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Os clássicos universais e a literatura brasileira APRESENTAÇÃO A literatura brasileira é muito rica e variada – assim como a cultura do país. Entre os clássicos brasileiros, encontramos obras que retratam realidades diferentes de formas completamente distintas: os sertões de Minas ou do Nordeste, o interior do Rio Grande do Sul ou a sua cidade; as questões sociais relacionadas às camadas menos privilegiadas ou o mundo interior de pessoas desesperançadas e tristes; os seres noturnos e os trabalhadores; os acontecimentos mágicos e fantásticos e aqueles mais aparentados à realidade. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai descobrir um pouco dessa riqueza da literatura brasileira. Vai identificar autores e obras clássicos e vai também interpretar literariamente trechos de alguns desses textos literários mais importantes. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar autores e obras brasileiros de destaque na literatura clássica.• Situar essas obras e autores na história da literatura brasileira.• Avaliar a importância dessas obras e desses autores na atualidade.• DESAFIO Muitos alunos, ao ouvirem falar em literatura clássica brasileira, já ficam com medo, achando que a leitura vai ser muito difícil e, talvez, um pouco maçante. Você foi convidado a dar uma palestra para uma turma de Ensino Médio sobre esse assunto e precisa desmistificar essa aura de complexidade da literatura clássica brasileira. Utilize o poema Descrevo que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia, do poeta barroco Gregório de Matos, para montar sua palestra. INFOGRÁFICO Autores de vários períodos literários podem ser considerados clássicos. Neste Infográfico, você vai conferir uma linha do tempo com algumas obras de autores brasileiros consideradas clássicas pelo valor literário que têm e que transcende o tempo e o espaço. Confira. CONTEÚDO DO LIVRO Leia o capítulo Os clássicos universais e a literatura brasileira, da obra Textos fundamentais da literatura universal, base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Neste capítulo, você vai identificar alguns dos mais destacados escritores brasileiros e vai analisar alguns poemas e trechos de obras deles. Vai também ter uma ideia de como a literatura brasileira foi se modificando com o tempo a partir de um panorama cronológico de suas etapas. Boa leitura. TEXTOS FUNDAMENTAIS DA LITERATURA UNIVERSAL Luara Pinto Minuzzi Revisão técnica: Gabriela Semensato Ferreira Licenciatura em Letras Mestrado em Letras Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 M668t Minuzzi, Luara Pinto. Textos fundamentais da literatura universal / Luara Pinto Minuzzi. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 206 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-172-3 1. Literatura universal. I. Título. CDU 82-7 Textos fundamentais da literatura universal_book.indb 2 28/08/2017 17:23:41 Os clássicos universais e a literatura brasileira Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identi� car autores e obras brasileiros de destaque da literatura clássica. Situar essas obras e autores na história da literatura brasileira. Avaliar a importância dessas obras e autores na atualidade. Introdução A literatura brasileira é muito rica e muito variada – assim como a cultura do País. Entre os clássicos brasileiros, há obras que retratam realidades diferentes de formas completamente distintas: os sertões de Minas ou do Nordeste, o interior do Rio Grande do Sul ou a cidade; as questões sociais relacionadas às camadas menos privilegiadas ou o mundo interior de pessoas desesperançadas e tristes; os seres noturnos e os trabalhadores; os acontecimentos mágicos e fantásticos e aqueles mais aparentados à realidade. Neste capítulo, você vai descobrir um pouco dessa riqueza da li- teratura brasileira. Vai identificar autores e obras clássicos e interpretar literariamente trechos de alguns desses textos literários mais importantes. Os clássicos brasileiros A literatura brasileira é muito rica e variada. Sua história já possui alguns séculos: a carta que Pero Vaz de Caminha escreveu, em 1500, para o rei por- tuguês, Dom Manuel, contando como era o território brasileiro, no início do período colonial, é considerada como o seu marco (Figura 1). Claro que foi um português, e não um brasileiro quem escreveu o documento. Mesmo assim, esse texto, por ter sido produzido em solo brasileiro e por tratar do Brasil, é considerado como o início da literatura nesse país. Essa literatura é informa- Textos_Fundamentais_U4C11.indd 189 29/08/2017 06:58:18 tiva, visto que seu objetivo principal é comunicar informações importantes, e não divertir ou entreter, emocionar. Caminha pretendia enviar dados sobre esse pedaço de terra recém-encontrado pelos portugueses interessados em possíveis riquezas, como os metais preciosos. Confira um trecho da carta que trata da visão do português em relação à população indígena: A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador (CAMINHA, [2017], p. 3). Figura 1. Carta de Pero Vaz de Caminha. Fonte: Literatura do Brasil (2017). Aparentemente, a primeira impressão de Caminha sobre os índios foi, em certa medida, positiva. Eles eram puros, tinham bons rostos e narizes bem- Os clássicos universais e a literatura brasileira190 Textos_Fundamentais_U4C11.indd 190 29/08/2017 06:58:18 -feitos. Apesar disso, pode-se notar a distância entre europeus e indígenas: os europeus cobriam-se com panos, e os índios costumavam andar nus. Esse é um primeiro choque que vai fazer com que se pense nas populações que habitavam o Brasil como muito diferentes dos europeus. Caminha apenas não os reprova, pois os percebe como possuindo uma grande inocência – o que também poderia evidenciar a ideia do português em relação à inferioridade dos índios, pois eles seriam menos inteligentes, evoluídos e civilizados do que os europeus. A carta de Pero Vaz de Caminha está inscrita no Programa Memória do Mundo, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), desde 2005. Sua versão original pode ser consultada na Torre do Tombo, acervo localizado em Lisboa, Portugal. Depois de Caminha, ainda surgiram muitos outros viajantes que produziram textos informativos acerca do território brasileiro, sobre a sua fauna e flora, sobre os seus habitantes e potenciais riquezas. Posteriormente a essa literatura informativa, surgem outros tipos de textos literários brasileiros. O primeiro poema brasileiro, por exemplo, chama-se Prosopopeia, de Bento Teixeira, e foi publicado em 1601. A ligação com Portugal, entretanto, ainda é enorme, visto que Teixeira inspira-se na obra do português Luís Vaz de Camões. Desde o século XVI, muitas coisas mudaram: cada vez mais, a literatura brasileira foi se descolando daquela produzida na ex-metrópole, Portugal, e ganhando contornos e personalidade próprios. Além disso, cada época surgiu com novas tendências, tornando a literatura desse país muito rica. Seu tamanho continental também contribuiu para essa complexidade: cada estado e cada região possuem culturas diferenciadas e, portanto, uma forma de escrever literatura igualmente diferenciada. A seguir, será possível compreender melhor as diferentes formas sob as quais a literatura brasileira se apresentou ao longo do tempo e em toda a extensão do seu território. Serão citados dados sobre a vida e a obra de alguns autores brasileiros de maior destaque, consideradoscomo clássicos, em ordem cronológica. 191Os clássicos universais e a literatura brasileira Textos_Fundamentais_U4C11.indd 191 29/08/2017 06:58:18 Gregório de Matos e Padre António Vieira Gregório de Matos foi um poeta baiano que viveu entre 1636 e 1696. Ficou mais conhecido como “Boca do Inferno”, pois, em seus poemas, criticava toda a sociedade brasileira, não poupando ninguém. Ele criou tantas inimizades com seus poemas e gerou tanta polêmica com suas posições, que foi deportado para Angola, na África. Além da poesia crítica, ainda são famosas as suas poesias pornográfi cas. António Vieira foi um padre português. Sua família, porém, mudou-se para o Brasil quando ele ainda era pequeno, e sua obra, constituída por sermões, é considerada muito importante para a literatura brasileira. Vieira combateu a escravidão e fez um grande trabalho de caridade. Nasceu em 1608 e morreu em 1697, em Salvador. Esses dois escritores são considerados integrantes da escola literária chamada Barroco. Uma das marcas desse movimento é o uso de antíteses, oposições e metáforas. No Sermão da sexagésima, de Vieira, por exemplo, há o uso de uma metáfora: O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas do Mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um: Et fructum fecit centuplum (VIEIRA, 1965, p. 2-3). Aqui, o padre está explanando sobre a arte de pregar. Porém, para falar sobre isso, ele usa uma metáfora: o ato de semear. Pregar seria como semear, como jogar uma semente, que pode cair em uma terra fértil ou infértil, que pode brotar ou morrer sem dar frutos – assim como o religioso pode lançar suas palavras e essas encontrarem ressonância em alguns ouvintes ou não tocarem outros. Os clássicos universais e a literatura brasileira192 Textos_Fundamentais_U4C11.indd 192 29/08/2017 06:58:19 Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga são dois poetas árcades ou neoclássicos. Inspirados na Antiguidade Clássica, eles tematizam, em seus poemas, cenas bucólicas, uma vida pastoril e idealizada, a fuga da cidade, o amor a uma pastora. Os dois escritores participaram da Inconfi dência Mineira, um movimento separatista que teve como destaque a fi gura de Tiradentes. Cláudio Manuel da Costa viveu entre 1729 e 1789, e Tomás Antônio Gonzaga, entre 1744 e 1810. Manuel da Costa tem por obras de destaque O Parnaso Obsequioso e Obras Poéticas. Gonzaga tem a obra Marília de Dirceu, que contém poemas dedicados à sua amada. Em alguns dos primeiros versos, o eu lírico fala sobre os grandes proprietários de terras e de riquezas e compara-se com eles: [...] Mas tendo tantos dotes da ventura, Só apreço lhes dou, gentil Pastora, Depois que teu afeto me segura, Que queres do que tenho ser senhora. É bom, minha Marília, é bom ser dono De um rebanho, que cubra monte, e prado; Porém, gentil Pastora, o teu agrado Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! (GONZAGA, [2017], p. 1-2). A Marília, a quem o poema é dedicado e quem serve de interlocutora para o eu lírico, não é uma mulher qualquer, mas uma pastora – o que aponta para o tema do campo tão cultivado entre os árcades. Ela é gentil e bela e acaba sendo comparada a uma estrela. Além disso, todos os campos do mundo, com enormes rebanhos, não são nada se comparados com o amor de Marília. 193Os clássicos universais e a literatura brasileira Textos_Fundamentais_U4C11.indd 193 29/08/2017 06:58:19 José de Alencar, Álvares de Azevedo e Castro Alves Os três escritores, ao lado de muitos outros, fazem parte de um dos movimentos mais importantes e determinantes da literatura brasileira: o Romantismo. Essa escola literária, no século XIX, é considerada como a primeira eminentemente brasileira: se, antes, os escritores voltavam-se muito para o exterior e, principal- mente, para a Europa, a fi m de copiar modelos de fora, os românticos tiveram como objetivo criar uma identidade para a literatura brasileira e pensar no que poderia ser uma marca que a distinguiria das demais literaturas. Uma dessas marcas da brasilidade eleita pelos românticos foi a figura do indígena, desses indivíduos que já habitavam essas terras muito tempo antes de os portugueses terem chegado à América. O guarani e Iracema, de José de Alencar, são exemplos de textos que trazem os índios como personagens centrais. O Romantismo brasileiro pode ser dividido em três fases: a primeira, nacionalista ou indianista, foi a mais preocupada com a questão nacional. Além de José de Alencar, Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães fazem parte desse primeiro momento. A segunda fase é chamada de “mal do século” ou “ultrarromântica”, pois dá destaque ao pessimismo, ao escapismo, à fuga da realidade, à morte. Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu pertencem a esse momento do Romantismo. Por fim, a terceira fase é conhecida como “Geração Condoreira”. Seus poetas, como Castro Alves, preocupam-se com as questões sociais e utilizam seus poemas como forma de denúncia. Um dos temas muito tratados por Castro Alves foi a escravidão – o poeta era abolicionista. Repare como ele fala sobre um navio transportando escravos no poema O navio negreiro: [...] Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?! Ó mar, por que não apagas Co’a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! [...] (ALVES, [2017], p. 4) Os clássicos universais e a literatura brasileira194 Textos_Fundamentais_U4C11.indd 194 29/08/2017 06:58:19 Os desgraçados de que fala o eu lírico são os escravos, e é destacado o horror da situação na qual homens e mulheres encontram-se: atirados em um porão, sem comida decente, com pouca água, maltratados. O eu lírico pede que o mar, com suas ondas, apague essa situação tenebrosa. Machado de Assis, Euclides da Cunha e Aluísio Azevedo Depois do Romantismo, surgem duas escolas literárias que tendem a se opor a ele: o Realismo e o Naturalismo. Os escritores desses dois movimentos procuram retratar a realidade, em seus textos literários, de forma objetiva e direta. A diferença entre o Realismo e o Naturalismo, porém, é que, no segundo, há uma radicalização dos ideais do primeiro em relação à descrição fi el da realidade. Além disso, os textos naturalistas mostram um homem determinado pelo seu ambiente. Um exemplo de como isso funciona pode ser encontrado em O cortiço, de Aluísio Azevedo (1857-1913): nesse romance naturalista, os moradores de um cortiço carioca do fi nal do século XIX são descritos como determinados por seu meio, raça e história. Machado de Assis (1839-1908) é um dos mais famosos escritores brasileiros e foi um realista. Suas obras, sempre perpassadas por uma fina ironia, trazem um panorama da sociedade carioca da época. Entre seus livros encontram-se Dom Casmurro, O alienista, Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, entre outras. Euclides da Cunha nasceu em 1866 e morreu em 1909 (Figura 2). Sua profissão de jornalista foi fundamental na constituição de sua obra literária, pois foi a partir de sua experiência cobrindo a Guerra deCanudos, na Bahia, que ele escreveu seu mais famoso romance, Os sertões. Essa obra situa-se entre a literatura e a história, a sociologia e geografia. Apesar de estar entre o Realismo e o Naturalismo, os estudiosos também consideram sua obra como pré-moderna. 195Os clássicos universais e a literatura brasileira Textos_Fundamentais_U4C11.indd 195 29/08/2017 06:58:19 Figura 2. Caricatura de Euclides da Cunha. Fonte: Os sertões (2017). Olavo Bilac e Augusto dos Anjos Olavo Bilac é considerado um parnasiano, enquanto Augusto dos Anjos, um simbolista. Esses dois movimentos, o Parnasianismo e o Simbolismo, do fi nal do século XIX, tendem a apresentar características opostas às do Realismo e do Naturalismo. O Simbolismo volta-se para o eu, para dentro, para os sentimentos. Para falar desse mundo interior dos indivíduos, eles utilizam-se de símbolos em seus poemas - daí vem o nome do movimento. O Parnasianismo, por outro lado, preza pelo preciosismo, pelos detalhes, pela forma do poema, com suas rimas e estruturas. Um dos lemas do Parnasianismo é a “arte pela arte”. Um dos mais famosos poemas de Olavo Bilac está presente em seu livro Via-Láctea: Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... Os clássicos universais e a literatura brasileira196 Textos_Fundamentais_U4C11.indd 196 29/08/2017 06:58:19 E conversamos toda a noite, enquanto A via-láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas (BILAC, [2017], p. 7). Atente para a forma do poema: essa estruturação dos versos (duas estrofes com quatro versos, seguidas de duas com três versos) constitui um soneto. As rimas também são muito importantes: o primeiro verso rima com o terceiro e o segundo, com o quarto. Os versos são ainda construídos como respostas a um suposto amigo que considera o eu lírico louco por conversar com as estrelas: o interlocutor afirma que o eu lírico perdeu o senso. O eu lírico, porém, explica que é necessário amar as estrelas para ser capaz de ouvi-las. Aqui não há, portanto, nenhum tema social ou denúncia: apenas a relação de um indivíduo com os astros. Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira foram os mais importantes escritores do Modernismo brasileiro. Os três, ao lado de muitos outros artistas, fi zeram parte da famosa Semana de Arte Moderna de 1922, que ocorreu em São Paulo e foi o marco do movimento modernista. As vanguardas europeias, como o Futurismo e o Cubismo, tiveram grande impacto nos escritores modernistas brasileiros, que se inspiraram nessas novas formas de produzir e de apresentar a arte, para criar algo eminentemente brasileiro. O Movimento Antropofágico, por exemplo, explica que o escritor brasileiro deveria aproveitar o que vem de fora, mas não simplesmente copiar e imitar tendências importadas: essas tendências deveriam ser deglutidas e misturadas com as próprias marcas da brasilidade para criar algo novo. Um exemplo dessa deglutição criadora pode ser apontado no próprio Manifesto Antropofágico, escrito por Oswald de Andrade. O escritor parafraseia a famosa 197Os clássicos universais e a literatura brasileira Textos_Fundamentais_U4C11.indd 197 29/08/2017 06:58:19 frase de Hamlet, escrito por Shakespeare – “ser ou não ser, eis a questão” –, agregando elementos brasileiros – no caso, o nome de uma língua indígena: “Tupi, or not tupi that is the question” (ANDRADE, 1976, p. 3). Além do Manifesto antropofágico, Oswald de Andrade escreveu os ro- mances Serafim Ponte Grande e Memórias sentimentais de João Miramar. Mário de Andrade escreveu uma das obras modernistas mais famosas: Ma- cunaíma. Esse livro conta, de uma forma extremamente cômica, as peripécias do herói sem nenhum caráter ou do anti-herói Macunaíma. Ele é mentiroso e incorreto, além de preguiçoso. O bordão do personagem é: “Ai, que preguiça!”. Manoel Bandeira é um poeta e prosador com uma obra extensa. Entre seus livros mais famosos estão A cinza das horas, Libertinagem e Estrela da manhã. Um poema seu, “Os sapos”, foi lido e causou muito alvoroço na Semana de Arte Moderna de 1922. No trecho do poema apresentado, a seguir, são feitas críticas à poesia parnasiana: [...] O sapo-tanoeiro, Parnasiano aguado, Diz: - “Meu cancioneiro É bem martelado. Vede como primo Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos. O meu verso é bom Frumento sem joio. Faço rimas com Consoantes de apoio. Vai por cinqüenta anos Que lhes dei a norma: Reduzi sem danos A fôrmas a forma. Clame a saparia Em críticas céticas: Não há mais poesia, Mas há artes poéticas... [...] (BANDEIRA, 2011). Os clássicos universais e a literatura brasileira198 Textos_Fundamentais_U4C11.indd 198 29/08/2017 06:58:19 Um dos sapos é um parnasiano “aguado”, que se preocupa em rimar e em dar uma forma ao poema, martelando e trabalhando os versos. O problema apontado no poema é que, ao se preocupar tanto com a forma, os parnasianos acabaram criando camisas de força – as formas a que é preciso encaixar os versos, nem que seja a marteladas. O conteúdo – a poesia – foi deixado com- pletamente de lado em proveito das formas – as artes poéticas. José Lins do Rego, Rachel de Queiróz, Graciliano Ramos, Érico Verissimo, Jorge Amado O Regionalismo brasileiro, período literário que também fi cou conhecido como Romance de 30, abrange aqueles autores e textos que enfocam questões sociais de regiões específi cas de forma realista. Lendo tais textos, o leitor entra em contato com realidades distintas, como o sertão nordestino, o pampa gaúcho, os engenhos de cana-de-açúcar do nordeste etc. Confira uma lista com alguns dos escritores mais destacados: José Lins do Rego (1901-1957): sua obra Menino de engenho retrata a decadência dos engenhos de cana-de-açúcar do Nordeste. Rachel de Queiróz (1910-2003): O quinze é um romance sobre a seca de 1915, ocorrida no Nordeste. Graciliano Ramos (1892-1953): Vidas secas acompanha a trajetória de uma família que precisa deixar suas terras, no sertão nordestino, por conta da seca. Nessa obra, há um processo de animalização dos seres humanos, devido à situação difícil de vida, que embrutece. Érico Verissimo (1905-1975): o escritor gaúcho retratou a cultura, os costumes e a história desse estado em sua trilogia O tempo e o vento. Jorge Amado (1912-2001): o escritor baiano falou sobre a realidade do estado em romances como Seara vermelha e Capitães de areia. Clarice Lispector, João Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade Clarice Lispector, João Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, entre outros, fazem parte da Geração de 1945. Esses artistas, também considerados como pós-modernos, estavam preocupados em encontrar novas formas de linguagem, novas formas de expressão. Os temas são muito variados: Cla- rice Lispector trabalhou muito com a psicologia de personagens femininas, como em Laços de família e A hora da estrela; as poesias de Drummond vão 199Os clássicos universais e a literatura brasileira Textos_Fundamentais_U4C11.indd 199 29/08/2017 06:58:19 desde temas sociais, como em A rosa do povo, aos metafísicos; e Guimarães Rosa enriquece seus textos com neologismos e com a inserção de marcas de oralidade, como em Grande Sertão: veredas. Um famoso poema de Drummond, “E agora, José?”, coloca perguntas a esse personagem, José. Perceba o desânimo e a falta de saída para os problemas nestes versos: E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, Você? Você que é sem nome, que zombados outros, Você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? (ANDRADE, 2011). Toda a animação foi-se – a festa, a luz, as pessoas, o calor. José ficou sozinho e o eu lírico interpela-o acerca do que ele faria nesse momento de fim da euforia. O leitor depara-se com um mundo sem sentido, sem rumo, sem perspectivas. Rubem Fonseca, Manoel de Barros, Lygia Fagundes Telles A lista dos escritores destacados da contemporaneidade é muito grande, assim como os temas tratados em suas obras e a forma como são abordados são extremamente diversos. É difícil apontar uma única tendência para esse conjunto tão heterogênero de escritores. Entre esses autores, podemos citar três: os prosadores Rubem Fonseca e Lygia Fagundes Telles e o poeta Manoel de Barros. Porém, é importante que você compreenda que essa seleção é uma das possíveis e, inclusive, um tanto quanto arbitrária: há muitos outros escritores e escritoras tão importantes quanto os três e com uma obra muito interessante. Os clássicos universais e a literatura brasileira200 Textos_Fundamentais_U4C11.indd 200 29/08/2017 06:58:20 Rubem Fonseca costuma retratar o submundo das cidades com muita violência, brutalidade, mas também irreverência. Entre suas principais obras encontram-se Agosto e A grande arte. Já Lygia Fagundes Telles trabalha com diversos temas – dentre eles, o fantástico surge em contos dos volumes Venha ver o pôr-do-sol e outros contos e Mistérios. A escritora foi indicada ao prêmio Nobel da Literatura, em 2016. Por fim, Manoel de Barros é um poeta que versa sobre a infância e a aproximação com a natureza e com um modo de vida mais conectado com o natural. Repare como ocorre esse contato com o natural no seguinte poema: Retrato quase apagado em que se pode ver perfeitamente nada Nas Metamorfoses, em duzentas e quarenta fábulas, Ovídio mostra seres humanos transformados em pedras, vegetais, bichos, coisas. Um novo estágio seria que os entes já transformados falassem um dialeto coisal, larval, pedral etc. Nasceria uma linguagem madruguenta, adâmica, endêmica, natural - Que os poetas aprenderiam - desde que voltassem às crianças que foram Às rãs que foram Às pedras que foram. Para voltar à infância, os poetas precisariam também de reaprender a errar a língua. Mas esse é um convite à ignorância? A enfiar o idioma nos mosquitos? Seria uma demência peregrina (BARROS, 2010, p. 265-266). Aqui, as crianças, a vegetação e os minerais representam um estágio original mais puro e mais idílico a que todos deveríamos aspirar retornar. O eu lírico ainda confunde as noções de certo e errado: escrever e falar correto do ponto de vista gramatical não seria o adequado; seria necessário reaprender a errar a língua, como as crianças. Talvez, com esse errar a língua, o eu lírico esteja falando da relação menos automatizada das crianças com a linguagem – os adultos já estariam tão acostumados com a comunicação do cotidiano, que nem prestariam mais atenção nas riquezas de seu idioma. 201Os clássicos universais e a literatura brasileira Textos_Fundamentais_U4C11.indd 201 29/08/2017 06:58:20 No link ou código a seguir, você pode encontrar muitas obras completas dos escritores brasileiros citados neste capítulo. https://goo.gl/Kw7X A literatura brasileira e os clássicos universais Muitas das obras brasileiras citadas aqui aparecem como destaque também entre os clássicos universais. Machado de Assis, Clarice Lispector e João Guimarães Rosa surgem ao lado de Dostoievski, Goethe, Homero ou Shakespeare. Isso ocorre porque, apesar de algumas dessas obras serem relativamente recentes (Clarice Lispector e Guimarães Rosa, por exemplo, publicaram no século XX), elas já tiveram um enorme impacto na sociedade. Sua qualidade, os temas que interessam leitores diferentes, em tempos e em espaços distintos, além das inovações trazidas pelas obras desses escritores, os colocam entre os grandes nomes da literatura. Para que você compreenda como pode se dar esse impacto, vamos utilizar a obra de Guimarães Rosa como exemplo. Os livros desse autor, como Tutameia ou Grande sertão: veredas, estão repletos de neologismos - essa é uma das marcas da obra de Rosa. Existe, inclusive, um dicionário, produzido pela professora Nilce Sant’Anna Martins, que cataloga todas as palavras e expressões inventadas pelo autor: O Léxico de Guimarães Rosa. Imagine, então, a dificuldade de traduzir seus textos e todas essas palavras que não existiam para outras línguas. Apesar disso, eles foram traduzidos para inúmeros idiomas, como o inglês, francês, italiano, alemão etc., fazendo sucesso em muitos países diferentes. Além disso, a obra já serviu de inspiração para filmes, óperas, histórias em quadrinhos, outros livros e documentários. Isso mostra como suas narrativas são férteis: tocam pessoas diferentes de maneiras diferentes; prestam-se a inúmeras interpretações; falam de temas universais. Grande sertão: veredas, por exemplo, trata do sertão de Minas Gerais - ou seja, de uma localidade bastante específica. Entretanto, como o próprio narra- dor fala, o sertão é dentro da gente: o livro, acima de tudo, trata de questões interiores, que podem ocorrer para pessoas que vivem na Brasil, na China ou na França; no campo ou na cidade; na praia ou no deserto. Os clássicos universais e a literatura brasileira202 Textos_Fundamentais_U4C11.indd 202 29/08/2017 06:58:20 1. Sobre o início da literatura brasileira, marque a opção correta. a) É considerado o marco da literatura brasileira, o primeiro texto escrito justamente por um brasileiro. b) O início da literatura brasileira dá-se com uma literatura informativa. c) Os primeiros documentos escritos relacionados ao Brasil são as impressões do rei português em relação às novas terras encontradas. d) Desde o início do encontro dos portugueses com os índios, há um confronto direto entre esses dois povos tão diferentes. e) Considera-se o marco da literatura brasileira as pinturas indígenas, que serviam para comunicar. 2. O Barroco e o Arcadismo foram dois movimentos literários brasileiros que ocorreram entre os séculos XVII e XVIII. Sobre os dois, pode-se dizer que: a) Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga são dois poetas árcades que se envolveram com a Inconfidência Mineira. b) Os sermões do padre António Vieira são considerados árcades, pois evidenciam uma conexão grande com a natureza e com a terra. c) Gregório de Matos é um poeta barroco que se preocupou com os sentimentos e com o interior do eu. d) Os árcades eram poetas que cultivavam o sentimento exacerbado, o exagero e a dramaticidade. e) Marília de Dirceu, livro de Tomás Antônio Gonzaga, é um livro que conta a história de um amor não realizado e sofrido. 3. O Romantismo foi um período literário muito importante no Brasil. Considere o trecho a seguir, presente no romance Iracema, de José de Alencar, e assinale a opção correta em relação à sua interpretação e às características românticas que aparecem nele. “Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os 203Os clássicos universais e a literatura brasileira Textos_Fundamentais_U4C11.indd 203 29/08/2017 06:58:21 ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavamo canto. Iracema saiu do banho; o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão.” a) Flores, árvores, animais, chuva: esses elementos ajudam a montar um cenário natural, distante da urbanização e da modernidade. b) Iracema é construída como uma feroz guerreira, o que fica atestado no trecho em que ela constrói as flechas de seu quarto. c) O narrador chama Iracema de selvagem para mostrar que os índios não eram pessoas boas e que o colonialismo foi algo positivo. Essa foi uma das marcas do Romantismo. d) Os muitos detalhes que o narrador dá sobre a floresta, sobre os animais que a habitam e sobre Iracema são uma tentativa de imitar a realidade, característica do Romantismo. e) Iracema é aproximada dos animais porque sua figura pouco se parece com a humana. 4. Sobre a Semana de Arte Moderna, ocorrida em 1922, marque a alternativa correta. a) O movimento buscou a inovação na linguagem. b) No Manifesto antropofágico, Oswald de Andrade recusa qualquer influência vinda do exterior: apenas o que é nacional é bom. c) Quando os artistas organizaram a Semana de Arte Moderna, que foi tão importante e decisiva para a literatura brasileira, eles decidiram inspirar-se na Antiguidade grega e produzir algo mais clássico. d) Mario de Andrade foi um dos poetas da Semana de Arte Moderna. Em sua obra, ele idealiza a vida no campo. e) “Os sapos”, de Manoel Bandeira, é um poema que foi declamado durante a Semana de Arte Moderna e que prega uma volta à natureza. 5. Sobre as Gerações de 30 e de 45, marque a opção correta. a) As duas gerações aproximam-se, no sentido de focarem essencialmente em questões sociais e de denunciarem esses problemas. b) José Lins do Rego e Graciliano Ramos fazem parte da Geração de 45. c) A Geração de 45 é bastante coesa, e todos os escritores pertencentes a esse movimento apresentam características bastante similares. Os clássicos universais e a literatura brasileira204 Textos_Fundamentais_U4C11.indd 204 29/08/2017 06:58:21 ALVES, Castro. O navio negreiro. [2017]. Disponível em: <http://www.dominiopublico. gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1786>. Acesso em: 22 ago. 2017. ANDRADE, C. D. José. 2011. Disponível em: <http://noticias.universia.com.br/destaque/ especial/2011/10/31/883898/12/20-poemas-carlos-drummond-andrade/poemas- -carlos-drummond-andrade-jose.html>. Acesso em: 22 ago. 2017. ANDRADE, O. Manifesto antropofágico. 1976. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/ cdrom/oandrade/>. Acesso em: 22 ago. 2017. BANDEIRA, M. Os sapos. 2011. Disponível em: <https://www.luso-poemas.net/modules/ news03/article.php?storyid=1505>. Acesso em: 22 ago. 2017. BARROS, M. de. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010. BILAC, O. Via-Láctea. [2017]. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/ pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=17317>. Acesso em: 22 ago. 2017. CAMINHA, P. V. A carta. [2017]. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov. br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=17424>. Acesso em: 22 ago. 2017. GONZAGA, T. A. Marília de Dirceu. [2017]. Disponível em: <http://www.dominiopublico. gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2012>. Acesso em: 22 ago. 2017. LITERATURA DO BRASIL. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia. org/wiki/Literatura_do_Brasil#Per.C3.ADodo_colonial>. Acesso em: 22 ago. 2017. OS SERTÕES. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Os_ Sert%C3%B5es>. Acesso em: 22 ago. 2017. VIEIRA, A. Sermão da sexagésima. 1965. Disponível em: <http://www.dominiopublico. gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1745>. Acesso em: 22 ago. 2017. d) A Geração de 30 foi essencialmente urbana, em semelhança aos escritores modernistas que participaram da Semana de Arte Moderna de 1922. e) O Regionalismo, também conhecido como Geração de 30, tem como característica (como seu próprio nome aponta) retratar as realidades específicas de cada região do país. 205Os clássicos universais e a literatura brasileira Textos_Fundamentais_U4C11.indd 205 29/08/2017 06:58:21 DICA DO PROFESSOR Neste vídeo, você vai conhecer uma das mais famosas obras da literatura brasileira: Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Vai analisar alguns de seus trechos e perceber como a ironia é construída no texto. Assista. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Sobre o início da literatura brasileira, é correto afirmar que: A) é considerado como o marco da literatura brasileira o primeiro texto escrito justamente por um brasileiro. B) o início da literatura brasileira dá-se com uma literatura informativa. C) os primeiros documentos escritos relacionados ao Brasil são as impressões do rei português em relação às novas terras encontradas. D) desde o início do encontro dos portugueses com os índios, há um confronto direto entre esses dois povos tão diferentes. E) o marco da literatura brasileira é considerado como sendo as pinturas indígenas, que serviam para comunicar. 2) O Barroco e o Arcadismo foram dois movimentos literários brasileiros que ocorreram entre os séculos XVII e XVIII. Sobre os dois, pode-se dizer que: A) Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga são dois poetas árcades que se envolveram com a Inconfidência Mineira. B) os sermões do Padre António Vieira são considerados árcades, pois evidenciam uma conexão grande com a natureza e com a terra. C) Gregório de Matos é um poeta barroco, que se preocupou com os sentimentos e com o interior do Eu. D) os árcades eram poetas que cultivavam o sentimento exacerbado, o exagero e a dramaticidade. E) "Marília de Dirceu", livro de Tomás Antônio Gonzaga, é um livro que conta a história de um amor não realizado e sofrido. O Romantismo foi um período literário muito importante no Brasil. Considere o trecho a seguir, presente no romance "Iracema", de José de Alencar, e assinale a opção correta em relação à sua interpretação e às características românticas que aparecem nele. "Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto. Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; 3) outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá , as agulhas da juçara com que tece a renda, e astintas de que matiza o algodão." A) Flores, árvores, animais e chuva: esses elementos ajudam a montar um cenário natural, distante da urbanização e da modernidade. B) Iracema é construída como uma feroz guerreira, o que fica atestado no trecho em que ela constrói as flechas de seu quarto. C) O narrador chama Iracema de selvagem para mostrar que os índios não eram pessoas boas e que o colonialismo foi algo positivo. Essa foi uma das marcas do Romantismo. D) Os muitos detalhes que o narrador dá sobre a floresta, sobre os animais que a habitam e sobre Iracema mostram uma tentativa de imitar a realidade, característica do Romantismo. E) Iracema é aproximada dos animais, porque sua figura pouco se parece com a humana. 4) Sobre a Semana de Arte Moderna, ocorrida em 1922, podemos afirmar que: A) esse movimento buscou a inovação na linguagem. B) no Manifesto Antropofágico, Oswald de Andrade recusa qualquer influência vinda do exterior: apenas o que é nacional é bom. C) quando os artistas organizaram essa Semana de Arte Moderna, que foi tão importante e decisiva para a literatura brasileira, eles decidiram inspirar-se na Antiguidade grega e produzir algo mais clássico. D) Mario de Andrade foi um dos poetas da Semana de Arte Moderna. Em sua obra, ele idealiza a vida no campo. E) "Os sapos", de Manoel Bandeira, é um poema que foi declamado durante a Semana de Arte Moderna e que prega uma volta à natureza. 5) Sobre as Gerações de 30 e de 45, é correto afirmar que: A) as duas Gerações aproximam-se no sentido de focar essencialmente em questões sociais e de denunciar esses problemas. B) José Lins do Rego e Graciliano Ramos fazem parte da Geração de 45. C) a Geração de 45 é muito coesa e todos os escritores pertencentes a esse movimento apresentam características similares. D) a Geração de 30 foi essencialmente urbana, em semelhança aos escritores modernistas que participaram da Semana de Arte Moderna de 1922. E) O Regionalismo, também conhecido como Geração de 30, tem como característica, como seu próprio nome aponta, retratar as realidades específicas de cada região do país. NA PRÁTICA Os grandes clássicos da literatura brasileira podem parecer, às vezes, um pouco difíceis, com uma linguagem diferente da que costumamos usar no cotidiano e com temas aparentemente distantes da nossa realidade. Para quebrar essa primeira barreira que nos distancia dos clássicos e para provar que essas são narrativas muito interessantes, que podem nos tocar e inspirar, pode ser interessante assistir a filmes ou a programas de televisão ou ler quadrinhos que adaptem esses obras. A seguir, você pode conferir algumas delas. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: A fundação da literatura brasileira Aprofunde seus conhecimentos e entenda um pouco mais sobre a literatura brasileira no texto abaixo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Literatura fundamental Conheça mais sobre uma das principais escritoras brasileiras: Clarice Lispector. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Textos fundamentais da literatura universal Acesse na íntegra o livro Textos fundamentais da literatura universal.
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