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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO RCG 0245 – MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA ESTUDO DIRIGIDO – BIOFILMES E CRYPTOCOCCUS Gabriel Coura Dias - Nº USP:11280331 Giovanna Marina Fernandes Marini - Nº USP: 11352790 Joara Adão de Oliveira - Nº USP: 11373136 Luana Queiroz Ferreira - Nº USP: 10273911 Nicole Merino Carneiro - Nº USP: 10312296 Pedro Pereira Prado Bagnola - Nº USP: 11300433 Ribeirão Preto Julho, 2020 Em relação aos biofilmes de Candida albicans. 1. Quais são os grupos de genes expressos diferencialmente nas células em cada etapa da formação dos filmes? Explique o possível papel desses produtos gênicos na formação e manutenção dos biofilmes. Os biofilmes são desenvolvidos em quatro etapas, a partir das quais, gradualmente, aumenta-se a população de hifas e a resistência a medicamentos antifúngicos, devido a mudanças na expressão gênica que ocorrem nas células do Candida albicans. Na fase de aderência, a primeira etapa, as leveduras passam a expressar o gene EAP1, cujos produtos levam à formação de proteínas de parede celular, as quais, ao formarem pontes GPI, aumentam a adesão entre as células. Além disso, essas proteínas também contribuem para a maior adesão das células ao substrato (como superfícies de cateteres e outros dispositivos médicos). Em seguida, na etapa de iniciação, tem-se o início da formação das hifas. A ativação do gene BCR1 produz o fator de transcrição Bcr1, que estimula a expressão de uma série de genes, tais como ALS1, ALS3 e HWP1. As proteínas resultantes da expressão desses genes são componentes da parede celular das hifas, contribuindo para a maior aderência célula-célula e célula-substrato. Cabe aqui ressaltar que o gene ALS1 é também expresso em leveduras, e, desse modo, favorece a aderência inicial. Outro fator de transcrição ativado nessa etapa é o ACE2, que faz com que mais genes relacionados a proteínas de adesão sejam expressos, tais como SUN41 e PGA2. Na próxima etapa, de maturação, as células que compõem o biofilme produzem matriz extracelular, assegura ao biofilme alta resistência à ação de fármacos antifúngicos. A produção de matriz é regulada pelo fator de transcrição ZAP1, cujo efeito é inibitório sob os genes GCA1, GCA2 e ADH5 (produtos estimulam a produção de matriz) e excitatório sobre CSH1 e IFD6 (produtos inibem a produção de matriz). O mesmo fator de transcrição também regula a produção de ergosterol, um dos componentes lipídicos da membrana plasmática dos fungos, alvo de diversos fármacos. Outros genes importantes são expressos nessa fase, tais como FKS1 (estimula a síntese de β-1,3- glucano), GCA1 e GCA2 (o produto de ambos realiza a hidrólise de cadeias longas de glucano presentes na parede celular fúngica, liberando fragmentos solúveis de β-1,3- glucano na matriz extracelular). Esse polissacarídeo, por sua vez, propicia grande resistência aos azóis, uma das classes de medicamentos antifúngicos, juntamente com os produtos dos genes CDR1, CDR2 e MDR1, que funcionam como bombas de efluxo de drogas. Por fim, na fase de dispersão, novas células (predominantemente leveduras) desprendem-se do biofilme e alcançam a circulação sanguínea. A expressão dos genes PES1 e NRG1 aumentam a liberação dessas células para o meio, enquanto que o fator de transcrição UME6 diminui tal liberação. A partir dessa etapa, o fungo pode dar início à formação de novos biofilmes ou se instalar em outros tecidos do organismo. 2. Baseado no conhecimento disponível em biologia molecular apresente uma estratégia para desenvolvimento de fármacos para prevenção e/ou tratamento de biofilmes. Os biofilmes são formados pela deposição e adesão de microrganismos em uma superfície de contato, formando uma matriz de exopolissacarídeos onde iniciam seu crescimento. Os biofilmes de Candida albicans cultivados in vitro geralmente têm uma fundação de células de levedura, das quais emana uma camada de hifa. A formação do biofilme começa com a aderência das células de levedura a um substrato (etapa de aderência). Logo depois, as células de levedura proliferam através da superfície e produzem projeções alongadas que crescem em formas filamentosas, incluindo hifas ou pseudo-hifas (etapa de iniciação). A matriz extracelular se acumula à medida que o biofilme amadurece e também é adquirida resistência a medicamentos de alto nível (etapa de maturação). Finalmente, células de levedura não aderentes são liberadas do biofilme para o meio circundante (passo de dispersão). Uma estratégia para o desenvolvimento de fármacos para a prevenção da formação de biofilmes de Candida albicans é o impedimento da etapa de adesão dos fungos na superfície de tecidos ou de dispositivos médicos implantados. Uma possibilidade seria um fármaco agir de forma que não ocorra a ligação da Eap1 (proteína de superfície da Candida albicans) com a superfície de tecidos ou de dispositivos médicos implantados. A Eap1 é uma das adesinas de biofilme mais claramente definidas que medeia a ligação com a superfície. A análise da sequência da Eap1 mostra que ela possui características de sequência comumente encontradas entre as proteínas de superfície das células fúngicas e também possui uma curta sequência C-terminal que direciona ligações em forma de uma âncora de glicosilfosfatidilinositol (GPI). Sabe-se que a Eap1 é uma adesina de C. albicans que media a adesão das células desse fungo ao poliestireno e a células epiteliais. Tendo em vista a importância da proteína Eap1 da C. albicans na adesão desse fungo na superfície de tecidos ou de dispositivos médicos implantados, tem-se como uma estratégia para o desenvolvimento de um fármaco para a prevenção da formação de biofilmes é a produção de um fármaco que se liga ao Eap1, por exemplo, por meio da GPI, para evitar que essa proteína cause a adesão da C. albicans com superfícies de tecidos ou de dispositivos médicos implantados. Já para se pensar em uma estratégia para o desenvolvimento de fármacos para o tratamento de biofilmes, é importante que o fármaco além de uma ação inibitória, que impeça o aparecimento de novos biofilmes, possua uma ação fungicida, capaz de combater e matar os biofilmes já existentes. Uma forma de se fazer isso seria o desenvolvimento de um fármaco baseado em um composto molecular capaz de impedir a síntese de proteínas como a Sun41 e a Pga10 que são proteínas essenciais para a manutenção da estrutura da parede celular da Candida albicans, assim, com a síntese dessas proteínas inibida, ocorreria uma falha geral na parece celular do fungo, o que o acabaria levando suas células à morte. Além disso, outra possibilidade seria um composto capaz de impedir a síntese da proteína FKS1, uma proteína essencial para a biossíntese dos β-1,3-glucanos, que são importantes componentes da matriz extracelular da Candida albicans, de modo que ao atrapalharem sua biossíntese o biofilme acabe perdendo sua resistência a outros fármacos antifúngicos, como, por exemplo, os azóis, que sem a interferência da resistente parede celular são capazes de se ligarem aos ergosteróis da membrana celular dos fungos, de modo a acabar os eliminando. Em relação ao Cryptococcus, 1. O Criptococcus spp e outros patógenos oportunistas permanecem exclusivamente no ambiente, porém possuem fatores de virulência altamente específicos. Como você explica essa contradição aparente? De acordo com o artigo “Cryptococcus: from environmental saprophyte to global pathogen” por May et al. doi:10.1038/nrmicro.2015.6, os específicos fatores de virulência aos seres humanos observados conjuntamente à grande presença do fungo no meio ambiente podem ser explicados pela hipótese da patogênese acidental. A hipótese propõe que a patogênese do Cryptococcus não é resultado direto da seleçãoassociada aos organismos humanos, mas sim da evolução de traços em resposta às pressões seletivas de ambos nichos ambiental e animal, que, coincidentemente, permitiram vantagens ao estabelecimento da virulência em mamíferos. Fatores de virulência como a complexa cápsula polissacarídea, a atividade da enzima lacase ou a habilidade de sintetizar melanina, são também mecanismos que garantem a proteção do fungo a pressões ambientais, como a extrema desidratação ou a exposição aos raios ultravioleta, bem como permitem a colonização de plantas hospedeiras. Adicionalmente, o Cryptococcus pode se reproduzir não somente no interior de fagócitos de animais vertebrados como também no interior de protozoários rizópodes: apesar da enorme diferença evolutiva entre vertebrados e amebas, muitos mecanismos utilizados pelos fagócitos para a eliminação de patógenos são idênticos a mecanismos utilizados pelos amebóides para digerir suas presas, como a produção de espécies reativas de oxigênio e a secreção de enzimas microbicidas. Desse modo, ao longo da evolução, tais características selecionadas, que permitiram o crescimento e sobrevivência do fungo em hospedeiros sarcodíneos, permitiram também a sua adaptação à sobrevivência no interior de fagócitos. Tais estratégias incluem não apenas mecanismos de tolerância ao estresse, como a resistência às ROS, mas também mecanismos que regulam a sua expulsão do interior de células hospedeiras. Adicionalmente, o Cryptococcus spp. possui a habilidade de perturbar a imunidade adaptativa, impossibilitando a sua completa eliminação pelo sistema imune do hospedeiro, o que resulta em infecções latentes. Ainda segundo o artigo, possivelmente, essa habilidade de permanecer latente sem instigar as defesas naturais dos organismos os quais parasitam é a evidência mais concreta de uma adaptação à virulência aos organismos vertebrados, pois são apenas esses que possuem sistemas imunes adaptativos. Provavelmente, o fungo evoluiu tais propriedades em resposta às pressões de seleção de hospedeiros répteis, aves ou mamíferos, associados ao meio ambiente, o que também explica a diversa gama de animais susceptíveis à criptococose. Referências: 1. Finkel JS, Mitchell AP. Genetic control of Candida albicans biofilm development. Nat Rev Microbiol. 2011 Feb;9(2):109-18. doi: 10.1038/nrmicro2475. Epub 2010 Dec 29. PMID: 21189476; PMCID: PMC3891587. 2. MAY, Robin C.; STONE, Neil R.h.; WIESNER, Darin L.; BICANIC, Tihana; NIELSEN, Kirsten. Cryptococcus: from environmental saprophyte to global pathogen. Nature Reviews Microbiology, [s.l.], v. 14, n. 2, p. 106-117, 21 dez. 2015. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1038/nrmicro.2015.6. http://dx.doi.org/10.1038/nrmicro.2015.6
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