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92 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Unidade III 5 10 15 20 Planejamento na gestão Pública 9 legislação e execução orçamentária Objetivos do módulo Ainda que em 1827 se tenha produzido a primeira lei orçamentária no Brasil, foi em 1831, mediante aprovação do Decreto Legislativo de 15/12/1830, que se consolidou o primeiro orçamento público brasileiro, considerando-o uma lei de iniciativa do Poder Executivo, estimadora da receita e fixadora da despesa da administração pública para o período de um ano, já que as dificuldades de comunicações e os deficientes mecanismos arrecadadores em relação às províncias frustraram a lei orçamentária de 1827. Com o advento da República surge a Constituição de 1891, passando a ser privativa do Congresso Nacional a elaboração do orçamento, assim como foi instituído o Tribunal de Contas para a fiscalização das contas do Executivo e para auxiliar o Congresso no controle. De lá para cá, o Brasil constituiu um modelo orçamentário composto por um conjunto de procedimentos padronizados a serem seguidos pelos entes da federação, com a missão de arrecadarem suas receitas e efetuarem as suas despesas. 9.1 origens do orçamento A compreensão do processo orçamentário e das suas instrumentalidades – planejamento e programação, gerência 93 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 e administração, contabilidade e administração financeira, controle e avaliação – decorre da evolução da sua condição de instrumento político. Dessa maneira, a forma com que tais instrumentalidades vêm sendo praticadas, ao longo do tempo, depende da natureza do Estado, da estrutura institucional do setor público e da própria cultura administrativa local, que são decorrentes da dinâmica da história. O orçamento público remonta à Constituição inglesa, outorgada em 1217 pelo rei João Sem Terra, e que em seu artigo 12 estabelecia restrições para a criação de tributos, os quais deveriam ser aprovados pelo Conselho Comum do Reino. Os barões feudais e o clero, integrantes desse conselho, órgão de representação da época, não estavam preocupados com as despesas do rei, mas com os tributos que este lhes impusera. Para vários autores, foi a partir dali que se iniciou a luta pelo controle parlamentar das finanças públicas. Desse modo, as origens do orçamento público estão associadas à natureza do controle, já que a nobreza se interessava por controlar o então poder ilimitado do rei em matéria tributária. Em função da Revolução Gloriosa na Inglaterra, da Revolução Francesa e do surgimento do Estado liberal, as práticas orçamentárias passam a ser aperfeiçoadas. O sistema orçamentário francês, em sua fase inicial, apresenta algumas regras que hoje são consideradas como princípios básicos doutrinários do orçamento público, conforme discriminação a seguir: • anualidade do orçamento, que deve ser elaborado e autorizado para um período determinado, geralmente um ano, e que coincide com o ano civil de 1° de janeiro a 31 de dezembro; • universalidade, em que o orçamento deve conter todas as receitas e todas as despesas do Estado, princípio 5 10 15 20 25 30 94 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 fundamental para o controle parlamentar sobre as finanças públicas; • votação do orçamento antes do início do exercício, que pressupõe a elaboração e aprovação da lei orçamentária para a execução no ano seguinte. 9.1.1 Origens no Brasil Ainda que em 1827 se tenha produzido a primeira lei orçamentária no Brasil, foi em 1831, mediante aprovação do Decreto Legislativo de 15/12/1830, que se consolidou o primeiro orçamento público brasileiro, considerando- se o fato de ser uma lei de iniciativa do Poder Executivo, estimadora da receita e fixadora da despesa da administração pública para o período de um ano, já que as dificuldades de comunicações e os deficientes mecanismos arrecadadores em relação às províncias frustraram a lei orçamentária de 1827. Com o advento da República surge a Constituição de 1891, passando a elaboração do orçamento a ser privativa do Congresso Nacional, bem como foi instituído o Tribunal de Contas para a fiscalização das contas do Executivo e para auxiliar o Congresso no controle. Com a redemocratização do país, foi promulgada uma nova Constituição, em 1946, em que a União passou a ter a competência para legislar sobre direito financeiro e o orçamento voltou a ser elaborado pelo Executivo e aprovado pelo Legislativo. Outro exemplo de prática de planejamento governamental foi a implementação, pelo governo federal, a partir de 1957, do Plano de Metas, representando forte fomento à industrialização mediante a participação dos capitais estatal, multinacional e privado nacional, com o Estado assumindo a responsabilidade pela infraestrutura básica. 5 10 15 20 25 30 95 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Em função de iniciativas e estudos procedentes de diversas áreas, a exemplo do projeto da Terceira Conferência de Técnicos em Contabilidade Pública e Assuntos Fazendários, realizada em 1949, e do Manual das Nações Unidas, o Congresso Nacional aprovou, em 17 de março de 1964, a Lei n° 4.320, consolidando o modelo orçamentário padrão para os três níveis de governo. Apresentando 115 artigos, essa lei passa a ser um marco na legislação orçamentária brasileira, estatuindo normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal. A inovação da classificação funcional-programática nos três níveis de governo, a partir de 1975, representa a iniciativa de aproximar o planejamento do orçamento, através do fornecimento de informações mais amplas sobre as programações de governo nas leis orçamentárias anuais; e, ao mesmo tempo, uniformizar a terminologia entre a União, os estados, os municípios e o Distrito Federal. As práticas do orçamento-programa surgiram no final da década de 1950 nos Estados Unidos, sob a denominação PPBS (Planning, Programming and Budgeting System - Sistema de Planejamento, Programação e Orçamento), que visava à integração entre o planejamento e o orçamento através da quantificação dos objetivos e da pluralidade das alternativas programáticas, mais a frente veremos como isto surgiu no Brasil. 9.2 leis orçamentárias no brasil Os modelos orçamentários são regidos por normas legais; no Brasil, temos: • Lei nº 4.320 / 1964; • Constituição Federal de 1988; • Lei Complementar nº 101 / 2000 (LRF). 5 10 15 20 25 30 96 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) impôs normas de planejamento e controle das contas públicas, estabelecendo critérios transparentes para a estimativa da receita e severos controles da despesa pública, definindo o conteúdo da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); determinando modificações na elaboração do orçamento programa (Lei Orçamentária Anual — LOA) e em todo o processo de prestação de contas e fiscalização; buscando assegurar a transparência na gestão fiscal (Vignoli, 2002). Plano Plurianual (PPA): estabelece o planejamento de médio prazo (quatro anos). Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO): faz a ligação entre o planoe o orçamento do ano. Lei Orçamentária Anual (LOA): trata-se do orçamento propriamente dito, com a previsão de todas as receitas e despesas do ano. 9.2.1 Lei orçamentária Até o dia 31 de agosto do primeiro ano de mandato presidencial, o Poder Executivo envia o projeto do PPA ao Congresso Nacional, que vigorará de seu segundo ano de mandato até o fim do primeiro ano de mandato do próximo Presidente da República. O projeto da LDO é encaminhado ao Congresso até 15 de abril de cada ano e, entre outras atribuições, essa lei estabelece metas e prioridades para a elaboração do orçamento, limita as despesas de capital e estabelece as políticas de aplicações das agências financeiras oficiais para o ano seguinte. O Poder Executivo envia o projeto de LOA ao Congresso Nacional até 31 de agosto de cada ano, acompanhado de mensagem em que se analisa a macroeconomia e a situação 5 10 15 20 25 97 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 fiscal do país. Esse projeto de lei engloba o orçamento fiscal, o orçamento da seguridade social e o orçamento de investimento de empresas que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital com direito a voto. Processo orçamentário Unidades orçamentárias Órgãos setoriais Congresso nacional SOF Presidente da República Fonte: Elaborado pelo autor (2009). Processo hierárquico: o Ministro das Finanças possui poder sobre os demais ministros, e os parlamentares não podem alterar o total de gastos, apenas sua distribuição. Processo colegial: existe igualdade entre os ministros setoriais e o Ministro das Finanças. No Legislativo, os parlamentares poderiam aumentar o total dos gastos e o déficit público 9.3 orçamento Programa no brasil Nossa experiência em orçamento público está organizada em três partes: 1. Orçamentação de planos: Plano de Metas (1956), cujo plano definido refletia-se no orçamento, o qual contemplava os recursos financeiros para a sua execução. 2. Planejamento – orçamento: Plano de Ação do governo Carvalho Pinto, em São Paulo (1959), detalhava os recursos necessários à execução do plano => correlação entre plano e orçamento em todas as áreas de competência do Estado. 5 10 15 20 98 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 3. Orçamento Programa: é um documento em que são discriminados os recursos financeiros e de trabalho destinados à execução de programas, projetos e atividades característicos da ação governamental, classificados por categorias econômicas e por unidades orçamentárias, não podendo ser confundido com uma simples peça contábil em que são relacionadas as receitas e as despesas. 9.3.1 Os primeiros programas no Brasil e sua implementação oficial I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND): implementado no início dos anos 1970 pelo governo Médici, marcou o período conhecido como “milagre brasileiro”. Caracterizava-se pelos grandes projetos de integração nacional e pela expansão das fronteiras de desenvolvimento. II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND): elaborado no governo Geisel, tinha como foco a indústria de base e a busca de autonomia em insumos básicos. Mostrava clara preocupação com a questão energética, estimulando a pesquisa em energias alternativas (e.g. energia nuclear e programa do álcool) e realizando a construção de novas hidrelétricas. A crise do petróleo que ocorreu no final dos anos 1970 inicia um longo período de estagnação na economia brasileira e marca o fim dos grandes programas de planejamento do desenvolvimento. A Constituição de 1988, em seu artigo 165, estabelece que, por iniciativa do Poder Executivo, deve ser elaborado o Plano Plurianual (PPA). O PPA deve estabelecer, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal, para despesas de capital e outras delas decorrentes e para as despesas relativas a programas de duração continuada. A vigência do PPA inicia- se no segundo ano do mandato presidencial e termina no primeiro ano do mandato seguinte. 5 10 15 20 25 30 99 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Cronologia PPA 1991 – 1995: elaborado apenas como forma de obedecer a Constituição, não apresentou características marcantes quanto ao planejamento público. PPA 1996 – 1999: introduziu novos conceitos no planejamento federal, entre eles os eixos de integração e desenvolvimento (referência espacial das políticas de desenvolvimento) e o conceito de projetos estruturantes. PPA 2000 – 2003: sua marca registrada é o conceito de gestão por resultados. Adotou o programa como unidade de gestão, integrou plano, orçamento e gestão, e estabeleceu critérios para gerenciamento e avaliação de desempenho nos programas federais. Primeira gestão 2009 a 2012 Segunda gestão 2013 a 2016 Terceira gestão 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 PPA PPA LDO LDO LOA LOA LDO LDO LOA LOA LDO LDO LOA LOA LDO LDO LOA LOA Fonte: Vignoli, 2002. Na primeira fase do planejamento público (1940 – 1980) o foco estava em grandes programas de desenvolvimento. Na segunda fase (1988 até hoje) a questão central é a gestão dos recursos públicos. A necessidade de garantir que os gastos públicos tenham a maior eficiência possível exige o uso de novos métodos de decisão orçamentária. Tais métodos, conhecidos como “Orçamento Programa” juntamente com o uso de métodos privados de gerenciamento, contribuem para um melhor uso dos recursos públicos. 5 10 15 20 100 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 A principal característica do Orçamento Programa, que o distingue dos chamados métodos tradicionais, é a ênfase no objetivo do gasto, em vez de preocupação com a categoria do dispêndio. Abaixo seguem algumas exigências do Orçamento Programa: • avaliação e comparação dos diferentes programas desenvolvidos pelo governo em termos de sua contribuição para os objetivos nacionais; • determinação de como os objetivos preestabelecidos podem ser atingidos com um mínimo de dispêndio de recursos; • projeção das ações governamentais para um horizonte de tempo superior ao período usual de um ano; • revisão dos objetivos, programas e orçamentos à luz da experiência passada e de modificações na conjuntura. • Como identificar e medir custos e benefícios? • Qual a taxa apropriada para descontar estimativas futuras de custos e benefícios no cálculo dos respectivos valores atuais? • Como estabelecer o período em que se fazem notar os custos e os benefícios dos projetos? • Como agregar custos e benefícios de vários projetos complementares, tendo em vista estender a análise no nível de programas executados pelo governo? Em geral, projetos que apresentam uma razão custo-benefício maior do que um são considerados como justificáveis. A análise de custo-benefício é um conjunto de técnicas que visam a gerar informações sobre a relevância social de projetos públicos. Se empregadas de modo consciente, essas informações podem gerar estudos, nos 5 10 15 20 101 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 quais estão claras todas as hipóteses empregadas em cada etapa do cálculo, e podem ser instrumentos importantes para balizar a tomada de decisão acerca de investimentos públicos. Ao implementaro orçamento programa tornou-se essencial avaliar com mais cuidado as características dos programas contidos no PPA. Desta forma, os programas são divididos em ações que, por sua vez, dividem-se em projetos e atividades. LDO – diretrizes Orçamento público Classificação institucional Unidades orçamentárias Classificação funcional – programática Função de governo Subfunção de governo PPAPrograma de governo Atividade/projeto ou operação especial Fonte: Vignoli, 2002. A LDO é o elo entre o PPA e a LOA. Uma das principais funções da LDO será a de selecionar dentre os programas incluídos no PPA aqueles que terão prioridade na execução do orçamento subsequente. A elaboração do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) deverá ser realizada pelo Poder Executivo e submetida à apreciação e aprovação do Poder Legislativo. No caso de municípios, o prazo de encaminhamento e aprovação da LDO deve constar na Lei Orgânica do Município (LOM). Caso não esteja previsto nenhum prazo na LOM, o Executivo poderá encaminhá-la a qualquer tempo, desde que se garanta um prazo razoável para sua apreciação e aprovação e não se comprometa a elaboração orçamentária. 5 10 15 20 102 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento (Constituição Federal, art. 165). Além de dispor sobre estes tópicos, a LDO deverá conter dois anexos, o anexo de metas fiscais e o anexo de riscos fiscais. O art. 63 da Lei de Responsabilidade Fiscal faculta aos municípios com menos de 50 mil habitantes elaborarem os referidos anexos apenas a partir de 2005. O orçamento anual (estabelecido pela LOA) visa a concretizar os objetivos e metas propostas no PPA, segundo as diretrizes estabelecidas pela LDO. A proposta de LOA compreende os três tipos distintos de orçamento da União, a saber: Orçamento fiscal: compreende os poderes da União, os fundos, os órgãos, autarquias, inclusive as especiais e fundações instituídas e mantidas pela União; abrange, também, as empresas públicas e sociedades de economia mista em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto e que recebem desta quaisquer recursos que não sejam provenientes de participação acionária, pagamentos de serviços prestados, transferências para aplicação em programas de financiamento, atendendo ao disposto na alínea “c” do inciso I do art. 159 da CF e refinanciamento da dívida externa. Orçamento de seguridade social: compreende todos os órgãos e entidades aos quais compete executar ações nas áreas de saúde, previdência e assistência social, quer sejam da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; compreende, ainda, os demais subprojetos ou subatividades, não integrantes do Programa de Trabalho dos órgãos e entidades mencionados, 5 10 15 20 25 30 103 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 mas que se relacionem com as referidas ações, tendo em vista o disposto no art. 194 da CF. Orçamento de investimento de empresas estatais: previsto no inciso II, parágrafo 5º do art. 165 da CF, abrange as empresas públicas e sociedades de economia mista em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto. Observação: é obrigatório o Executivo enviar ao Congresso o Orçamento Fiscal, os orçamentos da seguridade social e os investimentos das empresas estatais. Caso estejam compatíveis com as metas, o Legislativo pode fazer emendas. 9.4 lei de responsabilidade Fiscal – lrF O desequilíbrio fiscal, ou gastos sistematicamente superiores às receitas, predominou na administração pública no Brasil até recentemente. As consequências para a economia são bastante negativas, e, em alguns casos, têm impacto sobre mais de uma geração. A inflação descontrolada até o lançamento do Real, a convivência com taxas de juros muito altas, o endividamento público também expressivo e a carga tributária relativamente alta, quando comparada com nossos vizinhos, são algumas destas consequências. Nesse contexto, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) representa um instrumento para auxiliar os governantes a gerir os recursos públicos dentro de um marco de regras claras e precisas, aplicadas a todos os gestores de recursos públicos e em todas as esferas de governo, relativas à gestão da receita e da despesa públicas, ao endividamento e à gestão do patrimônio público. Além disso, a Lei consagra a transparência da gestão como mecanismo de controle social, através da publicação de relatórios 5 10 15 20 25 104 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 e demonstrativos da execução orçamentária, apresentando ao contribuinte a utilização dos recursos que ele coloca à disposição dos governantes. Entre o conjunto de normas e princípios estabelecidos pela LRF, alguns merecem destaque, são eles: 1. Limites de gasto com pessoal: a lei fixa limites para essa despesa em relação à receita corrente líquida para os três poderes e para cada nível de governo (União, estados, Distrito Federal e municípios). 2. Limites para o endividamento público: serão estabelecidos pelo Senado Federal por proposta do Presidente da República. 3. Definição de metas fiscais anuais: para os três exercícios seguintes. 4. Mecanismos de compensação para despesas de caráter permanente: o governante não poderá criar uma despesa continuada (por prazo superior a dois anos) sem indicar uma fonte de receita ou uma redução de outra despesa. 5. Mecanismo para controle das finanças públicas em anos de eleição: a Lei impede a contratação de operações de crédito por Antecipação de Receita Orçamentária (ARO) no último ano de mandato e proíbe o aumento das despesas com pessoal nos 180 dias que antecedem o final do mandato. 9.5 Plano Diretor A Política de Desenvolvimento Urbano, executada pelo Poder Público municipal, é implementada no capítulo II do título VII da Constituição Federal (art. 182 e art. 183). Seu objetivo é ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais das cidades e garantir o bem-estar de seus habitantes. O instrumento para a Política de Desenvolvimento Urbano é o Plano Diretor dos municípios. 5 10 15 20 25 105 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Segundo o Prof. Roberto Braga da UNESP, os planos diretores têm apresentado problemas em decorrência de dois pontos básicos: 1. A lei, ao obrigar as prefeituras a realizar um plano diretor, não conscientizou os agentes públicos da importância do planejamento. 2. Os planos são elaborados por pessoas estranhas à administração pública local. O último ponto gera três problemas com os planos diretores: • os planos são tecnicamente adequados, mas politicamente inviáveis; • a falta de conhecimento da realidade local compromete o plano tanto técnica quanto politicamente; • o plano diretor torna-se estranho à administração local, que não tem interesse em implementá-lo. Para os Estados Itens da lei O que fazer Quando fazer Limites para despesa com pessoalRegra Prazo de transição 60% da receita corrente líquida: - 49% para o Executivo - 3% para o Legislativo - 6% para o Judiciário - 2% para o Ministério Público Limite global já em vigor, pela Lei Camata II. Limites por poder, a partir da publicação da LRF. 2 anos, com redução de, no mínimo, 50% do execesso no primeiro ano. Limite para dúvidas A serem estabelecidas pelo Senado Federal, por proposta do Presidente da República, 90 dias após a publicação da LRF. Depois de estabelecidos os limites, os Estados terão um ano para ajustar-se. 5 10 15 106 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Para os municípios Itens da lei O que fazer Quando fazer Limites para despesa com pessoal Regra Prazo de transição 60% da receita corrente líquida: - 54% para o Executivo - 6% para o Legislativo Limite global já em vigor, pela Lei Camata II. Limites por poder, a partir da publicação da LRF. 2 anos, com redução de, no mínimo, 50% do execesso no primeiro ano. Limite para dúvidas A serem estabelecidas pelo Senado Federal, por proposta do Presidente da República, 90 dias após a publicação da LRF. Depois de estabelecidos os limites, os Municípios terão um ano para ajustar-se. Fonte: Secretaria de Orçamento Federal, 2009. 9.6 resumo Este módulo mostrou a você que o orçamento público remonta à Constituição Inglesa, outorgada em 1217 pelo rei João Sem-Terra, e que em seu artigo 12 estabelecia restrições para a criação de tributos, os quais deveriam ser aprovados pelo Conselho Comum do Reino. Mostrou também que, em 1831, mediante aprovação do Decreto Legislativo de 15/12/1830, se consolidou o primeiro orçamento público brasileiro, considerando- se o fato de ser uma lei de iniciativa do Poder Executivo, estimadora da receita e fixadora da despesa da administração pública para o período de um ano. Ficou por dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que impôs normas de planejamento e controle das contas públicas, estabelecendo critérios transparentes para a estimativa da receita e severos controles da despesa pública, Ponto de reflexão Em que medida você pode avaliar a Lei de Responsabilidade Fiscal dentro do seu município. 5 10 15 107 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 definindo o conteúdo da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), determinando modificações na elaboração do Orçamento Programa (Lei Orçamentária Anual — LOA) e em todo o processo de prestação de contas e fiscalização, buscando assegurar a transparência na gestão fiscal. Viu, ainda, que o Orçamento Programa é um documento em que são discriminados os recursos financeiros e de trabalho destinados à execução de programas, projetos e atividades característicos da ação governamental, classificados por categorias econômicas e por unidades orçamentárias, não podendo ser confundido com uma simples peça contábil em que são relacionadas as receitas e as despesas. 10 Políticas Públicas, Presente e PassaDo Objetivos do módulo As iniciativas e políticas governamentais destinadas a criar condições favoráveis ao desenvolvimento econômico quase sempre se limitam às grandes políticas macroeconômicas (monetária, cambial e fiscal), ou, na melhor das hipóteses, a políticas setoriais cujo objetivo é também de natureza macroeconômica, tais como as políticas industrial, energética, de tecnologia, de promoção de exportações, entre outras. Da mesma forma, as políticas específicas de fomento à atividade empresarial, incluindo financiamentos, eventuais vantagens fiscais (principalmente para investimentos e exportações) são, em geral, definidas de forma universal, ou seja, em princípio qualquer empresa que atenda aos objetivos e exigências do programa poderia qualificar-se, independentemente do porte, da região, do setor etc. No caso deste módulo, destacaremos a formulação destas políticas públicas, considerando a literatura e os autores que vêm se dedicando ao estudo e ao debate acerca do tema e, 5 10 15 20 25 30 108 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 não obstante a isto, elucidaremos casos práticos brasileiros e o planejamento sob a ótica da sociedade em rede. 10.1 Políticas públicas: gênese do estado As iniciativas e políticas governamentais destinadas a criar condições favoráveis ao desenvolvimento econômico quase sempre se limitam às grandes políticas macroeconômicas (monetária, cambial e fiscal), ou, na melhor das hipóteses, a políticas setoriais cujo objetivo é também de natureza macroeconômica, tais como as políticas industrial, energética, de tecnologia, de promoção de exportações, entre outras. Da mesma forma, as políticas específicas de fomento à atividade empresarial, incluindo financiamentos, eventuais vantagens fiscais (principalmente para investimentos e exportações) são, em geral, definidas de forma universal, ou seja, em princípio qualquer empresa que atenda aos objetivos e exigências do programa poderia qualificar-se, independentemente do porte, da região, do setor etc. No plano econômico, a crise do endividamento externo aponta, nos anos 1980, na direção de um modelo econômico baseado na especialização industrial, em setores trabalho-intensivo e cada vez mais tecnologicamente sofisticados. No plano social, as pressões sociais decorrentes dos altos índices de concentração de renda indicam um aumento significativo do papel do Estado do bem-estar. Os problemas de inflação, desequilíbrio externo e desemprego, por outro lado, indicam que, se o Estado subsidiador e produtor deve entrar em recesso, o Estado regulador estrito senso, formulador de política macroeconômica complementar à regulação pelo mercado será cada vez mais importante (Bresser Pereira, 1985). 5 10 15 20 25 30 109 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 No Brasil, planejamento enquanto política pública sempre esteve ligado à elaboração de planos de controle. Temos uma cultura de planos, com a ideia de antever e organizar o futuro (como se fosse possível fazer isso de maneira racional). A ideia de controle também está presente. Quando analisamos as funções das secretarias ou do Ministério do Planejamento, percebemos um caráter altamente controlador. Suas atribuições principais sempre giram ao redor de controlar o orçamento e alocação de recurso para diferentes órgãos estatais e projetos (Oliveira, 2006). Abaixo seguem algumas das atribuições da SOF (Secretaria de Orçamento Federal), subordinada ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão: Ministério do Planejamento Secretaria de Orçamento Federal Visão geral orçamento 2009 - Gráfico Amortização da dívida 39,85% Demais despesas financeiras 4,75% Transferências a Estados e Municípios 9,11% Pessoal e encargos sociais 9,91% Benef. Previd. e Assist. 17,13% Desoneração das exportações 0,25% Demais despesas obrigatórias 1,11% Desp. Discricionárias- Todos Poderes 9,58% Reserva de contingência primária 0,29% Juros e encargos da dívida 8,02% Fonte: Secretaria de Orçamento Federal, 2009. 5 10 110 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Ministério do Planejamento Secretaria de Orçamento Federal Visão geral orçamento 2009 - Despesa discricionária Saúde 33,2% Demais 29,8%Bolsa Família 7,9% PAC 14,5% Ciência e tecnologia 3,4% Educação 11,3% Fonte: Secretaria de Orçamento Federal, 2009. Ministério do Planejamento Secretaria de Orçamento Federal Evolução de pessoal e encargos sociais total (conceito competência) Exclusive a Contribuição Patronal da Seguridade do Servidor (% do PIB) 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Reprog 2008 PLOA 2009 5,22 4,69 4,60 4,77 4,69 4,80 4,89 4,93 4,51 4,39 4,38 4,61 4,63 4,65 4,93 Fonte: Secretaria de Orçamento Federal, 2009. 111 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 10.1.1 Políticas públicas no contexto internacional Antes de adentrar as visões sobre planejamento e implementação de políticas públicas no Brasil, convém retomar um debate importante ainda no campo internacional, que é a diferença entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. As diferenças são atribuídas basicamente a três fatores: • político–institucionais; • capacidade financeira; • capacidade técnica. Sobre os aspectos político-institucionais, as dificuldades dos países em desenvolvimento existem porque, em grande parte deles, o Estado é ainda uma estrutura em formação, oriunda de um processo de independência recente ou ainda em fase de redemocratização (o Brasil, nesse caso, representa uma exceção e por isso será tratado em separado). Logo, um país que apresenta um sistema político ainda frágil enfrenta maiores problemas ao definir as tarefas de planejamento e implementação de políticas em geral e não só as econômicas. Já sobre capacidade financeira, esta tem sido a maneira mais direta e comum de explicar as falhas de políticas públicas, visto que boa parte dos países em desenvolvimento passou por crises financeiras, de dívida externa ou inflacionária, que limitaram recursos e estrangularam o orçamento público. Por fim, a capacidade técnica, que inclui não só recursos humanos, equipamentos, mas também a existência de órgãos competentes, é um fator aparentemente de menos peso, mas que recentemente tem se mostrado importante, haja vista a polêmica que forma na definição de responsabilidades entre os órgãos da administração pública. 5 10 15 20 25 112 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Um exemplo dessa situação são as agências reguladoras: a sua ausência é ruim, mas a sua existência sem a definição de políticas é ainda pior. No Brasil esse é um caso típico, em que há ainda muitos conflitos de jurisdição e distribuição de responsabilidades. 10.2 teoria da regulação Segundo a abordagem regulacionista, o capitalismo é um sistema naturalmente instável, sujeito a crises cíclicas. Porém, ele consegue se reproduzir durante um determinado período através da criação de um aparato regulatório que, uma vez aceito pelos agentes econômicos, tende a agir de forma anticíclica. Desta forma, a abordagem regulacionista é uma crítica ao marxismo ortodoxo, uma vez que as crises do capitalismo não redundam em sua superação. Um importante conceito utilizado pela escola da regulação é o de regime de acumulação. Um regime de acumulação pressupõe um padrão de organização da atividade produtiva adequado ao padrão de consumo, isto é, um nível de atividade econômica compatível com a demanda efetiva (oferta agregada = demanda agregada). Isto evitaria crises de superprodução ou situações de elevado nível de inflação. Outro conceito é o de modo de regulação, ou seja, um conjunto de leis, valores e hábitos, que mediam a relação com o regime de acumulação e mantêm a coesão social. Os elementos que constituem um modo de regulação são as chamadas formas estruturais. A abordagem regulacionista destaca cinco importantes formas estruturais na sua análise: 1. Forma de adesão ao sistema internacional: estabelece a forma de inserção no comércio internacional, que pode 5 10 15 20 25 30 113 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 ser na forma de livre-circulação (Divisão Internacional do Trabalho) ou através de acordos comerciais regulados pelos órgãos competentes (GATT, OMC). 2. Padrão monetário: estabelece um padrão de pagamentos internacional, como, por exemplo, o padrão ouro-libra e o padrão ouro-dólar. 3. Forma de concorrência: estabelece a relação entre as empresas. Pode ser livre-concorrencial ou monopolista (concorrência administrada). 4. Forma de Estado: estabelece a forma de intervenção estatal, que pode ser regulatória (Estado liberal) ou direta (Estado intervencionista). 5. Relação salarial: estabelece a forma de organização do trabalho. Pode ser concorrencial, taylorista, fordista ou toyotista. Da relação harmônica entre o conjunto das formas estruturais e o regime de acumulação capitalista na sociedade resulta um modo de desenvolvimento. Assim, pode-se dizer que a regulação é necessária para proteger tanto os usuários quanto os investidores. Contudo, implica custos diretos como administração e observância da lei; e indiretos, como a assimetria de informações (as empresas reguladas têm sempre mais informações que os órgãos regulatórios) e a captura regulatória. Segundo a percepção atual de boa parte dos especialistas, a regulação deve ser repensada: a necessidade de regular, sempre que for possível, deverá ser substituída por soluções competitivas. Para isso, entretanto, é fundamental que se leve em conta a estrutura do mercado que está sendo regulado; as barreiras ao ingresso; o número de concorrentes reais e potenciais (estrutura horizontal); e vinculações verticais que afetam o poder de mercado (estrutura vertical). 5 10 15 20 25 30 114 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 10.2.1 Efeitos imprevistos da regulação Frequentemente, as características institucionais de um país não se ajustam bem a seu marco regulatório, o que produz efeitos imprevisíveis. Serão considerados aqui três desses efeitos: insucesso regulatório (regulatory failure), política de grupos de interesse, e baixo crescimento da produtividade (Guasch e Spiller, 1994). As agências regulatórias estão sujeitas a sérias restrições quanto à informação, à política e às instituições, as quais podem causar graves dificuldades à implementação das políticas regulatórias - o insucesso regulatório. Diz-se que a agência regulatória é sujeita à assimetria de informações, porque é custoso para ela obter informações, que, entretanto, são conhecidas pela firma. É, pois, crucial, que os sistemas regulatórios formulem políticas para contrabalançar essa desvantagem de informação. Contudo, essas políticas exigem discrição regulatória e capacidade administrativas; quando o país não tem capacidade administrativa, a implementação de uma estrutura regulatória sofisticada pode levar ao insucesso, ou a empresa regulada manipulará o processo. Em um país em que o Executivo tem preponderância, a interpretação legislativa ou as leis eleitorais e o Legislativo dão a um único partido o controle tanto do Executivo quanto do Legislativo. Conceder substancial discrição ao Executivo, no que diz respeito à regulação, pode levar a política de grupos de interesse a preterir o processo regulatório e afetar os resultados. A discrição irrestrita pode levar à captura regulatória, mesmo quando permite a diferentes grupos de interesse auferir benefícios do processo. Como a regulação, em sua essência, restringe a concorrência, de uma maneiraou de outra, por hipótese, a regulação excessiva 5 10 15 20 25 30 115 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 pode aumentar os custos de transação e reduzir a competição. Isso afeta negativamente o crescimento da produtividade e da eficiência, e os investimentos e a inovação tecnológica, além de levar a preços mais altos para os usuários. 10.2.2 Aspectos da regulação A implementação de um sistema regulatório depende da capacidade administrativa e das instituições existentes em um país. Por isso, é útil considerar a regulação como um problema de engenharia, segundo Guasch e Spiller (1994), no qual se distinguem a engenharia básica e a engenharia detalhada. Assim, define-se a engenharia básica de um sistema regulatório como os mecanismos pelos quais a sociedade cria limitações substantivas ou de procedimento na discrição regulatória, e resolve os conflitos que surgem com relação a essas limitações. A engenharia detalhada é o conjunto de regras referentes à tarifação, subsídios cruzados ou diretos, ingresso, interconexão etc. Modelos regulatórios • Taxa de retorno; • escala móvel; • regulação por incentivos; • preços máximos (price-caps); • regulação por gabarito (yardstick ou benchmark); • franquias. Controle sobre a variação máxima dos preços (price cap) A empresa regulada tem incentivos para a busca de ganhos de produtividade de forma a assegurar redução de custos no 5 10 15 20 25 116 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 mínimo de X% ao ano, já que seus preços serão corrigidos com base num índice de preços (-) X%. Ganhos de produtividade excedentes podem ser apropriados pela própria empresa, na forma de maiores lucros. Controle de quantidades e controle de entrada Controle de quantidades refere-se ao conjunto de restrições colocadas sobre a quantidade comprada ou vendida. Esta limitação na quantidade de um produto (ou serviço) disponível em um determinado mercado gera lucros adicionais para os agentes, que ainda possuem o direito de ofertar esse serviço no mercado, pois podem atender a essa escassez adicional causada pela barreira regulatória. Consequentemente, estariam dispostos a investir recursos de forma a assegurar o estabelecimento – ou a continuidade – dessa barreira à entrada. Como exemplo, o processo de privatização do sistema de telecomunicações. Teoria da captura A regulação seria originária da própria demanda por parte da indústria, ou seja, os legisladores são capturados pela indústria; ou, com o passar do tempo, a regulação acabaria por ser utilizada de acordo com os interesses da indústria que pretendia regular. Teoria econômica da regulação O modelo considera a existência de três grupos de agentes: • consumidores, que se beneficiam com menores preços no setor e estão dispostos a apoiar aqueles que levam a cabo políticas nesse sentido; 5 10 15 20 25 117 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 • empresário monopolista, que apoia o formulador de política na razão direta do seu lucro definido por π(π), ou seja, uma parcela do seu preço de venda; • formulador de política, cuja função apoio político considera duas variáveis relevantes: o lucro π(π) e o preço de mercado (Ym). Instrumentos de regulação Para a avaliação da eficácia do uso de cada um dos instrumentos que serão analisados é preciso entender o conceito de eficiência sob três diferentes dimensões: • eficiência produtiva, ou seja, a ação regulatória deveria ter por base incentivar a utilização dos recursos e fatores produtivos da forma mais eficiente possível; • eficiência alocativa, com a regulação assegurando que os produtos transacionados sejam produzidos pelas firmas mais eficientes e adquiridos pelos consumidores que mais os desejam; • eficiência dinâmica, com a regulação assegurando que a técnica mais eficiente disponível continue sendo utilizada ao longo do tempo. Controle de preços Especificação de um valor (ou um intervalo de valores) de acordo com o qual as firmas devem estabelecer os seus preços. Esse controle de preços pode assumir várias formas, tais como uma limitação sobre o valor nominal do preço – como no caso das passagens de ônibus nas cidades brasileiras – ou como a limitação sobre a taxa máxima de reajuste permitida para um determinado serviço – como no caso da regra do IGP-DI menos X%, aplicada na telefonia fixa. 5 10 15 20 25 118 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Eleitores Governo Regulador Firma Fonte: Elaborado pelo autor (2009). 10.2.3 Regulação no Brasil O desempenho e estrutura da regulação no Brasil estão condicionados ao: • dinamismo tecnológico dos setores regulados; • grau de desenvolvimento medido pelo nível de renda per capita do país, que determina o tamanho de mercado e a capacidade de pagamento dos consumidores; • modelo institucional do país, que é em certa medida dependente dos dois fatores anteriores, mas também é resultado da capacidade do setor público em regular segmentos monopolistas e desenvolver agências resistentes à captura, como será visto mais à frente. Poder de mercado No Brasil, com a privatização dos serviços de utilidade pública – telecomunicações e energia elétrica – o governo criou a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), com o intuito de regular as atividades destes setores, por natureza, pouco competitivos e que prestam um serviço essencial à população. Informação assimétrica É comum que alguma parte envolvida em uma transação, geralmente o consumidor, não possua informação completa 5 10 15 20 119 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 sobre o produto que está negociando. Nestes casos o governo deve agir obrigando que toda informação relevante a respeito de um determinado produto seja conhecida por todos os participantes do mercado. 10.3 resumo Este módulo mostrou a você que as iniciativas e políticas governamentais destinadas a criar condições favoráveis ao desenvolvimento econômico quase sempre se limitam às grandes políticas macroeconômicas (monetária, cambial e fiscal), ou, na melhor das hipóteses, a políticas setoriais cujo objetivo é também de natureza macroeconômica, tais como as políticas industrial, energética, de tecnologia, de promoção de exportações, entre outras. Mostrou também que a percepção atual de boa parte dos especialistas é que a regulação deve ser repensada em sua essência de regular e, sempre que for possível, deverá ser substituída por soluções competitivas. Para isso, entretanto, é fundamental que se leve em conta a estrutura do mercado que está sendo regulado; as barreiras ao ingresso; o número de concorrentes reais e potenciais (estrutura horizontal); e vinculações verticais que afetam o poder de mercado (estrutura vertical). Percebeu que a implementação de um sistema regulatório depende da capacidade administrativa e das instituições existentes em um país e que, no Brasil, com a privatização dos serviços de utilidade pública – telecomunicações e energia elétrica – o governo criou a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), com o intuito de regular as atividadesdestes setores, por natureza, pouco competitivos e que prestam um serviço essencial à população. Ponto de reflexão Em sua visão, a regulação de mercado pelo Estado foi um novo status na gestão pública, ou foi uma medida necessária para a manutenção da ordem econômica? 5 10 15 20 25 120 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 11 conselho De Desenvolvimento econômico e social - cDes Objetivos do módulo Fazem parte deste conselho, o governo, empregadores e empregados, geralmente sob uma atmosfera nem sempre focada em uma pretensa negociação entre capital e trabalho. Em alguns casos isolados, temos a participação de intelectuais e personalidades ligados a alguma comunidade. Neste último módulo, conflitaremos opiniões e situações que dimensionem tal iniciativa tripartite, a fim de encerrarmos este curso ouvindo, lendo e pesquisando todas as possibilidades que tangenciam e contribuem com o sucesso ou fracasso da gestão pública. 11.1 conselhos de desenvolvimento e democracia Do ponto de vista histórico, os embates recentes sobre participação política e o exercício da cidadania clamam por maior envolvimento da sociedade civil nos temas de planejamento, execução e política econômica. Os primeiros conselhos de desenvolvimento surgiram na Europa no contexto do pós-guerra: França (1946), Holanda (1950), Áustria (1963) e, mais recentemente, Portugal (1991/92) e Espanha (1991). A própria União Europeia, em sua fase embrionária, criou o Comitê Econômico e Social Europeu (CESE) em 1957. A composição tradicional desses conselhos é governo, empregadores e empregados, e, em geral, há uma perspectiva de negociação entre capital e trabalho, pois parte desses conselhos está vinculada ao Ministério do Trabalho ou a câmaras setoriais direcionadas para questões trabalhistas. 5 10 15 20 25 121 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Composição A composição e a estrutura desses conselhos denotam sua inserção como parte da construção do capitalismo organizado, instituído pelos socialdemocratas, gerando um compromisso de classes no qual a classe trabalhadora abre mão dos ideais revolucionários de abolição da propriedade privada, em troca das medidas de redistribuição da riqueza que se efetua por meio das políticas públicas. Para viabilizar o processo de consertação, são necessárias a adesão dos participantes aos valores da democracia deliberativa – quais sejam, o reconhecimento do outro, a participação e a redistribuição – e a construção de uma metodologia que assegure a materialização desses valores em práticas discursivas e de intercâmbio entre os participantes. 11.2 estado e sociedade no brasil: patrimonialismo, autoritarismo e exclusão O Brasil experimentou, no século XX, um processo intenso e muito rápido de transformações, saindo, nos anos 1930, de uma sociedade tradicional organizada em torno da economia agroexportadora de produtos, como a cana-de-açúcar e o café, para construir o que chegou a ser, na década de 1980, a oitava economia industrial do mundo. A concretização desse salto para uma sociedade urbana e uma economia industrializada foi capitaneada por um Estado desenvolvimentista, que fundamentou seu poder na manutenção de uma ampla coalizão conservadora e na capacidade dos dirigentes de usarem o aparato estatal para incluir e cooptar as frações urbanas da classe trabalhadora e da emergente burguesia industrial, por meio de mecanismos institucionais que consolidaram o pacto corporativo. 5 10 15 20 25 122 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 O capitalismo politicamente orientado institucionaliza um tipo de domínio, cuja legitimidade se assenta no tradicionalismo, demonstrando a persistência secular da estrutura patrimonial, sua compatibilidade com a produção capitalista e sua transformação de patrimonialismo pessoal em patrimonialismo estatal. 11.3 a experiência brasileira As iniquidades (qualidade do que é perverso, malévolo, extremamente injusto) socioeconômicas são resultado de uma longa tradição de cultura política autoritária e excludente. Nesses casos, só a radicalização da democracia, com a inclusão daqueles que foram alijados do poder em um jogo aberto e institucionalizado de negociação e/ou deliberação, pode romper o círculo vicioso da política, caracterizado pela alienação da cidadania, ausência de responsabilidade dos representantes e autoritarismo da burocracia. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 expressa a demanda cidadã, tendo inaugurado uma nova institucionalidade democrática, contemplada nas inúmeras instâncias colegiadas, nas quais sociedade e Estado se responsabilizam pela formação, formulação, execução e controle das políticas públicas. Apesar de retrocessos nesse processo, em anos recentes, com o esvaziamento das instâncias colegiadas e a recentralização do poder em mãos da burocracia iluminada, as experiências do orçamento participativo e de inúmeras outras modalidades de participação nos governos locais mantiveram viva a proposição de construção de uma democracia consertada. Dessas experiências, emerge a proposta de democratização radical do Estado e da necessidade de publicizá-lo, mediante a criação de instrumentos que permitam ir além do controle social, viabilizando a construção de uma esfera pública de cogestão dos recursos públicos. 5 10 15 20 25 30 123 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Uma das primeiras medidas do governo Lula foi a criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), órgão de consulta da presidência à sociedade civil e, ao mesmo tempo, um canal institucionalizado de negociação de pactos entre diferentes atores societários e o governo, em relação à agenda das reformas econômicas, políticas e sociais. O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, criado no governo Lula, pretendeu retomar o desenho da relação entre Estado e sociedade inaugurada na Constituição Federal de 1988, e avançar nesse processo, gerando um novo espaço institucionalizado e plural, no qual se encontram diferentes atores políticos e o governo, possibilitando um processo de consertação social e novas bases para garantir a governabilidade. (...) Compreendemos a criação do CDES como uma inovação social que amplia a esfera pública, ao introduzir em uma mesma arena de discussão atores sociais que não interatuam em outras situações, em uma sociedade marcada por clivagens e exclusões (Fleury, 2005). Trata-se, pela primeira vez na história brasileira, da existência de um órgão consultivo nacional, com a missão de discutir tanto políticas específicas quanto os fundamentos do desenvolvimento econômico e social. Sua composição é bastante original, já que difere do formato marcadamente corporativo dos conselhos europeus, em correspondência com o tecido e a estrutura social existentes no Brasil. Composição brasileira O CDES é composto pelo Presidente da República, que o preside, por um ministro de uma secretaria especial ligada à presidência, que é seu secretário-executivo, por 11 ministros e, originalmente, por 90 representantes da sociedade civil, assim distribuídos, conforme foram identificados pela 5 10 15 20 25 30 124 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F abio - 0 9/ 02 /1 0 Secretaria do Conselho: 41 empresários, 13 sindicatos, 11 movimentos sociais, 10 personalidades, 3 entidades de classe, 2 representantes da cultura, 2 religiosos, sendo posteriormente acrescentados, por reivindicação, 7 representantes das regiões Norte e Nordeste. O art. 1º. do Regimento Interno do CDES define-o como órgão colegiado de assessoramento direto e imediato do Presidente da República, com a missão de: I – propor políticas e diretrizes específicas, voltadas ao desenvolvimento econômico e social, produzindo indicações normativas, propostas políticas e acordos de procedimentos; II – apreciar propostas de políticas públicas e de reformas estruturais e de desenvolvimento econômico e social que lhe sejam submetidas pelo Presidente da República, com vistas à articulação das relações de governo com representantes da sociedade civil organizada e a consertação entre os diversos setores da sociedade nele representados. 11.3.1 Malogros e insucessos na experiência brasileira É incontestável que o governo manteve, durante todo esse período, uma política macroeconômica de corte monetarista, utilizando a elevação frequente da taxa de juros como mecanismo primordial de estabilização da tendência inflacionária. Nesse sentido, não houve, por parte do próprio governo, qualquer sinalização em direção a uma mudança consistente nos fundamentos da política macroeconômica. Houve ainda, uma sobrevalorização do empresariado industrial como ator político. O empresariado industrial, embora tenha sido o maior beneficiário do processo de industrialização ocorrido no século passado, foi o resultado 5 10 15 20 25 30 125 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 desse processo e não seu impulsionador. A inserção de seus interesses na agenda pública foi alcançada por meio de inúmeros artifícios de participação; disputa por subsídios; e articulação com a burocracia estatal, às custas de sua subordinação e disciplinamento pelo Estado. Outra razão pode ser encontrada na profundidade da aliança existente entre as elites brasileiras. Seus conhecimentos pessoais, sociais e mesmo articulações comerciais mostram que a aliança entre burguesia industrial e capital financeiro, ainda que envolva contradições de fundo, como a questão das taxas de juros, preserva complementaridades na defesa do status quo e ameaça menos que a entrada de novos parceiros, vistos como radicais e outsiders. Outro problema que não pode ser desconsiderado é a desconfiança das elites empresariais em relação ao governo, fruto de inúmeros pacotes econômicos e acordos não cumpridos, tendo sido acentuada pela origem socioeconômica das novas elites governamentais no governo do PT. Nessa curta experiência do CDES, a barreira que pareceu ser instransponível foi aquela relativa à necessidade de reconhecimento das lideranças oriundas dos movimentos populares como parte integrante dessa esfera pública ampliada. A intolerância das elites econômicas com relação aos movimentos sociais, vistos como elementos incômodos naquele contexto, impedia a construção de uma aliança mais ampla. Representantes de sem-terras, de mulheres negras, entre outros, quando colocavam suas demandas ou questionamentos às autoridades, desde esse lugar social que representavam, eram sempre vistos como estranhos no ninho. Da mesma forma, os representantes populares, descrentes de qualquer possibilidade de aliança com os setores dominantes, 5 10 15 20 25 30 126 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 adotaram, na maioria das vezes, um discurso de denúncia mais radical, entendendo que lhes cabia apenas marcar sua presença. Funcionamento O funcionamento do CDES se dá em dois diferentes momentos: 1. No Pleno Conselho, a cada dois meses, com a presença do Presidente da República; e nos grupos temáticos, no primeiro ano, a cada reunião do pleno, quando são aprovadas cartas de consertação e consensos sobre temas específicos. 2. Os grupos temáticos, de participação voluntária, são o espaço onde se debatem as propostas de reformas ou de políticas públicas específicas. Além disso, há possibilidade de um intercâmbio permanente dos membros do conselho por meio de um portal eletrônico. 11.4 resumo Neste último módulo, mostramos a você que os embates recentes sobre participação política e o exercício da cidadania clamam por maior envolvimento da sociedade civil nos temas de planejamento, execução e política econômica. E que, no Brasil, a Constituição Federal de 1988 expressa a demanda cidadã, tendo inaugurado uma nova institucionalidade democrática, contemplada nas inúmeras instâncias colegiadas, nas quais sociedade e Estado se responsabilizam pela formação, formulação, execução e controle das políticas públicas. Apesar de retrocessos nesse processo, em anos recentes, com o esvaziamento das instâncias colegiadas e a recentralização do poder em mãos da burocracia iluminada, as experiências do orçamento participativo e de Ponto de reflexão Você conhece algum tema ou projeto que tenha sido debatido no CDES, e agora está trazendo algum tipo de benefício para a sociedade brasileira? 5 10 15 20 25 127 Economia E GEstão do sEtor Público Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 inúmeras outras modalidades de participação nos governos locais mantiveram viva a proposição de construção de uma democracia consertada. Ficou sabendo também, que parte do fracasso do CDES se deu pela intolerância das elites econômicas com relação aos movimentos sociais, vistos como elementos incômodos naquele contexto, o que impedia a construção de uma aliança mais ampla. Representantes de sem-terras, de mulheres negras, entre outros, quando colocavam suas demandas ou questionamentos às autoridades, desde esse lugar social que representavam, eram sempre vistos como estranhos no ninho. Referências bibliográficas ABRUCIO, F. L. e LOUREIRO, M. R. Políticas fiscais e accountability: o caso brasileiro. ENAMPAD, 2003. ARISTÓTELES. A Política. Coleção fundamentos da filosofia. São Paulo: Ícone ,2007. BIDERMAN, C. ; ARVATE, P. Economia do setor público no Brasil. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2005. BRASIL. Indicadores fiscais. Banco Central do Brasil. Série: perguntas mais frequentes. Brasília, Out/2006. BRASIL. Relatório anual 2006. Vol. 42. Banco Central do Brasil. Brasília, 2006. BRASIL. Relatório anual 2008. Vol. 44. Banco Central do Brasil. Brasília, 2008. BRASIL. Cartilha sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal. Secretaria de Orçamento Federal. Brasília: Editora do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, 2008. 5 10 128 Unidade III Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 BUCHANAN, J. M. The limits of liberty: between anarchy and Leviathan. Chicago /London, The University of Chicago Press, 1975. DIAS, M. A. James Buchanan e a “política” na escolha pública. Artigo apresentado no programa de pós-graduados da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Novembro, 2008. FLEURY, S. O conselho de desenvolvimento econômico e social do governo Lula. Disponível em: <http://www.cdes.gov. br/exec/notainformativa/exibe_nota_informativa.php?p=f012 00e46c415ed858c1f13be14aed652ad505bdbde45efba998a7a 5>. Acesso em: 13 mai. 2008 GIAMBIAGI, F. ; ALÉM, A. 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