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FLUXOS OPERACIONAIS EM COMÉRCIO EXTERIOR AULA 2 Prof. Joni Tadeu Borges 2 CONVERSA INICIAL Olá, alunos! Vamos conversar sobre uma das modalidades de pagamento utilizadas no comércio internacional. Considerando a grande dinâmica em que estão envolvidas as negociações comerciais internacionais, não é de se esperar que as partes (exportador e importador) queiram correr menores riscos. A modalidade de pagamento que apresenta em maior grau essa característica é a da “Carta de Crédito”, pois esse instrumento bancário é uma garantia de pagamento para o exportador e uma garantia de embarque da mercadoria para o importador, dentro das instruções nela contidas. Inicialmente, veremos como a Carta de Crédito está amparada – se há uma regulamentação internacional para que os envolvidos na condução de uma Carta de Crédito possam se apoiar; em seguida, como as partes devem negociar ao escolher a Carta de Crédito como modalidade de pagamento (momento em que ambas devem ter toda a atenção, verificando se as condicionantes negociadas poderão ser cumpridas). Quem abre a Carta de Crédito é o banco emitente, a pedido do importador. Após a abertura, existe a responsabilidade de o exportador apresentar os documentos conforme designados na Carta de Crédito. A partir disto, os bancos analisarão os documentos conforme a Publicação 600 e cumprirão a sua função. CONTEXTUALIZANDO Muitas empresas utilizam a Carta de Crédito, principalmente a pedido do exportador, que não quer: 1) correr o risco de não receber do importador ou 2) que o país do importador adote barreiras para a não transferência de pagamentos. Optando por essa modalidade de pagamento, o exportador terá a garantia de recebimento, caso o importador não o faça. O banco emitente da Carta de Crédito tem o compromisso de pagar o exportador, estando os documentos apresentados por ele em boa ordem. Na prática, ocorrem muitos erros por parte do exportador ao cumprir uma Carta de Crédito, principalmente porque existe o desconhecimento da importância deste documento. O exportador precisa ter total conhecimento de que uma Carta de Crédito somente será honrada pelo banco emitente ou confirmador, se for o caso, se as instruções nela contidas forem cumpridas integralmente pelo exportador. 3 Considera-se que é obrigação do exportador, assim que receber uma Carta de Crédito, fazer uma verificação prévia nas condições nela definidas, examinando se poderá cumpri-las e se as condições estão de acordo com o que foi negociado com o importador. Antes de entregar os documentos ao banco e do vencimento da Carta de Crédito, o instrumento poderá ser alterado através de uma emenda, desde que todas as partes envolvidas na Carta de Crédito concordem. Quando o exportador não cumpre com uma condição imposta na Carta de Crédito, ocorre uma discrepância que poderá ser aceita ou não pelo importador. Caso não seja aceita, a Carta de Crédito deixa de ser uma garantia, e o banco emitente não tem mais a obrigação de honrar com o compromisso. Esses são os cuidado principais que o exportador deve ter: procurar conhecer mais sobre o tema, ter em seu quadro um profissional qualificado, embarcar a mercadoria e apresentar os documentos que estão relacionados conforme instruções da Carta de Crédito. Somente assim terá a garantia de recebimento. TEMA 1 - CONHECIMENTO DA PUBLICAÇÃO 600, QUE PADRONIZA USOS E COSTUMES INTERNACIONALMENTE EM RELAÇÃO À CARTA DE CRÉDITO A Câmara de Comércio Internacional Comitê Brasileiro, através de seu informativo “Carta de Notícias” (2010), apresenta a seguinte definição sobre a Câmara de Comércio Internacional: A Câmara de Comércio Internacional - CCI é a organização mundial de negócios, um órgão representativo que fala com autoridade em nome de empresas de todos os setores de todas as partes do mundo. A missão fundamental da CCI é promover o comércio e investimentos no mercado internacional e auxiliar as empresas a enfrentarem os desafios e oportunidades da globalização. Sua convicção de que o comércio é uma força poderosa para a paz e a prosperidade data das origens da organização, fundada em 1919, na França, por um grupo de líderes empresariais que se intitulavam “mercadores da paz. A Câmara de Comércio Internacional tem sede em Paris e, atualmente, conta com mais de 130 comitês nacionais em diversos países, inclusive no Brasil. Seu principal objetivo é o de contribuir para o crescimento e o desenvolvimento do comércio internacional. Dessa maneira, representa as empresas junto às organizações competentes, como a Organização Mundial do 4 Comércio – OMC. Também elabora regras e padroniza as diferentes transações internacionais, oferecendo maior segurança para as partes envolvidas. Entre as diversas publicações editadas pela Câmara de Comércio Internacional, existe a UCP 600 (Uniform Customs and Practice), conhecida também como Publicação 600, que desde 2007 está em vigor e tem como objetivo padronizar a formalização da Carta de Crédito (crédito documentário) no comércio global. No mercado internacional, nas operações comerciais realizadas entre o exportador e o importador, são negociados vários itens, como preço da mercadoria, quantidade, prazos de entrega e de embarque, tipos de documentos, qualidade do produto, incoterm, modal de transporte e, principalmente, a modalidade de pagamento. Além da Carta de Crédito, padronizada pela Publicação 600, tema de nosso estudo, há outras três modalidades. Sobre estas, apresentamos os conceitos básicos a seguir: Pagamento antecipado: pagamento realizado pelo importador ao exportador antes do embarque da mercadoria; Remessa sem saque: pagamento realizado pelo importador ao exportador após o embarque da mercadoria, no prazo acordado pelas partes. Nessa modalidade, o exportador, posteriormente ao embarque da mercadoria, remete os documentos representativos da exportação diretamente ao importador; Cobrança documentária: pagamento realizado pelo importador ao exportador após o embarque da mercadoria, no prazo acordado pelas partes, quando o exportador entrega os documentos representativos da exportação ao seu banco de relacionamento, solicitando que este envie os mesmos para o banco de relacionamento do importador, mediante instruções de cobrança. Essa modalidade tem a padronização da Câmara de Comércio Internacional, através da Publicação 522. Para Aquiles Vieira (2005, p. 76): A Carta de Crédito, também conhecida como (crédito documentário), é uma modalidade de pagamento bastante usual, porque oferece maiores garantias tanto para o exportador quanto para o importador. Podemos defini-la como uma ordem de pagamento condicional, emitida por um banco, a pedido do importador, a favor do exportador, que somente fará jus ao recebimento do valor representativo do crédito se, e tão somente se, cumprir todas as exigências por ela estipuladas, 5 tendo o exportador a garantia de pagamento de dois ou mais bancos, e o importador a certeza de que só haverá pagamento se suas exigências forem cumpridas. Na versão “Publicação 600”, houve algumas modificações em relação à “Publicação 500” (anterior), como as denominações dadas ao importador, que era o tomador do crédito, ao banco negociador e à classificação da Carta de Crédito. Na atual versão, o importador é denominado “requerente” do crédito; o banco negociador, agora, é conhecido como “banco designado” e a Carta de Crédito é considerada somente “irrevogável”. Outra regulamentação sujeita à análise da Carta de Crédito é a ISBP 681 – Práticas Bancárias Internacionais para a Análise de Documentos em Créditos Documentários (International Standard Banking Practices for the Examination of Documents under Documentary Credits). O objetivo da ISBP 681 visa que os bancos padronizema análise dos documentos que estão relacionados à Carta de Crédito. Outra consideração muito importante sobre a Carta de Crédito consiste em lembrar que os bancos envolvidos só analisam os documentos que estão relacionados na Carta de Crédito, além de checar se as informações que constam nos documentos estão de acordo com as instruções contidas na Carta de Crédito. Portanto, não se analisa, por exemplo, se a mercadoria descrita nos documentos da exportação e na própria Carta de Crédito é realmente a que foi embarcada pelo exportador. O que o banco analisa é se as informações que constam nos documentos estão de acordo com a Carta de Crédito. Se a Carta de Crédito informar que o porto de embarque da mercadoria é o Porto de Paranaguá e o exportador apresentar um conhecimento de embarque (bill of lading) com dados diferentes, por exemplo, informando que o local de embarque é o Porto de Santos, o banco que inicialmente recebe os documentos deve apontar esse erro. E assim o banco faz: analisa criteriosamente a Carta de Crédito com os documentos representativos da operação comercial. Dessa mesma maneira, cabe ao exportador se preocupar com estes mesmos pontos, antes de preparar a documentação da exportação relacionada na Carta de Crédito. Isso vem reforçar a importância do conhecimento das regras que amparam esta carta, disponíveis na Publicação 600, por parte dos exportadores e importadores, para que realizem uma negociação mais segura e de fácil execução. 6 Saiba mais Consulte: http://www.comexblog.com.br/cambio/carta-de-credito- publicacao-600-e-seu-desconhecimento/ TEMA 2 - INSTRUÇÕES PARA A ABERTURA DA CARTA DE CRÉDITO POR PARTE DO IMPORTADOR APÓS A NEGOCIAÇÃO Os fatores que levam exportador e importador a definirem a escolha da modalidade de pagamento em uma negociação são muitos. Nenhuma das partes quer sair prejudicada. Dessa forma, há a necessidade de avaliar quais são os principais riscos envolvidos e qual custo acarretará a escolha de uma determinada modalidade de pagamento. O exportador quer ter a garantia de que irá receber por sua venda. Para isso, bastaria vender na modalidade de pagamento antecipado. Mas será que o importador está disposto a pagar pela compra antes do embarque da mercadoria? E se fosse o contrário? Se o importador quiser receber a mercadoria para depois pagar ao exportador? Será que o exportador aceitaria essa condição? Além dos riscos mencionados acima – pois uma das partes pode vir a não cumprir com sua obrigação –, existem outros aspectos que precisam ser avaliados por exportador e importador, como os de mercado, financeiros e culturais, além dos países envolvidos. Também deve-se levar em conta, para a escolha da modalidade de pagamento, o valor da operação, o porte das empresas, os prazos envolvidos, o custo da operação, entre outros. Se, após a análise dos critérios mencionados anteriormente, as partes optam pela modalidade de pagamento Carta de Crédito, isso deve ficar muito claro, cabendo a cada uma delas saber quais as responsabilidades e direitos a que estão sujeitas. Em regra geral, os documentos que dão origem à abertura de uma Carta de Crédito são a “Fatura Proforma”, emitida pelo exportador, e o “Pedido de Abertura de Carta de Crédito”, formulário fornecido pelo banco emitente da Carta de Crédito e preenchido pelo importador. http://www.comexblog.com.br/cambio/carta-de-credito-publicacao-600-e-seu-desconhecimento/ http://www.comexblog.com.br/cambio/carta-de-credito-publicacao-600-e-seu-desconhecimento/ 7 Na prática, após a negociação entre o exportador e o importador, na qual ficam definidas as condições da operação comercial, o exportador emite a Fatura Proforma e envia ao importador. O importador, com a Fatura Proforma, procura o seu banco de relacionamento (banco emitente), no qual já deve ter um limite de crédito aprovado, e apresenta o pedido de abertura de Carta de Crédito. Joni Borges (2002, p.90) descreve as funções que exercem os participantes da Carta de Crédito: Para que se possa usar essa modalidade de pagamento, é importante que sejam conhecidas as partes envolvidas na Carta de Crédito, quais sejam: Requerente do crédito: é o importador Beneficiário do crédito: é aquele em favor do qual o crédito foi emitido, em regra geral o exportador Banco emitente: é aquele que, por conta e ordem do Requerente, emite o crédito Banco designado: é o banco nomeado para, em nome do Requerente, cumprir o crédito Banco avisador: é o banco que autentica a Carta de Crédito e avisa e entrega o crédito ao beneficiário Banco confirmador, que assume o compromisso de honrar o crédito caso o banco designado não o faça. Outros intervenientes podem ocorrer, dependendo da condição da abertura da Carta de Crédito. Joni Borges (2002, p.93) apresenta outras características da Carta de Crédito: Carta de Crédito Irrevogável: é o compromisso que o banco emitente tem em honrar a Carta de Crédito, desde que os documentos estejam de acordo com as instruções de crédito. Qualquer alteração na Carta de Crédito ou mesmo o cancelamento só poderá ocorrer com o consentimento de todos os intervenientes que participam do referido crédito; Carta de Crédito Transferível ou Intransferível: o crédito é transferível quando o beneficiário do crédito pode transferi-lo, totalmente ou parcialmente, para outro(s) beneficiário(s). Por outro lado, a carta de crédito intransferível, como o nome já diz, não pode ser transferido a outro beneficiário; Carta de Crédito Confirmada: é outro interveniente que pode ser adicionado à Carta de Crédito para avalizar o banco emitente. O banco confirmador é chamado quando o exportador considera que o banco emitente (banco de relacionamento do importador) poderá não honrar o pagamento ou quando o país no qual está localizado o banco emitente enfrenta situações econômicas e/ou políticas não favoráveis; Carta de Crédito Restrita e Irrestrita: caso a Carta de Crédito seja restrita, 8 o banco que receberá os documentos (banco designado) tem que estar informado em campo próprio. Caso não haja essa indicação, a Carta de Crédito será considerada irrestrita e o exportador poderá entregar os documentos representativos do crédito em qualquer banco de sua escolha (any bank); Carta de Crédito à vista ou a prazo: na Carta de Crédito à vista, o exportador receberá o pagamento após a apresentação dos documentos ao banco designado, desde que estejam em boa ordem (sem discrepâncias). Vale ressaltar que o banco tem prazo de 05 dias úteis para analisar os documentos determinados na Publicação 600. Já na Carta de Crédito a prazo, o pagamento ocorrerá, desde que não haja discrepâncias, na data acordada; A Carta de Crédito tem outras características, como a possibilidade de tolerância para o embarque da mercadoria. Utiliza-se a expressão about que significa cerca de ou aproximadamente. Nessa condição, pode haver uma diferença de preço ou de quantidade embarcada especificada na Carta de Crédito. Os embarques poderão ser parciais, desde que estipulados na Carta de Crédito. Assim, o exportador poderá definir a quantidade e valor a embarcar dentro do prazo da validade da Carta de Crédito. São muitos detalhes importantíssimos que fazem com que a Carta de Crédito tenha um valor essencial em uma negociação. Para isso, as empresas que escolhem essa modalidade de pagamento, principalmente os exportadores, devem ter em seu quadro de funcionários um profissional experiente, que conheça a Publicação 600 e saiba como operar com segurança, a fim de não perder a garantia da Carta de Crédito. Leitura obrigatória BORGES, Joni Tadeu. Financiamento ao Comércio Exterior - o que uma empresa precisa saber (ler capítulo “Modalidades de Pagamentos”). TEMA 3 - AS INSTRUÇÕES QUE CONTÉM A CARTA DE CRÉDITO Bruno Ratti(2004, p.94) descreve a abertura de crédito como um procedimento realizado pelo banco emitente: 9 Dentro dessa modalidade, o importador providencia, preliminarmente, junto a um banco da praça, a abertura (emissão) de uma Carta de Crédito, em favor do exportador da mercadoria. Tal crédito pode ser transmitido ao beneficiário diretamente pelo banco emitente, como através de seu correspondente na praça do exportador. Nessa Carta de Crédito são delineados os termos e condições em que a operação deve ser concretizada, termos esses que dizem respeito, especialmente, aos seguintes itens: valor do crédito, beneficiário e endereço, documentação exigida (conhecimento de embarque, faturas, apólices de seguro, certificado etc.), prazo de validade para o embarque da mercadoria e para a negociação do crédito, porto de embarque e destino, discriminação da mercadoria, quantidades, embalagens, permissão ou não de embarque parciais ou transbordo etc. Os tipos e quantidades de informações fornecidas para abrir a Carta de Crédito são similares, uma vez que, em seus procedimentos de abertura do crédito, os bancos seguirão o padrão da Publicação 600. Porém, cada banco, a seu critério, estipula o tipo de formulário de Pedido de Abertura de Carta de Crédito. A seguir, as instruções normalmente contidas neste pedido: local e data do vencimento do crédito; nome e swift do banco avisados; nome e swift do banco designado (negociador); identificação do requerente do crédito (tomador), que normalmente é o importador; identificação do beneficiário do crédito, que normalmente é o exportador; comissão de agente, se houver; local de embarque; data prevista de embarque; se haverá embarques parciais e transbordos; a forma de pagamento do crédito: à vista, a prazo, por aceite; local de descarga da mercadoria; local de origem da mercadoria; Nomenclatura Comum do MERCOSUL – NCM e descrição da mercadoria; número da fatura proforma; saques emitidos pelo beneficiário com vencimento, se houver; documentos de embarque: nomes e quantidades; condição de emissão dos documentos: a ordem de ou em nome de; frete: a pagar ou pago; incoterm; 10 outros documentos; prazo para apresentação dos documentos no banco: data limite em que o exportador deve apresentar os documentos descritos na Carta de Crédito ao banco designado, a partir da data de emissão do conhecimento de embarque, dentro da validade da Carta de Crédito; condições especiais: se houver; por conta de quem ficam as despesas e comissões envolvidas na Carta de Crédito: exportador ou importador. Em regra geral, as despesas e comissões internas ficam por conta do importador e as externas por conta do exportador; se haverá confirmação do crédito; se há seguro de transporte internacional contratado. É com base nas informações anteriores que o banco emitente abrirá a Carta de Crédito, não assumindo nenhuma responsabilidade quanto à legitimidade das informações e dos documentos apresentados. Na prática, os bancos fazem uma análise prévia em relação à operação de abertura da carta e, se considerarem que há inconsistência documental ou de informações, poderão optar, a seu critério, por não realizar a operação. Após a abertura da Carta de Crédito, o banco emitente transmite-a, via swift, para o banco avisador, através da MT700 (Message Transfer). A MT700 – Issue of a Documentary Credit (Emissão de Crédito Documentário) é um dos tipos de mensagens utilizados pelo sistema swift. A seguir, podemos visualizar um fluxo de forma resumida sobre a operacionalização da Carta de Crédito. A ordem é apenas indicativa; alguns passos podem ocorrer simultaneamente, conforme apresentado por Borges (2002, p.92): 1. Negociação entre exportador e importador; 2. Banco emitente abre a Carta de Crédito a pedido do importador; 3. Banco emitente transmite a Carta de Crédito para o Banco avisador via swift; 4. Banco avisador notifica o beneficiário do crédito; 5. Após o embarque da mercadoria, exportador entrega os documentos representativos da exportação e citados na Carta de Crédito ao banco 11 designado; 6. O banco designado analisa os documentos e remete-os para o banco emitente; 7. O banco emitente analisa novamente os documentos. Não havendo discrepâncias, ele paga o banco designado na data acordada; 8. O banco emitente entrega os documentos ao importador mediante pagamento ou aceite; 9. O banco designado paga o exportador na data acordada (à vista ou a prazo); 10. O importador, com os documentos em mão, retira a mercadoria. Curiosidade Consulte o modelo de Pedido de Abertura de Carta de Crédito disponível em: http://www.bb.com.br/portalbb/frm/fw0702258_1.jsp TEMA 4 - A ANÁLISE PELO EXPORTADOR ANTES DE PROVIDENCIAR O EMBARQUE DA MERCADORIA A Carta de Crédito somente será uma garantia para o exportador se este cumprir com as instruções contidas no instrumento de crédito. Para isso, o exportador, ao receber a Carta de Crédito, deve verificar se as instruções estão de acordo com a negociação realizada com o importador, procurando preparar e entregar os documentos ao banco conforme as condicionantes que a carta exige. Aquiles Vieira (2005, p.78) elaborou um checklist que o exportador deve utilizar ao negociar a venda da mercadoria na modalidade de Carta de Crédito: Assim, o exportador, ao receber uma Carta de Crédito, deve assegurar- se de que os dados constantes no instrumento conferem com os da fatura proforma, tais como: a) o Banco Emitente é de primeira linha e o crédito é irrevogável; b) a razão do exportador e do importador está completa e corretamente grafada; http://www.bb.com.br/portalbb/frm/fw0702258_1.jsp 12 c) o Banco Confirmador, se houver, é confiável e o país de confirmação não oferece risco; d) o valor da moeda estrangeira corresponde ao valor de venda negociado; e) o exportador deve verificar se as tolerâncias em relação ao valor e à mercadoria estão corretas; f) o incoterm utilizado deve estar grafado corretamente e corresponder ao negociado; g) o prazo de embarque e negociação são compatíveis, de acordo com a negociação entre as partes; h) a descrição da mercadoria deve corresponder exatamente ao produto mencionado na fatura proforma; i) os embarques parciais são permitidos ou proibidos; j) os transbordos são permitidos ou não; l) os documentos exigidos podem ser atendidos; m) o crédito é restrito ou os documentos podem ser negociados com qualquer banco; n) o crédito contém instrução de reembolso; o) o crédito deve mencionar se está sujeito à Publicação 600 da Câmara de Comércio Internacional. Outra alternativa interessante para evitar maiores transtornos na condução da Carta de Crédito é a solicitação, por parte do exportador, de um draft da mesma. Nesse caso, o draft é uma prévia de como a Carta de Crédito será aberta. Se o exportador concordar com as condições estabelecidas no draft, ele autoriza o importador a dar continuidade na abertura da Carta de Crédito. Os bancos, quando analisam os documentos e a Carta de Crédito, não os interpretam; eles verificam se as instruções foram cumpridas. Todos os documentos citados na Carta de Crédito são examinados com a finalidade de verificar se estão em conformidade com a Carta de Crédito. A Publicação 600 estabelece que os bancos envolvidos tenham 5 (cinco) dias úteis para fazer esta análise. A Carta de Crédito, como já mencionado, é um instrumento de crédito que tem sua formatação padronizada de acordo com a Publicação 600, isto é, cada campo tem sua finalidade específica. A seguir, vamos apresentar alguns destes campos, identificando a sua finalidade: ISSUING BANK – identificação do banco emitente da Carta de Crédito. O exportador deve verificar se o banco é de primeira linha. O exportador deve ter esta informação(sobre qual banco fará a emissão da Carta de Crédito) preferencialmente antes da abertura da mesma; 20: DOCUMENTARY CREDIT NUMBER – número da Carta de Crédito; 27: SEQUENCE OF TOTAL – número de páginas da Carta de Crédito. O exportador tem que conferir se está com a Carta de Crédito completa; 31C: ISSUE DATE – data de emissão da Carta de Crédito; 13 31D: DATE AND PLACE OF EXPIRY – local e data do vencimento do crédito. Os documentos devem ser entregues no local informado até a data de vencimento; 32B: CURRENCY CODE, AMOUNT – valor e moeda da Carta de Crédito correspondentes ao da fatura comercial; 42A: DRAWEE – contra quem o saque deve ser emitido; 44A: LOADING IN CHARGE – porto de embarque da mercadoria; 44C: LATEST DATE OF SHIPMENT – prazo máximo para o embarque da mercadoria; 45A: DESCRIPTION OF GOODS – a descrição da mercadoria deve ser igual à mencionada na fatura comercial e nos demais documentos. 46A: DOCUMENTS REQUIRED – são os documentos exigidos na Carta de Crédito. Deve-se verificar especialmente a quantidade de vias de cada documento e se há alguma informação que deva constar. Normalmente, é solicitado que o número da Carta de Crédito conste na fatura comercial e demais documentos. Se há alguma particularidade, isto também deve constar, como, por exemplo, quando a fatura comercial precisar do visto do consulado do país do importador; 50: APPLICANT – é o requerente da Carta de Crédito; a razão social e endereço precisam ser iguais aos documentos; 57D: ADVISING BANK – identificação do banco avisador, que deve estar na mesma praça do exportador; 59: BENEFICIARY – em regra geral, é o exportador; sua razão social e endereço precisam ser os mesmos mencionados nos documentos; 71B: DETAILS OF CHARGES – informação de quem é responsável pelo pagamento de despesas e comissões – exportador ou importador, conforme negociação entre as partes. Como podemos observar, a Carta de Crédito é um excelente instrumento para o exportador, pois fornece a garantia de recebimento por sua venda. Caso o importador não faça o pagamento, o banco emitente se compromete a honrar o compromisso. Todavia, o exportador precisa estar muito atento para cumprir rigorosamente as instruções deste documento. 14 Saiba mais Modelo de Carta de Crédito disponível em: http://www.aprendendoaexportar.gov.br/sitio/paginas/comExportar/pp_conCarC redito.html TEMA 5 - PROVIDÊNCIAS PARA REGULARIZAR A CARTA DE CRÉDITO QUANDO HÁ DISCREPÂNCIAS Nem sempre a negociação se encerra da maneira como começou. Se houver alguma alteração na negociação, principalmente após a abertura da Carta de Crédito (mas antes da entrega dos documentos pelo exportador ao banco designado), a carta deverá ser alterada através de uma emenda à Carta de Crédito. No caso de a mercadoria já estar embarcada e os documentos específicos entregues ao banco designado pelo exportador apresentarem algum conflito em relação ao teor da Carta de Crédito, o banco designado pode apontar divergências de menor ou maior relevância. Sendo erros que não afetem o andamento da operação, como erros de digitação ou pequenas omissões, o banco designado (banco negociador) poderá solicitar ao exportador que substitua os documentos, para que fiquem de acordo com as instruções da Carta de Crédito. Porém, quando os documentos não estão de acordo e não há como alterá-los, ou quando não são obedecidos os prazos determinados na Carta de Crédito, o banco emitente, quando do recebimento dos documentos do banco designado, poderá apontar as discrepâncias. É comum que o exportador, por algum motivo, não concorde com as instruções contidas na Carta de Crédito. Pode ocorrer que o mesmo não consiga embarcar a mercadoria no prazo acordado ou no porto designado, por exemplo. Nesse caso, antes de embarcar a mercadoria, o exportador solicita ao importador que providencie, junto ao banco emitente, uma emenda à Carta de Crédito que atenda às suas necessidades. Vale lembrar que a emenda somente será realizada se todas as partes envolvidas na Carta de Crédito concordarem com a alteração. Pode acontecer também que, por falta de conhecimento do exportador, este embarca a mercadoria e providencia os documentos sem seguir as instruções da Carta de Crédito. Nesse caso, se os documentos estiverem http://www.aprendendoaexportar.gov.br/sitio/paginas/comExportar/pp_conCarCredito.html http://www.aprendendoaexportar.gov.br/sitio/paginas/comExportar/pp_conCarCredito.html 15 divergentes entre si e das instruções da Carta de Crédito, cabe ao banco designado apontar as discrepâncias, solicitando autorização ao exportador para enviar os documentos “com erro” para o banco emitente, aguardando o aceite do importador. A emenda à Carta de Crédito consiste em alterações realizadas por solicitação do importador ou do exportador, conforme o caso, após a abertura da Carta de Crédito. O importador pode solicitar uma emenda para alterar a quantidade da mercadoria negociada. Consequentemente, essa alteração acarretará outras, como, por exemplo, no valor total, peso ou quantidades de volumes. O exportador também pode solicitar uma emenda, se considerar que o prazo máximo não será o suficiente para a produção e embarque da mercadoria. Já para a discrepância, Douglas S. Hartung (2002, p.299) exemplifica a possibilidade de ocorrência: Após receber os documentos, caberá ao banco emitente, e/ou ao banco confirmador ou ao banco designado, determinar, com base apenas nos documentos, se os mesmos aparentam estar em conformidade com o crédito. Caso os documentos não aparentem estar em conformidade com o crédito, os bancos poderão se recusar a aceitá-los. Quando da análise dos documentos, se os mesmos apresentarem estar aparentemente em desacordo com o crédito, poderá o banco emitente, a seu critério, solicitar ao tomador a liberação das discrepâncias. Caso o banco emitente e/ou o banco confirmador, ou o banco designado, decida recusar os documentos, deverá notificar sem demora o fato, pelo meio mais rápido possível (swift), não além do encerramento do sétimo dia útil bancário seguinte à data de recebimento dos documentos. Bruno Ratti (2004, p.102) lista os erros mais comuns encontrados em documentos de exportação amparada em crédito documentário. Abaixo, alguns deles: Fatura Comercial a) descrição da mercadoria não exatamente da forma como aparece na Carta de Crédito; b) nome do comprador em desacordo com a Carta de Crédito; c) vias insuficientes; d) importância diferente da do saque; e) preços em desacordo com o crédito; f) omissão do preço básico (por exemplo: FOB Santos); 16 g) sem indicação do valor do frete e/ou seguro (quando solicitado no crédito); h) contém rasuras não autenticadas; i) não está assinada (quando exigida no crédito). Seguro a) não cobre todos os riscos específicos requeridos pela Carta de Crédito; b) mercadoria não descrita com propriedade, particularmente quanto à embalagem; c) data do início do seguro posterior à data do conhecimento. Conhecimento de embarque a) apresentação de jogo incompleto; b) não estão propriamente endossadas; c) não indicam que o frete foi pago antecipadamente, quando assim exige o crédito, tampouco que a mercadoria se acha a bordo; d) trazem data posterior à data de embarque especificada na Carta de Crédito; e) o embarque foi realizado de um porto ou de um destino diferente do que foi estipulado na Carta de Crédito. Por fim, vimos somente alguns dos erros usuais com relação à Carta de Crédito, mas estes erros são inúmeros. Essa é a razão para que o exportador procure conhecer sempre mais sobre esse tema, praticando-o na sua rotina de comércio exterior. Desta forma, realizará operações mais seguras e sem transtornos que tragam algum tipo de prejuízo. Saiba mais http://cartadecredito.blogspot.com.br/http://cartadecredito.blogspot.com.br/ 17 TROCANDO IDEIAS Converse com profissionais (empresas exportadoras ou importadoras) que operam com Carta de Crédito. Procurem obter informações sobre os pontos positivos e negativos ao negociar a Carta de Crédito como modalidade de pagamento. Divulgue o resultado de sua pesquisa em nossos canais específicos (chats, Facebook etc.). SÍNTESE Vimos a importância de conhecer esta modalidade de pagamento, denominada Carta de Crédito, que apresenta maior garantia para as partes. Observamos como, principalmente, o exportador deve atuar na negociação e na condução da operacionalização da Carta de Crédito – ter a garantia, mas executar uma condução equivocada pode trazer, para o exportador, além de muitos transtornos, aumento de prazos e custos não programados, além da perda mais significativa, que consiste na perda da Carta de Crédito como uma garantia. A empresa que atua no comércio exterior e que utiliza esse instrumento de garantia deve ter um profissional que maneje a fundo todo o teor da Publicação 600, tendo amplo conhecimento, de igual modo, de como os bancos envolvidos trabalham com esse produto. Ressalto que a Carta de Crédito é uma excelente alternativa de mitigar riscos, porém, ela deve ser muito bem negociada e conduzida. REFERÊNCIAS CÂMARA DE COMÉRCIO INTERNACIONAL COMITÊ BRASILEIRO, RIO DE JANEIRO. Carta de notícias, n. 70, jan./mar. 2010. VIEIRA, Aquiles. Teoria e prática cambial: importação e exportação. São Paulo: Aduaneiras, 2005. BORGES, Joni Tadeu. Financiamento ao Comércio Exterior. Curitiba: Ibpex, 2002. 18 RATTI, Bruno. Comércio internacional e câmbio. São Paulo: Aduaneiras, 2004. HARTUNG, Douglas S. Negócios internacionais. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.
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