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CAPÍTULO XVIII – DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES 1. As funções do Estado e a separação de Poderes Atualmente, a separação de poderes se assenta na independência e na harmonia entre os órgãos do Poder político. Isso significa que, não obstante a independência orgânica, no sentido de não haver entre eles qualquer subordinação ou dependência no que tange ao exercício de suas funções, a Constituição Federal instituiu um mecanismo um mecanismo de controle mútuo, onde há interferências, que visam ao estabelecimento de um sistema de freios e contrapesos, à busca do equilíbrio necessário à realização do bem da coletividade e indispensável para evitar o arbítrio e o desmande de um em detrimento do outro especialmente dos governados. (checks and balances). Não se afigura mais possível falar em ‘tripartição de funções’. Esta quantificação se justifica apenas diante da separação orgânica das funções judiciárias, legislativas e administrativas, titularizadas por três ‘poderes’. Entretanto, a partir da possibilidade de que cada qual destes poderes exerça mais do que uma única função, não há razão para dizer que elas se resumem a três. (Luiz Carlos dos Santos Gonçalves, CPIs – Poderes de investigação). 2. Do Poder Legislativo 2.1. Órgãos do Poder Legislativo A Constituição brasileira proveu a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios de competência legislativa que a exercem por meio de seus órgãos legislativos próprios. Por isso há entre nós órgãos legislativos da União (Congresso Nacional), dos Estados (Assembléias Legislativas), do Distrito Federal (Câmara Legislativa) e dos Municípios (Câmara de Vereadores). 2.1.1. Da União: O Congresso Nacional. O bicameralismo. As Casas e a composição do Congresso Nacional O órgão do Poder legislativo da União é o Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. É característica das Federações o sistema bicameral, ou de duas casas, diante da necessidade de uma delas representar a vontade dos Estados federados na formação da vontade nacional. E ao Senado foi atribuída a missão de representar a vontade dos Estados federados, razão por que a distribuição de Senadores por Estados é absolutamente a mesma. O sistema bicameral, que se adota apenas no âmbito do órgão legislador da União é decorrência, portanto, da forma federaitva. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal. O Senado Federal é a casa legislativa representativa dos Estados e do Distrito Federal, composta por Senadores eleitos segundos princípio majoritário. Cada Senador será eleito com dois suplentes. 2.1.2. Dos Estados: As Assembléias Legislativas dos Estados e a Câmara Legislativa do Distrito Federal. Composição O órgão do Poder legislativo dos Estados é a Assembléia Legislativa, que é o órgão unicameral composto de deputados estaduais também eleitos pelo sistema proporcional para mandato de 4 anos. O número de deputados á Assembléia corresponderá ao triplo da representação do Estado na Câmara dos deputados (art. 27). Será de 4 anos o mandato dos Deputados Estaduais1, aplicando-sê-lhes as regras constitucionais sobre o sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas. 1 O § 1º do art. 27 da Constituição do Brasil define em quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais. A norma que, alterando a regra da Constituição Estadual de Roraima (Emenda n. 16, de 19 de outubro de De um modo geral, compete à Assembléia Legislativa dispor sobre seu regimento interno, policia e serviços administrativos de sua secretaria, e prover os respectivos cargos, cumprindo a lei sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual. 2.1.3. Dos Municípios: As Câmaras de Vereadores dos Municípios. Composição O órgão do Poder legislativo dos Municípios é a Câmara de Vereadores, que é o órgão unicameral composto por vereadores eleitos pelo sistema proporcional, em número proporcional à população do Município2. O total da despesa com a remuneração dos Vereadores não poderá ultrapassar o montante de 5% da receita do Município (art. 29, VII). 2.2. Organização interna do Poder Legislativo Compreende a estruturação de órgãos indispensáveis à condução de seus trabalhos e ao desempenho de suas atividades. Entre os seus órgãos internos fundamentais, há a mesa diretora, as comissões parlamentares e os órgãos administrativos e de polícia interna. 2.2.1. A Mesa Diretora É o órgão de direção da casa legislativa pela condução dos trabalhos legislativos e administrativos. No Poder legislativo da União, existe uma Mesa diretora da Câmara dos Deputados, uma Mesa diretora do Senado e uma Mesa diretora do Congresso Nacional. A mesa da Câmara e do Senado compõe-se, respectivamente, de deputados e senadores eleitos pelos seus próprios pares para mandato de 2 anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subseqüente (art. 57, § 4º). A mesa do Congresso Nacional, que se compõe conjuntamente de deputados e senadores, não é formada por eleição, pois a Constituição já indicou quais serão os seus membros, entre aqueles que compõem as Mesas da Câmara e do Senado Federal. 2.2.2. As Comissões Parlamentares Órgãos de natureza técnica competentes para examinar as propostas legislativas em curso em curso nas casas legislativas e sobre elas emitir pareceres ou para controlar e investigar os fatos relevantes e determinados. 2.2.2.1. Comissões permanentes São aquelas criadas para durarem por tempo indefinido. Elas existem e permanecem por sucessivas legislaturas e são instituídas em razão da matéria. 2005) permite a extensão do mandato pela alteração da data de posse dos eleitos em 2006, colide, frontalmente, com aquela regra. A autonomia estadual tem os seus limites definidos pela Constituição da República. (ADI 3.825, Plenário, rel. Min. Carmen Lúcia, DJ 28/11/2008) 2 O artigo 29, inciso IV da Constituição Federal, exige que o número de Vereadores seja proporcional à população dos Municípios, observados os limites mínimos e máximos fixados pelas alíneas a, b e c. Situação real e contemporânea em que Municípios menos populosos têm mais Vereadores do que outros com um número de habitantes várias vezes maior. Casos em que a falta de um parâmetro matemático rígido que delimite a ação dos legislativos Municipais implica evidente afronta ao postulado da isonomia. Princípio da razoabilidade. Restrição legislativa. A aprovação de norma municipal que estabelece a composição da Câmara de Vereadores sem observância da relação cogente de proporção com a respectiva população configura excesso do poder de legislar, não encontrando eco no sistema constitucional vigente. Parâmetro aritmético que atende ao comando expresso na Constituição Federal, sem que a proporcionalidade reclamada traduza qualquer afronta aos demais princípios constitucionais e nem resulte formas estranhas e distantes da realidade dos Municípios brasileiros. Atendimento aos postulados da moralidade, impessoalidade e economicidade dos atos administrativos (CF, artigo 37). 6. Fronteiras da autonomia municipal impostas pela própria Carta da República, que admite a proporcionalidade da representação política em face do número de habitantes. Orientação que se confirma e se reitera segundo o modelo de composição da Câmara dos Deputados e das Assembléias Legislativas (CF, artigos 27 e 45, § 1º). (RE 197.917, Plenário, rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 07/05/2004) 2.2.2.2. Comissões temporárias São aquelas criadas para fins específicos e duram o tempo necessário para conclusão de seus trabalhos ou no prazo previamente fixado. São comissões especiais. 2.2.2.3. Comissões mistas São aquelas criadas no âmbito do Congresso Nacional e se compõem conjuntamente de deputados e senadores. Podem ser permanentes ou temporárias. Exemplo: comissãopara examinar as medidas provisórias antes de serem apreciadas pelas casas separadamente (art. 62, § 9º) e a comissão de orçamento (art. 166, § 1º). 2.2.2.4. Comissões de inquérito São comissões necessariamente temporárias, que podem ser criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para apuração de fato determinado e por prazo certo. Terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais. Esse poder de investigação constitui uma função típica do Legislativo, ao lado da função de legislar, e merecedora de idêntico prestigio. Fiscalizar compreende a atividade de controle e de investigação. Conceito. As Comissões Parlamentares de Inquérito são comissões temporárias que podem ser criadas no âmbito do Congresso Nacional (mistas) ou em cada uma das Casas Legislativas, com o objetivo específico de investigar fato ou fatos determinados, para apuração de responsabilidades, por período certo. São órgãos que instauram um procedimento administrativo de feição política, de cunho meramente investigatório, semelhante ao inquérito policial e o inquérito civil público. Finalidade. É tão-somente apurar o fato certo de determinado para o qual foram constituídas, em exercício de prerrogativa diretamente ligada ao papel político do Congresso Nacional no acompanhamento de assuntos nacionais. Natureza. Tem natureza inquisitiva, não se aplicando às CPIs os princípios do contraditório e ampla defesa. Podem decretar o sigilo das investigações e limiar a reunião às presenças do indiciado, das testemunhas e dos advogados, e mesmo assim, quanto a estes, quando acompanharem os seus constituídos. Requisitos. Segundo a Constituição, as CPIs só podem ser criadas (i) a requerimento de um terço dos membros de cada Casa Legislativa (quando atuarem em separado) ou do Congresso Nacional (quando as Casas atarem em conjunto); (ii) para apuração de fato determinado; (iii) por prazo certo. Minorias. As CPIs constituem importante instrumento de controle à disposição das minorias parlamentares, tendo em vista que podem ser criadas por ato da respectiva mesa, mediante requerimento de um terço dos membros de cada Casa Legislativa ou do Congresso Nacional. Não há necessidade de deliberação plenária para a criação da Comissão3. Podres. As CPIs terão poderes de investigação próprio das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos internos das Casa Legislativas. A Constituição é a sede em que se fixam os poderes das CPIs e o parâmetro para verificação da pertinência das estatuições feitas por outros dispositivos. 3 Atendidas tais exigências (CF, art. 58, § 3º), cumpre, ao Presidente da Casa legislativa, adotar os procedimentos subseqüentes e necessários à efetiva instalação da CPI, não lhe cabendo qualquer apreciação de mérito sobre o objeto da investigação parlamentar, que se revela possível, dado o seu caráter autônomo (RTJ 177/229 - RTJ 180/191-193), ainda que já instaurados, em torno dos mesmos fatos, inquéritos policiais ou processos judiciais. A prerrogativa institucional de investigar, deferida ao Parlamento (especialmente aos grupos minoritários que atuam no âmbito dos corpos legislativos), não pode ser comprometida pelo bloco majoritário existente no Congresso Nacional e que, por efeito de sua intencional recusa em indicar membros para determinada comissão de inquérito parlamentar (ainda que fundada em razões de estrita conveniência político-partidária), culmine por frustrar e nulificar, de modo inaceitável e arbitrário, o exercício, pelo Legislativo (e pelas minorias que o integram), do poder constitucional de fiscalização e de investigação do comportamento dos órgãos, agentes e instituições do Estado, notadamente daqueles que se estruturam na esfera orgânica do Poder Executivo. (MS 24.831, Plenário, rel. Min. Celso de Mello, DJ 04/08/2006) Podem as autoridades exercer todos os poderes de investigação próprios das autoridades judiciais? Segundo entendemos, não podem as CPIs determinar prisões, buscas e apreensões domiciliares e interceptações de comunicações telefônicas, providências esta que se inserem no âmbito da chamada reserva constitucional de jurisdição. Podem os Poderes Legislativos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios investigar fatos de suas competências por meio de CPIs, com obediência de certas normas da Constituição Federal. 2.2.2.5. Representativa Exercer uma atividade de representação, durante o recesso, do Congresso Nacional. 2.2.3. A Polícia Legislativa e Órgãos Administrativos A polícia legislativa é o órgão de segurança interna das casas legislativas, responsável pelas atividades de polícia, porém limitada ao âmbito dos fatos ocorridos no recinto da Câmara, do Senado e do Congresso. Os órgãos administrativos são os responsáveis pelas atividades administrativas atinentes ao Poder legislativo, compondo uma verdadeira administração pública interna. 2.3. O funcionamento dos Órgãos do Poder Legislativo Os órgãos do Poder legislativo desenvolvem as suas atividades dentro de determinados períodos, que compreendem a legislatura (4 anos), as sessões legislativas (reuniões anuais) e as sessões (reuniões diárias). 2.3.1. A legislatura A legislatura é o período dentro do qual funciona cada órgão legislativo, com a sua composição. Terá duração de 4 anos e corresponde à duração do mandato do deputado federal (de 01 de fevereiro de determinado ano e se encerra no dia 31 de janeiro quatro anos depois). 2.3.2. As sessões legislativas Cada legislatura compreende quatro sessões legislativas. Sessão legislativa é o período anual de funcionamento das casas legislativas. 2.3.2.1. Ordinária A sessão legislativa ordinária corresponde ao próprio período anual e compreende dois períodos que são intercalados por um recesso. Vai de 02/02 até 17/07 (1º período) e recomeça no dia 1/08 até22/12 (2º período). A sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias (art. 27, § 2º). 2.3.2.2. Extraordinária A sessão legislativa extraordinária é aquele que ocorre durante o recesso parlamentar quando convocada nos termos do art. 57, § 6º, da Constituição. O Congresso Nacional somente deliberará sobre a matéria para a qual foi convocado, ressalvado a hipótese do § 8º, do art. 57, vedado o pagamento de parcela indenizatória, em razão da convocação. Havendo medidas provisórias em vigor na data de convocação extraordinária do Congresso Nacional, serão elas automaticamente incluídas na pauta de convocação (art. 57, § 8º). 2.3.3. As sessões As sessões são reuniões diárias dos órgãos legislativos. 2.3.3.1. Ordinária As sessões ordinárias são reuniões diárias que ocorrem no horário normal de expediente. 2.3.3.2. Extraordinária As sessões extraordinárias são reuniões diárias que ocorrem fora do horário normal de expediente.Não precisam ser convocadas nos mesmos moldes de convocação da sessão legislativa extraordinária. 2.3.4. As sessões preparatórias As sessões preparatórias são aquelas destinadas à posse dos membros das casas legislativas e à eleição das respectivas mesas. Cada uma das casas legislativas se reunirá em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura. 2.4. As atribuições do Congresso Nacional O Congresso Nacional dispõe de competências legislativas e de competências políticas próprias. Como órgão do Poder legislativo da União, compete-lhe, através de suas causas e com sanção do Presidente da República, dispor sobre todas as matérias de competência legislativa da União (ver incisos do art. 48). Porém, como órgão político, dispõe de competência exclusiva para, por si e sem a sanção do Presidente da República. (ver incisos do art. 49). 2.5. As atribuições da Câmara dos Deputados (art. 51) Além de sua normal atividade legislativa, a Câmara dos Deputados dispõe de competência privativa(ver. incisos do art. 51). 2.6. As atribuições do Senado Federal (art. 52) O Senado Federal também goza de importantes competências políticas privativas, afora as suas atividades legislativas, são elas: ver incisos do art 52. 2.7. Quorum das deliberações (art. 47) A regra para a deliberação das casas legislativas e de suas comissões é a maioria simples ou relativa, que varia em consonância com a presença dos membros da casa legislativa. A única exigência da Constituição é que estejam presentes pelo menos a maioria absoluta, sob pena de não haver quorum para deliberar. O quorum de exceção, que só se aplica quando houver disposição constitucional expressa, pode envolver os quoruns de maioria absoluta (exigida, por exemplo, para aprovação de leis complementares), maioria de 3/5 (exigida para a aprovação de Emenda Constitucional) e maioria de 2/3 (exigida para a Câmara dos Deputados admitir a acusação contra o Presidente da República ou para o Senado condenar o Presidente da República por crime de responsabilidade). São maiorias qualificadas.
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