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Gestão de Micro e Pequenas Empresas Fábio Luiz Iba CRÉD ITOS Presidente da Divisão de Ensino Prof. Paulo Arns da Cunha Reitor Prof. José Pio Martins Direção Acadêmica Prof. Roberto Di Benedetto Gerente de Educação à Distância Rodrigo Poletto Coordenação de Metodologia e Tecnologia Profa. Roberta Galon Silva Autoria Fábio Luiz Iba Parecer Técnico Fabrício Palermo Pupo Supervisão Editorial Felipe Guedes Antunes VG EDUCACIONAL Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Grá�co e Revisão. © Universidade Positivo 2019 Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido Curitiba-PR – CEP 81280-330 *Todos os grá�cos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © 123RF II Caro aluno, A metodologia da Universidade Positivo apresenta materiais e tecnologias apropriadas que permitem o desenvolvimento e a interação entre alunos, docentes e recursos didáticos e tem por objetivo a comunicação bidirecional entre os atores educacionais. O seu livro, que faz parte dessa metodologia, está inserido em um percurso de aprendizagem que busca direcionar a construção de seu conhecimento por meio da leitura, da contextualização teórica-prática e das atividades individuais e colaborativas; e fundamentado nos seguintes propósitos: valorizar suas experiências;1 2 incentivar a construção e a reconstrução do conhecimento; 3 estimular a pesquisa; 4 oportunizar a reflexão teórica e aplicação consciente dos temas abordados. COMPREENDA SEU LIVRO III Objetivos do capítulo Indicam o que se espera que você aprenda ao final do estudo do capítulo, baseados nas necessidades de aprendizagem do seu curso. Contextualizando o cenário Contextualização do tema que será estudado no capítulo, como um cenário que o oriente a respeito do assunto, relacionando teoria e prática. Tópicos que serão estudados Descrição dos conteúdos que serão estudados no capítulo. Pausa para refletir Ao final do Contextualizando o cenário, consta uma pergunta que estimulará sua reflexão sobre o cenário apresentado, com foco no desenvolvimento da sua capacidade de análise crítica. Pergunta norteadora Ao final do Contextualizando o cenário, consta uma pergunta que estimulará sua reflexão sobre o cenário apresentado, com foco no desenvolvimento da sua capacidade de análise crítica. Proposta de atividade Sugestão de atividade para que você desenvolva sua autonomia e siste- matize o que aprendeu no capítulo. Boxes São caixas em destaque que podem apresentar uma citação, indicações de leitura, de filme, apresentação de um contexto, dicas, curiosidades etc. Referências bibliográficas São todas as fontes utilizadas no capítulo, incluindo as fontes mencionadas nos boxes, adequadas ao Projeto Pedagógico do curso. Recapitulando É o fechamento do capítulo. Visa sintetizar o que foi abordado, reto- mando os objetivos do capítulo, a pergunta norteadora e fornecendo um direcionamento sobre os questionamentos feitos no decorrer do conteúdo. PERCURSO IV BOXES Assista Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações complementares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. Contexto Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstram a situação histórica, social e cultural do assunto. Dica Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. Exemplo Informação que retrata de forma obje tiva determinado assunto abordando a relação teoria-prática. Afirmação Citações e afirmativas pronunciadas por teóricos de relevância na área de estudo. Biografia Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. Curiosidade Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. Esclarecimento Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. V SUMÁRIO Apresentação 001 Autor 001 Capítulo 1 Contexto nacional do empreendedorismo e aspectos contábeis de micro e pequenas empresas 002 Contextualizando o Cenário 004 1.1 Empreendedorismo do Brasil 005 1.1.1 Histórico 005 1.1.2 Desenvolvimento econômico do Brasil 009 1.1.3 Crescimento e formalização do empreendedorismo 013 1.1.4 Evolução da regulamentação e aspectos contábeis empresariais 018 1.2 Oportunidades e ameaças para o empreendedor 020 1.2.1 Variáveis de análise do ambiente externo 020 1.2.2 Oportunidades e ameaças do mercado 024 1.2.3 Definição de cenários por meio das variáveis do ambiente 028 1.2.4 Técnicas de monitoramento do ambiente externo 032 038 039 040 043 045 046 Recapitulando Proposta de Atividade Referências Capítulo 2 Métodos e técnicas de gestão para microempreendimento (visão sistêmica) Contextualizando o Cenário 2.1 Micro e pequenos empreendimentos 2.1.1 De inição de empresas 046 VI SUMÁRIO 2.1.2 Modelos de formatação 051 2.1.3 Descrição do tamanho e classificação de empresas 057 2.1.4 Características de microempreendimentos 060 2.2 Regulamentação para micro e pequenos empreendimentos 064 2.2.1 Legislação comercialo 064 2.2.2 Regulamentação 071 2.2.3 Aspectos contábeis para microempreendimentos: impostos, taxas e contribuiçõeso 072 2.2.4 Encargos trabalhistas para micro e pequenas empresaso 077 Recapitulando 081 Proposta de Atividade 082 Referências 082 Capítulo 3 Empreendedorismo e Perfil Empreendedor 086 Contextualizando o Cenário 088 3.1 Definições e métodos de gestão aplicados a microempreendimentos 089 3.1.1 Definição de empreendedorismo e empreendedor 089 3.1.2 Definição de um empreendimento 093 3.1.3 Métodos de gestão e controle de um empreendimento 096 3.1.4 Descrição do perfil empreendedor segundo McClelland 100 3.2 O papel da visão sistêmica na condução de uma empresa 104 3.2.1 Conceito de visão sistêmica empresarial 104 3.2.2 A importância da visão sistêmica aplicada às funções da administração 109 3.2.3 Técnicas de gestão sob o enfoque sistêmico 113 3.2.4 Conceituação e aplicação das funções da administração 118 Recapitulando 124 Proposta de Atividade 125 Referências 125 VII SUMÁRIO Capítulo 4 Gestão estratégica e recursos humanos para microempresas 127 Contextualizando o Cenário 129 4.1 Estratégia empresarial 130 4.1.1 Definição 130 4.1.2 Fases 135 4.1.3 Conceito e aplicação das estratégias genéricas 143 4.1.4 Estratégia de diferenciação aplicada ao pequeno negócio 149 4.2 Recursos humanos 151 4.2.1 Conceitos básicos 151 4.2.2 Variáveis de recursos humanos nas empresas 155 4.2.3 Estratégia aplicada aos recursos humanos 157 4.2.4 Tipos de estratégias de recursos humanos 160 Recapitulando 163 Proposta de Atividade 164 Referências 164 VIII Apresentação A prática do empreendedorismo tem sido disseminada no Brasil e no mundo com muita intensidade a partir da segunda metade do século XX. Essa atividade vem ganhando força em sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento. Com isso, diversas instituições surgiram para darem apoio ao empreendedor no processo de abertura de seu próprio negócio, tanto em questões jurídicas quanto em questões contábeis e tributárias. Esta disciplina irá proporcionar a compreensão da origem e a evolução do conceito de empreendedorismo e empreendedor, além de apresentar as características do empreendedor e as principais ferramentas aplicadas à gestão, às estratégias e aos recursos humanos de uma micro ou pequena empresa. Tudo isso, em conjunto com o processo administrativo, auxiliará o empreendedor na condução do empreendimento. A UT O R Fábio Luiz Iba O professor Fábio Luiz Iba é mestre em Administração pela Universidade Estadual de Maringá (UEM); especialista em Gerenciamento de Projetos pela UEM; especialista em Gestão Empresarial pela UEM; e graduado em Administração também pela UEM. Atua como professor de graduação e pós-graduação na área de Administração. LATTES 1 http://lattes.cnpq.br/6939160957684922 CAPÍTULO 1 Contexto Nacional do Empreendedorismo e Aspectos Contábeis de Micro e Pequenas Empresas Objetivos do Capítulo Estudar o contexto nacional empreendedor analisando o enfoque do pequeno e do médio empresário. Analisar variáveis do mercado observando oportunidades e ameaças de negócios. Tópicos de Estudo Tópico 1 - Empreendedorismo do Brasil. Histórico. Desenvolvimento econômico do Brasil. Crescimento e formalização do empreendedorismo. Evolução da regulamentação e aspectos contábeis empresariais. 2 Tópico 2 - Oportunidades e ameaças para o empreendedor. Variáveis de análise do ambiente externo. Oportunidades e ameaças do mercado. De�nição de cenários por meio das variáveis do ambiente. Técnicas de monitoramento do ambiente externo. 3 Contextualizando o Cenário A atividade empreendedora no Brasil teve um início relativamente tardio em comparação aos países mais desenvolvidos. Somente a partir da década de 1990 é que começou um movimento que buscava o crescimento e o desenvolvimento do empreendedorismo nacional (DORNELAS, 2018). Algumas oportunidades para o empreendedorismo no país se deram antes mesmo do início da discussão sobre tema, em meados dos anos de 1970. A partir do período militar, o Brasil iniciou uma era chamada milagre econômico, porque teve um crescimento econômico signi�cativo para o período. Diante desse cenário, questiona-se: de que forma o desenvolvimento econômico nacional contribui para o crescimento da atividade empreendedora? 4 1.1 Empreendedorismo no Brasil A atividade empreendedora no Brasil, assim como no mundo, tem se desenvolvido intensamente nas últimas décadas. Cada vez mais, instituições públicas e privadas têm oferecido assistência aos pretendentes a empreendedores. De acordo com Dornelas (2018), no Brasil, esse tema ganhou força principalmente a partir dos anos de 1990, com a abertura de mercado e o incentivo público. Em países desenvolvidos, a relevância ao tema já tem sido dada desde meados do século XX. 1.1.1 Histórico Prezado(a) estudante, possivelmente você já está familiarizado com o tema que abordaremos neste tópico, o empreendedorismo, porque mesmo que você não tenha conhecimento cientí�co do termo, já deve ter entrado em contato com ele por meio das diversas fontes de informações que tratam do assunto. No entanto, antes de nos aprofundarmos sobre o assunto, é importante que façamos uma breve explanação histórica, para assim compreendermos as origens do movimento empreendedor no Brasil. A atividade empreendedora no Brasil é uma das mais ativas e aquecidas do mundo. De acordo com pesquisa realizada pela Global Entrepreneurship Monitor, no ano de 2017, por exemplo, a cada 100 brasileiros adultos (18 a 64 anos), 36 estavam ligados ao desenvolvimento de um novo negócio ou na manutenção de negócios já estabelecidos (GEM, 2017). Ainda, conforme o site da revista PEGN, aproximadamente 66% dos brasileiros sonham em abrir o próprio negócio (OLIVEIRA, 2017). 5 O movimento para o desenvolvimento do empreendedorismo no Brasil não é uma atividade recente. Apesar de, atualmente, estarmos discutindo sobre empreendedorismo em vários meios de comunicação diferentes, o início da discussão desse tema foi discreto e começou a tomar maior relevância no cenário econômico a partir dos anos 90. Segundo Dornelas (2018), duas entidades de grande importância para o movimento do empreendedorismo nacional foram criadas na década de 1990: o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Sociedade Brasileira para Exportação de Software (Softex). Essas duas instituições marcaram o início das discussões sobre o tema no Brasil. O Sebrae é o órgão mais conhecido pelos brasileiros quanto se trata de apoio ao pequeno empresário, pois além de oferecer programas importantes para a solução de problemas pontuais ao empreendedor, também desenvolve ações de consultoria gratuita para empresas de micro ou pequeno porte. O Sebrae apresenta como missão (ou seja, como propósito de existência): “Promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável dos pequenos negócios e estimular o empreendedorismo” (SEBRAE, 2012, p. 16). Já a Softex, de acordo com Dornelas (2018), foi desenvolvida para auxiliar as empresas brasileiras de informática a levarem seus produtos ao mercado externo; com isso, algumas práticas, como o desenvolvimento de um plano de negócios, passaram a ser discutidas. Portanto, a partir desse breve contexto, podemos veri�car algumas ações históricas e atuais do empreendedorismo brasileiro que auxiliaram, em certa medida, para que o empreendedorismo nacional se tornasse um dos mais evidentes do mundo. 1. Programas como o Softex e o Genesis (Geração de Novas Empresas de Software, Informações e Serviços) foram criados nos anos de 1990 para auxiliarem no desenvolvimento de empresas de software. 2. O Governo Federal Brasileiro também incentivou o desenvolvimento das atividades empreendedoras por meio do programa Brasil Empreendedor, que destinou aproximadamente 8 bilhões de reais aos empreendedores. 3. Algumas ações do Sebrae tornaram-se, além de referência, importantes programas de auxílio ao empreendedor, como os programas Jovem Empreendedor e Empretec, que estavam voltados à capacitação do empreendedor. 4. Houve um crescimento no número de incubadoras de empresas no Brasil nos últimos anos. De acordo com a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas (Anprotec), em 2016 havia em torno de 6 370 incubadoras em atividade. 5. A legislação brasileira também passou a considerar as particularidades dos pequenos empreendimentos. Diversas leis foram criadas em seu benefício, como a Lei da Inovação, a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, o Programa Empreendedor Individual, dentre outras. 6. Foram criados programas e cursos nas universidades voltados ao ensino do empreendedorismo e à criação de novos negócios, o que consolidou a primeira fase (fase de consolidação) do empreendedorismo no Brasil. Também, um importante avanço na área para o país foi o desenvolvimento do ensino de empreendedorismo na educação fundamental, no ensino médio e no técnico. 7. Foram criados programas de apoio �nanceiro aos novos negócios de entidades governamentais, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí�co e Tecnológico (CNPq) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 8. Houve um aumento de empreendedores provenientes das classes sociais C e D. 9. Houve um grande investimento internacional (principalmente, Private Equity) em empresas brasileiras. 10. Percebeu-se, por parte do empreendedor iniciante, a importância e o impacto que o planejamento, ou a falta dele, tem em seus resultados e em suas ações diárias. 11. Houve um representativo aumento das franquias brasileiras. Em 2016, já havia em torno de três mil empresas franqueadoras em atividade. 7 Portanto, caro(a) estudante, podemos perceber por meio desse breve relato histórico as diversas ações que foram e que ainda são importantes para que o empreendedorismo brasileiro não só passasse a ter representatividade global, mas também tivesse um impacto signi�cativo no desenvolvimento da economia nacional. No entanto, é importante que nós façamos uma breve re�exão sobre a atividade empreendedora no Brasil. Mas antes precisamos compreender dois tipos principais de empreendedores: por necessidade e por oportunidade. De acordo com Dornelas (2008, p. 13), o empreendedor por oportunidade é “[...] visionário, sabe onde quer chegar, cria uma empresa com planejamento prévio, tem em menteo crescimento que quer buscar para a empresa e visa à geração de lucros, empregos e riqueza”. Esse empreendedor tem como objetivo norteador de suas atividades o crescimento e o desenvolvimento econômico de seu contexto. Já o empreendedor por necessidade, ainda de acordo com o autor, “[...] se aventura na jornada empreendedora mais por falta de opção, por estar desempregado e não ter alternativas de trabalho. [...] não são planejados de forma adequada e muitos fracassam bastante rápido”. Esse tipo de empreendimento não tem como objetivo principal o desenvolvimento da empresa em si, mas sim a subsistência do empresário, sendo mais frequente em países em desenvolvimento. No Brasil, em 2007, cerca de 57% dos empreendimentos foram criados por necessidade, e 43% foram criados por oportunidade. De acordo com o Global Entrepreneurship Monitor, no ano de 2016, para cada empreendedor por necessidade Incubadoras de empresas são entidades sem �ns lucrativos, destinadas a amparar o estágio inicial de empresas nascentes que se enquadram em determinadas áreas de negócios. Uma incubadora de empresas pode ser de�nida como um ambiente �exível e encorajador. ESCLARECIMENTO 8 havia 1,4 empreendimento por oportunidade; já em 2017 houve um ligeiro aumento, no qual a cada empreendedor por necessidade havia 1,5 empreendedor por oportunidade, ou seja, uma relação de 39,9% para 59,4% (GEM, 2017). Como o Brasil poderia gerar ou incentivar os empreendedores por oportunidade? Mesmo diante desses avanços, é possível que o Governo Federal ainda continue criando políticas públicas para o desenvolvimento da prática empreendedora, possibilitando que mais empreendedores por oportunidade se desenvolvam. 1.1.2 Desenvolvimento Econômico no Brasil O desenvolvimento econômico brasileiro tal qual conhecemos hoje é resultado da evolução de diversas ações político-econômicas precedentes, como a Política do café- com-leite, na qual imperava ações públicas para a manutenção de oligarquias dos estados de São Paulo e Minas Gerais. De acordo com Souza (2012), o ciclo do café no Brasil foi transformador para a economia nacional; no entanto, em contrapartida, o desenvolvimento industrial �cou em segundo plano. A então chamada Velha República entrou em declínio com a queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque, nos anos de 1929, em que o preço do café brasileiro foi drasticamente reduzido. Segundo Souza (2012), nesse período, que foi de 1889 a 1930, o Brasil começou a dar indícios do início do processo de industrialização, com o crescimento da capacidade de geração de energia elétrica, o início da construção de usinas de siderurgia (Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira) e também o relativo aumento das plantas industriais, pois como cita Carone (1978, apud SOUZA, 2012, p. 84), houve um “[...] aumento dos estabelecimentos industriais, que passou de 903, em 1989, para 9 3.120 em 1907, e 13.336 em 1920, com predominância dos setores alimentícios e têxtil”. A partir de então, os estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba se uniram para a formação do que conhecemos como Aliança Liberal, que teve como resultado a eleição de Getúlio Vargas como presidente da República nos anos de 1930 (OLIVEIRA, 2014; SOUZA, 2012). A eleição de Getúlio Vargas foi determinante para a industrialização brasileira. Mesmo que tardiamente, o desenvolvimento econômico nacional voltou-se ao desenvolvimento industrial. Com incentivos �nanceiros norte-americanos, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) foi criada, impulsionando signi�cativamente o segmento. De acordo com Oliveira (2014), outros setores da economia também foram incentivados, como indústrias de bens duráveis (automóveis) e não duráveis (alimentos e vestuários). Ainda no governo Vargas, a criação da Petrobrás elevou a industrialização e a soberania nacional diante do restante do mundo pós-Segunda Grande Guerra. Nas eleições de 1955, Juscelino Kubitschek de Oliveira foi eleito presidente do Brasil. Ao assumir, deu continuidade à política de crescimento econômico de seu antecessor. Kubitschek deu início ao seu plano de metas, cujo lema era avançar o país cinquenta anos em apenas cinco. Para tanto, sob seu comando, os setores industriais e de infraestrutura (aeroportos, hidrelétricas e rodovias) avançaram signi�cativamente. Podemos considerar os avanços no setor industrial como um dos maiores êxitos do governo JK. Graças à abertura econômica do Brasil ao capital internacional, grandes montadoras como Ford, a Volkswagen e a General Motors instalaram �liais no sudeste brasileiro, especialmente em cidades do ABC paulista (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul) e do Rio de Janeiro, pois nesse momento, o investimento era nas indústrias automobilística e de bens de consumo (OLIVEIRA, 2014, p. 77). Com um grande desenvolvimento econômico, surgiram também o problema da dependência nacional ao capital externo e o aumento da dívida externa brasileira no Governo JK. Outros problemas relevantes ocasionados pelo desenvolvimento industrial nacional foram o comprometimento do setor rural como consequência do êxodo rural e o crescimento desorganizado e desenfreado de grandes capitais. 10 Um dos períodos mais signi�cativos para a economia brasileira foi o chamado “Milagre econômico brasileiro”, que é datado de 1969 a 1973 e ocorreu durante o período do regime militar no Brasil. O “milagre brasileiro” foi iniciado com o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), desenvolvido durante o período do governo de Castelo Branco. Um dos principais objetivos desse programa, de acordo com Hammoud (2008), era a retomada do crescimento econômico e o combate à in�ação deixada pelos governos anteriores. O PAEG, com suas medidas, baixou “[...] a in�ação de um nível de 80 a 100% entre 1963 e 1964, para 34,5%, em 1965, e 38,8%, em 1966 e depois para um patamar estável, em torno de 20%, entre 1967 e 1973 (SOUZA, 2012, p. 97). Complementarmente, Hammoud (2008) a�rma que nesse período o produto interno teve um crescimento na média de 11,2% ao ano, por consequência de uma política expansionista da indústria nacional, principalmente a indústria de base formada pela siderurgia, pela energia e pela petroquímica. Durante o período de crescimento econômico, o Brasil realizou diversas obras de engenharia, incluindo a construção da usina hidroelétrica de Itaipu e a Ponte Rio- Niterói. Além dessas ações, o então ministro da economia, Del�m Netto, baseando-se nas teorias keynesianas, iniciou um programa de investimento nas empresas estatais “[...] nas áreas de petroquímica, siderurgia, geração de energia dentre outras. Essa medida obteve êxito, pois as estatais renderam altos lucros e a industrialização �nalmente �rmou no país” (OLIVEIRA, 2014, p. 97). Como medida para combater a in�ação, o então ministro da economia forçou os bancos estatais e privados a baixarem os juros, como forma de estímulo da economia (SOUZA, 2012). Para compreender melhor as ações do Governo JK, leia o livro O governo Kubitschek: desenvolvimento econômico e estabilidade política. Esse livro destaca as ações do então presidente responsável por um dos períodos mais dinâmicos da história econômica brasileira. D I CA 11 De acordo com Furtado (1972, apud HAMMOUD, 2008), as estratégias adotadas durante o período do milagre seguiam três princípios norteadores, sendo eles: “(i) concentrar a riqueza a �m de favorecer a formação de capital �xo e promover a ampliação do mercado de bens duráveis; (ii) reduzir o salário real básico e (iii) fomento, mediante subsídios, à exportação de alguns produtos industriais”. Com essas estratégias, o Brasil conseguiu promover um grande salto econômico, que entrou em declínio a partir de 1974. Após o período de crescimento econômico acelerado do país, até meados dos anos de 1974, o Brasil passou um período até 1985 que foi chamado de época perdida, no qual lutava para restabelecer a democracia e também para o controle in�acionário, que no ano de 1990 atingia 400% ao ano. No entanto, somente a partir dos anosde 1990, com a eleição do presidente Fernando Collor de Mello, o país teve uma nova virada econômica, com a consolidação da abertura do mercado nacional aos investimentos estrangeiros, possibilitando ao consumidor ter acesso a novos produtos e aos empresários exportarem produtos nacionais. Com o início do plano Real em 1994, o país passou a ter mais estabilidade na economia e conseguiu maior credibilidade ao mercado internacional (OLIVEIRA, 2014). Considerando a evolução da economia nacional apresentada, é possível perceber que, mesmo tendo um início tardio, a industrialização formou-se rapidamente. Por meio de políticas econômicas agressivas (50 anos em 5 de JK), o Brasil propiciou o ambiente necessário para que a atividade empreendedora se desenvolvesse mais Em 1908, John Maynard Keynes tornou-se professor de economia em Cambridge, onde lecionou até 1915. Dividia seu tempo como editor do Economic Journal, no qual permaneceu até 1945, um ano antes de sua morte. Ao sair de Cambridge, passou a trabalhar no Tesouro britânico (BARRETO, 2009). B I O G R A F I A 12 signi�cativamente. Os investimentos na indústria civil e na siderurgia durante o período militar possibilitaram a estrutura para o surgimento de novos empreendimentos, fortalecendo a industrialização nacional. 1.1.3 Crescimento e Formalização do Empreendedorismo Com o surgimento do Sebrae e da Softex, a prática empreendedora passou a ter forças. Antes disso, o empreendedorismo nacional era pouco ou minimamente discutido. Portanto, neste tópico vamos nos aprofundar em alguns aspectos quantitativos do crescimento do empreendedorismo no Brasil, principalmente a partir dos anos 2000, com a participação brasileira na pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2017). A pesquisa do GEM baseia-se nas taxas que demonstram o estágio em que se encontra o empreendedor (iniciante ou estabelecido) e as suas principais motivações para iniciar a atividade empreendedora (empreendedorismo por necessidade ou por oportunidade). A taxa de empreendedorismo inicial (TEA) representa os empreendimentos novos; a taxa de empreendedorismo estabelecido (TEE) representa os empreendimentos estabelecidos por mais de 42 meses; e a taxa de empreendedorismo total (TTE) é representada pelo montante total dos indivíduos que estão envolvidos na atividade empreendedora, conforme a tabela “Taxas e estimativas de empreendedorismo segundo o estágio dos empreendimentos”, a seguir. 13 Taxas e estimativas de empreendedorismo segundo o estágio dos empreendimentos – Brasil 2017 Fonte: GEM, 2017, p. 8. Nesse sentido, a primeira análise relevante que podemos fazer é que, de acordo com o GEM (2017), a taxa total do empreendedorismo (TTE) no Brasil no ano de 2017 foi de 36%, ou seja, a cada 100 brasileiros de 18 a 64 anos, 36 deles estavam envolvidos em alguma atividade empreendedora. Comparando com o ano anterior, não houve mudança permanecendo nos mesmos 36%. No entanto, no ano de 2015, o TTE brasileiro era de 39,3%, signi�cando, portanto, uma ligeira redução da quantidade de brasileiros envolvidos com atividades empreendedoras nos últimos três anos, conforme o grá�co “Taxas do empreendedorismo segundo estágio do empreendimento TEA, TEE e TTE – Brasil 2002:2017”. ESTÁGIO TAXAS ESTIMATIVAS Total de empreendedores 36,4 49.332.360 Iniciais 20,3 27.482.078 Novos 16,3 22.093.966 Nascentes 4,4 6.010.858 Estabelecidos 16,4 22.337.6498 14 Taxas do empreendedorismo segundo estágio do empreendimento TEA, TEE e TTE – Brasil 2002:2017 GEM, 2017, p. 8. Analisando o grá�co “Taxas do empreendedorismo segundo estágio do empreendimento TEA, TEE e TTE – Brasil 2002:2017”, veri�camos que o movimento de 2016 para 2017 quanto aos estágios de empreendimento (TEA, TEE e TTE) praticamente se mantiveram estagnados. No entanto, fazendo uma análise no decorrer dos 15 anos da pesquisa, percebemos um otimismo quanto à atividade empreendedora no país, porque quase dobramos o total de empreendedores, passando de 21% em 2002 para 36% em 2017, chegando ao pico no ano de 2015, com 39%. Da mesma forma, quando analisamos a tabela “Taxas e estimativas de empreendedorismo segundo o estágio dos empreendimentos – Brasil 2017”, o percentual de empreendedores novos em 2017 foi de 16,3%, frente aos 14% do ano anterior. No entanto, também veri�camos que o número de empreendimentos nascentes em 2017 (4,4%) foi menor do que o mesmo indicador em 2016 (6,2%). De acordo com o GEM (2017), são consideradas razões possíveis para essa redução os fatos de o cidadão brasileiro ter considerado a atividade empreendedora menos atrativa como geradora de renda e de a expectativa de um emprego formal ter sido mais atrativa nesse período. Aliada aos percentuais de crescimento ou de redução do número de empreendedores novos e nascentes, respectivamente, está a motivação empreendedora, ou seja, as razões que levam o brasileiro a empreender. São dois os principais motivadores: (1) 15 empreendedor por necessidade – o indivíduo que inicia o próprio negócio por falta de opção para gerar renda; e (2) empreendedor por oportunidade – empreendedores que a�rmam ter iniciado um negócio por terem identi�cado uma oportunidade, conforme o grá�co “Empreendedorismo por oportunidade e necessidade como proporção (em%) da taxa de empreendedorismo inicial – Brasil – 2002:2017”. Empreendedorismo por oportunidade e necessidade como proporção (em%) da taxa de empreendedorismo inicial – Brasil – 2002:2017 GEM, 2017, p. 10. De acordo com o GEM (2017), houve um pequeno aumento em relação aos empreendedores por necessidade e por oportunidade, se compararmos os resultados de 2017 com os de 2016. Em 2016, para cada empreendedor que iniciou suas atividades por necessidade, 1,4 empreendedor iniciou as atividades pela identi�cação de uma oportunidade; já em 2017, essa relação passou para 1,5. Analisando o grá�co “Empreendedorismo por oportunidade e necessidade como proporção (em%) da taxa de empreendedorismo inicial – Brasil – 2002:2017”, notamos que, no decorrer dos 15 anos de pesquisa, houve uma signi�cativa redução no total de empreendedores por necessidade, passando de 55% em 2002 para 40% em 2017. Da mesma maneira nota-se um grande aumento na quantidade de total de empreendedores por oportunidade, que passou de 42%, em 2002, para 59%, em 2017. A legislação brasileira criou a categoria de Microempreendedor Individual (MEI) no ano de 2008, possibilitando que trabalhadores que exerciam suas atividades de maneira informal fossem regularizados como empresários, obtendo, a partir de então, direitos e deveres como microempreendedor. De acordo com o Sebrae (2017), após a 16 formalização do MEI, em julho de 2009, até �nal de 2016, foram registrados exatos 6.649.896 empreendedores, conforme o grá�co “Total de microempreendedores individuais (acumulado) – dezembro de 2010 a dezembro de 2016”. Total de microempreendedores individuais (acumulado) – dezembro de 2010 a dezembro de 2016 SEBRAE, 2017, p. 15. De acordo com o grá�co “Total de microempreendedores individuais (acumulado) – dezembro de 2010 a dezembro de 2016”, conseguimos perceber uma grande evolução e um acelerado crescimento dos registros de microempreendedores individuais. Ainda, esse número se torna mais expressivo quando analisamos que em dezembro de 2016 havia, aproximadamente, 6,6 milhões de brasileiros inscritos como MEI e 22 milhões de trabalhadores por conta própria, ou seja, sem vínculo empregatício. Fazendo uma relação entre esses dois dados, conclui-se que o grau de cobertura do MEI foi de 30,1%. Portanto, o MEI vem, a cada ano, cadastrando aproximadamente um milhão de trabalhadores informais, o que se caracteriza como um grande avanço do país para o desenvolvimento da atividade empreendedora. 17 1.1.4 Evolução da regulamentação e aspectos contábeis empresariais A in�uência das micro e pequenas empresas no desenvolvimento econômico nacional é signi�cativa, pois representa aproximadamente 99% dos estabelecimentos abertos no Brasil e pouco mais de 50% damão de obra ativa (SEBRAE, 2018). De acordo com Padoveze e Martins (2014), para consolidar a importância da micro e da pequena empresa, pode-se pensar por um instante que grandes empresas que vemos atuando hoje no mercado foram, por um período, empresas de pequeno porte ou microempresas. Ainda de acordo com os autores, por exemplo, a empresa Pão de Açúcar iniciou suas atividades na cidade de São Paulo, em 1948, como uma pequena doceria, antes se tornar uma das maiores varejistas do Brasil. Da mesma forma, diversas outras empresas, como Microsoft, Google, Apple, Amazon e HP, tiveram o mesmo início antes de se tornarem grandes corporações (9 EMPRESAS…, 2015). Nesse sentido, ainda de acordo com Padoveze e Martins (2014), o governo brasileiro compreendeu a importância desses estabelecimentos para o desenvolvimento econômico do país e iniciou, em 1966, o primeiro programa de apoio às Micro e Pequenas Empresas (MPEs), o chamado Financiamento para Pequenas e Médias Empresas (Fipeme). Já no ano de 1972 foi criado o primeiro instituto de apoio ao pequeno empreendimento, chamado Centro Brasileiro de Assistência Gerencial à Pequena Empresa (Cebrae). No entanto, o apoio aos micro e pequenos empreendimentos não se limitou apenas aos programas (Fipeme e Cebrae). Em 1984, por meio da Lei 7.256/1984 foi instituída a simpli�cação dos campos administrativo, tributário, previdenciário, creditício e de desenvolvimento empresarial para as microempresas. Assim, o estatuto recém-criado estava pautado em três pontos importantes: “[...] de�nição de microempresa, benefícios tributários e de ordem burocrática e apoio creditício” (PADOVEZE; MARTINS, 2014, p. 44). No ano de 1996 foi instituído o Simples Federal, por meio da Lei 9.317/1996, a qual visava simpli�car os impostos pagos pelo micro e pequeno empresário. Com essa Lei, houve a uni�cação de vários tributos; por exemplo: Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL), Programa de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor 18 Público (PIS/Pasep), Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Co�ns) e Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) (PADOVEZE; MARTINS, 2014, p. 45). A Lei Complementar 123/2006 é a principal lei regulamentadora das atividades da micro e da pequena empresa. No entanto, existem outras leis de regulamentação que orientam as MPEs brasileiras, conforme o quadro “Regulamentações da MPE”. Regulamentações da MPE PADOVEZE; MARTINS, 2014, p. 46. No Brasil, foram criadas diversas medidas para auxiliar o desenvolvimento do micro e pequeno empreendedor, principalmente a partir dos anos de 1990. Com o incentivo do governo, entidades como o Sebrae passaram a ter mais força e condições de auxiliar pequenos e microempresários nos mais diversos temas. Nesse sentido, de acordo com Padoveze e Martins (2014), podemos considerar que o país tem dado suporte para as MPEs. Lei Objetivo 10.406, de 10 de janeiro de 2002 Instituir o código civil brasileiro. Complementar n. 123, de 2006 Regulamentar o tratamento diferenciado à micro e pequena empresa nos seus mais diversos aspectos. 11.598, de 3 de dezembro de 2007 Estabelecer diretrizes e procedimentos para simpli�cação e integração do processo de registro e legalização de empresários e de pessoas jurídicas. Complementar n. 128, de 2008 Instituir a �gura do Microempreendedor Individual (MEI). 12.441, de 11 de julho de 2011 Alterar a Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (código civil), para permitir a constituição de empresa individual de responsabilidade limitada. 19 1.2 Oportunidades e Ameaças para o Empreendedor O ambiente em que um empreendimento está inserido pode ser considerado como a fonte originária de duas das mais importantes variáveis externas da organização: as oportunidades e as ameaças. Como a�rma Oliveira (2018, p. 27) o ambiente é “[...] o conjunto de todos os fatores que, dentro de um limite especí�co, se possa conceber como tendo alguma in�uência sobre a operação do sistema”. É nesse contexto descrito por Oliveira (2018) que surgem tanto as oportunidades quanto as ameaças para a empresa. Outra percepção interessante sobre ambiente é a de Almeida (2010, p. 11), que a�rma que o “[...] ambiente de uma entidade é tudo aquilo que in�uencia em seu desempenho sem que ela pouco ou nada possa fazer para mudar tais fatores ou variáveis”. A partir dessa compreensão, podemos notar que os fatores ambientais externos à empresa são alheios às in�uências da organização, ou seja, eles ocorrem independentemente da vontade da empresa. 1.2.1 Variáveis de análise do ambiente externo Para compreendermos melhor a in�uência do ambiente externo em uma empresa, vamos analisar um exemplo prático, de acordo com Pereira (2010). Nos primórdios dos estudos sobre administração, acreditava-se que a empresa era um ambiente fechado, ou seja, que não sofria in�uências do ambiente externo e que precisava lidar apenas 20 com seus fatores internos. Nesse período, para Henry Ford, por exemplo, o ambiente externo não era considerado um aspecto relevante para a organização, pois, de acordo com ele, “[...] as pessoas podem escolher comprar qualquer automóvel de qualquer cor, desde que seja um Ford preto” (PEREIRA, 2010, p. 101). Por não dar a devida atenção ao ambiente externo, a General Motors ultrapassou a Ford em participação de mercado, justamente por oferecer carros de acordo com o desejo do consumidor. No meio organizacional, estamos cercados de exemplos de empresas grandes, pequenas e médias, que foram fortemente impactadas pelo ambiente externo e que, muitas vezes, não tiveram a possibilidade de se reajustar e foram à falência ou foram adquiridas por outras organizações. Koontz, O’Donnell e Weihrich (1986) descrevem a importância da análise ambiental de uma organização. Todos os administradores, quer atuem numa organização privada, num órgão público, numa organização religiosa, numa fundação de caridade ou numa universidade, devem, em graus variados, levar em consideração os elementos e as forças do ambiente externo. Embora talvez não sejam capazes de afetar sensivelmente essas forças, eles não têm alternativa senão reagir a elas. Devem identi�car, avaliar e reagir às forças externas à instituição e que afetam suas atividades (KOOTNZ; O’DONNELL; WEIHRICH, 1986, p. 99). As variáveis que podem in�uenciar as operações de uma organização são inúmeras e dependerão principalmente do setor de atuação da empresa; mas dentre as principais, temos: tecnologia, meio ambiente, características culturais e sociais da região de Ford iniciou sua vida como mecânico. Projetou um modelo de carro e, em 1899, fundou sua primeira fábrica de automóveis, que logo depois foi fechada. Sem desanimar, fundou, em 1903, a FordMotor Co. Entre 1905 e 1910 Ford promoveu a grande inovação do século XX: a produção em massa (CHIAVENATO, 2004, p. 51). B I O G R A F I A 21 atuação, clientes, concorrentes, governos, aspectos econômicos etc. Veja a seguir a �gura “Fatores de análise do ambiente externo”. Fatores de análise do ambiente externo CERTO et al., 2010, p. 31. (Adaptado). De acordo com Certo et al. (2010), conforme apresentado na �gura “Fatores de análise do ambiente externo”, percebemos a existência de cinco componentes do ambiente externo que podem impactar as ações de uma organização, sendo eles: componente político, componente econômico, componente tecnológico, componente social e componente legal, os quais estão melhor detalhados a seguir, no quadro “Componentes do ambiente externo”. 22 Componentes do ambiente externo CERTO et al., 2010, p. 30-31. (Adaptado). Oliveira (2018), no entanto, apresenta como componentes externos as seguintes variáveis: econômicas, sociais, políticas, demográ�cas, culturais, legais, tecnológicas e ecológicas. A novidade nessa lista está no componente ecológico, o qual, segundo o autor, busca identi�car o nível do desenvolvimento do ambiente externo, bem como os índices de poluição do contexto e, por �m, as legislaçõesvigentes na trativa desse tema. Componente Descrição Econômico Indica como os recursos são distribuídos e usados no ambiente. Fazem parte desse componente econômico o Produto Interno Bruto (PIB), lucros do setor econômico, taxa de in�ação, produtividade setorial, taxas de emprego, banco de pagamentos, taxa de juros, tributos e receitas de consumidores, despesas e débitos públicos. Social Descreve as características da sociedade na qual se situa a organização. Níveis educacionais, costumes, crenças, estilo de vida, idade, distribuição geográ�ca e mobilidade de uma população fazem parte do componente social. É importante lembrar que, embora as mudanças em uma sociedade possam ocorrer de modo lento ou rápido, elas acabam, inevitavelmente, acontecendo. Político Compreende os elementos relacionados a decisões governamentais. Exemplos desses elementos incluem estilo de governo, sua atitude diante de várias indústrias, esforços para tentar obter aprovação de projetos por grupos interessados, plataforma de partido políticos, dentre outros. Legal Consiste na legislação aprovada, ou seja, as regras ou leis que todos os membros da sociedade devem seguir. Por exemplo: Lei de Proteção do Consumidor, Lei de Defesa da Concorrência e Lei do Meio Ambiente. Tecnológico Novas abordagens para a produção de mercadorias e serviços, como procedimentos e equipamentos novos. Um exemplo é a tendência contemporânea de utilizar robôs na busca pela melhora da produtividade. 23 1.2.2 Oportunidades e Ameaças do Mercado A análise do ambiente externo de uma organização deve ser feita a partir da compreensão do contexto sob duas perspectivas: as oportunidades e ameaças. O ambiente envolverá um cenário com fatores positivos que possam favorecer a empresa no desenvolvimento de seu plano e de suas ações. Também, poderá oferecer cenários negativos nos quais serão formadas as ameaças à organização. De acordo com Pereira (2010, p. 102), as oportunidades podem ser compreendidas como: Força ou a variável incontrolável pela organização que pode favorecer as suas estratégias. Obviamente, para isso, ela tem que ser conhecida e depois estudada da melhor forma para ser aproveitada em benefício da organização. [...]. As oportunidades são fatores externos que facilitam o cumprimento da missão da organização ou mesmo em situações do meio ambiente que a organização pode aproveitar para aumentar sua competitividade. Já as ameaças, ainda de acordo com o autor, podem ter diversas origens, incluindo as oportunidades que foram perdidas pela organização e aproveitadas pela concorrência. “As ameaças são elementos negativos, ou seja, continuam sendo uma força incontrolável pela organização e criam obstáculos à sua estratégia. [...] São fatores externos que di�cultam o cumprimento da missão da organização” (PEREIRA, 2010, p 103). Para complementar, Oliveira (2018) a�rma que tanto as ameaças quanto as oportunidades podem afetar signi�cativamente os resultados �nanceiros da organização, conforme a �gura “Impacto das oportunidades e das ameaças nas expectativas da empresa”. 24 Impacto das oportunidades e das ameaças nas expectativas da empresa OLIVEIRA, 2018, p. 73. Portanto, de acordo com a �gura “Impacto das oportunidades e das ameaças nas expectativas da empresa”, Oliveira (2018) a�rma que, quando uma oportunidade é bem aproveitada pela organização, os resultados �nanceiros podem superar as expectativas de seus dirigentes, enquanto que uma ameaça não controlada de forma satisfatória pode trazer grandes perdas �nanceiras para a organização. Segundo Oliveira (2018), as oportunidades e as ameaças podem ser classi�cadas devido a sua natureza: Oportunidades: podem ser classi�cadas como naturais, de evolução, sinérgicas e de inovação. Ameaças: podem ser classi�cadas como naturais, aceitáveis e inaceitáveis. Essas classi�cações podem ser melhor compreendidas a seguir, a partir do quadro “Componentes do ambiente externo”. 25 Componentes do ambiente externo Oportunidades Naturais São as incorporadas à natureza da empresa. Por exemplo, uma oportunidade natural pode corresponder à oportunidade empresarial da indústria de computadores. Nesse caso, a empresa simplesmente deve veri�car se os seus recursos e competências adaptam-se aos requisitos da oportunidade natural. De Evolução São proporcionadas à empresa por meio da formação e da consolidação gradativa de condições e circunstâncias que tendem a concretizar uma vantagem competitiva de�nitiva e concreta. Nesse caso, o que vai distinguir uma empresa com ações estratégicas de outra empresa é sua faculdade de perceber a oportunidade. Sinérgicas Proporcionam situações complementares e adicionais para a empresa. Normalmente, provocam modi�cações na estrutura organizacional e exigem novo foco de conhecimento. A sua utilização pela empresa sempre provoca uma situação de risco considerável. Por exemplo, a utilização de oportunidade dentro do processo de verticalização. De Inovação Normalmente, modi�cam as características econômicas fundamentais e a capacidade da empresa. Requerem grandes esforços, recursos de primeira classe, dispêndios em pesquisa e desenvolvimento e/ou grandes investimentos em tecnologia de ponta. Apresentam grande nível de risco para a empresa, bem como são capazes de criar uma nova indústria ou setor da economia, em vez de apenas um produto adicional. Ameaças Naturais São as incorporadas à natureza da empresa. Como exemplo, pode-se citar o risco empresarial da indústria eletrônica, pela própria evolução tecnológica do setor. 26 Fonte: OLIVEIRA, 2008, p. 75. (Adaptado). De maneira complementar, é importante analisar quais as origens das ameaças ambientais. De acordo com Chiavenato e Sapiro (2009), as ameaças originam-se em três situações: (1) alteração no ambiente externo da empresa, no qual ela não tem capacidade de acompanhar tais mudanças; (2) por meio da competição existente no campo de atuação da empresa; e (3) o desequilíbrio no mercado devido a ações da concorrência. Portanto, ao �nal deste tópico, nós pudemos compreender o quão importante é para o empreendedor a análise das variáveis ambientais, porque as oportunidades bem aproveitadas podem tornar as empresas mais lucrativas. Assim como quando as ameaças impactam o desenvolvimento das atividades da empresa, o prejuízo também pode impactar (OLIVEIRA, 2018). Aceitáveis São as que a empresa permite aceitar, sendo importante analisar até que ponto a situação é aceitável. Um exemplo é a ameaça que uma empresa pode sofrer ao entrar no mercado com um produto já existente, conhecido e aceito pelos consumidores. Inaceitáveis São as que a empresa não aceita, devido a sua incapacidade para explorar uma situação de êxito quando essa ameaça existir. Como exemplo, pode-se mencionar o capital de terceiros em determinadas situações para a empresa. A internet é um celeiro de oportunidade jamais visto na história da humanidade. A F I R M A Ç Ã O 27 1.2.3 Definição de Cenários por Meio de Variáveis do Ambiente Em um ambiente altamente competitivo e em constante transformação, torna-se importante para as organizações, tanto as empresas grandes quanto as de pequeno porte, o desenvolvimento de sua capacidade de construir ou simular os cenários a sua volta. Essa prática objetiva minimizar os riscos ambientais e também proporcionar condições para que a organização tome ações proativas, ou seja, a utilização de ações para que a empresa tente, em certa medida, não �car vulnerável às variáveis do ambiente e, por meio de ferramentas, busque encontrar respostas às variações. O termo cenário é muito utilizado quando tratamos de projeções organizacionais; no entanto, não apresenta uma de�nição universal e unânime, mas podemos compreender como sendo os estudos ou as análises de uma condição futura da realidade, seja ela favorável ou não. De acordo com Chiavenato e Sapiro (2009, p. 145), cenário é “[...] uma representação imaginária a respeito do futuro, uma construção de alternativas futurasdas condições ambientais. [...] projetar antecipadamente como as condições ambientais e organizacionais deverão se comportar”. Diante dessa breve de�nição, podemos perceber, caro(a) aluno(a), que a interpretação e a projeção de cenários são atividades bastante complexas e exigem da organização uma grande capacidade analítica e de interpretação da realidade. Mas a�nal, por que uma organização deve voltar parte de suas energias na tentativa de compreender o futuro? Bem, a resposta a essa pergunta pode parecer óbvia, mas está longe de ser simples. Para uma organização tomar decisões acertadas sobre suas ações futuras, torna-se fundamental e necessário, mesmo que minimamente, que ela consiga imaginar ou simular qual será o resultado futuro de suas ações presentes. Por meio da tentativa de enxergar o futuro, a organização busca evitar as surpresas das incertezas do ambiente e tomar as decisões equivocadas diante um ambiente que tomará forma. Dessa maneira, para a empresa, a capacidade de criar cenários é importante para o processo de tomada de decisões, pois, como a�rma Rojo (2006), “[...] a simulação se constitui em uma etapa importante que precede o ato de planejar [...] constitui-se em importante ferramenta de manutenção de informações situacionais”. Por meio dessas informações, é possível a tomada de decisão mais assertiva. 28 Diante do cenário altamente competitivo no qual as empresas se encontram e do mercado dinâmico, qual a importância ou a relevância de se planejar nesse contexto? De acordo com Chiavenato e Sapiro (2009), outro fator que devemos levar em consideração na construção de cenários organizacionais é a existência da incerteza, ou seja, a falta de possibilidade de simular um futuro que, de fato, será efetivado. Segundo Chiavenato e Sapiro (2009), as incertezas (dúvidas quanto ao futuro) que envolvem uma organização não podem ser eliminadas, mas a organização pode adotar posturas diferentes em situações adversas, ou seja, diante da incerteza, uma forma e�ciente de lidar com o futuro é tornar-se �exível e adaptável. Ainda de acordo com os autores, as empresas precisam gerir as incertezas do ambiente e conseguir o apoio e a harmonia dos funcionários, o que se torna um grande desa�o, conforme apresenta a �gura “As dimensões do planejamento estratégico”. 29 As dimensões do planejamento estratégico CHIAVENATO; SAPIRO, 2009, p. 147. (Adaptado). A partir da �gura “As dimensões do planejamento estratégico”, podemos perceber que a construção de cenários está representada pela região em que se tem menos certeza em relação ao futuro e na qual existe menos consenso entre a organização e seu corpo de funcionários, tornando o processo de construção de cenários ainda mais complexo e desa�ador (CHIAVENATO; SAPIRO, 2009). A criação de cenários é uma ação aliada das organizações no processo de tomada de decisão. Por esse motivo, torna-se fundamental que os dirigentes tenham condições de imaginar cenários futuros que possibilitem à empresa responder com maior assertividade às incertezas inerentes ao desconhecido. Para tanto, podemos eleger algumas etapas fundamentais no processo de desenvolvimento de cenários. De acordo com Chiavenato e Sapiro (2009), dentre as etapas, estão: identi�cação e focalização do tema; identi�cação das forças motrizes; categorização das forças motrizes; consistências das forças motrizes; alinhamento das incertezas críticas; criação de roteiros plausíveis; avaliação das implicações; e aplicação da metodologia, conforme o quadro “Processo de criação de cenários”. 30 Processo de criação de cenários Etapa Descrição Identi�cação e focalização do tema Corresponde à de�nição do tema central que justi�cará o processo. O tema é trazido por questões relevantes a respeito do futuro. Quais são os elementos predeterminados e seus eventos que estão ocorrendo? Quais tendências estão surgindo que terão impacto sobre os negócios? Etc. Identi�cação das forças motrizes A equipe de planejamento estratégico deve reconhecer quais eventos identi�cados nos diagnósticos externos e internos ajudarão a responder às questões elaboradas na etapa anterior. Esses eventos representam as forças motrizes ou de mudança. A prática mais utilizada para selecionar somente uma pequena parte dos eventos baseia-se no princípio de Pareto. Categorização das forças motrizes Essa etapa procura analisar os elementos predeterminados porque, na verdade, os eventos reais contemplam todos os contextos em diferentes graus para criar diferentes categorias de eventos. Para escolher as forças motrizes, é necessário identi�car os eventos que parecem ser os mais impactantes sobre o tema. Consistência das forças motrizes Tarefa de dar consistência às forças motrizes selecionadas em torno de seus elementos predeterminados mais relevantes. No início, os agrupamentos são desestruturados, cobrindo um grande espectro de eventos. Não há regras para os critérios de agrupamentos, mas é preciso perceber as conexões entre os eventos e procurar reconhecer as variáveis que de�nem padrões de causa e efeito. Alinhamento das incertezas críticas Procede-se a uma consistência das incertezas críticas, referentes aos agrupamentos consolidados na etapa anterior, procurando o que há de comum entre elas para obter as linhas de incertezas. O ideal é consistirem em duas ou três linhas de incertezas realmente críticas. Criação de roteiros plausíveis Para explicar o futuro, os cenários usam uma lógica intrínseca das forças motrizes: proporcionar uma ideia de como essas forças podem plausivelmente se comportar com base na forma como elas se comportaram no passado. O mesmo conjunto de forças motrizes pode naturalmente se comportar de várias maneiras diferentes, conforme os diferentes enredos possíveis. 31 CHIAVENATO; SAPIRO, 2009, p. 149-154. (Adaptado). Por meio do quadro “Processo de criação de cenários”, podemos perceber o quanto é complexo o processo de criação de cenários. No entanto, mesmo que complexo, deve ser desenvolvido por qualquer empresa, seja ela de grande porte e já estabelecida no mercado ou micro e pequena no início de suas atividades. Se pensarmos de maneira prática, para um empreendedor iniciante, por exemplo, a criação e a análise de cenários tornam-se importantes para que ele tenha uma perspectiva do horizonte no qual irá atuar, porque por meio dessa prática é possível que o empreendedor identi�que oportunidades de negócio ou até ameaças que devem ser evitadas. 1.2.4 Técnicas de monitoramento do ambiente externo As organizações, inclusive as de pequeno porte, precisam encontrar meios de controlar as suas ações e monitorar os acontecimentos do ambiente externo como uma maneira estratégica de estarem a par dos acontecimentos ao seu redor e também como meio para obterem vantagens competitivas. Para termos um entendimento conceitual sobre a monitoração do ambiente, Brown e Weiner já em 1985 (apud ALMEIDA; MORAES, 2015, p. 33) �zeram uma análise sobre o tema e a�rmavam desde então que monitoração ambiental é “[...] uma espécie de radar para escanear o mundo de forma sistemática e sinalizar o que é novo, inesperado, e também o que é relevante ou menos importante”, ou seja, é a forma encontrada pela organização para compreender os acontecimentos e se preparar para possíveis ações necessárias. Avaliação das implicações Como será um negócio ou empreendimento de acordo com cada cenário construído? Essa é a parte mais interessante do processo de construção de cenários. E é a que mais apresenta surpresas. Nesse estágio, surgem interligações que não apareciam antes. Aplicação da metodologia Nessa etapa, é necessário tomar alguns cuidados. Um deles é não terminar o trabalho com três cenários, pois pessoas não familiarizadas com cenários serão tentadas a identi�car o cenário do meio como o mais provável e o tratará como uma previsão de objetivo único. Outro cuidado é evitar muitos cenários. 32 De acordo com Aguilar (1967, apud ALMEIDA; MORAES, 2015, p. 34), o monitoramento do ambiente pode sercompreendido como a ação de coletar informações do meio externo à empresa para �ns estratégicos, apresentando dois principais objetivos: “(i) diminuir a aleatoriedade da informação que alimenta processos decisórios, conferindo objetividade ao processo de coleta e análise dessas informações; (ii) fornecer aos gestores sinais de alerta relacionados a mudanças no comportamento de variáveis- chaves”. Complementando as ideias de Aguilar (1967), podemos analisar um conjunto de objetivos apresentados por Coates (1985, apud ALMEIDA; MORAES, 2015), conforme a �gura “Objetivos propostos por Coates”. Objetivos propostos por Coates © kubko / / 123RF. (Adaptado). A partir dessa série de objetivos do monitoramento do ambiente, a organização tem como principais benefícios, dentre tantos outros, o entendimento dos impactos que pode sofrer do ambiente externo e quais as ações que podem ser tomadas para evitar que esses impactos causem danos às estratégias organizacionais. De acordo com Xavier e Cancellier (2008), para que um monitoramento seja efetivo e traga os benefícios estratégicos esperados, é importante que a organização se atente tanto para o tipo de informação que irá buscar no ambiente quanto para a forma com 33 que a informação será obtida, valendo o destaque para duas principais técnicas: a frequência e as fontes do monitoramento. Conforme a�rmam Cancellier e Alberton (2008), a frequência representa a quantidade de vezes em que a organização observa o ambiente para coletar as informações, e as fontes de informação são representadas pelo modo com que essas informações são coletadas, sendo quatro os principais modos: (1) pessoais, nas quais os contatos ocorrem presencialmente ou por meio de telefone, por exemplo; (2) impessoais, por meio de documentos escritos; (3) externas, que estão fora da organização; (4) internas, que são encontradas dentro da organização. As fontes de informações externas estão atualmente mais acessíveis às organizações, pois diversos meios podem ser utilizados para coletá-las; no entanto, vale a ressalva de que nem todas as informações adquiridas pela empresa são coerentes, e cabe aos gestores tratá-las de forma adequada, conforme o quadro “Fontes de informações”. 34 Fontes de informações Fonte: XAVIER; CANCELLIER, 2008, p. 112. No entanto, vale a ressalva de que muitas informações sobre o ambiente podem ser adquiridas de forma gratuita, como nas universidades, em pesquisas de artigos cientí�cos, em instituições como o Sebrae e o IBGE. Também, algumas informações podem ser oriundas de pesquisas pagas, desenvolvidas sob encomenda para atender a uma necessidade especí�ca do empreendedor. De acordo com Xavier e Cancellier (2008), as informações podem ser geradas a partir da observação de algumas variáveis ambientais importantes para as estratégias da organização, conforme o quadro “Variáveis e tipos de informações”. Fontes pessoais – externas Fontes escritas – externas Contatos diretos com clientes. Seminários, palestras e cursos. Contatos diretos com concorrentes. Serviços do Sebrae. Contatos diretos com fornecedores. Relatórios externos (FIESC, ACATE etc.). Administradores de outras empresas. Publicações técnicas da área ou do setor. Especialistas (consultores, advogados). Jornais e revistas da imprensa em geral. Contatos em feiras e exposições. Livros. Amigos e familiares. Internet (sites especializados). Pessoal interno de vendas. Relatórios gerenciais internos. Pessoal interno da produção. Comunicações e relatos escritos. Demais empregados da empresa. Documentos da empresa. Contador da empresa. Intranet. Representantes da empresa. 35 Variáveis e tipos de informações XAVIER; CANCELLIER, 2008, p. 111. Após a obtenção das informações, a etapa de analisá-las e interpretá-las pode ser considerada um processo complexo para algumas organizações, principalmente para as pequenas empresas, pois muitas vezes são necessários equipamentos especí�cos e colaboradores altamente quali�cados. Muitas vezes, torna-se mais interessantes para a organização a terceirização desse processo para empresas especializadas. Variáveis Tipos de informações Concorrentes Preços e mudanças em produtos, marketing, novos produtos, custos e �nanças etc. Clientes Necessidades, per�l, uso dado aos produtos, novos clientes etc. Fornecedores Preços, novos fornecedores, inovação em insumos, etc. Tendência de mercado Crescimento, declínio, novos segmentos etc. Inovações tecnológicas Novas tecnologias, novos processos, novos materiais etc. Condições da economia Variação do PIB, in�ação, câmbio (nível nacional, regional e global) etc. Condições socioculturais Mudanças de comportamento, valores, normas sociais etc. Leis e normas do setor Leis e normas de governos (federal, estadual e municipal), agências reguladoras, entidades padronizadoras etc. Condições demográ�cas Crescimento da população, das classes sociais, gênero, renda, idade por regiões e localidades etc. Bancos e �nanciadores Modalidades de �nanciamento, taxas etc. 36 Como vimos, um dos métodos mais utilizados pelas empresas para o monitoramento do ambiente é por meio da coleta de informações, pois elas se tornam fundamentais para o desenvolvimento do processo como um todo. Por exemplo: um empreendedor pretende abrir uma nova empresa; para isso, é interessante que tenha em mãos algumas informações sobre o ambiente, como concorrentes, clientes, fornecedores, economia e legislação vigente, as quais são relevantes para garantir o conhecimento do contexto em que irá se inserir e, a partir de então, buscar converter as informações em oportunidades de negócios ou em ameaças a serem evitadas. Portanto, a análise e o monitoramento do ambiente externo da empresa são essenciais para o desenvolvimento de estratégias organizacionais. 37 ! Recapitulando Finalizamos nossas discussões sobre o contexto nacional do empreendedorismo e os aspectos contábeis de micro e pequenas empresas. Para a compreensão desse assunto, abordamos diversos fatos históricos e conceitos recentes do contexto do empreendedorismo nacional. Iniciamos os estudos a partir do seguinte questionamento: de que forma o desenvolvimento econômico nacional contribui para o crescimento da atividade empreendedora? Para chegarmos à resposta, analisamos alguns pontos importantes discutidos nesta unidade. O desenvolvimento industrial brasileiro pode ser considerado tardio em comparação aos países desenvolvidos e somente começou a ganhar forma a partir dos anos de 1930. Como resultado desse atraso, a atividade empreendedora nacional também iniciou seu desenvolvimento tardiamente, apenas nos anos de 1990. A partir de então, algumas ações favoreceram o a�oramento do empreendedorismo brasileiro, como a estabilidade econômica a partir da implementação do plano Real, a abertura de mercado às indústrias internacionais e também o desenvolvimento de programas de apoio ao micro e pequeno empresário (o Sebrae e a Softex). Porém, também é correto a�rmar que alguns movimentos dos governos brasileiros em meados da segunda metade do século XX favoreceram signi�cativamente o surgimento de grandes empreendimentos que levaram a economia nacional a um novo patamar. Esse período �cou registrado na história como o “milagre econômico brasileiro”, no qual o desenvolvimento da infraestrutura e da economia foi signi�cativo. Após o ano de 1974, com o �m do milagre, o país entrou em sérios problemas in�acionários e de recessão. 38 Fazendo uma análise mais recente do desenvolvimento econômico, social e político do país, foi possível visualizar o surgimento de oportunidades e também de ameaças para a prática do empreendedorismo. Nesse sentido, uma das ações mais prudentes de um candidato a empreendedor está na análise aprofundada do ambiente externo à organização. Essa análise deve objetivar identi�car quais aspectos do ambiente re�etem uma chance para o desenvolvimento do empreendimento e quais aspectos re�etem uma ameaça a ser combatida ou evitada. A análise de cenários,ou a simulação de cenários, é mais uma ação que pode possibilitar ao empreendedor uma maior assertividade nas tomadas de decisões do dia a dia da organização. Também, as técnicas de monitoramento do ambiente se fazem fundamentais. Dessa maneira, podemos considerar todo o movimento econômico, social e político que o Brasil tem feito desde, principalmente, o início do século XX, bem como o fomento da atividade empreendedora, claro que com mais ênfase a partir do �nal do século XX, mas com consideráveis ações de fortalecimento desde os períodos mais próximos à ditadura militar. Para que a atividade empreendedora pudesse ganhar forças no decorrer dos anos, alguns métodos e certas técnicas se tornaram importantes, como a análise do ambiente, com o objetivo de interpretar seus elementos, a política, o meio ambiente, a economia e a legislação. Por meio da análise de cenários, que é outra técnica importante para o empreendedor, é possível identi�car as oportunidades e utilizá-las, quando possível, além de afastar as ameaças, quando necessário. Aliado a essas práticas, o monitoramento do ambiente permite que a empresa se mantenha em sintonia com o meio e tenha condições de tomar as devidas decisões, conforme necessário. Proposta de Atividade Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu neste capítulo! Elabore um mapa mental com até 10 conceitos do tópico 1.1.2, destacando as principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir seu mapa mental, considere as leituras básicas e complementares realizadas. 39 Referências 9 EMPRESAS que nasceram numa garagem. Revista PEGN, 24/07/2015. Disponível em: <https://revistapegn.globo.com/Como-comecar/noticia/2015/07/9-empresas-que-nasceram- numa-garagem.html>. Acesso em: 04/06/2019. ALMEIDA, M. I. R. Manual de Planejamento Estratégico. São Paulo: Atlas, 2010. ALMEIDA. F. L. M.; MORAES, C. A. C. Monitoramento do Ambiente Externo e Construção de Cenários Prospectivos: desenvolvimento de novos cenários ou uso de estudos de cenários existentes? Parc. Estrat., Brasília, v. 20, n. 40, p. 31-58, jan./jun. 2015. BARRETO, P. Per�l - John Maynard Keynes. Ipea - Desa�o do desenvolvimento, a. 6, 52 ed., 05/07/2009. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/desa�os/index.php? option=com_content&view=article&id=2267:catid=28&Itemid=23>. Acesso em: 04/06/2019. CANCELLIER, E. L. P. L; ALBERTON, A. O Monitoramento do Ambiente Externo em Empresas Hoteleiras Catarinenses. 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Acesso em: 10/06/2019. 42 http://revistaseletronicas.pucrs.br/face/ojs/index.php/face/article/view/5728/4159 CAPÍTULO 2 Métodos e Técnicas de Gestão para Microempreendimento (Visão Sistêmica) Objetivos do Capítulo Entender o conceito de empresa, analisando as características do microempreendimento. Conhecer a regulamentação para micro e pequenas empresas, mantendo uma gestão sistêmica. 43 Tópicos de Estudo Tópico 1 - Micro e Pequenos Empreendimentos. De�nição de empresas. Modelos de formatação. Descrição do tamanho e classi�cação de empresas. Características de microempreendimentos Tópico 2 - Regulamentação para Micro e Pequenos Empreendimentos. Legislação comercial. Regulamentação. Aspectos contábeis para microempreendimentos: impostos, taxas e contribuições. Encargos trabalhistas para micro e pequenas empresas. 44 Contextualizando o Cenário Os micro e pequenos empreendimentos representam, aproximadamente, 99% dos estabelecimentos em funcionamento no Brasil e são responsáveis por 52% dos empregos com carteira assinada (SEBRAE, 2018). Nesse sentido, historicamente, a legislação brasileira tem buscado desenvolver medidas que favoreçam a criação, o crescimento e o desenvolvimento de empresas de pequeno porte, por exemplo, por meio de regulamentações e legislações que amenizem o pesado fardo tributário brasileiro. O modelo de formatação e regulamentação dos empreendimentos brasileiros pode interferir diretamente na produtividade da empresa, devido a uma maior ou menor incidência de impostos e encargos trabalhistas. Portanto, é importante que, para a compreensão dos modelos de formatação e regulamentação dos empreendimentos brasileiros, você volte sua atenção ao seguinte questionamento: quais aspectos legais e contábeis devem ser considerados ao se criar uma micro ou pequena empresa? 45 2.1 Micro e Pequenos Empreendimentos Os micro e pequenos empreendimentos podem ser considerados os motores da economia nacional,pois representam, aproximadamente, 99% dos estabelecimentos em funcionamento e empregam mais da metade da mão de obra brasileira (SEBRAE, 2018). Sua importância é tamanha que o Governo Federal tem desenvolvido políticas para o fortalecimento dessas empresas. 2.1.1 Definição de empresa Não é incomum associarmos o termo empreendedorismo, ou a �gura do empreendedor propriamente dita, aos conceitos de empresa e empresário, respectivamente. Certamente, mesmo que você não trabalhe em uma empresa, você está, direta ou indiretamente, em contato com essa forma de organização. Fazendo uma breve análise sobre a rotina diária de um cidadão moderno, percebemos que grande parte de suas atividades está diretamente ligada a uma empresa, seja como consumidor ou como membro. A sociedade moderna está em constante envolvimento com uma empresa. Por exemplo, em nossa rotina diária, antes de irmos trabalhar pela manhã, tomamos café, comemos e utilizamos nosso carro ou qualquer outro meio de transporte para nos levar até o local de trabalho, se pararmos para pensar por um instante nessas atividades, vamos perceber que todas elas estão diretamente ligadas a uma empresa, seja por meio dos produtos ou dos serviços, pois o café foi produzido por uma determinada empresa e, depois, foi comercializado por outra, 46 até chegar à nossa casa. Nesse sentido, poderíamos pensar que a nossa sociedade depende das organizações para praticamente todas as atividades diárias. Nos dias de hoje, seria praticamente impossível considerar uma vida sem a in�uência de uma empresa. Para Maximiano (2011, p. 8), uma empresa pode ser compreendida como: [...] uma iniciativa que tem o objetivo de fornecer produtos e serviços para atender às necessidades das pessoas, ou de mercados, e obter lucro com isso. Para obter lucro e atender o compromisso com sua prosperidade, o empreendedor precisa adquirir recursos, estruturar um sistema de operações e assumir compromisso com a satisfação com o cliente. Essa característica central deve estar cristalina na mente do empreendedor – uma empresa só sobrevive com a obtenção de lucros. Observe a �gura “Como funciona uma empresa”. Como funciona uma empresa MAXIMIANO, 2011, p. 8. Na �gura “Como funciona uma empresa”, podemos identi�car o processo de funcionamento de uma empresa e perceber todos os elementos que estão envolvidos nele. Na primeira parte, estão as informações e os conhecimentos, as pessoas e os recursos materiais, que podem ser considerados os elementos de 47 entrada do sistema. Na seguinte, existe o sistema de operações, que é o processamento das entradas em um produto ou serviço e, como resultado, tem- se o lucro do empreendedor, o compromisso com o cliente e outras partes interessadas. De acordo com Maximiano (2011), uma empresa é um sistema que opera diversos recursos diferentes, e o principal recurso é o humano, que, para o desenvolvimento de suas atividades, utiliza os recursos materiais (instalações, máquinas, equipamentos) e os recursos intangíveis (conhecimento e informação). A seguir, no quadro “Recursos organizacionais”, vamos analisar cada um desses elementos de maneira individual. Recursos organizacionais MAXIMIANO, 2011, p. 9. (Adaptado). O sistema de operação das organizações é o responsável por transformar a matéria-prima no produto ou serviço que será entregue ao consumidor. Como a�rma Maximiano (2011, p. 9), “[...] qualquer produto tem mais valor do que seus Informação e conhecimento A sociedade contemporânea consome serviços de alto valor agregado, como alimentos saudáveis, educação, �nanciamento e investimento [...]. Esses serviços dependem de empresas que dominam conhecimentos especializados. Assim, uma das mais importantes vantagens competitivas das empresas é o conhecimento. Além do conhecimento sobre o produto e o processo de produzi-lo, as empresas precisam também dominar informações sobre o mercado, a concorrência, entre muitos outros aspectos. Pessoas As pessoas dominam os conhecimentos e tomam as decisões que podem fazer a empresa prosperar ou fracassar. Armand Feigenbaum, especialista em qualidade, dizia, em seus estudos, publicados ainda no último século, que todo produto ou serviço é realizado por um par de mãos humanas e que, portanto, a obtenção da qualidade depende da participação e do apoio das pessoas. As empresas competitivas da atualidade são feitas de pessoas quali�cadas, capazes de fornecer produtos e serviços de alto valor agregado. 48 componentes isolados [...]. O sistema de operações é conjunto de processos que faz a transformação e agrega valor”. Nesse sentido, um dos maiores desa�os do empreendedor está em estruturar um sistema de operações e�ciente. A última etapa do processo é o resultado, e quando pensamos em uma empresa sob uma perspectiva sistêmica, devemos considerar que os bene�ciários dos resultados gerados pela organização não são apenas os consumidores, mas também um conjunto de stakeholders (partes interessadas), com seus interesses próprios nos resultados, como o empreendedor espera o lucro, o governo busca os impostos, o colaborador o salário e os clientes buscam qualidade e satisfação de suas necessidades (MAXIMIANO, 2011). A seguir, vamos analisar mais especi�camente os stakeholders de uma empresa: Partes interessadas: de acordo com Maximiano (2011, p. 9), as partes interessadas “são todas as pessoas ou entidades que, de alguma forma, têm interesse ou são afetados pela ação ou desempenho da empresa”. A partir dessa de�nição, conseguimos compreender que qualquer problema que afete a sobrevivência da empresa tem impacto direto nas partes interessadas, assim como o inverso também é verdadeiro, se a empresa tiver resultados positivos, as partes interessadas também serão bene�ciadas. Considerando as partes interessadas do lado de dentro da empresa, entre as principais, estão: os proprietários, que buscam maximizar seus investimentos, e os colaboradores, que esperam da empresa seus salários, qualidade de vida e possibilidade de prosperar na carreira, por exemplo. Da mesma forma, a empresa espera que os colaboradores contribuam para o desenvolvimento da organização e realizem atividades De acordo com Marques (2017), processo empresarial é, basicamente, a união de todas as etapas que uma empresa estabelece para conseguir chegar ao resultado que deseja. ESCLARECIMENTO 49 que contribuam para o cumprimento das estratégias. Já, externamente, existem diversas partes interessadas, igualmente importantes, entre elas, estão: consumidores, que esperam obter produtos de qualidade, fornecedores, que buscam receber os pagamentos pelos serviços prestados, o Governo, que objetiva o recebimento dos impostos, a família dos empregados, que se envolve com os resultados gerados pela empresa etc. Compromisso com o cliente: assim como os colaboradores são fundamentais para o funcionamento da empresa, os clientes são a essência da sua existência. É por meio do atendimento das necessidades dos consumidores que a empresa venderá seus produtos e terá a receita necessária para atender aos demais stakeholders. Nesse contexto, atender às expectativas dos clientes torna-se o principal objetivo de uma empresa. A organização, diante do que discutimos até então, trata-se de um mecanismo em que existem entradas, processamentos e saídas, e todas essas atividades buscam atender às necessidades dos clientes e da sociedade. Considerando as inúmeras atividades que você executa durante seu dia de estudo ou de trabalho, você consegue imaginar como seria essa rotina sem os produtos e os serviços oferecidos pelas organizações? Uma empresa é, portanto, um dos elementos mais importantes e in�uentes de nossa sociedade moderna; sem seus resultados operacionais, a sociedade precisaria se reestruturar e se organizar de forma completamente diferente do modo como é hoje. 50 2.1.2 Modelos de formatação Segundo Oliveira (2014), um empreendimento pode surgir orientado por algumas características, assim, é necessário compreender os tipos de empreendedorismos.
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