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I n s t i t u t o T a q u a r i t i n g u e n s e d e E n s i n o S u p e r i o r “ D r . A r i s t i d e s d e C a r v a l h o S c h l o b a c h ” I T E S ITES - Instituto Taquaritinguense de Ensino Superior Táires Valério Análise: O Mal Estar na Civilização Trabalho referente à disciplina de Fundamentos da Psicanálise “ITES- Instituto Taquaritinguense de ensino superior” orientado pelo professor Roger de Lucca. Taquaritinga-SP 15 de Maio de 2020 O desenvolvimento da civilização dá ao homem proteção e oportunidade de desenvolvimento de outras habilidades, porém há um preço a se pagar. Este é o tema em torno do qual gira os escritos de Freud em „O mal estar na civilização‟. A civilização distingue os seres humanos dos animais, ela serve de proteção para os homens contra a natureza, e dentro da civilização desenvolve-se e ajustam-se os relacionamentos, dessa forma, a civilização é a internalização das realizações e regulamentos que regem a vida dos grupos (FREUD, p. 58). Pode-se afirmar que a civilização atua de forma a restringir o comportamento humano, causando assim, um mal estar que se desenvolve a partir da realização de instintos e do controle que a sociedade impõe sobre o homem. Neste aspecto, Freud designa três fontes de sofrimento: o mundo externo, a fragilidade de nossos próprios corpos e os relacionamentos com outros homens (FREUD, p. 50). O sofrimento então está sempre presente na vida humana. A civilização nos protege e nos limita a satisfação instintual. Contra o sofrimento vindo dos relacionamentos humanos, a forma de defesa é o distanciamento, todavia, esse distanciamento que se transformaria em uma possibilidade de felicidade na quietude que é possibilitado a poucas pessoas. O homem que sofre e se isola para evitar o desprazer, deveria voltar-se o olhar para si em busca da origem da sensação deste desprazer, em suma, o sofrimento só existe na medida em que o sentimos, o sentir é consequência de modos pelo qual o organismo foi regulado (FREUD, p. 51). Neste aspecto, o sofrimento pode surgir a partir de uma repetição que é projetada repetidamente. Ao mesmo tempo em que a civilização impõe regras e limites à satisfação instintual, ela também propõe possibilidades para o deslocamento dessa libido, que seria redirecionada, realizando assim, a sublimação do instinto. Cada homem deve, individualmente, buscar essa forma de satisfação que melhor lhe convém, algumas delas são: trabalho físico e intelectual, arte, música, religião, etc. O que observamos em diversas civilizações seria resultado do trabalho de seres humanos que, com suas respectivas potencialidades, sublimaram grande parte de seus instintos e o redirecionaram a sociedade, desenvolvendo uma grande variedade do que hoje chamamos de “cultura”. Dessa forma, o homem e as possibilidades encontradas em seu ambiente, gerariam o desenvolvimento da cultura e o avanço seria designado pelas próximas gerações, que aplicariam uma quantidade significava de libido como busca de prazer obtido pela causa direta ou por satisfações secundárias obtidas pela sociedade, tais como: prestigio social, obtenção de prazer sexual, etc. Todavia, como fora mencionado anteriormente, a sublimação é o redirecionamento de libido para alguma atividade socialmente aceita. Considerando que diversas pessoas não conseguem realizar esse redirecionamento, está à causa de muitos distúrbios psíquicos encontrados em uma sociedade que reprime fortemente os impulsos sexuais, e deixa de oferecer objetos externos para o devido fluir de libido (FREUD p. 63). Por conseguinte, Freud propõe alguns tipos de homens, com os quais há certa proeminência em direcionamento de libido a objetos específicos, tais são eles: o homem erótico, que dá preferencia aos seus relacionamentos emocionais com outras pessoas; o narcisista que tende a ser independente, ou seja, buscará suas satisfações principais com processos mentais internos; e o homem de ação, que não abandona o mundo externo (FREUD, p. 55). A proposta das diversas formas de direcionamento de energia é extremamente atual e se enquadra com os diversos tipos de indivíduos. Em alguns aspectos, se enquadra com o posicionamento dos tipos psicológicos de Carl Gustav Jung. Apesar das diferenças de concepções energéticas, o modelo proposto por Jung assemelhasse ao que acima fora dito por Freud. De acordo com Jung: “A extroversão e a introversão são duas atitudes naturais, antagônicas entre si, ou movimentos dirigidos, que já foram definidos por Goethe como diástole e sístole. Em sucessão harmônica, deveriam formar o ritmo da vida. Alcançar esse ritmo harmônico supõe uma suprema arte de viver.” (JUNG p. 70). Aproximando-nos do modelo de tipos psicológicos de Carl Jung, atitude de introversão envolve uma preferência pelo mundo interior do indivíduo. Este está o tempo inteiro analisando, abstraindo e calculando; o que, como e porquê agir. Já a extroversão, trata-se de uma atitude voltada para o mundo exterior, o foco é dado ao objeto, pessoas e fatos que são observáveis. Dando continuidade, Jung propõe ainda quatro funções: pensamento e sentimento como funções racionais; intuição e sensação como funções irracionais. A função pensamento vê a realidade de uma maneira mais lógica. Frente à situação de decisão, tende a ser mais justa e racional, avaliando a situação de maneira imparcial. Pensamento é dirigido, subjugado pela vontade, racional. Sentimento é utilizado de forma ampla para tomada de decisões e dentro desta perspectiva consideram o sentimento como forma de atribuir valor em um sentido de aceitação ou não aceitação das diversas manifestações do ambiente. A intuição e sensação são funções irracionais, perceptivas, são o acontecer em si, não seguem nenhuma regra da razão. Uma forma de obtenção de informações que pode ser direcionada a um dado inconsciente, que surge de forma espontânea e pronta (Intuição), ou a obtenção a partir da abstração de conteúdo utilizando os cinco sentidos, focalizando no real, visível no aqui e agora (Sensação). Após essa breve síntese da concepção tipológica, é explicita a semelhança entre um tipo sentimento extrovertido e o homem erótico, que busca a satisfação ou tem a tendência a busca-la, nos relacionamentos considerando os valores emocionais. Ademais um tipo sensação extrovertida como o homem de ação que não abandona o mundo externo teria a mesma tendência, já um tipo pensamento introvertido, se assemelharia ao homem que busca a satisfação pela própria atitude de redirecionar a libido para si. Ressalta-se que a semelhança é breve, não literal. Todavia, a concepções de ambos os autores não são excludentes, isso possibilita o encontro de semelhanças entre esses modelos. Posteriormente, tanto Freud quanto Jung atribuem ênfase a forma como cada individuo deve buscar a sua própria felicidade; a libido flui de diferentes formas em diferentes pessoas, destarte, cabe a cada ser humano encontrar a sua maneira em sintonia com a própria civilização. Em continuidade com o Mal Estar na Civilização, Freud propõe o reconhecimento da convivência mutua do instinto de prazer (Eros) e agressividade (Thanatos). Neste aspecto, é proposta uma exemplificação a partir do sadismo. O sadismo, como componente da sexualidade, é a busca da satisfação do prazer através do instinto destrutivo, ou seja, o prazer encontrado pela via da dor. (FREUD, p. 75). A própria civilização manifesta e controla o homem com os respectivos instintos de vida e morte. A retenção dos instintos de prazer sexuais pela civilização é encontrada nas leis, como já fora visto em O Totem e Tabu. A civilização controla a economia libidinal reprimindo e dando espaço para expressão através de outras atividades (trabalho) na sociedade. Portando, a civilização em seu processode crescimento e desenvolvimento pode ser descrita, segundo Freud, como: “a luta da espécie humana pela vida” (FREUD, p.77). A vida em sociedade é a eterna busca pela satisfação dos instintos que resultam na (in) felicidade encontrada, momentaneamente, em um limiar entre a busca e a conquista do objeto desejado. A civilização e os núcleos sociais designam regras para controlar os impulsos de satisfação e desejo imediato que podem vir a afetar o grupo. Porém, Freud identifica que o sentimento de culpa ocorre não apenas quando a pessoa fez algo considerado errado, mas também quando surge em sua mente à intenção de realizar algo conceituado como “errado”. A consideração do ato “errado”, sutilmente analisada, é demonstrada em uma ambivalência no qual o ato perigoso ou prejudicial não afeta diretamente o ego, muito pelo contrário, esse ato é desejável e prazeroso ao ego (FREUD, p. 78). Ao analisar o sentimento de culpa, observa-se que o mau é tudo aquilo que ameaça a perda do amor, do reconhecimento. Assim, a simples intenção de fazer algo é diretamente ligada a como seremos vistos após o ato. Mesmo o sentimento de prazer, põe em cheque o sentimento de integridade social, o prazer obtido em pertencer a um grupo. Dessa forma, a possibilidade da autoridade descobrir o ato imprime no individuo o sentimento de culpa, mesmo quando se passou apenas pela intenção, pelo desejo. Destarte, para Freud, há duas origens para o sentimento de culpa: o medo da autoridade referente ao grupo, e outra, apresentada agora como o medo do superego, a autoridade internalizada no individuo, o medo das leis internalizadas pelo totem. A primeira surge através das renunciais instintivas, a segunda aparece através da simples intenção, pois os desejos não podem ser escondidos do superego (FREUD, p. 80). Compreende-se a civilização como um jogo de controle dos instintos. O desenvolvimento exacerbado de tecnologia não está diretamente ligado a uma vida feliz. Todavia, não há como afirmar que povos primitivos ou mesmos grupos do campo, eram ou são mais felizes pela vida mais simples. Quando se encontra diferentes povos e diferentes pessoas devem-se considerar as devidas necessidades de cada um. A satisfação do prazer nunca chega a um limite, há não ser por breves instantes, quando se obtém prazer, imediatamente outra necessidade exige satisfação e isso move o individuo. Cada ser advindo de uma família com estímulos específicos encontram-se em um mundo civilizado que propõe diferentes formas de satisfação e sublimação dos instintos. Porém, com o desenvolvimento da civilização, houve também um grande tabu as formas mais básicas e instintuais de desejo. O sexo, o bloqueio deste interesse básico e instintual surge na luta da autopreservação no grupo e as exigências da libido, no qual o controle do grupo prevalece como repressor, mesmo que o custo seja sofrimentos que se transpõem e neuroses. Referências Bibliográficas FREUD, S. (1930 [1929]) O mal-estar na civilização. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Ramos, L. M. A. (2005). Os tipos psicológicos na psicologia analítica de Carl Gustav Jung e o inventário de personalidade "Myers-Briggs Type Indicator (MBTI)": contribuições para a psicologia educacional, organizacional e clínica. ETD - Educação Temática Digital, 7(1), 137-180. Disponível em:<https://www.ssoar.info/ssoar/bitstream/handle/document/10380/ssoar-etd-2005-1-ramos- os_tipos_psicologicos_na_psicologia.pdf?sequence=1> Acesso em: 20 de abril 2020. JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente. Tradução de Maria Luiza Appy. 24. ed. Petrópolis, Vozes, 2014.
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