professor pode controlar facilmente e cuja importância reside no fato que acabamos de mencionar: todos nos sentimos mais à vontade quando trabalhamos para conseguir o que nos interessa e que nós mesmos escolhemos, do que quando fazemos algo que nos é imposto. O fato de os alunos aceitarem as atividades escolares como algo próprio, se vê facilitado ou dificultado também quando nas aulas se trabalha com base em projetos de desenvolvimento pessoal, estratégia que nos Estados Unidos está começando a se impor associada ao que se conhece como “Avaliação baseada em portfólios”. A idéia é a seguinte: o professor expõe as razões pelas quais é interessante ser capaz de fazer algo: um tipo de produção escrita, resolver um problema da vida real, problemas que implicam por exemplo, o domínio de determinados princípios matemáticos, etc. Posteriormente oferece aos alunos projetos alternativos de trabalhos individuais ou em grupo - que possam ajudá-los a desenvolver as capacidades assinaladas, negociando com cada um o projeto que deve realizar e os objetivos pessoais que deve alcançar, por exemplo, determinando número de produções escritas com determinado nível de qualidade ou certo tipo e número de problemas resolvidos, etc. A fase de negociação dá oportunidade ao professor de discorrer com cada aluno ou grupo de alunos sobre a viabilidade de suas opções, assim como de ajudá-los a se organizar por etapas, etc. As aulas são planejadas e desenvolvidas posteriormente pelo professor como um processo não tanto informativo quanto de ajuda à formulação de perguntas sobre como proceder, de 23 24 assessoramento sobre a realização de cada etapa, etc. Isso não significa que não haja aulas expositivas, mas não a priori. Elas são planejadas nos momentos em que se prevê que a maior parte dos alunos vai necessitar de um tipo de informação. A avaliação orientada para facilitar aos alunos caminhos que lhes permitam melhorar está associada a atividades diárias. Quando é necessário avaliar, os alunos escolhem entre os trabalhos realizados os que consideram suas melhores produções, assinalando os critérios usados, e os apresentam para avaliação. Então o professor assinala em que progrediram e em que não progrediram e por que, e negocia com os alunos um novo projeto que deve levar em conta os resultados alcançados no anterior. Trabalhar em um projeto em que houve possibilidade não só de aceitar ou rejeitar, mas de elaborar, contribui para a percepção de que não se é uma marionete do outro, mas que se faz algo escolhido com autonomia que beneficia a si mesmo. No entanto, na medida em que a situação atual não implica propor aos alunos seus trabalhos escolares no contexto de projetos de desenvolvimento, é difícil que possam superar a sensação de fazer coisas que não têm muito sentido para eles, o que evidentemente desencadeia processos negativos do ponto de vista motivacional. Interação dos Alunos 25 O modo de os alunos enfrentarem a atividade escolar ou a maneira de se portarem diante dos outros, depende também, em boa medida, de como professores e professoras organizam as atividades em aula, promovendo entre eles interação de cooperação (há professores que organizam os alunos em equipes para fazer os trabalhos) ou de competição (às vezes se busca a competição entre os alunos individualmente ou entre equipes), ou não promovendo interação alguma (o que ocorre quando os alunos trabalham sempre individualmente). As diferentes formas de interação promovidas pelo professor têm diferentes efeitos sobre a motivação. A organização das atividades escolares em um contexto competitivo é a que tem efeitos motivacionalmente mais negativos para a maioria dos alunos. A razão principal é que sempre há perdedores. O trabalho individual pode ter efeitos mais ou menos positivos dependendo do tipo de tarefa, do tipo de metas e das mensagens dadas pelo professor. A organização da atividade escolar em grupos cooperativos sob certas condições, parece ser um fator especialmente útil tanto para estimular o interesse e o esforço dos alunos para aprender como para facilitar seu rendimento. Mas que significa “sob certas condições”? Referimo-nos, sobretudo, às condições imediatas que possam tornar efetivo ou não o uso de atividades de cooperação: Tipo de tarefa, 26 Tamanho do grupo, Composição do grupo, Características dos alunos. Por exemplo, nem todas as tarefas são adequadas para o trabalho em grupo, nem todas as que permitem trabalho em grupo, admitem as diferentes formas de organização grupal. Por seus efeitos positivos, tanto sobre a motivação como sobre a aprendizagem, as tarefasmais adequadas para o trabalho em grupo parecem ser as abertas, que admitem várias soluções, nas quais os participantes têm a possibilidade de optar entre diferentes formas de atuação, selecionar como trabalhar ou que informação recolher, etc. No entanto, às vezes os professores organizam trabalhos em grupo sem considerar as características dos alunos, o que pode gerar efeitos contrários aos esperados. O mesmo ocorre se os grupos são grandes, pois a responsabilidade tende a se diluir ao se esperar que “alguém faça o trabalho” ou se forçam a formar um grupo de alunos que não aceitam mutuamente de bom grado. Além disso, às vezes se propõe que os alunos trabalhem em grupo sem considerar se têm a capacidade necessária para tirar proveito da atividade em questão. O professor tem de considerar não só a adequação das demandas da tarefa às capacidades sociais e cognitivas dos alunos, mas também o tipo de “guia” ou “estruturação da atividade” que deve propor a seus alunos antes de começar a tarefa e o tipo de ajuda que vai proporcionando-lhes ao longo de sua realização, 27 para evitar que se percam por não terem capacidade de organizar- se sozinhos. Sobre esse ponto, Solomon e Goberson assinalam que quando os alunos têm um guia claro sobre o que fazer, tendem a se desmotivar menos, não se produzindo os efeitos negativos anteriormente citados (por exemplo, tendência a deixar que outros façam o trabalho). Às vezes, no entanto, quando têm de realizar tarefas que implicam certa atividade exploratória durante um tempo prolongado, não é possível nem desejável um alto grau de estruturação. Nesses casos, cabe especular, já que não há evidência a respeito que o trabalho do professor há de ser o de facilitar formas de interação positiva - ensinar a valorizar as observações de colegas por pequenas que pareçam, mostrar efeitos negativos de atitudes inadequadas sobre a aprendizagem individual e as conquistas coletivas, etc. Não entramos no tipo de ajuda que os membros do grupo podem prestar-se entre si, ajuda cujo grau de elaboração parece ser um dos fatores determinantes dos efeitos positivos da colaboração entre iguais sobre a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo. Trata-se mais de o professor elaborar formas de apresentar a matéria, de reagir diante das exposições dos outros e de realizar tarefas que evitem consequências negativas para a motivação. Quando os professores não agem desse modo, a tensão criada pela não-aceitação dos demais faz aflorar o pensamento de que “na situação de grupo vão me avaliar”, ativando-se, assim, mecanismos para preservar a auto-estima e não aprender. 28 Finalmente, é preciso assinalar que as atividades de cooperação não se realizam no vazio, mas no contexto definido pelo clima geral da aula, dependendo em grande medida da atuação dos professores. Quando esse clima é definido pela percepção do interesse do professor em que cada aluno aprende, de que na aula reina a ordem e há objetivos claros, de que o ritmo da aula é adequado e de que não há favoritismos - tudo o que faz pensar na importância motivacional do conteúdo das mensagens e instruções que os professores dão a seus alunos, antes, durante e depois das tarefas escolares - o uso de condições que dão lugar a efeitos negativos, costuma ser uma forma de trabalho não só aceita, mas preferida pelos alunos, com efeitos claros sobre sua motivação, desenvolvimento cognitivo e rendimento. Interação do Professor com os Alunos Um dos fatores que mais contribuem para definir a motivação dos alunos e facilitar ou dificultar a aprendizagem, são as mensagens dadas pelo professor antes, durante e depois das tarefas escolares, especialmente se são consistentes - se orientam na mesma direção e ocorrem de forma regular. Antes de realizar uma tarefa 29 As mensagens que um professor transmite a seus alunos não no começo de uma exposição, mas antes de realizar uma tarefa, podem orientar sua atenção em diferentes direções. Podem, por exemplo, sugerir que a tarefa é realmente importante para diferentes tipos de metas, ao apresentá-la relacionando-a com diferentes objetivos (por exemplo: “O importante é que vocês aprendam a resolver problemas como estes”, “Estudem, que vão desenvolver tais habilidades e competências, que vão ter uma prova”, etc.). Além disso, podem orientar a atenção dos alunos para o processo em vez de somente para o resultado (“Não se preocupem se o resultado não estiver correto; pensem principalmente nas etapas seguidas, que logo voltaremos a elas”); podem ajudar a estabelecer metas realistas (“Não é preciso fazê-lo perfeito neste momento; fixem-se apenas...”); podem sugerir as estratégias empregadas para realizar a tarefa, ajudando o sujeito a pensar e a não ficar bloqueado. Por exemplo, na análise de um texto, o professor pode dizer: “Ao fazer a análise, lembre - se de que deve responder a essas perguntas: Qual é o conteúdo essencial do texto? Em que contexto - literário, histórico, cultural - cabe situá-lo? A partir de que critérios vou avaliar o conteúdo? E sua forma? Que avaliação fazer? 30 Durante a tarefa Quando as tarefas são realizadas em aula e não em casa, as mensagens que os professores transmitem durante sua realização ao aluno que pergunta ou que observam estar em dificuldades, também podem ter repercussões na motivação. Quando um aluno pergunta, não é a mesma coisa dar-lhe imediatamente a solução do problema, dizer-lhe simplesmente que se esforce ou, uma vez analisada sua dificuldade, dar-lhe pistas que o ajudem a superá-la, como por exemplo: - “Você se lembra dos passos que assinalamos na aula? - “Repasse um por um que talvez o ajude”. Da mesma forma, dizer a alguns alunos que não discutam um problema não é a mesma coisa que lhes dizer: “Não aprende mais quem impõe suas idéias, mas quem é capaz de mudá-las se as do companheiro (ou companheira) são melhores”. Isto é, as mensagens que um professor transmite enquanto os alunos trabalham, não só podem salientar a importância da tarefa para alcançar determinado objetivo, mas podem ajudar o aluno a aprender como realizar a tarefa, ensinando-lhe a planejá-la e a estabelecer metas realistas, a dividi-las em etapas e a buscar e comprovar possíveis meios de superar as dificuldades. As mensagens que salientam os pontos assinalados orientam o aluno para metas de aprendizagem e ensinam a pensar, que é uma das condições para que os alunos possam perseguir essas metas. No entanto, os professores também podem transmitir mensagens que afetam negativamente a motivação do aprender. 31 Dizer “Esforce-se” a um aluno que pergunta, quando ele não sabe como continuar, é deixá-lo sem ação. Perguntar à classe quem sabe a resposta ao que o aluno perguntou em particular, pode pô-lo em evidência e fazer com que não volte a perguntar. A natureza exata das mensagens que um professor pode dar durante a tarefa varia muito. No entanto, é possível categorizá-las em função das metas que salientam, das expectativas que geram, da ajuda que proporcionam e do grau em que supõem para o aluno uma avaliação positiva ou negativa de sua conduta e sua pessoa. Ao final da Tarefa Quanto às mensagens transmitidas pelo professor ao término de uma tarefa, também podem ter repercussões motivacionais variadas. O professor pode dizer simplesmente se a tarefa foi corretamente realizada ou não. Ou, além disso, dizer: “Vamos nos fixar nos passos que X deu para realizar a tarefa”. “Lembrem-se de que o mais importante não é que a tarefa esteja correta, mas que tenham aprendido o procedimento para resolver esse tipo de problema”. Mensagens como essas, orientam os alunos para o processo seguido até a tomada de consciência do que se aprendeu e porquê, fazendo-oscompreender que não importa que tenham se equivocado porque o importante é avançar. Se os professores não transmitem mensagens como as indicadas ou, o que é pior, se ao invés disso dão mensagens que implicam uma avaliação negativa (“Está tudo errado. 32 Assim não vão chegar a lugar nenhum”) ou comparação com os colegas (“A maioria de seus colegas fez melhor que você. Você tem de melhorar”), mensagens que implicam uma ameaça contra a auto-estima, contribuem para que os alunos não vejam as situações escolares como oportunidades de aprender, mas como ocasiões que o que está em jogo é a própria imagem, e isso, como já assinalamos, desencadeia padrões de enfrentamento inadequados. A interação de professores com seus alunos, no entanto, não se limita ao que aqueles dizem a estes. O dito “Não fale tanto e aprenda com o exemplo” aplica-se ao tema que nos ocupa. Quando os professores dizem em voz alta o que pensam acerca de seus próprios acertos e erros, suas preferências sobre o trabalho, suas expectativas e outros aspectos de sua conduta, eles se constituem em modelos dos quais os alunos aprendem o interesse por aprender, como enfrentar uma dificuldade ou que não convém errar diante dos demais. Isso pode ser observado, por exemplo, nas seguintes verbalizações ouvidas quando um professor tenta resolver um problema: “Vejamos..., isto é fácil”. “Porque não consigo?” “Que faço de errado? Vejamos...”. E também no modo como um professor responde ao aluno que detectou um erro cometido enquanto aqueles escreviam na lousa: “Bem... equivoquei-me... Você nunca erra?”, ou “Obrigado por estar atento. Se não fosse você, eu teria induzido vocês ao erro”. Os professores diferem bastante no grau em que são conscientes do valor motivador ou desmotivador de tais 33 verbalizações. Pode argumentar-se, e é certo, que uma verbalização isolada não tem maior importância. Mas, se um professor manifesta sistematicamente com seus exemplos diante dos alunos que o que conta é preservar a própria imagem mais que aprender, é pouco provável que seus alunos atuem de modo diferente. Assim, pois, o exemplo que os professores dão sobre suas metas é outro fator determinante da motivação que deve ser objeto de reflexão e mudança se se quer melhorar a motivação dos alunos. Atividades para facilitar a compreensão dos textos: 1. O que significa motivar o aluno para aprender? 2. Quais as atitudes que o professor deve ter em sala de aula, visando desenvolver no aluno, a motivação para aprender? UNIDADE II AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E MOTIVAÇÃO 34 O último, mas talvez o mais importante dos fatores que condicionam a motivação ou desmotivaçao dos alunos diante das tarefas escolares é a avaliação da aprendizagem. Com esse termo nos referimos não só às qualificações que os alunos recebem, mas também a um processo que vai desde o que o professor diz - ou não diz a eles antes da avaliação para ajudá-los e motivá-los a fazê - la, passando pela apresentação das tarefas e modos de acolhida de informação pontual ou contínua - até o uso a ser feito posteriormente da informação recebida. Ao longo desse processo, os professores podem agir de diferentes modos, que fazem com que a avaliação afete de modo positivo ou negativo a motivação. Toda avaliação implica basicamente um juízo sobre a qualidade da execução de uma tarefa por parte do aluno. Em consequência, quer se trate do juízo que o professor emite sobre a execução quando o aluno vai à lousa fazer uma tarefa, quando corrige o que fez em seu caderno ou quando avalia uma prova, tais juízos manifestam o êxito ou o fracasso do aluno. Por isso, dado que o fracasso tem normalmente um impacto negativo sobre a motivação, se a avaliação ocorre sem que se busque minimizar essa experiência - às vezes os professores, sem necessidade, exigem tarefas muito difíceis sem levar em conta a complexidade do tema e o tempo dedicado em aula - isto produz um nível de fracasso que contribui para que diminuam as expectativas do aluno e, consequentemente, sua disposição para se esforçar. Toda avaliação pode servir, no caso de o aluno não conhecer ou não dominar adequadamente o que se lhe pergunta, para que os 35 professores lhe dêem informação que lhe permita corrigir seus erros. O fato de essa informação se produzir ou não, condiciona os alunos a perceber a avaliação como uma ocasião para aprender ou, ao contrário, como um evento que serve para julgá-los, mas não ajudá-los. Para que o primeiro caso seja possível, é preciso que: As tarefas de avaliação sejam planejadas de modo que permitam dizer ao aluno não só se ele sabe ou não; O conjunto da avaliação responda a um modelo que permita mostrar se um aluno está alcançando um progresso significativo na aquisição de um conteúdo ou nos procedimentos determinados, em vez de proporcionar informação sobre aprendizagens isoladas; A informação sobre o que está mal, por que está mal e como superar o problema, seja dada aos alunos de modo que possam superar suas dificuldades; Se evite na medida do possível, a comparação entre os alunos ao dar-lhes os resultados, já que, caso contrário, se ativaria a preocupação de evitar juízos de valor que possam prejudicar a própria estima, o que resulta em sentimento emocionalmente negativo. 36 As tarefas de avaliação utilizadas muitas vezes, não permitem determinar a origem das falhas dos alunos, o que contribui para a maioria deles ver as avaliações como um julgamento e não como uma ocasião em que podem aprender. A motivação dos alunos no momento de realizar as atividades escolares depende da interação entre, por um lado, as metas pessoais que estão em jogo, o modo como aprenderam a pensar no momento de encarar as diferentes tarefas e as dificuldades que carregam e, por outro lado, diferentes fatores contextuais ligados à atividade dos professores. A consideração desses fatores tem obviamente implicações que deveriam estar presentes no momento de tentar motivar os alunos para a aprendizagem. De um lado, os professores deveriam avaliar suas pautas de atuação para ver em que medida se ajustam às que, de acordo com os princípios expostos, são desejáveis. De outro, se poderia tentar algo que parece possível: ajudar os alunos a tomar consciência dos fatores que influem sua própria motivação, para ensiná-los a controlá-los, de modo que, ainda que os professores falhem, eles saibam como agir. Como Motivar os Alunos? É importante buscar respostas para as seguintes indagações: 37 Como aumentar a motivação dos alunos não é um tema fácil, o que um professor pode fazer para que seus alunos se interessem por sua matéria? Como assegurar que os alunos serão capazes de realizar o esforço sistemático que o estudo e a compreensão dos principais temas requerem? Por que determinado aluno não avança em minha matéria quando as capacidades que intuímos nele são mais que suficientes? Como poderia conseguir que o interesse que determinado aluno tem por outra matéria o tivesse também pela minha? De que maneira deveria organizar minha classe para que a maioria dos alunos se interessasse pelas atividades e tarefas realizadas? Que conteúdos ou que tipo de conteúdo são mais adequados para que nossos alunos realizem uma aprendizagem significativa? Todas essas perguntas e outras semelhantes, nós, professores, nos fazemos e nos faremos com frequência. O problema é que muitas vezes não temos respostas claras e contundentes. A motivação é um dos temas - chave para que possamos alcançar os objetivos que nos propomos, isto é, que os alunos aprendam e desenvolvam ao máximo suas capacidades em todos os âmbitos. Os temas que abordaremos a seguir poderão ajudá-lo (a) a encontrar respostasimportantes para essas indagações. 38 Aprendizagem e Motivação A Aprendizagem Entendemos por aprendizagem, a mudança que se produz num sistema que chamamos aluno ao passar de um estado inicial a um estado final. A aprendizagem implica normalmente uma interação do aluno com o meio, captar e processar os estímulos provenientes do exterior que foram selecionados, organizados e sequenciados pelo professor. Como consequência da aprendizagem, o aluno transforma seu estado inicial, alcançando um estado final que se caracteriza por ser capaz de manter uma conduta que antes do processo era incapaz de gerar; o aluno é capaz de realizar algo que antes não podia ou não sabia fazer. Assim, a aprendizagem é uma construção que o aluno realiza sobre a base do estado inicial ao incorporar a nova informação em seus esquemas cognitivos. Esses processos de recepção de estímulos, de interação das novas idéias com as que já possuem, de aplicação da nova informação, requerem um esforço. É aqui, no mesmo conceito de aprendizagem, que aparece a importância da motivação. Toda a mobilização cognitiva que a aprendizagem requer deve nascer de um interesse, de uma necessidade de saber, de um querer alcançar determinadas metas. Paradigma Cognitivo 39 Os psicólogos cognitivos se preocupam em descrever e explicar os processos que se produzem na mente do aluno, como ele recebe a informação proveniente do meio, como a codifica, como a analisa, como a armazena, como a faz interagir com os conceitos presentes em sua estrutura cognitiva, como utiliza a nova informação para a resolução dos problemas e de novas situações, como elabora as respostas. Ainda que existam muitas lacunas e a descrição que os psicólogos cognitivos fazem desse processo esteja longe de ser exaustiva e completa, algumas de suas idéias podem nos ajudar no momento de tomar determinadas decisões necessárias para planejar, implementar e avaliar os processos de ensino e aprendizagem. Aprendizagem Significativa A aprendizagem significativa apresenta três vantagens essenciais: Produz uma retenção mais duradoura da informação, o que poderíamos chamar de memorização abrangente; Facilita a realização de novas aprendizagens relacionadas; Gera mudanças profundas na estrutura cognitiva, que persiste além do esquecimento de detalhes concretos. Características: são características da aprendizagem significativa: A memorização abrangente do que se aprende; 40 Uma reflexão crítica por parte do aluno para relacionar a nova informação com os conceitos - base de que dispõe; A funcionalidade, ou seja, o que o aluno aprende serve-lhe para resolver novas situações, novos problemas e para realizar novas aprendizagens. Condições da Aprendizagem Significativa Para que ocorra a aprendizagem mais significativa possível, é necessário pelo menos três condições: Significatividade lógica do material, isto é, que os dados e conceitos que compõem o material de aprendizagem, estejam bem estruturados e sequenciados do ponto de vista lógico; Significatividade psicológica, ou seja, que na estrutura cognitiva do aprendiz exista a base conceitual necessária (os pré-requisitos) para incorporar o novo material e para estabelecer um vínculo entre a nova informação e os esquemas cognitivos do aluno. Recordemos aqui a frase de Ausubel: “O fator mais importante que influi na aprendizagem é o que o aluno sabe. Pesquisem e ensinem com base nisso”. Motivação do aluno. Este deve estar disposto a realizar o esforço necessário que toda aprendizagem requer. Processo de Ensino-Aprendizagem Os seguintes elementos ou fases são necessários para compreender a analisar o processo de ensino que conduzirá nossos alunos à realização de determinadas aprendizagens. 41 Para planejar e aplicar processos de ensino e aprendizagem, devemos ter claros os seguintes aspectos que decorrem naturalmente do próprio conceito de aprendizagem: Formulação de metas: - Que aprendizagens nossos alunos devem realizar? - Que esperamos obter ao final do processo? Trata-se, pois, de dar uma descrição do estado final de nossos alunos. - Que conteúdos selecionamos para o ensino? - Que capacidades podemos desenvolver em nossos alunos? - Definitivamente, quais são nossos objetivos, entendendo que um objetivo não é mais que a interação entre uma capacidade e um conteúdo. Estou me referindo às tarefas de planejamento e programação. Conhecimento do estado inicial. Se a aprendizagem é uma construção que o aluno deve realizar ao fazer interagir as novas informações com os conceitos disponíveis, é evidente que necessitamos conhecer o estado inicial do aluno, seus conceitos - base e seus preconceitos ou idéias prévias que deveremos substituir por conceitos científicos. É importante conhecer também o desenvolvimento das capacidades dos alunos e o grau de motivação com que iniciarão o processo de ensino. Modelo de ensino - Que atividades de ensino serão as melhores para que nossos alunos realizem as aprendizagens planejadas ou programadas? - Qual deve ser nosso estilo didático? 42 - Que metodologias são mais eficientes para realizar determinadas aprendizagens? - Como influir positivamente na motivação dos alunos? Modelo de Avaliação. É imprescindível controlar o estado inicial dos alunos, seu estado final e os processos que levaram de um a outro. Necessitamos, pois, de um modelo de avaliação que nos permita controlar e melhorar processos e resultados. Muitas das decisões que devemos tomar estão relacionadas com algum desses elementos do processo de ensino e se referirão à motivação dos alunos. É evidente que no momento de programar as metas, definir os objetivos, será imprescindível ter presente qual é a motivação dos alunos e como podemos melhorá-la. Conhecer o estado inicial dos alunos implica também verificar seu grau e estilo de motivação. Os modelos de aprendizagem e ensino deverão estar impregnados de idéias relativas à motivação se quisermos que nossos alunos realmente aprendam. E ninguém desconhece a influência que os processos de avaliação têm na motivação dos alunos. Exercícios: 1. O que significa aprendizagem significativa? 2. O que necessário considerar para que essa aprendizagem efetivamente ocorra? 43 UNIDADE III A MOTIVAÇÃO PARA APRENDER “Toda atividade requer um dinamismo, uma dinâmica, que se define por dois conceitos: o de energia e o de direção. No campo da psicologia, esse dinamismo tem sua origem nas motivações que os sujeitos podem ter”. A motivação é um conjunto de variáveis que ativam a conduta e a orientam em determinado sentido para alcançar um objetivo. Diz Gagné: “A motivação é uma pré - condição para a aprendizagem”. Frymier afirma: “A motivação para aprender dá direção e intensidade à conduta humana num contexto educativo”. Estudar a motivação consiste em analisar os fatores que fazem as pessoas empreender determinadas ações dirigidas a alcançar objetivos. Classes de Motivação Existem quatro grandes classes de motivação para a conduta humana e para a conduta de aprendizagem/estudo. 1. Motivação relacionada com a tarefa ou motivação intrínseca. A própria matéria de estudo desperta no aluno uma atração que o impulsiona a se aprofundar nela e a vencer os obstáculos que possam ir se apresentando ao longo do processo de aprendizagem. 44 O aluno encontra reforço no processo à medida que avança ao verificar que o domínio de alguns conceitos e técnicas abre-lhe as portas para novos conceitos e técnicas que lhe permitirão ir aprofundando e dominando a matéria objeto de estudo. A motivação intrínseca é mais duradoura, persistente e está relacionada com a própria prática e com os sentimentos que ela provoca no aluno. São os motivos internos do aluno,(o prazer, a alegria da realização, a satisfação da aprendizagem) que promovem o desenvolvimento de outros tipos de necessidades, tais como a competência e a autonomia. Ao contrário, a motivação extrínseca, vem do ambiente, do professor e está relacionada com as recompensas que a prática pedagógica pode proporcionar (prêmios, prestígio, classificações, etc.) 2. Motivação relacionada com o eu, com a auto-estima. Os processos de aprendizagem incluem muitos aspectos afetivos e relacionais. Os êxitos e fracassos vão definir o conceito que temos de nós mesmos (auto-conceito). Quando se tenta aprender e se aprende, vamos formando uma imagem positiva de nós mesmos que sem dúvida nos ajudará a realizar novas aprendizagens, já que gerará em nós uma confiança e uma auto - estima positiva que nos impulsionarão a seguir adiante. 45 3. Motivação centrada na valorização social. Satisfação afetiva que produz a aceitação dos outros, o aplauso ou aprovação de pessoas ou grupos sociais que o aluno considera superiores a ele. Esse tipo de motivação manifesta algumas relações de dependência. 4. Motivação que aponta para a conquista de recompensas externas. Prêmios, dinheiro, presentes que serão recebidos ao se conquistar objetivos de aprendizagem. Diante dessa classificação, deve-se advertir que a motivação de determinado aluno não pode se enquadrar exclusivamente numa das quatro categorias ou classes anteriores. A motivação de qualquer pessoa apresentará componentes presentes em cada um dos quatro grupos. Teorias sobre a Motivação A seguir apresentaremos o resumo de algumas das principais teorias sobre motivação, que podem ter maior incidência no campo do ensino e da aprendizagem. Teoria das necessidades de Maslow Maslow estabelece uma hierarquia de necessidades, que começa pelas de nível baixo (sobrevivência, segurança, pertencer, auto-estima) e conclui com as de nível superior (conquista intelectual, apreciação, auto-realização). Quando estão satisfeitas as necessidades de determinado nível, a pessoa se sente motivada para satisfazer as de níveis superiores. 46 Teoria da Conquista Em todas as pessoas se encontram presentes tanto a necessidade de conquista, de alcançar determinada meta, como a de evitar o fracasso. Existem instrumentos que permitem ao professor verificar quais alunos experimentam preferencialmente a necessidade de conquista e quais a necessidade de evitar o fracasso. O comportamento desses alunos costuma ser diferente. Segundo Os alunos que se apresentam mais motivados pela necessidade de conquistas, apresentam as seguintes atitudes: Selecionam problemas que apresentam desafios moderados; Esforçam-se longo tempo diante de problemas difíceis; Diminuem sua motivação se alcançam êxito com muita facilidade; Respondem melhor a tarefa que implicam maiores desafios; Costumam conseguir melhores qualificações que outros de coeficientes intelectuais parecidos. Os alunos que se motivam basicamente pela necessidade de evitar o fracasso, se comportam assim: Escolhem problemas fáceis ou irracionalmente difíceis; Desanimam com os fracassos e são estimulados pelos êxitos; Preferem como colegas de trabalho os que se mostram amistosos; 47 Respondem melhor a tarefas que apresentam desafios reduzidos e diante de uma aprendizagem fracionada em pequenas etapas. Teoria da Atribuição Todas as pessoas tentam explicar por que as coisas aconteceram de determinada maneira atribuindo-lhes algumas causas. Segundo Weiner, as causas às quais os alunos atribuem seus êxitos ou fracassos podem ser classificadas seguindo diferentes critérios, tais como: Causas internas ou externas, segundo as causas se encontrem no interior do sujeito ou fora dele; Estáveis ou instáveis, segundo respondam a algo permanente ou mutável. ATIVIDADES: 1. Quais são as características fundamentais da Motivação? 2. Para que motivar o aluno? 3. De que maneira a avaliação pode: Motivar o aluno para aprender: Desmotivar o aluno diante das tarefas escolares: 4. Que características têm as pessoas: Intrinsecamente motivadas: Extrinsecamente motivadas: 48 O PROFESSOR COMO FIGURA-CHAVE NA MOTIVAÇAO DOS ALUNOS - As Múltiplas Decisões dos Professores e seu Reflexo na Motivação O elemento mais característico na educação das últimas décadas é a escolarização plena de 100% de nossas crianças nas idades definidas como de escolaridade obrigatória, alcançando no Ensino Médio, níveis de participação crescente que constituem cada ano um novo recorde. A passagem de um sistema de ensino de elite para o novo sistema de ensino de massas supôs o aparecimento de novos problemas qualitativos sobre os quais se impõe uma reflexão profunda. “Trabalhar com um grupo de crianças homogêneo não é o mesmo que atender a 100% das crianças de um país, com os 100% de problemas sociais que essas crianças trazem consigo”. Essa constatação tem implicações claríssimas no terreno da motivação, especialmente dos alunos do Ensino Médio. A mudança produzida é impressionante e fez variar consideravelmente o trabalho dos professores. Quando a sociedade não oferece muitas saídas aos jovens e as perspectivas de encontrar trabalho ao sair da escola são poucas, parece que toda a responsabilidade de motivar os alunos recai sobre os professores. A tarefa não é fácil, mas é necessária. Se analisarmos atentamente todos os processos correspondentes ao planejamento, implementação e avaliação das atividades de ensino-aprendizagem, vemos que muitos professores tomam uma quantidade notável de decisões das quais, muitas vezes, arrastados pelas rotinas, não estão plenamente conscientes. 49 Um importante grupo de decisões diz respeito às que um professor toma durante o desenvolvimento de uma aula ao interagir com os alunos. Muitas decisões têm importância na criação ou manutenção da motivação dos alunos. No esquema seguinte se agrupam apenas algumas das decisões tomadas pelos professores. Planejamento Inicial – Programação de metas - O que ensinar: conteúdos, objetivos, estratégias de aprendizagem; - Sequenciação de conteúdos; - Temporalização, distribuição por cursos, criação de unidades didáticas. Avaliação Inicial – Modelo do estado inicial - Pesquisa do estado inicial, pré-requisitos, conceitos-base, capacidades, idéias prévias; - Adaptação ao planejamento inicial. Trabalho em Classe – Modelo de aprendizagem – Modelo de ensino - Ensino de pré-requisitos; - Atividades de ensino/aprendizagem; - Avaliação formativa. Retificações. Atenção à diversidade. Avaliação final – Modelo de Avaliação - Tomada de decisões: resultados, processos e planejamento. Melhora do planejamento e dos processos – Modelo de Avaliação - Tomada de decisões: resultados, processos e planejamento; - Modificação do esboço inicial. 50 Influência do Professor na Motivação dos Alunos A influência das diferentes tarefas e decisões dos professores na motivação de seus alunos é uma questão absolutamente indiscutível. Se um professor não está motivado, se não exerce de forma satisfatória sua profissão, é muito difícil que seja capaz de comunicar a seus alunos entusiasmo e interesse pelas tarefas escolares; é definitivamente muito difícil que seja capaz de motivá- los. As considerações a seguir, embora óbvias, não deixam de ser importantes. Deficiências na Formação Inicial Parece claro que a formação inicial dos professores não é totalmente adequada para o exercício da profissão. No caso dos professores do Ensino Fundamental, parecem escassos os conhecimentos das diferentes áreas e muito limitados os do campo psicopedagógico. A situação é muito pior se examinamos a formação dos professores do Ensino Médio, cujos conhecimentospedagógicos primam por sua ausência. Em todos os ciclos, deveria incluir-se a formação necessária para que o professor seja capaz de motivar seus alunos. Este é um exercício da sua profissão e, portanto, deve ser um dos tópicos principais em sua formação. 51 É urgente valorizar o trabalho do Professor Deve-se reconhecer que, no decorrer dos anos, nossa profissão foi perdendo prestigio social, sendo evidente a desmoralização que globalmente afeta os professores, especialmente em países pouco desenvolvidos. A atitude do governo não ajuda a dignificar os profissionais da educação. Portanto, é urgente valorizar o ofício de professor. O governo, as escolas e os próprios professores devem considerar isso o objetivo primordial. Caso contrário, encontraremos professores cada vez mais desmotivados que não serão psicologicamente capazes sequer de abordar o problema da motivação de seus alunos. A arte de educar e motivar Os conhecimentos de psicologia são muito importantes, mas não transformam um professor ruim num bom professor. Podem ajudar a melhorar, a refletir de maneira sistemática sobre o fato educativo, podem iluminar determinadas parcelas normalmente obscuras, podem dar ideias ao planejar o ensino de determinada matéria... Os processos de ensino e de aprendizagem são satisfatórios quando se estabelece uma conexão, uma sintonia entre os professores e os alunos, uma cumplicidade. Isso, só determinados professores são capazes de fazer. Como nos meios de 52 comunicação audiovisual, alguns profissionais comunicam mais que outros. Às vezes se diz que o mais motivador para um aluno é ter um bom professor. Também se diz que um bom professor é aquele que sabe motivar seus alunos. Devemos reconhecer que existem grandes professores com escassos conhecimentos de psicopedagogia, mas grande intuição e capacidade de interagir com seus alunos. Sua simples presença já é motivadora. Ao entrar na classe, a atitude dos alunos muda, mostrando-se dispostos a realizar tarefas que com outros professores pareciam impossíveis. A Importância da competência técnica para ensinar Para ensinar é fundamental, não devemos nos enganar, o conhecimento da matéria em questão, isto é ter sólida competência técnica. Devemos conhecer os tópicos básicos da matéria, as metodologias normalmente utilizadas, as estruturas que traçam suas lógicas, a relação com outras ciências. Isso é condição necessária, ainda que insuficiente, para poder ensinar com êxito. Se essa condição não se dá, a reciclagem dos professores deve começar pelo aprofundamento da matéria. As idéias psicopedagógicas, serão um luxo supérfluo se não dominarmos a matéria. Conhecer a fundo a matéria que ensinamos e vibrar com ela é indispensável para comunicar aos alunos a motivação que se 53 costuma considerar mais valiosa do ponto de vista pedagógico: a motivação intrínseca. No decorrer dos anos, os conhecimentos dos professores ficam facilmente ultrapassados. Nesse sentido, é necessária uma formação permanente, já que é importante que os professores falem dos temas da atualidade, os quais interessam muitíssimo aos alunos e são elementos para a formação do pensamento crítico reflexivo, base para a formação da cidadania. O Professor - Objeto de Conhecimento de Seus Alunos Uma das características especialmente difícil da tarefa do professor é que ele mesmo é objeto de conhecimento de seus alunos. Além da comunicação explícita, daquilo que o professor diz e explica, ele comunica muitas outras coisas: maneira de raciocinar, estilo cognitivo, personalidade, atitudes, valores. Sabemos que as atitudes, os valores e a ética se mostram, não se demonstram. O autêntico professor não pode apenas se fazer de professor, deve sê-lo efetivamente. Essa é uma característica que faz com que a vocação de professor seja a uma só vez difícil e apaixonante. A própria pessoa do professor pode ser uma fonte de motivação importantíssima. O tipo de relação que estabelecemos com os alunos pode gerar uma confiança e um aumento de atenção que são condições indispensáveis para a aprendizagem. O Professor Como Pesquisador 54 Em todas as situações com certa carga intelectual, se pesquisa. No ensino, esse hábito não está ainda suficientemente enraizado. O professor deve também ocupar-se da criação e aplicação de inovações destinadas a melhorar os processos e os resultados do seu projeto pedagógico. Na escola deve-se pesquisar para saber mais sobre questões psicopedagógicas e para melhorar a qualidade do ensino. A incorporação da tarefa de pesquisa pode contribuir para a valorização da profissão docente. A escola deve estar consciente da importância dessa tarefa e criar condições que a tornem possível e a facilitem. As necessárias inovações de que nosso sistema educativo precisa, podem nascer de forma natural dessa mudança na atitude dos professores. A idéia de aprendizagem como mudança mais ou menos permanente, que se opera num sistema chamado aluno, que passa de um estado inicial a um estado final, sugere múltiplas possibilidades de pesquisa. Podemos estudar o estado inicial do aluno, o estado final, os processos que se produzem na mente do aluno quando recebe os estímulos que, provenientes do meio, o professor organizou, como o aluno elabora a informação, como a incorpora em seus esquemas cognitivos, quais são as estratégias mais adequadas para conseguir aprendizagens significativas ou de qualidade. O campo de motivação parece-me um terreno muito adequado para ser pesquisado. É importante conhecer e classificar as diferentes motivações de nossos alunos e ver o tipo de tarefas e que métodos são mais 55 adequados para atender a diversidade sempre presente em sala de aula, bem como a determinados alunos individualmente. O Professor deve ensinar seus alunos a pensar Essa é uma das missões fundamentais de qualquer professor. A reforma acentua o ensino dos chamados conteúdos procedimentais. Se examinarmos esse tipo de conteúdo, veremos que há alguns muito ligados a determinados conteúdos conceituais que poderíamos chamar procedimentos específicos, enquanto outros são mais genéricos e se referem a determinadas operações mentais como a observação, descrição, análise, síntese. O conjunto dessas operações é o que poderíamos chamar de pensar corretamente. A reforma educacional, expressa nos Parâmetros Curriculares Nacionais nos convida a incorporar ao trabalho dos professores a tarefa de ensinar a pensar. É importante trabalhar os aspectos relacionados à lógica das diferentes matérias, a formulação de perguntas detalhadas que impliquem uma compreensão das ideias, a capacidade de analisar as novas informações, a realização de novas sínteses. Tudo isso supõe habilidades que nem todos os professores possuem. Como diz Alonso Tapia: “Querer aprender e saber pensar constituem, juntamente com o que o sujeito já sabe e o grau em que pratica o que vai aprendendo, as condições básicas que permitem a aquisição de novos conhecimentos e a aplicação do que foi aprendido de forma efetiva quando se necessita. 56 Saber pensar num contexto dado - diante de uma tarefa concreta, condiciona, consequentemente, o interesse e a motivação pela aprendizagem”. Em alguns alunos, o desinteresse e o baixo rendimento podem ser devidos a deficiências tão básicas quanto não ser capazes de recolher, elaborar e utilizar adequadamente a informação. À medida que esses e outros alunos aprendem a pensar corretamente, sua motivação e seu interesse pelas tarefas escolares vão aumentando. Conhecer, querer saber e saber pensar, são fatores que podem ser melhorados mediante treino, sempre que este se realiza tendo em conta os seguintes princípios: Que as estratégias de pensamento sejamensinadas de modo explícito. Que se ensine aos alunos quando, como e por quê aplicar tais estratégias, a fim de que possam auto- regular sua utilização. Que o ensino dessas estratégias se realize em diferentes contextos para facilitar a generalização. É importante ensinar o aluno a pensar a partir das diferentes áreas ou matérias. É necessário fazer uma distribuição, um mapa, um plano geral no qual fique claro o que se trabalha a partir de cada uma das áreas. Deve-se escolher os instrumentos que possam facilitar a aprendizagem e distribuí-los pelas diferentes matérias. Deve-se mudar o modo de ensinar e de avaliar para tornar possível esse importante e ambicioso objetivo. 57 Para elaborar um plano que permita incorporar o ensinar a pensar as diferentes matérias, será necessário seguir um processo parecido ao seguinte: Fazer uma lista dos procedimentos que aparecem nos planejamentos curriculares das diferentes áreas e matérias. Agrupar esses procedimentos e acrescentar outros que considerar importantes. Decidir a partir de que área ou áreas se trabalhará cada um dos procedimentos. Indicar a partir de que áreas se podem utilizar determinados procedimentos, mesmo que não sejam responsáveis por seu ensino. Escolher os instrumentos, as atividades, os métodos adequados para trabalhar em cada área os procedimentos assinalados. Como se vê essa tarefa não é fácil, já que requer o trabalho paralelo de todas as coordenações e áreas num projeto interdisciplinar - sua realização pode colaborar para a formação permanente do professorado. Um esforço sistemático e organizado nessa linha é muito importante para romper o círculo de que os alunos não sabem porque não estão motivados e não estão motivados porque não sabem. 58 O Professor Como Orientador Cada dia é mais importante o papel do professor como orientador do processo de aprendizagem dos alunos. O professor deve orientar os alunos e oferecer-lhes critérios a fim de que possam tomar todas as decisões necessárias para fixar seu currículo. É necessário que o professor informe e oriente seus alunos sobre as relações existentes entre os estudos e os futuros cursos universitários e profissionais, que possam lhes interessar. O professor deve se interessar pelo aluno e aconselhá-lo sobre as dificuldades que se apresentam nos processos de aprendizagem. Atenção pessoal a cada aluno no terreno acadêmico é dever da profissão. A reflexão conjunta sobre as experiências de aprendizagem e as ações consequentes devem ser guiadas pelo professor. É, sem dúvida, pelo contato pessoal com o aluno que poderemos incidir mais eficazmente sobre sua motivação, analisando com ele seus progressos, as causas de seus êxitos ou fracassos, reorientando seus esforços para continuar melhorando, etc. No campo da motivação, nenhuma técnica didática de grupo pode substituir o contato pessoal, o diálogo, a escuta, a ajuda para que o aluno aclare seus sentimentos diante das tarefas escolares. Se somos capazes de estabelecer canais de comunicação pessoal com cada um de nossos alunos para que possamos tratar e encaminhar muitos dos problemas relativos à motivação que irão se apresentando ao longo do processo ensino-aprendizagem. É imprescindível dedicar um tempo a esse acompanhamento pessoal dos alunos. 59 O Professor Como Transmissor de Valores Hoje quase ninguém discute que a transmissão de valores é uma importante missão do professor. Conscientemente ou não, o professor transmite valores e atitudes: sua maneira de ser, de raciocinar, sua forma de apresentar os problemas, seus critérios para solucionar os conflitos que se apresentam sua maneira de viver... À parte essa transmissão de valores que poderíamos chamar implícita, é necessário que o professor transmita valores de forma explícita. Devemos lutar contra a tendência de deixar isso exclusivamente nas mãos dos “especialistas”, professores de religião, ética. Essa tarefa deve ser assumida por todos os professores de forma transversal, isto é aproveitando as oportunidades da aula ou a partir do próprio conteúdo que se está ensinando. Seguindo Alonso Tapia, os professores devem promover explicitamente a aquisição das seguintes aprendizagens no campo dos valores e atitudes que, sem dúvida, terão implicações importantes no campo da motivação. A concepção da inteligência como algo modificável. A tendência a atribuir os resultados a causas percebidas como internas, modificáveis e controláveis. A tomada de consciência dos fatores que os tornam mais ou menos motivados. 60 O Professor Como Membro de Uma Equipe Todas ou a maioria das tarefas consideradas até aqui, requerem a incorporação do professor a um grupo de educadores que trabalha em equipe. Devemos fazer um esforço para facilitar que as equipes sejam enriquecedoras para seus membros e produtivas para as escolas. As duas dimensões me parecem importantes. As equipes de professores deveriam ter núcleos de formação permanente. O trabalho em comum, o intercâmbio de conhecimentos e experiências, a reflexão conjunta e sistemática, a pesquisa deveriam contribuir para realizar a partir da escola a formação permanente dos educadores. As equipes de professores devem realizar tarefas para o planejamento, implementação e avaliação do ensino. É importante que as decisões que esses processos supõem, sejam produtivas para as escolas e contribuam para melhorar a qualidade da educação que almejamos. A motivação dos alunos se vê notavelmente influenciada pelo clima que se vive e pelo ambiente que se respira na escola, pelas normas de funcionamento, pelos valores que se depreendem da atuação dos professores individualmente e em equipe. É, portanto, muito importante que as equipes de professores sejam capazes de incidir positivamente no clima da escola, criando um ambiente que favoreça o interesse pelo estudo, o esforço, a 61 solidariedade, a ajuda mútua entre os alunos, entre os professores e entre professores e alunos. O clima escolar, o chamado currículo oculto, tem, sem dúvida, importante influência na motivação e no rendimento dos alunos. Todos os membros da comunidade educativa devem estar de acordo com os objetivos que a escola quer alcançar. Esses objetivos devem ser prioridade dos diferentes segmentos da escola. Atividades: 1.O professor deve ensinar o aluno a pensar. Como trabalhar para atingir esta meta? 3. A transmissão de valores é fundamental para a educação do aluno. Como o professor deve fazer para promover a aquisição desses valores de forma intencional? 4. O clima escolar – o chamado currículo oculto exerce grande influência na motivação do aluno para aprender. Como isso pode ocorrer de forma positiva na escola? Metodologia Motivadora O planejamento de ensino realizado pelo professor ou pela equipe de professores deve seguir metodologias ricas e variadas. Devemos utilizar o ensino expositivo e a aprendizagem de 62 recepção, o estudo dirigido, a aprendizagem por descobrimento guiado e a aprendizagem autônoma. Em cada momento deveremos utilizar a metodologia que nos pareça mais direta, mais eficaz ou mais enriquecedora e, sobretudo, mais motivadora. Devemos combinar o trabalho individual dos alunos com trabalhos em pequenos e grandes grupos, a reflexão individual com as experimentações, com o debate, etc. Decidir que tarefas, que atividades de ensino-aprendizagem os alunos realizarão é uma das tarefas mais criativas que nós, professores, realizamos. Um dos critérios que devemos ter presente nessa tomada de decisão é a motivação dos alunos. Raths apresenta alguns critérios interessantes para facilitar a escolha entre as diversas atividades de ensino-aprendizagem. Esse autor nos indica que, em condições iguais, uma atividade