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Apostila_populacoes negras

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS 
BACHARELADO EM SAÚDE COLETIVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Professores: Fabiane Vinente dos Santos e Jean Ricardo Ramos 
Maia 
Sumário 
 
Introdução 
A África existe? Origens do negro e porque sabemos tão pouco sobre isso. 
Negros no Amazonas 
Fé e saúde combinam? Discutindo saúde e serviço de saúde em um estado laico: Saúde 
nos Terreiros 
Teorias raciais 
A Criminalização do racismo (O racismo na legislação) 
Injúria racial e racismo 
Casos recentes de racismo na mídia 
Conceituando quilombo 
O lugar jurídico e social da especificidade racial e étnica em saúde 
Saúde e vulnerabilidades na população negra: construindo estratégias 
Humanização como prática ou como meta? 
Competência cultural: fontes para um diálogo 
Os conceitos da Lei no. 12.288 de 2010 (Estatuto da Igualdade Racial) e sua utilização 
nas políticas de saúde para a população negra 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução 
 
Abordar a questão do negro como objeto de políticas de saúde é a falar da 
própria história do Brasil e seus processos sociais. A disciplina “Saúde da população 
negra e quilombola” tem como objetivo fornecer ferramentas conceituais e 
informacionais para o melhor conhecimento da realidade do negro e seu espaço no 
Sistema Único de Saúde. 
Ao longo deste curso, o acadêmico de saúde coletiva será convidado a construir 
um conhecimento pautado em dados e informações que o habilite a intervir de forma 
qualificada e a refletir sobre as desigualdades originadas na relação entre “raça”, 
enquanto construção social, e o acesso de uma parcela significativa da população 
brasileira aos serviços e políticas de saúde. 
 
A África existe? Origens do negro e porque sabemos tão pouco sobre isso. 
 
Para começar a falar do negro, é importante falar de seu lugar de origem, a 
África. Vamos, portanto, saber mais sobre este interessante território. 
A visão da África como um lugar homogêneo teve contribuições dos próprios 
intelectuais negros, que no século XIX começaram a formular a ideia de uma grande 
nação africana. Lima (2011:01) afirma que: 
 
Os teóricos do pan-africanismo inventaram a África una, homogênea e 
indistinta, que ainda hoje está presente nos textos de vários autores 
africanistas, que tratam o continente no singular, esquecendo de suas 
diversidades e realidades distintas. Esta África, nessa perspectiva, é tida 
como a origem de todas as práticas, costumes, culturas e religiões dos negros 
e negras da diáspora. 
 
Os teóricos do pan-africanismo acabam ocultando justamente a grande 
diversidade de experiências que os negros acumulam em sua dispersão pelo mundo, a 
chamada diáspora, seja esta dispersão voluntária- através das migrações – ou 
involuntária, através do tráfico negreiro. 
O que conhecemos como “África” na verdade é um território marcado 
historicamente pela diversidade. Povos viviam em torno de comunidades locais com 
suas chefias e costumes próprios, agrupadas em tribos e vivendo de atividades 
agropastoris. A escravidão que marcou os povos africanos inicia-se antes do século 
XIV, quando mercadores do Oriente Médio capturavam pessoas para vender no Oriente. 
Apesar disso, é preciso criticar a visão que caracteriza a África pelo viés da escravidão 
infligida a seus povos pelas nações orientais, européias e mais tarde, americanas. É 
preciso olhar adiante em busca da história deste continente, da qual sabemos muito 
pouco. 
Em 2003 a presidência da República sancionou a Lei 10.639 de 2003 obriga o 
ensino da história africana nas séries do ensino fundamental e médio. Este fato ajudou a 
minimizar este desconhecimento, pois estimulou a produção de pesquisas, teses, artigos 
e livros sobre o tema. Hoje é mais fácil encontrar material sobre a história da África do 
que há 10 anos, mas mesmo assim algumas dificuldades persistem. O conhecimento 
mais profundo da origem dos povos africanos contribui para extinguir o preconceito 
relacionado a estes povos e sua cultura, fortalecendo a identidade social do negro e 
repercutindo em políticas públicas para avançar na equidade. 
Praxedes e Praxedes (2004) comentam a comodidade em explicar a forma 
desigual como o negro foi tratado historicamente pelo viés fundamentalista, como a que 
propõe interpretações de escritos bíblicos formuladas em contextos escravagistas e que 
até hoje encontram quem neles acredite e os repitam. Um destes casos é o trecho do 
livro de Gênesis 9:18-25, que narra a maldição de Cam, filho de Noé. Segundo as 
interpretações elaboradas por comunidades religiosas do Sul dos Estados Unidos no 
século XIX (a maior parte delas formadas por senhores de escravos brancos) Cam seria 
o ancestral dos negros, que teriam sido desta forma amaldiçoados por sua cor. 
Não podemos nos esquecer do que diz Bourdieu (1988:156) de que “as 
representações dos agentes variam de acordo com sua posição (e com os interesses 
associados a ela)”. Por tanto, devemos sempre questionar a quem interessa determinadas 
expressões do preconceito racial como este. Esta interpretação bíblica, por exemplo, foi 
por muito tempo utilizada como justificativa para a escravidão e ainda hoje algumas 
pessoas, por desconhecimento, a repetem e a divulgam. 
O que se sabe hoje é que a África abrigava uma diversidade de povos com 
diferentes graus de tecnologia. Os livros de história frequentemente lembravam da 
África apenas em seus territórios acima do deserto do Saara, como o Egito, célebre 
berço de uma brilhante civilização. Mesmo a história do Egito nos traz elementos 
importantes para conhecer a história do negro. Pouca gente sabe, mas nos séculos VIII 
a.C. o Egito foi governado por uma dinastia de faraós negros, de origem Núbia, vindo 
do território ao norte do Nilo, onde já tinham estabelecido um império próprio. A 
disnastia kushita (do Império Kush, atualmente território do Sudão) governou o Egito 
por mais de 75 anos, estabelecendo um período de estabilidade política só quebrado 
pelas invasões sírias. 
O fato ainda é desconhecido pela maioria por um motivo simples: os egiptólogos 
europeus que se depararam com a descoberta da 25ª dinastia ainda no século XIX, 
recusavam-se a divulgar que faraós de pele escura pudessem ter estabelecido uma 
civilização tão rica (Draper, 2008). 
 
 
Fonte: National Geographic 
 
Diante da diversidade dos povos africanos, os estudiosos têm dificuldade em 
estabelecer parâmetros para falar do continente. Uma das metodologias adotadas é a que 
divide o território africano em suas principais matrizes linguísticas, que são basicamente 
5: Câmitas (norte e nordeste), Bantus, Sudaneses, Koisan, Malagaxes, Pigmeus e 
Bosquímanos. 
 
Fonte: National Geographic 
 
O contato da Europa, Ásia e Oriente Médio com a África data do início da 
história do comércio, pois o território africano era reconhecidamente rico em minerais 
preciosos, gemas e produtos como especiarias e madeiras. A partir do século XV, com 
a corrida expansionistas das nações europeias rumo à Ásia e América, a África passa a 
ser alvo de ações mais intensivas de exploração. Portugal, na época uma das grandes 
potências mundiais, instalou cerca de 50 feitorias na costa africana para facilitar a 
logística dos produtos extraídos daquele continente como o ouro na costa da 
Guiné, especiarias e escravos para as colônias no novo mundo. As feitorias também 
ajudavam no escoamento dos produtos do Oriente como açúcar, malagueta, caibro, 
madeiras, cavalos, cereais, penas de aves exóticas da Indonésia, pedras preciosas, sedas 
e porcelanas, dentre outros produtos. 
Como podemos ver na tabela abaixo, a América Portuguesa (Brasil) foi o 
território colonial que mais recebeu escravos africanos, quase 40% do total de cerca de 
3,6 milhões de pessoas traficadas neste período. 
 
Tabela 1 - Destinos dos escravos africanos (1519–1867)
 
 
América Portuguesa 38,5% 
América Britânica(menos a América do Norte) 18,4% 
América Espanhola 17,5% 
América Francesa 13,6% 
América do Norte Inglesa 6,45% 
Antilhas Holandesas 2,0% 
América Inglesa 3,25% 
Antilhas Dinamarquesas 0,3% 
Fonte: Wikipédia 
 
Para o Brasil, foram transportados principalmente pessoas de origem Bantu e 
Sudaneses. Os africanos eram capturados, em sua maioria, por chefes políticos e por 
mercadores da África Centro-Ocidental (atualmente Angola). A partir do século XVIII 
uma outra região passa a contribuir com escravos para as províncias do Rio de Janeiro, 
Pernambuco e São Paulo: a Costa Leste africana, especialmente Moçambique. O Golfo 
de Benin (Nigéria) passou a enviar escravos para a Bahia a partir da segunda metade do 
século XVII. 
 
Negros no Amazonas 
 
A invisibilidade histórica da presença negrana Amazônia e mais 
particularmente no estado do Amazonas, que ainda é pouco estudada, o que tem 
contribuído para a concepção de que a contribuição do negro localmente foi menor do 
que a de outros segmentos, especialmente pelo fato de que o maior contingente de 
escravos foi o da população indígena, tendo o tráfico negreiro um volume bem menor 
que o de outras regiões do Brasil (SAMPAIO, 2011). 
Entretanto, a influência negra fez-se sentir em várias ocasiões, especialmente 
durante o ciclo da borracha, quando a migração de nordestinos, especialmente os 
maranhenses, trouxe elementos próprios que, misturados aos indígenas, constituindo-se 
na matéria-prima de novas concepções culturais e religiosas. Um bom exemplo disso é a 
disseminação da manifestação folclórica conhecida como Bumba-Meu-Boi maranhense, 
que aqui se tornou o Boi Bumbá, e a consolidação de novas formas de religiosidade, 
como é o caso da Casa de Mina, de raiz Jeje, principal vertente dos cultos de origem 
africana nesta região (PEREIRA, 1979). 
 
A trajetória social do negro no Brasil contemporâneo 
 
 
Fonte: IPEA, 2011. 
 
 
 
 
 
 
 
Alguns dados comparativos da saúde da população negra com outros segmentos 
 
IPEA, 2011. 
 
 
Fonte: IPEA, 2011. 
 
 
 
 
 
Mortalidade por causas externas 
 
A mulher negra e a saúde 
Taxa da Mortalidade por Homicídio no Sexo Feminino, segundo raça/cor (em 100 mil 
mulheres). 
Dad
os: SIM/SVS/MS/Mapa da Violência. Elaboração: CFEMEA. 
 
 
 
 
Teorias raciais 
Carl von Linnaeus 
A noção de raça (do italiano razza) foi utilizada a partir do século XVIII na 
Botânica e na Zoologia para classificar espécies de plantas e animais. Este foi o uso 
dado pelo naturalista Carl von Linnaeus em seus trabalhos sobre as espeécies de “raças” 
de plantas e animais. Segundo Munanga (1988), Lineu – como é conhecido em 
portugues, logo passou a utilizar o termo para distinguir os tipos humanos, que foram 
categorizados em quatro grandes grupos, ou “raças”: Americano (indígena), Africano 
(negro), Asiático (amarelo) e Europeu (Branco). 
 Buscando atribuir características que permitissem a identificação dos quatro 
tipos, Lineu utiliza a teoria humoral formulada no século IV a.C. por Hipócrates, que 
utiliza o modelo de analogia entre humor (substância corporal), elemento da natureza e 
órgão do corpo para explicar a diferença entre as pessoas. Podemos ver como a teoria 
humoral funcionava na tabela a seguir: 
 
Teoria humoral formulada porHipócrates 460 a.C – 370 a.C) 
Humor Elemento Denominação Órgão Características 
Fleuma Água Fleumático Sistema 
respiratório 
Moderado, frio, 
diplomático 
Bílis 
Amarela 
Fogo Colérico Fígado Irritadiço, 
agressivo, 
corajoso 
Bílis negra Terra Melancólico Baço Desanimado, 
inquieto, 
complexo 
Sangue Ar Sanguíneo Coração Alegre, 
prestativo, 
amoroso 
 
 
Lineu utiliza este modelo para traçar correspondências entre os humores 
hopocráticos e as quatro raças humanas, conforme podemos perceber no quadro a 
seguir, lançando com isso as bases teóricas do racismo científico, que predominou em 
muitos campos da ciência até o início do século XX: 
 
 
Relação entre as raças e a teoria humoral, segundo Lineu. 
Raça Cor Temperamento Características Físico Vestuário 
Americano Moreno/Vermelh
o 
Colérico Amante da 
liberdade, 
governado pelo 
hábito 
Cabeçudo Tem 
corpo 
pintado 
Asiático Amarelo Melancólico Governado pela 
opinião e pelos 
preconceitos 
Introspectivo Usa 
roupas 
largas 
Africano Negro Fleumático Governado pela 
vontade de seus 
chefes 
(despotismo) 
Astucioso, 
preguiçoso, 
negligente 
unta o 
corpo com 
óleo ou 
gordura 
Europeu 
 
Branco Sanguíneo Governado pelas 
leis 
Musculoso, 
engenhoso, 
inventivo 
usa roupas 
apertadas 
 
Outro autor responsável pelo “aperfeiçoamento” da teoria racial foi o (1816-
1882)Gobineau: Ensaio sobre a desigualdade da raça humana (1853) 
 
O que é racismo? 
Racismo é a convicção sobre a superioridade de determinadas raças ou cores, com base 
em diferentes motivações, em especial as características físicas e outros traços do 
comportamento humano. 
 
O caso de Saartjie Baartman, A Vênus Hottentot (1789-1815): racismo na era 
vitoriana 
 Um dos episódios mais perturbadores que tem origem no racismo é o caso de 
Saartjie Baartman, A Vênus Hottentot. Capturada entre os povos khoisan, Saarjie era 
escrava em uma fazenda de holandeses próxima à Cidade do Cabo, na África do Sul, 
quando foi convidada a se apresentar em Londres dentro do que era conhecido como 
Freak Show (Exibição de aberrações) nos quais eram mostradas pessoas consideradas 
“aberrações” por suas características físicas assustadoras. Os freak show reuniam quem 
quisesse pagar para ver por exemplo gêmeos siameses, anões, deficientes físicos com 
características incomuns. 
 Saartjie possuía um corpo muito diferente dos padrões das mulheres brancas da 
Europa. Além da esteatopigia, que lhe conferia um grande volume nas nádegas, Saartjie 
possuía lábios vaginais extensos. Suas características físicas levaram os estudiosos da 
época a comparar suas características anatômicas – tidas como “típicas” das mulheres 
negras, com as das mulheres brancas europeias, supostamente “normais”. 
 
 
 
 
 A teoria racista que atribuía ao negro traços anômalos ganhou grande força com a 
exibição e Saartjie pela Europa, primeiro em Londres e depois na França. Os racistas 
viam naquele corpo exótico a confirmação de que os negros eram mais próximos aos 
macacos que os brancos. Enquanto viva, Saartjie teve seu direito à humanidade retirado 
de si. foi tratada como um animal de zoológico, exibida como aberração e ridicularizada 
das mais diversas formas. 
 Faleceu em 1815, prostituída e alcoólica. Seu corpo mais uma vez foi objeto de 
abusos em nome da ciência. Foi enviada para o Museu de História Natural de Paris, 
onde foi autopsiada, tendo cérebro e genitais retirados para conservação. Seu corpo foi 
base para um molde de gesso que reconstruiu sua imagem e ficou em exibição por mais 
de dois séculos em Paris, juntamente com seus ossos. 
 Em 1994, o então presidente da África do Sul, Nelson Mandela, atendendo ao 
clamor de um movimento interno que pedia a repatriação dos restos mortais de 
Saartjie, solicitou formalmente que a França devolvesse o que restara. Pressionado por 
uma parcela da população, o governo francês acatou a solicitação em 6 de março de 
2002. Os restos de Saartjie retornaram à terra natal, o Vale do Rio Gamtoos, em 6 de 
maio de 2002, onde foram finalmente enterrados. 
 
 
 
A expedição Thayer e a questão das raças no Brasil 
 
O Brasil era visto pela comunidade científica do século XIX como um grande 
laboratório racial, onde pelo menos três dos quatro tipos raciais propostos por Lineu 
haviam se misturado e dado origem a outros subtipos. Foi com esta crença que a 
expedição Thayer (1865-1866) percorreu grande extensão do território brasileiro – 
partindo do Rio de Janeiro e seguindo ao Amazonas, de onde o grupo de doze pessoas 
dividiu-se: uma parte seguiu viagem paraalcançar territórios fora da fronteira brasileira 
enquanto a outra metade, dentre os quais Elizabeth e seu marido, chefe da expedição, o 
naturalista suíço residente na Inglaterra, Louis Agassiz, empreendia a viagem de volta. 
O Brasil vivia os últimos dias do Império, sob o governo de D. Pedro II, cuja 
vocação humanística e científica fora fundamental para a realização da empreitada, uma 
vez que o imperador estimulava e apoiava a vinda de cientistas e artistas estrangeiros 
para o país. Com Agassiz, eminente catedrático de Cambridge, não fora diferente. 
Empenhado numa cruzada pessoal para deslegitimar a tese da evolução das espécies de 
Charles Darwin, que ganhava cada vez mais adeptos nos meios científicos, Louis 
Agassiz buscava no Brasil a contraprova que desse sustentação à teoria catastrofista, 
uma releitura do criacionismo, da qual tornara-se ardente defensor. 
Agassiz e Darwin representam os dois pólos opostos da maior controvérsia 
científica do século XIX: as teorias sobre a origem das espécies. De um lado estava 
Darwin, com a tese da seleção natural e da sobrevivência dos indivíduos mais aptos ao 
meio e às transformações nele ocorridas; de outro os representantes das várias teorias 
criacionistas, como os catastrofistas que, inspirados pela Teologia natural, pregavam 
uma releitura da passagem bíblica do Gênesis a partir de evidências científicas, embora 
negando o materialismo presente nas teses evolucionistas. Para estes, a criação seguia os 
rumos determinados por Deus e cada ser vivo seria uma criação única. As catástrofes 
ocorridas na terra como dilúvios e formação de geleiras teriam destruído toda a vida em 
cada período, não deixando ligação biológicas entre as espécies (Freitas, 2001, p. 38). 
No que diz respeito à questão racial, Agassiz era adepto do poligenismo – o que 
estava de acordo com a tese catastrofista - segundo o qual “as raças seriam fenômenos 
essenciais e ontológicos resultantes de centros de criação diversos” (Schwarcz, 2003), 
embora justamente por isso tal tese discordasse da origem única da humanidade 
postulada pela Bíblia. O poligenismo foi a teoria responsável pela estigmatização 
“científica” do negro, considerada desta forma como raça distante da branca e, portanto, 
inevitavelmente degradada. 
A classificação poligenista ia além do fenótipo, atribuindo características 
psicológicas a cada “tipo”. As negras seriam hipersexuadas, produto de uma lascividade 
primitiva, enquanto as índias estariam no outro oposto da degenerescência: seriam 
indolentes e apáticas, cujos sinais seriam reforçados pelo tipo físico de estatura baixa e 
mirrada, cuja prova a expedição constatava nos divertimentos como danças, quando as 
índias deixavam-se levar pelos parceiros sem demonstrar alegria ou tristeza. 
Para Agassiz a mistura de raças, ao contrário do que postulava grande parte da 
intelectualidade brasileira da época, era nociva, pois diluiria os caracteres positivos de 
cada raça, dando origem a espécies estéreis e degeneradas, abundantemente observadas 
pela expedição e cuidadosamente classificadas: cafuzo, mameluco, mulato... 
 
Fé e saúde combinam? Discutindo saúde e serviço de saúde em um estado laico: 
Saúde nos Terreiros 
 
Uma das expressões mais pungentes da questão do negro no Brasil são as 
religiões de matrizes afro-ameríndias, também chamadas de afro-brasileiras. Elas são 
origem às chamadas “comunidades de terreiros”. Vamos explorar aqui um pouco desta 
relação entre saúde e crença. 
Por terreiros estamos tomando aqui os espaços religiosos organizados a partir de 
grupos constituídos em torno de culto de matriz africana, afro-brasileira e/ou ameríndia, 
localizados na área urbana de Manaus e instituídos em torno da dimensão comunitária, 
do caráter étnico, ligado à herança religiosa e cultural trazida pelos escravos durante o 
período do tráfico negreiro da África para o Brasil (entre o século XVI até 1850), de 
uma organização social diferenciada e reunidos em torno de uma autoridade religiosa 
reconhecida pelo grupo. 
Há uma ampla base no ordenamento jurídico para proteção legal das 
comunidades de terreiro e das práticas religiosas de matriz africana e afro-ameríndia. A 
Constituição Federal de 1988 dispõe que “é inviolável a liberdade de consciência e de 
crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da 
lei, a proteção aos locais de culto e às suas liturgias” (art. 5°, VI). 
Na esteira do texto constitucional, toda uma legislação definidora das 
comunidades tradicionais e de suas prerrogativas tem sido efetivada. A Política 
Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais 
(Decreto 6.040 de 2007) estabelece que Povos e Comunidades Tradicionais “são 
entendidos como grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, 
que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e 
recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, 
ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e 
transmitidos pela tradição”. O Artigo 23 da Lei 12.288 de 12 de julho de 2010, chamada 
de “Estatuto da Igualdade Racial”, assegura que é “inviolável a liberdade de consciência 
e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na 
forma da lei, a proteção aos locais de culto e às suas liturgias”. 
Os cultos afro-brasileiros são classificados de acordo com o local de sua origem 
africana: os Jeje (também chamados de fon, mina, ashanti, mahin e ewe) vieram de 
Togo, Gana e Benin, no Golfo da Guiné. Os Nagô (também chamados de Ketu), do 
Benin e outros locais – agrupados na categoria Yoruba, e os Angola, originários do 
local hoje ocupado pelo país do mesmo nome (MOURA, 2004). Estas procedências são 
as principais referências para as comunidades de terreiro existentes no Brasil desde a 
chegada dos primeiros africanos, ainda no século XVII. No Amazonas, os fluxos 
migratórios como o do início da zona franca na década de 70 ajudaram a enriquecer este 
quadro. 
De acordo com o estudo de Chester Gabriel (1985) - um dos poucos trabalhos 
de investigação sobre os cultos afro-brasileiros em Manaus, realizado na década de 70 -, 
diferente das outras cidades, Manaus sofria uma grande influência de terreiros de 
origem Jeje (oriundos das casas maranhenses como a de Minas e Turquia), mas que se 
caracterizava pela diversidade e mistura de elementos originários das religiões 
indígenas, de umbanda e batuques, este último considerado mais próximo ao 
candomblé. Pereira (1979), na mesma direção, identifica a forte influência da Casa das 
Minas em Manaus. Araújo (2008), em trabalho recente, acompanhou uma casa de 
Angola, mostrando como este universo é multifacetado. 
A Umbanda, embora tenha forte influência do Candomblé, é uma formulação 
diferente das tradicionais casas características desta última modalidade de culto: Ortiz 
(1999) defende que ela é uma síntese essencialmente brasileira das religiões africanas 
com a influência indígena e do catolicismo. A umbanda, embora flexibilize algumas 
instituições do candomblé, permanece semelhante a este na estrutura dos cultos, 
voltadas para entidades metafísicas que podem incorporar-se nos humanos e, através 
deles, aconselhar, admoestar, alertar, conversar e até se divertir, numa comunhão do 
mundo espiritual com o terreno raramente vista em outras práticas religiosas. 
As chamadas “religiões de matriz africana, afro-brasileira e ameríndia”, 
portanto, atualmente abrangem uma grande diversidade de cultos e vertentes com várias 
denominações de acordo com o local (candomblé, umbanda, batuque, tambor de mina, 
xambá, omolocô, pajelança, jurema, quimbanda, xangô, terecô). A centralidade da casa 
de cultos, chamada de “templo” ou “seara” não impede a existência de uma 
espacialidade difusa que abrange outros elementosambientais considerados sagrados 
como árvores, casas anexas ao templo, criação de animais para os serviços dos templos 
ou geração de renda, fontes de água, etc. 
 
As religiões afro-ameríndias em Manaus e a disputa por espaço na cidade 
 
Os terreiros manauaras são referências religiosas e afetivas importantes para as 
pessoas de seu entorno que participam das festas ou que os procuram em busca de alívio 
espiritual. Fazem parte da história dos bairros e da cidade de Manaus, como é o caso da 
célebre Joana Galante, uma das fundadoras do bairro de São Jorge e a mãe-de-santo 
mais famosa de Manaus nas décadas de 50 e 60, conhecida por sua generosidade e 
sabedoria e Mãe Quintina, sua sucessora. Outra figura histórica é a de Mãe Zulmira, 
antológica yalorixá do Morro da Liberdade, que até sua morte ganhou inúmeras 
homenagens de políticos e pessoas proeminentes na sociedade manauara. 
Com a implantação da Zona Franca em 1967, um processo de “inchaço” da área 
urbana de Manaus teve início. O aumento do número de habitantes chegados de outros 
estados e do interior do Amazonas em busca de emprego e oportunidades provocou a 
ocupação desordenada dos igarapés e cursos de água, alguns deles aterrados para dar 
lugar a novas áreas de habitação. Tal dinâmica, agudizada nas últimas décadas, atingiu 
violentamente aos terreiros, cujo caráter guarda uma relação estreita com os elementos 
ambientais. 
Os terreiros necessitam de um espaço diferenciado para realizar suas práticas: sua 
relação com elementos ambientais como água corrente, árvores e animais é mais estreita 
do que a de outras práticas religiosas. O processo de concentração urbana e o 
desaparecimento de quintais, cursos de água e áreas verdes em Manaus, tem 
impossibilitado sua permanência (BOAES E OLIVEIRA, 2011). 
Os manauaras sempre tiveram uma relação de grande tolerância com as práticas 
religiosas afro-ameríndias. Na memória social dos bairros, as festas de santo como o 
Dia de Cosme e Damião e as festas em homenagem a Oxum (Nossa Senhora da 
Conceição), Iansã (Santa Bárbara) e Ogum (São Sebastião) faziam parte do calendário 
das festividades urbanas. A relação com as líderes dos terreiros, as mães-de-santo como 
a já citada Joana Galante, a saudosa Mãe Zulmira ou a atuante Mãe Emília de Toy 
Lyssa da Cidade Nova era e é algo presente na vida de algumas partes da cidade. 
Embora receba a todos, como acontece na maioria dos terreiros, as mulheres 
guardam uma relação de mais proximidade com a mãe-de-santo por vários motivos: é 
esta quem benze as crianças pequenas, evitando os quebrantos (malefícios oriundos do 
olhar de pessoas que pode, com ou sem intenção de seus autores, trazer graves doenças 
às ainda frágeis almas infantis), tratando doenças para as quais nãos e encontram 
fundamentos físicos, para receitar um banho de ervas, para aconselhar sobre problemas 
cotidianos ou simplesmente para fazer um “passe” (uma benção) em prol da saúde 
espiritual, que está estritamente relacionada ao afastamento dos males e ao bem-estar. 
Nos terreiros, o ser humano é visto por uma perspectiva holística: corpo e alma 
formam um todo indivisível e a saúde é o estado de equilíbrio de ambos. Neste sentido, 
o conceito de auto-atenção formulado por Menendez (2003) parece adequado para 
pensar as práticas religiosas afro-ameríndias que envolvem a saúde e o bem-estar das 
pessoas, que é descrito pelo autor como sendo... 
 
As representações e práticas que a população utiliza no nível do sujeito e do 
grupo social para diagnosticar, explicar, atender, controlar, aliviar, suportar, 
curar, solucionar ou prevenir os processos que afetam sua saúde em termos 
reais ou imaginários, sem a intervenção central, direta ou intencional dos 
curadores profissionais, mesmo quando eles possam ser a referência da 
atividade de auto-atenção; de tal maneira que a auto-atenção implica decidir a 
auto-prescrição e o uso de um tratamento de forma autônoma ou 
relativamente autônoma (MENENDEZ, 2003: 199, tradução minha). 
 
Tais práticas não excluem o modelo da medicina oficial, mas o complementam, 
fornecendo aos indivíduos as explicações que estes demandam sobre o porquê de seu 
adoecimento e dos mecanismos de cura disponíveis, além de devolver aos sujeitos o 
protagonismo do processo de terapêutico, do qual eles são alienados pelos serviços 
médicos. 
 O papel da crença como elemento da cura, além do suporte emocional e da 
importância das práticas solidárias nos terreiros, cuja ética valoriza a caridade e o 
cuidado com o semelhante, são os elementos que ajudam a explicar a importância dos 
terreiros e das mães e pais de santo como líderes espirituais e sociais das comunidades 
em que se inserem. 
Constantemente alvo de preconceito e de discriminação, as religiões de matriz 
afro-brasileira e ameríndia constituem-se num elemento importante da diversidade 
sociocultural e histórica das cidades, testemunho da mistura de crenças e de 
experiências sociais distintas do negro, do branco e do índio. 
Enquanto um templo católico dificilmente sofrerá uma ação de remoção e as 
igrejas evangélicas possuem um caráter muito mais livre e flexível com relação ao lugar 
que ocupam para os cultos, podendo facilmente mudar de localização, os terreiros 
possuem raízes muito mais profundas com as áreas onde estão estabelecidos, além de 
um componente afetivo bastante forte com suas comunidades. É importante que Manaus 
guarde a memória da presença dos terreiros também nas áreas centrais da cidade e que 
esta presença não seja ocultada ou escondida. 
Serra et al. (2010) mostra como os terreiros de candomblé de Salvador, 
compreendidos como núcleos de ação social e desta forma como agências de saúde, são 
parceiros preciosos do setor saúde na formulação, implantação e monitoramento de 
políticas públicas da área. Este envolvimento entre religião e saúde em prol da 
qualidade de vida da população não é novidade: há várias iniciativas exitosas e de maior 
repercussão como o caso da Pastoral da Criança da Igreja Católica, que ajudou a 
reverter índices de mortalidade infantil no Brasil na década de 80. 
A intervenção sobre a paisagem urbana, quando feita sem a devida atenção aos 
aspectos sociais e históricos que relaciona seus moradores, contribui para varrer a 
presença dos terreiros das áreas de maior circulação, negando o caráter plural e 
dinâmico da cidade e privando uma parcela da população do conforto psíquico 
proporcionado por práticas de saúde que, mesmo sem o reconhecimento oficial, se 
constituem em modos de vivenciar a sociabilidade urbana que envolvem valores como 
solidariedade, integralidade, comunidade e respeito à pessoa humana. 
 Pautado pelo Estatuto da Igualdade Racial, o SUS tem buscado dialogar com 
esses espaços sociais por entende-los como agentes de promoção à saúde em potencial. 
Um desses interlocutores é a RENAFRO - Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras 
e Saúde, que reúne cerca de 300 entidades ligadas às religiões de matriz afro-ameríndia 
e afro-brasileira. Segundo Marmo (2007) 
 
A Rede foi criada em março de 2003 durante o II Seminário Nacional 
Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (São Luis-MA) sendo uma instância de 
articulação da sociedade civil que envolve adeptos da tradição religiosa afro-
brasileira, gestores/profissionais de saúde (MARMO, 2007). 
 
Seus objetivos principais são: 
 
A Rede tem como objetivos lutar pelo direito humano à saúde; valorizar e 
potencializar o saber dos terreiros em relação à saúde; monitorar e intervir 
nas políticas públicas de saúde exercendo o controle social; combater o 
racismo, sexismo, homofobia e todas as formas de intolerâncias; legitimar as 
lideranças dos terreiros como detentores de saberes e poderes para exigir das 
autoridades locais um atendimento de qualidade, em que a cultura do terreiro 
seja reconhecida e respeitada; estabelecer um canal de comunicação entre os 
adeptosda tradição religiosa afro-brasileira, os gestores, profissionais de 
saúde e os conselheiros de saúde. 
 
A RENAFRO é um exemplo de ator social importante para auxiliar o poder 
público a pensar em estratégias para combater a exclusão social do negro no setor 
saúde, onde ela ocorre. 
 
A Criminalização do racismo (O racismo na legislação) 
 
A primeira lei antirracista do Brasil foi a Lei Afonso Arinos (Lei 1390/51 de 3 
de julho de 1951). A Lei Afonso Arinos previa como contravenção penal, passível de 
prisão ou pagamento de multa, algumas atitudes como a recusa, por parte de 
estabelecimento comercial, de ensino e hotéis, de hospedar, servir, atender ou receber 
cliente, comprador ou aluno, por preconceito de raça ou cor e recusar a venda de 
mercadorias e em lojas de qualquer gênero, ou atender clientes em restaurantes, bares, 
confeitarias e locais semelhantes, abertos ao público, onde se sirvam alimentos, bebidas, 
refrigerantes e guloseimas, ou atendê-los em salões, barbearias ou estabelecimentos de 
lazer por preconceito de raça ou de cor. 
A persistência do racismo na sociedade brasileira levou os deputados 
constituintes a incorporar na Constituição de 1988 alíneas e parágrafos destinados a 
preservar os direitos humanos de grupos de pessoas vulneráveis pela implementação 
conjunta de medidas de combate à discriminação (estratégias negativas ou punitivas) e 
de promoção da igualdade (estratégias positivas ou afirmativas). Inicialmente as 
políticas públicas de combate à discriminação enfatizaram o aspecto repressivo com 
penalização de práticas racistas. (Lei 1.390/51, Lei Afonso Arinos). 
A Constituição de 88 introduziu ainda ações afirmativas entre as quais destacam-
se o reconhecimento e titulação das terras onde residem remanescentes de quilombos. A 
despeito da extensa produção na área de ciências humanas sobre relações raciais e 
desigualdades nas condições de vida, a questão dos impactos do racismo na saúde ainda 
é recente e pesquisas neste sentido são iniciadas apenas em no final do século XX e 
início do XXI. Isso ocorreu em parte pela própria dificuldade de obter dados confiáveis, 
já que pouca atenção era dada o registroda cor nos serviços de saúde e nas bases de 
dados de mortalidade. Este registro passa a ser compulsório em 1996 nos óbitos e em 
2007 para a morbidade. 
A análise destes dados, na primeira década do século XXI, revelavam que pretos 
possuíam menor esperança de vida ao nascer e eram os mais vulneráveis em relação a 
mortes por causas violentas. 
A seguir veremos alguns dos principais dispositivos jurídicos para a questão do 
racismo. 
 
Declaração Universal dos Direitos Humanos 
Art. 2º - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades 
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, 
sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, 
riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 
 
Constituição de 88 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se 
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
 
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena 
de reclusão, nos termos da lei; 
 
 
Lei Caó (Lei nº 7437/85) 
No dia 20 de dezembro de 1985, uma lei federal estabelecia como crime o tratamento 
discriminatório no mercado de trabalho, entre outros ambientes, por motivo de raça/cor. 
A chamada “Lei Caó” (Lei nº 7437/85) classifica o racismo e o impedimento de acesso 
a serviços diversos por motivo de raça, cor, sexo, ou estado civil como crime 
inafiançável, punível com prisão de até cinco anos e multa. 
 
Lei 7.716/89 (Lei do crime racial) 
Torna o crime de racismo inafiançável e imprescritível. 
 
Lei no. 9.459/97 (altera a Lei 7.716/89). 
Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou 
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional 
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, 
religião ou procedência nacional. 
 
Estatuto da Igualdade Racial,Lei 12.288/10 
Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se: 
I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou 
preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha 
por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de 
condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, 
econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada; 
 
II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso e 
fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de 
raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica; 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7437.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7437.htm
 
III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da sociedade 
que acentua a distância social entre mulheres negras e os demais segmentos sociais; 
 
IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, 
conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE), ou que adotam auto-definição análoga; 
 
 
Injúria racial e racismo 
 
Os dispositivos jurídicos existentes hoje no Brasil em relação ao preconceito racial 
possuem duas abordagens: a injúria racial e o racismo. Cada um deles está previsto em 
um dispositivo específico. 
 
Injúria racial 
 
 Descrita no artigo 140, § 3º do Código Penal Brasileiro 
 Ofensa à honra de alguém com a utilização de elementos referentes à raça, cor, 
etnia, religião ou origem. 
 A pena prevista é de reclusão de 01 a 03 anos e multa. 
 A ação penal aplicável a esse crime tornou-se recentemente pública 
condicionada à representação do ofendido, sendo o Ministério Público o detentor 
de sua titularidade. 
 
Racismo 
 
 Descrito na Lei 7.716/89. 
 É a conduta discriminatória dirigida a um determinado grupo ou coletividade. 
 Considerado mais grave que a injúria racial, 
 Imprescritível 
 Inafiançável 
 Cabe ao Ministério Público a legitimidade para processar o ofensor. 
 
 
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10622653/artigo-140-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10622481/par%C3%A1grafo-3-artigo-140-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
Diferenças entre Injúria racial e racismo 
 INJÚRIA RACIAL RACISMO 
BEM JURÍDICO honra subjetiva dignidade humana 
PRECONCEITO raça, cor, etnia, religião, 
origem ou a condição de 
pessoa idosa ou portadora 
de deficiência 
raça, cor, etnia, religião 
ou procedência nacional 
PREVISÃO 
LEGAL 
art. 140, § 3.º, CP Lei 7.716/89 
AÇÃO PENAL pública condicionada à 
representação do ofendido 
pública incondicionada 
FIANÇA cabe fiança inafiançável 
PRESCRIÇÃO prescreve (art. 109, CP) imprescritível 
VÍTIMAS número determinado de 
vítimas 
número indeterminado 
de vítimas 
Fonte: Adaptado de Alves e Sahade Filho (2006) 
 
 
Casos recentes de racismo na mídia 
 
Caso Goleiro Aranha e os torcedores do Grêmio em 2014 (injúria racial) 
 
 
Fonte: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/08/racismo-jogo-gremio-vs-
santos.html 
 
 
 
 
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/08/racismo-jogo-gremio-vs-santos.html
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/08/racismo-jogo-gremio-vs-santos.html
Caso jornalista Micheline Borges e as médicas cubanas: preconceito racial na Internet 
(Racismo) 
 
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/sindicato-das-domesticas-de-sp-entra-com-acao-contra-micheline-borges-5972.html 
 
 
Conceituando “quilombo” 
 
O termo quilombo e sua qualidade de “terra de pretos” aparece pela primeira vez 
na historiografia em um documento datado de 1740, quando reportando-se ao rei de 
Portugal, o Conselho Ultramarino valeu-se da seguinte definição: “Toda habitação de 
negros fugidos, que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham 
ranchos levantados e nem se achem pilões nele”. (Schmitt, 2002). Almeida (1999) 
destaca que, nesta definição do Conselho Ultramarino, cinco elementos estão presentes: 
 
1) a fuga; 
2) uma quantidade mínima de fugidos; 
3) o isolamento geográfico, em locais de difícil acesso e mais próximos de uma 
natureza selvagem que da chamada civilização; 
4) moradia habitual, referida no termo rancho; 
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/sindicato-das-domesticas-de-sp-entra-com-acao-contra-micheline-borges-5972.html
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/sindicato-das-domesticas-de-sp-entra-com-acao-contra-micheline-borges-5972.html
5) autoconsumo e capacidade de reprodução, simbolizados na imagem do pilão de 
arroz. 
 
Estas características foram constantemente evocadas para a identificação dos 
quilombos e, de certo modo, ainda pautam o imaginário social sobre estas localidades. 
Ainda para Almeida (1999): 
 
a situação de quilombo existe onde há autonomia, existe onde há uma 
produção autônoma que não passa pelo grande proprietário ou pelo senhor de 
escravos como mediador efetivo, embora simbolicamente tal mediação possa 
ser estrategicamente mantida numa reapropriação do mito do bom senhor, tal 
como se detecta hoje em algumas situações de aforamento (ALMEIDA, 
1999:14-15) 
 
Etimologicamente a palavra“quilombo” é de origembantu, e era utilizada 
originalmente para descrever acampamentos estabelecidos na mata para funções de 
coleta ou de guerra. Fosse como lugar de refúgio de escravos fugidos ou como lugar de 
habitação de ex-escravos e libertos, os quilombos constituíram-se ao longo da história 
como locais de representação da identidade negra. 
Com a Constituição de 1988, os quilombos no Brasil alcançam outro status 
frente ao Estado Nacional, graças ao artigo n.º 68 do Ato das Disposições 
Constitucionais Transitórias da Constituição Federal, que reconhece o direito destas 
comunidades à terra que ocupam nos seguintes termos: “Aos remanescentes das 
comunidades de quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a 
propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”. 
Apesar de sua origem como lugar de pretos, os quilombos conceituam 
agrupamentos humanos além da simples noção de “cor”. Pesquisas recentes de 
mapeamento genético de comunidades quilombolas como a realizada por Pedrosa 
(2006) mostram que a parcela de “ancestralidade genética” de origem europeia e 
indígena nestes agrupamentos são bastante significativas, derrubando a noção de 
“pureza racial” e reforçando o argumento de que tais comunidades originaram-se de 
processos sociais mais complexos. 
 
Ancestralidade genética de habitantes de quilombos 
Nome do quilombo Africana Europeia Indígena 
Cametá (Norte) 48% 17,9% 34,1% 
Cajueiro (Nordeste) 67,4% 32,6% 0% 
Curiaú (Norte) 73,6% 26,4% 0% 
Paredão (Sul) 79,2% 2,8% 18,1% 
Trombetas (Norte) 62% 27% 11% 
Valongo (Sul) 97,3% 2,7% 0% 
Mimbó (Nordeste) 61% 17% 22% 
Sítio Velho (Nordeste) 72% 12% 16% 
Fonte: Pedrosa (2006). 
 
 
 
No esforço para buscar ferramentas para franquear às comunidades de quilombo 
o acesso aos serviços do Estado, apenas dois meses antes da promulgação da 
Constituição de 88, foi criada a Fundação Palmares (através da Lei no. 7.668/88), uma 
autarquia do Governo Federal dedicada à preservação do patrimônio cultural da arte e 
cultura afro-brasileira. A Fundação Palmares apresenta em seu site dados mais 
atualizados sobre a questão do reconhecimento dos quilombos no Brasil, o que nos é útil 
para compararmos distribuição, em território nacional, da maioria dos quilombos 
reconhecidos ou identificados, bem como para situar os estados da federação que mais 
concentram quilombos como é o caso da Bahia, Maranhão e Pará. 
 
Quadro da situação das terras de Quilombo segundo a Fundação Palmares 
 
 
Fonte: http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/crqs/quadro-geral-por-estado-ate-23-02-2015.pdf 
 
 
Os quilombos, além de sua característica de agrupamento humano, constituem-
se em alvo de política pública à medida em que são espaços de resistência social de 
comunidades que, apesar das pressões representadas pelo avanço das frentes 
expansionistas do Estado, mantiveram seus modos de viver e sua autonomia. 
A política nacional de saúde da população negra propõe o quilombo como objeto 
de intervenção por considerar que tais comunidades, assim como as comunidades de 
terreiro, constituem-se em formulações sociais representativas do povo negro e de sua 
identidade social no Brasil. 
 
O lugar jurídico e social da especificidade racial e étnica em saúde 
 
 
 Tendo em vista tudo o que discutimos até aqui, ficam algumas questões 
importantes. Uma delas é: Estabelecer uma política de saúde para a população 
negra não seria reavivar os preconceitos raciais através de uma nova forma de 
discriminação, tendo em vista que hoje sabe-se que não existe “raça”? 
 Historicamente são bem conhecidos os perigos da “racialização” no âmbito do 
Estado nacional. Ainda é bem presente na memória social as mazelas que o nazismo, na 
Alemanha, causaram ao mundo, com sua ideologia de superioridade da raça ariana, ou 
as consequências nefastas de regimes como o Apartheid na África do Sul, que 
justificava a discriminação entre negros e brancos com uma suposta “proteção” à cultura 
dos dois segmentos. 
 Se não existem raças, então como seria possível explicar as diferenças de 
fenótipo entre os humanos? Como explicar a prevalência, bastante conhecida na 
literatura médica, de pretos e pardos entre os acometidos por anemia falciforme ou na 
deficiência de fosfato 6-Glicose-Desidrogenase? Vários estudiosos têm buscado 
responder a esta questão. Tomamos aqui a discussão realizada por Bastos e Travassos 
(2005) que mostra que, se não é possível falar de raça, não é possível descartar certas 
diferenças não restritas à biologia, entre os humanos. 
 
Estudos, tanto internacionais, como, mais recentemente, nacionais, 
demonstraram que a distribuição de determinados padrões genéticos nas 
diferentes populações humanas é bastante mais complexa do que se pensava 
antes, não conformando propriamente “raças” mas sim grupos humanos 
definidos segundo outros recortes, como o da distribuição espacial e o da 
recursividade de determinadas interações sociais, como veremos a seguir. 
Assim, a população brasileira tida como branca apresenta elevada frequência 
de traços genéticos que caracterizam ancestralidade africana (Bastos e 
Travassos, 2005:463) 
 
 Segundo este enfoque, não é verdadeiro afirmar que não exista diversidade 
genética significativa nas populações humanas; seria mais correto afirmar que tal 
diversidade não é determinada apenas biologicamente ou “sancionadas pelas variações 
fenotípicas” (p.463), como preferem Bastos e Travassos, mas também por outros fatores 
tão importantes quanto como as divisões culturais e ambientais. 
 Ainda segundo os mesmos autores, esta variação se dá muito mais no nível dos 
indivíduos do que entre os grupos populacionais definidos como “raças”. Os autores 
complementam seu raciocínio afirmando que o fato inegável e verificável de que certas 
populações apresentam concentração de alguns traços genéticos como o conhecido 
exemplo do predomínio de pretos entre os acometidos de anemia falciforme, estas 
características não autorizam uma categorização racial. 
 Além da anemia falciforme, outros agravos também guardam relação com a 
população negra (Cunha, 2003; Brasil, 2001): A deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase; 
 Hipertensão arterial; 
 Diabetes Mellitus; 
 Câncer de colo de útero; 
 Doenças cardíacas; 
 Miomas uterinos; 
 Câncer de colo de útero; 
 Mortalidade fetal e perinatal. 
 
 Logo, os autores demonstram a existência de uma ambiguidade: apesar da 
categoria raça não ser utilizável para explicar as diferenças genéticas, por outro lado é 
difícil abdicar dela completamente por conta não da genética, mas dos significados 
políticos e sociais associados a esta. Além do fato de que, apesar de não existirem raças, 
o racismo enquanto discriminação para a restrição de direitos a parcelas da população. 
Sua identificação como um problema para a equidade também funciona como 
catalizador das políticas de ações afirmativa. 
 A questão racial então, embora extinta no plano da biologia, continua viva nas 
relações humanas, orientando práticas e pensamentos. No que diz respeito ao sistema 
único de saúde, vários estudos apontam 
 
*** 
 
 Outra pergunta importante, sempre levantada quando se fala de saúde da 
população negra, é: eleger políticas públicas voltadas para uma parcela específica da 
população não implicaria em quebrar o princípio da universalidade no SUS? Vamos 
relembrar o Artigo 196 da Constituição Brasileira de 1988: 
 
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas 
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros 
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua 
promoção, proteção e recuperação. 
 
 Outro ponto importante neste sentido é o Artigo 2º da Lei Orgânica da Saúde 
que diz que: “A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado 
prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”. 
 Nestes dois dispositivos, temos presente a determinação da lei em estabelecer o 
acesso universal e igualitário à saúde a toda a e atribuindo ao Estado o dever de prover 
as condições necessárias para que isso ocorra. Se todos têm,supostamente, o mesmo 
acesso à saúde, porémé identificado que persiste uma disparidade entre segmentos da 
sociedade brasileira no que diz respeito à qualidade de vida e saúde, a lei estabelece que 
o Estado tem a função de buscar formas para promover as condições para que este 
segmento alcance os demais. Por isso é tão importante o princípio da equidade caminhe 
junto com o da universalidade e integralidade. 
 A equidade nasce da ampliação do conceito de saúde e da luta pelo direito 
à saúde por parte dos movimentos sociais. Falar de equidade é propor uma abordagem 
oposta à exclusão e desequilíbrio. A noção de equidade tem como fundamento a defesa 
da situação de justiça a ser instaurada mediante a denúncia de desigualdades concretas. 
A exclusão, não apenas econômica, repercute em desequilíbrio no quadro sanitário e o 
estigma de grupos sociais é um fator de risco na inviabilização do acesso de grupos aos 
bens e benefícios estatais. 
 Com a melhoria dos sistemas de informação sobre o quesito COR das 
notificações de morbidade e mortalidade, foi possível na última década aprofundar os 
conhecimentos sobre os impactos da inequidade na saúde da população negra. Os dados 
revelam que a discriminação e a exclusão social tem sido fatores importante que 
dificulta o acesso dos negros aos serviços de saúde e a melhoria de seu quadro sanitário. 
 
Saúde e vulnerabilidades na população negra: construindo estratégias 
 
Tendo em vista a necessidade de, como formuladores e avaliadores de políticas e 
ações de saúde Identificar para intervir: como conhecer a realidade? 
 Planejamento em saúde 
 Elaboração de indicadores para avaliação 
 Sistemas de informações 
 Mapas 
 Práticas de humanização 
 Formulação da Competência cultural em saúde 
 
Humanização como prática ou como meta? 
 
Quando pensamos em humanização da saúde, pensamos em um serviço que 
reúna, além da excelência técnica, os atributos de respeito à pessoa humana e a adoção 
de estratégias de recepção, atenção e critérios adequados de encaminhamento dos 
usuários. Tais fatores A PNH foi instituída em 2003e tem por objetivo qualificar 
práticas de gestão e de atenção em saúde. Envolve mudanças de atitudes por parte de 
trabalhadores, gestores e usuários, de novas éticas no campo do trabalho, incluindo a 
área da gestão e das práticas de saúde, superando problemas e desafios do cotidiano do 
trabalho. 
A PNH é um ponto importante da discussão que estamos realizando aqui, pois 
envolve a porta de entrada do sistema de saúde: a atenção básica. É preciso propor ações 
eficazes para que o acolhimento funcione muito além de um mero “check-list” ou um 
amontoado de metas quantitativas que dificilmente contribuirão para a melhoria das 
relações e realmente incida para resgatar relações de dignidade para trabalhadores e 
usuários, especialmente aqueles reconhecidos como mais carentes de atenção o do 
sistema, neste caso, a população negra. 
A seguir, escolhemos os principais pontos preconizados pela PNH. 
 
Quais seriam as principais necessidades de humanização identificadas no 
sistema de saúde pela PNH? 
 
 Os saberes contemporâneos sobre saúde envolvem vários fatores: 
 Novas tecnologias 
 Especialização do saber e fragmentação das práticas 
 Fragilização das relações entre profissionais e usuários 
 
Por sua vez, a falta de atenção e respeito no atendimento aos usuários enquanto 
sujeitos singulares e enquanto cidadãos gera alguns produtos: 
 Dificuldades na relação entre profissionais e usuários no cotidiano 
do atendimento público de saúde: comunicação e modo do 
atendimento 
o Dificuldades na efetivação do SUS 
 Adequação no sistema de referência e contra referencia 
 Comunicação entre diversos setores e serviços 
 Problemas na organização do sistema público de saúde 
 Filas e falta de atendimento: acesso e recepção 
 Tempo de espera: demora para encaminhamento e para 
resolutividade 
 
A Humanização articula algumas competências mínimas para ser efetivada no 
serviço, a saber: 
• Competência técnica 
Saberes é práticas do setor saúde 
 
 
• Competência interativa 
• Lidar com a dimensão subjetiva 
• Trabalho em equipe interdisciplinar 
• Trabalho com compromisso e vínculo 
• Reorganização do processo de trabalho 
• Ética no trato com a vida humana 
 
O que a Política Nacional de Humanização chama de competência interativa, 
nós chamaremos aqui também e competência cultural, uma habilidade fundamental 
para a constituição de um campo de comunicação e de compreensão das diferenças 
sociais e culturais tão importantes no trato de coletivos socialmente diferenciados. 
 
Princípios do Programa de Humanização (extraídos do documento da Política 
Nacional de Humanização - PNH) 
 
Transversalidade 
 
A PNH pressupõe a melhoria dos processos comunicativos entre pessoas e 
grupos, superando os entraves estabelecidos pela hierarquia e isolamento, construindo 
uma cultura mais horizontal nas relações de trabalho. Quando se supera a barreira 
assimétrica entre quem oferece o serviço de saúde e quem é assistido é derrubada, 
ocorre a transversalização. 
 
Indissociabilidade entre atenção e gestão 
 
As decisões da gestão interferem diretamente na atenção à saúde. Por isso, 
trabalhadores e usuários devem buscar conhecer como funciona a gestão dos serviços e 
da rede de saúde, assim como participar ativamente do processo de tomada de decisão 
nas organizações de saúde e nas ações de saúde coletiva. 
 
Protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos 
 
Qualquer mudança na gestão e atenção é mais concreta se construída com a 
ampliação da autonomia e vontade das pessoas envolvidas, que compartilham 
responsabilidades. Os usuários não são só pacientes, os trabalhadores não só cumprem 
ordens: as mudanças acontecem com o reconhecimento do papel de cada um. 
Um SUS humanizadoreconhece cada pessoa como legítima cidadã de direitos e 
valoriza e incentiva sua atuação na produção de saúde. 
 
 Competência cultural: fontes para um diálogo 
 
A competência cultural é tida como atributo derivado da prática na Atenção 
Primária a Saúde que dialoga diretamente com a forma como a pessoa compreende seu 
adoecimento e constrói seus modelos explicativos. Utilizaremos as conclusões de 
Vilelas e Janeiro (2011) sobre esta questão. Embora suas reflexões sobre competência 
cultural estejam relacionadas 
A competência cultural é a própria disposição qualificada e refletida para o 
diálogo intercultural em saúde e articula várias competências: consciência cultural, 
conhecimento cultural, habilidade cultural e encontro cultural. 
 
1. Consciência cultural é o reconhecimento do sujeito sobre sua própria cultura e 
seus limites. 
 
2. Conhecimento cultural é o acúmulo de informações do sujeito sobre a cultura 
do outro. 
 
3. Habilidade cultural é a capacidade de relativização de valores e noções a partir 
da perspectiva intercultural. 
 
4. Finalmente o encontro cultural é como chamamos aos espaços e momentos nos 
quais conjuntos culturais diferentes são postos em contato. O campo da saúde é 
um espaço privilegiado deste encontro. 
 
Raça, cor, etnia, origem social, condição física, gênero e orientação sexual são 
pontos sensíveis à competência cultural. No quadro a seguir é possível visualizar a 
inter-relação destas quatro dimensões que convergem na competência cultural. 
 
 
Fonte: GREGIS e MARTINI, 2006. 
 
Frequentemente os trabalhadores da saúde são obrigados a lidar com questões 
delicadas que desafiam-no a buscar a compreensão do modo de pensar e de ver o mundo 
dos usuários dos serviços de saúde. Como é impossível que tais professionais possam 
efetivamente conhecer aprofundadamentetodos os aspectos do que forma a “cultura” 
destas pessoas, é imprescindível que eles adquiram conhecimentos sobre as abordagens 
mais apropriadas e que construam ferramentas de comunicação intercultural que os 
habilite a lidar com as questões culturais das pessoas. Mas o que seria a comunicação 
transcultural? 
 
A comunicação transcultural 
 
Primeiramente é necessário que se reconheça que cada pessoa nasce e cresce em 
determinado sistema cultural, com seus próprios valores, perspectivas e práticas. O 
profissional da área da saúde não está isento disso. Não é pedido ao prestador de serviço 
em saúde, seja ele um funcionário da ponta do sistema ou um gestor, que abandone suas 
convicções, crenças e maneira de viver, mas sim que ele desenvolva as 
compet~enciasnecessárias para, apesar disso, desenvolver a EMPATIA necessária para 
levar em consideração e que respeite as formas de ser e de viver diferentes das dele. 
A comunicação transcultural é o que possibilita esta troca de perspectivas. Para 
que ela seja realizada são necessários alguns elementos, conforme podemos ver a seguir 
(Vilela e Janeiro, 2011): 
 
São elementos da comunicação transcultural 
 Contato com os olhos 
 Escuta 
 Toque 
 Silêncio 
 Espaço e distância 
 Crenças de saúde 
 
A competência cultural é uma habilidade fundamental para o combate à 
inequidade em saúde no que diz respeito às “minorias” como as populações 
quilombolas, povos de terreiro, ciganos, e indígenas, que guardam especificidades 
culturais significativas e que podem interferir nas ações de intervenção em suas 
comunidades. 
Um aspecto da PNH bastante “afim” à competência cultural é o acolhimento, 
que de certo modo estabelece princípios da competência cultural no SUS. 
Acolher é reconhecer o que o outro traz como legítima e singular necessidade 
de saúde. O acolhimento deve comparecer e sustentar a relação entre 
equipes/serviços e usuários/populações. Como valor das práticas de saúde, o 
acolhimento é construído de forma coletiva, a partir da análise dos processos 
de trabalho e tem como objetivo a construção de relações de confiança, 
compromisso e vínculo entre as equipes/serviços, trabalhador/equipes e 
usuário com sua rede sócio-afetiva (PNH). 
 
Cabe a nós refletirmos sobre que ferramentas de competência cultural 
podemos desenvolver em nosso cotidiano de profissional da saúde para 
melhorar a compreensão de outros grupos sociais diversos do nosso – seja 
de outra religião, outra cor ou outro gênero, visando a melhoria dos 
serviços. 
 
A seguir retomaremos a questão da legislação para abordar os conceitos 
presentes na Lei 12.288 (Estatuto da Igualdade Racial) que serão utilizados na 
legislação complementar e nas políticas públicas voltadas para a população negra a 
partir de 2010. 
 
Os conceitos da Lei no. 12.288 de 2010 (Estatuto da Igualdade Racial) e sua 
utilização nas políticas de saúde para a população negra 
 
Dentre as principais contribuições da Lei 12.288/10 são as definições que ela 
estabelece. Tais definições serviram para orientar a legislação posterior e as políticas 
públicas. Um exemplo importante é a definição jurídica de “população negra”, que 
passa a ser constituída pela junção entre as categorias censitárias preta + parda. A 
seguir, vamos conhecer as principais definições, descritas no artigo 2º: 
 
I – discriminação racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência 
baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por 
objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade 
de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos 
político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida 
pública ou privada. 
 
II – desigualdade racial: as situações de diferenciação de acesso e gozo de 
bens, serviços e oportunidades, na esfera pública e privada; 
 
III – afro-brasileiros: as pessoas que se classificam como tais ou como negros, 
pretos, pardos ou por definição análoga. 
 
IV – políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo Estado 
no cumprimento de suas atribuições institucionais. 
 
V – ações afirmativas: as políticas públicas adotadas pelo Estado para a 
correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de 
oportunidades. 
 
 
A Política Nacional de Saúde da População Negra (PNSIPN) 
 
A construção de uma política desta política voltada para a população negra é 
resultado da luta histórica pela democratização da saúde movida por vários movimentos 
sociais, em especial pelo movimento negro. 
Sua formulação tem como origem a pactuação de compromissos entre vários 
atores sociais e políticos como o Ministério da Saúde e a Secretaria Especial de 
Políticas de Promoção da Igualdade Racial, com o objetivo comum de superar notória 
vulnerabilidade em saúde de uma parcela significativa da população brasileira. 
A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra define os princípios, 
a marca, os objetivos, as diretrizes, as estratégias e as responsabilidades de gestão, 
voltados para a melhoria das condições de saúde desse segmento da população. Inclui 
ações de cuidado, atenção, promoção à saúde e prevenção de doenças, bem como de 
gestão participativa, participação popular e controle social, produção de conhecimento, 
formação e educação permanente para trabalhadores de saúde, visando à promoção da 
equidade em saúde da população negra. 
 
Esta Política abrange ações e programas de diversas secretarias e órgãos 
vinculados ao Ministério da Saúde (MS). Trata-se, portanto, de uma política 
transversal, com formulação, gestão e operação compartilhadas entre as três 
esferas de governo. Seu propósito é garantir maior grau de equidade no que 
tange à efetivação do direito humano à saúde, em seus aspectos de promoção, 
prevenção, atenção, tratamento e recuperação de doenças e agravos 
transmissíveis e não-transmissíveis, incluindo aqueles de maior prevalência 
nesse segmento populacional. 
 
 
Algumas estratégias propostaspela PNSIPN são: 
 
 A utilização do quesito cor na produção de informações epidemiológicas para a 
definição de prioridades e tomada de decisão; 
 A ampliação e fortalecimento do controle social; 
 O desenvolvimento de ações e estratégias de identificação, abordagem, combate 
e prevenção do racismo institucional no ambiente de trabalho, nos processos de 
formação e educação permanente de profissionais; 
 A implementação de ações afirmativas para alcançar a equidade em saúde e 
promover a igualdade racial. 
 
 
Princípios da política baseados na Constituição Federal de 88. 
 
A PNSIPN baseia-se em alguns princípios preconizados na Constituição de 1988, 
constituindo-se em uma estratégia de Estado para alcance das 
 Cidadania e dignidade da pessoa humana (BRASIL, 1988, art. 1.º, inc. II e III), 
 Repúdio ao racismo (BRASIL, 1988, art. 4.º, inc. VIII), 
 Igualdade (BRASIL, art. 5.º, caput). 
 Com o objetivo fundamental da República Federativa do Brasil de “promover o 
bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer 
outras formas de discriminação” (BRASIL, 1988, art. 3.º, inc. IV) 
 
A PNSIPN reafirma também os princípios do SUS estabelecidos na Lei n.º 
8.080, de 19 de setembro de 1990: 
 
a) a universalidade do acesso, compreendido como o “acesso garantido aos 
serviços de saúde para toda população, em todos os níveis de assistência, sem 
preconceitos ou privilégios de qualquer espécie”; 
b) a integralidade da atenção, “entendida como um conjunto articulado e 
contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigido 
para cada caso, em todos os níveis de complexidade do sistema”; 
c) a igualdade da atenção à saúde; e d) descentralização político-administrativa, 
com direção única em cada esfera de governo (BRASIL, 1990a, art. 7.º, inc. I, II, IV 
IX). 
d) participação popular e controle social;Constituem desdobramentos do 
princípio da “participação da comunidade” (BRASIL, 1990ª, art. 7.º, inciso VIII) e 
principal objeto da Lei n.º 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que instituiu as 
conferências e conselhos de saúde como órgãos colegiados de gestão do SUS, com 
garantia de participação da comunidade (BRASIL, 1990b). 
e) equidadeembasa a promoção da igualdade a partir do reconhecimento das 
desigualdades e da ação estratégica para superá-las. Em saúde, a atenção deve ser 
entendida como ações e serviços priorizados em função de situações de risco e 
condições de vida e saúde de determinados indivíduos e grupos de população. 
 
Um outro marco importante de compromisso do estado brasileiro com a questão 
do negro é o Pacto pela Saúde, instituído pela Portaria n.º 399, de 22 de fevereiro de 
2006, que dentre outras coisas compromete-se a combater as iniquidades de ordem 
socioeconômica e cultural que atingem a população negra brasileira. 
 A seguir analisaremos os principais aspectos da PNSIPN. 
 
 
Marca da PNSIPN 
 
Como entendimento basilar da PNSIPN está o reconhecimento do racismo, das 
desigualdades étnico-raciais e do racismo institucional como determinantes sociais 
das condições de saúde, com vistas à promoção da equidade em saúde. Este 
pressuposto é fundamental para a forma como a política pretende ser realizada, tanto a 
partir da transversalidade, ou seja, a convocação de vários órgãos para um esforço 
conjunto de formulação de políticas públicas para a população negra (saúde, 
desenvolvimento social, educação, assuntos fundiários ...) 
 
 
As Diretrizes Gerais estabelecidas pela PNSIPN são: 
 
 Inclusão dos temas Racismo e Saúde da População Negra nos processos de 
formação e educação permanente dos trabalhadores da saúde e no exercício do 
controle social na saúde. 
 
 Ampliação e fortalecimento da participação do Movimento Social Negro nas 
instâncias de controle social das políticas de saúde, em consonância com os 
princípios da gestão participativa do SUS, adotados no Pacto pela Saúde. 
 
 Incentivo à produção do conhecimento científico e tecnológico em saúde da 
população negra. 
 
 Promoção do reconhecimento dos saberes e práticas populares de saúde, 
incluindo aqueles preservados pelas religiões de matrizes africanas. 
 
 Implementação do processo de monitoramento e avaliação das ações pertinentes 
ao combate ao racismo e à redução das desigualdades étnico-raciais no campo da 
saúde nas distintas esferas de governo. 
 
 Desenvolvimento de processos de informação, comunicação e educação, que 
desconstruam estigmas e preconceitos, fortaleçam uma identidade negra positiva 
e contribuam para a redução das vulnerabilidades. 
 
 
Objetivo Geral da PNSIPN 
 
Promover a saúde integral da população negra, priorizando a redução das 
desigualdades étnico-raciais, o combate ao racismo e à discriminação nas 
instituições e serviços do SUS. 
 
 
Objetivos Específicos da PNSIPN 
 
 Objetivo específico Objeto de intervenção da política 
1 Garantir e ampliar o acesso da população 
negra residente em áreas urbanas, em 
particular nas regiões periféricas dos 
grandes centros, às ações e aos serviços 
de saúde. 
Promover o acesso à saúde da população 
negra habitante das periferias das 
metrópoles 
2 Garantir e ampliar o acesso da população 
negra do campo e da floresta, em 
particular as populações quilombolas, às 
ações e aos serviços de saúde. 
Foca nas populações negras rurais, com 
ênfase nas comunidades quilombolas 
3 Incluir o tema Combate às 
discriminações de gênero e orientação 
sexual, com destaque para as interseções 
com a saúde da população negra, nos 
processos de formação e educação 
permanente dos trabalhadores da saúde e 
no exercício do controle social. 
Propõe conteúdos de combate à 
discriminação de gênero e aos 
homoafetivos para a educação 
permanente dos trabalhadores da saúde e 
nas esferas representativas do controle 
social como conselhos e delegações das 
conferências. 
4 Identificar, combater e prevenir situações 
de abuso, exploração e violência, 
incluindo assédio moral, no ambiente de 
trabalho. 
Avança na prevenção no racismo e sua 
relação com as relações de trabalho 
5 Aprimorar a qualidade dos sistemas de 
informação em saúde, por meio da 
inclusão do quesito cor em todos os 
instrumentos de coleta de dados adotados 
Reforça a recomendação já constante na 
Lei da Igualdade Racial sobre a 
necessidade de melhorar os registros de 
saúde da população negra através do 
pelos serviços públicos, os conveniados 
ou contratados com o SUS. 
preenchimento do quesito cor nos 
formulários 
6 Melhorar a qualidade dos sistemas de 
informação do SUS no que tange à 
coleta, processamento e análise dos 
dados desagregados por raça, cor e etnia. 
Orienta que, além dos registros, é 
importante melhorar os sistemas de 
coletas de dados 
7 Identificar as necessidades de saúde da 
população negra do campo e da floresta e 
das áreas urbanas e utilizá-las como 
critério de planejamento e definição de 
prioridades. 
Estabelece o imperativo de que o 
levantamento de dados sobre a saúde da 
população negra seja critérios para o 
planejamento das ações do poder público. 
8 Definir e pactuar, junto às três esferas de 
governo, indicadores e metas para a 
promoção da equidade étnico racial na 
saúde. 
Envolvimento das três esferas do governo 
(municipal, estadual e federal) 
9 Monitorar e avaliar os indicadores e as 
metas pactuados para a promoção da 
saúde da população negra visando reduzir 
as iniquidades macrorregionais, 
regionais, estaduais e municipais. 
Avaliação e monitoramento constante de 
indicadores 
10 Incluir as demandas específicas da 
população negra nos processos de 
regulação do sistema de saúde 
suplementar. 
Atenção à questão da saúde da população 
negra na saúde suplementar (rede 
particular) 
11 Monitorar e avaliar as mudanças na 
cultura institucional, visando à garantia 
dos princípiosantirracistas e não-
discriminatórios. 
Combate ao racismo institucional 
12 Fomentar a realização de estudos e 
pesquisas sobre racismo e saúde da 
população negra. 
Espaço para o financiamento e outras 
formas de estímulo à produção 
acadêmica 
 
 
Estratégias de Gestão da PNSIPN 
 
 Implementação das ações de combate ao racismo institucional e redução das 
iniquidades raciais, com a definição de metas específicas no Plano Nacional de 
Saúde e nos Termos de Compromisso de Gestão. 
 
 Desenvolvimento de ações específicas para a redução das disparidades étnico-
raciais nas condições de saúde e nos agravos, considerando as necessidades 
locorregionais, sobretudo na morbimortalidade materna e infantil e naquela 
provocada por: causas violentas; doença falciforme; DST/HIV/aids; tuberculose; 
hanseníase; câncer de colo uterino e de mama; transtornos mentais. 
 
No final do documento, a PNSIPN estabelece as competências para cada esfera 
do Governo no que diz respeito à saúde da população negra, o que se constitui em um 
aspecto importante deste dispositivo legal, uma vez que compromete objetivamente os 
principais articuladores políticos em algumas “tarefas” para o alcance dos objetivos 
preconizados. 
Ainda carece-se de estudos que possam avaliar a PNSIPN que, este ano 
completa cinco anos de implantação. Esta avaliação é necessária para se saber quais os 
principais impactos de sua homologação e quais os passos que virão pela frente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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