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1
07
Aula 
4D
Português
Argumentação II
Relações lógicas
Por sua natureza, o texto dissertativo-argumentativo expressa uma sequência de ideias, ou seja, uma progres-
são lógica. Essa característica se revela pelas relações propostas entre os enunciados que compõem o texto. Nesta 
unidade, estudaremos algumas dessas relações: a causa, a consequência, a finalidade e a condição.
tico de que “100 milhões de pessoas, 2% da população 
mundial, vivem fora do país onde nasceram” e a citação 
da ONU, a Organização das Nações Unidas.
Além disso, busca possíveis causas desse processo, 
o que fica claro pelo emprego da expressão verbal 
deve-se a, no sentido de ser causado por : “a imigração 
atual deve-se a…”. Novamente citando a ONU, o texto 
aponta três causas para o incremento do processo 
migratório:
a) pobreza econômica;
b) explosão demográfica;
c) danos crescentes ao meio ambiente. 
Vejamos outro exemplo:
2. Segundo a ONU, os subsídios dos ricos prejudicam 
o Terceiro Mundo de várias formas: 1. mantêm 
baixos os preços internacionais, desvalorizando as 
exportações dos países pobres; 2. excluem os po-
bres de vender para os mercados ricos; 3. expõem 
os produtores pobres à concorrência de produtos 
mais baratos em seus próprios países.
Folha de S. Paulo, 02/11/97, p. E 12
A preocupação agora não reside em causas, mas 
em consequências. Também respaldado pela autori-
dade da ONU, o texto elenca efeitos negativos, sobre 
os países pobres, da política de subsídios agrícolas dos 
países desenvolvidos. Ela leva a preços mais baixos 
para os produtos agrícolas, o que acarreta prejuízos 
econômicos para o Terceiro Mundo.
Podemos visualizar, nos quadros a seguir, as rela-
ções lógicas expressas por ambos os textos:
Causa e consequência 
Denominamos causa um evento anterior no tempo 
que determina outro evento, posterior no tempo, 
denominado consequência. 
O fundamental é compreender que, rigorosamente 
falando, se dois eventos são causa e consequência, 
isso quer dizer que eles não ocorreram simultanea-
mente, mas um antes do outro. A causa vem antes, e 
a consequência vem depois. Aliás, a própria palavra 
consequência salienta essa ideia, pois seu radical, o 
substantivo sequência, indica aquilo que se segue, ou 
seja, algo que vem depois.
Por exemplo, o fato passar no vestibular é em gran-
de medida determinado pelo fato estudar muito. Este é 
causa daquele. Aquele é consequência deste.
Textos dissertativo-argumentativos constantemen-
te exploram esses dois tipos de relação. Observemos, 
como primeiro exemplo, o pequeno fragmento de 
texto a seguir, que figurou em exame vestibular da 
Universidade Federal do Paraná:
1. Segundo um relatório da ONU, nunca houve tantos 
imigrantes no mundo: 100 milhões de pessoas, 2% 
da população mundial, vivem fora do país onde nas-
ceram. Para a ONU, a imigração atual deve-se a uma 
mistura letal de pobreza econômica com explosão 
demográfica e danos crescentes ao meio ambiente.
Esse pequeno fragmento apresenta a tese de que 
“nunca houve tantos imigrantes no mundo”. Para 
defendê-la, vale-se de um argumento de prova concreta 
e outro de autoridade, respectivamente, o dado estatís-
2 Semiextensivo
Texto I
Causa Consequência
1. pobreza econômica
2. explosão demográfica
3. danos crescentes ao 
meio ambiente 
1. aumento da migração
Texto II
Causa Consequência
1. subsídios dos países 
ricos 
1. desvalorização das 
exportações dos países 
pobres
2. exclusão da venda para 
mercados ricos
3. concorrência interna 
com produtos importa-
dos mais baratos
Expressão linguística da 
causa e da consequência 
Os conteúdos linguísticos podem, naturalmente, ser 
expressos de diversos modos. Basicamente, as noções 
de causa e consequência vêm referidas por substantivos, 
verbos ou conectivos.
O enunciado a seguir retrata uma divergência de 
opiniões sobre o que pode ter causado uma rebelião de 
presos no pavilhão 9 da Casa de Detenção de São Paulo. 
Observe como nele é, por duas vezes, indicada a relação 
lógica de causalidade:
3. Segundo a Coordenadoria dos Estabelecimentos 
Presidiários, o motivo da rebelião foi a apreensão 
de 20 pedras de crack entre os detentos; para a 
direção do Sindicato dos Agentes Penitenciários 
do Estado, o problema foi a diminuição na quanti-
dade de comida.
Folha de S. Paulo, 31/12/95, Revista da Folha, p. 35
Como vemos, a indicação de causalidade se expres-
sou, linguisticamente, por meio de substantivos, primeiro 
o motivo, depois o problema. Haveria muitas outras 
possibilidades. Poderíamos empregar sinônimos:
4. Segundo a Coordenadoria dos Estabelecimentos 
Presidiários, a causa da rebelião foi a apreensão de 
20 pedras de crack entre os detentos; para a direção 
do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado, 
a razão foi a diminuição na quantidade de comida.
Ou lançar mão de verbos:
5. Segundo a Coordenadoria dos Estabelecimentos 
Presidiários, a rebelião deveu-se à apreensão de 20 
pedras de crack entre os detentos; para a direção do 
Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado, ela 
foi provocada pela diminuição na quantidade de 
comida.
Ou de conectivos:
6. Segundo a Coordenadoria dos Estabelecimentos 
Presidiários, a rebelião ocorreu porque foram apre-
endidas 20 pedras de crack entre os detentos; para a 
direção do Sindicato dos Agentes Penitenciários do 
Estado, por causa da diminuição na quantidade de 
comida.
Conectivos causais
Os conectivos causais típicos são pois e porque. Além 
deles são possíveis locuções conjuntivas, como uma vez 
que, já que, dado que ou visto que.
Merece destaque a conjunção como, que pode ad-
quirir valor causal nos períodos em que a oração causal 
aparece anteposta à oração principal:
7. Como sempre tive a intenção de possuir as terras 
de S. Bernardo, considerei legítimas as ações que 
me levaram a obtê-las.
Graciliano Ramos, São Bernardo
Nesse enunciado a conjunção como não possui 
valor comparativo. O trecho, afinal, não estabelece 
nenhum tipo de comparação entre dois seres. O que ele 
expressa é uma ideia de causa. Ele poderia ser reescrito 
substituindo-se a palavra como pela palavra porque. 
Note, porém, que, para isso, é necessário alterar a ordem 
das orações.
8. Considerei legítimas as ações que me levaram a 
obter as terras de S. Bernardo, porque sempre tive a 
intenção de possuí-las.
Conectivos consecutivos
A estrutura básica de um período composto que 
expressa a noção de consequência apresenta os pares 
tanto…que, tão…que ou tal…que. É o caso do enun-
ciado a seguir.
9. Estávamos tão apaixonados que nem ligávamos 
para o mundo lá fora.
Além desses pares, a consequência pode ser expressa 
por locuções, notadamente por isso que e de modo que:
10. Roberto Rodrigues, presidente da Sociedade Rural 
Brasileira, sugere imediata redução dos impostos 
sobre os alimentos, de modo que os preços não 
precisem subir. 
Eduardo Belo, Folha de S. Paulo, 31/12/95
11. Anteontem chegou uma forte massa de ar polar, 
vinda da Argentina, por isso que a temperatura caiu 
tão bruscamente na cidade de Curitiba.
Aula 07
3Português 4D
Finalidade
A ideia de finalidade é decorrente da ideia de conse-
quência. A diferença é que a consequência propriamente 
dita é algo que ocorre independentemente da vontade 
dos seres envolvidos com o fato. Já a finalidade é uma 
consequência intencional, ou seja, algo que se deseja 
que ocorra, e para o qual se trabalha.
Também devemos considerar que a finalidade, assim 
como a condição, remete a fatos de existência não neces-
sariamente real, fatos do mundo imaginário ou hipotético.
Compare:
12. Trabalhamos arduamente, de modo que pudemos 
atingir nossos objetivos.
13. Estamos trabalhando arduamente para que possa-
mos atingir nossos objetivos.
Na frase (12) o fato atingir os objetivos é afirmado 
como de ocorrência real. Ele é a consequência do tra-
balho árduo realizado no passado. Mas na frase (13) o 
trabalho árduo ainda é um fato presente. Ainda não foi 
possível atingir os objetivos. Entretanto, essa é a meta,a 
finalidade do trabalho árduo. 
Podemos concluir dos exemplos que tanto a finali-
dade quanto a consequência são eventos posteriores a 
outros eventos. Mas a finalidade ainda não ocorreu – e 
pode muito bem não ocorrer. O que a define é a vontade 
que os agentes envolvidos no fato têm de que ela se 
torne consequência.
Linguisticamente, a relação lógica de finalidade 
pode vir expressa de diversos modos, como o recurso 
a substantivos como meta, objetivo, alvo, verbos como 
pretender, intencionar, almejar e conectivos, basica-
mente, as expressões a fim de que e para que.
Condição
Em princípio, denominamos de condição a um fato 
necessário para que outro fato possa ocorrer.
Suponha, por exemplo, que para ocorrer o fato 
passar no vestibular seja necessário que antes ocorra, 
para uma pessoa determinada, o fato fazer as lições de 
casa. Assim, o segundo fato é uma condição para que o 
primeiro possa ocorrer.
Em um enunciado, é bastante comum que a relação 
de condição venha expressa pela conjunção se:
14. Se você fizer as lições de casa, passará no vestibular.
O aluno mais atento deve ter percebido a seme-
lhança dessa relação com a de causa, estudada algumas 
aulas atrás. Aliás, estamos inclusive exemplificando, com 
a mesma situação, a relação entre passar no vestibular 
e fazer as lições de casa. Naquela ocasião o exemplo foi 
aproximadamente o seguinte:
15. Você passou no vestibular porque fez as lições de 
casa.
Em que consiste exatamente a diferença entre causa 
e condição? Esse ponto não é tão simples, e remete a 
áreas não estritamente gramaticais, como a Filosofia e 
a Lógica.
Gramaticalmente, as orações subordinadas dos pe-
ríodos (14) e (15) se diferenciam em primeiro lugar pela 
conjunção que as introduz: se, no caso da oração condi-
cional, e porque, para a oração causal. Essas diferentes 
conjunções certamente operam diferenças semânticas 
entre os enunciados, mas estas podem parecer muito 
sutis, ou mesmo arbitrárias.
Percebamos, no entanto, uma outra diferença 
gramatical. A forma verbal da oração condicional do 
período (14) é fizer (Se você fizer as lições de casa…). 
É uma forma do modo subjuntivo dos verbos. Mas a 
forma verbal da oração causal do período (15) é fez 
(… porque fez as lições de casa.), que se encontra no 
modo indicativo.
A diferença entre o modo indicativo e o modo sub-
juntivo é que o indicativo expressa a ideia verbal como 
uma certeza, um dado de realidade, e o subjuntivo a 
expressa como incerteza, desejo, opinião.
Fizer está no futuro do modo subjuntivo. Fez, no 
pretérito perfeito do indicativo. Portanto, a oração 
causal exprime o fato fazer as lições de casa como algo 
realmente ocorrido, enquanto a oração condicional o 
exprime como hipótese, como fato possível, mas não 
realizado.
Tanto a causa como a condição são fatos que 
determinam a ocorrência de outros fatos. Também são 
ambas anteriores em relação àquilo que determinam. A 
diferença é que a causa é real, a condição é hipotética.
Desse modo, lançamos mão da noção de condição 
para expressar eventos em um mundo não vivenciado, 
um mundo imaginário. As conjunções condicionais são 
como uma senha para o mundo da fantasia, o mundo 
da hipótese.
É assim que quando sonhamos dizemos Se eu fosse 
rico… ou Se eu conseguir vender mais produtos este 
ano…. É função semelhante à da expressão Era uma 
vez… que abre as histórias infantis. São fórmulas a 
sinalizar que os fatos a serem descritos ou narrados ou 
comentados a seguir pertencem a um universo distinto 
do real.
Diferente é dizer Quando eu for rico… ou Quando 
eu estiver na faculdade…. Apesar de utilizar formas do 
modo subjuntivo, essas orações trazem os fatos como 
de realização segura no futuro. É certo que todo futuro 
é um sonho. Mas a perspectiva de quem diz quando… 
parece mais real do que a de quem diz se….
4 Semiextensivo
Compare:
16. Ele cansou, por isso que eu entrei em seu lugar.
 
 Consequência 
17. Eu entrei em seu lugar porque ele cansou.
 
 Causa
18. Se você cansar, eu entro em seu lugar.
 
 Condição
19. Quando você cansar, eu entro em seu lugar.
 
 Tempo
Conectivos condicionais
Além de se, a conjunção caso e as locuções desde 
que e contanto que também expressam a relação de 
condição.
Uma delas aparece no seguinte diálogo, extraído de 
Alice no País das Maravilhas, do escritor e matemático 
inglês Lewis Carrol:
20. 
– Por favor, que caminho devo escolher para sair 
daqui?
– Isso depende muito do lugar para onde você quer 
ir, disse o Gato.
– Não me importa muito para onde...
– Então não importa muito o caminho que você 
escolher, falou o Gato.
– ... desde que eu chegue a algum lugar, completou 
Alice.
– Oh! você certamente chegará, se caminhar bastan-
te, disse o Gato.
No interessante jogo lógico entre Alice e o Gato, o 
Gato tenta estabelecer uma relação de implicação entre 
a escolha de um caminho e a determinação do destino a 
ser alcançado. Argumenta que uma pessoa pode tomar 
qualquer destino se deseja alcançar qualquer destino. 
Alice diz que o argumento é falso, pois há caminhos 
que não levam a destino algum. Diz que a escolha dos 
caminhos só não importa com uma condição:
– ... desde que eu chegue a algum lugar, completou 
Alice.
Oposição de ideias
Ao estudar as relações de causa, consequência, 
condição e finalidade, estivemos tratando da relação 
entre eventos que se de alguma forma complementam. 
Falaremos agora da relação entre eventos opostos.
É próprio do ser humano estabelecer comparações 
entre os seres que percebe no mundo. Essas compara-
ções, ou aproximações, partem da percepção de seme-
lhanças entre os seres. Assim, na linguagem, surgem 
processos como as metáforas, que são substituições 
com base em relações de similaridade.
Entretanto, nem tudo são identidades. Grande parte 
de nossa capacidade de compreensão da realidade 
decorre de nossa percepção de contrastes, de diferenças 
entre os seres. São esses contrastes que permitem indi-
vidualizar, isolar os seres e determinar-lhes a especifici-
dade. Se conhecemos um “homem” é em parte porque 
o contrastamos a uma “mulher”; se reconhecemos o 
fonema “p” é porque o distinguimos (diferenciamos) do 
fonema “b” e assim por diante.
Essa localização de diferenças nos leva, muitas vezes, 
à constatação de certos seres ou eventos que estão 
em oposição a outros seres ou eventos. Estes são, não 
apenas diferentes, mas opostos, no sentido de que a 
natureza de um é contrária ou contraditória à natureza 
do outro. O “branco” é diferente do “azul”, do “verde”, do 
“amarelo” e também do “preto”. Mas além de diferentes, 
“branco” e “preto” são opostos: o primeiro é produto da 
combinação de todas as cores; o segundo é a própria 
ausência de cor.
Grande parte de nossa experiência com a linguagem 
advém do jogo de oposições de sentido. Textos narrati-
vos, por exemplo, estruturam-se com base em conflitos, 
que são relações de oposição entre personagens, ou 
entre o personagem e o mundo ou ainda entre o per-
sonagem e si mesmo. Igualmente, textos dissertativos 
são construídos pelo conflito entre opiniões defendidas 
e negadas pelo autor.
Vamos agora estudar o modo como as oposições de 
sentido aparecem em textos ou frases, sua importância 
comunicativa e literária nesses contextos.
Concessão
A relação lógica de oposição pode ser expressa por 
meio de conectivos ou orações que expressem conces-
são ou adversidade. 
As orações e conectivos concessivos marcam o termo 
considerado menos importante no interior da oposição.
O homem que se depara com fatos, conceitos ou 
opiniões opostas pode atribuir diferentes valores aos 
diferentes polos da contradição. 
Por exemplo, alguém vai a uma palestra e a considera 
extremamente aborrecida. Por outro lado, não pode 
deixar de admitir que ela foi útil para o seu trabalho. São 
duas impressões opostas. Uma atribui valor positivo, 
outra valor negativo, para o mesmo fato. Dependendode 
Aula 07
5Português 4D
seu estado de espírito, a pessoa pode considerar que foi 
ou não válido ter ido à palestra. Assim, poderá proferir um 
dos dois enunciados a seguir:
21. Valeu a pena ter ido à palestra. Embora ela tenha 
sido muito aborrecida, aprendi muitas coisas úteis 
para o meu trabalho.
22. Foi péssimo ter ido à palestra. Embora eu tenha 
aprendido muitas coisas úteis para o meu trabalho, 
ela foi muito aborrecida.
Os enunciados trazem sentidos opostos. O pri-
meiro atribui maior importância ao fato de aprender 
muitas coisas úteis para o trabalho do que ao fato de 
a palestra ser aborrecida. O segundo faz exatamente 
o contrário.
Os enunciados apresentam a conjunção embora. 
Percebemos que em ambos os casos ela introduz a ora-
ção que expressa o fato considerado menos importante 
no interior da oposição.
Por isso dizemos que ela expressa uma concessão. 
Uma concessão é um fato oposto a nós cuja existência 
reconhecemos, ao mesmo tempo em que não lhe 
conferimos grande importância. Fazer uma concessão 
implica ceder um argumento ao adversário, e o bom 
debatedor (como o bom negociador) jamais faz senão 
as concessões que lhe garantam ficar com o essencial.
Além da conjunção embora, é comum que a ideia 
de concessão seja expressa pela expressão apesar de ou 
apesar de que:
23. Às vezes penso em mudar de profissão, apesar de 
que eu me sinta bem com o que faço.
Também é relativamente frequente o emprego das 
expressões mesmo que, ainda que e se bem que.
24. Viajaremos amanhã, mesmo que chova.
25. O lema dos inconfidentes mineiros era Liberdade, 
ainda que tarde.
26. A maioria das pessoas confia mais em conterrâneos 
do que em estrangeiros, se bem que não haja qual-
quer relação necessária entre a origem de alguém e 
sua personalidade.
Mas devemos atentar para algumas conjunções 
ou expressões concessivas de uso restrito. É o caso de 
conquanto:
27. Conquanto esteja chovendo, viajaremos agora 
mesmo.
A frase acima, de feitio bastante erudito, significa 
Embora esteja chovendo, viajaremos agora mesmo.
Atenção também para a expressão posto que. Mui-
tos a utilizam com valor causal, sinônimo de porque. Em 
norma culta, porém, seu sentido é concessivo, sinônimo 
de embora, apesar de.
28. Já é noite, posto que a lua ainda não tenha nos 
exibido seu esplendor.
A frase significa: Já é noite, embora a lua ainda não 
tenha nos exibido seu esplendor.
Adversidade
Um caso diferente é o das orações e conectivos ad-
versativos, que marcam o termo dominante no interior 
da oposição. Compare a propósito os dois enunciados a 
seguir:
29. O senador é um homem muito honesto, mas muito 
incompetente.
30. O senador é um homem muito incompetente, mas 
muito honesto.
Ambos os enunciados se constroem com base em 
uma relação de contradição. O senador de que falam 
as frases é descrito como um homem ao mesmo tempo 
muito honesto, o que é um elogio, e muito incompeten-
te, o que é uma crítica negativa. 
Apesar de contarem com as mesmas palavras, os 
enunciados não são argumentativamente idênticos. 
Ambos expõem a contradição do senador, mas o primei-
ro é mais negativo em relação a ele do que o segundo. 
Isso porque a conjunção adversativa mas, no primeiro 
caso, se prende à ideia da “incompetência”, enquanto, 
no segundo caso, se prende à ideia da “honestidade”. 
Assim, a primeira frase enfatiza a “incompetência”, e a 
segunda enfatiza a “honestidade”. Portanto, a primeira é 
mais negativa em relação ao senador do que a segunda.
Esquematicamente:
31. O senador é um homem muito honesto, mas muito 
incompetente.
 
 Ideia mais importante
32. O senador é um homem muito incompetente, mas 
muito honesto.
 
 Ideia mais importante
Além da palavra mas, apresentam valor adversativo 
as conjunções porém, contudo, todavia e entretanto e a 
locução no entanto.
Todos esses termos podem aparecer no início da 
oração adversativa. Mas todos, com exceção da palavra 
mas, podem também aparecer intercalados, ou seja, no 
meio da oração adversativa. Confira o exemplo:
33. É a primeira política científica formulada por um 
presidente dos EUA desde 1979; não há data, 
entretanto, para implementação do plano. 
Folha de S. Paulo, 11/9/94
6 Semiextensivo
Além destas, tipicamente adversativas, é possível, 
em alguns períodos, que a conjunção e, normalmente 
aditiva, apareça relacionada à ideia de oposição.
Confira como exemplo a frase a seguir:
34. Ele se esforçou a vida inteira, e terminou na miséria.
Esse período apresenta uma relação de oposição, 
uma vez que traz uma quebra de expectativa. Social-
mente, não se pressupõe que uma pessoa que tenha se 
esforçado a vida inteira termine na miséria. Entretanto, 
essa ideia contraditória vem expressa pela conjunção 
e, e não pelos termos adversativos típicos. Dizemos 
então que esse enunciado traz a conjunção e com valor 
adversativo. Esse valor é perceptível, pois a conjunção e 
admite, nesse caso, mas não em todos os casos, a subs-
tituição pela conjunção mas, sem perda do significado 
original do período, como podemos ver a seguir:
35. Ele se esforçou a vida inteira, mas terminou na miséria.
Notamos, em resumo, que, apesar da semelhança de 
ambas veicularem a ideia de oposição, construções con-
cessivas e adversativas apresentam uma diferença fun-
damental. A primeira marca o termo menos importante, 
e a segunda, o termo mais importante da oposição.
Testes
Assimilação
Instrução: Com base no texto abaixo, responda às questões 
de números 07.01. a 07.05.
Em abril, aconteceu e Feira do Livro de Bogotá, 
e um dos maiores sucessos foi um livro chamado 
Casa das estrelas: o universo contado pelas crian-
ças. Nele, há um dicionário com mais de 500 
definições para 133 palavras, de A a Z, feitas por 
crianças.
O curioso deste “dicionário infantil” é como as 
crianças definem o mundo através daquilo que 
os adultos já não conseguem perceber. O autor 
do livro é o professor Javier Naranjo, que com-
pilou informações ao longo de dez anos durante 
as aulas. Ele conta que a ideia quando surgiu ele 
pediu aos seus alunos para definirem a palavra 
“criança”, e uma das respostas que lhe chamou 
atenção foi: “uma criança é um amigo que tem 
o cabelo curtinho, não toma rum e vai dormir 
cedo”.
Veja outros verbetes do livro e as idades das cri-
anças que os definiram:
• Adulto: pessoa que, em toda coisa que fala, fala 
primeiro dela mesma. (Andrés, 8 anos) 
• Água: transparência que se pode tomar. (Tatia-
na, 7 anos) 
• Branco: o branco é uma cor que não pinta. 
(Jonathan, 11 anos)
• Camponês: um camponês não tem casa, nem 
dinheiro, somente seus filhos. (Luis, 8 anos)
• Céu: de onde sai o dia. (Duván, 8 anos) 
• Dinheiro: coisa de interesse para os outros com 
a qual se faz amigos e, sem ela, se faz inimigos. 
(Ana Maria, 2 anos)
• Escuridão: é como o frescor da noite. (Ana Cris-
tina, 8 anos) 
• Guerra: gente que se mata por um pedaço de 
5
10
15
25
30
terra ou de paz. (Juan Carlos, 11 anos)
• Inveja: atirar pedras nos amigos. (Alejandro, 7 
anos)
• Mãe: mãe entende e depois vai dormir. (Juan, 
6 anos) 
• Paz: quando a pessoa se perdoa. (Juan Camilo, 
8 anos) 
• Solidão: tristeza que dá na pessoa às vezes. 
(Iván, 10 anos)
• Tempo: coisa que passa para lembrar. 
(Jorge, 8 anos) 
• Universo: casa das estrelas. (Carlos, 12 anos)
André Fantin. Adaptado de repertoriocriativo.com.br, 22/05/2013.
07.01. (UERJ) – O curioso deste "dicionário infantil” é como 
as crianças definem o mundo através daquilo que os adultos 
já não conseguem perceber. (I. 7-9)
Adultos e crianças, embora usando a mesma linguagem, 
não veem e não descrevem o mundo da mesma maneira. 
Com base no conteúdo desse fragmento, pode-se concluir 
que qualquer descrição da realidade apresenta a seguinte 
característica:
a) Requer alguém que a realize sem receio.
b) Necessita de que se faça formulação detalhada.
c) Depende da perspectiva daquele que observa.
d) Mostra-se precisa para os que já amadureceram.
07.02. (UERJ) – Uma afirmaçãoparadoxal contém alguma 
contradição interna.
Um exemplo de afirmação paradoxal é identificado em:
a) Adulto: pessoa que, em toda coisa que fala, fala primeiro 
dela mesma. (I. 20-21)
b) Guerra: gente que se mata por um pedaço de terra ou 
de paz. (I. 34-35) 
c) Mãe: mãe entende e depois vai dormir. (I. 37)
d) Paz: quando a pessoa se perdoa. (I. 40)
35
40
45
20
Aula 07
7Português 4D
07.03. (UERJ) – “uma criança é um amigo que tem o cabelo 
curtinho, não toma rum e vai dormir cedo”. (I. 15-17)
Na definição acima, o trecho sublinhado contém duas 
comparações implícitas, que têm como referência o mundo 
dos adultos.
Essas comparações são feitas por meio do seguinte recurso:
a) oposição. 
c) classificação.
b) gradação.
d) reformulação.
Aperfeiçoamento
07.04. (UERJ) – “Escuridão: é como o frescor da noite.” 
(I. 32)
O verbete citado apresenta uma definição poética para o 
termo “escuridão”.
Essa afirmativa pode ser justificada pelo fato de a autora do 
verbete ter optado por:
a) priorizar as crenças antes de se pautar pela racionalidade.
b) construir uma figuração particular sem se ater ao fenô-
meno físico. 
c) expressar seu medo da noite no lugar de descrevê-la 
minuciosamente.
d) apoiar-se na linguagem denotativa ao invés de elaborar 
um argumento conotativo.
07.05. (UERJ) – Por meio da generalização, pode-se atribuir 
um determinado conjunto de traços que não se relacionam 
apenas com o que está sendo nomeado.
O melhor exemplo desse procedimento de generalização 
está presente em:
a) Branco: o branco é uma cor que não pinta. (l. 24)
b) Camponês: um camponês não tem casa, nem dinheiro, 
somente seus filhos. (l. 26-27) 
c) Céu: de onde sai o dia. (l. 28)
d) Universo: casa das estrelas. (l. 45)
Instrução: Com base no texto abaixo, responda às questões 
de números 07.06 a 07.09.
O TERRORISMO É DUPLAMENTE 
OBSCURANTISTA: PRIMEIRO NO ATENTADO, 
DEPOIS NAS REAÇÕES QUE DESENCADEIA.
07.06. (UERJ) – “O terrorismo é duplamente obscuran-
tista: primeiro no atentado, depois nas reações que 
desencadeia”.
O subtítulo do texto sugere uma explicação para o título.
Essa explicação é melhor compreendida pela associação 
entre:
a) tiros e opiniões. 
b) armas e negociações.
c) convicções e mentiras.
d) crenças e esclarecimentos.
07.07. (UERJ) – Antonio Prata, ao comentar o ataque ao 
jornal Charlie Hebdo, construiu uma série de variações do 
argumento típico do método dedutivo, conhecido como 
“silogismo” e normalmente organizado na forma de três 
sentenças em sequência.
A organização do silogismo sintetiza a estrutura do próprio 
método dedutivo, que se encontra melhor apresentada em:
a) premissa geral – premissa particular – conclusão.
b) premissa particular – premissa geral – conclusão.
c) premissa geral – segunda premissa geral – conclusão 
particular.
d) premissa particular – segunda premissa particular – con-
clusão geral.
Said e Chérif Kouachi eram descendentes de imi-
grantes. Said e Chérif Kouachi são suspeitos do 
ataque ao jornal Charlie Hebdo, na França. Se não 
houvesse imigrantes na França, não teria havido 
ataque ao Charlie Hebdo.
Said e Chérif Kouachi, suspeitos do ataque ao jor-
nal Charlie Hebdo, eram filhos de argelinos. Zine-
dine Zidane é filho de argelinos. Zinedine Zidane 
é terrorista. 
Zinedine Zidane é filho de argelinos. Said e Chérif 
Kouachi, suspeitos do ataque ao jornal Charlie 
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Hebdo, eram filhos de argelinos. Said e Chérif 
Kouachi, sabiam jogar futebol. 
Muçulmanos são uma minoria na França. Mem-
bros de uma minoria são suspeitos do ataque ter-
rorista. Olha aí no que dá defender minoria...
A esquerda francesa defende minorias. Membros 
de uma minoria são suspeitos pelo ataque terror-
ista. A esquerda francesa é culpada pelo ataque 
terrorista.
A extrema direita francesa demoniza os imigrantes. 
O ataque terrorista fortalece a extrema direita fran-
cesa. A extrema direita francesa está por trás do 
ataque terrorista.
Marine Le Pen é a líder da extrema direita france-
sa. “Le Pen” é “O Caneta”, se tomarmos o artigo 
em francês e o substantivo em inglês. Eis aí uma 
demonstração de apoio da extrema direita france-
sa à liberdade de expressão – e aos erros de con-
cordância nominal.
Numa democracia, é desejável que as pessoas se-
jam livres para se expressar. Algumas dessas ex-
pressões podem ofender indivíduos ou grupos. 
Numa democracia, é desejável que indivíduos ou 
grupos sejam ofendidos.
Os terroristas que atacaram o jornal Charlie Heb-
do usavam gorros pretos. “Black blocs” usam gor-
ros pretos. “Black blocs” são terroristas.
Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é verde. O 
Incrível Hulk é um abacate.
Antonio Prata. Adaptado de Folha de S. Paulo, 11/02/2015.
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07.08. (UERJ) – “Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é 
verde. O Incrível Hulk é um abacate”. (l. 39-40)
Este parágrafo indica como o leitor deve ler todos os ante-
riores.
Segundo essa indicação, os argumentos apresentados pelo 
cronista devem ser compreendidos como:
a) críticas irônicas. 
b) exercícios formais.
c) raciocínios aceitáveis.
d) recriações linguísticas.
07.09. (UERJ) – “Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é 
verde. O Incrível Hulk é um abacate”. (l. 39-40)
Todo argumento pode se tornar um sofisma: um raciocínio 
errado ou inadequado que nos leva a conclusões falsas ou 
improcedentes. O último parágrafo do texto é um exemplo 
de sofisma, considerando que, da constatação de que todo 
abacate é verde, não se pode deduzir que só os abacates 
têm cor verde.
Esse é o tipo de sofisma que adota o seguinte procedimento:
a) enumeração incorreta. 
b) generalização indevida. 
c) representação imprecisa.
d) exemplificação inconsistente.
Aprofundamento
Instrução: Com base no texto abaixo, responda às questões 
de números 07.10. a 07.14.
Juventude e participação
Inicialmente, gostaria de destacar que toda ava-
liação é feita a partir de uma comparação. Neste 
caso, essa comparação poderia ser feita em duas 
direções. Uma delas em relação a outras faixas 
etárias e a outra em relação à juventude de épocas 
passadas. Em relação à primeira dimensão, me 
parece que o comportamento político da juven-
tude não seja diferente do de outras faixas etárias. 
Os que avaliam como baixa a participação polí-
tica da juventude atual não podem afirmar que 
seja diferente da participação política das outras 
faixas.
Existem parcelas da população passivas (e entre 
elas há jovens e também adultos), assim como 
existem parcelas da população com alta taxa de 
participação política, e entre elas podemos igual-
mente identificar jovens e adultos.
Logo, uma comparação entre faixas etárias não 
nos leva a concluir que seja baixa a participa-
ção política da juventude. Agora, em relação à 
outra dimensão, a comparação entre juventudes 
de épocas diferentes, podemos constatar diferen-
ças que aparentemente levem algumas pessoas 
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a afirmações do tipo “a juventude atual não está 
com nada”, “antigamente os jovens tinham maior 
consciência e atuação política”. E aqui, novamen-
te, devemos analisar a questão por partes. Jovens 
alienados e passivos sempre existiram ao lado de 
jovens conscientizados e ativos politicamente.
Deve-se reconhecer que a proporção entre essas 
duas categorias muda com o tempo, tem épocas 
em que a proporção de jovens ativos se amplia e 
em outras épocas diminui. Mas esse aumento ou 
diminuição é uma expressão da sociedade como 
um todo e não de uma determinada faixa etária. 
Se numa época a parcela de jovens cresce e se tor-
na mais intensa, é porque esse mesmo fenômeno 
se manifesta na sociedade como um todo. O com-
portamento juvenil expressa as tendências gerais 
da sociedade como um todo.
A grande diferença está nos meios de que dis-
põem os jovens para desenvolver sua consciência 
crítica ou para manifestar sua postura política. Aí, 
sim, registramos mudanças radicais em relação a 
outras épocas.
Atualmente, os jovens têm acesso aos meios de 
comunicação que permitemampliar a velocidade 
e a abrangência da transmissão de ideias, o que 
oferece facilidades nunca antes disponíveis para a 
expressão política da juventude.
A minha resposta pode parecer otimista e tenho 
plena consciência de que ela é. Os jovens da atu-
alidade não são diferentes dos jovens de outras 
épocas, aceitam ou rechaçam valores, assumem 
ou não atitudes políticas com a mesma postura 
dos jovens do passado, a diferença não está no 
grau e sim na forma. Não muda o caminho, muda 
a forma de caminhar.
Luis de La Mora. Adaptado de www.cipo.org.br.
07.10. (UERJ) – A argumentação do autor se pauta pela cautela, 
combatendo principalmente os discursos que fazem generali-
zações apressadas.
A frase do texto que melhor comprova essa afirmativa está 
indicada em:
a) “Os que avaliam como baixa a participação política da 
juventude atual não podem afirmar que seja diferente da 
participação política das outras faixas.” (l. 9-12)
b) “O comportamento juvenil expressa as tendências gerais 
da sociedade como um todo.” (I. 38-40)
c) “A grande diferença está nos meios de que dispõem os 
jovens para desenvolver sua consciência crítica ou para 
manifestar sua postura política.” (l. 41-43)
d) “Atualmente, os jovens têm acesso aos meios de comuni-
cação que permitem ampliar a velocidade e a abrangência 
da transmissão de ideias, o que oferece facilidades nunca 
antes disponíveis para a expressão política da juventude.” 
(l. 46-50)
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Aula 07
9Português 4D
07.11. (UERJ) – O início do parágrafo (l. 
1-2) expõe um eixo em que se apoiará 
a construção do texto.
Esse eixo pode ser definido como:
a) uma evidência da tese. 
b) uma opinião polêmica. 
c) um método de raciocínio. 
d) um testemunho autorizado. 
07.12. (UERJ) – Nos processos de coesão 
textual, há vocábulos que substituem 
palavras, expressões ou ideias anterior-
mente expostas.
Um exemplo em que o vocábulo 
grifado retoma algo enunciado em 
parágrafo anterior é:
a) “a proporção entre essas duas cate-
gorias”. (l. 30-31)
b) "é porque esse mesmo fenômeno”. 
(l. 37). 
c) "ou para manifestar sua postura 
política”. (l. 43) 
d) "e tenho plena consciência de que 
ela é.” (l. 51-52) 
07.13. (UERJ) – Os textos que defen-
dem uma opinião possuem diversos 
mecanismos para garantir sua eficácia 
ou poder de convencimento.
Pode-se dizer que a estrutura geral 
do texto contribui para sua eficácia 
argumentativa porque:
a) detalha e comenta certos aspectos 
encontrados em outros textos. 
b) analisa e critica a opinião apresenta-
da ao final pelo próprio autor. 
c) descreve e exemplifica um fenôme-
no definido como objeto de análise. 
d) pressupõe e desconstrói algumas 
opiniões cristalizadas na sociedade. 
07.14. (UERJ) – Deve-se reconhecer que a proporção entre essas duas categorias 
muda com o tempo, tem épocas em que a proporção de jovens ativos se amplia 
e em outras épocas diminui. (I. 30-33)
A relação de sentido entre o fragmento grifado e o anterior, neste exemplo, poderia 
ser indicado pelo emprego do seguinte conectivo:
a) porque.
b) conforme.
c) no entanto.
d) não obstante. 
07.15. (UERJ) – 
“Caso tenha uma aranha na sua perna, é melhor não se mexer."
No quadrinho seguinte, o próprio personagem analisa essa fala como hipotética. 
A construção de hipótese está marcada na frase do personagem pelo seguinte 
traço linguístico:
a) tom de conselho da fala
b) ordem inversa do período
c) emprego do conectivo inicial
d) presença de forma negativa
07.16. (UERJ) – Nos quadrinhos, há uma representação de crescente desespero do 
personagem que estaria com a aranha em sua perna.
A representação desse desespero é construída por meio do emprego de: 
a) frases afirmativas e pontuação.
b) vocabulário usual e interjeições.
c) linguagem culta e exclamações.
d) elementos verbais e não verbais. 
07.17. (UERJ) – Diante do estranhamento de um dos personagens no primeiro 
quadrinho, o outro explica a própria fala no segundo quadrinho.
Essa explicação configura um recurso conhecido como: 
a) ironia. b) metáfora. c) polissemia. d) metalinguagem. 
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Discursivos
Instrução: Texto para as duas próximas questões
Sermão
Tão inteiramente conhecia Cristo a Judas, como a Pedro e aos demais; mas notou o Evangelhista com espe-
cialidade a ciência do Senhor, em respeito de Judas, porque em Judas mais que em nenhum dos outros campeou 
a fineza do seu amor. Ora vede: Definindo S. Bernardo o amor fino, diz assim: Amor non quaerit causam, nec 
fructum: ‘O amor fino não busca causa nem fruto.’ Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para 
que amem, tem fruto: e amor fino não há de ter por quê, nem para quê. Se amo porque me amam, é obrigação, 
faço o que devo; se amo para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há de amar o amor 
para ser fino? Amo quia amo, amo ut amem: ‘Amo porque amo, e amo para amar.’ Quem ama porque o amam, 
é agradecido; quem ama, para que o amem, é interesseiro; quem ama, não porque o amam, nem para que o 
amem, esse só é fino. E tal foi a fineza de Cristo, em respeito de Judas, fundada na ciência que tinha dele e dos 
demais discípulos.
Padre Antônio Vieira, Sermões, 4ª. ed., Rio de Janeiro, Agir, 1966, p. 64
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07.18. (VUNESP – SP) – O Padre Antônio Vieira (1608-1697), em cuja prosa oratória coexistem os princípios barrocos do cultismo 
e do conceptismo, é considerado um dos maiores oradores de todos os tempos, em Língua Portuguesa. Em seus sermões 
se serve frequentemente do simbolismo das Sagradas Escrituras para desenvolver argumentos de raciocínio complexo, mas 
sempre de modo claro e preciso. No fragmento acima transcrito, Vieira aborda fundamentalmente o tema do “amor”. Releia 
o texto dado e, a seguir, responda: quantas e quais são as espécies de “amor”, segundo Vieira.
07.19. (VUNESP – SP) – Verifique no texto as menções feitas por Vieira ao amor de Cristo pelos apóstolos e, a seguir, justifique 
como se dá o amor de Cristo a Judas de acordo com a argumentação de Vieira.
07.20. Em sua argumentação insistente, repetitiva, Vieira sintetiza sua teoria do amor com a frase “O amor fino não busca 
causa nem fruto”.
a) O que, no contexto, significa “fruto”?
b) Dois conectivos apresentam relação contextual com os vocábulos “causa” e “fruto”. Quais são eles?
c) Qual a importância das noções de “causa” e “fruto” para a divisão do amor em três espécies?
Aula 07
11Português 4D
Produção de texto
Proposta 1
Nas atividades a seguir, os textos falam sobre o problema da disseminação da AIDS entre os usuários de drogas 
injetáveis. Discute-se a polêmica proposta de distribuir agulhas e seringas descartáveis a essas pessoas como forma 
de diminuir a propagação da doença.
A distribuição de seringas para usuários de drogas pode diminuir pela metade a taxa de propagação do vírus 
da Aids neste grupo de risco. A conclusão é de uma pesquisa realizada na prestigiosa Universidade John Hopkins, 
de Nova York, que envolveu 22 mil pessoas em vários bairros nova-iorquinos.
Antes do programa, uma seringa era emprestada, alugada ou vendida em média 16 vezes nos bairros onde foi 
feito o controle. O programa reduziu este número em quatro vezes.
Existem 200 mil usuários de drogas injetáveis em Nova York, metade deles infectados com o vírus da AIDS.
Programa corta em 50% taxa de infecção de HIV, Folha de S. Paulo, 02/11/94
01. O texto apresenta argumentos de prova concreta e autoridade.
a) Que dado, presente no texto, pode respaldar a afirmação de que o problema das drogas e da AIDS é grave na cidade de 
Nova York?
b) O texto pode ser considerado favorável à tese de que é válido distribuir seringas para viciados em drogas injetáveis como 
forma de prevenir a disseminação da AIDS. Que dado respalda essa tese?
c) Há um argumento de autoridade embutido nos dados de realidade presentes no texto. Explique.
Graças a uma legislação liberal, a maior cidade suíça, Zurique, criou uma áreaespecial – Letten, uma estação 
de trens desativada – onde é possível comprar e usar heroína em plena luz do dia. (...) Desde 1992, quando os 
junkies* se mudaram da Platzpitz, uma praça no centro da cidade, para Letten, o consumo não para de crescer – 
um fato atestado pelas 15 000 seringas descartáveis distribuídas diariamente na velha estação. A única vantagem 
é que a distribuição reduziu o ritmo de disseminação da Aids.
* Junkies: termo inglês que significa drogados
O pico à luz do dia, Veja 07/09/94
12 Semiextensivo
02. Este outro fragmento apresenta dados contraditórios sobre distribuição de seringas para usuários de drogas injetáveis.
a) Que informação pode ser considerada favorável a essa distribuição?
b) Que informação é desfavorável à distribuição?
c) Apesar de relatar dados a favor e contra a distribuição de seringas, o texto parece mais propenso a condenar essa prática. 
Que indícios há no texto que corroboram essa afirmação?
Em nosso país, exige-se diploma para que alguém aplique injeção endovenosa, porque pesso-
as não treinadas criam perigos para si ou para outros, ao realizar inoculações. Fornecer agulhas e serin-
gas a pessoas não habilitadas para seu uso é como dar um carro a menores de idade, ou uma arma a quem 
não sabe utilizá-la. Isso é pelo menos indesejável para a sociedade, além de ser ilegal. No caso, a ilegalida-
de se tornaria incontrolável, pois o distribuidor dos medicamentos e agulhas seria o próprio Estado. 
A proposta de um programa como esse não leva em conta a realidade, causando desperdício de recursos já precá-
rios. Tais propostas são feitas por pessoas que nunca viram, de fato, como funciona uma “roda”*, provavelmente 
dirigentes sem formação médica e sem assessoria adequada (socióloga etc.). Não é difícil adivinhar que se trata 
de um plano que só beneficia vendedores de agulhas e seringas e burocratas de escritório, não tendo qualquer 
consequência para a epidemia da Aids.
* roda: prática, comum entre drogados, que consiste no uso de uma mesma seringa por várias pessoas.
Adaptado de Vicente Amato Neto e Jacyr Pasternak (médicos infectologistas). 
A doação de seringas e agulhas a drogados. O Estado de S. Paulo, 05/09/94.
[No futuro pagaremos] caro pela ignorância e irresponsabilidade do passado.
Acharemos inacreditável não havermos percebido em tempo, por exemplo, que o vírus da Aids, presente na 
seringa usada pelo adolescente da periferia para viajar ao paraíso por alguns instantes, infecta as mocinhas da 
favela, os travestis na cadeia, as garotas da boate, o meninão esperto , a menininha ingênua, o senhor enrustido, 
a mãe de família e se espalha para a multidão de gente pobre, sem instrução e higiene. Haverá milhões de pessoas 
com Aids, dependendo de tratamento caro e assistência permanente.(...)
Dráuzio Varella (médico infectologista). A era dos genes. Veja 25 anos – Reflexões para o futuro, 1993.
Aula 07
13Português 4D
03. Ambos os textos tratam da questão da Aids, fazendo ao menos referência à transmissão de seu vírus através do uso 
compartilhado de seringas.
a) Qual dos dois textos é claramente contrário à distribuição de seringas a usuários de drogas injetáveis? Que argumentos 
ele utiliza?
b) Qual dos dois textos pode ser usado como argumento de autoridade em uma redação sobre Aids?
Proposta 2
Instrução: As próximas seis questões têm como base o texto a seguir. Escrito e interpretado pelo ator e dramaturgo Plínio 
Marcos (1935 - 2000), trata-se de transcrição de um vídeo exibido na Casa de Detenção, em São Paulo.
Aqui é bandido: Plínio Marcos! Atenção, malandrage! Eu num vô pedir nada, vô te 
dá um alô! Te liga aí: Aids é uma praga que rói até os mais fortes, e rói devagarinho. 
Deixa o corpo sem defesa contra a doença. Quem pegá essa praga está ralado de verde 
e amarelo, do primeiro ao quinto, e sem vaselina. Num tem dotô que dê jeito, nem reza 
brava, nem choro, nem vela, nem ai, JESUS. Pegou Aids, foi pro brejo! Agora sente o 
aroma da perpétua: Aids passa pelo esperma e pelo sangue, entendeu? pelo esperma e 
pelo sangue!(pausa)
Eu num tô te dando esse alô pra te assombrá, então se toca! Não é porque tu tá na 
tranca que virou anjo. Muito pelo contrário, cana dura deixa o cara ruim! Mas é preciso 
que cada um se cuide, ninguém pode valê pra ninguém nesse negócio de Aids! Então, 
já viu: transá, só de acordo com o parceiro, e de camisinha! (pausa)
Agora, tu aí que é metido a esculachá os outros, metido a ganhá o companheiro na força bruta, na congesta! 
Para com isso, tu vai acabá empesteado! Aids num toma conhecimento de macheza, pega pra lá e pega pra cá, 
pega em home, pega em bicha, pega em mulhé, pega em roçadeira! Pra essa peste num tem bom! Quem bobeia 
fica premiado. E fica um tempão sem sabê. Daí, o mais malandro, no dia da visita, recebe mamão com açúcar 
da família e manda pra casa o Aids! E num é isto que tu qué, né, vago mestre? Então te cuida! Sexo, só com 
camisinha. (pausa)
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14 Semiextensivo
Quem descobre que pegô a doença se sente no prejuízo e quer ir à farra, passando pros outros. (pausa) Sexo, 
só com camisinha! Num tem escolha, transá, só com camisinha.
Quanto a tu, mais chegado ao pico, eu tô sabendo que ninguém corta o vício só por ordem da chefia. Mas 
escuta bem, vago mestre, a seringa é o canal pro Aids. No desespero, tu não se toca, num vê, num qué nem sabê 
que, às vezes, a seringa vem até com um pingo de sangue, e tu mete ela direta em ti. Às vezes, ela parece que 
vem limpona, e vem com a praga! E tu, na afobação, mete ela direto na veia. Aí tu dança. Tu, que se diz mais 
tu, mas que diz que num pode aguentá a tranca sem pico, se cuida. Quem gosta de tu é tu mesmo. (pausa) E a 
farinha que tu cheira, e a erva que tu barrufa enfraquece o corpo e deixa tu chué da cabeça e dos peitos. E aí tu 
fica moleza pro Aids! Mais o pico é o canal direto pra essa praga que está aí. Então, malandro, se cobre! Quem 
gosta de tu é tu mesmo. A saúde é como a liberdade. A gente só dá valor pra ela quando ela já era!
Vídeo exibido na Casa de Detenção, São Paulo Créditos: Agência Adag (1988). Realização: V Cultura, São Paulo. Duração: mim 48s
01. (VUNESP – SP) – 0 texto que lhe apresentamos não se realiza de acordo com a chamada “norma culta da língua portu-
guesa”. Cite três ocorrências gramaticais que caracterizam esse desvio da norma culta. Exemplifique-as.
02. (VUNESP – SP) – Que efeito argumentativo decorre do emprego dessa variante de linguagem?
03. (VUNESP – SP) – Logo no início de sua fala, Plínio Marcos se define como “bandido”. Qual sua intenção argumentativa 
com tal apresentação? Que tipo de argumento o autor está empregando?
04. (VUNESP – SP) – Que função exercem no texto as expressões “atenção, malandrage” (1.º parágrafo), “vago mestre” (3.o e 5.o 
parágrafos) e “malandro” (5.o parágrafo)?
Aula 07
15Português 4D
05. (VUNESP – SP) – Como se sabe, são comuns, nos presídios, violências sexuais entre os detentos. No terceiro parágrafo, 
Plínio Marcos se refere explicitamente aos agentes dessa violência. Que argumentos ele utiliza para tentar convencê-los a 
parar com esse tipo de prática?
06. (VUNESP – SP) – Uma das virtudes do texto de Plínio Marcos é tratar a questão da Aids de maneira realista, sem con-
catenações idealizantes ou metafóricas. Didaticamente, e de modo a se fazer rapidamente compreendido, utiliza-se da 
comparação e, em geral,quando substitui um termo por outro, o faz por uma aliança lógica entre as partes, designando o 
elemento por um termo que contém as qualidades de uma de suas partes. Com base neste comentário, releia atentamente 
o último parágrafo do texto e, a seguir:
a) Aponte os termos que substituem, respectivamente, cocaína e maconha.
b) Interprete a comparação “A saúde é como a liberdade”. Para isso, leve em conta a situação dos destinatários e dos objetivos 
que o emissor deseja alcançar.
Gabarito
07.01. c
07.02. b
07.03. a
07.04. b
07.05. b
07.06. a
07.07. a
07.08. a
07.09. b07.10. a
07.11. c
07.12. a
07.13. d
07.14. a
07.15. c
07.16. d
07.17. d
07.18. São três: o amor por obrigação, do agra-
decido; o amor por negociação, do inte-
ressado; e o amor fino.
07.19. O amor de Cristo a Judas é o amor fino, 
pois Cristo o amou mesmo sabendo, 
como notou a evangelista, que seria tra-
ído por Judas.
07.20. a) “fruto” significa finalidade.
b) “causa” se relacionar com “porque” e 
“fruto” com “para que”.
c) O amor fino se distingue dos outros 
dois, justamente porque não busca 
“fruto” nem tem “causa”.
16 Semiextensivo
Argumentação III
4D
Português
Aula 08
O início, o fim e o meio
Uma concepção arquitetônica de 
estrutura de texto
Na aula 12, tratamos da distinção entre tema e 
assunto; nas anteriores a esta, de argumentação – a 
importância da utilização de argumentos sólidos, de 
provas concretas; no início do curso, sugerimos alguns 
conceitos e reflexões no momento de se criar um título. 
Desta vez, vamos discutir a articulação da introdução 
com a conclusão e sintetizar isso tudo na proposta de 
concretização da elaboração parcial de um texto já pré-
-construído.
O conteúdo e a forma
A intersecção de dois assuntos bastante atuais e 
pertinentes: Copa do Mundo e eleições no Brasil, o 
tema que focalizaremos aqui é a possível influência 
que um resultado de desempenho da seleção bra-
sileira na competição possa exercer nos humores 
eleitorais do brasileiro. Uma vitória favorece a 
situação e uma derrota ajuda a oposição? Ou o bra-
sileiro sabe muito bem distinguir as coisas? Como já 
vimos, qualquer que seja a tese, mais importante é 
uma boa, consistente e por isso mesmo convincente 
argumentação. Esses são aspectos mais relacionados 
ao conteúdo do texto: tema, tese e argumentação. Se 
você já assumiu uma posição diante da questão posta 
em debate e já realizou uma pesquisa que lhe tenha 
oferecido fatos jornalísticos ou históricos e dados 
estatísticos concretos e reais, você já dispõe de todos 
os ingredientes para a “construção” de um texto. 
Tratemos então do acabamento, de aspectos mais 
ligados à forma do que propriamente ao conteúdo. Nes-
te caso, seria talvez mais adequado se falar em “criação” 
do que exatamente em “construção”. O título, como já 
vimos, é um momento em que, por mais sério que seja o 
tema do texto em questão, pode-se e até deve-se ousar, 
brincar com palavras e ideias. Também a introdução e 
a conclusão podem ser entendidas como etapas pos-
teriores à “construção” do texto, em que devemos nos 
preocupar igualmente com o conteúdo e com a forma.
A estratégia do pretexto
Na experiência escolar, é muito comum nos deparar-
mos com dois problemas enfrentados pelos estudantes 
nas atividades de produção de textos: há aqueles que 
frequentemente interpelam o professor em busca 
de uma sugestão pra começar, um “empurrãozinho”, 
uma “cara de começo”; outros escrevem textos bem 
construídos, que apresentam boa progressão e fluência, 
entretanto parecem precipitar-se rumo ao desfecho, 
sem uma “cara de fim”.
Pois bem. Que tal pensar em uma única ideia e 
aproveitá-la tanto para o início quanto para o fim? Vamos 
dividir a introdução e a conclusão em conteúdo e forma. 
Necessariamente, a introdução deve apresentar o 
tema, a polêmica. Vemos às vezes redações que come-
çam como se o leitor conhecesse previamente o assunto. 
Há, por exemplo, textos que iniciam por expressões 
como Essa polêmica…, Esse assunto…, sem que antes 
disso se tenha apresentado a polêmica ou o assunto. 
A conclusão, por sua vez, deve realizar a síntese 
da argumentação conduzida ao longo do desenvol-
vimento do texto e apresentar a tese. A colocação da 
tese poderia se dar de mais de uma maneira. A tese 
pode figurar nas três partes, ou seja, no título, na in-
trodução e na conclusão. Ou pode não estar no título, 
sendo apresentada pela introdução. Nesses casos, a 
conclusão retoma uma ideia lançada desde a primeira 
parte. Outra possibilidade é que a introdução (e/ou o 
título) levante a polêmica, ou seja, traga uma dúvida 
a ser respondida pelos dados presentes no desenvol-
vimento. A seguir vem a argumentação, que conduz 
para a tese, que, nesse caso, aparece apenas no trecho 
conclusivo.
Em resumo: quanto ao conteúdo, a introdução deve 
apresentar o tema e/ou a tese. A conclusão deve sinteti-
zar a argumentação e explicitar a tese.
Aula 08
17Português 4D
Resumo de textos 
argumentativos
Vamos trabalhar um tipo de proposta bastante 
comum nos exames vestibulares contemporâneos: o 
resumo.
A primeira orientação é relativamente evidente, mas, 
nem por isso, menos importante. Num resumo, devem 
aparecer apenas conteúdos presentes no texto-base. 
Diferentemente da resenha, no resumo não devemos 
emitir opinião ou acrescentar informações que não 
constavam do original.
Em segundo lugar, é importante não copiar ex-
cessivamente o texto-base. É possível citar alguns de 
seus fragmentos, não ultrapassando cerca de 10% do 
resumo. Nesse caso, é imprescindível usar aspas. Jamais 
podemos copiar um trecho sem aspas, pois isso caracte-
rizaria plágio.
Ao elaborar o resumo, é possível alterar a ordem do 
original. Não é um erro. Mas trata-se de uma operação 
mais difícil. Não é uma regra, mas, como conselho, acha-
mos melhor manter a ordem do original. Até porque, no 
vestibular, o candidato não dispõe de tanto tempo para 
refletir. 
Como elaborar o resumo
O resumo é uma paráfrase (e síntese) do original. 
Ou seja: você deve “dizer a mesma coisa, com outras 
palavras”. 
O ponto crucial, portanto, é a habilidade em selecio-
nar as ideias mais importantes do original. Há, basica-
mente, duas estratégias possíveis para isso:
A primeira é um método que podemos chamar 
“recuar um nível”. Um texto é formado por parágrafos. 
Um parágrafo é formado por frases. Então, o resumo 
constitui uma operação em que saímos de um nível para 
o nível mais baixo. Procuramos reduzir cada parágrafo 
a uma frase. Assim, o texto original é resumido para 
um parágrafo. Claro, esse não é um esquema rígido. Às 
vezes, um parágrafo vira duas frases; ou dois parágrafos 
viram uma frase; e não há qualquer erro em o resumo 
ter mais de um parágrafo. Mas, como estratégia geral, é 
uma orientação tentar reduzir parágrafos a frases.
O segundo método consiste em observar o gênero a 
que o texto pertence. O resumo, então, deve dar conta 
dos elementos básicos do gênero considerado.
Sem sombra de dúvida, o gênero predominante no 
vestibular, inclusive nas propostas de resumo, é o disser-
tativo-argumentativo. Nesse tipo de texto, o enunciador 
explana uma tese sobre determinado tema polêmico. 
Para isso, ele se vale de determinados argumentos. O 
seu resumo deve, então, contemplar esses elementos. 
Novamente, não se trata de um procedimento rígido. 
Você deve avaliar, caso a caso, como é a estrutura do 
texto. Mas podemos dizer que, sendo argumentativo, o 
texto contempla alguma forma de colocação do tema e, 
certamente, uma tese sobre ele (na verdade, isso é uma 
tautologia: o texto foi identificado como argumentativo 
justamente porque apresentava uma tese).
Agora, vamos à forma, à “criação”. Claro que a lingua-
gem é o universo das opções e isso é em princípio incom-
patível com sugestão de “fórmulas mágicas”. Mas em um 
texto argumentativo de caráter, digamos, mais sério, os 
momentos de inspiração e o talento ficam muito mais 
restritos ao título e às “duas pontas”. Pensemos então 
em uma técnica que reúna essas duas pontas formando 
assim um texto “redondo”, que termine no ponto por 
onde começou. A eficácia desse procedimento seria tão 
mais evidente quanto mais pudesse surpreender o leitor 
que, ao final da leitura, perceberia uma nítida concepção 
de arquitetura do texto, em que o autor sabia desde o 
momento em que abriu o parágrafo inicial, onde e como 
colocaria o ponto final. 
O que seria esse PRETEXTO? Uma breve narrativa, ou 
comentário, ou descrição de cena cotidiana ou literária, 
aparentemente distantes do tema, mas é claro que deve 
haver uma relação posteriormenterevelada, pois é dela 
que brotará o tema propriamente dito. Seria a “cara de 
começo”. A partir daí, apresenta-se o tema, desenvolve-
-se a argumentação e inicia-se a conclusão, com a 
explicitação da tese. Perceba-se que neste momento 
o leitor está totalmente envolvido com o conteúdo 
do texto e nem mais se lembra do PRETEXTO. Aí é que 
viria o grande impacto formal, pois o autor retomaria o 
PRETEXTO, completando desta forma o fecho do texto 
conferindo-lhe uma “cara de fim”. 
De forma esquemática:
TÍTULO 
“começo do começo” pretexto
“fim do começo” apresentação do tema e/ou da 
tese
DESENVOLVIMENTO – ARGUMENTAÇÃO
“começo do fim” síntese da argumentação, 
explicitação da tese
“fim do fim” retomada do pretexto
18 Semiextensivo
Os dinossauros desaparecem
Até hoje persiste um intenso debate científico 
sobre as causas da extinção dos dinossauros. Os 
mais recentes fósseis encontrados desses grandes 
répteis pertencem à chamada Era Mesozoica. Isso 
significa que eles viveram até cerca de 165 milhões 
de anos atrás. Por que se extinguiram?
De início, alguns propuseram que os dinossauros 
desapareceram porque eram muito grandes. Mas 
havia dinossauros pequenos e estes também foram 
extintos. Chegou-se a pensar que fossem animais 
muito “estúpidos” ou inadaptados. Mas, se assim fosse, 
como teriam sobrevivido por tanto tempo? Falou-se 
também em mudanças de fauna ou flora. O surgimen-
to de novas plantas poderia tê-los envenenado. Mas 
esse fenômeno não envolveu todas as plantas então 
existentes; restavam outras para serem comidas. O 
surgimento dos mamíferos poderia ter causado essa 
extinção, pois esses novos animais comeriam os ovos 
dos dinossauros. Mas isso provavelmente os teria 
liquidado antes do período mesozoico.
Estrutura básica da 
argumentação
Além da tese, a argumentação (por vezes) pressupõe 
a existência de uma ou mais teses contrárias, a que 
denominaremos antíteses. Trata-se, respectivamente, 
do ponto de vista defendido e do(s) ponto(s) de vista 
negado(s).
Como temos sempre insistido, não basta aos debate-
dores afirmarem, repetidamente, seus pontos de vista. É 
preciso que argumentem, não só para afirmar sua tese, 
como para negar as teses contrárias, o que constitui, res-
pectivamente, os argumentos e os contra-argumentos.
Mas de onde surgem as teses e as antíteses? Que 
evento deflagra o processo argumentativo?
A origem dos debates está na existência de questões 
polêmicas, temas sobre os quais paira alguma dúvida, 
alguma inquietação, para a qual não há uma resposta 
definitiva. Nesse quadro, as pessoas sentem-se instigadas a 
apresentar conjecturas, propor hipóteses sobre o tema po-
lêmico. A tese é então a hipótese que se pretende defender, 
e as antíteses, as hipóteses que se pretende refutar.
O texto a seguir ilustra esses conceitos:
A hipótese mais aceita atualmente é que os 
dinossauros foram mortos devido ao choque de 
um meteorito com a Terra. Isso teria produzido uma 
grande nuvem de poeira que, bloqueando a luz 
solar, levou ao desaparecimento de quase todas as 
formas de vida no planeta.
O texto acima apresenta os principais traços do dis-
curso argumentativo e, mesmo, do discurso científico.
O tema do fragmento são os dinossauros, mais 
precisamente, o desaparecimento desses animais. A 
existência do tema é inerente a todo texto dissertativo 
e não leva, por si mesma, a que este apresente estrutura 
argumentativa. Como já comentamos, a argumentação 
surge no momento em que há uma dúvida, correspon-
dente à problematização do tema. No caso, a questão 
colocada diz respeito à causa da extinção dos dinossau-
ros. Repare que o texto apresenta explicitamente essa 
dúvida, inclusive na forma de um enunciado interrogati-
vo: Por que [os dinossauros] se extinguiram?
Aparecem então as hipóteses: (a) os dinossauros 
eram muito grandes; (b) eram muito estúpidos; (c) 
surgiram plantas venenosas; (d) os mamíferos comiam 
os ovos dos dinossauros. Todas essas possibilidades 
são descartadas, mediante contra-argumentos que 
procuram evidenciar suas inadequações e insuficiências. 
Para o texto, portanto, trata-se de antíteses, ou seja, 
hipóteses que se pretende desdizer:
Hipótese Contra-argumento
Os dinossauros eram muito 
grandes.
Os pequenos também 
desapareceram.
Os dinossauros eram muito 
estúpidos.
Então, como sobrevi-
veram tanto tempo?
Novas plantas os envene-
naram.
Havia outras plantas 
para comer.
Os mamíferos comeram 
muitos ovos de dinossauros.
Isso os teria matado 
mais cedo.
A única hipótese não descartada (ainda que não 
definitiva) é que “os dinossauros foram mortos devido 
ao choque de um meteorito com a Terra”. Como não há 
argumentos contrários a ela, dizemos que se trata da 
tese sustentada pelo texto.
Aula 08
19Português 4D
Argumentos Contra-argumentos
(a favor da tese) (contrários às antíteses)
Tese Antíteses
(hipótese defendida) (hipóteses descartadas)
Hipóteses
Problematização do tema
(dúvida a que o texto se propõe discutir)
Tema
Em resumo, o esquema básico do processo argu-
mentativo seria o seguinte:
Transformação 
de entrevista
Estudamos os vários tipos e gêneros de textos que 
compõem o jornalismo contemporâneo. Um deles, na-
turalmente, é a entrevista. Vimos que a entrevista pode 
trazer as perguntas e respostas em discurso direto – a 
chamada entrevista “pingue-pongue” –, mas o jornalista 
pode também narrar, com suas palavras, o conteúdo da 
conversa com seu entrevistado, caso em que a entrevista 
aparecerá na forma de discurso indireto.
Um tipo de proposta bastante comum nos exames 
contemporâneos envolve esses dois tipos de entrevista. 
Trata-se de propostas que solicitam a transformação de 
uma entrevista, em geral a mudança de uma entrevista 
do tipo “pingue-pongue” para o discurso indireto.
 Orientações gerais para a 
transformação de discurso
A seguir, veremos algumas orientações práticas para 
redigir textos com base em propostas que solicitem 
transformação de discurso.
Conectivos e orações 
conformativas
Inicialmente, é preciso notar que esse tipo de texto 
requer que empreguemos conectivos e orações con-
formativas. Não há necessidade de saber de cor essas 
denominações, mas o conceito que elas recobrem. 
Trata-se de vocábulos de ligação (conectivos) e 
orações que introduzem o pensamento ou a fala de 
alguma pessoa. O mais comum é que empreguemos 
termos como segundo, de acordo com, na opinião de 
e para. Todos esses termos têm sentido equivalente. 
O importante é que haja variação. Seria repetitivo e 
desinteressante o texto que desnecessariamente re-
petisse a mesma expressão ou vocábulo conformativo.
Verbos dicendi
Trechos em discurso indireto empregam os chama-
dos verbos dicendi, ou seja, verbos “de dizer”. Há inúme-
ros: falar, dizer, afirmar, confirmar, reafirmar, perguntar, 
questionar, responder, complementar, exclamar, insistir e 
sentenciar, entre muitos outros. 
A escolha do verbo dicendi é um ponto importante 
para a expressividade do texto e deve ser orientada por 
dois aspectos, essencialmente. Em primeiro lugar, é 
interessante observar as distinções de sentido entre eles. 
Todos introduzem a fala de alguém, mas o fazem de um 
modo ao menos ligeiramente diferente. Em segundo 
lugar, vale o princípio da variedade, que comentamos a 
propósito dos conectivos e orações conformativas. Com 
tantos e tão distintos verbos dicendi, não há por que 
repeti-los desnecessariamente no texto.
Como iniciar esse tipo de texto? 
Naturalmente, não há regras fixas. É mesmo arriscado 
ficarmos, neste curso de Produção de Texto, transmitin-
do modelos fixos, que todos copiariam no dia do exame. 
O tiro, como se diz, poderia sair pela culatra. Hoje em 
dia, as bancas examinadoras têm adotado posturas que 
visam coibir estruturas textuais “pré-moldadas”. 
Seja como for, vale o comentário de que uma maneira 
interessante é iniciar com uma frase ou ideia que resuma 
bem o ponto de vista do entrevistado. Por exemplo:
Exemplo 1
As usinas nucleares podem não ser ecologica-mente criminosas. Ao contrário, nelas é que pode 
estar a chave para o equilíbrio entre a natureza e 
as necessidades ecológicas do homem. Esse, pelo 
menos, é o que pensa James Lovelock, o conhecido 
físico inglês, “pai” da chamada “Teoria Gaia”. Para 
Lovelock, os ecologistas têm enfrentado o inimigo 
errado. Deveriam concentrar sua campanha contra 
os combustíveis fósseis, não contra a energia nucle-
ar. (…)
20 Semiextensivo
Recursos argumentativos
Como frisamos na aula passada, para argumentar, 
antes de mais nada, é preciso ter conteúdo, ter certo 
grau de conhecimento sobre o tema posto em debate.
No caso de uma redação de vestibular, são muitos os 
temas possíveis. É essencial ler sobre os assuntos mais 
comuns e mais abrangentes, seja por meio de pesquisa 
individual, seja por meio dos materiais que a escola 
deixar disponíveis. É igualmente muito importante 
aproveitar bem as coletâneas de texto comuns nos 
exames contemporâneos.
Tendo esse conhecimento sobre o tema proposto, 
é necessário expor de forma objetiva os dados de 
realidade que fundamentam a argumentação. Como 
estudamos no setor relativo à compreensão de texto, 
trata-se dos chamados argumentos de prova concreta.
Também é interessante fazer citações ou menções a 
especialistas ou obras relacionados ao tema em debate. 
É o chamado argumento de autoridade.
Argumentação e 
contra-argumentação
Uma das mais conhecidas fábulas de Jean de La Fon-
taine (1621 - 1695) é O lobo e o cordeiro. Você já leu? Ou 
ouviu? Ou viu, recontada e refigurada, na televisão? Tal-
vez sim, talvez não. Talvez ache “coisa de criança”, o que 
seria uma injustiça com o alto valor literário, filosófico, 
político dela. Permita-nos, de qualquer modo, convidá-lo 
à leitura da fábula, conforme a narrou Monteiro Lobato:
Este fragmento recria em discurso indireto opiniões 
do físico inglês James Lovelock. Seu ponto de vista em 
defesa da energia nuclear vai um pouco na contracor-
rente do que normalmente se ouve. Optou-se, então, 
por destacar esse ponto de vista logo no início do texto. 
Esse procedimento desperta o interesse do leitor e 
confere agilidade ao relato.
Elaborando textos 
argumentativos
Argumentar é defender uma tese sobre um tema 
posto para debate. Note-se, portanto, que essa situação 
pressupõe que o tema em questão tenha natureza ao 
menos parcialmente polêmica. 
Outro aspecto importante: defender uma tese impli-
ca almejar o convencimento de uma ou mais pessoas.
Em linhas gerais, tal situação é análoga ao que 
acontece com o debate sobre os grandes temas que 
permeiam qualquer sociedade. 
O objetivo central de quem debate é demonstrar que 
sua tese é a mais coerente, a que mais se ajusta às teses 
já anteriormente consensuais entre a opinião do público.
Vejamos um exemplo real. Em vários momentos, o Su-
premo Tribunal Federal (STF) debateu (e provavelmente 
continuará a debater por muito tempo) questões polêmi-
cas relacionadas ao conceito de vida, como a eutanásia, o 
aborto e os experimentos com células-tronco. Inúmeros 
setores da sociedade são parte diretamente interessada 
no assunto: igrejas, conselhos e faculdades de medicina, 
associações de mulheres, associações de pessoas com 
deficiência, juristas, parlamentares, jornalistas, filósofos. 
Todos procuram intervir no debate sobre esses temas, 
influenciar a opinião pública e os legisladores.
Um argumento comum de quem é contra a eutaná-
sia, o aborto ou a pesquisa com células-tronco consiste 
em afirmar que se trata de um crime contra a vida. Os que 
são a favor, naturalmente, fazem o percurso contrário, 
procurando argumentar que a eutanásia, o aborto e a 
pesquisa com células-tronco contribuem para melhorar 
a qualidade de vida e podem, em certos contextos, ser 
considerados gestos humanitários.
Certamente, a opinião pública e os legisladores aceitam 
a ideia de que não se deve atentar contra a vida. Essa é uma 
tese largamente consensual no debate público. Cada deba-
tedor procura, portanto, argumentar que é a sua tese – e 
não a do adversário – a que está em maior conformidade 
com o pressuposto consensual de defesa da vida.
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Aula 08
21Português 4D
O lobo e o cordeiro
Estava o cordeiro a beber num córrego, quando apareceu um lobo esfaimado, de horrendo aspecto.
– Que desaforo é esse de turvar a água que venho beber? – disse o monstro arreganhando os dentes. Es-
pere, que vou castigar tamanha má-criação!…
O cordeirinho, trêmulo de medo, respondeu com inocência:
– Como posso turvar a água que o senhor vai beber se ela corre do senhor para mim?
Era verdade aquilo e o lobo atrapalhou-se com a resposta. Mas não deu o rabo a torcer.
– Além disso – inventou ele – sei que você andou falando mal de mim o ano passado.
– Como poderia falar mal do senhor o ano passado, se nasci este ano?
Novamente confundido pela voz da inocência, o lobo insistiu:
– Se não foi você, foi seu irmão mais velho, o que dá no mesmo.
– Como poderia ser o meu irmão mais velho, se sou filho único?
O lobo, furioso, vendo que com razões claras não vencia o pobrezinho, veio com 
uma razão de lobo faminto:
– Pois se não foi seu irmão, foi seu pai ou seu avô!
E – nhoque! – sangrou-o no pescoço.
Contra a força não há argumento
LOBATO, Monteiro. Fábulas e histórias diversas. 
São Paulo: Brasiliense, 1967, p. 130-1.
A fábula de La Fontaine é, a um tempo, o elogio e 
a morte da argumentação. Opõe dois modos distintos 
de ver o mundo e a relação entre as pessoas. Um, repre-
sentado pelo lobo, concebe a sociedade sob o princípio 
de prevalência da força, a chamada “lei do mais forte”. 
O outro, representado pelo cordeiro, procura mediar o 
inevitável conflito humano por meio da argumentação, 
do diálogo, da busca do convencimento por meio da 
palavra, não da força.
Não há nenhum motivo aparente para que o mais 
forte apoie a mudança das regras que favorecem os 
mais violentos. Sempre lhe parece possível fazer como 
o lobo, que devora o cordeiro, encerrando, pela força, 
a discussão. Mas o fato é que as sociedades humanas 
há muito perceberam que é impossível a alguém, indi-
vidualmente, impor-se à vontade de todos. A vida, em 
perpétuo conflito, não é viável.
Sempre é preciso ceder. Mesmo que muitas vezes 
haja a força – e a força nunca está totalmente ausente –, 
mesmo assim, até o mais forte precisa de algum consen-
so, precisa ponderar, ouvir e não apenas impor.
Além disso, as sociedades precisam de algo mais do 
que conflito. Quem vai trabalhar, se todos brigarem? E 
como trabalhar sem falar e ouvir? Como organizar famí-
lias, praticar o comércio, empreender ações conjuntas? 
Isso para não falar na arte, na religião e na ciência, for-
mas, por excelência, de negação dos conflitos, ao menos 
dos conflitos internos de uma coletividade.
Enquanto durou, o diálogo entre o lobo e o cordeiro 
opôs duas teses sobre o cordeiro. Para o lobo, o cordeiro 
é culpado (de um desaforo); para si mesmo, o cordeiro é 
inocente (não cometeu nenhum desaforo).
O lobo propõe a tese de que houve desaforo e lança 
um argumento. O cordeiro rebate o argumento, procuran-
do demonstrar sua inconsistência. O lobo apresenta mais 
dois argumentos, igualmente rechaçados. Ou seja: en-
quanto o lobo argumenta, o cordeiro contra-argumenta:
Argumento Contra-argumento
O cordeiro sujou a água 
que o lobo ia beber.
Isso não é possível, pois 
o lobo está rio acima, em 
relação ao cordeiro.
O cordeiro falou mal do 
lobo no ano passado.
No ano passado, o cordeiro 
não havia ainda nascido.
Então, foi o irmão mais 
velho do cordeiro.
O cordeiro não tem irmãos.
A coletânea de textos
Praticamente todas as propostas de redação nos 
vestibulares atuais apresentam uma coletânea de textos 
sobre o tema posto em debate.
Não se supõe, naturalmente, que o estudante deva 
concordar com esses textos, mas se espera que ele os 
leve em consideração na hora de escrever. Esse é um 
ponto sutil. Não devemos copiar os textos da coletânea, 
apropriando-nosdeles como se fossem nossos. Mas 
também não podemos ignorá-los. Afinal, se eles não 
fossem relevantes, não apareceriam na proposta.
esfaimado, de horrendo aspecto.
o monstro arreganhando os dentes. Es
do s
ão 
e m
inh
vers
0-1.
monstro arreganhando os dentes. Es-
senhor para mim?
deu o rabo a torcer.
mim o ano passado.
ho, veio com 
sas. 
.
Hamilton Santos. 2007. Digital.
22 Semiextensivo
Testes
Assimilação
Instrução: O texto a seguir serve de base para as questões 
08.01 a 08.04.
É MENINA
É menina, que coisa mais fofa, parece com o pai, 
parece com a mãe, parece um joelho, upa, upa, não 
chora, isso é o choro de fome, isso é choro de sono, 
isso é choro de chata, choro de menina, igualzinha à 
mãe, achou, sumiu, achou, não faz pirraça, coitada, 
tem que deixar chorar, vocês fazem tudo o que ela 
quer, isso vai crescer mimada, eu queria essa vida 
pra mim, dormir e mamar, aproveita enquanto ela 
ainda não engatinha, isso daí quando começa a an-
dar é um inferno, daqui a pouco começa a falar, daí 
não para mais, ela precisa de um irmão, foi só falar, 
olha só quem vai ganhar um irmãozinho, tomara 
que seja menino pra formar um casal, ela tá até mais 
quieta depois que ele nasceu, parece que ela cuida 
dele, esses dois vão ser inseparáveis, ela deve mor-
rer de ciúmes, ele já nasceu falante, menino é outra 
coisa, desde que ele nasceu parece que ela cresceu, 
já tá uma menina, quando é que vai pra creche, 
ela não larga dessa boneca por nada, já podia ser 
mãe, já sabe escrever o nomezinho, quantos dedos 
têm aqui, qual é a sua princesa da Disney preferida, 
quem você prefere, o papai ou a mamãe, quem é o 
seu namoradinho, quem é o seu príncipe da Disney 
preferido, já se maquia nessa idade, é apaixonada 
pelo pai, cadê o Ken, daqui a pouco vira mocinha, 
eu te peguei no colo, só falta ficar mais alta que eu, 
finalmente largou a boneca, já tava na hora, agora 
deve tá pensando besteira, soube que virou moci-
nha, ganhou corpo, tenho uma dieta boa pra você, 
a dieta do ovo, a dieta do tipo sanguíneo, a dieta da 
água gelada, essa barriga só resolve com cinta, que 
corpão, essa menina é um perigo, vai ter de voltar 
antes de meia-noite, o seu irmão é diferente, menino 
é outra coisa, vai pela sombra, não sorri pro por-
teiro, não sorri pro pedreiro, quem é esse menino, 
se o seu pai descobrir, ele te mata, esse menino é 
5
10
15
20
25
30
35
filho de quem, cuidado que homem não presta, não 
pode dar confiança, não vai pra casa dele, homem 
gosta é de mulher difícil, tem que se dar valor, ho-
mem é tudo igual, segura esse homem, não fuxica, 
não mexe nas coisas dele, tem coisa que é melhor 
a gente não saber, não pergunta demais que ele te 
abandona, o que os olhos não veem o coração não 
sente, quando é que vão casar, ele tá te enrolando, 
morar junto é casar, quando é que vão ter filho, ele 
tá te enrolando, barriga pontuda deve ser menina, 
é menina.
Gregório Duvivier. Folha de S. Paulo, 16/09/2013.
08.01. (UERJ) – A crônica de Gregório Duvivier é construída 
em um único parágrafo com uma única frase. Essa frase co-
meça e termina pela mesma expressão: é menina. Em termos 
denotativos, a menina, referida no final do texto, pode ser 
compreendido como:
a) filha da primeira. 
b) ideal de pureza.
c) mulher na infância.
d) sinal de transformação.
08.02. (UERJ) – O uso da expressão é menina, tanto para 
começar quanto para finalizar o texto, adquire também um 
valor simbólico, pelo significado que assume no contexto.
No contexto, esse recurso provoca um entendimento de:
a) alteração previsível de juízos morais.
b) reprodução indefinida de preconceitos sociais. 
c) rejeição possível de comportamentos familiares.
d) esperança vaga de novas atitudes das mulheres.
08.03. (UERJ) – “vai ter que voltar antes de meia-noite, 
o seu irmão é diferente, menino é outra coisa,” (l. 32-34)
O fragmento reproduz falas que apontam uma diferença 
entre meninos e meninas.
Essa diferença se verifica em relação ao seguinte aspecto:
a) beleza
c) inteligência
b) esperteza
d) comportamento
40
45
Como, então, lidar com os textos da coletânea?
É preciso fazer a paráfrase desses textos, ou seja, 
redizê-los com outras palavras. Podemos também fazer 
citações diretas, entre aspas, embora com moderação.
Antes de mais nada, é preciso compreender que a 
coletânea nos auxilia a escrever melhor. Os elaboradores 
de exames vestibulares têm consciência de que o tema 
proposto pode não ser do conhecimento de todas as 
pessoas. Para que não haja favorecimentos, eles incluem 
alguns textos juntamente com a proposta, justamente 
para suprir eventuais lacunas de conteúdo.
Portanto, os textos da coletânea podem e devem 
ser aproveitados em nossa redação. Isso confere mais 
conteúdo a nossos textos, dá mais consistência a nossa 
linha argumentativa.
Como se dá esse aproveitamento? O mais importan-
te é que os trechos citados não estejam desconectados 
do todo da redação, mas contraiam relações com outras 
passagens do texto.
Aula 08
23Português 4D
08.04. (UERJ) – “isso vai crescer mimada,” (l. 7)
“isso daí quando começa a andar é um inferno,” (l. 9-10)
Os trechos acima são exemplos de pontos de vista negativos 
acerca da menina.
Esses pontos de vista são reforçados pelo uso do pronome 
isso, porque ele associa a criança a uma ideia de:
a) negação.
b) coisificação. 
c) deseducação.
d) individualização.
 
Aperfeiçoamento
TEXTO 1
Espaço e tempo
Tanto Aristóteles quanto Newton acreditavam no 
tempo absoluto. Isto é, acreditavam que se pode, sem 
qualquer ambiguidade, medir o intervalo de tempo 
entre dois eventos, e que o resultado será o mesmo em 
qualquer mensuração, desde que se use um relógio 
preciso. O tempo é independente e completamente 
separado do espaço. Isso é no que a maioria das pes-
soas acredita; é o consenso. Entretanto, tivemos que 
mudar nossas ideias sobre espaço e tempo. Ainda que 
nossas noções, aparentemente comuns, funcionem 
a contento quando lidamos com maçãs ou planetas, 
que se deslocam comparativamente mais devagar, não 
funcionam absolutamente para objetos que se movam 
à velocidade da luz, ou em velocidade próxima a ela. 
[...] 
Entre 1887 e 1905 houve várias tentativas [...] 
de explicar o resultado de experimentos [...] com re-
lação a objetos que se contraem e relógios que fun-
cionam mais vagarosamente quando se movimentam 
através do éter. Entretanto, num famoso artigo, em 
1905, um até então desconhecido funcionário público 
suíço, Albert Einstein, mostrou que o conceito de 
éter era desnecessário, uma vez que se estava que-
rendo abandonar o de tempo absoluto. Ponto seme-
lhante foi abordado poucas semanas depois por um 
proeminente matemático francês, Henri Poincaré. Os 
argumentos de Einstein eram mais próximos da Física 
do que os de Poincaré, que abordava o problema como 
se este fosse matemático. Einstein ficou com o crédito 
da nova teoria, mas Poincaré é lembrado por ter tido 
seu nome associado a uma parte importante dela. 
O postulado fundamental da teoria da relativida-
de, como foi chamada, é que as leis científicas são as 
mesmas para todos os observadores em movimento 
livre, não importa qual seja sua velocidade. Isso era 
verdadeiro para as leis do movimento de Newton, 
mas agora a ideia abrangia também outras teorias e a 
velocidade da luz: todos os observadores encontram 
a mesma medida de velocidade da luz, não importa 
quão rápido estejam se movendo. Essa simples ideia 
tem algumas consequências notáveis: talvez a mais 
conhecida seja a equivalência de massa e energia, con-
tida na famosa equação de Einstein E = mc2 (onde E 
significa energia; m, massa e c, a velocidade da luz); e 
a lei que prevê que nada pode se deslocar com mais 
velocidade do que a própria luz. Por causa da equiva-
lência entre energia e massa, a energia que um objeto 
tenha, devido a seu movimento, será acrescentada à 
sua massa. Em outras palavras, essa energia dificultará 
o aumento da velocidade desse objeto. 
[...] 
Uma outra consequência

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