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AULA 5 GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS PARA TOMADA DE DECISÃO Prof. Carlos Ubiratan da Costa Schier 2 CONVERSA INICIAL Como sabemos, no que se refere às organizações, a contabilidade é seguramente o que há de mais importante no contexto de diagnóstico empresarial. Isso porque absolutamente tudo, isto é, todas as operações devem ser objeto de registro, quer demandem lançamento ou variação de valores monetários ou não, devendo obrigatoriamente por lei refletir a realidade financeira, operacional e de controle patrimonial. O registro dos custos é parte importante desse cenário. CONTEXTUALIZANDO Uma das partes indispensáveis do contexto de apuração de resultados é o registro adequado dos custos apurados e efetivos. Além da correta apuração dos custos, na busca do melhor resultado na operação, o lançamento desses custos contribui para refletir a realidade a partir dos relatórios, sendo um fator facilitador no processo de tomada de decisão. TEMA 1 – ESTRUTURA DA CONTABILIDADE DE CUSTOS 1.1 Contabilidade gerencial A contabilidade gerencial pode ser caracterizada como um enfoque especial conferido a várias técnicas e procedimentos contábeis tratados na contabilidade financeira, de custos, na análise financeira e de balanços etc., colocados num grau de detalhe mais analítico ou numa forma de apresentação e classificação diferenciada, de maneira a auxiliar os gestores no processo decisório. Há alguns estágios da evolução da contabilidade gerencial: Antes de 1950: foco na determinação do custo e no controle financeiro, por meio do uso de tecnologias de orçamento e contabilidade de custos. Meados de 1965: fornecimento de informação para o controle e o planejamento gerencial, por meio do uso de tecnologias como análise de decisão e contabilidade por responsabilidade. Por volta de 1985: redução de desperdício de recursos usados nos processos de negócios, por meio do uso das tecnologias de análise do processo e administração estratégica de custos. 3 Após 1995: geração ou criação de valor a partir do uso efetivo dos recursos, por meio do uso de tecnologias como exame dos direcionadores de valor ao cliente, valor para o acionista e inovação organizacional. TEMA 2 – CONTABILIDADE FINANCEIRA É uma ciência que possibilita, por meio de suas técnicas, o controle do patrimônio das organizações, e indica a situação atualizada desse patrimônio num momento estático. A Contabilidade sofre muita influência dos limites e critérios fiscais, principalmente da legislação do imposto de renda. Seu campo de aplicação abrange todas as entidades econômico-administrativas: de direito público (união, estados, municípios, autarquias etc.); de direito privado (empresas de pequeno, médio e grande portes, fundações, cooperativas, ONGs, entidades com ou sem fins lucrativos). Os principais usuários da contabilidade são: gestores; fisco; instituições financeiras; fornecedores; auditores internos e externos; clientes. No que se refere à legislação geral específica de contabilidade, temos a Lei Federal n. 11.638, sancionada em 28 de dezembro de 2007 e com vigência a partir de 1º de janeiro de 2008 (Brasil, 2007), que altera parte contábil da Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976 – Lei das Sociedades Anônimas (Brasil, 1976b), e da Lei n. 6.385, de 7 de dezembro de 1976, que dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários – CVM (Brasil, 1976a). A Lei n. 11.638/2007 e a Lei n. 11.949, de 17 de junho de 2009 (Brasil, 2009), introduzem significativos avanços à contabilidade em termos de demonstrativos financeiros. Em seu art. 177, a Lei n. 6.404/1976 dita que a escrituração contábil deve ser feita seguindo-se os preceitos da Lei das S/A, além dos princípios de contabilidade geralmente aceitos. 4 TEMA 3 – INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS A princípio, a contabilidade de custos, derivada da contabilidade financeira, foi concebida como um instrumento para a resolução dos problemas da mensuração monetária dos estoques e do resultado das organizações, não sendo num primeiro momento utilizada como ferramenta gerencial de administração. Por ter sido utilizada parcialmente, a contabilidade de custos ficou por um longo período estagnada, não evoluiu nem foi valorizada como instrumento de gestão. A partir do crescimento das empresas, do acirramento da concorrência, da necessidade de controles e da racionalização efetiva sobre os custos, a contabilidade de custos, em que pese ter sido criada para avaliação dos estoques, após algumas adaptações, começou a ser aproveitada também como instrumento de gestão. Nessa nova atividade, exerce duas funções de relevante importância: auxílio ao controle e auxílio à tomada de decisões. No que tange ao controle, fornece dados para o estabelecimento de padrões, auxilia na confecção dos orçamentos e proporciona o acompanhamento dos valores orçados com os efetivamente realizados. Quanto à tomada de decisões, contribui de forma efetiva, por meio das informações que disponibiliza, para a administração de preço de venda, da opção de compra ou não, de produzir ou não produzir etc. Com a nova forma de utilização da contabilidade de custos, ocorreu seu aproveitamento fora da área industrial, pois empresas de prestação de serviços, comerciais e instituições financeiras passaram a explorar o seu potencial para controle e tomada de decisões. TEMA 4 – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE CONTABILIDADE APLICADOS A CUSTOS Os princípios contábeis são normas adotadas e consideradas adequadas para demonstrar o patrimônio de uma empresa e as mutações nele ocorridas num determinado período. Inicialmente, temos de considerar que: a contabilidade de custos deve estar integrada e coordenada com a contabilidade mercantil; 5 a contabilidade mercantil é regida por princípios contábeis, portanto torna- se necessário que o profissional atuante na área de custos conheça esses princípios e sua aplicação no desenvolvimento de suas atividades. 4.1 Princípio da realização da receita A receita é considerada realizada e, portanto, passível de registro pela contabilidade, quando produtos ou serviços produzidos ou prestados pela entidade são transferidos para outra entidade ou pessoa física, com a anuência destas e mediante pagamento ou compromisso de pagamento especificado perante a entidade produtora [...]” (Brasil, 1976b). Portanto, as indústrias só reconhecem o resultado obtido em sua atividade quando da realização da receita, ou seja, no momento em que há a transferência do bem elaborado para o adquirente. 4.2 Princípio do confronto das despesas com as receitas e com os períodos contábeis Toda despesa diretamente delineável com as receitas reconhecidas em determinado período, com as mesmas deverá ser confrontada; os consumos ou sacrifícios de ativos (atuais e futuros), realizados em determinado período e que não puderam ser associados à receita do período nem às dos períodos futuros, deverão ser descarregados como despesa do período em que ocorrerem [...]. Este princípio é também conhecido como Regime de Competência, e quer dizer que as receitas realizadas no período devem ser confrontadas, no mesmo período, com as despesas ou custos que as geraram. As informações contábeis somente serão úteis se forem consistentes, e a aplicação deste princípio é essencial para a determinação do resultado correto do período. 4.3 Princípio do custo como base de valor O custo de aquisição de um ativo ou mais insumos necessários para fabricá-lo e colocá-lo em condições de gerar benefícios para a entidade representa a base de valor para a contabilidade, expresso em termos de moeda de poder aquisitivo constante [...]. Isso quer dizer que as aquisições de ativos (inclusive estoques) deverão ser contabilizadas pelo seu valor histórico,pelo seu valor de compra ou aquisição. 6 4.4 Princípio da consistência ou uniformidade A contabilidade de uma entidade deverá ser mantida de forma tal que os usuários das demonstrações contábeis tenham possibilidade de delinear a tendência da mesma com menor grau de dificuldade possível [...]. Essa convenção informa que depois que a contabilidade adotou determinado critério de avaliação de um ativo, ela deverá adotar esse critério uniformemente ao longo dos exercícios. Significa dizer que a alternativa adotada deve ser utilizada sempre, e, se houver necessidade de mudança, a contabilidade deverá informar por meio de nota explicativa a razão da mudança de critério e a consistência do processo adotado. 4.5 Princípio do conservadorismo ou prudência Entre conjuntos alternativos de avaliação para o patrimônio, igualmente válidos, segundo os Princípios Fundamentais, a contabilidade escolherá o que apresentar o menor valor atual para o ativo e o maior valor para as obrigações [...]. Na dúvida, a contabilidade deve optar pela forma mais conservadora de escrituração: na realização de ativos, na dúvida, a contabilidade deve lançar o valor menor; no cumprimento das obrigações, na dúvida, a contabilidade deve lançar o valor maior. 4.6 Princípio da materialidade ou relevância O contador deverá sempre avaliar a influência e materialidade da informação evidenciada ou negada para o usuário à luz da relação custo x benefício, levando em conta aspectos internos do sistema contábil [...]. A contabilidade deve sempre procurar a exatidão numérica no lançamento, desde que o custo dessa exatidão não seja prejudicial à empresa. Valores relevantes devem ter análise muito mais apurada do que os valores pequenos, que podem ser tratados de forma mais simples. TEMA 5 – ESQUEMA BÁSICO DA CONTABILIDADE DE CUSTOS 1. Primeiro passo: separação de custos e despesas Supondo-se que os gastos da Empresa Indústria em determinado período sejam os seguintes: 7 TIPO DE GASTO VALOR $ Matéria-prima consumida 200.000 Salários da administração 30.000 Comissões de vendas 20.000 Correios e telégrafos 3.000 Material de expediente – escritório 2.000 Energia elétrica – fábrica 40.000 Salários – fábrica 60.000 Depreciação – fábrica 15.000 Água – fábrica 25.000 Manutenção – fábrica 35.000 Telefone 2.000 Despesas financeiras 20.000 Fretes para entrega 25.000 Seguros – fábrica 13.000 Total do gastos/mês X1 490.000 A primeira providência é a separação dos custos de produção, e, consequentemente, os gastos ficarão distribuídos da seguinte forma: CUSTOS DE PRODUÇÃO VALOR $ Matéria-prima consumida 200.000 Energia elétrica – fábrica 40.000 Salários – fábrica 60.000 Depreciação – fábrica 15.000 Água – fábrica 25.000 Manutenção – fábrica 35.000 Seguros – fábrica 13.000 Total 388.000 8 DESPESAS ADMINISTRATIVAS VALOR $ Telefone 2.000 Correios e telégrafos 3.000 Salários da administração 30.000 Material de expediente – escritório 2.000 Total 37.000 DESPESAS COMERCIAIS VALOR $ Comissões de vendas 20.000 Fretes para entrega 25.000 Total 45.000 DESPESAS FINANCEIRAS VALOR $ Despesas financeiras 20.000 Total 20.000 2. Segundo passo: apropriação dos custos diretos Supondo-se que a Empresa Indústria elabore dois produtos diferentes, denominados X e Y, deve-se proceder à distribuição dos custos diretos de produção, considerando que 50% do valor da mão de obra seja custo indireto e que 60% da despesa com água seja custo direto. a. Para matéria-prima, utiliza-se o sistema de requisições, proporcionando alocação direta do consumo aos produtos: MATÉRIA-PRIMA VALOR $ Produto X 150.000 Produto Y 50.000 Total 200.000 9 b. Distribuição do custo com mão de obra e do gasto com água, observando que 50% do valor é custo indireto e que 60% do gasto com água é direto: MÃO DE OBRA Produto Mão de obra direta Mão de obra indireta X 22.500 Y 7.500 30.000 Total 30.000 30.000 GASTOS COM ÁGUA Produto Gasto direto Gasto indireto X 11.250 Y 3.750 10.000 Total 15.000 10.000 c. Quadro-resumo da apropriação dos custos diretos: CUSTOS DIRETOS CUSTOS INDIRETOS TOTAL Tipos de Gastos Produto X Produto Y Matéria- prima 150.000 50.000 200.000 Energia elétrica 40.000 40.000 Mão de obra 22.500 7.500 30.000 60.000 Água 11.250 3.750 10.000 25.000 Manutenção 35.000 35.000 Seguro 13.000 13.000 10 Depreciação 15.000 15.000 Total 183.750 61.250 143.000 388.000 3. Terceiro passo: apropriação dos custos indiretos Nesta etapa, vamos alocar os custos indiretos no montante de $ 143.000 aos produtos X e Y. Para estabelecer os percentuais a serem apropriados, utilizaremos a proporção de cada produto constante no quadro-resumo de apropriação dos custos diretos, a saber: CUSTOS DIRETOS CUSTOS INDIRETOS TOTAL Produto $ % $ % $ X 183.750 75 107.250 75 291.000 Y 61.250 25 3 5.750 25 97.000 Total 245.000 100 143.000 100 388.000 Podemos concluir que os custos de produção dos produtos X e Y são os acima especificados na coluna total de cada produto. FINALIZANDO Nesta aula, vimos a importância dos registros das operações de custos na contabilidade das organizações, sua obrigatoriedade para refletir de forma consistente perante os órgãos fiscalizadores o que ocorre em termos de custos, bem como sua contribuição para o processo de gestão dos negócios e de tomada de decisão. O registro das operações, observando-se os preceitos geralmente aceitos e utilizados universalmente, facilita a comparação para fins de análise crítica de nossa organização, especialmente com relação aos demais concorrentes. 11 LEITURA COMPLEMENTAR Texto de abordagem teórica STEIMETZ, I. B. Contabilidade de custos: sua importância às organizações. Portal da Classe Contábil, 2008. Disponível em: <https://www.classecontabil.com.br/contabilidade-de-custos-sua-importancia-as- organizacoes/>. Acesso em: 28 maio 2018. Artigo que trata da contabilidade de custos no contexto de contabilidade financeira e gerencial, demonstrando sua importância e contribuição no processo de gestão de negócios e tomada de decisão com base no registro dos custos. Texto de abordagem prática DUMER, M. C. R. et al. Percepção de importância da contabilidade de custos na produção de café no contexto da agricultura familiar do ES. Revista de Agronegócio – Reagro, Jales, v. 6, n. 1, p. 30-40, jan./jun. 2017. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/323018775_PERCEPCAO_DE_IMPOR TANCIA_DA_CONTABILIDADE_DE_CUSTOS_NA_PRODUCAO_DE_CAFE_NO _CONTEXTO_DA_AGRICULTURA_FAMILIAR_DO_ES>. Acesso em: 28 maio 2018. Esse artigo fala da importância do registro das movimentações nos custos, o que remete a uma análise crítica apurada e contribui para a competitividade dos empreendimentos rurais. Saiba mais Filmes OS INTOCÁVEIS. Direção: Eric Toledano e Olivier Nakache. França: 2011. 112 min. Demonstra a importância da contabilidade e indica como ela serve como comprovação das atividades e registro das operações, bem como sua influência na gestão das organizações. A FRAUDE: uma história real. Direção: James Dearden. Reino Unido: 1999. 101 min. 12 Fala sobre o processo de fraude de registros e suas consequências na gestão dos negócios. ENRON: os mais espertos da sala. Direção: Alex Gibney. EUA: 2005. 109 min. Filme clássico sobre fraudes em registros contábeis e no processo de governança corporativa. Artigo LOGULLO, F. Contabilidade de custos: desvendando os seus mistérios. Controle Financeiro, [S.d.]. Disponível em: <http://controlefinanceiro.granatum.com.br/dicas/contabilidade-de-custos- desvendando-os-seus-misterios/>. Acesso em: 28 maio 2018. Remete à análise e ao entendimento sobre a importância da contabilidadede custos na gestão dos negócios e seu reflexo no sucesso e na eficácia das organizações. 13 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 6.385, de 7 de dezembro de 1976. Dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 7 dez. 1976a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6385.htm>. Acesso em: 29 maio 2018. _____. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 dez. 1976b. Disponível em: <http://www.normaslegais.com.br/legislacao/contabil/lei6404_1976.htm>. Acesso em: 29 maio 2018. _____. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei n. 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 28 dez. 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm>. Acesso em: 29 maio 2018. _____. Lei n. 11.949, de 17 de junho de 2009. Dá nova redação à Lei n. 10.304, de 5 de novembro de 2001, que transfere ao domínio dos Estados de Roraima e do Amapá as terras pertencentes à União e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 jun. 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11949.htm>. Acesso em: 29 maio 2018. MARTINS, E. Contabilidade de Custos. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. PADOVEZE, C. L. Curso básico gerencial de custos. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cengage Learning, 2011. SCHIER, C. U. da C. Gestão de Custos. 2. ed. rev., ampl. e atual. Curitiba: IBPEX, 2011a. _____. Gestão prática de custos. 1. ed. 4. reimp. Curitiba: Juruá, 2011b.