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A hidroterapia na função respiratória do portador da Síndrome de Down A hidroterapia na função respiratória de portadores de Síndrome de Down Marcela J. Albarello 1, Micheli C. De Pelegrini 1, Fernanda Mohr 1, Simone Z. Strassburger 2, Eliane R. Winkelmann 1 1 Escola de Fisioterapia da Universidade Regional Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul-RS, Brasil; 2 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil. Resumo Objetivo - Investigar os efeitos da hidroterapia na função respiratória em pacientes com síndrome de Down. Métodos - A amostra foi composta por 7 indivíduos com síndrome de Down, com idade entre 12 a 37 anos (24 ± 8 anos), 71,4% do sexo feminino. Os participantes realizaram pré e pós-tratamento em hidroterapia. As avaliações consistiram em manômetro, medidas de circunferência, pico de fluxo expiratório e teste para sentar e levantar por um minuto. O tratamento de hidroterapia durou uma hora, uma vez por semana, durante dez semanas. Resultados - A análise de os resultados mostraram que o tratamento teve influência positiva no aumento da pressão inspiratória máxima (51 ± 13 x 59 ± 11 cmH2O, P = 0,06, 95% Cl) melhora nos valores de flo pico expiratório (207 ± 54 x 243 ± 71, P = 0,01, 95% CI) e aumento da resistência muscular de os membros inferiores (21 ± 6 x 24 ± 6, p = 0,01, IC 95%). Conclusão - A hidroterapia tem se mostrado eficaz no aumento da força muscular, pico de fluxo expiratório e resistência muscular em indivíduos com síndrome de Down. Descritores: Hidroterapia; Síndrome de Down Resumo Objetivo - Investigar os efeitos da hidroterapia na função respiratória em pacientes com síndrome de Down. Métodos - Amostra encontrada de 7, com Síndrome de Down, com idade entre 12 e 37 anos (24 ± 8 anos), 71,4% do sexo feminino. Os participantes realizaram um pré e pós-tratamento na hidroterapia. As avaliações consistiam de manômetro, medidas de circunferência, pico de fluxo expiratório e teste de sentar e levantar em um minuto. O tratamento de hidroterapia duração de uma hora, uma vez por semana em dez semanas. Resultados - A análise dos resultados conhecidos que o tratamento teve impacto positiva no aumento da pressão inspiratória máxima (51 ± 13 x 59 ± 11 cmH2O, P = 0,06, 95% Cl) melhora nos valores do pico de fluxo expiratório (207 ± 54x243 ± 71, P = 0,01, 95% CI) e aumento da resistência muscular dos membros inferioes (21 ± 6 x 24 ± 6, P = 0,01, 95% Cl). Conclusão - A hidroterapia mostrou-se efetiva para o aumento da força muscular, pico de fluxo expiratório e resistência muscular nos obrigados com Síndrome de Down. Descritores: Hidroterapia; Síndrome de Down Introdução ment na função física dos indivíduos, incluindo força muscular 8 A técnica pode ser considerada os exercícios em meio líquido, utilizando as propriedades físicas da água para recuperação do movimento e pode ser benéfica em indivíduos com síndrome de Down. Assim, pode-se considerar a necessidade de investigar os efeitos da hidroterapia, força muscular, mobilização dinâmica do tórax e pico de fluxo respiratório, em indivíduos com SD. Na literatura existem poucos estudos sobre os efeitos da hidroterapia como técnica de reabilitação em pacientes com função respiratória na SD. Este estudo mostra os resultados de uma proposta de hidroterapia terapêutica e avalia a função pulmonar trazendo contribuições nesta área para os profissionais que atuam com esses pacientes. Na necessidade de investigar os efeitos da hidroterapia, força muscular, mobilização dinâmica do tórax e pico de fluxo respiratório, em indivíduos com SD. A síndrome de Down (SD) tem uma incidência de 1: 660 nascidos vivos 1 e pode aumentar de 12 a 13 vezes o custo da saúde em relação a não pacientes 2 É considerada uma anormalidade cromossômica comum, que geralmente é causada pela presença de um cromossomo 21 extra 1, causando grau variável de atraso no desenvolvimento motor, físico e mental. Essas mudanças nos sistemas aumentam o risco de complicações clínicas 3 - Infecções das vias aéreas superiores e / ou casos de pneumonia chegam a afetar 77,0% dos pacientes com SD 4 Além da anormalidade cromossômica, as anormalidades anatômicas favorecem o desenvolvimento de infecções respiratórias nessa população, que é a principal causa de hospitalização e, consequentemente, de mortalidade. Estudo prospectivo realizado no período de 1990 a 1999, encontrado em 45 indivíduos com SD avaliou a ocorrência de infecções respiratórias de repetição, sendo as mais comuns a pneumonia e a nasofarina (31 indivíduos), além de encontrar percentual significativo de cardiopatias em crianças. com recidivas de pneumonia (62,2%) 6 Devido à doença crônica, um dos objetivos do tratamento deve ser a prevenção das doenças respiratórias por meio da terapia adjuvante ao tratamento. A hidroterapia tem sido usada como tratamento não farmacológico em várias doenças 7, resultando em uma melhoria Métodos Projeto Trata-se de um estudo de caso prospectivo, elaborado de acordo com as Diretrizes e Normas de Regulação de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos do Conselho Nacional de Saúde e submetido ao Comitê Brasileiro de Ética em Pesquisa. J Health Sci Inst. 2014; 32 (3): 286-9 286 assuntos Foram considerados elegíveis para o estudo indivíduos com Síndrome de Down com diagnóstico de cariótipo. Foram excluídos os indivíduos com deficiência mental grave, com conhecimento limitado das técnicas de avaliação, com diagnóstico de cardiopatias congênitas não tratadas e qualquer outra patologia associada que afete a segurança do trabalho. Foram incluídos na amostra apenas aqueles indivíduos que tiveram o termo de consentimento assinado pelas mães. Intervenções As sessões de hidroterapia (Tabela 1) foram compostas por exercícios em posição ortostática com água a 110cm de altura, com temperatura da água entre 33 ° C e 34 ° C e temperatura ambiente entre 22 ° C e 25 ° C. Foram utilizados durante os exercícios aparelhos como bóias e / ou pesos, espaguete, perneiras e halteres no trabalho de exercícios de tonificação muscular, bolhas com canudos e / ou mergulho assistido. A respiração foi criada com atividades recreativas, como empurrar um canudo para soprar uma bolha de ar. Os exercícios terapêuticos utilizados nas sessões de hidroterapia foram alongamentos, exercícios aeróbicos como caminhada, marcha estacionária e exercícios resistidos para membros superiores e inferiores com ou sem halteres. O treinamento foi realizado equilíbrio estático, treinamento dinâmico e aeróbio por meio de atividades como caminhada na água, agachamento. Medidas de resultados No início e ao final dos três meses de tratamento, foram realizadas as medidas antropométricas (peso, altura e índice de massa corporal), respiratórias (transdutor de pressão, expansão torácica e pico de fluxo expiratório) e resistência muscular de membros inferiores. I - antropométrico Avaliamos o índice de massa corporal (IMC), que é calculado dividindo-se o peso corporal (kg) pela altura (cm) ao quadrado. O peso corporal foi medido em balança digital e a estatura em fita métrica. II - Avaliação Respiratória Manômetro - Para a medição das pressões respiratórias máximas foi utilizado um manômetro analógico classe B, calibrado em cmH 2 O. O manômetro foi conectado a uma traqueia de plástico. No final da traqueia foi conectada a uma máscara facial de silicone Nevoni, o que facilitou o teste devido à hipomobilidade apresentada pelos participantes. As medidas foram realizadas com os sujeitos sentados e estabeleceram uma faixa de aproximadamente 1 minuto entre cada manobra, sendo realizadas seis das seis manobras de pressão inspiratória máxima (PImáx) e pressão expiratória máxima (PEmáx). Calculamos os valores previstos para PImáx e PEmáx, segundo as equações de referência, segundo gênero e idade. 6 Expansão torácica: a expansão torácica foi medida pelas circunferênciasdo tórax em pontos axilares e mamilos xifóides com o uso de esparadrapo, ambos realizados em inspiração silenciosa, na posição sentada. Pico de fluxo expiratório (PFE): para a mensuração do PFE foi utilizado um medidor de pico de fluxo. O indivíduo foi orientado a permanecer em pé, flexionando a coluna vertebral e segurando o fone horizontalmente para manter as saídas desobstruídas. Em seguida, ele respira fundo, coloca o rádio em sua boca entre os dentes e fecha os lábios em torno do microfone. Ele expira forte e rápido. Registramos 3 medições de cada indivíduo. Resistência muscular de membros inferiores (MELL): o sujeito foi orientado a realizar o teste de sentar e ficar em pé por um minuto, onde deveria sentar-se em uma cadeira com as costas apoiadas no encosto da cadeira e logo após se levantar e estender os joelhos após sentar-se tocando novamente no encosto da cadeira, o indivíduo deve realizar o maior número de repetições em um minuto. Análise estatística Os dados foram analisados no PASW Statistical 18.0 (versão 18.0, PASW, Chicago, Illinois). Os dados foram expressos em média e desvio padrão. Para verificar a normalidade foi utilizado o Kolmogorov-Smirnov e a comparação entre as variáveis foi realizada por meio do t teste. Foi considerado significativo P < 0,05 em um intervalo de confiança de 95%. Resultados Conforme mostrado na Tabela 1, os participantes tinham de 12 a 37 anos (24 ± 8 anos), 71,4% do sexo feminino. Os indivíduos tinham 1,50 ± 0,12m, sem diferença antes e depois do tratamento no IMC (68,11 ± 21,37 x 68,49 ± 22,71, P = 0,58, IC 95%). Também não temos diferenças nas medidas de expansão torácica ( P> 0,05, IC 95%). A maioria dos indivíduos testados mostrou Tabela 2. Características antropométricas e mobilidade do cavidade torácica de indivíduos com síndrome de Down Pré-tratamento Média (DP) Peso corporal (kg) 68,11 ± 21,37 IMC (kg / m 2) 29,98 ± 6,43 Dinâmica axilar cirtometria (cm) Mamário dinâmico cirtometria (cm) Xifóide dinâmica cirtometria (cm) Pós tratamento Média (DP) 68,49 ± 22,71 30,08 ± 6,69 p * 0,58 0,71 Tabela 1. Composição das sessões de hidroterapia, de acordo com o tempo de tratamento Primeiro mês 5 min de global alongamento Segundo mês 10 min aeróbico 10 min de exercício respiração (caminhando) exercícios 10 min para 10 min de fortalecer LL respiração exercícios Terceiro mês 1,4 ± 0,53 2,0 ± 0,45 0,36 1,4 ± 0,24 1,6 ± 0,60 0,69 10 min para fortalecer UL 5 min de relaxamento 1,4 ± 0,24 1,2 ± 0,50 0,53 DP: desvio padrão; Kg: quilogramas; m: metros; IMC: índice de massa corporal. * CI: 95%. min: minutos; UL: membros superiores; LL: abaixa os membros. Albarello MJ, Pelegrini MC, Mohr F, Strassburger SZ, Winkelmann ER. 287 J Health Sci Inst. 2014; 32 (3): 286-9 um IMC acima do intervalo normal estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (3 indivíduos) e após o tratamento, sem diferença significativa no IMC médio (29,98 ± 6,43 x 30,08 ± 6,69, P = 0,71, IC 95%) (Tabela 2). O tratamento de hidroterapia resultou em um aumento em MIP (39 ± 13 x 57 ± 14cmH 2 O, P = 0,021, IC 95%), No entanto, apesar do aumento na média, não alterar significativamente a PEmáx (51 ± 13 x 59 ± 11cmH 2 O, P = 0,06, IC 95%) (Figura 1). Na análise da RML mostrou que o tratamento hidroterapêutico também exerceu influência positiva ao aumentar significativamente o número de repetições realizadas pelos indivíduos (P = 0,012, IC95%) (Figura 3). Discussão Neste estudo demonstramos que a hidroterapia pode aumentar a força muscular (Figura 1), o pico de fluxo expiratório (Figura 2) e a RML (Figura 3) em indivíduos com síndrome de Down. A importância desse achado se deve ao fato de que a fraqueza dos músculos respiratórios contribui para o aparecimento de doenças respiratórias nesses indivíduos. 4 Em relação ao perfil da amostra, verificamos que a maioria dos indivíduos atendia aos valores de IMC acima da normalidade, corroborando os achados da literatura para esta população. 4 No entanto, embora a obesidade seja considerada um fator de risco para distúrbios respiratórios 9 a 10, o tratamento com hidroterapia não exerceu influência sobre essa característica. Na cirtometria dinâmica auxiliar e mamilo xifóide os valores foram inferiores ao esperado, evidenciando uma diminuição da mobilidade torácica nesses indivíduos. Isso pode ser explicado pela alta ocorrência de hipotonia em indivíduos com síndrome de Down que, ao nascer, podem atingir cerca de 93,0% dos casos. Assim, faz-se necessária a aplicação de terapias que visem melhorar as circunferências de otimização dinâmica, logo a mobilidade do tórax. Observando os achados de força muscular respiratória, verifica-se que os valores da amostra estão bem abaixo do limite para PImáx e PEmáx tanto para pré, 34,9% e 46,5% do previsto, e após tratamento, 53,2% e 53, 8%, respectivamente, mostrando alterações na integridade dos músculos respiratórios. Em relação aos dados de pico de fluxo expiratório, podemos observar que na Figura 2 este aumentou após o tratamento com hidroterapia (207 ± 54 x 243 ± 71, P = 0,009, IC 95%). J Health Sci Inst. 2014; 32 (3): 286-9 288 Hidroterapia na Síndrome de Down Conforme relatado na literatura 10, em nossa amostra houve melhora da PImáx, demonstrando a eficácia do tratamento utilizado para a função pulmonar. Essa eficácia pode estar relacionada às atividades atribuídas ao indivíduo durante a sessão, como respiração consciente, manutenção da flutuabilidade, manobras de propulsão e uso da capacidade funcional durante alguns exercícios. Esse aumento na PImáx também pode ser devido à maior resistência existente em meio às quais foram realizados exercícios na água. No meio aquático ocorre um aumento de cerca de 60,0% no trabalho respiratório. Esse aumento ocorre pela ação da pressão hidrostática, que resiste à expansão torácica e ao aumento do volume sanguíneo no peito devido aos efeitos do cancelamento da gravidade pela flutuabilidade da água. Para o aumento óbvio da PImáx encontrado neste estudo, assume-se que os músculos aspiratórios podem ser treinados com hidroterapia. Concordando com os achados da literatura, que afirmam que os músculos respiratórios podem ser treinados para melhorar sua força e resistência 11 O pico de fluxo expiratório aumentou após o tratamento com hidroterapia. Este endpoint é comumente usado em serviços que trabalham com reabilitação respiratória como referência para avaliação do tratamento utilizado 12-13 e como critério para diagnóstico de doenças 14, referindo-se à ideia de que o tratamento com hidroterapia pode ser eficaz em indivíduos com síndrome de Down. Porém, apesar do aumento do pico de fluxo respiratório, os indivíduos não atingiram o pretendido, talvez na época do tratamento aplicado na amostra. A avaliação da resistência muscular (Figura 3) mostrou um efeito benéfico da hidroterapia em sobre este parâmetro. Estudo com idosos em hidroterapia, corroborado com os achados do nosso estudo, referindo-se à eficácia da hidroterapia, também, na resistência dos membros inferiores. Assim, a hidroterapia melhorou a força muscular respiratória, o pico do fluxo respiratório e a resistência muscular dos membros inferiores em indivíduos com síndrome de Down. Pode ser considerada uma boa alternativa de tratamento para pacientes com SD. Conclusão A hidroterapia tem se mostrado eficaz no aumento da força muscular, pico de fluxo expiratório e resistência muscular em indivíduos com síndrome de Down. Referências 1. Devlin L, Morrison PJ. Precisão do diagnóstico clínico da Síndrome de Down. Ulster Med J. 2004; 73: 4-12. 2. Wilmott RW. O custo de cuidar da síndrome de down. J Pediatr. 2008; 153 (2): A1. 3. SlonimDK, Koide K., Johnson KL. A análise genômica funcional do mRNA livre de células do líquido amniótico sugere que o estresse oxidativo é significativo em fetoscom síndrome de Down. Proc Natl Acad Sei USA. 2009; 106 (23): 9425-9. 4. Bertelli ECP, Biselli JM, Bonfim D. Perfil clínico de crianças com síndrome de down atendidas em um ambulatório de genética do Sudeste do Brasil. Rev Assoc Med Bras. 2009; 55 (5): 547-52. 5. Soares JA, Barboza MAI, Croti UA, Foss MHDA, Moscardini AC. Distúrbios respiratórios em crianças com Síndrome de Down. Arq Ciênc Saúde. 2004; 11 (4): 230-3 6. 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