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SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO – USP PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA JANAÍNA GONÇALVES DOS SANTOS ATIVIDADES PEDAGÓGICAS EM CONTEXTO HOSPITALAR: UMA REVISÃO DA LITERATURA. RIBEIRÃO PRETO 2008 SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO – USP PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA JANAÍNA GONÇALVES DOS SANTOS ATIVIDADES PEDAGÓGICAS EM CONTEXTO HOSPITALAR: UMA REVISÃO DA LITERATURA. Monografia apresentada ao Programa de Aprimoramento Profissional em Psicopedagogia Clínica da Secretaria de Estado da Saúde, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP, como requisito para obtenção de certificação de aprimoramento profissional. Orientadora: Profª Drª. Maria Beatriz Martins Linhares. (Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP). RIBEIRÃO PRETO 2008 À minha mãe, meus irmãos, padrinho e sobrinhos, pessoas essenciais em minha vida. AGRAGRAGRAGRADECIMENTOSADECIMENTOSADECIMENTOSADECIMENTOS À minha mãe, por todo amor e incentivo nesses anos de estudos. À minha irmã Daniela e ao meu padrinho Sandro, por todo esforço e amor despendido na formação de meu ser, pessoas sem as quais não teria chegado até aqui. Às minhas amigas, Andresa, Lara, Letícia e Valéria, por todo companheirismo e alegria nesse período de aprimoramento, amigas que levarei comigo por onde for. À minha orientadora, Profª Beatriz, por toda paciência ao transmitir o conhecimento. Às crianças, pois sem elas, nada disso teria sentido. “Ensinar não é uma função vital, porque não tem o fim em si mesma; a função vital é aprender”. (Aristóteles) SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO..........................................................................................8 1.1 OBJETIVO.....................................................................................11 2. MÉTODO.............................................................................................. ...11 3. RESULTADOS.........................................................................................12 4. DISCUSSÃO............................................................................................17 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................22 6 RREESSUUMMOO O ambiente hospitalar causa medo e angústia aos pacientes muitas vezes por sentirem-se em um ambiente pouco acolhedor, longe da família e do círculo social que estão acostumados. Focalizando a infância, pode-se ressaltar que o adoecimento nesse período de vida pode consistir em um fator de risco ao desenvolvimento da criança. Com o intuito de se preservar o aprendizado das crianças enfermas surge o trabalho pedagógico hospitalar. Tendo em vista a situação da educação das crianças hospitalizadas, bem como é oferecido esse atendimento propõe-se o presente estudo a fim de obter um panorama sobre atendimento pedagógico às crianças hospitalizadas. Procedeu-se à busca exclusivamente de artigos indexados em base de dados eletrônicas, a partir de pesquisa na Biblioteca Virtual em Saúde (LILACS e SciELO), sem especificação de ano de publicação. Os artigos foram pré-selecionados a partir dos resumos disponíveis on line, somente 10 foram compatíveis com o tema da presente revisão. Sendo seis de língua portuguesa e quatro de língua espanhola. Avaliar a eficiência do trabalho pedagógico nos hospitais é um fator importante para que as crianças tenham seu direito à educação garantidos e com qualidade, não basta apenas descrever como é a estrutura do trabalho ou apenas medir a quantidade, investir na qualidade é fator decisivo para a eficiência do trabalho pedagógico hospitalar. hospital é uma instituição com contexto de promoção da saúde que visa preservar o desenvolvimento do ser humano. A criança tem o direito a proteção, a vida e a saúde com absoluta prioridade e sem qualquer forma de discriminação, para que esse direito seja preservado é necessário que ela tenha uma continuidade de sua 7 escolarização dentro do hospital, para isso é realizado o trabalho pedagógico com crianças e adolescentes. Mas o que é feito para que esse direito seja garantido? Que tipo de estrutura é necessário? E como trabalhar com as crianças e adolescentes internados? A partir dessas indagações, este estudo apresentou pesquisas que apresentassem a situação das atividades pedagógicas nos hospitais tratados em segundo plano. Torna - se necessário, portanto, estudos que visem aprofundar a sistematização do trabalho pedagógico hospitalar, ressaltando a importância e a relevância desse trabalho ao desenvolvimento da criança e do adolescente hospitalizado. 8 1. INTRODUÇÃO O contexto hospitalar causa medo e angústia aos pacientes muitas vezes por sentirem-se em um ambiente pouco acolhedor, longe da família e do círculo social que estão acostumados. Focalizando a infância, pode-se ressaltar que o adoecimento nesse período de vida pode consistir em um fator de risco ao desenvolvimento da criança. Kazak e cols (1995) referem-se à instituição hospitalar como um contexto de promoção de saúde para a criança e para a família, mas é necessário que o hospital seja incluído como parte integrante do contexto social da criança doente, pois este influenciará na trajetória de seu desenvolvimento. A doença pode afetar a criança em diferentes contextos, prejudicando seu desenvolvimento no processo de escolarização, nas relações sociais com amigos e familiares. Nesse contexto de hospitalização, surge a preocupação de proteger o contexto da aprendizagem dessas crianças enfermas (Crepaldi et al, 2006). Rolland (2001) afirma que quando crianças têm doenças crônicas sua sensibilidade emocional fica maximizada e podem interferir na rotina e no tratamento médico a longo prazo. Para as crianças hospitalizadas a maior queixa da hospitalizaçãoé a impossibilidade de fazerem o que as crianças saudáveis da mesma idade podem fazer, como exemplo freqüentar a escola. Outro fator importante da hospitalização é a criança compreender o histórico de sua doença para que assim não se sinta desamparada, para que isso ocorra é necessário que todos do hospital trabalhem em equipe de modo a preservar o desenvolvimento da criança. Fatores relevantes devem ser considerados na adaptação da criança 9 hospitalizada, sua idade e momento de desenvolvimento emocional e cognitivo, o diagnóstico médico, a duração da hospitalização, as habilidades e condições emocionais dos pais para apoiar a criança, a representação da doença e as estratégias de enfrentamento utilizadas pela criança e pela família. O artigo 214 da Constituição Federal afirma que as ações do Poder Público devem conduzir à universalização do atendimento escolar. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional assegura que o Poder Público criará formas alternativas de acesso aos diferentes níveis de ensino (LDB art. 5º § 5º). Com o intuito de se preservar o aprendizado das crianças enfermas surge o trabalho pedagógico hospitalar, que apresenta diversas interfaces de atuação e está sob diferentes olhares que o tentam compreender, explicar e construir um modelo que o possa enquadrar. No entanto, é preciso deixar claro que tanto a Educação não é elemento exclusivo da escola quanto a Saúde não é elemento exclusivo do hospital. Segundo definição do Ministério da Educação (Brasil, 1995), o hospital é um centro de educação, parte integrante de uma organização médica e social, cuja função básica consiste em proporcionar à população assistência médica integral, curativa e preventiva, sob quaisquer regimes de atendimento, inclusive o domiciliar, constituindo-se também em centro de educação, capacitação de recursos humanos e de pesquisas em saúde, bem como de encaminhamento de pacientes, cabendo- lhe supervisionar e orientar os estabelecimentos de saúde a ele vinculados tecnicamente. A concepção de classes escolares em hospitais é conseqüência da importância formal de que crianças hospitalizadas, independentemente do período de permanência na instituição, têm necessidades educativas e direito de cidadania, 10 onde se inclui a escolarização. De acordo com a Constituição de 1988, a Educação é direito de todos e dever do Estado e da família. O direito à Educação se expressa como direito à aprendizagem e à escolarização. A escola é o lugar fundamental para o encontro do educando com o saber sistematizado. Porém para possibilitar o acompanhamento pedagógico e educacional e garantir a continuidade do procedimento escolar de crianças e jovens do ensino regular, garantindo a conservação da conexão com a escola de origem, por meio de um currículo flexível e adaptado da ação docente, a Secretaria de Educação em convênio firmado com a Secretaria de Saúde criou um programa de acolhimento diferenciado às crianças e jovens internados em hospitais. A criança tem seu direito à educação garantida pelo (ECA art. 3º). A criança e o jovem que se encontre hospitalizado terá necessidade de atendimento especial. Para que os mesmos não percam a ligação com a escola, é oferecido atendimento sistemático e diferenciado, no âmbito da Educação Básica, individual ou coletivo em Classe Hospitalar ou no leito, conforme a necessidade do educando que se encontra incapaz de freqüentar a escola provisoriamente. Além de um ambiente próprio para a Classe Hospitalar, o acompanhamento poderá ser feito na enfermaria, no leito ou no quarto de isolamento, uma vez que as restrições conferidas ao educando por sua condição clínica ou de tratamento assim requeiram. Mesmo em condições especiais de tratamento e saúde, crianças e adolescentes têm o direito de desfrutar de atividades pedagógicas com acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência no hospital. Dessa forma, é preciso deixar claro que a hospitalização não implica necessariamente qualquer limitação ao aprendizado escolar. Esse direito é garantido oficialmente pela Política Nacional de Educação Especial (MEC/SEESP, 1994), aparecendo como modalidade de ensino e de onde 11 decorre a nomenclatura de classe hospitalar. No entanto, o acompanhamento da criança em classe hospitalar é de caráter temporário. Concluído o tratamento de saúde, no momento em que recebe alta hospitalar, a criança é encaminhada à escola de origem e a contribuição do atendimento em classe hospitalar é essencial para sua reintegração ao sistema regular de ensino. Ceccim (1999) afirma que o acompanhamento pedagógico e escolar da criança hospitalizada favorece a construção subjetiva de uma estabilidade de vida não apenas como elaboração psíquica da enfermidade e da hospitalização, mas, principalmente, como continuidade e segurança diante dos laços sociais da aprendizagem (relação com os colegas e relações de aprendizagens medidas por professor), o que nos permite falar de uma escola “hospitalar” ou de uma “classe escolar” em ambiente hospitalar. Tendo em vista a situação da educação das crianças hospitalizadas, bem como é oferecido esse atendimento propõe-se o presente estudo a fim de obter um panorama sobre atendimento pedagógico às crianças hospitalizadas. 1.1 OBJETIVO O presente estudo teve por objetivo analisar a produção científica publicada em periódicos indexados, sobre o contexto do ensino às crianças e adolescentes dentro das unidades hospitalares. 2. MÉTODO Procedeu-se à busca exclusivamente de artigos indexados em base de dados eletrônicas, a partir de pesquisa na Biblioteca Virtual em Saúde (LILACS e SciELO) , 12 sem especificação de ano de publicação. Os artigos foram pré-selecionados a partir dos resumos disponíveis on line, somente 10 foram compatíveis com o tema da presente revisão, sendo seis de língua portuguesa e quatro de língua espanhola. 3. RESULTADOS Inicialmente, foram encontrados 10 artigos sendo dois deles com o mesmo conteúdo, porém, com títulos diferentes. Dos 10, apenas oito foram selecionados. Três deles apresentaram dados empíricos e cinco qualitativos. Optou-se por agrupar os artigos em três blocos distintos, o primeiro com artigos que relatam experiências da Pedagogia nos hospitais. O segundo bloco inclui apenas um artigo com discussão conceitual sobre o tema e o terceiro bloco que traz artigos empíricos sobre o tema da presente revisão. Experiência da Pedagogia nos Hospitais O primeiro bloco apresenta os artigos com análise qualitativa. Na maioria dos artigos tratam de relatos de experiência da pedagogia nos diferentes tipos de hospitais. Sassi e cols (2004) com o trabalho “Pedagogia Hospitalar Projeto desenvolvido pela Universidade Estadual de Ponta Grossa” teve por objetivo apresentar um projeto de extensão e analisar a função da prática pedagógica com as crianças hospitalizadas. Por meio de visitas há dois hospitais, Hospital da Criança João Vargas de Oliveira e Hospital Santana Unimed, da cidade de Ponta Grossa (PR). Durante as visitas, foram realizadas observações, entrevistas e questionários com as crianças hospitalizadas, seus pais, médicos, enfermeiros, estagiárias e13 professora idealizadora do projeto. O projeto foi implantado desde 1998 e ainda busca melhorias nos atendimentos às crianças enfermas. Vale ressaltar que os resultados apresentados no artigo restringem a relatos mostrando como mudou a estrutura do hospital a partir do momento que esse serviço foi implantado, porém não mostra nenhum dado empírico que confirme essa afirmação. Alonso, García & Romero (2006) com o artigo “Uma experiencia de pedagogía hospitalaria com niños em edad preescolar” apresenta o resultado da experiência com crianças internadas no Hospital Universitario dos Andes (Venezuela) em idade pré – escolar, relatando o trabalho realizado com as crianças internas e sua famílias. Como método, foi utilizado o “Manual del niño paciente” livro que mostra a história de um menino enfermo e como as pessoas que vivem ao seu redor o ajudam no contexto de hospitalização. Como resultado deste artigo, aponta- se que o trabalho desenvolvido com crianças em idade pré - escolar foi efetivo, pois as crianças puderam perceber melhor sua doença e ter maior apoio de suas famílias também. A classe hospitalar recebe em média 25 crianças por dia. A maior porcentagem é de classe desfavorecida e o primeiro contato com a aprendizagem escolar é no hospital. López & García (1994) com o estudo “La atención pedagógica en el Hospital Central de Astúrias” relata o trabalho pedagógico realizado no hospital Central de Astúrias (Espanha), incluindo dois trabalhos distintos. O primeiro realizado na unidade de reabilitação do hospital, atendendo crianças, jovens e adultos com quatro subdivisões: Atenção primária, Educação Infantil, Educação Especial e Educação compensatória para jovens e adultos. O outro trabalho é realizado no Centro Materno - Infantil da Pediatria, com aula denominada como Aula de Animação Infantil. Esse trabalho é realizado com crianças de 3 a 14 anos. Também 14 há o atendimento domiciliar, coordenado pelo Hospital visando atender as crianças com enfermidade crônica na região central de Astúrias. Esses trabalhos tiveram início a partir da Constituição espanhola (Arts., 10, 27) referindo-se à integração escolar, reconhecendo que a criança tem o direito a todos os serviços educacionais da comunidade em qualquer condição. Em 7 de abril de 1982 o artigo 29 dizia: “Todos os hospitais, tanto infantil como de reabilitação, assim como aqueles que têm serviços de Pediatria permanente, terão que prevenir e evitar a marginalização do processo educativos dos alunos em idade escolar internados em Hospitais”. Castañeda Quintero (2006) com o trabalho “Pedagogia hospitalaria: Antiguas Necesidades y Nuevas Posibilidades” traz em foco a justificativa da existência do trabalho pedagógico dentro do hospital Universitario “Virgen de la Arrixaca” na cidade de Murcia (Espanha). O autor usou como instrumento a observação e a investigação das práticas pedagógicas no ano de 2005. Os dados mostram que dos 6,34 % do total de pacientes hospitalizados na Espanha, 7,96 da região de Murcia eram menores de 14 anos. Das crianças atendidas nos hospital até 16 anos, encontrou que, 90 % dos internos no hospital não recebiam nenhum tipo de atenção educativa durante o período de hospitalização. Discussão Conceitual O segundo bloco apresenta apenas um artigo que relata uma abordagem geral sobre o tema da presente revisão. Gran Rubio (2001) em seu trabalho “La pedagogia hospitalaria y la educación especial” traz em discussão a relação que a educação hospitalar tem com a Educação Especial. O autor discorre sobre o assunto fazendo relações da necessidade de ter uma educação baseada em uma visão global sobre a enfermidade da criança. Defende também que a educação 15 hospitalar deve assumir as propostas da educação inclusiva, que se caracteriza como uma educação para todas as crianças e que tenha um currículo comum para todos os alunos. Uma organização que todos os seus membros colaborem nas decisões democraticamente, desenvolvendo estratégias inovadoras e apoio a todo o sistema educativo, bem como a coordenação de todos os outros serviços sociais, educativos, sanitários etc. Artigos Empíricos O terceiro bloco apresenta artigos empíricos. O estudo de Simões (1999) intitulado A situação Brasileira do Atendimento Pedagógico – Educacional Hospitalar visou mapear a existência das classes hospitalares no Brasil. Como instrumentos foram utilizados carta resumo do objetivo do mapeamento bem como um questionário de múltipla escolha com oito blocos de questões cujo foco foi investigar como funciona o serviço de Atendimento Pedagógico Educacional nos diferentes hospitais do Brasil. A partir desse questionário constatou que na época do estudo, das 30 classes hospitalares no Brasil, 44 % são salas de recreação e 10 são salas de aula. A maioria atende uma clientela abaixo de 15 anos. O artigo também traz em discussão o direito que as crianças enfermas tem garantido segundo a Legislação. Vitorino, Linhares e Minardi (2005) analisaram a interação entre crianças hospitalizadas e uma psicóloga em contexto de atendimento psicopedagógico em Enfermaria Pediátrica. Participaram do estudo 102 crianças e adolescentes na faixa etária de 3 a 17 anos internadas com enfermidades crônicas na Enfermaria de Pediatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP. Durante as sessões a psicóloga (com especialização em Psicopedagogia) responsável pelos atendimentos atuava predominantemente estimulando a interação 16 com as crianças e desempenhando o papel de mediadora do desenvolvimento e da aprendizagem no contexto da enfermaria, criando zonas de desenvolvimento proximais. A psicóloga promovia um contexto interativo com intencionalidade no estabelecimento de contato com as crianças e entre ela. Os intercâmbios eram mais individualizados do que em grupo, em que a psicóloga procurava atender às necessidades de cada criança. Os conteúdos temáticos versavam predominantemente sobre as atividades realizadas. As crianças, na maior parte das atividades, envolviam-se nas atividades e buscavam estabelecer interações, verbalizando mais sobre as atividades do que sobre hospitalização ou enfermidade. A psicóloga atuava como rede de apoio psicológico à criança enferma, tanto oferecendo suporte afetivo quanto oferecendo suporte instrucional, quando orientava e informava sobre a realização de atividades. Investigando a influência do brincar em crianças internadas em unidades pediátricas, Carvalho e Begnis (2006), analisaram as relações entre o comportamento lúdico das crianças e a estruturação do ambiente hospitalar. Foram observadas, de observação sistemática e não participante durante a realização das atividades livres e/ou programadas, 50 crianças de ambos os sexos com idade entre 2 e 10 anos, que estavam internadas no setor pediátrico por no mínimo três dias e que eram portadoras de diferentes patologias, crônicas ou agudas. Metade das crianças, foram observadas em uma instituição hospitalar possuidora de um ambiente estruturado para o desenvolvimento de atividades lúdicas e a outra metade, em outro hospital que não possuía tal estruturação. Utilizou-se como referencial o recorte dos episódios de brincar e sua posterior classificação em categorias. Os autores verificaram que, em ambientes estruturados para a atividade lúdica, a criança tinha mais independência na escolha dos brinquedos e no tipo de17 brincadeira, além de possibilitar a livre inserção no grupo. Em ambiente não estruturado, por sua vez, as atividades eram restritas, não havendo uma liberdade de escolha e de mobilidade. 4. DISCUSSÃO O direito à saúde é garantido pela Constituição Federal em seus artigos 197 e 198. Para tal direito é necessário ter garantido políticas econômicas e sociais que visem o acesso universal e igualitário às ações e serviços, tanto para a sua a promoção, quanto para sua proteção e recuperação. Assim, a qualidade do cuidado em saúde está referida diretamente a uma concepção ampliada, buscando sempre atenção integral ao indivíduo. Assim como a Constituição, o ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente defende o direito a hospitalização da criança e seu direito a educação deve ser preservado. O hospital é uma instituição com contexto de promoção da saúde que visa preservar o desenvolvimento do ser humano. A criança tem o direito a proteção, a vida e a saúde com absoluta prioridade e sem qualquer forma de discriminação, para que esse direito seja preservado é necessário que ela tenha uma continuidade de sua escolarização dentro do hospital, para isso é realizado o trabalho pedagógico com crianças e adolescentes. Mas o que é feito para que esse direito seja garantido? Que tipo de estrutura é necessário? E como trabalhar com as crianças e adolescentes internados? A partir dessas indagações, este estudo buscou identificar pesquisas que apresentassem a situação das atividades pedagógicas nos hospitais. Muitos hospitais ainda não sabem como adaptar o trabalho educacional dentro do contexto hospitalar, isso fica claro ao investigar artigos que explicitem o 18 trabalho pedagógico em hospitais e encontrar trabalhos que somente abordam a temática, não apresentando dados que exemplifiquem como é a estrutura deste trabalho tão importante às crianças e jovens hospitalizados (Gran Rubio, 2001). A preocupação em se ter um espaço físico adequado ao trabalho pedagógico hospitalar está em crescimento. As crianças que estão no leito também tem o direito a serem assistidas pela educação, sendo assim, é necessário um equipamento em que a criança possa ser atendida. Em alguns hospitais o enfoque acaba sendo a busca em saber quais materiais é necessário para que se realize o trabalho pedagógico às crianças enfermas (Sassi e cols 2004; López & García 1994 e Castañeda Quintero 2006). Em alguns hospitais a preocupação com o espaço físico ou mesmo com a busca de profissionais adequados ao trabalho pedagógico hospitalar já tem alguma estrutura. A partir dessa perspectiva inicia - se um trabalho de busca de materiais pedagógicos ou manuais que possibilitem uma ampliação na compreensão de como deve ser realizado um trabalho pedagógico nos hospitais (Alonso, García & Romero 2006). No Brasil há apenas 30 classes hospitalar, que atendem crianças e adolescentes hospitalizados em leitos ou enfermarias. Esse dado demonstra que no Brasil a preocupação com o desenvolvimento da criança hospitalizada necessita de maior atenção (Simões 1999). Percebe-se que há uma defasagem na literatura, pois esse dado é de 1999. Faltam pesquisas na àrea para mostrar qual a realidade da educação das crianças e jovens hospitalizados, assim se encontra a estrutura desses hospitais. Além da preocupação com a educação das crianças é necessário que a mesma compreenda o histórico de sua doença, sendo assim é necessário que a 19 equipe de funcionários estabeleça uma comunicação com a criança enferma. A comunicação tem sido um instrumento muito utilizado pela equipe médica, pois facilita o contato com o paciente, é um intermediário no processo de diagnóstico e tratamento (Perosa e cols, 2006). A interação entre criança e equipe auxilia no desenvolvimento da criança, possibilitando não só a maior compreensão da doença bem como possibilidade de outras atividades, como poder falar e aprender sobre diversos assuntos ou mesmo falar sobre sua enfermidade de modo diferente sabendo como agir e o porque está naquela situação ou porque deve passar por determinados procedimentos médicos. A interação entre profissional do hospital e criança pode auxiliar inclusive na promoção de zonas de desenvolvimento proximais durante as atividades (Vitorino, Linhares e Minardi 2005). Além da interação equipe - criança uma outra forma de preservar o desenvolvimento da criança enferma é promover atividades lúdicas, que promovam a oportunidade das crianças poderem brincar e aprender ao mesmo tempo. De acordo com Lindiquist: “Ao falar do desenvolvimento integral da criança, devemos incluir a experiência social e intelectual. Considerar apenas o tratamento médico, deixando de lado o psiquismo, é retardar a cura” (p. 24, 1993) . Ao possibilitar um ambiente estruturado com atividades lúdicas, as crianças adquirem maior autonomia o que resulta numa postura mais forte perante sua doença, promovendo assim seu desenvolvimento de modo a preservar sua autonomia (Carvalho e Begnis 2006). Portanto fica claro que : ...é necessário aprofundar e generalizar a aplicação de práticas de saúde que reconheçam e valorizem a subjetividade e riqueza das experiências da criança enquanto sujeito ativo do seu próprio desenvolvimento. As significações da criança 20 sobre o mundo, sobre si própria e sobre a saúde e a doença são facilmente acessíveis aos adultos que sabem ouvir e entender a linguagem infantil. Esta linguagem é feita de palavras e de silêncios, de gestos e expressões faciais, e sobretudo de ações (Barros, 2003, p. 92). Ao despertar o interesse pelo tema deste trabalho percebeu-se que há necessidade de mais pesquisas sobre o tema devido dificuldade em encontrar artigos que o referenciasse. Ao trabalhar com os artigos selecionados observou-se que a literatura aborda o tema ainda com pouco aprofundamento. É necessário realizar um mapeamento de quantas classes hospitalar há na atualidade para assim atualizar o panorama da educação de crianças e adolescentes hospitalizados. Foi encontrado na literatura artigos que trouxeram a descrição de experiências, porém, é preciso aprofundar essa temática. A maioria dos artigos selecionados apresentaram relatos de como se dá a estrutura do hospital e abordaram a temática educação das crianças e jovens internados em segundo plano, relatando apenas que existe esse trabalho mas não apresentavam como o mesmo era executado. Avaliar a eficiência do trabalho pedagógico nos hospitais é um fator importante para que as crianças tenham seu direito à educação garantido e com qualidade, não basta apenas descrever como é a estrutura do trabalho ou apenas medir a quantidade, investir na qualidade é fator decisivo para a eficiência do trabalho pedagógico hospitalar. Torna - se necessário, portanto, estudos que visem aprofundar a sistematização do trabalho pedagógico hospitalar, ressaltando a importância e a relevância desse trabalho ao desenvolvimento da criança e do adolescente hospitalizado. De acordo com Barros (2003), a aceitação da verdade construída pela criança conduz a um olhar mais atento e cuidadoso sobre as experiências associados ao histórico da enfermidade da criança bem como ao seu tratamento, pode trazer 21 ansiedade, bem como dor e medo. Uma valorização da criança enquanto parceiroativo implica uma comunicação aberta, que não desvaloriza nem ignora o que faz medo, assusta ou perturba, e em que o adulto utiliza todos os seus recursos para diminuir o sofrimento da criança. 22 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALONSO, L.; GARCÍA, D.; ROMERO, K. Una Experiencia de Pedagogía Hospitalaria con niños en edad preescolar. Educere: Investigación arbitrada.n.34, p. 455-462. jul - ago - spet, 2006. BARROS, L. Psicologia Pediátrica. Perspectiva desenvolvimentista. Climepsi Editores, 2003. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília, livro 01, 1994. BRASIL, Ministério da Educação. Classe Hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações. Brasília – DF, 2002. BRASIL. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Direitos da Criança e do adolescente Hospitalizados. Resolução nº 41, de 13/10/1995. Brasília: Imprensa Oficial, 1995. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Imprensa Oficial, 1996. 23 BRASIL. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Resolução CNE/CBE nº 02/2001. Diário Oficial da União n. 177, p. 39-40. Brasília – DF: Imprensa Oficial, 2001. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988. BRASIL. Art. 3º (Título I – Disposições Preliminares) da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. 5ª edição. Brasília 2005. CARVALHO, A. M.; Begnis, J. G. Brincar em unidades de atendimento pediátrico: aplicações e perspectivas. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 1, p. 109-117, jan./abr. 2006. CECCIM, R. B. Classe Hospitalar: encontros da educação e da saúde no ambiente hospitalar. Pátio - revista pedagógica. Editora Artes Médicas Sul. Porto Alegre. 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