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1 Circulação Interna PSICOMOTRICIDADE MANUAL BÁSICO Aládia Cristina Rosa Grispe 2 APRESENTAÇÃO Este material tem como objetivo principal, entender a história e a origem no Brasil da psicomotricidade, seu conceito, evolução, etapas, vertentes, contribuições dos autores, para o reconhecimento da Psicomotriciade, atividades e formas de avaliação, para serem utilizados e inseridos no cotidiano escolar, entender a sua importância no desenvolvimento infantil. Procurando apresentar, a partir de uma perspectiva histórica, uma breve narrativa do desenvolvimento da Psicomotricidade e alguns de seus principais autores. Constata-se através do discurso destes autores e das diversas instituições mencionadas, que não há um conceito único e, sim, olhares plurais sobre a Psicomotricidade. Tais olhares encontram-se fundamentados em pressupostos teóricos comuns e onde se cruzam contribuições científicas vindas da filosofia, psicologia, psicanálise, psiquiatria, biologia, neurologia, pedagogia. A Psicomotricidade é apresentada, assim, como uma ciência que pretende transformar o corpo em um instrumento de relação e expressão com o outro, através do movimento dirigido ao ser em sua totalidade, em seus aspectos motores, emocionais, afetivos, intelectuais e sociais. Considerando o homem como único, em constante evolução e essencialmente um ser interativo, o movimento corporal, como abordado pela Psicomotricidade, facilita Seu acesso ao funcionamento psíquico normal otimizado (FONSECA, 1988). A história do saber da psicomotricidade representa já um século de esforço de ação e de pensamento. A sua cientificidade na era da cibernética e da informática, vai-nos permitir certamente, ir mais longe da descrição das relações mútuas e recíprocas da convivência do corpo com o psíquico. Esta intimidade filogenética e ontogenética representam o triunfo evolutivo da espécie humana, um longo passado de vários milhões de anos de psicomotoras. (FONSECA, 1988, p. 99.) Bom estudo a todos! Biblioteca online- sem valor comercial. Proibida a venda e a reprodução. 3 Sumário UNIDADE 1.............................................................................................................................7 1. HISTÓRIA DA PSICOMOTRICIDADE.................................................................................7 1.1. O SURGIMENTO DA PSICOMOTRICADADE E A CONTRIBUIÇÃO DOS ESCRITORES...................................................................................................................7 1.2. PSICOMOTRICIDADE NO BRASIL................................................................9 1.3. CONCEITO DE PSICOMOTRICIDADE ........................................................11 Atividade de conclusão da Unidade 1 ..............................................................................14 UNIDADE 2...........................................................................................................................16 2. A IMPORTÂNCIA DA PISCOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL.............................16 2.1 COMO DESENVOLVER AS CAPACIDADES PSICOMOTORAS ................18 2.2 EXEMPLOS DE EXERCÍCIOS PSICOMOTORES: .......................................22 Atividade de conclusão da Unidade 2:.............................................................................27 UNIDADE 3...........................................................................................................................28 3. VERTENTES DA PSICOMOTRICIDADE............................................................................28 3.1 AS PRINCIPAIS VERTENTES DA PSICOMOTRICIDADE ..........................28 3.2 REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA..................................................................29 3.3 TERAPIA PSICOMOTORA............................................................................31 3.4 EDUCAÇÃO PSICOMOTORA.......................................................................33 3.4.1 Psicomotricidade Funcional .............................................................................34 3.4.2 Psicomotricidade Relacional ............................................................................36 Atividade de conclusão da Unidade 3 ..............................................................................41 UNIDADE 4...........................................................................................................................42 4. ETAPAS DA PSICOMOTRICIDADE..................................................................................42 4.1 COORDENAÇÃO GLOBAL ..........................................................................42 4.2 COORDENAÇÃO FINA E ÓCULO-MANUAL..............................................43 4.3 ESQUEMA CORPORAL ................................................................................43 4.3.1. Perturbações do esquema corporal....................................................................45 4.4 LATERALIDADE ...........................................................................................46 4.1 HEREDITARIEDADE ....................................................................................48 4.2 HIPOTÉSE DA DOMINÂNCIA CEREBRAL.................................................48 4.3 INFLUÊNCIA DO MEIO PSICOSOCIAL E EDUCACIONAL.......................48 4.4 ESTRUTURAÇÃO ESPACIAL ......................................................................48 4.4.1. Definição de estruturação espacial....................................................................48 4 4.4.2. Desenvolvimento da Estruturação Espacial ......................................................49 4.4.3. Dificuldades na estruturação espacial ...............................................................51 4.5 ESTRUTURAÇÃO TEMPORAL ....................................................................53 4.5.1. Importância da Estruturação Temporal .............................................................54 4.5.2. Etapas da Estruturação Temporal .....................................................................54 4.5.3. Principais Conceitos Que As Crianças Devem Adquirir ....................................55 4.6 DIFICULDADES EM ESTRUTURAÇÃO TEMPORAL.................................57 Atividades Avaliativas .....................................................................................................64 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................................62 5 FICHA TÉCNICA DO MÓDULO: Psicomotricidade manual básico. EMENTA: As bases teóricas da Psicomotricidade sua história e a colaboração no processo de ensino aprendizagem. As atividades motoras instrumentos para avaliar as capacidades motoras, coordenação motora, fina e grossa e orientação espacial e temporal. A psicomotricidade em seu movimento dinâmico. O cérebro na Aprendizagem. A Psicomotricidade e Educação: contribuições de Wallon, Piaget e Le Boulch e vários outros autores que discutem e defendem a psicomotricidade, suas vertentes. As bases do desenvolvimento psicomotor. OBJETIVOS: · Conhecer os aspectos históricos e conceituais da Psicomotricidade · Refletir sobre a importância do estudo da psicomotricidade e a contribuição de vários autores na trajetória da psicomotricidade como eixo de desenvolvimento infantil · Conhecer as vertentes e as etapas da psicomotricidade, com o objetivo de ampliar o conhecimento e colocar em prática, sabendo onde e como aplicá-las. METODOLOGIA: Será conduta de trabalho aplicar questões teóricas à prática, bem como resgatar a experiência educacional dos alunos na atuação na Educação Infantil. Além disso, será possibilitado ao aluno o contato com teóricos que defendem o Psicomotricidade como uma área importante no desenvolvimento da criança, como um todo, de modo a romper com a visão brincar por brincar e que movimento só nas aulas de Educação Física. Serãopropostos textos para leitura e vídeos sobre as temáticas; e/ou bibliográfica e a resolução de exercícios ao final de cada unidade. “A criança responde às impressões que as coisas lhe causam com gestos dirigidos a elas”; Biblioteca online- sem valor comercial. Proibida a venda e a reprodução. 6 “O indivíduo é social não como resultado de circunstâncias externas, mas em virtude de uma necessidade interna”. Henri Wallon A psicomotricidade tem sua origem no termo grego “psyché”,que significa alma, e no verbo latino “moto” que significa“mover” frequentemente, agitar fortemente. Negrine BIBLIOGRAFIA BÁSICA: FONSECA, V. Psicomotricidade, psicologia e pedagogia. São Paulo: Martins Fontes, 1993. __________, Psicomotricidade, perspectivas multidisciplinares. Porto Alegre: Artmed, 2004. LE BOULCH J. O desenvolvimento psicomotor de 0 a 6 anos. Porto Alegre: Artmed, 1982. WALLON, H. A evolução psicológica da criança. Lisboa: Edições 70,2005. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR: FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: Teoria e prática da Educação física. São Paulo: Scipione, 1997. LAPIEERE, André. A Educação psicomotora na escola maternal. São Paulo: Manole, 1986. LE BOULCH, Jean. O desenvolvimento psicomotor: Do nascimento aos 6 anos.Porto Alegre:Artes Médicas,1982. LEVIN, Esteban. A clínica psicomotora: O corpo na linguagem. Petrópolis: Vozes, 2000. OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: Educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. 9 ed. Petrópolis: Vozes, 2004. 7 UNIDADE 1 1. HISTÓRIA DA PSICOMOTRICIDADE 1.1. O SURGIMENTO DA PSICOMOTRICADADE E A CONTRIBUIÇÃO DOS ESCRITORES. Ao dar início a um estudo sobre a Psicomotricidade, é de grande importância expor alguns aspectos que permitam a elaboração de um referencial histórico sobre o assunto, com muita clareza e sucintamente, para não se tornar exastusivo. Historicamente o termo "Psicomotricidade" aparece a partir do discurso médico, mais precisamente neurológico, quando foi necessário, no início do século XIX, nomear as zonas do córtex cerebral situadas mais além das regiões motoras. Só no século XIX o corpo começa a ser estudado, em primeiro lugar, por neurologistas, por necessidade de compreensão das estruturas cerebrais, e posteriormente por psiquiatras, para a classificação de fatores patológicos. É justamente a partir da necessidade médica de encontrar uma área que explique certos fenômenos clínicos que se nomeia, pela primeira vez, a palavra PSICOMOTRICIDADE, no ano de 1870. No século XIX, com o desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia, é possível constatar que há diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja lesionado ou sem que a lesão esteja localizada claramente. Biblioteca online- sem valor comercial. Proibida a venda e a reprodução. 8 E Dupré, neurologista francês que, em 1907, a partir de seus estudos clínicos, que define a síndrome da debilidade motora, composta de sincinesias (movimentos involuntários que acompanham uma ação), paratomias (incapacidade para relaxar voluntariamente uma musculatura) e inabilidades, sem que lhes sejam atribuídos danos ou lesão extrapiramidal. Henry Wallon (1879-1962), médico, psicólogo e pedagogo, é provavelmente, o grande pioneiro da psicomotricidade, vista como campo científico. Segundo Fonseca (1988), forneceu observações definitivas acerca de desenvolvimento neurológico do recém- nascido e da evolução psicomotora da criança. Wallon diz que “o movimento é a única expressão e o primeiro instrumento do psiquismo”. O movimento (ação), pensamento e linguagem são unidades inseparáveis. O movimento é o pensamento em ato, e o pensamento é o movimento sem ato. Piaget (1896-1980) foi um dos autores que mais estudou as inter-relações entre a psicomotricidade e a percepção, através de ampla experimentação. Descreve a importância do período sensório-motor e da motricidade principalmente antes da aquisição da linguagem, no desenvolvimento da inteligência. O desenvolvimento mental se constrói, paulatinamente. É uma equilibração progressiva, uma passagem contínua, de um estado de menor equilíbrio para um estado de equilíbrio superior. A inteligência, portanto, é uma adaptação ao meio ambiente. Para que isso possa ocorrer, é necessário, inicialmente, a manipulação dos objetos do meio com a modificação dos reflexos primários ( OLIVEIRA, 2007,p.31). Em 1947-1948 Ajuriaguerra e Datkine (apud FONSECA,1988) provocaram uma mudança na história da psicomotricidade e redefiniram o conceito de debilidade motora considerando-a como uma síndrome de propriedades particulares. Na década de 70, devido à influência dos trabalhos de Wallon, surgem os trabalhos na educação psicomotora, por Le Boulch, que desde 1966, em seu livro “A Educação pelo Movimento”, tinha como objetivo inicial sensibilizar os professores do primeiro grau, quanto ao problema da educação psicomotora na escola, pois era um contexto desfavorável à pedagogia da época, centrada na aquisição das “Habilidades Escolares de Base”. Somaram-se a estes os trabalhos de L. Pick, P. Vayer, André Lapierre, Bernard Auconturier, Defontaine, J. C. Coste e outros que percebiam nesse momento a educação psicomotora, enquanto maneira original de ajudar a criança inadaptada a desenvolver suas potencialidades e ter acesso ao mundo escolar. Os autores trouxeram conhecimentos e soluções inspiradas na psicologia genética, a qual evidencia que a criança desenvolve o conhecimento de si mesma e do mundo que a cerca através de sua ação. Com estas novas contribuições, a psicomotricidade diferencia-se de outras disciplinas adquirindo sua própria especificidade e autonomia. Sendo assim a psicomotricidade incorporam em suas construções teóricas vários conceitos psicanalíticos, tais como inconsciente, transferência, imagem corporal, 9 sublimação e outros, formando um esboço de uma teoria psicanalítica de psicomotricidade. Ainda em 1974, Delia de Vitadoro imprime o que viria a ser o único número do caderno de terapia psicomotora (número especial da Sociedade Internacional de Terapia Psicomotora para a língua espanhola). Por volta de 1975, na Argentina, Lydia F. De Coriat propõe, por escrito, às autoridades educativas, a necessidade da existência da carreira de psicomotricidade na Universidade de Buenos Aires. Le Camus em 1986 comenta a permissão de Ajuriaguerra, afirmando os grandes eixos de psicomotricidade dos tempos modernos: coordenação estático-dinâmica e óculo- manual; organização espacial e temporal da gestualidade instrumental; estrutura do esquema corporal, afirmação da lateralidade e domínio tônico. Afirma também, que Ajuriaguerra procurou caracterizar distúrbios psicomotores de síndromes psicomotoras que não correspondem a uma lesão focal, com as que provocam as síndromes neurológicas clássicas, mas, sem, certas formas de debilidades psicomotoras, inibições psicomotoras, certas faltas de destreza de origem emocional ou devido à desordem da caracterização, dispraxias, tiques, gagueira e outras formas de desorganização. Nesta época dá-se uma nova definição a psicomotricidade: “uma motricidade em relação”, o que no pensamento de Levin (1995) é onde se opera uma passagem no enfoque do olhar do psicomotricista, não mais voltado ao plano motor, mas direcionado a um corpo em movimento. Sendo assim, não se trata mais de uma reeducação, mas de uma terapia psicomotora, que se ocupa, observa e opera num corpo em movimento que se desloca e que constrói a realidade, à medida que se emociona e cuja emoção manifesta-se tonicamente. 1.2. PSICOMOTRICIDADE NO BRASIL A Psicomotricidade no Brasil foi norteada pela escola francesa. Durante as primeiras décadas do século XX, época da primeira guerra mundial, quando as mulheres adentraram firmemente no trabalho formal enquanto suas crianças ficavam nas creches, a escola francesa também influenciou mundialmente a psiquiatria infantil,a psicologia e a pedagogia. No Brasil, a história da psicomotricidade vem acontecendo de maneira semelhante à história mundial. Os primeiros documentos registram seu nascimento na década de 50, quando Gruspun, psiquiatra da infância, e Lefévre, neurologista, enfatizaram o movimento para os processos terapêuticos da criança excepcional, caracterizando distúrbios psiconeurológicos. Gruspun mencionava atividades psicomotoras indicadas no tratamento de distúrbios de aprendizagem. De acordo com a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP) em Porto Alegre/RS foi criado serviço de Educação Especial, dentro da Secretaria de Educação do Estado, 10 dirigido por Rosat, psicóloga, inserindo no atendimento a Ortopedia mental e a Educação Física para os excepcionais. Posteriormente, inúmeros outros pesquisadores realizaram importantes estudos que se refletem até os dias atuais, no âmbito da psimotricidade. Foram muito significativos os trabalhos de Claparède, Monterssori, Shilder, Gesell, Wallon, Piaget, Désobeau, Ajuriaguerra e outros autores, alguns de publicações mais recentes. Cabe ressaltar as obras de alguns desses autores, que tanto contribuíram para os estudos e reconhecimento da importância da Psicomotricidade como um campo tão importante na Educação. Em 1925, Henry Wallon, médico psicólogo, é provavelmente o grande pioneiro da psicomotricidade, pois se ocupa do movimento humano dando-lhe uma categoria fundante como instrumento na construção do psiquismo. Wallon integrou ao lado de Piaget e de determinados psicanalistas seguidores de Freud, a escola mais representativa da chamada Psicologia Genética. Esta diferença permite a Wallon relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos do indivíduo. As primeiras pesquisas que dão origem ao campo psicomotor correspondem a um enfoque eminentemente neurológico. No campo patológico destaca-se a figura de Dupré (1909), neuropsiquiatra, de fundamental importância para o âmbito psicomotor, já que é ele quem afirma a independência da debilidade motora (antecedente do sintoma psicomotor, para ele, o movimento é a única expressão, e o primeiro instrumento do psiquismo, e que o desenvolvimento psicológico da criança é o resultado da oposição e substituição de atividades que precedem umas as outras). Através do conceito do esquema corporal, introduz, provavelmente, dados neurológicos nas suas concepções psicológicas, motivo esse que o distingue de outro grande vulto da psicologia, Piaget, que muito influenciou também a teoria e prática da psicomotricidade. Wallon refere-se ao esquema corporal não como uma unidade biológica ou psíquica, mas como a construção, elemento de base para o desenvolvimento da personalidade da criança. Ele dedicou especial atenção ao estudo da função tônica da musculatura e sua relação coma esfera emocional, identificou um tipo de simbiose que denominou “afetiva” e que sucede à simbiose fisiológica primária entre a criança e a mãe, dando origem ao que chamou “diálogo tônico- emocional”, onde sorrisos, sinais de contentamento, choro etc. são significativas expressões gestuais afetivas. Considera-se que a partir de 1968, foi realmente difundida a psicomotricidade no Brasil, através de cursos e cadeiras de psicomotricidade em universidades de diversos estados brasileiros. A princípio, a psicomotricidade foi introduzida nas escolas especializadas como um recurso pedagógico que visava corrigir distúrbios e preencher lacunas de desenvolvimento das crianças excepcionais. Na década de 70 a Psicomotricidade, que já tinha sido introduzida no Brasil através dos profissionais que traziam informações da Europa, desde o final da década de 1960, 11 aparece definitivamente. As práticas se voltavam para a 'Reeducação' e 'Educação' Psicomotora. Em 1976, com a estada de Françoise Désobeau, introduziu-se uma nova ótica, denominada 'Terapia Psicomotora'que propunha a substituição das técnicas instrumentais por atividades livres, valorizando o jogo e o brincar. Em 1980 é fundada a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, com apoio de Françoise Désobeau, presidente da Sociedade Internacional de Terapia Psicomotora, nesta época. Com os variados encontros e congressos, a SBP proporcionou a disseminação da Psicomotricidade e o surgimento de um curso de graduação em vários cursos de pós – graduação. Em 19 de abril de 1980 é fundada a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, tendo como presidente Beatriz do Rego Saboya com a participação de Françoise Desobeau, tendo conseguido, ser integrada a Sociedade Internacional de Psicomotricidade, que era sediada em Paris/França. Entidade de caráter científico cultural sem fins lucrativos, promovendo congressos, encontros científicos, cursos, entre outros. Já em 1982, a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP), organiza seu primeiro congresso no Rio de Janeiro. Em abril de 2012, na XXXVI AGOE da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP), foi instituído o Dia do Psicomotricista no Brasil, 19 de abril, data da fundação da SBP. A partir dessa época começaram a surgir às primeiras publicações brasileiras na área da psicomotricidade. Inicialmente, foram publicados os Anais do referido congresso e mais tarde, as monografias apresentadas à Sociedade, o primeiro exemplar do IPERA e a revista Corpo e Linguagem, dirigida por Sônia Pereira Nunes. Em 1983, acontece o curso de Pós Graduação em Psicomotricidade, na Universidade Estácio de Sá e no Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação IBMR, ambos na cidade do Rio de Janeiro. Vários Congressos ocorreram no Brasil promovido pela Sociedade Brasileira de Psicomotricidade abordando diversos temas, sendo o mais recente o X Congresso com o tema “Interfaces da Psicomotricidade”, em 2007, realizado em Fortaleza/CE. SBP, (1999). Atualmente, a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade vem empreendendo esforços para que os profissionais que atuam com essa abordagem caminhem de forma séria e estruturada. Para a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, esta é definida como “uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem por meio do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo”. 1.3. CONCEITO DE PSICOMOTRICIDADE Psicomotricidade é o estudo da influência do movimento sobre o desenvolvimento do ser humano. Em outras palavras, é através do movimento que as pessoas transmitem emoções, sentimentos, comunicam suas descobertas e criações. Sendo assim, a http://pt.wikipedia.org/wiki/19_de_abril 12 Psicomotricidade é concebida como uma ciência que contém conceitos teóricos e aplicações práticas de várias ciências, que convergem seus interesses no estudo do movimento com o objetivo de dar qualidade de vida ao ser humano. O conceito de psicomotricidade é mais visível do ponto de vista do desenvolvimento infantil, pois as crianças aprendem muito através do movimento, do toque, do observar e tentar fazer. Toda vez que agimos, ocorre um complexo planejamento neural prévio, ou seja, para coordenarmos qualquer movimento precisamos antes de tudo aprender, para depois automatizar. Nos dias atuais, a Psicomotricidade foi elevada ao nível de ciência, pois possui crescente importância nos trabalhos que se relacionam com o desenvolvimento infantil, tanto na fase pré- escolar, como posteriormente. Por se tratar da relação entre o homem, seu corpo e o meio físico e sociocultural no qual convive, a Psicomotricidade é fundamentada e estudada por amplo conjunto de campos científicos, onde se pode destacar a Neurofisiologia, a Psiquiatria, a Psicologia e a Educação, imprimindo cada uma dessas áreas enfoques que lhes são específicos. Embora a origem da Psicomotricidade esteja vinculada ao campo da Medicina, a partir de inúmeros estudos neste século, surgiu uma concepção cientificamente respaldada, pela qual o movimento não pode ser tratado sobe um prisma puramente anatômico e mecanicista.Embora de fundamental importância no diagnóstico de inúmeras perturbações das funções nervosas, os mecanismos dos sistemas piramidal, extrapiramidal e cerebelar não são suficientes para responder pela completa execução de movimentos e por vários distúrbios psicomotores. É muito importante termos uma gama de conceitos sobre a Psimotricidade, diante disso, encontramos várias definições para a Psicomotricidade. Cada autor expõe o seu olhar para defini-la, a ISPE-GAE e a SBP definem respectivamente a Psicomotricidade e o emprego de seu termo como: “Psicomotricidade é uma neurociência que transforma o pensamento em ato motor harmônico. É a sintonia fina que coordena e organiza as ações gerenciadas pelo cérebro e as manifesta em conhecimento e aprendizado”. É uma ciência terapêutica adotada na Europa há mais de 60 anos, principalmente na França, que instituiu o primeiro curso universitário de Psicomotricidade em 1963 (ISPE-GAE, 2007). “Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização” (SBP, 2003). “A Psicomotricidade se conceitua como” ciência da Saúde e da Educação, pois indiferente das diversas escolas, psicológicas, condutistas, evolutistas, http://www.bbel.com.br/ 13 genéticas, etc. ela visa à representação e a expressão motora, através da utilização psíquica e mental do indivíduo (AJURIAGUERRA apud ISPE-GAE, 2007). “É a ciência que tem como objeto de estudo o homem, por meio do seu corpo em movimento, e em relação ao seu mundo interno e externo bem como suas possibilidades de perceber, atuar e agir com o outro, com os objetos e com sigo mesmo” (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE 1999). Já Fonseca afirma que se deve tentar evitar uma análise desse tipo para não cair no erro de enxergar dois componentes distintos: o psíquico e o motor, pois ambos são o mesmo (FONSECA apud OLIVEIRA, 2001). A psicomotricidade para Fonseca não é exclusiva de um novo método ou de uma “escola” ou de uma “corrente” de pensamento, nem constitui uma técnica, um processo, mas visa fins educativos pelo emprego do movimento humano (ibidem, 2001). Além disso, a forma como o sujeito se expressa com o corpo traduz sua disposição ou sua indisposição nas relações com coisas ou pessoas. Esse aspecto psicológico, muito importante, ajuda-nos a identificar melhor certas perturbações devidas a fatores afetivos. Chama também nossa atenção para a possibilidade de melhorar a vida social e afetiva das crianças, tornando precisas suas noções corporais e fazendo com que adquiram gestos precisos e adequados (DE MEUR e STAUS, 1991, p.10). Para se conhecer mais sobre a opinião e a história de vida, dos escritores entre neste site e veja as contribuições e suas definições mais detalhadas: http://www.ispegae-oipr.com.br/ http://www.ispegae-oipr.com.br/ 14 Atividade de conclusão da Unidade 1 1) Em que momento da história, a psicomotricidade passa a contribuir para que as crianças desenvolvam suas potencialidades? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 2) Em sua opinião, qual dos autores e pesquisadores se destaca no estudo da psicomotricidade. E por quê? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 3) A partir do pensamento de Levin (1995), foi dada uma nova definição a psicomotricidade. Por que deu se essa mudança? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 4) A Psicomotricidade teve seu início no Brasil, a partir de que momento na história e onde ela foi difundida? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 5) A partir de tantos conceitos sobre a Psicomotricidade, como você a definiria e sua importância no cotidiano escolar? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 15 ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 6) Psicomotricidade é estudada por que campos científicos e quais são eles? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 7) Qual a opinião de Fonseca sobre a Psicomotricidade? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 16 UNIDADE 2 2. A IMPORTÂNCIA DA PISCOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL É de suma importância salientar que o movimento é a primeira manifestação na vida do ser humano, pois desde a vida intrauterina realizamos movimentos com o nosso corpo, no qual vão se estruturando e exercendo enormes influências no comportamento. A partir deste conceito e através da nossa prática no contexto escolar, consideramos que a psicomotricidade é um instrumento riquíssimo que nos auxilia a promover preventivos e de intervenção, proporcionando resultados satisfatórios em situações de dificuldades no processo de ensino-aprendizagem. Segundo Assunção & Coelho (1997, p.108) a psicomotricidade é a “educação do movimento com atuação sobre o intelecto, numa relação entre pensamento e ação, englobando funções neurofisiológicas e psíquicas”. Além disso, possui uma dupla finalidade: “assegurar o desenvolvimento funcional, tendo em conta as possibilidades da criança, e ajudar sua afetividade a se expandir e equilibrar-se, através do intercâmbio com o ambiente humano”. Os movimentos expressam o que sentimos nossos pensamentos e atitudes que muitas vezes estão arquivadas em nosso inconsciente. Estruturas o corpo com uma atitude positiva de si mesma e dos outros, a fim de preservar a eficiência física e psicológica, desenvolvendo o esquema corporal e apresentando uma variedade de movimentos. Através da ação sobre o meio físico com o meio social e da interação como ambiente social, processa-se o desenvolvimento e a aprendizagem do ser humano. É um processo complexo, em que a combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais, produz nele transformações qualitativas. Para tanto desenvolvimento envolve aprendizagem de vários tipos, expandindoe aprofundando a experiência individual. Biblioteca online- sem valor comercial. Proibida a venda e a reprodução. 17 O professor deve estar sempre atento às etapas do desenvolvimento do aluno, colocando-se na posição de facilitador da aprendizagem e calcando seu trabalho no respeito mútuo, na confiança e no afeto. Ele deverá estabelecer com seus alunos uma relação de ajuda, atento para as atitudes de quem ajuda e para a percepção de quem é ajudado. Diante disso, percebe-se a importância do trabalho da psicomotricidade no processo de ensino-aprendizagem, pois a mesma está intimamente ligada aos aspectos afetivos com a motricidade, com o simbólico e o cognitivo. De acordo com Assunção & Coelho (1997, p 108) a psicomotrocidade integra várias técnicas com as quais se pode trabalhar o corpo (todas as suas partes), relacionando-o com a afetividade, o pensamento e o nível de inteligência. Ela enfoca a unidade da educação dos movimentos, ao mesmo tempo em que põem em jogo as funções intelectuais. As primeiras evidências de um desenvolvimento mental normal são manifestações puramente motoras. Diante desta visão, as atividades motoras desempenham na vida da criança um papel importantíssimo, em muitas das suas primeiras iniciativas intelectuais. Enquanto explora o mundo que a rodeia com todos os órgãos dos sentidos, ela percebe também os meios como quais fará grande parte dos seus contatos sociais. Portanto, a educação psicomotora na idade escolar deve ser antes de tudo uma experiência ativa, onde a criança se confronta com o meio. A educação proveniente dos pais e do âmbito escolar, não tem a finalidade de ensinar à criança comportamentos motores, mas sim permite exercer uma função de ajustamento individual ou em grupo. As atividades desenvolvidas no grupo favorecem a integração e a socialização das crianças com o grupo, portanto propicia o desenvolvimento tanto psíquico como motor. Os movimentos, as expressões, os gestos corporais, bem como suas possibilidades de utilização (danças, jogos, esportes...), recebem um destaque especial em nosso desenvolvimento fisiológico e psicológico. Com base neste contexto, percebemos a importância das atividades motoras na educação, pois elas contribuem para o desenvolvimento global das crianças. Entretanto, as crianças passam por fases diferentes uma das outras e cada fase exige atividades propicias para cada determinada faixa etária. A psicomotricidade precisa ser vista com bons olhos pelo profissional da educação, pois ela vem auxiliar o desenvolvimento motor e intelectual do aluno, sendo que o corpo e a mente são elementos integrados da sua formação. Assista aos vídeos intitulados, Psicomotricidade Unidade 1 e unidade 2. Você consegue acesso a ele por meio do link: http://www.youtube.com/watch?v=7ygkAzx7_EI&hd=1, http://www.youtube.com/watch?v=Z_tRz2rLOVU&hd=1 http://www.youtube.com/watch?v=7ygkAzx7_EI&hd=1 18 Em seguida, reflita sobre alguns questionamentos apresentados e observe as explicações, que serão muito interessantes para a utilização no seu cotidiano escolar. Registre suas conclusões a seguir: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 2.1 COMO DESENVOLVER AS CAPACIDADES PSICOMOTORAS As crianças nos proporcionam inúmeros momentos de diversão e através destes momentos, aproveitamos para observarmos e explorarmos tudo que for possível, para favorecer no processo de aprendizagem, pois a brincadeira e as atividades lúdicas são de suma importância para inserirmos os primeiros passos da alfabetização e a socialização com o grupo. A Psicomotricidade contribui de maneira expressiva para a formação e estruturação do esquema corporal e tem como objetivo principal incentivar a prática do movimento em todas as etapas da vida de uma criança. Por meio das atividades, as crianças, além de se divertirem, criam, interpretam e se relacionam com o mundo em que vivem. Por isso, cada vez mais os educadores recomendam que os jogos e as brincadeiras ocupem um lugar de destaque no programa escolar desde a Educação Infantil. A Psicomotricidade nada mais é que se relacionar através da ação, como um meio de tomada de consciência que une o ser corpo, o ser mente o ser espírito, o ser natureza e o ser sociedade. A Psicomotricidade está associada à afetividade e à personalidade, porque o indivíduo utiliza seu corpo para demonstrar o que sente. Vitor da Fonseca (1988) comenta que a "PSICOMOTRICIDADE" é atualmente concebida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio. Na Educação Infantil, a criança busca experiências em seu próprio corpo, formando conceitos e organizando o esquema corporal. A abordagem da Psicomotricidade irá permitir a compreensão da forma como a criança toma consciência do seu corpo e das possibilidades de se expressar por meio desse corpo, localizando-se no tempo e no 19 espaço. O movimento humano é construído em função de um objetivo. A partir de uma intenção como expressividade íntima, o movimento transforma-se em comportamento significante. É necessário que toda criança passe por todas as etapas em seu desenvolvimento. O trabalho da educação psicomotora com as crianças deve prever a formação de base indispensável em seu desenvolvimento motor, afetivo e psicológico, dando oportunidade para que por meio de jogos, de atividades lúdicas, se conscientize sobre seu corpo. Através da recreação a criança desenvolve suas aptidões perceptivas como meio de ajustamento do comportamento psicomotor. Para que a criança desenvolva o controle mental de sua expressão motora, a recreação deve realizar atividades considerando seus níveis de maturação biológica. A recreação dirigida proporciona a aprendizagem das crianças em várias atividades esportivas que ajudam na conservação da saúde física, mental e no equilíbrio sócio-afetivo. Segundo Barreto (2000), “O desenvolvimento psicomotor é de suma importância na prevenção de problemas da aprendizagem e na reeducação do tônus, da postura, da direcional idade, da lateralidade e do ritmo”. A educação da criança deve evidenciar a relação através do movimento de seu próprio corpo, levando em consideração sua idade, a cultura corporal e os seus interesses. A educação psicomotora para ser trabalhada necessita que sejam utilizadas as funções motoras, perceptivas, afetivas e sócio-motoras, pois assim a criança explora o ambiente, passa por experiências concretas, indispensáveis ao seu desenvolvimento intelectual, e é capaz de tomar consciência de si mesma e do mundo que a cerca. O jogo é uma atividade criativa, pois permitem à criança viver e reviver, ativamente as situações dolorosas que viveu passivamente, modificando os enlaces dolorosos e ensaiando na brincadeira as suas experiências da realidade (FREUD, 1976 Vol. XVII 1917, p. 159). Constitui-se numa importante via de acesso ao saber. No jogo se faz próprio o conhecimento que é do outro, construindo o saber. Conforme aponta Fernandes (1990, p.165), “não pode haver construção do saber se não se joga com o conhecimento”, pois o saber é a incorporação do conhecimento numa construção pessoal relacionada com o fazer. Piaget (1998,p.58) afirma que o jogo simbólico, que surge ao redor dos 2 anos permite à criança assimilar o mundo à medida do seu, deformando-o para atender os seus desejos e fantasias. Afirma também que o jogo tem uma evolução, começando com exercícios funcionais (correr, saltar, jogar bolinha, etc.) e seguidos pelos jogos simbólicos (imitar, dramatizar). Aparecem depois os jogos de construção, que vão aproximando-se cada vez mais do modelo, e os jogos de regras, introduzidos à lógica operatória. Como observa Paín (1986, p. 50) o exercício de todas as funções semióticas que supõe a atividade lúdica possibilita uma aprendizagem adequada, na medida em que através dela que se constroem os códigos simbólicos e dos sinais e se processam os paradigmas do 20 conhecimento conceitual, ao se possibilitar através da fantasia e do tratamento de cada objeto nas suas múltiplas circunstância possíveis. Do ponto de vista afetivo, considera-se que os jogos infantis reproduzem situações psíquicas estruturantes na constituição do eu. Podemos criar, por exemplo, os jogos de esconder-aparecer, que é muito apreciado pelas crianças num determinado momento de suas vidas. Esses jogos significariam a expressão do primeiro vínculo, ou seja, o vínculo mãe-filho, e a descoberta pela criança da mãe como objeto de amor separado de si. Os jogos orais como “as brincadeiras de fazer comidinha”, também muito apreciados pelas crianças, na perspectiva psicanalítica, simbolizam as possibilidades internalizadas de dar e receber amor. Um cenário simbólico em relação à alimentação é construído a partir da forma como são vivenciadas as questões da oralidade. Estrutura-se, então, uma modalidade de incorporação. Remetendo-se às questões de aprendizagem, o que temos é uma relação entre a modalidade de incorporação e o processo de aprendizagem. Já vimos que aprender pressupõe a construção do saber e que esta por sua vez, demanda a incorporação do conhecimento. A atribuição simbólica pessoal de significado ao processo de aprendizagem vai recorrer como o faz o sonho, aos restos diurnos, a um reservatório de cenas em movimento que tem a ver com a alimentação: movimento de incorporação, receber, mastigar o alimento com prazer [...]. Além dos jogos orais, também os jogos com argila, água, areia, tinta plástica, etc., como representantes excrementícios em forma de substantivos socialmente aceitos; os jogos com bonecas e animais como expressão da fantasia da criança sobre a relação dos pais e os jogos com veículos simbolizando as fantasias de penetração e representando a forma de controle pulsional fornecem ao psicopedagogo elementos de análise. Todos esses jogos tomados como referência ao campo da aprendizagem dizem de como a criança aprende, que coisas aprendem qual o significado do aprender, como ela se defende do objeto do conhecimento e que operações mentais utilizam no jogo. Fernández, ao propor a hora do jogo psicopedagógico como estratégia para compreender os processos que podem ter levado à estruturação de uma patologia no aprender, afirma que tal atividade possibilita o “desenvolvimento e posterior análise das significações do aprender para a criança” (1990, p.171), além de permitir, conforme aponta Paín (1986), conhecer a aptidão da criança para criar, refletir, organizar, integrar. Quatro aspectos fundamentais da aprendizagem podem ser extraídos da observação do jogo: “distância de objeto, capacidade de inventário; função simbólica, adequação significante-significado; organização, construção de sequência; integração, esquemas de assimilação” (1986, p.54). A psicopedagogia utiliza-se do jogo como estratégia de intervenção e é muito importante mencionar os elementos de intervenção que essa atividade nos oferece, já que é a maneira de nos assegurarmos da eficiência dos procedimentos adotados. 21 Além disso, o efeito terapêutico está implícito no próprio ato de jogar e, mais precisamente, na interpretação do psicopedagogo, quando este, devidamente preparado, pode inferir o sentido latente que se mostra no jogo, pois ele funciona como uma via de expressão metonímica do desejo. Portanto, em todas as circunstâncias em que é indicada a intervenção psicopedagógica, é importante que o psicopedagogo possa jogar o jogo da criança, sem, no entanto perder de vista o seu compromisso com a aprendizagem e lembrando que toda relação do sujeito com o mundo, depois que deixa de ser consequência de um reflexo, demanda aprendizagem. “O meu corpo fala. O seu corpo fala. Ambos se comunicam e se relacionam, especialmente ao nascer, mediante a linguagem corporal”. Noêmia A. Lourenço Segue anexo um vídeo, intitulado, Psicomotricidade de 0 a 6 anos, com algumas atividades motoras, a sua visualização é mera forma de aquisição de conhecimento. http://www.youtube.com/watch?v=psU9gOuIbRk http://www.youtube.com/watch?v=psU9gOuIbRk 22 Ao assistir o vídeo reflita sobre alguns questionamentos apresentados explicações, que e registre suas conclusões a seguir: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ É pela motricidade e pela visão que a criança descobre o mundo dos objetos e é manipulando-os que ela redescobre o mundo; porém, esta descoberta a partir dos objetos só será verdadeiramente frutífera quando a criança for capaz de segurar e de largar, quando ela tiver adquirido a noção de distância entre ela e o objeto que ela manipula, quando o objeto não fizer mais parte de sua simples atividade corporal indiferenciada. A psicomotricidade não é exclusiva de um método, ou de uma “escola” ou de uma “corrente” de pensamento, nem constitui uma técnica, um processo, mas visa fins educativos pelo emprego do movimento humano. (AJURIAGUERRA, apud FONSECA, 1998 p.332 2.2 EXEMPLOS DE EXERCÍCIOS PSICOMOTORES: a) ANDAR 23 . Andar de lado (passos laterais) . Andar de lado (passos cruzados) . Correr com as mãos na cabeça . Correr com as mãos nos quadris . Correr com as mãos nas costas . Saltitar com 2 pés . Saltitar em um pé só . Saltitar pra frente . Saltitar pra trás . .Saltitar pra direita .Saltitar pra esquerda. b) EQUILÍBRIO . Se a criança tiver bom equilíbrio, amplia sua capacidade de concentração. . Subir escadas elevando o joelho bem alto . Passo de elefante . Andar de joelhos com as mãos no ar . Pulo do coelho (com os 2 pés e apoio das mãos no solo) . Passo de caranguejo (sentado no solo, palma das mãos para trás, elevar os quadris caminhando para frente e para trás) . Ficar na ponta dos pés de olhos abertos em cima de um banco . Ficar na ponta dos pés de olhos fechados por 10 segundos . Ficar na ponta dos pés de olhos abertos por 10 segundos . Caminhar na ponta dos pés . Agachar, abrir os braços e imitar um avião, 10 segundos de olhos abertos . Agachar, abrir os braços e imitar um avião, 10 segundos de olhos fechados . Andar na ponta dos pés com a mão na nuca . Com os calcanhares e os braços cruzados nas costas 24 . Com passos largos e mão na cintura . De lado com as mãos na cabeça . Ir de cócoras e voltar . Caminhar normalmente . Ir e voltar de costas . Ir correndo e voltar andando . Ir andando e voltar correndo . Ir saltitando com os doispés e voltar andando . Andar em câmera lenta . Andar rápido . Andar devagar c) COORDENAÇÃO ÓCULO MANUAL . Lançar bolas ou sacos de areia num balde ou caixa com abertura igual da bola . Encaixar pinos de diferentes tamanhos numa tábua com formas variadas de orifícios . Tocar a bola pendurada por um fio ou barbante . Bilboquê d) ATIVIDADES DE COSCIENTIZAÇÃO DO CORPO As crianças necessitam fazer experiências com a utilização do corpo de ambos os lados (direito e esquerdo). Para muitas crianças a diferença entre os dois lados ainda não está definido, devido a ênfase dada ao usar somente UM DOS LADOS DO CORPO. Uma vez que o corpo apresenta simetria lateral, acredita-se que ambos os lados devem ser desenvolvidos a fim de se obter o máximo de influência nos movimentos. . De olhos fechados, deitados no solo, tocar as partes do corpo citadas. Recortar várias partes do corpo e colar num caderno . Fazer experiências em frente o espelho com as partes do corpo . Usar partes do corpo no ambiente e (tocar a mesa com o nariz, a parede com as costas, o chão com o joelho, com o cotovelo...) . Deitar de barriga pra cima e fazer círculos com os pés para o alto 25 . Com uma bexiga, tocar a parte do corpo solicitada. . Recortar bonecos de papel e colocar cada um num envelope separado, pedir que arrumem de novo o boneco. e) CONSCIÊNCIA ESPACIAL . Procure ser a pessoa mais alta . Procure ser a pessoa mais baixa . Procure ser a pessoa mais magra . Procure ser uma bola . Como a bola rola? . Apontar para a parede mais distante . Apontar para parede mais próxima . Sem sair do lugar, movimentas os pés rapidamente. . Rolar como um tronco . Arrastar para frente e para trás . Rolar pra frente/trás . Caminhar ajoelhada . Brincar de combate (arrastar-se) . Andar sobre as mãos e pés (macaquinho) f) COORDENAÇÃO MOTORA FINA . Parafusos com porcas (rosquear e desrosquear) . Passar água de uma bacia pra outra com uma esponja . Massa de modelar (fazer bolas, salsichas, fazer buracos com todos os dedos) . Pegar bolas de gude ou outros objetos com um pegador de salada/macarrão . Colocar sementes ou outros objetos dentro de garrafas de refrigerante. . Com uma colher, carregar bolas de pingue pongue de um lado para outro ou apenas repassá-las de uma bacia para outra. . Abotoar e desabotoar . Abrir e fechar zíperes 26 . Jogo 60 segundos da Grow (encaixar formas geométricas em tempo determinado) . Rasgar papel com a mão . Despejar líquido de uma garrafinha no copo . Usar uma seringa para puxar água e colocar dentro de outro recipiente . Passar líquido de um copinho pra outro utilizando um conta gotas . Usando uma raquete de pingue pongue, bater a bolinha pra cima sem deixar cair. . Usando a mesma raquete e batendo a bolinha, andar devagar e rápido. Pode-se afirmar, então, que a recreação, através de atividades afetivas e psicomotoras, constitui-se num fator de equilíbrio na vida das pessoas, expresso na interação entre o espírito e o corpo, a afetividade e a energia, o indivíduo e o grupo, promovendo a totalidade do ser humano. Autor desconhecido 27 Atividade de conclusão da Unidade 2: 1) Leia: “O esquema corporal especifica o indivíduo enquanto representante da espécie, seja qual for o lugar, a época, ou as condições que vive (...) A imagem do corpo, pelo contrário, é própria de cada um: está ligada ao sujeito e à sua história” (Françoise Dolto, La imagem inconsciente Del cuerpo, Buenos Aires, Paidós, 1986. Em: Levin, Esteban. A clínica psicomotora: o corpo e a linguagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995). A partir da proposição, defina “esquema corporal e imagem do corpo”. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 2) Psicomotricidade para que e para quem? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 3) Quais os benefícios dos jogos no processo de aprendizagem? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 4) Quais os benefícios da psicomotricidade no processo de aprendizagem e no desenvolvimento infantil? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 28 UNIDADE 3 3. VERTENTES DA PSICOMOTRICIDADE Atualmente existem diversas escolas de distintas vertentes na área da Psicomotricidade. A história da Psicomotricidade nos conta que, por um largo tempo, tratou o ser humano de forma fragmentada, baseada nos princípios fundamentais do dualismo cartesiano, que consistem em separar o corpo e a alma. Descartes (1999) prediz que o corpo é apenas uma coisa externa que não pensa, e que a alma, não participa de nada daquilo que pertence ao corpo. Posteriormente passou-se a considerá-lo em sua totalidade, isto é, o corpo começa a ser visto como uma unidade que expressa sentimentos e emoções que movem suas ações, essa unidade veio para nos explicar e citar quais são as vertentes e como elas podem colaborar para o nosso conhecimento, psicomotor. 3.1 AS PRINCIPAIS VERTENTES DA PSICOMOTRICIDADE Com o intuito de facilitar a compreensão das características das principais vertentes da Psicomotricidade, algumas características são analisadas e destacadas em cada uma delas. No desenvolvimento deste exercício de categorização é necessário um prévio entendimento a respeito do que cada um destes aspectos possibilita entender e que são: a) Finalidade: procuramos entender o objetivo principal das distintas vertentes, ou seja, o propósito de sua prática; b) Área de base: compreender qual área do conhecimento originou seus fundamentos, visto que a Psicomotricidade busca constantemente um fundamento teórico em outras áreas do conhecimento; Biblioteca online- sem valor comercial. Proibida a venda e a reprodução. 29 c) Autores de base: são os autores clássicos que nortearam as bases teóricas de cada vertente; d) Principais autores e obras e publicações: destacam os autores que foram destaques em suas ideias e pesquisas para as modificações e contribuições da Psicomotricidade, suas obras são referências originais para a compreensão da evolução e da dinâmica da práxis da Psicomotricidade. Outro polo de categorias analisa e descreve os aspectos práticos da Psicomotricidade, caracterizados pela influência de distintos estudos e fundamentos na Psicomotricidade que são: a relação adulto/criança; a composição dos grupos; a organização e proposição da prática; o desenvolvimento das rotinas; avaliação/acompanhamento e postura corporal diante da criança. 3.2 REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA A vertente denominada Reeducação Psicomotora destina-se a crianças que apresentam déficit em seu funcionamento motor. Essa abordagem tem por finalidade ajudar a criança a reaprender como se executam ou se desenvolvem determinadasfunções motoras. Para isso, avalia-se o perfil psicomotor da criança, utilizando métodos que consistem na aplicação de baterias de testes psicomotores (PICQ e VAYER, 1985). Após o diagnóstico, a criança é submetida a um programa de sessões que tem como objetivo suprir as dificuldades aparentes (NEGRINE, 2002). Esta abordagem tem como base estudos da neuropsiquiatria infantil. Com abordagem centrada no desenvolvimento motor e entende o ser humano como um corpo instrumental, isto é, uma “máquina de movimento”, que, caso não estiver funcionando, deve ser reparada (LEVIN, 1995). Le Camus ao analisar os estudos de Guilmain explica que a sessão de reeducação psicomotora destina-se,a três propósitos principais: reeducar a atividade tônica (com exercícios de atitude, de equilíbrio e de mímica); melhorar a atividade de relação (com os exercícios de dissociação e de coordenação motora com apoio lúdico); desenvolver o controle motor (com exercícios de inibição para os instáveis e de desinibição para os emotivos) (1986, p. 27). 30 Um aspecto importante a destacar é que Guilmain deu início à tentativa de acoplar a psicologia à educação física, devido ao fato de ter como base teórica os estudos de Wallon (1995), que relacionam motricidade e caráter. Com isso, surge um paralelismo entre fenômenos psicológicos e fenômenos motores (LE CAMUS, 1986). O início da reeducação psicomotora esteve centrado em uma prática focada no desempenho da criança frente aos seus métodos. Tratava-se de uma prática diretiva, mecanicista e dualista, com controles em relação aos sentimentos e emoções da criança em suas ações. Aucouturier (1986), em conjunto com outros estudiosos do tema, começou a sentir a necessidade da evolução de seus ensinamentos e de suas práticas. O grupo estava preocupado em trabalhar com uma abordagem relacional. A respeito disso, Aucouturier destaca que: Quando falo de globalidade da criança, falo de respeitar sua senso-motricidade, sua sensorialidade, sua emocionalidade, sua sexualidade, tudo ao mesmo tempo, falo de respeitar a unidade de funcionamento da atividade motora, da afetividade e dos processos cognitivos; falo de respeitar o tempo da criança, sua maneira totalmente original de ser no mundo, de viver, de descobrir, de conhecê-lo, tudo simultaneamente (1986, p. 17). A principal mudança na evolução da reeducação psicomotora está na compreensão do corpo como uma unidade e cujo movimento possui significado. Com isso a postura do reeducador frente à criança toma outra direção: ele passa a entendê-la como um ser de expressividade psicomotora. Sua relação com a criança passa a ser de empatia, de escuta, de interação e de ajustamento constante (AUCOUTURIER, DARRAULT e EMPINET, 1986). Outro aspecto importante que é citado nesta nova fase da reeducação psicomotora é que a formação do reeducador é composta por uma trilogia efetuada simultaneamente: a formação pessoal, a formação teórica e a formação prática. Ambas completam-se e enriquecem-se umas às outras (AUCOUTURIER, DARRAULT e EMPINET, 1986). A formação pessoal tem como objetivo melhorar a disponibilidade corporal do adulto a partir de vivências corporais. Mobiliza as áreas da afetividade, da sexualidade e dos “fantasmas”, proporcionando mudanças de atitude e de tomadas de consciência. A 31 formação teórica surge da necessidade que o psicomotricista tem em justificar, analisar e refletir sobre as principais teorias que baseiam seus procedimentos. E a formação prática oportuniza a vivência concreta de seus estudos com as crianças (AUCOUTURIER, DARRAULT e EMPINET, 1986). Esses mesmos autores determinam que a reeducação psicomotora é destinada a crianças com idade até oito anos, pois entendem que, após essa idade, a prática psicomotora passa a ser uma prática corporal composta de atividades físicas com outras finalidades e não mais reeducativas. A evolução que a reeducação psicomotora passou foi o primeiro passo de uma trajetória que a Psicomotricidade ainda percorre, isto é, o desenvolvimento de uma abordagem cada vez mais preocupada com o ser humano em sua totalidade inserido em um contexto sociocultural. 3.3 TERAPIA PSICOMOTORA A vertente chamada de Terapia Psicomotora é um desdobramento da vertente da reeducação psicomotora. Esta vertente se originou da compreensão de que o movimento é linguagem e, portanto, expressa os sentimentos, emoções, desejos e demandas do ser humano. É destinada às crianças “normais” e com necessidades especiais que apresentam dificuldades de comunicação, de expressão corporal e de vivência simbólica (NEGRINE, 2002). Através da avaliação, diagnóstico e tratamento, esta abordagem possibilita, por meio da relação terapêutica, a compreensão das patologias psicomotoras e suas consequências 32 relacionais, afetivas e cognitivas, tendo sempre como referência o desenvolvimento psicodinâmico da motricidade da criança (CARNÉ, 2002). Expoentes desta vertente é o estudo de caso clássico de Aucouturier e Lapierre com o menino Bruno, bem como Vecchiatto que descreveu um processo original da terapia psicomotora com um menino com síndrome de Down. A terapia psicomotora utiliza-se das contribuições da teoria psicanalítica. Nesta vertente os psicomotricistas estão atentos à vida emotiva de seus pacientes, delegando importância à emoção, à expressão e à afetividade. O corpo é considerado como uma unidade que conjuga a emoção e a motricidade (LEVIN, 1995). Ajuriaguerra (1984) explica que a terapia psicomotora não se restringe somente a modificar o tônus de base e as habilidades de posição e rapidez, mas modificar o corpo em seu conjunto, no modo de perceber e apreender as aferências emocionais. Para Aucouturier e Lapierre (1977), a criança possui “problemas, deficiências e falhas”. Cabe ao terapeuta reconhecer suas potencialidades e trabalhar com o que há de positivo na criança, partindo daquilo que ela faz espontaneamente, daquilo que sabe fazer, do que gosta de fazer. A formação do terapeuta é composta pela mesma trilogia que foi citada e explicada na reeducação psicomotora, adicionando-se, ainda, formação continuada e supervisão permanente, pois estas é que lhe possibilitam bases para o desenvolvimento de sua prática (AUCOUTURIER, DARRAULT e EMPINET, 1986). A sessão de terapia psicomotora se desenvolve de forma individualizada. A relação que o terapeuta estabelece com a criança é de sintonia, escuta, empatia e o seu corpo é o depósito das emoções da criança. Neste caso o tempo da sessão é de acordo com a disponibilidade da criança (AUCOUTURIER e LAPIERRE, 1977). Levin (1995) explica que a terapia psicomotora centra o seu olhar a partir da comunicação e da expressão do corpo, no intercâmbio e no vínculo corporal, na relação corporal entre a pessoa do terapeuta e a criança em diálogo de empatia tônica. Na forma de pensar de Negrine (2002), o trabalho terapêutico, a partir da perspectiva lúdica, requer disponibilidade corporal do psicomotricista com a criança com necessidades especiais, pois através dos estímulos e intervenções sistemáticos, tem a 33 possibilidade de criar atitudes comportamentais na criança. Este nível de intervenção do psicomotricista é que diferencia a Psicomotricidade terapêutica da educativa. Nesta abordagem cabe ao terapeuta uma constante adaptação à evolução da criança, um domínio na trilogia da formação, uma forte capacidade de escuta e o mais importante, não impor às crianças os seus desejos e sim ajudá-las na evolução e na criação de seus próprios desejos. É pela motricidade e pela visão que a criança descobre o mundo dos objetos e é manipulando-os que ela redescobre o mundo; porém, esta descoberta a partir dos objetos só será verdadeiramente frutífera quando a criança for capaz de segurar e de largar, quando ela tiver adquirido a noção de distânciaentre ela e o objeto que ela manipula, quando o objeto não fizer mais parte de sua simples atividade corporal indiferenciada. A psicomotricidade não é exclusiva de um método, ou de uma “escola” ou de uma “corrente” de pensamento, nem constitui uma técnica, um processo, mas visa fins educativos pelo emprego do movimento humano. ( AJURIAGUERRA, apud FONSECA, 1998 p.332) 3.4 EDUCAÇÃO PSICOMOTORA A vertente denominada Educação Psicomotora surge embalada pela dinâmica evolução das vertentes reeducativa e terapêutica. A Educação Psicomotora vem com a finalidade 34 de ocupar os espaços educativos com grupos de crianças. Os psicomotricistas perceberam que esta vertente poderia vir a se constituir no processo inicial da educação da criança, justamente por compreender o período da infância como aquele que constitui e alicerça as bases emocionais e afetivas do ser humano. As bases educativas empreendidas pela Educação Psicomotora são as mais diversas, porém vamos apresentar duas concepções contemporâneas, a partir de dois estudiosos da temática, que ilustram o desdobramento que se seguiu nesta vertente. De um lado Le Boulch (1983) que explica que a Educação Psicomotora é formadora de uma base indispensável a toda criança, pois tem como objetivo assegurar o desenvolvimento funcional, de outro lado Negrine (2002) compreende a Educação Psicomotora como o meio lúdico-educativo para a criança expressar-se por intermédio do jogo, do exercício e da comunicação entre crianças por intermédio da expressividade motriz. A Educação Psicomotora atualmente se divide em dois eixos: a Psicomotricidade Funcional e a Psicomotricidade Relacional. Negrine define o aspecto que diferencia as duas práticas, elucidando-nos que “(...) o ponto fundamental da passagem da Psicomotricidade Funcional à Relacional é a utilização do jogo (brincar da criança) como elemento pedagógico” (1995, p. 74). 3.4.1 Psicomotricidade Funcional Para Negrine (2002), a Psicomotricidade Funcional compreende o desenvolvimento psicomotriz a partir de bases teóricas de neuroanatomia funcional. Tal fundamento se situa na concepção de que o processo de desenvolvimento humano é decorrente dos processos de maturação. Neste prisma as habilidades motrizes seguem um padrão evolutivo e poderiam ser avaliadas através de exercícios testes padronizadas para as diferentes idades. Variáveis como sexo, fatores culturais, experiências vivenciadas, não são levadas em conta. Na avaliação do perfil psicomotor da criança algumas variáveis são analisadas, como por exemplo: equilíbrio estático e dinâmico, coordenação viso manual (movimentos finos e delicados), sincinesias, paratonias, lateralidade e orientação espacial (NEGRINE, 2002). Este mesmo autor explica que a Psicomotricidade Funcional se sustenta em diagnósticos do perfil psicomotriz e na prescrição de exercícios para sanar possíveis descompassos 35 do desenvolvimento motriz. A estratégia pedagógica baseia-se na repetição de exercícios funcionais, criados e classificados constituindo as famílias de exercícios para as finalidades de equilíbrios estáticos e dinâmicos, de flexibilidade, agilidade, destreza e outras funções psicomotoras. Picq e Vayer (1985) explicam que, após a análise dos problemas encontrados, a Psicomotricidade Funcional tem a finalidade de educar sistematicamente as diferentes condutas motoras, permitindo assim uma maior integração escolar e social. Em suas primeiras obras, Aucouturier e Lapierre explicam que a “(...) organização espaço gráfica, necessária para a aquisição da leitura e da escrita, necessitava da prévia organização do espaço de modo geral e inicialmente corporal” (1985a, p.09), com isso determinam como objeto de sua prática, crianças com algum grau de dificuldade de aprendizagem (disléxicos, disgráficos, agitados), traçando o perfil psicomotor da criança para, depois, apresentar tabelas de exercícios com o objetivo de sanar os problemas. Igual como Lapierre e Aucouturier, Negrine também se dedicou aos estudos e a prática da Psicomotricidade Funcional. As sessões eram destinadas à crianças com problemas de aprendizagem, mais especificamente na leitura, na escrita e no cálculo matemático.Tal método se sustenta no discurso de que o desenvolvimento de certas habilidades motrizes permite a melhora do desempenho nas aprendizagens cognitivas (NEGRINE, 1986). O desenvolvimento da sessão de Psicomotricidade Funcional é estruturado de forma que o aluno imite os modelos de exercícios pré-programados, que são propostos pelo professor “(...) a criança não tem escolha, todas ao mesmo tempo devem realizar os exercícios que são propostos” (NEGRINE, 2002, p.117). O professor utiliza-se de métodos diretivos, tornando seu aluno dependente de suas ações, não dando espaço para que a criança realize atividades que permitam explorar o mundo simbólico, impedindo a exteriorização de sua expressividade motriz. Em relação aos métodos diretivos, Negrine (2002) chama a atenção para o fato de que estes estão relacionados a estratégias pedagógicas voltadas à correção. O gesto motriz que não é realizado conforme a solicitação do professor é considerado errado. Deste modo, criam-se inibições e resistências de exteriorização corporal, e, devido a isso, a 36 avaliação se torna uma ação puramente quantitativa, valorizando a correta execução dos exercícios propostos. A relação que o psicomotricista funcional tem com a criança é uma relação de comando “(...) é uma intervenção no corpo de forma mecânica” (NEGRINE, 1995, p. 56), e o contato corporal entre eles ou com outras crianças só ocorre se estiver determinado no exercício proposto. É importante salientar que existem vários autores que estudam e aplicam a Psicomotricidade Funcional, tais como: Le Boulch, Picq, Vayer, Costallat, Velasco e outros. Este eixo da Educação Psicomotora é seguido por professores de Educação Física, mas o desenvolvimento dessa prática se assemelha muito a forma tradicional de uma aula de ginástica. 3.4.2 Psicomotricidade Relacional Na origem da Psicomotricidade Relacional sua abordagem se fundamentou particularmente nos aspectos psicanalíticos da relação do adulto com a criança. Tal fundamento se baseia na relação primária, da mãe com a criança, temática tão bem explorada pelos psicanalistas Winnicott, Dolto, Mahler, Klein, Spitz para citar aqueles que influenciaram a Psicomotricidade Relacional. Apesar desta forte origem Negrine também compreendeu que esta prática deveria se fundamentar na psicopedagogia, uma vez que se trata de uma prática educativa. Lapierre (1988) ensina que a Psicomotricidade Relacional é o inverso da expressão corporal, pois na expressão corporal o sujeito conhece o tema sobre o qual interpreta com o corpo. Em Psicomotricidade Relacional ocorre o contrário, pois a tarefa do psicomotricista é de descobrir o tema sobre o qual o corpo está espontaneamente expressando. Nesse sentido a Psicomotricidade Relacional potencia a comunicação do adulto com as crianças e entre elas, engloba uma série de estratégias de intervenções e de ações pedagógicas que servem como meio de ajuda aos processos de desenvolvimento e de aprendizagem da criança. Negrine (2002) explica que a Psicomotricidade Relacional utiliza-se da ação do brincar como elemento motivador para provocar a exteriorização corporal da criança, pois entende que a ação de brincar impulsiona processos de desenvolvimento e de 37 aprendizagem. Essas estratégias de intervenções pedagógicas criam, também, condições favoráveis para a construção de um vocabulário psicomotor amplo e diversificado e servem como meio de melhora das relações da criança com o adulto, com os iguais, com os objetos e consigo mesma. A utilização de métodos não diretivos permite que a criança manifeste todo seu interesse, atitudes e valoresque retratam as emoções e os sentimentos de cada momento vivido. Tal atitude pedagógica permite que o psicomotricista faça interpretações significativas das ações que a criança experimenta quando se exterioriza, seja através da mímica, dos gestos ou das produções plásticas. Para isso é necessário que tenha uma atenção maior, pois deve observar e identificar as crianças que mais necessitam de seu auxílio (NEGRINE, 2002). No que diz respeito à relação adulto/criança é fundamental que o psicomotricista ajude a criança a realizar tudo aquilo que ainda não é capaz de realizar sozinha; é necessário ele exerça um papel de mediador, seja para provocar a sua exteriorização, seja para dar segurança, seja para determinar limites à criança. Na relação do psicomotricista com a criança, o toque corporal é um forte aliado, pois com ele vínculos afetivos são estabelecidos, dando segurança e ajuda à criança. “O papel do psicomotricista é de ajuda, entretanto ele também interage, sugere, propõe, estimula e escuta a criança” (NEGRINE, 2002, p.124). É importante ressaltar que existem nuances dentro da psicomotricidade relacional, e que autores que tiveram a mesma formação inicial, no decorrer de seus estudos acabam, seguindo linhas diferentes, como por exemplo: Aucouturier, Lapierre e Negrine. Aucouturier determina que, na sessão, o jogo de pulsão (jogo sensório-motor – classificação de Piaget) deve ser potencializado, e a prática da psicomotricidade tem sua função até os oito anos, por outro lado Lapierre entende que o jogo simbólico é que deve ser potencializado, e que a Psicomotricidade deve se aplicar às crianças, aos adolescentes e também aos adultos. Uma característica importante a respeito da Psicomotricidade Relacional de Aucouturier, que é seguida por diversos psicomotricistas, é que a organização da sessão segue uma sequencia temporal, isto é, a criança deve seguir uma determinada ordem para executar os jogos: momento inicial ou ritual de entrada; jogos de segurança 38 profunda, jogos de prazer sensório-motor; jogos simbólicos; narração de história, atividades de representação e momento final ou ritual de saída (MARTÍNEZ, PEÑALVER e SANCHEZ, 2003). Outro aspecto importante a ressaltar, que é bem diferente do contexto escolar brasileiro, é que a sessão é realizada somente em ambientes fechados (sala de Psicomotricidade) que possuem materiais fixos (escadas, barra de equilíbrio, tatames) e diversos materiais complementares (blocos de espuma, aros, bola grande bichos de pelúcia, cordas, fantasias). Estes ambientes possuem também mesa com cadeiras e material audiovisual e musical, e o grupo de crianças é em número bem reduzido (MARTÍNEZ, PEÑALVER e SANCHEZ, 2003). Apesar de Negrine obter uma formação na Escola de Expressão e Psicomotricidade de Barcelona cujos pressupostos seguem as orientações de Bernard Aucouturier, a sua linha de pensar a Psicomotricidade está configurada dentro de uma perspectiva educativa e preventiva. É importante destacar que este destacado autor nacional se diferencia dos demais autores devido a alguns fatores como: a) utilizar referencial teórico com elementos da antropologia, da psicopedagogia que contribuem e enriquecem à tradicional visão psicanalista; b) inovar com a utilização dos referenciais teóricos de Vygotsky, que contribui para uma mudança na compreensão psicopedagógica do desenvolvimento e aprendizagem infantil; c) explicar que em um ambiente lúdico a criança faz uma trajetória denominada de trajetória lúdica e o seu movimento flutua entre o movimento técnico e o faz de conta, isto é jogar simbolicamente; d) estruturar a organização da prática psicomotriz educativa com grupos de crianças, adequada para o ensino regular e os diversos contextos que promovem. 39 QUADRO 1: Características dos fundamentos das vertentes da Psicomotricidade REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA TERAPIA PSICOMOTORA PSICOMOTRICIDA DE FUNCIONAL PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL FINALIDADE Reeducação das funções psicomotoras Tratar patologias psicomotoras, afetivas, relacionais e cognitivas Sanar problemas motores, melhorar as aprendizagens cognitivas e o comportamento da criança Desenvolver as potencialidades relacionais da criança utilizando a ação do brincar ÁREA DE BASE Biomédica neuropsiquiatria infantil Psicanálise Psicopedagogia Psicopedagogia AUTORES DE BASE Dupré Wallon Rogers Wallon Piaget Winnicott Vygotsky PRINCIPAIS AUTORES Guilmain, Defontaine Empinet e Darrault Ajuriaguerra Levin Le Boulch Picq e Vayer Aucouturier Lapierre Negrine OBRAS E PUBLICAÇÕES Manual de reeducación psicomotriz 1º, 2º, 3º anos La educacion psicomotriz como terapia “Bruno” A clínica psicomotora A educação pelo movimento Educação psicomotora e retardo mental Simbologia do Movimento Aprendizagem e desenvolvimento infantil vols 1, 2 e 3 40 Quadro 2: Procedimentos didáticos das vertentes da Psicomotricidade REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA TERAPIA PSICOMOTORA PSICOMOTRICIDADE FUNCIONAL PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL RELAÇÃO ADULTO/CRIANÇA Comando, não interage. Escuta, ajuda interação e disponibilidade corporal. Comando e direção é o modelo da criança Ajuda, escuta, estímulo, interação e intervenção COMPOSIÇÃO DOS GRUPOS Grupos pequenos, Individual. Individual Grupos em um mesmo nível de desenvolvimento Grupos de diferentes níveis de desenvolvimento ORGANIZAÇÃO E PROPOSIÇÃO DA PRÁTICA Programa de sessões de exercícios conforme a necessidade da criança Atividades em que objetos e o corpo do terapeuta se tornem o depósito das emoções da criança Atividades pré-programadas, famílias de exercícios. Proposição de circuito sensório motriz Ritual de entrada; atividades livres de expressão, construção e comunicação; Ritual de saída DESENVOLVIMENTO DAS ROTINAS Método diretivo Método não diretivo Método diretivo Método não diretivo AVALIAÇÃO/ ACOMPANHAMENTO Bateria de testes que determinam o perfil psicomotor Avalia conforme a evolução da criança Correção do erro, padrão de movimento certo e errado. Despertar de zonas proximais na criança POSTURA CORPORAL DIANTE DA CRIANÇA Não ocorre contato corporal Ocorre contato corporal Raramente ocorre contato corporal Ocorre contato corporal 41 Atividade de conclusão da Unidade 3 1) A reeducação psicomotora é uma vertente destinada a qual público? E como é diagnosticado? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 2) O papel do educador físico é muito importante no processo de reeducação psicomotora. Qual o autor defende esse trabalho, segundo o texto acima e quais seus argumentos? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 3) Cite os autores que defendem uma faixa etária, limite, para se trabalhar a reeducação psicomotora e, qual é a idade e por quê? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 4) Qual a importância da educação psicomotora?
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