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51 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES Unidade II 3 NOMENCLATURA DAS CORES (FENÔMENO DO CROMATISMO) A cor é utilizada por um grande número de profissionais. Para todos eles, o fenômeno do cromatismo e suas várias teorias são de grande importância. A aplicação das cores pode se iniciar a partir de vários ângulos de análise, mas a compreensão dos elementos da composição é fundamental para a formulação de um cromatismo bem elaborado. Portanto, saiba que dentro desse fenômeno cromático temos a cor dominante, aplicada nas superfícies com maior dimensão; a cor tônica, complementar à dominante, usada em detalhes; e a cor intermediária, que realiza a transição entre a tônica e a dominante, atenuando a oposição entre elas. As cores dominante, tônica e intermediária, quando aplicadas adequadamente, proporcionam equilíbrio, proporção, ritmo e destaques, que são vitais para uma perfeita harmonia. O equilíbrio é atingido através do efeito de estabilidade ou compensação, dentro de vários aspectos que se relacionam, como valores e intensidades das cores e extensões de superfícies onde serão aplicadas. O equilíbrio é regido pela lei de áreas ou de fundos. A composição cromática equilibrada proporciona ao ambiente uma atmosfera de ponderação e tranquilidade. A relação de proporção se faz entre as distintas partes e o todo. Uma proporção adequada é alcançada a partir de um esquema em que haja variedade, segundo uma ordem de valores, cores e extensões. Em uma composição deve existir uma cor dominante ou principal, que tem a finalidade de anular a desproporção e evitar a desorganização do esquema. Já o ritmo é um elemento que intervém na disposição do esquema, com o intuito de conduzir o olhar do indivíduo de uma cor à outra, de modo confortável, por meio de uma sucessão ordenada de matizes. Uma composição pode ser considerada rítmica quando os matizes, tons e nuanças se repetem, com sentido de equilíbrio e variedade harmônica. As descrições textuais dos grupos de cor e suas associações podem ser úteis no encontro de prováveis respostas a um esquema de cor que agrade visualmente no projeto de design de interiores. As combinações de cores nada mais são do que formas de manipular o círculo cromático, encontrando possíveis paletas para sua aplicação projetual. Portanto, a seguir serão introduzidas algumas relações básicas de valor prático aos designers. Para isso, o sistema de apresentação se fará em dois grupos: o de combinações harmônicas e o de fenômenos de contraste. Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 52 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 3.1 Combinações harmônicas Denomina-se combinação de cores a propriedade que têm certos pares de cores de formar acorde – cores que se ajustam umas às outras, em duplas ou conjuntos. Por efeito de ação de contrastes simultâneos, todas as combinações tendem, em maior ou menor grau, a formar acordes harmônicos ou desarmônicos, segundo sua própria natureza. Em princípio, pode-se afirmar que toda cor combina com qualquer outra, o que não significa que todo grupo de cores forme uma harmonia. Assim como não existe em termos absolutos uma qualificação de cor bela e de cor feia, não existe também conjunto de cores irreconciliáveis que não se consiga combinar. Uma cor condiz com outra por afinidade, semelhança, aproximação, contraste, dessemelhança, oposição etc. Para a formação do equilíbrio no acorde de uma seleção de cores, há alguns métodos que podemos utilizar. Para Itten, duas ou mais cores são mutuamente harmônicas se suas misturas produzem um cinza neutro. O estudioso percebeu que, ao estabelecer determinadas relações entre as cores do círculo cromático, era possível a indicação de combinações harmônicas (ITTEN, 1973 apud BARROS, 2011). Essas combinações poderiam ser feitas de modo harmonioso ao inserir formas geométricas, desenhadas de qualquer ponto dentro do círculo cromático. Exemplo disso seriam triângulos equiláteros e isósceles. As posições de seus vértices indicam a combinação de cores possíveis ao estado de concordância e proporcionalidade. Tetraedros, quadrados e retângulos também foram estudados por Itten neste jogo de arranjo de cores (ITTEN, 1973 apud BARROS, 2011). A harmonia define-se para Itten como um estado de equilíbrio psicofisiológico. Para suscitar esse estado, a totalidade cromática se faz necessária. O cinza médio, segundo Itten, é o único tom que não incita nossos olhos a criar ilusões de óptica, sendo assim, uma cor que provoca sensação de equilíbrio (ITTEN, 1973 apud BARROS, 2011). Em síntese, toda a composição de cores cuja mistura produz a anulação de seus matizes, alcançando um cinza médio, representa uma composição harmônica. Pode-se alcançar esse cinza médio a partir da mistura do branco e do preto, assim como a partir da mistura de cores complementares ou das três primárias (azul, amarelo e magenta). Não devemos esquecer que, ao misturar as cores complementares, estamos, na verdade, misturando as três cores primárias (azul e laranja são complementares e correspondem à cor primária azul e à mistura das outras duas primárias: magenta + amarelo = laranja) (ITTEN, 1973 apud BARROS, 2011). Esses esquemas de cores são chamados de harmonias quando em contexto se relacionam em total equilíbrio e neutralidade à interpretação do olho/cérebro. São essas aparências atraentes que serão estudadas a seguir. Entretanto, é importante dizer que tais combinações apenas o ajudarão a selecionar cores que harmonizam umas com as outras. Por isso, é fundamental utilizar sua imaginação para criar, você mesmo, as harmonizações. As cores serão percebidas como harmônicas quanto mais consistentes, mais próximas e mais similares. Isso acontece principalmente por dois motivos: o primeiro é um motivo fisiológico, isto é, se dá no nível dos olhos. Quanto mais próximas as cores são na escolha do esquema de combinações de cores, através da percepção de suas similaridades, menos “trabalho” os olhos terão para perceber Camila Highlight Camila Highlight 53 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES toda a paleta. Se as cores são próximas e consistentes, os olhos as entendem como um bloco formal similar, facilitando a percepção do todo cromático. O segundo motivo para percebermos essas paletas como harmônicas é, justamente, a sensação de similaridade. Sendo as cores próximas e percebendo a sua similaridade em uma cor, elas necessariamente diminuem os contrastes. A primeira definição que temos culturalmente em relação a uma “harmonia” é justamente a ausência de contrastes. Porém, ao mesmo tempo que esses esquemas de combinação de cores se apresentam “harmônicos”, eles não apresentam nenhum tipo de estímulo, isto é, são harmônicos em si mesmos, não necessitando a contribuição da interpretação de quem as está olhando. Por isso a sensação de harmonia dá-se pela facilidade de interpretá-las. 3.1.1 Trios harmônicos Um esquema triádico é baseado em três cores equidistantes em torno do círculo cromático. Elas podem ser primárias, mas esse esquema tende a ser berrante; uma tríade de cores secundárias ou terciárias é mais fácil de manusear. De um modo geral, pode-se dizer que todos os acordes triplos – onde as cores sobre o círculo cromático (dividido em doze partes iguais) encontram-se e relacionam-se formando um triângulo equilátero ou isósceles – são considerados harmoniosos. A coincidência dos vértices do triângulo, que gira sobre o centro do círculo das cores, é que indicará a combinação de cores a se formar. Figura 42 – Figuras geométricas desenhadas por Itten,cujos vértices apontam para possíveis combinações de trio cromático harmônico 3.1.2 Quartetos, quintetos e sextetos harmônicos O esquema formado por quatro, cinco ou seis vértices segue o mesmo raciocínio da tríade. A combinação das cores se faz pelo encontro dos vértices com as cores do círculo cromático. Para fazer esses esquemas funcionarem harmoniosamente, o brilho, a saturação e/ou a extensão (área de cobertura das cores) selecionados precisarão ser ajustados para igualar sua força visual. Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 54 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Figura 43 – Composições harmônicas com o uso de formas geométricas e o encontro de seus vértices no círculo cromático 3.1.3 Acromático O esquema acromático envolve o uso de tons localizados na paleta tomada entre o branco e o preto. É chamado de acromático por utilizar cores consideradas não cromáticas, por não estarem presentes no círculo cromático. Nesse esquema de combinações de cores estão presentes o branco, o preto e os cinzas intermediários. Pode-se conseguir as cores alterando-as literalmente ou através da posição da luz em ambientes, alterando luminosidades e sombreamentos. Esse esquema traz a sensação de elegância da simplicidade, a informação de todas as cores juntas no branco e a completa ausência e a profundidade do preto. Já que não traz a informação de uma cor definida propriamente dentro do círculo cromático, quando utilizado, o esquema acromático evidencia a textura e a superfície dos materiais onde está aplicado. Por não trazer uma informação definida de cor, ele é bastante utilizado em situações onde temos cores transitórias, isto é, cores que não vão ficar por ali muito tempo ou cores que vão ser trocadas voluntariamente, por exemplo, em paredes de museus ou galerias, onde os quadros ou instalações não podem sofrer interferência de outras cores. Figura 44 – Esquema harmônico neutro Por isso também esta harmonia é utilizada em sites ou outdoors ou cartazes onde existem fotografias que serão trocadas diariamente, como sites de jornais, pois as fotografias possuem cores que na percepção humana são como a natureza; são “janelas” para o mundo real e esse mundo real muda conforme muda a posição dos olhos. Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 55 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES 3.1.4 Cores neutras O esquema de combinação de cores neutras é o resultado de combinações utilizando-se os castanhos claros médios e escuros. Às vezes, pode-se utilizar juntamente com uma cor do círculo cromático, mas assim seria considerada como uma mistura de esquema de combinação de cores. Saiba mais Para enriquecer seu conhecimento sobre cores, complemente esta leitura com: PARRAMÓN, J. M. Teoría y práctica del color. Barcelona: Parramón Ediciones S.A.,1989. Ao mesmo tempo que é elegante na sua comunicação direta, sem rodeios, este esquema traz o perigo da monotonia. Ele pode ser demasiadamente simples e trazer uma sensação de cansaço e perda de interesse. Uma forma de evitar a monotonia desta combinação é evidenciar as texturas, diferenciando-as e assim facilitando as experimentações dos sentidos. Nesse mesmo contexto, a aplicação desta paleta deve ser feita com o máximo de cuidado, já que qualquer defeito na superfície em relação à textura será facilmente percebido e acabará chamando totalmente a atenção, atrapalhando a percepção de eventuais outras texturas propositais do local. Figura 45 – Combinação de cores neutras Observação Esse esquema de combinação de cores também traz a sensação de elegância da simplicidade. Por não trazer informação do círculo cromático, esse esquema de cores tenta evidenciar as texturas da superfície em que está colocado. Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 56 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 3.1.5 Cores monocromáticas A monocromia consiste no uso de uma única cor na composição ou na variação da cor em sua tonalidade e luminosidade (inserção de preto ou branco no pigmento da cor). A monocromia é um dos tipos mais fáceis de arranjos de cores para escolher. Essa composição explora o uso da luminosidade e o valor tonal das cores. Todas as cores, como sabemos, podem ser clareadas com branco e escurecidas com preto. B 9B 8B 7B 6B 5B 4B 3B 2B 1B 0 1N 2N 3N 4N 5N 6N 7N 8N 9N N B 9B 8B 7B 6B 5B 4B 3B 2B 1B 0 1N 2N 3N 4N 5N 6N 7N 8N 9N N B 9B 8B 7B 6B 5B 4B 3B 2B 1B 0 1N 2N 3N 4N 5N 6N 7N 8N 9N N Es ca la b ai xa Es ca la m éd ia Es ca la a lta Figura 46 – Exemplos de esquemas harmônicos monocromáticos Em longo prazo, é a combinação que oferece menos chances de rejeição por parte dos usuários. O cenário criado pela monocromia pode ser avivado ou complementado com a adição de elementos neutros, seja no mobiliário ou no piso. Outra opção que chama atenção e oferece resultados surpreendentes é adicionar elementos pontuais que contenham uma segunda cor. Um toque com cores contrastantes pode produzir efeitos impressionantes. Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 57 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES Figura 47 – Monocromia em rosa Figura 48 – Monocromia em branco com adição de elementos neutros Figura 49 – Monocromia com adição de segunda cor Figura 50 – Monocromia em azul 58 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II O rosa pode ser uma cor difícil de trabalhar, mas na figura apresentada foi usado oferecendo qualidade real para uma configuração de ambiente formal. Esse atributo foi reforçado pela moldura dourada do quadro e pela madeira dourada do elegante sofá. Uma maneira fácil e descomplicada de escolher as combinações monocromáticas é usar uma das réguas de cores das cartelas de tintas. Estas são divididas por densidades diferentes de uma única cor. Escolher três ou quatro tons de uma régua de cartela de tintas com variação do mais escuro para o mais claro irá fornecer variação suficiente para um ambiente. Após a escolha é só aplicar essas tonalidades na pintura, nos tecidos, no mobiliário, no piso acabado ou em revestimentos e acessórios. Você pode, por exemplo, usar o tom mais escuro da cor no piso ou nos móveis, a tonalidade média nas paredes ou janela, e o tom mais claro no teto ou em armários mais elevados. 3.1.6 Cores quentes e frias Algumas cores são consideradas quentes, como o vermelho e o alaranjado. Os objetos iluminados por luzes normais dão a impressão de que avançam em direção ao observador. São cores próprias para ambientes esportivos, abertos ou providos de decoração alegre, próprios para darem a ilusão de que se luta contra o frio. A cor parece sublinhar a temperatura. Figura 51 – Uso de cor quente em restaurante. No exemplo apresentado, do restaurante Pod, situado na Filadélfia e projetado por David Rockwell, as cores foram utilizadas para diferenciar os ambientes. O uso do amarelo intenso foi aplicado na iluminação do bar e o laranja vivo na área de estar. Já outras cores são classificadas como frias, tais como o azul e o verde, dando a impressão de que se luta contra o calor. Os objetos iluminados por luzes frias parecem afastar-se do observador. São cores próprias de ambientes luxuosos, solenes e formais. Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 59 Re vi sã o: N om e do re viso r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES A seguir, projetado por Robert Adam, a biblioteca da casa Kenwood, na Inglaterra, é um exemplo do elegante estilo neoclássico. A paleta de cores do período destaca-se pela força e combinação cromática de azuis e lilases. Figura 52 – Combinação de cores frias em ambiente A partir dessa classificação, surgem as escalas de cores quentes e frias, conhecidas como escalas em modo maior e modo menor quando analisadas do ponto de vista harmônico. Tomadas separadamente, essas escalas revelam a particularidade de harmonização por tonalidades afins ou de harmonias consonantes, popularmente chamadas combinação de tom sobre tom (ton sur ton). As cores quentes são classificadas como pertencentes ao modo maior, constituindo ainda uma relação sensível que, por analogia, as vinculam aos sons graves em música. Assim também as cores frias se identificam com os sons agudos e formam a escala em modo menor. Acordes consonantes (Gênero frio) Escala cromática em modo menor Escala cromática em modo maior (Gênero quente) Figura 53 – Círculo cromático dividido em grupo de cores quentes e frias Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 60 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II A combinação de cores quentes e frias alcança seu efeito mais intenso quando a oposição se faz entre as cores laranja-vermelho e azul-verde. Mas as outras cores podem parecer quentes ou frias dependendo do seu contraste com matizes mais quentes ou mais frios. Por exemplo, um roxo pode representar o lado frio de um contraste se estiver ao lado de um vermelho, ao passo que, se o colocarmos ao lado de um azul, ele nos parecerá quente. Escala cromática em modo menor Escala cromática em modo maior Figura 54 – Escalas cromáticas quente (maior) e fria (menor) Cores complementares Com relação à abordagem sobre os contrastes cromáticos é possível avaliar que estes ocorrem quando juntamos os matizes diametralmente opostos no círculo cromático. A mistura de cores complementares normalmente faz com que ambas se anulem, produzindo um tom acinzentado. Cores complementares, quando justapostas, intensificam-se ao máximo. Quando o preto faz limite com o branco e o branco com o preto, cada um parece mais intenso no limite com seu contrário do que na parte do meio de sua própria área. No círculo cromático, as complementares encontram-se em posições linearmente opostas. Figura 55 – O branco fazendo limite com o preto Figura 56 – O círculo cromático e exemplos de combinações de cores complementares Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight significa se as cores estiverem uma ao lado da outras elas vibrariam mto ! Camila Highlight 61 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES Muitas vezes cometemos o erro de, ao colorir um desenho, inserir na área de sombra a cor preta. Leonardo da Vinci, em suas observações, demonstrou que várias vezes objetos brancos iluminados por luzes vermelhas obtiveram como resultado de sombra tons azulados (tal situação aplica-se muito bem a um local de montanhas cobertas por neve que recebe a incidência dos últimos raios de sol). Portanto, a partir de agora, em vez de aplicar em suas representações o uso indiscriminado do preto, recorde da prática leonardiana e enriqueça seus trabalhos com o uso das cores complementares e os efeitos obtidos por elas. Figura 57 – Elementos de superfície branca recebendo a incidência de uma cor produzem, muitas vezes, sombras com as cores complementares Lembrete Toda cor destaca-se mais ao lado de sua cor contrária (complementar). Figura 58 – Uso de cores complementares em ambiente de sala de estar 3.1.7 Cores complementares divididas Esse esquema de combinação de cores começa com a identificação das duas cores complementares no círculo cromático. A partir desta identificação, procuram-se as duas cores vizinhas de uma das cores complementares. Assim, tem-se uma paleta formada por três cores em equilíbrio, também num triângulo, como nos esquemas de combinação de cores tríades, em triângulo isósceles. Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 62 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Utilizando as cores vizinhas de uma das cores complementares escolhidas, promove-se o contraste máximo antes das exatas complementares. Assim, tem-se, juntamente com o conforme fisiológico, o equilíbrio quase perfeito entre significados opostos e intermediários, ou seja, o contraste dos matizes complementares pode ser atenuado quando um deles é substituído por duas cores adjacentes. Figura 59 – Exemplo de composição complementar dividida 3.1.8 Cores análogas O esquema de combinações de cores análogas é uma das muitas opções de combinações com mais de uma cor do círculo cromático. Esse esquema diferencia-se dos outros por ser construído a partir de cores vizinhas ou bastante próximas no círculo cromático. Essa é uma escolha bastante comum, muito frequente no mundo visual cotidiano. A razão desta escolha está na causa de uma espetacular sensação de conforto visual e psicológico. Quando se escolhe uma paleta com duas ou mais cores vizinhas ou muito próximas, os olhos tendem a reconhecê-las como possuidoras de uma grande similaridade, promovendo a imediata interpretação de uma composição harmoniosa, consensual. O esquema harmônico análogo combina-se, geralmente, com o uso de duas ou três cores adjacentes no círculo cromático. A escolha de uma cor primária com uma secundária e uma terciária consecutivas é a composição ideal. Essa faixa pode ser ampliada nas cores intermediárias, se ainda continuar a apresentar cores vizinhas na paleta. Porém, acima do ângulo de 90 graus, cores contrastantes podem competir com a percepção das cores análogas, resultando em um stress visual. As cores análogas podem ser utilizadas quando formas diferentes precisam parecer ter algo em comum. Quando duas cores análogas são colocadas lado a lado e seus limites se tocam, sua diferença em tonalidade fica evidente, como visto em contrastes simultâneos de Michel-Eugène Chevreul (SILVEIRA, 2011). Porém, se tons do esquema acromático ou neutro forem colocados entre essas duas cores análogas, elas se tornam similares e até mais próximas do que realmente são para a percepção visual cromática. Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 63 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES Figura 60 – Combinação de cores análogas, vizinhas 3.1.9 Cores análogo-complementares (duplo) A composição de cores análogo-complementares (duplo) é composta por duas cores análogas combinadas com a complementar de uma delas ou de ambas. Figura 61 – Esquema de cores análogo-complementares (duplo) 3.1.10 Policromia A policromia é o emprego de várias cores em um mesmo trabalho. Figura 62 – Policromia Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 64 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Figura 63 – Terminal Complex – United Airlines O’Hare International Airport, Chicago, Illinois – Helmut Jahn, 1983/87 Exemplo de aplicação Aprenda a manipular o círculo cromático nos esquemas de combinações de cores e gere exemplos materializados de cada um deles através de mandalas coloridas. Material: mandalas para pintar e lápis de cor. Descrição: pintar mandalas prontas (ou desenhá-las), de acordo com cada esquemade combinações de cores, em todas as possibilidades. Por exemplo, pintar várias mandalas com três cores análogas no círculo. 3.1.11 A árvore de Munsell (Modelo de cor tridimensional) Albert Munsell (1858-1918) foi o criador do modelo de cor mais completo criado até os dias de hoje. Suas referências partiram dos estudos já realizados de seu colega americano Ogden Rood (1831-1902). Este adotava o vermelho, verde e azul como suas cores primárias e as arranjou de modo que o complemento de cada matiz combinasse com sua imagem residual negativa. Esta leitura ajudou Munsell a fazer pleno uso dos efeitos de contrastes simultâneos. O destaque do trabalho de Munsell foi com relação à percepção de como alguns matizes são mais saturados que outros quando puros. Paralelamente, o estudo mostrou que as correspondências de cor sofrem distorções quando o espectro é forçado a uma forma geométrica regular. Para solucionar essas deformações, Munsell propôs representar as cores em uma estrutura de “árvore” com os matizes distribuídos por seus ramos em ordem de saturação e pureza. Os comprimentos dos ramos iriam diferir de acordo com a saturação de cada matiz. Sendo assim, o amarelo dispõe de ramo muito longo, enquanto o cor-de-rosa possui derivação mais curta. O plano da árvore também pode ser representado como um círculo e se faz pela estruturação das cinco cores primárias, ou matizes principais, junto a mais cinco intermediárias, cuja produção final será um total de dez divisões. Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 65 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES Figura 64 – A árvore de Munsell As cores primárias são identificadas por iniciais que as corresponderão, como R para o vermelho, Y para o amarelo, G para o verde, B para o azul e P para o roxo. Já as intermediárias serão identificadas pela letra da cor principal que a cerca, YR, GY e assim por diante. O círculo tem uma dimensão extra, em que a saturação varia de baixa, no centro, a alta, na borda exterior. A extensão vertical é feita para produzir uma “árvore” de cores, com brilho variando de cima a baixo. As cores podem ser representadas como “ramos” que se irradiam do centro, em cada nível de brilho. Ou seja, verticalmente, a árvore está dividida em dez graus de valor, numerados de 0 (produto puro) embaixo a 10 (branco puro) no alto. Os ramos estão divididos em graus iguais, começando em zero no centro, para cores neutras (cinza) e radiando a números tão altos quanto 20 ou mais. Figura 65 Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 66 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Figura 66 – Extratos bidimensionais fornecendo um arranjo de cores lógico e fácil de compreender da árvore de Munsell 3.1.12 Modelo CIE O trabalho de Munsell influenciou uma abordagem altamente científica para modelagem da cor no espaço, empreendida pela Comissão Internacional de Iluminação (CIE). Essa necessidade surgiu diante das dificuldades encontradas em reproduzir os extratos de cores de Munsell e do fato de que a seleção real das cores na árvore eram estabelecidas pelo critério de subjetividade de Munsell e seu método científico. O resultado desse estudo originou um espectro visível da cor em um diagrama tridimensional, em forma esquisita, meio inchada, em eixos X, Y e Z, conforme a figura a seguir. O mesmo foi obtido em decorrência de uma série de experimentos aplicados ao que a comissão determinou ser a resposta visual de um “observador-padrão”. Camila Highlight Camila Highlight 67 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES Para entender esse indivíduo padrão, observe a seguinte análise: investigações elaboradas a um determinado grupo de pessoas as expôs a uma série de cores provenientes do meio que as cercava. Certas pessoas foram mais sensíveis às interferências de cores do meio do que outras. Como recurso de parâmetro de reconhecimento das cores pertencentes ao meio, o estudo descartou os apontamentos de extremidade, ou seja, não se referenciou nem pela identificação de cores captadas pelos indivíduos mais sensíveis, nem pela ausência de reconhecimento de cores dos integrantes menos disponíveis à percepção das cores. Foram utilizados, portanto, os resultados de média, comuns a todas as pessoas, cuja classificação foi definida como grupo de “observador-padrão”. O modelo tridimensional da CIE sustenta a maior parte das descrições técnicas de cor, sendo útil na elaboração de imagens coloridas por scanners, computadores e aparelhos digitais. Apesar de não ser o mais completo recurso, consegue dar valor numérico a uma cor, pois a apresenta em seus três aspectos (tonalidade, saturação e brilho). Além disso, teve um resultado formal, de diagrama tridimensional, mais fácil de manusear que a árvore de Munsell, todavia, ainda muito complexo. Com os sistemas de softwares foi possível inserir ao diagrama certas especificações. Quando uma cor é selecionada, normalmente, abre-se um espectro de matizes, graduados do claro ao escuro, com um controle para ajustar a saturação. Figura 67 – Espaço cor CIE Camila Highlight 68 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 4 FENÔMENOS DE CONTRASTE A luz nos permite a observação das coisas da natureza através dos efeitos cromáticos, entre os quais, o contraste. Tudo que nós podemos perceber pelos nossos sentidos se efetua por comparações. Fala-se em contraste quando se pode constatar entre dois efeitos de cores diferenças ou intervalos sensíveis. Quando estas diferenças atingem um máximo, fala-se de contraste de oposição ou polares. Observação No campo fisiológico das sensações cromáticas, as influências que algumas cores exercem sobre outras ao serem percebidas são de grande importância para o problema das relações cromáticas. Michel-Eugène Chevreul foi um químico francês e estudioso da teoria da cor. Seu princípio era baseado na colocação da cor sobre uma tela, e não apenas em colorir uma parte da tela com determinada cor. Ou seja, ele dizia que colocar qualquer quantidade de cor sobre uma tela é como movimentar as faixas do espectro, criando tensões entre a cor aplicada, o fundo da tela e as demais cores existentes no quadro. Segundo ele, um pequeno acréscimo de branco numa única cor poderia alterar completamente todas as relações cromáticas da imagem. Em sua obra Lei do Contraste Simultâneo, Chevreul descreve três espécies de contraste: o simultâneo, o sucessivo e o misto. Denomina-se contraste simultâneo das cores o fenômeno registrado ao observarmos os objetos coloridos simultaneamente. Algo parece acontecer com suas cores por recíproca influência. É fácil de perceber esse fenômeno quando há junção de linhas entre duas cores. Figura 68 – Contraste simultâneo Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 69 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES O verde fica mais intenso quando se aproxima do vermelho ou do azul, o laranja fica mais intenso quando se aproxima do vermelho ou do azul. Há uma influência recíproca entre dois tons: o vermelho torna-se mais vermelho por ação do verde, enquanto o verde fica mais verde por ação do vermelho. O fenômeno de contraste sucessivo das cores é percebido pela saturação dos olhos por uma cor. Em seguida a visão reproduz a imagem do objeto na sua cor complementar. Muitas vezes, somos expostosaos efeitos de contraste simultâneo. Isso ocorre quando somos submetidos a uma determinada cor, e o olho, num efeito compensatório, produz à nossa percepção a cor complementar à já existente. É provável que você já tenha feito algum experimento semelhante ao que será apresentado a seguir, comprovando a existência do efeito de contraste simultâneo, ou seja, sobre a persistência da cor na retina e o efeito que gera às cores endógenas. A perceptologia nos ensina que, se observamos fixamente, por dez segundos, a imagem a seguir e, em seguida, olharmos para uma superfície branca, veremos no lugar das cores vermelho, azul, amarelo e preto as suas complementares, com a mesma forma. Figura 69 – A bandeira do Brasil através do efeito de contraste simultâneo Essa é uma reação fisiológica que também justifica a cor que muitos moradores do campo escolhem para pintar suas casas. Em geral (não todas, naturalmente) essas casas são pintadas de vermelho, rosa ou mantidas na cor do tijolo. Provavelmente quem decide a cor escolhe o vermelho porque seus olhos estão saturados do verde. Vivendo sempre no verde, o morador do campo instintivamente escolhe a cor complementar para reestabelecer um equilíbrio perceptivo. Esse método de compensação da cor também tem sua aplicação na área da saúde. As vestimentas e pinturas de paredes das salas cirúrgicas de um hospital, muitas vezes, recebem a coloração verde. Isso se deve à busca pela qualificação do ambiente de trabalho do profissional médico. Ele fica exposto por horas à visualização de elementos de cor vermelha (sangue, órgãos), por isso seus olhos, numa reação fisiológica, anseiam a complementaridade dessa cor. Além disso, esse efeito de oposição serve para delimitar ainda mais as superfícies submetidas à cirurgia. Portanto, todas essas interferências servem para compensar a saturação da cor vermelha a que esses profissionais ficam expostos. Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 70 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Já a junção dos dois tipos de fenômenos é chamada contraste misto. Isso ocorre quando se satura a retina com uma cor e se carrega a cor complementar nessa forma para um suporte que já possui cor, ocorrendo uma mistura da cor fisiológica, resultante da saturação com a cor físico-química do anteparo. Pode-se perceber este fenômeno na imagem a seguir. Figura 70 Depois de saturar a retina pela fixação do olhar no círculo vermelho, observe a forma amarela ao lado. Será produzida a mistura da imagem complementar do vermelho com a cor físico-química observada. A partir dessas diferentes espécies de contrastes, Chevreul demonstrou deduções de harmonização cromática, cujas conclusões chamaram a atenção dos pintores. Por exemplo: o uso das cores complementares pertencentes a gêneros opostos, quando dispostas de forma adjacente, faz com que ambas se destaquem reciprocamente. Ao mesmo tempo, deduziu que duas cores quentes e justapostas se esfriam mutuamente, enquanto duas cores frias justapostas, ao contrário, se esquentam. Na figura a seguir, é possível observar uma dupla de cores quentes, como o vermelho ao lado do laranja. O vermelho, neste caso, se esfria pelo azul resultante da saturação do laranja. O laranja, por sua vez, se esfria pelo verde resultante da saturação do vermelho. Figura 71 – Duas cores quentes esfriam mutuamente quando colocadas próximas 4.1 Contraste de tom É o mais simples. Não exige grandes esforços da visão porque, para representá-lo, é possível utilizar qualquer cor pura e luminosa. A força de expressão desse contraste diminui à medida que as cores utilizadas se afastam das três primárias. Quando são separadas por branco ou preto, suas características particulares são ainda mais postas em relevo. O contraste mais forte é proporcionado pelas cores básicas, sem modulações intermediárias. É necessário ter a precaução de deixar prevalecer apenas uma cor como dominante (em extensão, intensidade ou saturação), atenuando as outras com branco, preto ou com menor extensão espacial. Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 71 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES Figura 72 – Contraste de tom 4.2 Contraste claro-escuro A luz e as trevas, o claro e o escuro são contrastes polares e têm importância fundamental para a vida humana e toda a natureza. O número das gradações de cinza diferentes depende da acuidade do olho e do grau de sensibilidade de cada indivíduo. Os valores claro-escuro de uma cor pura modificam-se segundo a intensidade da iluminação. Figura 73 – Contraste claro-escuro Camila Highlight 72 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Figura 74 – Valores de luminosidade 4.3 Contraste quente-frio As radiações vermelhas do espectro têm efeitos térmicos em contraste com as radiações azuis. O laranja e o ciano constituem a polaridade termocromática, por isso são cores diametralmente opostas no círculo das cores. Um dos mais importantes efeitos do contraste termocromático deve-se ao fato de que o vermelho se aproxima, enquanto o ciano se afasta. É o efeito da diferença de planos sem a necessidade da utilização da perspectiva. Figura 75 – Contraste quente-frio Camila Highlight Camila Highlight 73 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES A) B) Figura 76 – Predomínio das cores quentes (A) e predomínio das cores frias (B) 4.4 Contraste de cor complementar É provado fisiologicamente que, para uma determinada cor, nosso olho exige a complementar, e, se ela não é dada, ele a produz. As cores complementares utilizadas segundo proporções corretas criam um efeito estático e sólido. Cada cor conserva sua luminosidade, sem modificações. A realidade e o efeito das cores complementares são idênticos. Cada par de complementares tem caraterísticas próprias. Figura 77 – Contraste das complementares Camila Highlight 74 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 4.5 Contraste simultâneo Baseando-se em observações e deduções, novamente, Chevreul montou uma tabela com mais de 20 mil tons de cores, catalogadas como Método de Observação das Cores. Nessas experimentações observou que duas áreas coloridas justapostas sofrem modificações perceptivas simultâneas para os olhos, relativas à altura do valor e à composição. Por exemplo, nas imagens a seguir fica difícil de acreditar que se trata do mesmo vermelho, laranja, amarelo, roxo e verde. Quando as cores se colocam perto uma das outras, elas se modificam sensivelmente. Portanto, esse fenômeno é produzido pela influência que cada tom exerce, reciprocamente, nos outros, ao se justapor. Figura 78 – Cores justapostas Figura 79 – Contraste simultâneo Camila Highlight 75 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES Figura 80 – Contraste simultâneo Figura 81 – Contraste simultâneo 4.6 Contraste de qualidade O contraste de qualidade é o grau de pureza ou de saturação das cores (qualidade das cores), ou seja, é a oposição entre uma cor saturada e luminosa e uma cor terna e sem brilho. As cores do prisma, resultantes da refração da luz branca, são fortemente saturadas e de extrema luminosidade. Figura 82 Camila Highlight 76 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Figura 83 – Contraste de qualidade Figura84 – Contraste de qualidade. A cor tônica (à esquerda) valoriza as demais cores do quadro, por contraste cromático. Quando se dessatura a cor tônica (à direita) de uma estrutura, todas as tonalidades claras crescem em importância, intensificando o contraste entre as áreas de valor 4.7 Contraste de quantidade O contraste de extensão refere-se às áreas ocupadas por duas ou mais cores. Representa as relações quantitativas das cores numa composição. A princípio, pode-se até aplicar às cores áreas de qualquer dimensão; mas, para a obtenção de um equilíbrio (harmonia), deve-se considerar as diferentes intensidades que cada cor apresenta e dimensioná-las de acordo com uma regra de proporções. Goethe, dentro do espectro de cores, avaliou que cada cor possui um valor diferente na sua intensidade (luminosidade). A partir dessa luminosidade, Goethe estabelece uma espécie de proporção áurea para as cores: se uma cor é naturalmente mais luminosa, como o amarelo, ao combinar-se com um tom de natureza mais escura, a proporção entre ambas deve ser tal que a área ocupada pela cor mais luminosa seja menor. Para que haja equilíbrio e harmonia, essa proporção, partindo das cores primárias, obedece à seguinte proporção: Camila Highlight Camila Highlight Camila Highlight 77 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES Amarelo:vermelho:azul = 3:6:8 3 6 8 9 6 4 3 4 6 9 8 6 Figura 85 – A razão entre as cores do círculo cromático Já a proporção entre os pares de complementares pode ser deduzida da seguinte forma: Amarelo:violeta = 3:9 = 1:3 Laranja:azul = 4:8 = 1:2 Vermelho:verde = 6:6 = 1:1 Figura 86 – Proporção entre as cores complementares Lembrete Os valores estabelecidos por Goethe para a ligação de grandeza ou quantidade de duas ou mais cores, em proporções harmônicas, são: amarelo = 3; laranja = 4; vermelho = 6; violeta = 9; azul = 8 e verde = 6. Os contrastes ocorrem quando diferenças podem ser percebidas entre dois efeitos comparados, denominando o grau máximo dessas diferenças aos nossos órgãos sensitivos. Estude isoladamente cada contraste, observe seu efeito visual, expressivo e simbólico, pois essa pesquisa é fundamental para o designer cromático. Valores complementares: amarelo violeta = 1/4:3/4; laranja ciano = 1/3:2/3; magenta verde = 1/2:1/2. Camila Highlight Camila Highlight 78 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Figura 87 – Contraste de quantidade Figura 88 – Exemplos de combinações harmônicas em que as três cores primárias ocupam áreas proporcionais de Goethe (amarelo, vermelho, azul = 3:6:8 – 17%, 36%, 47%) Resumo Quando as cores são combinadas umas com as outras, desencadeiam-se muitos tipos de interações, logo, a impressão gerada pelas cores de uma imagem pode ser altamente imprevisível. Para selecionar e combinar cores, criar paletas agradáveis e predizer interações cromáticas, você precisa de uma referência visual. Vários sistemas de cor foram concebidos para fornecer isso, incluindo círculos, triângulos e diagramas mais complexos. A tentativa de formalizar o relacionamento das cores data, pelo menos, do tempo de Aristóteles, mas foi com Leonardo da Vinci que o esse estudo progrediu em análises. Uma das características mais úteis de todos os círculos cromáticos é que os complementos e outras relações se tornam imediatamente óbvios. A maior parte dos círculos cromáticos mostra apenas matizes puros, mas alguns acrescentam variações com brilho e/ou saturação diferentes. 79 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES De todo o exposto foi possível concluir que a força expressiva da cor, quando usada numa composição, está subordinada a uma série de regras, que podem alterar, aumentar ou moderar o seu poder. Conforme seu uso, a cor pode até anular sua expressividade. Com a cor, pode-se dizer que a dissonância é tão desejável quanto a consonância. O impacto emocional causado pela distribuição de certas cores é buscado intencionalmente pelos artistas. A ocorrência de uma tensão geralmente é resultado do posicionamento de cores com forças antagônicas, que se gladeiam em um mesmo campo. Em outra vertente, uma série de tons (de uma mesma cor) colocados juntos em um plano bidimensional pode oferecer uma sensação de harmonia e ordem. Entretanto, não podemos jamais esquecer que fórmulas não são receitas definitivas que podem conduzir o indivíduo a realizar uma obra de arte perfeita ou uma decoração que consiga valer-se da sua espacialidade. Um espaço pode ser alterado visualmente de maneira precisa, com o emprego correto da cor, como também de todos os outros informes que o estudo da percepção possa fornecer. Mas a individualidade daquele que utiliza desses recursos é, e sempre será, o fator positivo no profissional da área. Há sempre aquela percepção que distingue o teórico daquele que realmente tem capacidade para realizar um trabalho de valor plástico. Em todo o caso, as leis que regem esses domínios têm grande utilidade prática quando usadas pelos que possuem o dom de transmitir a mensagem pela plasticidade das formas e das cores. Para esses, conhecer as cores que podem conduzir a uma expressão cromática harmônica é uma forma de aumentar sua capacidade produtiva. Exercícios Questão 1. Observe, na figura apresentada a seguir, as setas indicando a combinação de cores análogas. (Fonte: GOMES, M. C. P. Luz e cor: elementos para o conforto do ambiente hospitalar, 1999, p. 179.) 80 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Agora leia atentamente as asserções apresentadas a seguir, relativas à combinação de cores. A combinação de cores análogas, entre as diversas combinações possíveis de cores, diferencia-se das demais por ser construída com base em cores vizinhas ou cores muito próximas no círculo cromático. Essa combinação tem sido frequentemente escolhida no mundo visual cotidiano. PORQUE A combinação de cores análogas produz um efeito estético incomparável apesar da similaridade das cores, fato que nem sempre induz a uma sensação de harmonia, pois seu uso dependerá do ambiente e dos objetos nele dispostos. Avalie as asserções anteriores e a relação proposta entre elas para assinalar, a seguir, a alternativa correta. A) As asserções I e II são proposições verdadeiras e a asserção II justifica corretamente a asserção I. B) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a asserção II não justifica corretamente a asserção I. C) A asserção I é uma proposição verdadeira, mas a II é uma proposição falsa. D) A asserção I é uma proposição falsa, mas a II é uma proposição verdadeira. E) As asserções I e II são proposições falsas. Resposta correta: alternativa C. Análise das asserções I. Asserção verdadeira. Justificativa: é verdadeiro afirmar que a combinação de cores análogas se caracteriza pelo fato de combinar cores vizinhas ou cores muito próximas no círculo cromático. Do mesmo modo, é verdadeiro afirmar que essa combinação tem sido frequentemente escolhida no mundo visual cotidiano. II. Asserção falsa. Justificativa: essa asserção é falsa. Verdadeiro seria afirmar que a combinação de cores análogas produz forte sensação de conforto visual e psicológico, pois, quando se escolhe uma paleta com duas ou mais cores vizinhas, ou muito próximas, os olhos tendem a reconhecer sua similaridade, o que promove uma imediata identificação da harmonia das cores. Análise da relação proposta entre as asserções Embora a asserção I seja verdadeira, a asserção II é falsa e não justifica a asserção I. 81 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om edo d ia gr am ad or - d at a PERCEPÇÃO VISUAL: TEORIA E PSICOLOGIA DAS CORES Questão 2. Ao combinarmos cores, diversos tipos de interação são estabelecidos entre elas, e dessa dinâmica podem resultar imagens imprevisíveis e surpreendentes. A predição de interações cromáticas felizes, das quais resultem paletas agradáveis, demanda a adoção de referências visuais. Para responder a essa exigência, foram criados diversos sistemas de cor. A maior parte dos círculos cromáticos reúne somente matizes puros, mas alguns acrescentam variações com brilho e/ou saturação. Tomando essas informações como referência, considere as afirmativas abaixo e assinale a correta. A) Devemos a Aristóteles o conjunto total de estudos que possibilitaram formalizar o relacionamento das cores entre si. B) Para relacionar matizes puros com variações de brilho e/ou saturação, é recomendável utilizar um diagrama capaz de mostrar diversos aspectos ao mesmo tempo. Não importa se o diagrama é bidimensional ou tridimensional: o importante é que ele possa exibir um espectro de matizes, graduados do claro ao escuro, e que possibilite o controle da saturação. C) Quando se trata do uso de cores, o que se pretende obter é a consonância de cores, e o que se deve evitar, a qualquer custo, é a dissonância de cores (para não provocar impacto emocional). D) As leis que regem o uso das cores são de tamanha utilidade prática que se mostram necessárias e suficientes para a produção da mensagem visual pretendida. Por isso, é, de fato, um mito a noção de que é indispensável ter um talento artístico para obter uma expressão cromática harmoniosa. E) A realização de uma decoração que altere de modo preciso um espaço, graças ao emprego correto da cor e de outros elementos, com base em estudos da percepção, não prescinde do talento individual do autor da obra. Os padrões técnicos servem àquele que os utilizam: a técnica é servidora da Arte. Resolução desta questão na plataforma.
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