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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS BACHARELADO EM SAÚDE COLETIVA Professores: Fabiane Vinente dos Santos e Jean Ricardo Ramos Maia Sumário Introdução A África existe? Origens do negro e porque sabemos tão pouco sobre isso. Negros no Amazonas Fé e saúde combinam? Discutindo saúde e serviço de saúde em um estado laico: Saúde nos Terreiros Teorias raciais A Criminalização do racismo (O racismo na legislação) Injúria racial e racismo Casos recentes de racismo na mídia Conceituando quilombo O lugar jurídico e social da especificidade racial e étnica em saúde Saúde e vulnerabilidades na população negra: construindo estratégias Humanização como prática ou como meta? Competência cultural: fontes para um diálogo Os conceitos da Lei no. 12.288 de 2010 (Estatuto da Igualdade Racial) e sua utilização nas políticas de saúde para a população negra Introdução Abordar a questão do negro como objeto de políticas de saúde é a falar da própria história do Brasil e seus processos sociais. A disciplina “Saúde da população negra e quilombola” tem como objetivo fornecer ferramentas conceituais e informacionais para o melhor conhecimento da realidade do negro e seu espaço no Sistema Único de Saúde. Ao longo deste curso, o acadêmico de saúde coletiva será convidado a construir um conhecimento pautado em dados e informações que o habilite a intervir de forma qualificada e a refletir sobre as desigualdades originadas na relação entre “raça”, enquanto construção social, e o acesso de uma parcela significativa da população brasileira aos serviços e políticas de saúde. A África existe? Origens do negro e porque sabemos tão pouco sobre isso. Para começar a falar do negro, é importante falar de seu lugar de origem, a África. Vamos, portanto, saber mais sobre este interessante território. A visão da África como um lugar homogêneo teve contribuições dos próprios intelectuais negros, que no século XIX começaram a formular a ideia de uma grande nação africana. Lima (2011:01) afirma que: Os teóricos do pan-africanismo inventaram a África una, homogênea e indistinta, que ainda hoje está presente nos textos de vários autores africanistas, que tratam o continente no singular, esquecendo de suas diversidades e realidades distintas. Esta África, nessa perspectiva, é tida como a origem de todas as práticas, costumes, culturas e religiões dos negros e negras da diáspora. Os teóricos do pan-africanismo acabam ocultando justamente a grande diversidade de experiências que os negros acumulam em sua dispersão pelo mundo, a chamada diáspora, seja esta dispersão voluntária- através das migrações – ou involuntária, através do tráfico negreiro. O que conhecemos como “África” na verdade é um território marcado historicamente pela diversidade. Povos viviam em torno de comunidades locais com suas chefias e costumes próprios, agrupadas em tribos e vivendo de atividades agropastoris. A escravidão que marcou os povos africanos inicia-se antes do século XIV, quando mercadores do Oriente Médio capturavam pessoas para vender no Oriente. Apesar disso, é preciso criticar a visão que caracteriza a África pelo viés da escravidão infligida a seus povos pelas nações orientais, européias e mais tarde, americanas. É preciso olhar adiante em busca da história deste continente, da qual sabemos muito pouco. Em 2003 a presidência da República sancionou a Lei 10.639 de 2003 obriga o ensino da história africana nas séries do ensino fundamental e médio. Este fato ajudou a minimizar este desconhecimento, pois estimulou a produção de pesquisas, teses, artigos e livros sobre o tema. Hoje é mais fácil encontrar material sobre a história da África do que há 10 anos, mas mesmo assim algumas dificuldades persistem. O conhecimento mais profundo da origem dos povos africanos contribui para extinguir o preconceito relacionado a estes povos e sua cultura, fortalecendo a identidade social do negro e repercutindo em políticas públicas para avançar na equidade. Praxedes e Praxedes (2004) comentam a comodidade em explicar a forma desigual como o negro foi tratado historicamente pelo viés fundamentalista, como a que propõe interpretações de escritos bíblicos formuladas em contextos escravagistas e que até hoje encontram quem neles acredite e os repitam. Um destes casos é o trecho do livro de Gênesis 9:18-25, que narra a maldição de Cam, filho de Noé. Segundo as interpretações elaboradas por comunidades religiosas do Sul dos Estados Unidos no século XIX (a maior parte delas formadas por senhores de escravos brancos) Cam seria o ancestral dos negros, que teriam sido desta forma amaldiçoados por sua cor. Não podemos nos esquecer do que diz Bourdieu (1988:156) de que “as representações dos agentes variam de acordo com sua posição (e com os interesses associados a ela)”. Por tanto, devemos sempre questionar a quem interessa determinadas expressões do preconceito racial como este. Esta interpretação bíblica, por exemplo, foi por muito tempo utilizada como justificativa para a escravidão e ainda hoje algumas pessoas, por desconhecimento, a repetem e a divulgam. O que se sabe hoje é que a África abrigava uma diversidade de povos com diferentes graus de tecnologia. Os livros de história frequentemente lembravam da África apenas em seus territórios acima do deserto do Saara, como o Egito, célebre berço de uma brilhante civilização. Mesmo a história do Egito nos traz elementos importantes para conhecer a história do negro. Pouca gente sabe, mas nos séculos VIII a.C. o Egito foi governado por uma dinastia de faraós negros, de origem Núbia, vindo do território ao norte do Nilo, onde já tinham estabelecido um império próprio. A disnastia kushita (do Império Kush, atualmente território do Sudão) governou o Egito por mais de 75 anos, estabelecendo um período de estabilidade política só quebrado pelas invasões sírias. O fato ainda é desconhecido pela maioria por um motivo simples: os egiptólogos europeus que se depararam com a descoberta da 25ª dinastia ainda no século XIX, recusavam-se a divulgar que faraós de pele escura pudessem ter estabelecido uma civilização tão rica (Draper, 2008). Fonte: National Geographic Diante da diversidade dos povos africanos, os estudiosos têm dificuldade em estabelecer parâmetros para falar do continente. Uma das metodologias adotadas é a que divide o território africano em suas principais matrizes linguísticas, que são basicamente 5: Câmitas (norte e nordeste), Bantus, Sudaneses, Koisan, Malagaxes, Pigmeus e Bosquímanos. Fonte: National Geographic O contato da Europa, Ásia e Oriente Médio com a África data do início da história do comércio, pois o território africano era reconhecidamente rico em minerais preciosos, gemas e produtos como especiarias e madeiras. A partir do século XV, com a corrida expansionistas das nações europeias rumo à Ásia e América, a África passa a ser alvo de ações mais intensivas de exploração. Portugal, na época uma das grandes potências mundiais, instalou cerca de 50 feitorias na costa africana para facilitar a logística dos produtos extraídos daquele continente como o ouro na costa da Guiné, especiarias e escravos para as colônias no novo mundo. As feitorias também ajudavam no escoamento dos produtos do Oriente como açúcar, malagueta, caibro, madeiras, cavalos, cereais, penas de aves exóticas da Indonésia, pedras preciosas, sedas e porcelanas, dentre outros produtos. Como podemos ver na tabela abaixo, a América Portuguesa (Brasil) foi o território colonial que mais recebeu escravos africanos, quase 40% do total de cerca de 3,6 milhões de pessoas traficadas neste período. Tabela 1 - Destinos dos escravos africanos (1519–1867) América Portuguesa 38,5% América Britânica(menos a América do Norte) 18,4% América Espanhola 17,5% América Francesa 13,6% América do Norte Inglesa 6,45% Antilhas Holandesas 2,0% América Inglesa 3,25% Antilhas Dinamarquesas 0,3% Fonte: Wikipédia Para o Brasil, foram transportados principalmente pessoas de origem Bantu e Sudaneses. Os africanos eram capturados, em sua maioria, por chefes políticos e por mercadores da África Centro-Ocidental (atualmente Angola). A partir do século XVIII uma outra região passa a contribuir com escravos para as províncias do Rio de Janeiro, Pernambuco e São Paulo: a Costa Leste africana, especialmente Moçambique. O Golfo de Benin (Nigéria) passou a enviar escravos para a Bahia a partir da segunda metade do século XVII. Negros no Amazonas A invisibilidade histórica da presença negrana Amazônia e mais particularmente no estado do Amazonas, que ainda é pouco estudada, o que tem contribuído para a concepção de que a contribuição do negro localmente foi menor do que a de outros segmentos, especialmente pelo fato de que o maior contingente de escravos foi o da população indígena, tendo o tráfico negreiro um volume bem menor que o de outras regiões do Brasil (SAMPAIO, 2011). Entretanto, a influência negra fez-se sentir em várias ocasiões, especialmente durante o ciclo da borracha, quando a migração de nordestinos, especialmente os maranhenses, trouxe elementos próprios que, misturados aos indígenas, constituindo-se na matéria-prima de novas concepções culturais e religiosas. Um bom exemplo disso é a disseminação da manifestação folclórica conhecida como Bumba-Meu-Boi maranhense, que aqui se tornou o Boi Bumbá, e a consolidação de novas formas de religiosidade, como é o caso da Casa de Mina, de raiz Jeje, principal vertente dos cultos de origem africana nesta região (PEREIRA, 1979). A trajetória social do negro no Brasil contemporâneo Fonte: IPEA, 2011. Alguns dados comparativos da saúde da população negra com outros segmentos IPEA, 2011. Fonte: IPEA, 2011. Mortalidade por causas externas A mulher negra e a saúde Taxa da Mortalidade por Homicídio no Sexo Feminino, segundo raça/cor (em 100 mil mulheres). Dad os: SIM/SVS/MS/Mapa da Violência. Elaboração: CFEMEA. Teorias raciais Carl von Linnaeus A noção de raça (do italiano razza) foi utilizada a partir do século XVIII na Botânica e na Zoologia para classificar espécies de plantas e animais. Este foi o uso dado pelo naturalista Carl von Linnaeus em seus trabalhos sobre as espeécies de “raças” de plantas e animais. Segundo Munanga (1988), Lineu – como é conhecido em portugues, logo passou a utilizar o termo para distinguir os tipos humanos, que foram categorizados em quatro grandes grupos, ou “raças”: Americano (indígena), Africano (negro), Asiático (amarelo) e Europeu (Branco). Buscando atribuir características que permitissem a identificação dos quatro tipos, Lineu utiliza a teoria humoral formulada no século IV a.C. por Hipócrates, que utiliza o modelo de analogia entre humor (substância corporal), elemento da natureza e órgão do corpo para explicar a diferença entre as pessoas. Podemos ver como a teoria humoral funcionava na tabela a seguir: Teoria humoral formulada porHipócrates 460 a.C – 370 a.C) Humor Elemento Denominação Órgão Características Fleuma Água Fleumático Sistema respiratório Moderado, frio, diplomático Bílis Amarela Fogo Colérico Fígado Irritadiço, agressivo, corajoso Bílis negra Terra Melancólico Baço Desanimado, inquieto, complexo Sangue Ar Sanguíneo Coração Alegre, prestativo, amoroso Lineu utiliza este modelo para traçar correspondências entre os humores hopocráticos e as quatro raças humanas, conforme podemos perceber no quadro a seguir, lançando com isso as bases teóricas do racismo científico, que predominou em muitos campos da ciência até o início do século XX: Relação entre as raças e a teoria humoral, segundo Lineu. Raça Cor Temperamento Características Físico Vestuário Americano Moreno/Vermelh o Colérico Amante da liberdade, governado pelo hábito Cabeçudo Tem corpo pintado Asiático Amarelo Melancólico Governado pela opinião e pelos preconceitos Introspectivo Usa roupas largas Africano Negro Fleumático Governado pela vontade de seus chefes (despotismo) Astucioso, preguiçoso, negligente unta o corpo com óleo ou gordura Europeu Branco Sanguíneo Governado pelas leis Musculoso, engenhoso, inventivo usa roupas apertadas Outro autor responsável pelo “aperfeiçoamento” da teoria racial foi o (1816- 1882)Gobineau: Ensaio sobre a desigualdade da raça humana (1853) O que é racismo? Racismo é a convicção sobre a superioridade de determinadas raças ou cores, com base em diferentes motivações, em especial as características físicas e outros traços do comportamento humano. O caso de Saartjie Baartman, A Vênus Hottentot (1789-1815): racismo na era vitoriana Um dos episódios mais perturbadores que tem origem no racismo é o caso de Saartjie Baartman, A Vênus Hottentot. Capturada entre os povos khoisan, Saarjie era escrava em uma fazenda de holandeses próxima à Cidade do Cabo, na África do Sul, quando foi convidada a se apresentar em Londres dentro do que era conhecido como Freak Show (Exibição de aberrações) nos quais eram mostradas pessoas consideradas “aberrações” por suas características físicas assustadoras. Os freak show reuniam quem quisesse pagar para ver por exemplo gêmeos siameses, anões, deficientes físicos com características incomuns. Saartjie possuía um corpo muito diferente dos padrões das mulheres brancas da Europa. Além da esteatopigia, que lhe conferia um grande volume nas nádegas, Saartjie possuía lábios vaginais extensos. Suas características físicas levaram os estudiosos da época a comparar suas características anatômicas – tidas como “típicas” das mulheres negras, com as das mulheres brancas europeias, supostamente “normais”. A teoria racista que atribuía ao negro traços anômalos ganhou grande força com a exibição e Saartjie pela Europa, primeiro em Londres e depois na França. Os racistas viam naquele corpo exótico a confirmação de que os negros eram mais próximos aos macacos que os brancos. Enquanto viva, Saartjie teve seu direito à humanidade retirado de si. foi tratada como um animal de zoológico, exibida como aberração e ridicularizada das mais diversas formas. Faleceu em 1815, prostituída e alcoólica. Seu corpo mais uma vez foi objeto de abusos em nome da ciência. Foi enviada para o Museu de História Natural de Paris, onde foi autopsiada, tendo cérebro e genitais retirados para conservação. Seu corpo foi base para um molde de gesso que reconstruiu sua imagem e ficou em exibição por mais de dois séculos em Paris, juntamente com seus ossos. Em 1994, o então presidente da África do Sul, Nelson Mandela, atendendo ao clamor de um movimento interno que pedia a repatriação dos restos mortais de Saartjie, solicitou formalmente que a França devolvesse o que restara. Pressionado por uma parcela da população, o governo francês acatou a solicitação em 6 de março de 2002. Os restos de Saartjie retornaram à terra natal, o Vale do Rio Gamtoos, em 6 de maio de 2002, onde foram finalmente enterrados. A expedição Thayer e a questão das raças no Brasil O Brasil era visto pela comunidade científica do século XIX como um grande laboratório racial, onde pelo menos três dos quatro tipos raciais propostos por Lineu haviam se misturado e dado origem a outros subtipos. Foi com esta crença que a expedição Thayer (1865-1866) percorreu grande extensão do território brasileiro – partindo do Rio de Janeiro e seguindo ao Amazonas, de onde o grupo de doze pessoas dividiu-se: uma parte seguiu viagem paraalcançar territórios fora da fronteira brasileira enquanto a outra metade, dentre os quais Elizabeth e seu marido, chefe da expedição, o naturalista suíço residente na Inglaterra, Louis Agassiz, empreendia a viagem de volta. O Brasil vivia os últimos dias do Império, sob o governo de D. Pedro II, cuja vocação humanística e científica fora fundamental para a realização da empreitada, uma vez que o imperador estimulava e apoiava a vinda de cientistas e artistas estrangeiros para o país. Com Agassiz, eminente catedrático de Cambridge, não fora diferente. Empenhado numa cruzada pessoal para deslegitimar a tese da evolução das espécies de Charles Darwin, que ganhava cada vez mais adeptos nos meios científicos, Louis Agassiz buscava no Brasil a contraprova que desse sustentação à teoria catastrofista, uma releitura do criacionismo, da qual tornara-se ardente defensor. Agassiz e Darwin representam os dois pólos opostos da maior controvérsia científica do século XIX: as teorias sobre a origem das espécies. De um lado estava Darwin, com a tese da seleção natural e da sobrevivência dos indivíduos mais aptos ao meio e às transformações nele ocorridas; de outro os representantes das várias teorias criacionistas, como os catastrofistas que, inspirados pela Teologia natural, pregavam uma releitura da passagem bíblica do Gênesis a partir de evidências científicas, embora negando o materialismo presente nas teses evolucionistas. Para estes, a criação seguia os rumos determinados por Deus e cada ser vivo seria uma criação única. As catástrofes ocorridas na terra como dilúvios e formação de geleiras teriam destruído toda a vida em cada período, não deixando ligação biológicas entre as espécies (Freitas, 2001, p. 38). No que diz respeito à questão racial, Agassiz era adepto do poligenismo – o que estava de acordo com a tese catastrofista - segundo o qual “as raças seriam fenômenos essenciais e ontológicos resultantes de centros de criação diversos” (Schwarcz, 2003), embora justamente por isso tal tese discordasse da origem única da humanidade postulada pela Bíblia. O poligenismo foi a teoria responsável pela estigmatização “científica” do negro, considerada desta forma como raça distante da branca e, portanto, inevitavelmente degradada. A classificação poligenista ia além do fenótipo, atribuindo características psicológicas a cada “tipo”. As negras seriam hipersexuadas, produto de uma lascividade primitiva, enquanto as índias estariam no outro oposto da degenerescência: seriam indolentes e apáticas, cujos sinais seriam reforçados pelo tipo físico de estatura baixa e mirrada, cuja prova a expedição constatava nos divertimentos como danças, quando as índias deixavam-se levar pelos parceiros sem demonstrar alegria ou tristeza. Para Agassiz a mistura de raças, ao contrário do que postulava grande parte da intelectualidade brasileira da época, era nociva, pois diluiria os caracteres positivos de cada raça, dando origem a espécies estéreis e degeneradas, abundantemente observadas pela expedição e cuidadosamente classificadas: cafuzo, mameluco, mulato... Fé e saúde combinam? Discutindo saúde e serviço de saúde em um estado laico: Saúde nos Terreiros Uma das expressões mais pungentes da questão do negro no Brasil são as religiões de matrizes afro-ameríndias, também chamadas de afro-brasileiras. Elas são origem às chamadas “comunidades de terreiros”. Vamos explorar aqui um pouco desta relação entre saúde e crença. Por terreiros estamos tomando aqui os espaços religiosos organizados a partir de grupos constituídos em torno de culto de matriz africana, afro-brasileira e/ou ameríndia, localizados na área urbana de Manaus e instituídos em torno da dimensão comunitária, do caráter étnico, ligado à herança religiosa e cultural trazida pelos escravos durante o período do tráfico negreiro da África para o Brasil (entre o século XVI até 1850), de uma organização social diferenciada e reunidos em torno de uma autoridade religiosa reconhecida pelo grupo. Há uma ampla base no ordenamento jurídico para proteção legal das comunidades de terreiro e das práticas religiosas de matriz africana e afro-ameríndia. A Constituição Federal de 1988 dispõe que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e às suas liturgias” (art. 5°, VI). Na esteira do texto constitucional, toda uma legislação definidora das comunidades tradicionais e de suas prerrogativas tem sido efetivada. A Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (Decreto 6.040 de 2007) estabelece que Povos e Comunidades Tradicionais “são entendidos como grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição”. O Artigo 23 da Lei 12.288 de 12 de julho de 2010, chamada de “Estatuto da Igualdade Racial”, assegura que é “inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e às suas liturgias”. Os cultos afro-brasileiros são classificados de acordo com o local de sua origem africana: os Jeje (também chamados de fon, mina, ashanti, mahin e ewe) vieram de Togo, Gana e Benin, no Golfo da Guiné. Os Nagô (também chamados de Ketu), do Benin e outros locais – agrupados na categoria Yoruba, e os Angola, originários do local hoje ocupado pelo país do mesmo nome (MOURA, 2004). Estas procedências são as principais referências para as comunidades de terreiro existentes no Brasil desde a chegada dos primeiros africanos, ainda no século XVII. No Amazonas, os fluxos migratórios como o do início da zona franca na década de 70 ajudaram a enriquecer este quadro. De acordo com o estudo de Chester Gabriel (1985) - um dos poucos trabalhos de investigação sobre os cultos afro-brasileiros em Manaus, realizado na década de 70 -, diferente das outras cidades, Manaus sofria uma grande influência de terreiros de origem Jeje (oriundos das casas maranhenses como a de Minas e Turquia), mas que se caracterizava pela diversidade e mistura de elementos originários das religiões indígenas, de umbanda e batuques, este último considerado mais próximo ao candomblé. Pereira (1979), na mesma direção, identifica a forte influência da Casa das Minas em Manaus. Araújo (2008), em trabalho recente, acompanhou uma casa de Angola, mostrando como este universo é multifacetado. A Umbanda, embora tenha forte influência do Candomblé, é uma formulação diferente das tradicionais casas características desta última modalidade de culto: Ortiz (1999) defende que ela é uma síntese essencialmente brasileira das religiões africanas com a influência indígena e do catolicismo. A umbanda, embora flexibilize algumas instituições do candomblé, permanece semelhante a este na estrutura dos cultos, voltadas para entidades metafísicas que podem incorporar-se nos humanos e, através deles, aconselhar, admoestar, alertar, conversar e até se divertir, numa comunhão do mundo espiritual com o terreno raramente vista em outras práticas religiosas. As chamadas “religiões de matriz africana, afro-brasileira e ameríndia”, portanto, atualmente abrangem uma grande diversidade de cultos e vertentes com várias denominações de acordo com o local (candomblé, umbanda, batuque, tambor de mina, xambá, omolocô, pajelança, jurema, quimbanda, xangô, terecô). A centralidade da casa de cultos, chamada de “templo” ou “seara” não impede a existência de uma espacialidade difusa que abrange outros elementosambientais considerados sagrados como árvores, casas anexas ao templo, criação de animais para os serviços dos templos ou geração de renda, fontes de água, etc. As religiões afro-ameríndias em Manaus e a disputa por espaço na cidade Os terreiros manauaras são referências religiosas e afetivas importantes para as pessoas de seu entorno que participam das festas ou que os procuram em busca de alívio espiritual. Fazem parte da história dos bairros e da cidade de Manaus, como é o caso da célebre Joana Galante, uma das fundadoras do bairro de São Jorge e a mãe-de-santo mais famosa de Manaus nas décadas de 50 e 60, conhecida por sua generosidade e sabedoria e Mãe Quintina, sua sucessora. Outra figura histórica é a de Mãe Zulmira, antológica yalorixá do Morro da Liberdade, que até sua morte ganhou inúmeras homenagens de políticos e pessoas proeminentes na sociedade manauara. Com a implantação da Zona Franca em 1967, um processo de “inchaço” da área urbana de Manaus teve início. O aumento do número de habitantes chegados de outros estados e do interior do Amazonas em busca de emprego e oportunidades provocou a ocupação desordenada dos igarapés e cursos de água, alguns deles aterrados para dar lugar a novas áreas de habitação. Tal dinâmica, agudizada nas últimas décadas, atingiu violentamente aos terreiros, cujo caráter guarda uma relação estreita com os elementos ambientais. Os terreiros necessitam de um espaço diferenciado para realizar suas práticas: sua relação com elementos ambientais como água corrente, árvores e animais é mais estreita do que a de outras práticas religiosas. O processo de concentração urbana e o desaparecimento de quintais, cursos de água e áreas verdes em Manaus, tem impossibilitado sua permanência (BOAES E OLIVEIRA, 2011). Os manauaras sempre tiveram uma relação de grande tolerância com as práticas religiosas afro-ameríndias. Na memória social dos bairros, as festas de santo como o Dia de Cosme e Damião e as festas em homenagem a Oxum (Nossa Senhora da Conceição), Iansã (Santa Bárbara) e Ogum (São Sebastião) faziam parte do calendário das festividades urbanas. A relação com as líderes dos terreiros, as mães-de-santo como a já citada Joana Galante, a saudosa Mãe Zulmira ou a atuante Mãe Emília de Toy Lyssa da Cidade Nova era e é algo presente na vida de algumas partes da cidade. Embora receba a todos, como acontece na maioria dos terreiros, as mulheres guardam uma relação de mais proximidade com a mãe-de-santo por vários motivos: é esta quem benze as crianças pequenas, evitando os quebrantos (malefícios oriundos do olhar de pessoas que pode, com ou sem intenção de seus autores, trazer graves doenças às ainda frágeis almas infantis), tratando doenças para as quais nãos e encontram fundamentos físicos, para receitar um banho de ervas, para aconselhar sobre problemas cotidianos ou simplesmente para fazer um “passe” (uma benção) em prol da saúde espiritual, que está estritamente relacionada ao afastamento dos males e ao bem-estar. Nos terreiros, o ser humano é visto por uma perspectiva holística: corpo e alma formam um todo indivisível e a saúde é o estado de equilíbrio de ambos. Neste sentido, o conceito de auto-atenção formulado por Menendez (2003) parece adequado para pensar as práticas religiosas afro-ameríndias que envolvem a saúde e o bem-estar das pessoas, que é descrito pelo autor como sendo... As representações e práticas que a população utiliza no nível do sujeito e do grupo social para diagnosticar, explicar, atender, controlar, aliviar, suportar, curar, solucionar ou prevenir os processos que afetam sua saúde em termos reais ou imaginários, sem a intervenção central, direta ou intencional dos curadores profissionais, mesmo quando eles possam ser a referência da atividade de auto-atenção; de tal maneira que a auto-atenção implica decidir a auto-prescrição e o uso de um tratamento de forma autônoma ou relativamente autônoma (MENENDEZ, 2003: 199, tradução minha). Tais práticas não excluem o modelo da medicina oficial, mas o complementam, fornecendo aos indivíduos as explicações que estes demandam sobre o porquê de seu adoecimento e dos mecanismos de cura disponíveis, além de devolver aos sujeitos o protagonismo do processo de terapêutico, do qual eles são alienados pelos serviços médicos. O papel da crença como elemento da cura, além do suporte emocional e da importância das práticas solidárias nos terreiros, cuja ética valoriza a caridade e o cuidado com o semelhante, são os elementos que ajudam a explicar a importância dos terreiros e das mães e pais de santo como líderes espirituais e sociais das comunidades em que se inserem. Constantemente alvo de preconceito e de discriminação, as religiões de matriz afro-brasileira e ameríndia constituem-se num elemento importante da diversidade sociocultural e histórica das cidades, testemunho da mistura de crenças e de experiências sociais distintas do negro, do branco e do índio. Enquanto um templo católico dificilmente sofrerá uma ação de remoção e as igrejas evangélicas possuem um caráter muito mais livre e flexível com relação ao lugar que ocupam para os cultos, podendo facilmente mudar de localização, os terreiros possuem raízes muito mais profundas com as áreas onde estão estabelecidos, além de um componente afetivo bastante forte com suas comunidades. É importante que Manaus guarde a memória da presença dos terreiros também nas áreas centrais da cidade e que esta presença não seja ocultada ou escondida. Serra et al. (2010) mostra como os terreiros de candomblé de Salvador, compreendidos como núcleos de ação social e desta forma como agências de saúde, são parceiros preciosos do setor saúde na formulação, implantação e monitoramento de políticas públicas da área. Este envolvimento entre religião e saúde em prol da qualidade de vida da população não é novidade: há várias iniciativas exitosas e de maior repercussão como o caso da Pastoral da Criança da Igreja Católica, que ajudou a reverter índices de mortalidade infantil no Brasil na década de 80. A intervenção sobre a paisagem urbana, quando feita sem a devida atenção aos aspectos sociais e históricos que relaciona seus moradores, contribui para varrer a presença dos terreiros das áreas de maior circulação, negando o caráter plural e dinâmico da cidade e privando uma parcela da população do conforto psíquico proporcionado por práticas de saúde que, mesmo sem o reconhecimento oficial, se constituem em modos de vivenciar a sociabilidade urbana que envolvem valores como solidariedade, integralidade, comunidade e respeito à pessoa humana. Pautado pelo Estatuto da Igualdade Racial, o SUS tem buscado dialogar com esses espaços sociais por entende-los como agentes de promoção à saúde em potencial. Um desses interlocutores é a RENAFRO - Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde, que reúne cerca de 300 entidades ligadas às religiões de matriz afro-ameríndia e afro-brasileira. Segundo Marmo (2007) A Rede foi criada em março de 2003 durante o II Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (São Luis-MA) sendo uma instância de articulação da sociedade civil que envolve adeptos da tradição religiosa afro- brasileira, gestores/profissionais de saúde (MARMO, 2007). Seus objetivos principais são: A Rede tem como objetivos lutar pelo direito humano à saúde; valorizar e potencializar o saber dos terreiros em relação à saúde; monitorar e intervir nas políticas públicas de saúde exercendo o controle social; combater o racismo, sexismo, homofobia e todas as formas de intolerâncias; legitimar as lideranças dos terreiros como detentores de saberes e poderes para exigir das autoridades locais um atendimento de qualidade, em que a cultura do terreiro seja reconhecida e respeitada; estabelecer um canal de comunicação entre os adeptosda tradição religiosa afro-brasileira, os gestores, profissionais de saúde e os conselheiros de saúde. A RENAFRO é um exemplo de ator social importante para auxiliar o poder público a pensar em estratégias para combater a exclusão social do negro no setor saúde, onde ela ocorre. A Criminalização do racismo (O racismo na legislação) A primeira lei antirracista do Brasil foi a Lei Afonso Arinos (Lei 1390/51 de 3 de julho de 1951). A Lei Afonso Arinos previa como contravenção penal, passível de prisão ou pagamento de multa, algumas atitudes como a recusa, por parte de estabelecimento comercial, de ensino e hotéis, de hospedar, servir, atender ou receber cliente, comprador ou aluno, por preconceito de raça ou cor e recusar a venda de mercadorias e em lojas de qualquer gênero, ou atender clientes em restaurantes, bares, confeitarias e locais semelhantes, abertos ao público, onde se sirvam alimentos, bebidas, refrigerantes e guloseimas, ou atendê-los em salões, barbearias ou estabelecimentos de lazer por preconceito de raça ou de cor. A persistência do racismo na sociedade brasileira levou os deputados constituintes a incorporar na Constituição de 1988 alíneas e parágrafos destinados a preservar os direitos humanos de grupos de pessoas vulneráveis pela implementação conjunta de medidas de combate à discriminação (estratégias negativas ou punitivas) e de promoção da igualdade (estratégias positivas ou afirmativas). Inicialmente as políticas públicas de combate à discriminação enfatizaram o aspecto repressivo com penalização de práticas racistas. (Lei 1.390/51, Lei Afonso Arinos). A Constituição de 88 introduziu ainda ações afirmativas entre as quais destacam- se o reconhecimento e titulação das terras onde residem remanescentes de quilombos. A despeito da extensa produção na área de ciências humanas sobre relações raciais e desigualdades nas condições de vida, a questão dos impactos do racismo na saúde ainda é recente e pesquisas neste sentido são iniciadas apenas em no final do século XX e início do XXI. Isso ocorreu em parte pela própria dificuldade de obter dados confiáveis, já que pouca atenção era dada o registroda cor nos serviços de saúde e nas bases de dados de mortalidade. Este registro passa a ser compulsório em 1996 nos óbitos e em 2007 para a morbidade. A análise destes dados, na primeira década do século XXI, revelavam que pretos possuíam menor esperança de vida ao nascer e eram os mais vulneráveis em relação a mortes por causas violentas. A seguir veremos alguns dos principais dispositivos jurídicos para a questão do racismo. Declaração Universal dos Direitos Humanos Art. 2º - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Constituição de 88 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; Lei Caó (Lei nº 7437/85) No dia 20 de dezembro de 1985, uma lei federal estabelecia como crime o tratamento discriminatório no mercado de trabalho, entre outros ambientes, por motivo de raça/cor. A chamada “Lei Caó” (Lei nº 7437/85) classifica o racismo e o impedimento de acesso a serviços diversos por motivo de raça, cor, sexo, ou estado civil como crime inafiançável, punível com prisão de até cinco anos e multa. Lei 7.716/89 (Lei do crime racial) Torna o crime de racismo inafiançável e imprescritível. Lei no. 9.459/97 (altera a Lei 7.716/89). Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Estatuto da Igualdade Racial,Lei 12.288/10 Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se: I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada; II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7437.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7437.htm III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da sociedade que acentua a distância social entre mulheres negras e os demais segmentos sociais; IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam auto-definição análoga; Injúria racial e racismo Os dispositivos jurídicos existentes hoje no Brasil em relação ao preconceito racial possuem duas abordagens: a injúria racial e o racismo. Cada um deles está previsto em um dispositivo específico. Injúria racial Descrita no artigo 140, § 3º do Código Penal Brasileiro Ofensa à honra de alguém com a utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. A pena prevista é de reclusão de 01 a 03 anos e multa. A ação penal aplicável a esse crime tornou-se recentemente pública condicionada à representação do ofendido, sendo o Ministério Público o detentor de sua titularidade. Racismo Descrito na Lei 7.716/89. É a conduta discriminatória dirigida a um determinado grupo ou coletividade. Considerado mais grave que a injúria racial, Imprescritível Inafiançável Cabe ao Ministério Público a legitimidade para processar o ofensor. http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10622653/artigo-140-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10622481/par%C3%A1grafo-3-artigo-140-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 Diferenças entre Injúria racial e racismo INJÚRIA RACIAL RACISMO BEM JURÍDICO honra subjetiva dignidade humana PRECONCEITO raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional PREVISÃO LEGAL art. 140, § 3.º, CP Lei 7.716/89 AÇÃO PENAL pública condicionada à representação do ofendido pública incondicionada FIANÇA cabe fiança inafiançável PRESCRIÇÃO prescreve (art. 109, CP) imprescritível VÍTIMAS número determinado de vítimas número indeterminado de vítimas Fonte: Adaptado de Alves e Sahade Filho (2006) Casos recentes de racismo na mídia Caso Goleiro Aranha e os torcedores do Grêmio em 2014 (injúria racial) Fonte: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/08/racismo-jogo-gremio-vs- santos.html http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/08/racismo-jogo-gremio-vs-santos.html http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/08/racismo-jogo-gremio-vs-santos.html Caso jornalista Micheline Borges e as médicas cubanas: preconceito racial na Internet (Racismo) Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/sindicato-das-domesticas-de-sp-entra-com-acao-contra-micheline-borges-5972.html Conceituando “quilombo” O termo quilombo e sua qualidade de “terra de pretos” aparece pela primeira vez na historiografia em um documento datado de 1740, quando reportando-se ao rei de Portugal, o Conselho Ultramarino valeu-se da seguinte definição: “Toda habitação de negros fugidos, que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados e nem se achem pilões nele”. (Schmitt, 2002). Almeida (1999) destaca que, nesta definição do Conselho Ultramarino, cinco elementos estão presentes: 1) a fuga; 2) uma quantidade mínima de fugidos; 3) o isolamento geográfico, em locais de difícil acesso e mais próximos de uma natureza selvagem que da chamada civilização; 4) moradia habitual, referida no termo rancho; http://www.cartacapital.com.br/sociedade/sindicato-das-domesticas-de-sp-entra-com-acao-contra-micheline-borges-5972.html http://www.cartacapital.com.br/sociedade/sindicato-das-domesticas-de-sp-entra-com-acao-contra-micheline-borges-5972.html 5) autoconsumo e capacidade de reprodução, simbolizados na imagem do pilão de arroz. Estas características foram constantemente evocadas para a identificação dos quilombos e, de certo modo, ainda pautam o imaginário social sobre estas localidades. Ainda para Almeida (1999): a situação de quilombo existe onde há autonomia, existe onde há uma produção autônoma que não passa pelo grande proprietário ou pelo senhor de escravos como mediador efetivo, embora simbolicamente tal mediação possa ser estrategicamente mantida numa reapropriação do mito do bom senhor, tal como se detecta hoje em algumas situações de aforamento (ALMEIDA, 1999:14-15) Etimologicamente a palavra“quilombo” é de origembantu, e era utilizada originalmente para descrever acampamentos estabelecidos na mata para funções de coleta ou de guerra. Fosse como lugar de refúgio de escravos fugidos ou como lugar de habitação de ex-escravos e libertos, os quilombos constituíram-se ao longo da história como locais de representação da identidade negra. Com a Constituição de 1988, os quilombos no Brasil alcançam outro status frente ao Estado Nacional, graças ao artigo n.º 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal, que reconhece o direito destas comunidades à terra que ocupam nos seguintes termos: “Aos remanescentes das comunidades de quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”. Apesar de sua origem como lugar de pretos, os quilombos conceituam agrupamentos humanos além da simples noção de “cor”. Pesquisas recentes de mapeamento genético de comunidades quilombolas como a realizada por Pedrosa (2006) mostram que a parcela de “ancestralidade genética” de origem europeia e indígena nestes agrupamentos são bastante significativas, derrubando a noção de “pureza racial” e reforçando o argumento de que tais comunidades originaram-se de processos sociais mais complexos. Ancestralidade genética de habitantes de quilombos Nome do quilombo Africana Europeia Indígena Cametá (Norte) 48% 17,9% 34,1% Cajueiro (Nordeste) 67,4% 32,6% 0% Curiaú (Norte) 73,6% 26,4% 0% Paredão (Sul) 79,2% 2,8% 18,1% Trombetas (Norte) 62% 27% 11% Valongo (Sul) 97,3% 2,7% 0% Mimbó (Nordeste) 61% 17% 22% Sítio Velho (Nordeste) 72% 12% 16% Fonte: Pedrosa (2006). No esforço para buscar ferramentas para franquear às comunidades de quilombo o acesso aos serviços do Estado, apenas dois meses antes da promulgação da Constituição de 88, foi criada a Fundação Palmares (através da Lei no. 7.668/88), uma autarquia do Governo Federal dedicada à preservação do patrimônio cultural da arte e cultura afro-brasileira. A Fundação Palmares apresenta em seu site dados mais atualizados sobre a questão do reconhecimento dos quilombos no Brasil, o que nos é útil para compararmos distribuição, em território nacional, da maioria dos quilombos reconhecidos ou identificados, bem como para situar os estados da federação que mais concentram quilombos como é o caso da Bahia, Maranhão e Pará. Quadro da situação das terras de Quilombo segundo a Fundação Palmares Fonte: http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/crqs/quadro-geral-por-estado-ate-23-02-2015.pdf Os quilombos, além de sua característica de agrupamento humano, constituem- se em alvo de política pública à medida em que são espaços de resistência social de comunidades que, apesar das pressões representadas pelo avanço das frentes expansionistas do Estado, mantiveram seus modos de viver e sua autonomia. A política nacional de saúde da população negra propõe o quilombo como objeto de intervenção por considerar que tais comunidades, assim como as comunidades de terreiro, constituem-se em formulações sociais representativas do povo negro e de sua identidade social no Brasil. O lugar jurídico e social da especificidade racial e étnica em saúde Tendo em vista tudo o que discutimos até aqui, ficam algumas questões importantes. Uma delas é: Estabelecer uma política de saúde para a população negra não seria reavivar os preconceitos raciais através de uma nova forma de discriminação, tendo em vista que hoje sabe-se que não existe “raça”? Historicamente são bem conhecidos os perigos da “racialização” no âmbito do Estado nacional. Ainda é bem presente na memória social as mazelas que o nazismo, na Alemanha, causaram ao mundo, com sua ideologia de superioridade da raça ariana, ou as consequências nefastas de regimes como o Apartheid na África do Sul, que justificava a discriminação entre negros e brancos com uma suposta “proteção” à cultura dos dois segmentos. Se não existem raças, então como seria possível explicar as diferenças de fenótipo entre os humanos? Como explicar a prevalência, bastante conhecida na literatura médica, de pretos e pardos entre os acometidos por anemia falciforme ou na deficiência de fosfato 6-Glicose-Desidrogenase? Vários estudiosos têm buscado responder a esta questão. Tomamos aqui a discussão realizada por Bastos e Travassos (2005) que mostra que, se não é possível falar de raça, não é possível descartar certas diferenças não restritas à biologia, entre os humanos. Estudos, tanto internacionais, como, mais recentemente, nacionais, demonstraram que a distribuição de determinados padrões genéticos nas diferentes populações humanas é bastante mais complexa do que se pensava antes, não conformando propriamente “raças” mas sim grupos humanos definidos segundo outros recortes, como o da distribuição espacial e o da recursividade de determinadas interações sociais, como veremos a seguir. Assim, a população brasileira tida como branca apresenta elevada frequência de traços genéticos que caracterizam ancestralidade africana (Bastos e Travassos, 2005:463) Segundo este enfoque, não é verdadeiro afirmar que não exista diversidade genética significativa nas populações humanas; seria mais correto afirmar que tal diversidade não é determinada apenas biologicamente ou “sancionadas pelas variações fenotípicas” (p.463), como preferem Bastos e Travassos, mas também por outros fatores tão importantes quanto como as divisões culturais e ambientais. Ainda segundo os mesmos autores, esta variação se dá muito mais no nível dos indivíduos do que entre os grupos populacionais definidos como “raças”. Os autores complementam seu raciocínio afirmando que o fato inegável e verificável de que certas populações apresentam concentração de alguns traços genéticos como o conhecido exemplo do predomínio de pretos entre os acometidos de anemia falciforme, estas características não autorizam uma categorização racial. Além da anemia falciforme, outros agravos também guardam relação com a população negra (Cunha, 2003; Brasil, 2001): A deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase; Hipertensão arterial; Diabetes Mellitus; Câncer de colo de útero; Doenças cardíacas; Miomas uterinos; Câncer de colo de útero; Mortalidade fetal e perinatal. Logo, os autores demonstram a existência de uma ambiguidade: apesar da categoria raça não ser utilizável para explicar as diferenças genéticas, por outro lado é difícil abdicar dela completamente por conta não da genética, mas dos significados políticos e sociais associados a esta. Além do fato de que, apesar de não existirem raças, o racismo enquanto discriminação para a restrição de direitos a parcelas da população. Sua identificação como um problema para a equidade também funciona como catalizador das políticas de ações afirmativa. A questão racial então, embora extinta no plano da biologia, continua viva nas relações humanas, orientando práticas e pensamentos. No que diz respeito ao sistema único de saúde, vários estudos apontam *** Outra pergunta importante, sempre levantada quando se fala de saúde da população negra, é: eleger políticas públicas voltadas para uma parcela específica da população não implicaria em quebrar o princípio da universalidade no SUS? Vamos relembrar o Artigo 196 da Constituição Brasileira de 1988: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Outro ponto importante neste sentido é o Artigo 2º da Lei Orgânica da Saúde que diz que: “A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”. Nestes dois dispositivos, temos presente a determinação da lei em estabelecer o acesso universal e igualitário à saúde a toda a e atribuindo ao Estado o dever de prover as condições necessárias para que isso ocorra. Se todos têm,supostamente, o mesmo acesso à saúde, porémé identificado que persiste uma disparidade entre segmentos da sociedade brasileira no que diz respeito à qualidade de vida e saúde, a lei estabelece que o Estado tem a função de buscar formas para promover as condições para que este segmento alcance os demais. Por isso é tão importante o princípio da equidade caminhe junto com o da universalidade e integralidade. A equidade nasce da ampliação do conceito de saúde e da luta pelo direito à saúde por parte dos movimentos sociais. Falar de equidade é propor uma abordagem oposta à exclusão e desequilíbrio. A noção de equidade tem como fundamento a defesa da situação de justiça a ser instaurada mediante a denúncia de desigualdades concretas. A exclusão, não apenas econômica, repercute em desequilíbrio no quadro sanitário e o estigma de grupos sociais é um fator de risco na inviabilização do acesso de grupos aos bens e benefícios estatais. Com a melhoria dos sistemas de informação sobre o quesito COR das notificações de morbidade e mortalidade, foi possível na última década aprofundar os conhecimentos sobre os impactos da inequidade na saúde da população negra. Os dados revelam que a discriminação e a exclusão social tem sido fatores importante que dificulta o acesso dos negros aos serviços de saúde e a melhoria de seu quadro sanitário. Saúde e vulnerabilidades na população negra: construindo estratégias Tendo em vista a necessidade de, como formuladores e avaliadores de políticas e ações de saúde Identificar para intervir: como conhecer a realidade? Planejamento em saúde Elaboração de indicadores para avaliação Sistemas de informações Mapas Práticas de humanização Formulação da Competência cultural em saúde Humanização como prática ou como meta? Quando pensamos em humanização da saúde, pensamos em um serviço que reúna, além da excelência técnica, os atributos de respeito à pessoa humana e a adoção de estratégias de recepção, atenção e critérios adequados de encaminhamento dos usuários. Tais fatores A PNH foi instituída em 2003e tem por objetivo qualificar práticas de gestão e de atenção em saúde. Envolve mudanças de atitudes por parte de trabalhadores, gestores e usuários, de novas éticas no campo do trabalho, incluindo a área da gestão e das práticas de saúde, superando problemas e desafios do cotidiano do trabalho. A PNH é um ponto importante da discussão que estamos realizando aqui, pois envolve a porta de entrada do sistema de saúde: a atenção básica. É preciso propor ações eficazes para que o acolhimento funcione muito além de um mero “check-list” ou um amontoado de metas quantitativas que dificilmente contribuirão para a melhoria das relações e realmente incida para resgatar relações de dignidade para trabalhadores e usuários, especialmente aqueles reconhecidos como mais carentes de atenção o do sistema, neste caso, a população negra. A seguir, escolhemos os principais pontos preconizados pela PNH. Quais seriam as principais necessidades de humanização identificadas no sistema de saúde pela PNH? Os saberes contemporâneos sobre saúde envolvem vários fatores: Novas tecnologias Especialização do saber e fragmentação das práticas Fragilização das relações entre profissionais e usuários Por sua vez, a falta de atenção e respeito no atendimento aos usuários enquanto sujeitos singulares e enquanto cidadãos gera alguns produtos: Dificuldades na relação entre profissionais e usuários no cotidiano do atendimento público de saúde: comunicação e modo do atendimento o Dificuldades na efetivação do SUS Adequação no sistema de referência e contra referencia Comunicação entre diversos setores e serviços Problemas na organização do sistema público de saúde Filas e falta de atendimento: acesso e recepção Tempo de espera: demora para encaminhamento e para resolutividade A Humanização articula algumas competências mínimas para ser efetivada no serviço, a saber: • Competência técnica Saberes é práticas do setor saúde • Competência interativa • Lidar com a dimensão subjetiva • Trabalho em equipe interdisciplinar • Trabalho com compromisso e vínculo • Reorganização do processo de trabalho • Ética no trato com a vida humana O que a Política Nacional de Humanização chama de competência interativa, nós chamaremos aqui também e competência cultural, uma habilidade fundamental para a constituição de um campo de comunicação e de compreensão das diferenças sociais e culturais tão importantes no trato de coletivos socialmente diferenciados. Princípios do Programa de Humanização (extraídos do documento da Política Nacional de Humanização - PNH) Transversalidade A PNH pressupõe a melhoria dos processos comunicativos entre pessoas e grupos, superando os entraves estabelecidos pela hierarquia e isolamento, construindo uma cultura mais horizontal nas relações de trabalho. Quando se supera a barreira assimétrica entre quem oferece o serviço de saúde e quem é assistido é derrubada, ocorre a transversalização. Indissociabilidade entre atenção e gestão As decisões da gestão interferem diretamente na atenção à saúde. Por isso, trabalhadores e usuários devem buscar conhecer como funciona a gestão dos serviços e da rede de saúde, assim como participar ativamente do processo de tomada de decisão nas organizações de saúde e nas ações de saúde coletiva. Protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos Qualquer mudança na gestão e atenção é mais concreta se construída com a ampliação da autonomia e vontade das pessoas envolvidas, que compartilham responsabilidades. Os usuários não são só pacientes, os trabalhadores não só cumprem ordens: as mudanças acontecem com o reconhecimento do papel de cada um. Um SUS humanizadoreconhece cada pessoa como legítima cidadã de direitos e valoriza e incentiva sua atuação na produção de saúde. Competência cultural: fontes para um diálogo A competência cultural é tida como atributo derivado da prática na Atenção Primária a Saúde que dialoga diretamente com a forma como a pessoa compreende seu adoecimento e constrói seus modelos explicativos. Utilizaremos as conclusões de Vilelas e Janeiro (2011) sobre esta questão. Embora suas reflexões sobre competência cultural estejam relacionadas A competência cultural é a própria disposição qualificada e refletida para o diálogo intercultural em saúde e articula várias competências: consciência cultural, conhecimento cultural, habilidade cultural e encontro cultural. 1. Consciência cultural é o reconhecimento do sujeito sobre sua própria cultura e seus limites. 2. Conhecimento cultural é o acúmulo de informações do sujeito sobre a cultura do outro. 3. Habilidade cultural é a capacidade de relativização de valores e noções a partir da perspectiva intercultural. 4. Finalmente o encontro cultural é como chamamos aos espaços e momentos nos quais conjuntos culturais diferentes são postos em contato. O campo da saúde é um espaço privilegiado deste encontro. Raça, cor, etnia, origem social, condição física, gênero e orientação sexual são pontos sensíveis à competência cultural. No quadro a seguir é possível visualizar a inter-relação destas quatro dimensões que convergem na competência cultural. Fonte: GREGIS e MARTINI, 2006. Frequentemente os trabalhadores da saúde são obrigados a lidar com questões delicadas que desafiam-no a buscar a compreensão do modo de pensar e de ver o mundo dos usuários dos serviços de saúde. Como é impossível que tais professionais possam efetivamente conhecer aprofundadamentetodos os aspectos do que forma a “cultura” destas pessoas, é imprescindível que eles adquiram conhecimentos sobre as abordagens mais apropriadas e que construam ferramentas de comunicação intercultural que os habilite a lidar com as questões culturais das pessoas. Mas o que seria a comunicação transcultural? A comunicação transcultural Primeiramente é necessário que se reconheça que cada pessoa nasce e cresce em determinado sistema cultural, com seus próprios valores, perspectivas e práticas. O profissional da área da saúde não está isento disso. Não é pedido ao prestador de serviço em saúde, seja ele um funcionário da ponta do sistema ou um gestor, que abandone suas convicções, crenças e maneira de viver, mas sim que ele desenvolva as compet~enciasnecessárias para, apesar disso, desenvolver a EMPATIA necessária para levar em consideração e que respeite as formas de ser e de viver diferentes das dele. A comunicação transcultural é o que possibilita esta troca de perspectivas. Para que ela seja realizada são necessários alguns elementos, conforme podemos ver a seguir (Vilela e Janeiro, 2011): São elementos da comunicação transcultural Contato com os olhos Escuta Toque Silêncio Espaço e distância Crenças de saúde A competência cultural é uma habilidade fundamental para o combate à inequidade em saúde no que diz respeito às “minorias” como as populações quilombolas, povos de terreiro, ciganos, e indígenas, que guardam especificidades culturais significativas e que podem interferir nas ações de intervenção em suas comunidades. Um aspecto da PNH bastante “afim” à competência cultural é o acolhimento, que de certo modo estabelece princípios da competência cultural no SUS. Acolher é reconhecer o que o outro traz como legítima e singular necessidade de saúde. O acolhimento deve comparecer e sustentar a relação entre equipes/serviços e usuários/populações. Como valor das práticas de saúde, o acolhimento é construído de forma coletiva, a partir da análise dos processos de trabalho e tem como objetivo a construção de relações de confiança, compromisso e vínculo entre as equipes/serviços, trabalhador/equipes e usuário com sua rede sócio-afetiva (PNH). Cabe a nós refletirmos sobre que ferramentas de competência cultural podemos desenvolver em nosso cotidiano de profissional da saúde para melhorar a compreensão de outros grupos sociais diversos do nosso – seja de outra religião, outra cor ou outro gênero, visando a melhoria dos serviços. A seguir retomaremos a questão da legislação para abordar os conceitos presentes na Lei 12.288 (Estatuto da Igualdade Racial) que serão utilizados na legislação complementar e nas políticas públicas voltadas para a população negra a partir de 2010. Os conceitos da Lei no. 12.288 de 2010 (Estatuto da Igualdade Racial) e sua utilização nas políticas de saúde para a população negra Dentre as principais contribuições da Lei 12.288/10 são as definições que ela estabelece. Tais definições serviram para orientar a legislação posterior e as políticas públicas. Um exemplo importante é a definição jurídica de “população negra”, que passa a ser constituída pela junção entre as categorias censitárias preta + parda. A seguir, vamos conhecer as principais definições, descritas no artigo 2º: I – discriminação racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada. II – desigualdade racial: as situações de diferenciação de acesso e gozo de bens, serviços e oportunidades, na esfera pública e privada; III – afro-brasileiros: as pessoas que se classificam como tais ou como negros, pretos, pardos ou por definição análoga. IV – políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribuições institucionais. V – ações afirmativas: as políticas públicas adotadas pelo Estado para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades. A Política Nacional de Saúde da População Negra (PNSIPN) A construção de uma política desta política voltada para a população negra é resultado da luta histórica pela democratização da saúde movida por vários movimentos sociais, em especial pelo movimento negro. Sua formulação tem como origem a pactuação de compromissos entre vários atores sociais e políticos como o Ministério da Saúde e a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, com o objetivo comum de superar notória vulnerabilidade em saúde de uma parcela significativa da população brasileira. A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra define os princípios, a marca, os objetivos, as diretrizes, as estratégias e as responsabilidades de gestão, voltados para a melhoria das condições de saúde desse segmento da população. Inclui ações de cuidado, atenção, promoção à saúde e prevenção de doenças, bem como de gestão participativa, participação popular e controle social, produção de conhecimento, formação e educação permanente para trabalhadores de saúde, visando à promoção da equidade em saúde da população negra. Esta Política abrange ações e programas de diversas secretarias e órgãos vinculados ao Ministério da Saúde (MS). Trata-se, portanto, de uma política transversal, com formulação, gestão e operação compartilhadas entre as três esferas de governo. Seu propósito é garantir maior grau de equidade no que tange à efetivação do direito humano à saúde, em seus aspectos de promoção, prevenção, atenção, tratamento e recuperação de doenças e agravos transmissíveis e não-transmissíveis, incluindo aqueles de maior prevalência nesse segmento populacional. Algumas estratégias propostaspela PNSIPN são: A utilização do quesito cor na produção de informações epidemiológicas para a definição de prioridades e tomada de decisão; A ampliação e fortalecimento do controle social; O desenvolvimento de ações e estratégias de identificação, abordagem, combate e prevenção do racismo institucional no ambiente de trabalho, nos processos de formação e educação permanente de profissionais; A implementação de ações afirmativas para alcançar a equidade em saúde e promover a igualdade racial. Princípios da política baseados na Constituição Federal de 88. A PNSIPN baseia-se em alguns princípios preconizados na Constituição de 1988, constituindo-se em uma estratégia de Estado para alcance das Cidadania e dignidade da pessoa humana (BRASIL, 1988, art. 1.º, inc. II e III), Repúdio ao racismo (BRASIL, 1988, art. 4.º, inc. VIII), Igualdade (BRASIL, art. 5.º, caput). Com o objetivo fundamental da República Federativa do Brasil de “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (BRASIL, 1988, art. 3.º, inc. IV) A PNSIPN reafirma também os princípios do SUS estabelecidos na Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990: a) a universalidade do acesso, compreendido como o “acesso garantido aos serviços de saúde para toda população, em todos os níveis de assistência, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie”; b) a integralidade da atenção, “entendida como um conjunto articulado e contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigido para cada caso, em todos os níveis de complexidade do sistema”; c) a igualdade da atenção à saúde; e d) descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo (BRASIL, 1990a, art. 7.º, inc. I, II, IV IX). d) participação popular e controle social;Constituem desdobramentos do princípio da “participação da comunidade” (BRASIL, 1990ª, art. 7.º, inciso VIII) e principal objeto da Lei n.º 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que instituiu as conferências e conselhos de saúde como órgãos colegiados de gestão do SUS, com garantia de participação da comunidade (BRASIL, 1990b). e) equidadeembasa a promoção da igualdade a partir do reconhecimento das desigualdades e da ação estratégica para superá-las. Em saúde, a atenção deve ser entendida como ações e serviços priorizados em função de situações de risco e condições de vida e saúde de determinados indivíduos e grupos de população. Um outro marco importante de compromisso do estado brasileiro com a questão do negro é o Pacto pela Saúde, instituído pela Portaria n.º 399, de 22 de fevereiro de 2006, que dentre outras coisas compromete-se a combater as iniquidades de ordem socioeconômica e cultural que atingem a população negra brasileira. A seguir analisaremos os principais aspectos da PNSIPN. Marca da PNSIPN Como entendimento basilar da PNSIPN está o reconhecimento do racismo, das desigualdades étnico-raciais e do racismo institucional como determinantes sociais das condições de saúde, com vistas à promoção da equidade em saúde. Este pressuposto é fundamental para a forma como a política pretende ser realizada, tanto a partir da transversalidade, ou seja, a convocação de vários órgãos para um esforço conjunto de formulação de políticas públicas para a população negra (saúde, desenvolvimento social, educação, assuntos fundiários ...) As Diretrizes Gerais estabelecidas pela PNSIPN são: Inclusão dos temas Racismo e Saúde da População Negra nos processos de formação e educação permanente dos trabalhadores da saúde e no exercício do controle social na saúde. Ampliação e fortalecimento da participação do Movimento Social Negro nas instâncias de controle social das políticas de saúde, em consonância com os princípios da gestão participativa do SUS, adotados no Pacto pela Saúde. Incentivo à produção do conhecimento científico e tecnológico em saúde da população negra. Promoção do reconhecimento dos saberes e práticas populares de saúde, incluindo aqueles preservados pelas religiões de matrizes africanas. Implementação do processo de monitoramento e avaliação das ações pertinentes ao combate ao racismo e à redução das desigualdades étnico-raciais no campo da saúde nas distintas esferas de governo. Desenvolvimento de processos de informação, comunicação e educação, que desconstruam estigmas e preconceitos, fortaleçam uma identidade negra positiva e contribuam para a redução das vulnerabilidades. Objetivo Geral da PNSIPN Promover a saúde integral da população negra, priorizando a redução das desigualdades étnico-raciais, o combate ao racismo e à discriminação nas instituições e serviços do SUS. Objetivos Específicos da PNSIPN Objetivo específico Objeto de intervenção da política 1 Garantir e ampliar o acesso da população negra residente em áreas urbanas, em particular nas regiões periféricas dos grandes centros, às ações e aos serviços de saúde. Promover o acesso à saúde da população negra habitante das periferias das metrópoles 2 Garantir e ampliar o acesso da população negra do campo e da floresta, em particular as populações quilombolas, às ações e aos serviços de saúde. Foca nas populações negras rurais, com ênfase nas comunidades quilombolas 3 Incluir o tema Combate às discriminações de gênero e orientação sexual, com destaque para as interseções com a saúde da população negra, nos processos de formação e educação permanente dos trabalhadores da saúde e no exercício do controle social. Propõe conteúdos de combate à discriminação de gênero e aos homoafetivos para a educação permanente dos trabalhadores da saúde e nas esferas representativas do controle social como conselhos e delegações das conferências. 4 Identificar, combater e prevenir situações de abuso, exploração e violência, incluindo assédio moral, no ambiente de trabalho. Avança na prevenção no racismo e sua relação com as relações de trabalho 5 Aprimorar a qualidade dos sistemas de informação em saúde, por meio da inclusão do quesito cor em todos os instrumentos de coleta de dados adotados Reforça a recomendação já constante na Lei da Igualdade Racial sobre a necessidade de melhorar os registros de saúde da população negra através do pelos serviços públicos, os conveniados ou contratados com o SUS. preenchimento do quesito cor nos formulários 6 Melhorar a qualidade dos sistemas de informação do SUS no que tange à coleta, processamento e análise dos dados desagregados por raça, cor e etnia. Orienta que, além dos registros, é importante melhorar os sistemas de coletas de dados 7 Identificar as necessidades de saúde da população negra do campo e da floresta e das áreas urbanas e utilizá-las como critério de planejamento e definição de prioridades. Estabelece o imperativo de que o levantamento de dados sobre a saúde da população negra seja critérios para o planejamento das ações do poder público. 8 Definir e pactuar, junto às três esferas de governo, indicadores e metas para a promoção da equidade étnico racial na saúde. Envolvimento das três esferas do governo (municipal, estadual e federal) 9 Monitorar e avaliar os indicadores e as metas pactuados para a promoção da saúde da população negra visando reduzir as iniquidades macrorregionais, regionais, estaduais e municipais. Avaliação e monitoramento constante de indicadores 10 Incluir as demandas específicas da população negra nos processos de regulação do sistema de saúde suplementar. Atenção à questão da saúde da população negra na saúde suplementar (rede particular) 11 Monitorar e avaliar as mudanças na cultura institucional, visando à garantia dos princípiosantirracistas e não- discriminatórios. Combate ao racismo institucional 12 Fomentar a realização de estudos e pesquisas sobre racismo e saúde da população negra. Espaço para o financiamento e outras formas de estímulo à produção acadêmica Estratégias de Gestão da PNSIPN Implementação das ações de combate ao racismo institucional e redução das iniquidades raciais, com a definição de metas específicas no Plano Nacional de Saúde e nos Termos de Compromisso de Gestão. Desenvolvimento de ações específicas para a redução das disparidades étnico- raciais nas condições de saúde e nos agravos, considerando as necessidades locorregionais, sobretudo na morbimortalidade materna e infantil e naquela provocada por: causas violentas; doença falciforme; DST/HIV/aids; tuberculose; hanseníase; câncer de colo uterino e de mama; transtornos mentais. No final do documento, a PNSIPN estabelece as competências para cada esfera do Governo no que diz respeito à saúde da população negra, o que se constitui em um aspecto importante deste dispositivo legal, uma vez que compromete objetivamente os principais articuladores políticos em algumas “tarefas” para o alcance dos objetivos preconizados. Ainda carece-se de estudos que possam avaliar a PNSIPN que, este ano completa cinco anos de implantação. Esta avaliação é necessária para se saber quais os principais impactos de sua homologação e quais os passos que virão pela frente. Referências Bibliográficas ALFREDO, A. W. B. Os quilombos e as novas etnias. In: LEITÃO, S.(Org.). Direitos territoriais das comunidades negras rurais. São Paulo, Doc. ISA n°05, 1999. ALVES, Wendell de Melo Rodrigues. e SAHADE FILHO, Wilson Sampaio. Racismo ou injúria qualificada? Fatos ocorridos no futebol brasileiro. 2006. Disponível em: http://www.chicoleite.com.br/leitura.php?id_materia=39 ARAÚJO, Luciney. 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