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1 07 Aula 4D Português Argumentação II Relações lógicas Por sua natureza, o texto dissertativo-argumentativo expressa uma sequência de ideias, ou seja, uma progres- são lógica. Essa característica se revela pelas relações propostas entre os enunciados que compõem o texto. Nesta unidade, estudaremos algumas dessas relações: a causa, a consequência, a finalidade e a condição. tico de que “100 milhões de pessoas, 2% da população mundial, vivem fora do país onde nasceram” e a citação da ONU, a Organização das Nações Unidas. Além disso, busca possíveis causas desse processo, o que fica claro pelo emprego da expressão verbal deve-se a, no sentido de ser causado por : “a imigração atual deve-se a…”. Novamente citando a ONU, o texto aponta três causas para o incremento do processo migratório: a) pobreza econômica; b) explosão demográfica; c) danos crescentes ao meio ambiente. Vejamos outro exemplo: 2. Segundo a ONU, os subsídios dos ricos prejudicam o Terceiro Mundo de várias formas: 1. mantêm baixos os preços internacionais, desvalorizando as exportações dos países pobres; 2. excluem os po- bres de vender para os mercados ricos; 3. expõem os produtores pobres à concorrência de produtos mais baratos em seus próprios países. Folha de S. Paulo, 02/11/97, p. E 12 A preocupação agora não reside em causas, mas em consequências. Também respaldado pela autori- dade da ONU, o texto elenca efeitos negativos, sobre os países pobres, da política de subsídios agrícolas dos países desenvolvidos. Ela leva a preços mais baixos para os produtos agrícolas, o que acarreta prejuízos econômicos para o Terceiro Mundo. Podemos visualizar, nos quadros a seguir, as rela- ções lógicas expressas por ambos os textos: Causa e consequência Denominamos causa um evento anterior no tempo que determina outro evento, posterior no tempo, denominado consequência. O fundamental é compreender que, rigorosamente falando, se dois eventos são causa e consequência, isso quer dizer que eles não ocorreram simultanea- mente, mas um antes do outro. A causa vem antes, e a consequência vem depois. Aliás, a própria palavra consequência salienta essa ideia, pois seu radical, o substantivo sequência, indica aquilo que se segue, ou seja, algo que vem depois. Por exemplo, o fato passar no vestibular é em gran- de medida determinado pelo fato estudar muito. Este é causa daquele. Aquele é consequência deste. Textos dissertativo-argumentativos constantemen- te exploram esses dois tipos de relação. Observemos, como primeiro exemplo, o pequeno fragmento de texto a seguir, que figurou em exame vestibular da Universidade Federal do Paraná: 1. Segundo um relatório da ONU, nunca houve tantos imigrantes no mundo: 100 milhões de pessoas, 2% da população mundial, vivem fora do país onde nas- ceram. Para a ONU, a imigração atual deve-se a uma mistura letal de pobreza econômica com explosão demográfica e danos crescentes ao meio ambiente. Esse pequeno fragmento apresenta a tese de que “nunca houve tantos imigrantes no mundo”. Para defendê-la, vale-se de um argumento de prova concreta e outro de autoridade, respectivamente, o dado estatís- 2 Semiextensivo Texto I Causa Consequência 1. pobreza econômica 2. explosão demográfica 3. danos crescentes ao meio ambiente 1. aumento da migração Texto II Causa Consequência 1. subsídios dos países ricos 1. desvalorização das exportações dos países pobres 2. exclusão da venda para mercados ricos 3. concorrência interna com produtos importa- dos mais baratos Expressão linguística da causa e da consequência Os conteúdos linguísticos podem, naturalmente, ser expressos de diversos modos. Basicamente, as noções de causa e consequência vêm referidas por substantivos, verbos ou conectivos. O enunciado a seguir retrata uma divergência de opiniões sobre o que pode ter causado uma rebelião de presos no pavilhão 9 da Casa de Detenção de São Paulo. Observe como nele é, por duas vezes, indicada a relação lógica de causalidade: 3. Segundo a Coordenadoria dos Estabelecimentos Presidiários, o motivo da rebelião foi a apreensão de 20 pedras de crack entre os detentos; para a direção do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado, o problema foi a diminuição na quanti- dade de comida. Folha de S. Paulo, 31/12/95, Revista da Folha, p. 35 Como vemos, a indicação de causalidade se expres- sou, linguisticamente, por meio de substantivos, primeiro o motivo, depois o problema. Haveria muitas outras possibilidades. Poderíamos empregar sinônimos: 4. Segundo a Coordenadoria dos Estabelecimentos Presidiários, a causa da rebelião foi a apreensão de 20 pedras de crack entre os detentos; para a direção do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado, a razão foi a diminuição na quantidade de comida. Ou lançar mão de verbos: 5. Segundo a Coordenadoria dos Estabelecimentos Presidiários, a rebelião deveu-se à apreensão de 20 pedras de crack entre os detentos; para a direção do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado, ela foi provocada pela diminuição na quantidade de comida. Ou de conectivos: 6. Segundo a Coordenadoria dos Estabelecimentos Presidiários, a rebelião ocorreu porque foram apre- endidas 20 pedras de crack entre os detentos; para a direção do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado, por causa da diminuição na quantidade de comida. Conectivos causais Os conectivos causais típicos são pois e porque. Além deles são possíveis locuções conjuntivas, como uma vez que, já que, dado que ou visto que. Merece destaque a conjunção como, que pode ad- quirir valor causal nos períodos em que a oração causal aparece anteposta à oração principal: 7. Como sempre tive a intenção de possuir as terras de S. Bernardo, considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las. Graciliano Ramos, São Bernardo Nesse enunciado a conjunção como não possui valor comparativo. O trecho, afinal, não estabelece nenhum tipo de comparação entre dois seres. O que ele expressa é uma ideia de causa. Ele poderia ser reescrito substituindo-se a palavra como pela palavra porque. Note, porém, que, para isso, é necessário alterar a ordem das orações. 8. Considerei legítimas as ações que me levaram a obter as terras de S. Bernardo, porque sempre tive a intenção de possuí-las. Conectivos consecutivos A estrutura básica de um período composto que expressa a noção de consequência apresenta os pares tanto…que, tão…que ou tal…que. É o caso do enun- ciado a seguir. 9. Estávamos tão apaixonados que nem ligávamos para o mundo lá fora. Além desses pares, a consequência pode ser expressa por locuções, notadamente por isso que e de modo que: 10. Roberto Rodrigues, presidente da Sociedade Rural Brasileira, sugere imediata redução dos impostos sobre os alimentos, de modo que os preços não precisem subir. Eduardo Belo, Folha de S. Paulo, 31/12/95 11. Anteontem chegou uma forte massa de ar polar, vinda da Argentina, por isso que a temperatura caiu tão bruscamente na cidade de Curitiba. Aula 07 3Português 4D Finalidade A ideia de finalidade é decorrente da ideia de conse- quência. A diferença é que a consequência propriamente dita é algo que ocorre independentemente da vontade dos seres envolvidos com o fato. Já a finalidade é uma consequência intencional, ou seja, algo que se deseja que ocorra, e para o qual se trabalha. Também devemos considerar que a finalidade, assim como a condição, remete a fatos de existência não neces- sariamente real, fatos do mundo imaginário ou hipotético. Compare: 12. Trabalhamos arduamente, de modo que pudemos atingir nossos objetivos. 13. Estamos trabalhando arduamente para que possa- mos atingir nossos objetivos. Na frase (12) o fato atingir os objetivos é afirmado como de ocorrência real. Ele é a consequência do tra- balho árduo realizado no passado. Mas na frase (13) o trabalho árduo ainda é um fato presente. Ainda não foi possível atingir os objetivos. Entretanto, essa é a meta,a finalidade do trabalho árduo. Podemos concluir dos exemplos que tanto a finali- dade quanto a consequência são eventos posteriores a outros eventos. Mas a finalidade ainda não ocorreu – e pode muito bem não ocorrer. O que a define é a vontade que os agentes envolvidos no fato têm de que ela se torne consequência. Linguisticamente, a relação lógica de finalidade pode vir expressa de diversos modos, como o recurso a substantivos como meta, objetivo, alvo, verbos como pretender, intencionar, almejar e conectivos, basica- mente, as expressões a fim de que e para que. Condição Em princípio, denominamos de condição a um fato necessário para que outro fato possa ocorrer. Suponha, por exemplo, que para ocorrer o fato passar no vestibular seja necessário que antes ocorra, para uma pessoa determinada, o fato fazer as lições de casa. Assim, o segundo fato é uma condição para que o primeiro possa ocorrer. Em um enunciado, é bastante comum que a relação de condição venha expressa pela conjunção se: 14. Se você fizer as lições de casa, passará no vestibular. O aluno mais atento deve ter percebido a seme- lhança dessa relação com a de causa, estudada algumas aulas atrás. Aliás, estamos inclusive exemplificando, com a mesma situação, a relação entre passar no vestibular e fazer as lições de casa. Naquela ocasião o exemplo foi aproximadamente o seguinte: 15. Você passou no vestibular porque fez as lições de casa. Em que consiste exatamente a diferença entre causa e condição? Esse ponto não é tão simples, e remete a áreas não estritamente gramaticais, como a Filosofia e a Lógica. Gramaticalmente, as orações subordinadas dos pe- ríodos (14) e (15) se diferenciam em primeiro lugar pela conjunção que as introduz: se, no caso da oração condi- cional, e porque, para a oração causal. Essas diferentes conjunções certamente operam diferenças semânticas entre os enunciados, mas estas podem parecer muito sutis, ou mesmo arbitrárias. Percebamos, no entanto, uma outra diferença gramatical. A forma verbal da oração condicional do período (14) é fizer (Se você fizer as lições de casa…). É uma forma do modo subjuntivo dos verbos. Mas a forma verbal da oração causal do período (15) é fez (… porque fez as lições de casa.), que se encontra no modo indicativo. A diferença entre o modo indicativo e o modo sub- juntivo é que o indicativo expressa a ideia verbal como uma certeza, um dado de realidade, e o subjuntivo a expressa como incerteza, desejo, opinião. Fizer está no futuro do modo subjuntivo. Fez, no pretérito perfeito do indicativo. Portanto, a oração causal exprime o fato fazer as lições de casa como algo realmente ocorrido, enquanto a oração condicional o exprime como hipótese, como fato possível, mas não realizado. Tanto a causa como a condição são fatos que determinam a ocorrência de outros fatos. Também são ambas anteriores em relação àquilo que determinam. A diferença é que a causa é real, a condição é hipotética. Desse modo, lançamos mão da noção de condição para expressar eventos em um mundo não vivenciado, um mundo imaginário. As conjunções condicionais são como uma senha para o mundo da fantasia, o mundo da hipótese. É assim que quando sonhamos dizemos Se eu fosse rico… ou Se eu conseguir vender mais produtos este ano…. É função semelhante à da expressão Era uma vez… que abre as histórias infantis. São fórmulas a sinalizar que os fatos a serem descritos ou narrados ou comentados a seguir pertencem a um universo distinto do real. Diferente é dizer Quando eu for rico… ou Quando eu estiver na faculdade…. Apesar de utilizar formas do modo subjuntivo, essas orações trazem os fatos como de realização segura no futuro. É certo que todo futuro é um sonho. Mas a perspectiva de quem diz quando… parece mais real do que a de quem diz se…. 4 Semiextensivo Compare: 16. Ele cansou, por isso que eu entrei em seu lugar. Consequência 17. Eu entrei em seu lugar porque ele cansou. Causa 18. Se você cansar, eu entro em seu lugar. Condição 19. Quando você cansar, eu entro em seu lugar. Tempo Conectivos condicionais Além de se, a conjunção caso e as locuções desde que e contanto que também expressam a relação de condição. Uma delas aparece no seguinte diálogo, extraído de Alice no País das Maravilhas, do escritor e matemático inglês Lewis Carrol: 20. – Por favor, que caminho devo escolher para sair daqui? – Isso depende muito do lugar para onde você quer ir, disse o Gato. – Não me importa muito para onde... – Então não importa muito o caminho que você escolher, falou o Gato. – ... desde que eu chegue a algum lugar, completou Alice. – Oh! você certamente chegará, se caminhar bastan- te, disse o Gato. No interessante jogo lógico entre Alice e o Gato, o Gato tenta estabelecer uma relação de implicação entre a escolha de um caminho e a determinação do destino a ser alcançado. Argumenta que uma pessoa pode tomar qualquer destino se deseja alcançar qualquer destino. Alice diz que o argumento é falso, pois há caminhos que não levam a destino algum. Diz que a escolha dos caminhos só não importa com uma condição: – ... desde que eu chegue a algum lugar, completou Alice. Oposição de ideias Ao estudar as relações de causa, consequência, condição e finalidade, estivemos tratando da relação entre eventos que se de alguma forma complementam. Falaremos agora da relação entre eventos opostos. É próprio do ser humano estabelecer comparações entre os seres que percebe no mundo. Essas compara- ções, ou aproximações, partem da percepção de seme- lhanças entre os seres. Assim, na linguagem, surgem processos como as metáforas, que são substituições com base em relações de similaridade. Entretanto, nem tudo são identidades. Grande parte de nossa capacidade de compreensão da realidade decorre de nossa percepção de contrastes, de diferenças entre os seres. São esses contrastes que permitem indi- vidualizar, isolar os seres e determinar-lhes a especifici- dade. Se conhecemos um “homem” é em parte porque o contrastamos a uma “mulher”; se reconhecemos o fonema “p” é porque o distinguimos (diferenciamos) do fonema “b” e assim por diante. Essa localização de diferenças nos leva, muitas vezes, à constatação de certos seres ou eventos que estão em oposição a outros seres ou eventos. Estes são, não apenas diferentes, mas opostos, no sentido de que a natureza de um é contrária ou contraditória à natureza do outro. O “branco” é diferente do “azul”, do “verde”, do “amarelo” e também do “preto”. Mas além de diferentes, “branco” e “preto” são opostos: o primeiro é produto da combinação de todas as cores; o segundo é a própria ausência de cor. Grande parte de nossa experiência com a linguagem advém do jogo de oposições de sentido. Textos narrati- vos, por exemplo, estruturam-se com base em conflitos, que são relações de oposição entre personagens, ou entre o personagem e o mundo ou ainda entre o per- sonagem e si mesmo. Igualmente, textos dissertativos são construídos pelo conflito entre opiniões defendidas e negadas pelo autor. Vamos agora estudar o modo como as oposições de sentido aparecem em textos ou frases, sua importância comunicativa e literária nesses contextos. Concessão A relação lógica de oposição pode ser expressa por meio de conectivos ou orações que expressem conces- são ou adversidade. As orações e conectivos concessivos marcam o termo considerado menos importante no interior da oposição. O homem que se depara com fatos, conceitos ou opiniões opostas pode atribuir diferentes valores aos diferentes polos da contradição. Por exemplo, alguém vai a uma palestra e a considera extremamente aborrecida. Por outro lado, não pode deixar de admitir que ela foi útil para o seu trabalho. São duas impressões opostas. Uma atribui valor positivo, outra valor negativo, para o mesmo fato. Dependendode Aula 07 5Português 4D seu estado de espírito, a pessoa pode considerar que foi ou não válido ter ido à palestra. Assim, poderá proferir um dos dois enunciados a seguir: 21. Valeu a pena ter ido à palestra. Embora ela tenha sido muito aborrecida, aprendi muitas coisas úteis para o meu trabalho. 22. Foi péssimo ter ido à palestra. Embora eu tenha aprendido muitas coisas úteis para o meu trabalho, ela foi muito aborrecida. Os enunciados trazem sentidos opostos. O pri- meiro atribui maior importância ao fato de aprender muitas coisas úteis para o trabalho do que ao fato de a palestra ser aborrecida. O segundo faz exatamente o contrário. Os enunciados apresentam a conjunção embora. Percebemos que em ambos os casos ela introduz a ora- ção que expressa o fato considerado menos importante no interior da oposição. Por isso dizemos que ela expressa uma concessão. Uma concessão é um fato oposto a nós cuja existência reconhecemos, ao mesmo tempo em que não lhe conferimos grande importância. Fazer uma concessão implica ceder um argumento ao adversário, e o bom debatedor (como o bom negociador) jamais faz senão as concessões que lhe garantam ficar com o essencial. Além da conjunção embora, é comum que a ideia de concessão seja expressa pela expressão apesar de ou apesar de que: 23. Às vezes penso em mudar de profissão, apesar de que eu me sinta bem com o que faço. Também é relativamente frequente o emprego das expressões mesmo que, ainda que e se bem que. 24. Viajaremos amanhã, mesmo que chova. 25. O lema dos inconfidentes mineiros era Liberdade, ainda que tarde. 26. A maioria das pessoas confia mais em conterrâneos do que em estrangeiros, se bem que não haja qual- quer relação necessária entre a origem de alguém e sua personalidade. Mas devemos atentar para algumas conjunções ou expressões concessivas de uso restrito. É o caso de conquanto: 27. Conquanto esteja chovendo, viajaremos agora mesmo. A frase acima, de feitio bastante erudito, significa Embora esteja chovendo, viajaremos agora mesmo. Atenção também para a expressão posto que. Mui- tos a utilizam com valor causal, sinônimo de porque. Em norma culta, porém, seu sentido é concessivo, sinônimo de embora, apesar de. 28. Já é noite, posto que a lua ainda não tenha nos exibido seu esplendor. A frase significa: Já é noite, embora a lua ainda não tenha nos exibido seu esplendor. Adversidade Um caso diferente é o das orações e conectivos ad- versativos, que marcam o termo dominante no interior da oposição. Compare a propósito os dois enunciados a seguir: 29. O senador é um homem muito honesto, mas muito incompetente. 30. O senador é um homem muito incompetente, mas muito honesto. Ambos os enunciados se constroem com base em uma relação de contradição. O senador de que falam as frases é descrito como um homem ao mesmo tempo muito honesto, o que é um elogio, e muito incompeten- te, o que é uma crítica negativa. Apesar de contarem com as mesmas palavras, os enunciados não são argumentativamente idênticos. Ambos expõem a contradição do senador, mas o primei- ro é mais negativo em relação a ele do que o segundo. Isso porque a conjunção adversativa mas, no primeiro caso, se prende à ideia da “incompetência”, enquanto, no segundo caso, se prende à ideia da “honestidade”. Assim, a primeira frase enfatiza a “incompetência”, e a segunda enfatiza a “honestidade”. Portanto, a primeira é mais negativa em relação ao senador do que a segunda. Esquematicamente: 31. O senador é um homem muito honesto, mas muito incompetente. Ideia mais importante 32. O senador é um homem muito incompetente, mas muito honesto. Ideia mais importante Além da palavra mas, apresentam valor adversativo as conjunções porém, contudo, todavia e entretanto e a locução no entanto. Todos esses termos podem aparecer no início da oração adversativa. Mas todos, com exceção da palavra mas, podem também aparecer intercalados, ou seja, no meio da oração adversativa. Confira o exemplo: 33. É a primeira política científica formulada por um presidente dos EUA desde 1979; não há data, entretanto, para implementação do plano. Folha de S. Paulo, 11/9/94 6 Semiextensivo Além destas, tipicamente adversativas, é possível, em alguns períodos, que a conjunção e, normalmente aditiva, apareça relacionada à ideia de oposição. Confira como exemplo a frase a seguir: 34. Ele se esforçou a vida inteira, e terminou na miséria. Esse período apresenta uma relação de oposição, uma vez que traz uma quebra de expectativa. Social- mente, não se pressupõe que uma pessoa que tenha se esforçado a vida inteira termine na miséria. Entretanto, essa ideia contraditória vem expressa pela conjunção e, e não pelos termos adversativos típicos. Dizemos então que esse enunciado traz a conjunção e com valor adversativo. Esse valor é perceptível, pois a conjunção e admite, nesse caso, mas não em todos os casos, a subs- tituição pela conjunção mas, sem perda do significado original do período, como podemos ver a seguir: 35. Ele se esforçou a vida inteira, mas terminou na miséria. Notamos, em resumo, que, apesar da semelhança de ambas veicularem a ideia de oposição, construções con- cessivas e adversativas apresentam uma diferença fun- damental. A primeira marca o termo menos importante, e a segunda, o termo mais importante da oposição. Testes Assimilação Instrução: Com base no texto abaixo, responda às questões de números 07.01. a 07.05. Em abril, aconteceu e Feira do Livro de Bogotá, e um dos maiores sucessos foi um livro chamado Casa das estrelas: o universo contado pelas crian- ças. Nele, há um dicionário com mais de 500 definições para 133 palavras, de A a Z, feitas por crianças. O curioso deste “dicionário infantil” é como as crianças definem o mundo através daquilo que os adultos já não conseguem perceber. O autor do livro é o professor Javier Naranjo, que com- pilou informações ao longo de dez anos durante as aulas. Ele conta que a ideia quando surgiu ele pediu aos seus alunos para definirem a palavra “criança”, e uma das respostas que lhe chamou atenção foi: “uma criança é um amigo que tem o cabelo curtinho, não toma rum e vai dormir cedo”. Veja outros verbetes do livro e as idades das cri- anças que os definiram: • Adulto: pessoa que, em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma. (Andrés, 8 anos) • Água: transparência que se pode tomar. (Tatia- na, 7 anos) • Branco: o branco é uma cor que não pinta. (Jonathan, 11 anos) • Camponês: um camponês não tem casa, nem dinheiro, somente seus filhos. (Luis, 8 anos) • Céu: de onde sai o dia. (Duván, 8 anos) • Dinheiro: coisa de interesse para os outros com a qual se faz amigos e, sem ela, se faz inimigos. (Ana Maria, 2 anos) • Escuridão: é como o frescor da noite. (Ana Cris- tina, 8 anos) • Guerra: gente que se mata por um pedaço de 5 10 15 25 30 terra ou de paz. (Juan Carlos, 11 anos) • Inveja: atirar pedras nos amigos. (Alejandro, 7 anos) • Mãe: mãe entende e depois vai dormir. (Juan, 6 anos) • Paz: quando a pessoa se perdoa. (Juan Camilo, 8 anos) • Solidão: tristeza que dá na pessoa às vezes. (Iván, 10 anos) • Tempo: coisa que passa para lembrar. (Jorge, 8 anos) • Universo: casa das estrelas. (Carlos, 12 anos) André Fantin. Adaptado de repertoriocriativo.com.br, 22/05/2013. 07.01. (UERJ) – O curioso deste "dicionário infantil” é como as crianças definem o mundo através daquilo que os adultos já não conseguem perceber. (I. 7-9) Adultos e crianças, embora usando a mesma linguagem, não veem e não descrevem o mundo da mesma maneira. Com base no conteúdo desse fragmento, pode-se concluir que qualquer descrição da realidade apresenta a seguinte característica: a) Requer alguém que a realize sem receio. b) Necessita de que se faça formulação detalhada. c) Depende da perspectiva daquele que observa. d) Mostra-se precisa para os que já amadureceram. 07.02. (UERJ) – Uma afirmaçãoparadoxal contém alguma contradição interna. Um exemplo de afirmação paradoxal é identificado em: a) Adulto: pessoa que, em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma. (I. 20-21) b) Guerra: gente que se mata por um pedaço de terra ou de paz. (I. 34-35) c) Mãe: mãe entende e depois vai dormir. (I. 37) d) Paz: quando a pessoa se perdoa. (I. 40) 35 40 45 20 Aula 07 7Português 4D 07.03. (UERJ) – “uma criança é um amigo que tem o cabelo curtinho, não toma rum e vai dormir cedo”. (I. 15-17) Na definição acima, o trecho sublinhado contém duas comparações implícitas, que têm como referência o mundo dos adultos. Essas comparações são feitas por meio do seguinte recurso: a) oposição. c) classificação. b) gradação. d) reformulação. Aperfeiçoamento 07.04. (UERJ) – “Escuridão: é como o frescor da noite.” (I. 32) O verbete citado apresenta uma definição poética para o termo “escuridão”. Essa afirmativa pode ser justificada pelo fato de a autora do verbete ter optado por: a) priorizar as crenças antes de se pautar pela racionalidade. b) construir uma figuração particular sem se ater ao fenô- meno físico. c) expressar seu medo da noite no lugar de descrevê-la minuciosamente. d) apoiar-se na linguagem denotativa ao invés de elaborar um argumento conotativo. 07.05. (UERJ) – Por meio da generalização, pode-se atribuir um determinado conjunto de traços que não se relacionam apenas com o que está sendo nomeado. O melhor exemplo desse procedimento de generalização está presente em: a) Branco: o branco é uma cor que não pinta. (l. 24) b) Camponês: um camponês não tem casa, nem dinheiro, somente seus filhos. (l. 26-27) c) Céu: de onde sai o dia. (l. 28) d) Universo: casa das estrelas. (l. 45) Instrução: Com base no texto abaixo, responda às questões de números 07.06 a 07.09. O TERRORISMO É DUPLAMENTE OBSCURANTISTA: PRIMEIRO NO ATENTADO, DEPOIS NAS REAÇÕES QUE DESENCADEIA. 07.06. (UERJ) – “O terrorismo é duplamente obscuran- tista: primeiro no atentado, depois nas reações que desencadeia”. O subtítulo do texto sugere uma explicação para o título. Essa explicação é melhor compreendida pela associação entre: a) tiros e opiniões. b) armas e negociações. c) convicções e mentiras. d) crenças e esclarecimentos. 07.07. (UERJ) – Antonio Prata, ao comentar o ataque ao jornal Charlie Hebdo, construiu uma série de variações do argumento típico do método dedutivo, conhecido como “silogismo” e normalmente organizado na forma de três sentenças em sequência. A organização do silogismo sintetiza a estrutura do próprio método dedutivo, que se encontra melhor apresentada em: a) premissa geral – premissa particular – conclusão. b) premissa particular – premissa geral – conclusão. c) premissa geral – segunda premissa geral – conclusão particular. d) premissa particular – segunda premissa particular – con- clusão geral. Said e Chérif Kouachi eram descendentes de imi- grantes. Said e Chérif Kouachi são suspeitos do ataque ao jornal Charlie Hebdo, na França. Se não houvesse imigrantes na França, não teria havido ataque ao Charlie Hebdo. Said e Chérif Kouachi, suspeitos do ataque ao jor- nal Charlie Hebdo, eram filhos de argelinos. Zine- dine Zidane é filho de argelinos. Zinedine Zidane é terrorista. Zinedine Zidane é filho de argelinos. Said e Chérif Kouachi, suspeitos do ataque ao jornal Charlie 1 5 10 Hebdo, eram filhos de argelinos. Said e Chérif Kouachi, sabiam jogar futebol. Muçulmanos são uma minoria na França. Mem- bros de uma minoria são suspeitos do ataque ter- rorista. Olha aí no que dá defender minoria... A esquerda francesa defende minorias. Membros de uma minoria são suspeitos pelo ataque terror- ista. A esquerda francesa é culpada pelo ataque terrorista. A extrema direita francesa demoniza os imigrantes. O ataque terrorista fortalece a extrema direita fran- cesa. A extrema direita francesa está por trás do ataque terrorista. Marine Le Pen é a líder da extrema direita france- sa. “Le Pen” é “O Caneta”, se tomarmos o artigo em francês e o substantivo em inglês. Eis aí uma demonstração de apoio da extrema direita france- sa à liberdade de expressão – e aos erros de con- cordância nominal. Numa democracia, é desejável que as pessoas se- jam livres para se expressar. Algumas dessas ex- pressões podem ofender indivíduos ou grupos. Numa democracia, é desejável que indivíduos ou grupos sejam ofendidos. Os terroristas que atacaram o jornal Charlie Heb- do usavam gorros pretos. “Black blocs” usam gor- ros pretos. “Black blocs” são terroristas. Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é verde. O Incrível Hulk é um abacate. Antonio Prata. Adaptado de Folha de S. Paulo, 11/02/2015. 15 20 25 30 35 40 8 Semiextensivo 07.08. (UERJ) – “Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é verde. O Incrível Hulk é um abacate”. (l. 39-40) Este parágrafo indica como o leitor deve ler todos os ante- riores. Segundo essa indicação, os argumentos apresentados pelo cronista devem ser compreendidos como: a) críticas irônicas. b) exercícios formais. c) raciocínios aceitáveis. d) recriações linguísticas. 07.09. (UERJ) – “Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é verde. O Incrível Hulk é um abacate”. (l. 39-40) Todo argumento pode se tornar um sofisma: um raciocínio errado ou inadequado que nos leva a conclusões falsas ou improcedentes. O último parágrafo do texto é um exemplo de sofisma, considerando que, da constatação de que todo abacate é verde, não se pode deduzir que só os abacates têm cor verde. Esse é o tipo de sofisma que adota o seguinte procedimento: a) enumeração incorreta. b) generalização indevida. c) representação imprecisa. d) exemplificação inconsistente. Aprofundamento Instrução: Com base no texto abaixo, responda às questões de números 07.10. a 07.14. Juventude e participação Inicialmente, gostaria de destacar que toda ava- liação é feita a partir de uma comparação. Neste caso, essa comparação poderia ser feita em duas direções. Uma delas em relação a outras faixas etárias e a outra em relação à juventude de épocas passadas. Em relação à primeira dimensão, me parece que o comportamento político da juven- tude não seja diferente do de outras faixas etárias. Os que avaliam como baixa a participação polí- tica da juventude atual não podem afirmar que seja diferente da participação política das outras faixas. Existem parcelas da população passivas (e entre elas há jovens e também adultos), assim como existem parcelas da população com alta taxa de participação política, e entre elas podemos igual- mente identificar jovens e adultos. Logo, uma comparação entre faixas etárias não nos leva a concluir que seja baixa a participa- ção política da juventude. Agora, em relação à outra dimensão, a comparação entre juventudes de épocas diferentes, podemos constatar diferen- ças que aparentemente levem algumas pessoas 5 10 15 20 a afirmações do tipo “a juventude atual não está com nada”, “antigamente os jovens tinham maior consciência e atuação política”. E aqui, novamen- te, devemos analisar a questão por partes. Jovens alienados e passivos sempre existiram ao lado de jovens conscientizados e ativos politicamente. Deve-se reconhecer que a proporção entre essas duas categorias muda com o tempo, tem épocas em que a proporção de jovens ativos se amplia e em outras épocas diminui. Mas esse aumento ou diminuição é uma expressão da sociedade como um todo e não de uma determinada faixa etária. Se numa época a parcela de jovens cresce e se tor- na mais intensa, é porque esse mesmo fenômeno se manifesta na sociedade como um todo. O com- portamento juvenil expressa as tendências gerais da sociedade como um todo. A grande diferença está nos meios de que dis- põem os jovens para desenvolver sua consciência crítica ou para manifestar sua postura política. Aí, sim, registramos mudanças radicais em relação a outras épocas. Atualmente, os jovens têm acesso aos meios de comunicação que permitemampliar a velocidade e a abrangência da transmissão de ideias, o que oferece facilidades nunca antes disponíveis para a expressão política da juventude. A minha resposta pode parecer otimista e tenho plena consciência de que ela é. Os jovens da atu- alidade não são diferentes dos jovens de outras épocas, aceitam ou rechaçam valores, assumem ou não atitudes políticas com a mesma postura dos jovens do passado, a diferença não está no grau e sim na forma. Não muda o caminho, muda a forma de caminhar. Luis de La Mora. Adaptado de www.cipo.org.br. 07.10. (UERJ) – A argumentação do autor se pauta pela cautela, combatendo principalmente os discursos que fazem generali- zações apressadas. A frase do texto que melhor comprova essa afirmativa está indicada em: a) “Os que avaliam como baixa a participação política da juventude atual não podem afirmar que seja diferente da participação política das outras faixas.” (l. 9-12) b) “O comportamento juvenil expressa as tendências gerais da sociedade como um todo.” (I. 38-40) c) “A grande diferença está nos meios de que dispõem os jovens para desenvolver sua consciência crítica ou para manifestar sua postura política.” (l. 41-43) d) “Atualmente, os jovens têm acesso aos meios de comuni- cação que permitem ampliar a velocidade e a abrangência da transmissão de ideias, o que oferece facilidades nunca antes disponíveis para a expressão política da juventude.” (l. 46-50) 25 30 35 40 45 50 55 Aula 07 9Português 4D 07.11. (UERJ) – O início do parágrafo (l. 1-2) expõe um eixo em que se apoiará a construção do texto. Esse eixo pode ser definido como: a) uma evidência da tese. b) uma opinião polêmica. c) um método de raciocínio. d) um testemunho autorizado. 07.12. (UERJ) – Nos processos de coesão textual, há vocábulos que substituem palavras, expressões ou ideias anterior- mente expostas. Um exemplo em que o vocábulo grifado retoma algo enunciado em parágrafo anterior é: a) “a proporção entre essas duas cate- gorias”. (l. 30-31) b) "é porque esse mesmo fenômeno”. (l. 37). c) "ou para manifestar sua postura política”. (l. 43) d) "e tenho plena consciência de que ela é.” (l. 51-52) 07.13. (UERJ) – Os textos que defen- dem uma opinião possuem diversos mecanismos para garantir sua eficácia ou poder de convencimento. Pode-se dizer que a estrutura geral do texto contribui para sua eficácia argumentativa porque: a) detalha e comenta certos aspectos encontrados em outros textos. b) analisa e critica a opinião apresenta- da ao final pelo próprio autor. c) descreve e exemplifica um fenôme- no definido como objeto de análise. d) pressupõe e desconstrói algumas opiniões cristalizadas na sociedade. 07.14. (UERJ) – Deve-se reconhecer que a proporção entre essas duas categorias muda com o tempo, tem épocas em que a proporção de jovens ativos se amplia e em outras épocas diminui. (I. 30-33) A relação de sentido entre o fragmento grifado e o anterior, neste exemplo, poderia ser indicado pelo emprego do seguinte conectivo: a) porque. b) conforme. c) no entanto. d) não obstante. 07.15. (UERJ) – “Caso tenha uma aranha na sua perna, é melhor não se mexer." No quadrinho seguinte, o próprio personagem analisa essa fala como hipotética. A construção de hipótese está marcada na frase do personagem pelo seguinte traço linguístico: a) tom de conselho da fala b) ordem inversa do período c) emprego do conectivo inicial d) presença de forma negativa 07.16. (UERJ) – Nos quadrinhos, há uma representação de crescente desespero do personagem que estaria com a aranha em sua perna. A representação desse desespero é construída por meio do emprego de: a) frases afirmativas e pontuação. b) vocabulário usual e interjeições. c) linguagem culta e exclamações. d) elementos verbais e não verbais. 07.17. (UERJ) – Diante do estranhamento de um dos personagens no primeiro quadrinho, o outro explica a própria fala no segundo quadrinho. Essa explicação configura um recurso conhecido como: a) ironia. b) metáfora. c) polissemia. d) metalinguagem. © N íq u el N áu se a d e Fe rn an d o G o n sa le s Discursivos Instrução: Texto para as duas próximas questões Sermão Tão inteiramente conhecia Cristo a Judas, como a Pedro e aos demais; mas notou o Evangelhista com espe- cialidade a ciência do Senhor, em respeito de Judas, porque em Judas mais que em nenhum dos outros campeou a fineza do seu amor. Ora vede: Definindo S. Bernardo o amor fino, diz assim: Amor non quaerit causam, nec fructum: ‘O amor fino não busca causa nem fruto.’ Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que amem, tem fruto: e amor fino não há de ter por quê, nem para quê. Se amo porque me amam, é obrigação, faço o que devo; se amo para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há de amar o amor para ser fino? Amo quia amo, amo ut amem: ‘Amo porque amo, e amo para amar.’ Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama, para que o amem, é interesseiro; quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, esse só é fino. E tal foi a fineza de Cristo, em respeito de Judas, fundada na ciência que tinha dele e dos demais discípulos. Padre Antônio Vieira, Sermões, 4ª. ed., Rio de Janeiro, Agir, 1966, p. 64 10 Semiextensivo 07.18. (VUNESP – SP) – O Padre Antônio Vieira (1608-1697), em cuja prosa oratória coexistem os princípios barrocos do cultismo e do conceptismo, é considerado um dos maiores oradores de todos os tempos, em Língua Portuguesa. Em seus sermões se serve frequentemente do simbolismo das Sagradas Escrituras para desenvolver argumentos de raciocínio complexo, mas sempre de modo claro e preciso. No fragmento acima transcrito, Vieira aborda fundamentalmente o tema do “amor”. Releia o texto dado e, a seguir, responda: quantas e quais são as espécies de “amor”, segundo Vieira. 07.19. (VUNESP – SP) – Verifique no texto as menções feitas por Vieira ao amor de Cristo pelos apóstolos e, a seguir, justifique como se dá o amor de Cristo a Judas de acordo com a argumentação de Vieira. 07.20. Em sua argumentação insistente, repetitiva, Vieira sintetiza sua teoria do amor com a frase “O amor fino não busca causa nem fruto”. a) O que, no contexto, significa “fruto”? b) Dois conectivos apresentam relação contextual com os vocábulos “causa” e “fruto”. Quais são eles? c) Qual a importância das noções de “causa” e “fruto” para a divisão do amor em três espécies? Aula 07 11Português 4D Produção de texto Proposta 1 Nas atividades a seguir, os textos falam sobre o problema da disseminação da AIDS entre os usuários de drogas injetáveis. Discute-se a polêmica proposta de distribuir agulhas e seringas descartáveis a essas pessoas como forma de diminuir a propagação da doença. A distribuição de seringas para usuários de drogas pode diminuir pela metade a taxa de propagação do vírus da Aids neste grupo de risco. A conclusão é de uma pesquisa realizada na prestigiosa Universidade John Hopkins, de Nova York, que envolveu 22 mil pessoas em vários bairros nova-iorquinos. Antes do programa, uma seringa era emprestada, alugada ou vendida em média 16 vezes nos bairros onde foi feito o controle. O programa reduziu este número em quatro vezes. Existem 200 mil usuários de drogas injetáveis em Nova York, metade deles infectados com o vírus da AIDS. Programa corta em 50% taxa de infecção de HIV, Folha de S. Paulo, 02/11/94 01. O texto apresenta argumentos de prova concreta e autoridade. a) Que dado, presente no texto, pode respaldar a afirmação de que o problema das drogas e da AIDS é grave na cidade de Nova York? b) O texto pode ser considerado favorável à tese de que é válido distribuir seringas para viciados em drogas injetáveis como forma de prevenir a disseminação da AIDS. Que dado respalda essa tese? c) Há um argumento de autoridade embutido nos dados de realidade presentes no texto. Explique. Graças a uma legislação liberal, a maior cidade suíça, Zurique, criou uma áreaespecial – Letten, uma estação de trens desativada – onde é possível comprar e usar heroína em plena luz do dia. (...) Desde 1992, quando os junkies* se mudaram da Platzpitz, uma praça no centro da cidade, para Letten, o consumo não para de crescer – um fato atestado pelas 15 000 seringas descartáveis distribuídas diariamente na velha estação. A única vantagem é que a distribuição reduziu o ritmo de disseminação da Aids. * Junkies: termo inglês que significa drogados O pico à luz do dia, Veja 07/09/94 12 Semiextensivo 02. Este outro fragmento apresenta dados contraditórios sobre distribuição de seringas para usuários de drogas injetáveis. a) Que informação pode ser considerada favorável a essa distribuição? b) Que informação é desfavorável à distribuição? c) Apesar de relatar dados a favor e contra a distribuição de seringas, o texto parece mais propenso a condenar essa prática. Que indícios há no texto que corroboram essa afirmação? Em nosso país, exige-se diploma para que alguém aplique injeção endovenosa, porque pesso- as não treinadas criam perigos para si ou para outros, ao realizar inoculações. Fornecer agulhas e serin- gas a pessoas não habilitadas para seu uso é como dar um carro a menores de idade, ou uma arma a quem não sabe utilizá-la. Isso é pelo menos indesejável para a sociedade, além de ser ilegal. No caso, a ilegalida- de se tornaria incontrolável, pois o distribuidor dos medicamentos e agulhas seria o próprio Estado. A proposta de um programa como esse não leva em conta a realidade, causando desperdício de recursos já precá- rios. Tais propostas são feitas por pessoas que nunca viram, de fato, como funciona uma “roda”*, provavelmente dirigentes sem formação médica e sem assessoria adequada (socióloga etc.). Não é difícil adivinhar que se trata de um plano que só beneficia vendedores de agulhas e seringas e burocratas de escritório, não tendo qualquer consequência para a epidemia da Aids. * roda: prática, comum entre drogados, que consiste no uso de uma mesma seringa por várias pessoas. Adaptado de Vicente Amato Neto e Jacyr Pasternak (médicos infectologistas). A doação de seringas e agulhas a drogados. O Estado de S. Paulo, 05/09/94. [No futuro pagaremos] caro pela ignorância e irresponsabilidade do passado. Acharemos inacreditável não havermos percebido em tempo, por exemplo, que o vírus da Aids, presente na seringa usada pelo adolescente da periferia para viajar ao paraíso por alguns instantes, infecta as mocinhas da favela, os travestis na cadeia, as garotas da boate, o meninão esperto , a menininha ingênua, o senhor enrustido, a mãe de família e se espalha para a multidão de gente pobre, sem instrução e higiene. Haverá milhões de pessoas com Aids, dependendo de tratamento caro e assistência permanente.(...) Dráuzio Varella (médico infectologista). A era dos genes. Veja 25 anos – Reflexões para o futuro, 1993. Aula 07 13Português 4D 03. Ambos os textos tratam da questão da Aids, fazendo ao menos referência à transmissão de seu vírus através do uso compartilhado de seringas. a) Qual dos dois textos é claramente contrário à distribuição de seringas a usuários de drogas injetáveis? Que argumentos ele utiliza? b) Qual dos dois textos pode ser usado como argumento de autoridade em uma redação sobre Aids? Proposta 2 Instrução: As próximas seis questões têm como base o texto a seguir. Escrito e interpretado pelo ator e dramaturgo Plínio Marcos (1935 - 2000), trata-se de transcrição de um vídeo exibido na Casa de Detenção, em São Paulo. Aqui é bandido: Plínio Marcos! Atenção, malandrage! Eu num vô pedir nada, vô te dá um alô! Te liga aí: Aids é uma praga que rói até os mais fortes, e rói devagarinho. Deixa o corpo sem defesa contra a doença. Quem pegá essa praga está ralado de verde e amarelo, do primeiro ao quinto, e sem vaselina. Num tem dotô que dê jeito, nem reza brava, nem choro, nem vela, nem ai, JESUS. Pegou Aids, foi pro brejo! Agora sente o aroma da perpétua: Aids passa pelo esperma e pelo sangue, entendeu? pelo esperma e pelo sangue!(pausa) Eu num tô te dando esse alô pra te assombrá, então se toca! Não é porque tu tá na tranca que virou anjo. Muito pelo contrário, cana dura deixa o cara ruim! Mas é preciso que cada um se cuide, ninguém pode valê pra ninguém nesse negócio de Aids! Então, já viu: transá, só de acordo com o parceiro, e de camisinha! (pausa) Agora, tu aí que é metido a esculachá os outros, metido a ganhá o companheiro na força bruta, na congesta! Para com isso, tu vai acabá empesteado! Aids num toma conhecimento de macheza, pega pra lá e pega pra cá, pega em home, pega em bicha, pega em mulhé, pega em roçadeira! Pra essa peste num tem bom! Quem bobeia fica premiado. E fica um tempão sem sabê. Daí, o mais malandro, no dia da visita, recebe mamão com açúcar da família e manda pra casa o Aids! E num é isto que tu qué, né, vago mestre? Então te cuida! Sexo, só com camisinha. (pausa) A b ri l C o m u n ic aç ão S .A ./ Jo ão R ap o so 14 Semiextensivo Quem descobre que pegô a doença se sente no prejuízo e quer ir à farra, passando pros outros. (pausa) Sexo, só com camisinha! Num tem escolha, transá, só com camisinha. Quanto a tu, mais chegado ao pico, eu tô sabendo que ninguém corta o vício só por ordem da chefia. Mas escuta bem, vago mestre, a seringa é o canal pro Aids. No desespero, tu não se toca, num vê, num qué nem sabê que, às vezes, a seringa vem até com um pingo de sangue, e tu mete ela direta em ti. Às vezes, ela parece que vem limpona, e vem com a praga! E tu, na afobação, mete ela direto na veia. Aí tu dança. Tu, que se diz mais tu, mas que diz que num pode aguentá a tranca sem pico, se cuida. Quem gosta de tu é tu mesmo. (pausa) E a farinha que tu cheira, e a erva que tu barrufa enfraquece o corpo e deixa tu chué da cabeça e dos peitos. E aí tu fica moleza pro Aids! Mais o pico é o canal direto pra essa praga que está aí. Então, malandro, se cobre! Quem gosta de tu é tu mesmo. A saúde é como a liberdade. A gente só dá valor pra ela quando ela já era! Vídeo exibido na Casa de Detenção, São Paulo Créditos: Agência Adag (1988). Realização: V Cultura, São Paulo. Duração: mim 48s 01. (VUNESP – SP) – 0 texto que lhe apresentamos não se realiza de acordo com a chamada “norma culta da língua portu- guesa”. Cite três ocorrências gramaticais que caracterizam esse desvio da norma culta. Exemplifique-as. 02. (VUNESP – SP) – Que efeito argumentativo decorre do emprego dessa variante de linguagem? 03. (VUNESP – SP) – Logo no início de sua fala, Plínio Marcos se define como “bandido”. Qual sua intenção argumentativa com tal apresentação? Que tipo de argumento o autor está empregando? 04. (VUNESP – SP) – Que função exercem no texto as expressões “atenção, malandrage” (1.º parágrafo), “vago mestre” (3.o e 5.o parágrafos) e “malandro” (5.o parágrafo)? Aula 07 15Português 4D 05. (VUNESP – SP) – Como se sabe, são comuns, nos presídios, violências sexuais entre os detentos. No terceiro parágrafo, Plínio Marcos se refere explicitamente aos agentes dessa violência. Que argumentos ele utiliza para tentar convencê-los a parar com esse tipo de prática? 06. (VUNESP – SP) – Uma das virtudes do texto de Plínio Marcos é tratar a questão da Aids de maneira realista, sem con- catenações idealizantes ou metafóricas. Didaticamente, e de modo a se fazer rapidamente compreendido, utiliza-se da comparação e, em geral,quando substitui um termo por outro, o faz por uma aliança lógica entre as partes, designando o elemento por um termo que contém as qualidades de uma de suas partes. Com base neste comentário, releia atentamente o último parágrafo do texto e, a seguir: a) Aponte os termos que substituem, respectivamente, cocaína e maconha. b) Interprete a comparação “A saúde é como a liberdade”. Para isso, leve em conta a situação dos destinatários e dos objetivos que o emissor deseja alcançar. Gabarito 07.01. c 07.02. b 07.03. a 07.04. b 07.05. b 07.06. a 07.07. a 07.08. a 07.09. b07.10. a 07.11. c 07.12. a 07.13. d 07.14. a 07.15. c 07.16. d 07.17. d 07.18. São três: o amor por obrigação, do agra- decido; o amor por negociação, do inte- ressado; e o amor fino. 07.19. O amor de Cristo a Judas é o amor fino, pois Cristo o amou mesmo sabendo, como notou a evangelista, que seria tra- ído por Judas. 07.20. a) “fruto” significa finalidade. b) “causa” se relacionar com “porque” e “fruto” com “para que”. c) O amor fino se distingue dos outros dois, justamente porque não busca “fruto” nem tem “causa”. 16 Semiextensivo Argumentação III 4D Português Aula 08 O início, o fim e o meio Uma concepção arquitetônica de estrutura de texto Na aula 12, tratamos da distinção entre tema e assunto; nas anteriores a esta, de argumentação – a importância da utilização de argumentos sólidos, de provas concretas; no início do curso, sugerimos alguns conceitos e reflexões no momento de se criar um título. Desta vez, vamos discutir a articulação da introdução com a conclusão e sintetizar isso tudo na proposta de concretização da elaboração parcial de um texto já pré- -construído. O conteúdo e a forma A intersecção de dois assuntos bastante atuais e pertinentes: Copa do Mundo e eleições no Brasil, o tema que focalizaremos aqui é a possível influência que um resultado de desempenho da seleção bra- sileira na competição possa exercer nos humores eleitorais do brasileiro. Uma vitória favorece a situação e uma derrota ajuda a oposição? Ou o bra- sileiro sabe muito bem distinguir as coisas? Como já vimos, qualquer que seja a tese, mais importante é uma boa, consistente e por isso mesmo convincente argumentação. Esses são aspectos mais relacionados ao conteúdo do texto: tema, tese e argumentação. Se você já assumiu uma posição diante da questão posta em debate e já realizou uma pesquisa que lhe tenha oferecido fatos jornalísticos ou históricos e dados estatísticos concretos e reais, você já dispõe de todos os ingredientes para a “construção” de um texto. Tratemos então do acabamento, de aspectos mais ligados à forma do que propriamente ao conteúdo. Nes- te caso, seria talvez mais adequado se falar em “criação” do que exatamente em “construção”. O título, como já vimos, é um momento em que, por mais sério que seja o tema do texto em questão, pode-se e até deve-se ousar, brincar com palavras e ideias. Também a introdução e a conclusão podem ser entendidas como etapas pos- teriores à “construção” do texto, em que devemos nos preocupar igualmente com o conteúdo e com a forma. A estratégia do pretexto Na experiência escolar, é muito comum nos deparar- mos com dois problemas enfrentados pelos estudantes nas atividades de produção de textos: há aqueles que frequentemente interpelam o professor em busca de uma sugestão pra começar, um “empurrãozinho”, uma “cara de começo”; outros escrevem textos bem construídos, que apresentam boa progressão e fluência, entretanto parecem precipitar-se rumo ao desfecho, sem uma “cara de fim”. Pois bem. Que tal pensar em uma única ideia e aproveitá-la tanto para o início quanto para o fim? Vamos dividir a introdução e a conclusão em conteúdo e forma. Necessariamente, a introdução deve apresentar o tema, a polêmica. Vemos às vezes redações que come- çam como se o leitor conhecesse previamente o assunto. Há, por exemplo, textos que iniciam por expressões como Essa polêmica…, Esse assunto…, sem que antes disso se tenha apresentado a polêmica ou o assunto. A conclusão, por sua vez, deve realizar a síntese da argumentação conduzida ao longo do desenvol- vimento do texto e apresentar a tese. A colocação da tese poderia se dar de mais de uma maneira. A tese pode figurar nas três partes, ou seja, no título, na in- trodução e na conclusão. Ou pode não estar no título, sendo apresentada pela introdução. Nesses casos, a conclusão retoma uma ideia lançada desde a primeira parte. Outra possibilidade é que a introdução (e/ou o título) levante a polêmica, ou seja, traga uma dúvida a ser respondida pelos dados presentes no desenvol- vimento. A seguir vem a argumentação, que conduz para a tese, que, nesse caso, aparece apenas no trecho conclusivo. Em resumo: quanto ao conteúdo, a introdução deve apresentar o tema e/ou a tese. A conclusão deve sinteti- zar a argumentação e explicitar a tese. Aula 08 17Português 4D Resumo de textos argumentativos Vamos trabalhar um tipo de proposta bastante comum nos exames vestibulares contemporâneos: o resumo. A primeira orientação é relativamente evidente, mas, nem por isso, menos importante. Num resumo, devem aparecer apenas conteúdos presentes no texto-base. Diferentemente da resenha, no resumo não devemos emitir opinião ou acrescentar informações que não constavam do original. Em segundo lugar, é importante não copiar ex- cessivamente o texto-base. É possível citar alguns de seus fragmentos, não ultrapassando cerca de 10% do resumo. Nesse caso, é imprescindível usar aspas. Jamais podemos copiar um trecho sem aspas, pois isso caracte- rizaria plágio. Ao elaborar o resumo, é possível alterar a ordem do original. Não é um erro. Mas trata-se de uma operação mais difícil. Não é uma regra, mas, como conselho, acha- mos melhor manter a ordem do original. Até porque, no vestibular, o candidato não dispõe de tanto tempo para refletir. Como elaborar o resumo O resumo é uma paráfrase (e síntese) do original. Ou seja: você deve “dizer a mesma coisa, com outras palavras”. O ponto crucial, portanto, é a habilidade em selecio- nar as ideias mais importantes do original. Há, basica- mente, duas estratégias possíveis para isso: A primeira é um método que podemos chamar “recuar um nível”. Um texto é formado por parágrafos. Um parágrafo é formado por frases. Então, o resumo constitui uma operação em que saímos de um nível para o nível mais baixo. Procuramos reduzir cada parágrafo a uma frase. Assim, o texto original é resumido para um parágrafo. Claro, esse não é um esquema rígido. Às vezes, um parágrafo vira duas frases; ou dois parágrafos viram uma frase; e não há qualquer erro em o resumo ter mais de um parágrafo. Mas, como estratégia geral, é uma orientação tentar reduzir parágrafos a frases. O segundo método consiste em observar o gênero a que o texto pertence. O resumo, então, deve dar conta dos elementos básicos do gênero considerado. Sem sombra de dúvida, o gênero predominante no vestibular, inclusive nas propostas de resumo, é o disser- tativo-argumentativo. Nesse tipo de texto, o enunciador explana uma tese sobre determinado tema polêmico. Para isso, ele se vale de determinados argumentos. O seu resumo deve, então, contemplar esses elementos. Novamente, não se trata de um procedimento rígido. Você deve avaliar, caso a caso, como é a estrutura do texto. Mas podemos dizer que, sendo argumentativo, o texto contempla alguma forma de colocação do tema e, certamente, uma tese sobre ele (na verdade, isso é uma tautologia: o texto foi identificado como argumentativo justamente porque apresentava uma tese). Agora, vamos à forma, à “criação”. Claro que a lingua- gem é o universo das opções e isso é em princípio incom- patível com sugestão de “fórmulas mágicas”. Mas em um texto argumentativo de caráter, digamos, mais sério, os momentos de inspiração e o talento ficam muito mais restritos ao título e às “duas pontas”. Pensemos então em uma técnica que reúna essas duas pontas formando assim um texto “redondo”, que termine no ponto por onde começou. A eficácia desse procedimento seria tão mais evidente quanto mais pudesse surpreender o leitor que, ao final da leitura, perceberia uma nítida concepção de arquitetura do texto, em que o autor sabia desde o momento em que abriu o parágrafo inicial, onde e como colocaria o ponto final. O que seria esse PRETEXTO? Uma breve narrativa, ou comentário, ou descrição de cena cotidiana ou literária, aparentemente distantes do tema, mas é claro que deve haver uma relação posteriormenterevelada, pois é dela que brotará o tema propriamente dito. Seria a “cara de começo”. A partir daí, apresenta-se o tema, desenvolve- -se a argumentação e inicia-se a conclusão, com a explicitação da tese. Perceba-se que neste momento o leitor está totalmente envolvido com o conteúdo do texto e nem mais se lembra do PRETEXTO. Aí é que viria o grande impacto formal, pois o autor retomaria o PRETEXTO, completando desta forma o fecho do texto conferindo-lhe uma “cara de fim”. De forma esquemática: TÍTULO “começo do começo” pretexto “fim do começo” apresentação do tema e/ou da tese DESENVOLVIMENTO – ARGUMENTAÇÃO “começo do fim” síntese da argumentação, explicitação da tese “fim do fim” retomada do pretexto 18 Semiextensivo Os dinossauros desaparecem Até hoje persiste um intenso debate científico sobre as causas da extinção dos dinossauros. Os mais recentes fósseis encontrados desses grandes répteis pertencem à chamada Era Mesozoica. Isso significa que eles viveram até cerca de 165 milhões de anos atrás. Por que se extinguiram? De início, alguns propuseram que os dinossauros desapareceram porque eram muito grandes. Mas havia dinossauros pequenos e estes também foram extintos. Chegou-se a pensar que fossem animais muito “estúpidos” ou inadaptados. Mas, se assim fosse, como teriam sobrevivido por tanto tempo? Falou-se também em mudanças de fauna ou flora. O surgimen- to de novas plantas poderia tê-los envenenado. Mas esse fenômeno não envolveu todas as plantas então existentes; restavam outras para serem comidas. O surgimento dos mamíferos poderia ter causado essa extinção, pois esses novos animais comeriam os ovos dos dinossauros. Mas isso provavelmente os teria liquidado antes do período mesozoico. Estrutura básica da argumentação Além da tese, a argumentação (por vezes) pressupõe a existência de uma ou mais teses contrárias, a que denominaremos antíteses. Trata-se, respectivamente, do ponto de vista defendido e do(s) ponto(s) de vista negado(s). Como temos sempre insistido, não basta aos debate- dores afirmarem, repetidamente, seus pontos de vista. É preciso que argumentem, não só para afirmar sua tese, como para negar as teses contrárias, o que constitui, res- pectivamente, os argumentos e os contra-argumentos. Mas de onde surgem as teses e as antíteses? Que evento deflagra o processo argumentativo? A origem dos debates está na existência de questões polêmicas, temas sobre os quais paira alguma dúvida, alguma inquietação, para a qual não há uma resposta definitiva. Nesse quadro, as pessoas sentem-se instigadas a apresentar conjecturas, propor hipóteses sobre o tema po- lêmico. A tese é então a hipótese que se pretende defender, e as antíteses, as hipóteses que se pretende refutar. O texto a seguir ilustra esses conceitos: A hipótese mais aceita atualmente é que os dinossauros foram mortos devido ao choque de um meteorito com a Terra. Isso teria produzido uma grande nuvem de poeira que, bloqueando a luz solar, levou ao desaparecimento de quase todas as formas de vida no planeta. O texto acima apresenta os principais traços do dis- curso argumentativo e, mesmo, do discurso científico. O tema do fragmento são os dinossauros, mais precisamente, o desaparecimento desses animais. A existência do tema é inerente a todo texto dissertativo e não leva, por si mesma, a que este apresente estrutura argumentativa. Como já comentamos, a argumentação surge no momento em que há uma dúvida, correspon- dente à problematização do tema. No caso, a questão colocada diz respeito à causa da extinção dos dinossau- ros. Repare que o texto apresenta explicitamente essa dúvida, inclusive na forma de um enunciado interrogati- vo: Por que [os dinossauros] se extinguiram? Aparecem então as hipóteses: (a) os dinossauros eram muito grandes; (b) eram muito estúpidos; (c) surgiram plantas venenosas; (d) os mamíferos comiam os ovos dos dinossauros. Todas essas possibilidades são descartadas, mediante contra-argumentos que procuram evidenciar suas inadequações e insuficiências. Para o texto, portanto, trata-se de antíteses, ou seja, hipóteses que se pretende desdizer: Hipótese Contra-argumento Os dinossauros eram muito grandes. Os pequenos também desapareceram. Os dinossauros eram muito estúpidos. Então, como sobrevi- veram tanto tempo? Novas plantas os envene- naram. Havia outras plantas para comer. Os mamíferos comeram muitos ovos de dinossauros. Isso os teria matado mais cedo. A única hipótese não descartada (ainda que não definitiva) é que “os dinossauros foram mortos devido ao choque de um meteorito com a Terra”. Como não há argumentos contrários a ela, dizemos que se trata da tese sustentada pelo texto. Aula 08 19Português 4D Argumentos Contra-argumentos (a favor da tese) (contrários às antíteses) Tese Antíteses (hipótese defendida) (hipóteses descartadas) Hipóteses Problematização do tema (dúvida a que o texto se propõe discutir) Tema Em resumo, o esquema básico do processo argu- mentativo seria o seguinte: Transformação de entrevista Estudamos os vários tipos e gêneros de textos que compõem o jornalismo contemporâneo. Um deles, na- turalmente, é a entrevista. Vimos que a entrevista pode trazer as perguntas e respostas em discurso direto – a chamada entrevista “pingue-pongue” –, mas o jornalista pode também narrar, com suas palavras, o conteúdo da conversa com seu entrevistado, caso em que a entrevista aparecerá na forma de discurso indireto. Um tipo de proposta bastante comum nos exames contemporâneos envolve esses dois tipos de entrevista. Trata-se de propostas que solicitam a transformação de uma entrevista, em geral a mudança de uma entrevista do tipo “pingue-pongue” para o discurso indireto. Orientações gerais para a transformação de discurso A seguir, veremos algumas orientações práticas para redigir textos com base em propostas que solicitem transformação de discurso. Conectivos e orações conformativas Inicialmente, é preciso notar que esse tipo de texto requer que empreguemos conectivos e orações con- formativas. Não há necessidade de saber de cor essas denominações, mas o conceito que elas recobrem. Trata-se de vocábulos de ligação (conectivos) e orações que introduzem o pensamento ou a fala de alguma pessoa. O mais comum é que empreguemos termos como segundo, de acordo com, na opinião de e para. Todos esses termos têm sentido equivalente. O importante é que haja variação. Seria repetitivo e desinteressante o texto que desnecessariamente re- petisse a mesma expressão ou vocábulo conformativo. Verbos dicendi Trechos em discurso indireto empregam os chama- dos verbos dicendi, ou seja, verbos “de dizer”. Há inúme- ros: falar, dizer, afirmar, confirmar, reafirmar, perguntar, questionar, responder, complementar, exclamar, insistir e sentenciar, entre muitos outros. A escolha do verbo dicendi é um ponto importante para a expressividade do texto e deve ser orientada por dois aspectos, essencialmente. Em primeiro lugar, é interessante observar as distinções de sentido entre eles. Todos introduzem a fala de alguém, mas o fazem de um modo ao menos ligeiramente diferente. Em segundo lugar, vale o princípio da variedade, que comentamos a propósito dos conectivos e orações conformativas. Com tantos e tão distintos verbos dicendi, não há por que repeti-los desnecessariamente no texto. Como iniciar esse tipo de texto? Naturalmente, não há regras fixas. É mesmo arriscado ficarmos, neste curso de Produção de Texto, transmitin- do modelos fixos, que todos copiariam no dia do exame. O tiro, como se diz, poderia sair pela culatra. Hoje em dia, as bancas examinadoras têm adotado posturas que visam coibir estruturas textuais “pré-moldadas”. Seja como for, vale o comentário de que uma maneira interessante é iniciar com uma frase ou ideia que resuma bem o ponto de vista do entrevistado. Por exemplo: Exemplo 1 As usinas nucleares podem não ser ecologica-mente criminosas. Ao contrário, nelas é que pode estar a chave para o equilíbrio entre a natureza e as necessidades ecológicas do homem. Esse, pelo menos, é o que pensa James Lovelock, o conhecido físico inglês, “pai” da chamada “Teoria Gaia”. Para Lovelock, os ecologistas têm enfrentado o inimigo errado. Deveriam concentrar sua campanha contra os combustíveis fósseis, não contra a energia nucle- ar. (…) 20 Semiextensivo Recursos argumentativos Como frisamos na aula passada, para argumentar, antes de mais nada, é preciso ter conteúdo, ter certo grau de conhecimento sobre o tema posto em debate. No caso de uma redação de vestibular, são muitos os temas possíveis. É essencial ler sobre os assuntos mais comuns e mais abrangentes, seja por meio de pesquisa individual, seja por meio dos materiais que a escola deixar disponíveis. É igualmente muito importante aproveitar bem as coletâneas de texto comuns nos exames contemporâneos. Tendo esse conhecimento sobre o tema proposto, é necessário expor de forma objetiva os dados de realidade que fundamentam a argumentação. Como estudamos no setor relativo à compreensão de texto, trata-se dos chamados argumentos de prova concreta. Também é interessante fazer citações ou menções a especialistas ou obras relacionados ao tema em debate. É o chamado argumento de autoridade. Argumentação e contra-argumentação Uma das mais conhecidas fábulas de Jean de La Fon- taine (1621 - 1695) é O lobo e o cordeiro. Você já leu? Ou ouviu? Ou viu, recontada e refigurada, na televisão? Tal- vez sim, talvez não. Talvez ache “coisa de criança”, o que seria uma injustiça com o alto valor literário, filosófico, político dela. Permita-nos, de qualquer modo, convidá-lo à leitura da fábula, conforme a narrou Monteiro Lobato: Este fragmento recria em discurso indireto opiniões do físico inglês James Lovelock. Seu ponto de vista em defesa da energia nuclear vai um pouco na contracor- rente do que normalmente se ouve. Optou-se, então, por destacar esse ponto de vista logo no início do texto. Esse procedimento desperta o interesse do leitor e confere agilidade ao relato. Elaborando textos argumentativos Argumentar é defender uma tese sobre um tema posto para debate. Note-se, portanto, que essa situação pressupõe que o tema em questão tenha natureza ao menos parcialmente polêmica. Outro aspecto importante: defender uma tese impli- ca almejar o convencimento de uma ou mais pessoas. Em linhas gerais, tal situação é análoga ao que acontece com o debate sobre os grandes temas que permeiam qualquer sociedade. O objetivo central de quem debate é demonstrar que sua tese é a mais coerente, a que mais se ajusta às teses já anteriormente consensuais entre a opinião do público. Vejamos um exemplo real. Em vários momentos, o Su- premo Tribunal Federal (STF) debateu (e provavelmente continuará a debater por muito tempo) questões polêmi- cas relacionadas ao conceito de vida, como a eutanásia, o aborto e os experimentos com células-tronco. Inúmeros setores da sociedade são parte diretamente interessada no assunto: igrejas, conselhos e faculdades de medicina, associações de mulheres, associações de pessoas com deficiência, juristas, parlamentares, jornalistas, filósofos. Todos procuram intervir no debate sobre esses temas, influenciar a opinião pública e os legisladores. Um argumento comum de quem é contra a eutaná- sia, o aborto ou a pesquisa com células-tronco consiste em afirmar que se trata de um crime contra a vida. Os que são a favor, naturalmente, fazem o percurso contrário, procurando argumentar que a eutanásia, o aborto e a pesquisa com células-tronco contribuem para melhorar a qualidade de vida e podem, em certos contextos, ser considerados gestos humanitários. Certamente, a opinião pública e os legisladores aceitam a ideia de que não se deve atentar contra a vida. Essa é uma tese largamente consensual no debate público. Cada deba- tedor procura, portanto, argumentar que é a sua tese – e não a do adversário – a que está em maior conformidade com o pressuposto consensual de defesa da vida. © Sh u tt er st o ck /A rr ti st ic o Aula 08 21Português 4D O lobo e o cordeiro Estava o cordeiro a beber num córrego, quando apareceu um lobo esfaimado, de horrendo aspecto. – Que desaforo é esse de turvar a água que venho beber? – disse o monstro arreganhando os dentes. Es- pere, que vou castigar tamanha má-criação!… O cordeirinho, trêmulo de medo, respondeu com inocência: – Como posso turvar a água que o senhor vai beber se ela corre do senhor para mim? Era verdade aquilo e o lobo atrapalhou-se com a resposta. Mas não deu o rabo a torcer. – Além disso – inventou ele – sei que você andou falando mal de mim o ano passado. – Como poderia falar mal do senhor o ano passado, se nasci este ano? Novamente confundido pela voz da inocência, o lobo insistiu: – Se não foi você, foi seu irmão mais velho, o que dá no mesmo. – Como poderia ser o meu irmão mais velho, se sou filho único? O lobo, furioso, vendo que com razões claras não vencia o pobrezinho, veio com uma razão de lobo faminto: – Pois se não foi seu irmão, foi seu pai ou seu avô! E – nhoque! – sangrou-o no pescoço. Contra a força não há argumento LOBATO, Monteiro. Fábulas e histórias diversas. São Paulo: Brasiliense, 1967, p. 130-1. A fábula de La Fontaine é, a um tempo, o elogio e a morte da argumentação. Opõe dois modos distintos de ver o mundo e a relação entre as pessoas. Um, repre- sentado pelo lobo, concebe a sociedade sob o princípio de prevalência da força, a chamada “lei do mais forte”. O outro, representado pelo cordeiro, procura mediar o inevitável conflito humano por meio da argumentação, do diálogo, da busca do convencimento por meio da palavra, não da força. Não há nenhum motivo aparente para que o mais forte apoie a mudança das regras que favorecem os mais violentos. Sempre lhe parece possível fazer como o lobo, que devora o cordeiro, encerrando, pela força, a discussão. Mas o fato é que as sociedades humanas há muito perceberam que é impossível a alguém, indi- vidualmente, impor-se à vontade de todos. A vida, em perpétuo conflito, não é viável. Sempre é preciso ceder. Mesmo que muitas vezes haja a força – e a força nunca está totalmente ausente –, mesmo assim, até o mais forte precisa de algum consen- so, precisa ponderar, ouvir e não apenas impor. Além disso, as sociedades precisam de algo mais do que conflito. Quem vai trabalhar, se todos brigarem? E como trabalhar sem falar e ouvir? Como organizar famí- lias, praticar o comércio, empreender ações conjuntas? Isso para não falar na arte, na religião e na ciência, for- mas, por excelência, de negação dos conflitos, ao menos dos conflitos internos de uma coletividade. Enquanto durou, o diálogo entre o lobo e o cordeiro opôs duas teses sobre o cordeiro. Para o lobo, o cordeiro é culpado (de um desaforo); para si mesmo, o cordeiro é inocente (não cometeu nenhum desaforo). O lobo propõe a tese de que houve desaforo e lança um argumento. O cordeiro rebate o argumento, procuran- do demonstrar sua inconsistência. O lobo apresenta mais dois argumentos, igualmente rechaçados. Ou seja: en- quanto o lobo argumenta, o cordeiro contra-argumenta: Argumento Contra-argumento O cordeiro sujou a água que o lobo ia beber. Isso não é possível, pois o lobo está rio acima, em relação ao cordeiro. O cordeiro falou mal do lobo no ano passado. No ano passado, o cordeiro não havia ainda nascido. Então, foi o irmão mais velho do cordeiro. O cordeiro não tem irmãos. A coletânea de textos Praticamente todas as propostas de redação nos vestibulares atuais apresentam uma coletânea de textos sobre o tema posto em debate. Não se supõe, naturalmente, que o estudante deva concordar com esses textos, mas se espera que ele os leve em consideração na hora de escrever. Esse é um ponto sutil. Não devemos copiar os textos da coletânea, apropriando-nosdeles como se fossem nossos. Mas também não podemos ignorá-los. Afinal, se eles não fossem relevantes, não apareceriam na proposta. esfaimado, de horrendo aspecto. o monstro arreganhando os dentes. Es do s ão e m inh vers 0-1. monstro arreganhando os dentes. Es- senhor para mim? deu o rabo a torcer. mim o ano passado. ho, veio com sas. . Hamilton Santos. 2007. Digital. 22 Semiextensivo Testes Assimilação Instrução: O texto a seguir serve de base para as questões 08.01 a 08.04. É MENINA É menina, que coisa mais fofa, parece com o pai, parece com a mãe, parece um joelho, upa, upa, não chora, isso é o choro de fome, isso é choro de sono, isso é choro de chata, choro de menina, igualzinha à mãe, achou, sumiu, achou, não faz pirraça, coitada, tem que deixar chorar, vocês fazem tudo o que ela quer, isso vai crescer mimada, eu queria essa vida pra mim, dormir e mamar, aproveita enquanto ela ainda não engatinha, isso daí quando começa a an- dar é um inferno, daqui a pouco começa a falar, daí não para mais, ela precisa de um irmão, foi só falar, olha só quem vai ganhar um irmãozinho, tomara que seja menino pra formar um casal, ela tá até mais quieta depois que ele nasceu, parece que ela cuida dele, esses dois vão ser inseparáveis, ela deve mor- rer de ciúmes, ele já nasceu falante, menino é outra coisa, desde que ele nasceu parece que ela cresceu, já tá uma menina, quando é que vai pra creche, ela não larga dessa boneca por nada, já podia ser mãe, já sabe escrever o nomezinho, quantos dedos têm aqui, qual é a sua princesa da Disney preferida, quem você prefere, o papai ou a mamãe, quem é o seu namoradinho, quem é o seu príncipe da Disney preferido, já se maquia nessa idade, é apaixonada pelo pai, cadê o Ken, daqui a pouco vira mocinha, eu te peguei no colo, só falta ficar mais alta que eu, finalmente largou a boneca, já tava na hora, agora deve tá pensando besteira, soube que virou moci- nha, ganhou corpo, tenho uma dieta boa pra você, a dieta do ovo, a dieta do tipo sanguíneo, a dieta da água gelada, essa barriga só resolve com cinta, que corpão, essa menina é um perigo, vai ter de voltar antes de meia-noite, o seu irmão é diferente, menino é outra coisa, vai pela sombra, não sorri pro por- teiro, não sorri pro pedreiro, quem é esse menino, se o seu pai descobrir, ele te mata, esse menino é 5 10 15 20 25 30 35 filho de quem, cuidado que homem não presta, não pode dar confiança, não vai pra casa dele, homem gosta é de mulher difícil, tem que se dar valor, ho- mem é tudo igual, segura esse homem, não fuxica, não mexe nas coisas dele, tem coisa que é melhor a gente não saber, não pergunta demais que ele te abandona, o que os olhos não veem o coração não sente, quando é que vão casar, ele tá te enrolando, morar junto é casar, quando é que vão ter filho, ele tá te enrolando, barriga pontuda deve ser menina, é menina. Gregório Duvivier. Folha de S. Paulo, 16/09/2013. 08.01. (UERJ) – A crônica de Gregório Duvivier é construída em um único parágrafo com uma única frase. Essa frase co- meça e termina pela mesma expressão: é menina. Em termos denotativos, a menina, referida no final do texto, pode ser compreendido como: a) filha da primeira. b) ideal de pureza. c) mulher na infância. d) sinal de transformação. 08.02. (UERJ) – O uso da expressão é menina, tanto para começar quanto para finalizar o texto, adquire também um valor simbólico, pelo significado que assume no contexto. No contexto, esse recurso provoca um entendimento de: a) alteração previsível de juízos morais. b) reprodução indefinida de preconceitos sociais. c) rejeição possível de comportamentos familiares. d) esperança vaga de novas atitudes das mulheres. 08.03. (UERJ) – “vai ter que voltar antes de meia-noite, o seu irmão é diferente, menino é outra coisa,” (l. 32-34) O fragmento reproduz falas que apontam uma diferença entre meninos e meninas. Essa diferença se verifica em relação ao seguinte aspecto: a) beleza c) inteligência b) esperteza d) comportamento 40 45 Como, então, lidar com os textos da coletânea? É preciso fazer a paráfrase desses textos, ou seja, redizê-los com outras palavras. Podemos também fazer citações diretas, entre aspas, embora com moderação. Antes de mais nada, é preciso compreender que a coletânea nos auxilia a escrever melhor. Os elaboradores de exames vestibulares têm consciência de que o tema proposto pode não ser do conhecimento de todas as pessoas. Para que não haja favorecimentos, eles incluem alguns textos juntamente com a proposta, justamente para suprir eventuais lacunas de conteúdo. Portanto, os textos da coletânea podem e devem ser aproveitados em nossa redação. Isso confere mais conteúdo a nossos textos, dá mais consistência a nossa linha argumentativa. Como se dá esse aproveitamento? O mais importan- te é que os trechos citados não estejam desconectados do todo da redação, mas contraiam relações com outras passagens do texto. Aula 08 23Português 4D 08.04. (UERJ) – “isso vai crescer mimada,” (l. 7) “isso daí quando começa a andar é um inferno,” (l. 9-10) Os trechos acima são exemplos de pontos de vista negativos acerca da menina. Esses pontos de vista são reforçados pelo uso do pronome isso, porque ele associa a criança a uma ideia de: a) negação. b) coisificação. c) deseducação. d) individualização. Aperfeiçoamento TEXTO 1 Espaço e tempo Tanto Aristóteles quanto Newton acreditavam no tempo absoluto. Isto é, acreditavam que se pode, sem qualquer ambiguidade, medir o intervalo de tempo entre dois eventos, e que o resultado será o mesmo em qualquer mensuração, desde que se use um relógio preciso. O tempo é independente e completamente separado do espaço. Isso é no que a maioria das pes- soas acredita; é o consenso. Entretanto, tivemos que mudar nossas ideias sobre espaço e tempo. Ainda que nossas noções, aparentemente comuns, funcionem a contento quando lidamos com maçãs ou planetas, que se deslocam comparativamente mais devagar, não funcionam absolutamente para objetos que se movam à velocidade da luz, ou em velocidade próxima a ela. [...] Entre 1887 e 1905 houve várias tentativas [...] de explicar o resultado de experimentos [...] com re- lação a objetos que se contraem e relógios que fun- cionam mais vagarosamente quando se movimentam através do éter. Entretanto, num famoso artigo, em 1905, um até então desconhecido funcionário público suíço, Albert Einstein, mostrou que o conceito de éter era desnecessário, uma vez que se estava que- rendo abandonar o de tempo absoluto. Ponto seme- lhante foi abordado poucas semanas depois por um proeminente matemático francês, Henri Poincaré. Os argumentos de Einstein eram mais próximos da Física do que os de Poincaré, que abordava o problema como se este fosse matemático. Einstein ficou com o crédito da nova teoria, mas Poincaré é lembrado por ter tido seu nome associado a uma parte importante dela. O postulado fundamental da teoria da relativida- de, como foi chamada, é que as leis científicas são as mesmas para todos os observadores em movimento livre, não importa qual seja sua velocidade. Isso era verdadeiro para as leis do movimento de Newton, mas agora a ideia abrangia também outras teorias e a velocidade da luz: todos os observadores encontram a mesma medida de velocidade da luz, não importa quão rápido estejam se movendo. Essa simples ideia tem algumas consequências notáveis: talvez a mais conhecida seja a equivalência de massa e energia, con- tida na famosa equação de Einstein E = mc2 (onde E significa energia; m, massa e c, a velocidade da luz); e a lei que prevê que nada pode se deslocar com mais velocidade do que a própria luz. Por causa da equiva- lência entre energia e massa, a energia que um objeto tenha, devido a seu movimento, será acrescentada à sua massa. Em outras palavras, essa energia dificultará o aumento da velocidade desse objeto. [...] Uma outra consequência
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