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COMO LER E INTERPRETAR MELHOR PORTUGUÊS (PRODUÇÃO TEXTUAL)

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Prévia do material em texto

NIVELAMENTO 
LÍNGUA 
PORTUGUESA 
Professora Dra. Angela Enz Teixeira 
Professora Me. Cristina Herold Constantino 
Professora Me. Débora Azevedo Malentachi
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; TEIXEIRA, Angela Enz; CONSTANTINO, Cristina Herold; 
MALENTACHI, Débora Azevedo.
 
 Nivelamento Língua Portuguesa. Angela Enz Teixeira ; 
Cristina Herold Constantino; Débora Azevedo Malentachi.
 Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 
 196 p.
“Graduação - EaD”.
 
 1. Português. 2. Nivelamento. 3. Língua Portuguesa. 4. EaD. I. Título.
 
CDD - 22 ed. ???.???
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
Hilton Pereira
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida 
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli
Supervisão do Núcleo de Produção de 
Materiais
Nádila de Almeida Toledo
Coordenador de Conteúdo
Fabiane Carniel
Lideranças de área
Angelita Brandão, Daniel F. Hey, Hellyery Agda
Design Educacional
Isabela Agulhon
Iconografia
Ana Carolina Martins Prado
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
André Morais de Freitas
Editoração
Ellen Jeane da Silva
Revisão Textual
Yara Dias
Kaio Vinicius Cardoso Gomes
Carolina de Mello Magi
Ana Portela
Ilustração
Daphine Marcon
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um 
grande desafio para todos os cidadãos. A busca 
por tecnologia, informação, conhecimento de 
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma 
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar 
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir 
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a 
educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais 
e sociais; a realização de uma prática acadêmica 
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização 
do conhecimento acadêmico com a articulação e 
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela 
qualidade e compromisso do corpo docente; 
aquisição de competências institucionais para 
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade 
da oferta dos ensinos presencial e a distância; 
bem-estar e satisfação da comunidade interna; 
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de 
cooperação e parceria com o mundo do trabalho, 
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Diretoria Operacional 
de Ensino
Diretoria de 
Planejamento de Ensino
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de 
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com 
os desafios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica 
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando 
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em 
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado 
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal 
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o 
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento 
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou 
seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de 
Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista 
às aulas ao vivo e participe das discussões. Além dis-
so, lembre-se que existe uma equipe de professores 
e tutores que se encontra disponível para sanar suas 
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza-
gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e 
segurança sua trajetória acadêmica.
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)
Professora Dra. Angela Enz Teixeira
Angela Enz Teixeira é doutora e mestre em Letras pela Universidade Estadual 
de Maringá - UEM. Tem experiência na área de Linguística, Literatura e 
Formação do Leitor, atuando, principalmente, nos seguintes temas: aluno-
leitor, leitura literária, literatura infantojuvenil, ensino de literatura, produção 
textual e análise linguística. Leciona, em cursos de graduação e de pós-
graduação, nas modalidades presencial e a distância, as disciplinas de 
Metodologia do Trabalho Científico, Estágio, Produção Textual e Metodologia 
do Ensino Superior.
Professora Me. Cristina Herold Constantino 
Cristina Herold Constantino possui mestrado em Linguística pela Universidade 
Federal de Santa Catarina - UFSC. É graduada em Letras pela Universidade 
Estadual de Maringá - UEM. Atualmente, é professora T40 da Unicesumar, 
coordenadora da disciplina de Metotologia de Pesquisa e Formação e Ética no 
ensino a distância, atuando, principalmente, nos seguintes temas: educação, 
linguagem, comunicação e ensino a distância.
Professora Me. Débora Azevedo Malentachi
Possui mestrado e graduação em Letras pela Universidade Estadual de 
Maringá - UEM, além de especialização em Língua Portuguesa e Literatura 
pela Sociedade Nacional de Educação, Ciência e Tecnologia. É Revisora de 
Língua Portuguesa, leciona Leitura e Produção Textual na UniCesumar, onde 
trabalha como professora formadora e conteudista na disciplina de Formação 
Sociocultural e Ética. Faz parte da Banca de Avaliação de Redação do Vestibular 
da Universidade Estadual de Maringá. Tem experiência na área de Linguística, 
com ênfase no Ensino e Aprendizagem de Leitura e Produção de Textos, 
atuando, principalmente, nos seguintes temas: competências, habilidades e 
estratégias de leitura e de escrita, ações colaborativas, interação, mediação e 
autoria no processo de construção da escrita, autonomia na aprendizagem, 
vestibular, argumentatividade e originalidade, elaboração de questões 
objetivas, conhecimentos gerais.
SEJA BEM-VINDO(A)!
Olá, querido(a) aluno(a), é com imensa satisfação que trazemos até você o nosso mate-
rial sobre Língua Portuguesa, Leitura e Produção Textual.
Temos trabalhado ao longo dos últimos 15 anos com o ensino da Língua Portuguesa 
no ensino superior e, podem ter certeza, tem sido muito gratificantena medida em que 
testemunhamos o quanto os alunos que se empenham na compreensão de sua língua 
materna, extensivamente, têm apresentado êxito na vida acadêmica. Assim, podemos 
afirmar que o estudo da Língua Portuguesa contribui para a utilização mais adequada 
da linguagem, tanto na leitura quanto na produção de textos escritos.
Caso você já tenha como prática o hábito da leitura e escreva textos coerentes, coesos, 
linguisticamente adequados, esta é mais uma oportunidade de aprofundar, solidificar 
e atualizar seus conhecimentos. Caso esteja dentre aqueles que têm encontrado difi-
culdades na leitura e produção textual, desafiamos você a ingressar neste curso rumo 
a ampliar os seus conhecimentos linguísticos, com o firme propósito de que essa ex-
periência contribua para fazer de você alguém que “maneja bem a palavra”. Conse-
quentemente, esperamos propiciar momentos de aprendizagem significativos para a 
sua formação enquanto sujeito consciente do poder que há no universo da linguagem, 
usando-a enquanto exercício da cidadania, de modo ativo, proficiente, ético e compe-
tente, não apenas em benefício de seus objetivos acadêmicos, pessoais e profissionais, 
mas, sobretudo, em busca de realizações que alcancem a coletividade.
Portanto, nossos principais objetivos com este livro é que você aperfeiçoe suas habili-
dades de escrita e de leitura e amplie seu conhecimento sobre a língua que está ao seu 
dispor, na verdade, o quanto ela já faz parte de sua vida e, por isso, deve ser compreen-
dida e utilizada da melhor forma nos diferentes contexto ou situações, sejam eles orais 
ou escritos. Nesse sentido, nossa ênfase inicial consiste no estudo de algumas especifi-
cidades da Língua Portuguesa, fundamentais para o bom desempenho da leitura e da 
escrita. Em seguida, complementaremos nossa caminhada com as principais técnicas e 
ferramentas pertinentes ao universo da linguagem e necessárias para a plena realização 
de leituras proficientes e produções de texto coerentes e de qualidade, com vistas a 
cumprir com o seu objetivo maior que é compreender e comunicar a mensagem a que 
se propõem. Para enfatizar o cuidado que tivemos em selecionar conteúdos pertinen-
tes para sua formação, selecionamos questões de concursos variados envolvendo esses 
temas, para serem resolvidas nas atividades de autoestudo, no final de cada capítulo. 
Essas questões estão devidamente identificadas, distinguindo-se das questões inéditas.
Dessa forma, propomos que caminhe conosco nesta jornada – breve, porém significa-
tiva –, na qual você terá a oportunidade de somar, aos seus conhecimentos já adquiri-
dos, outros novos que, certamente, serão não apenas úteis e necessários para sua vida 
acadêmica, mas, por extensão, fundamental para o desfrute de uma vida profissional e 
pessoal de excelência.
Ótimos estudos!
APRESENTAÇÃO
NIVELAMENTO LÍNGUA PORTGUESA
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO
15 Introdução 
16 Leitores: Algumas Características 
23 Leitura: Etapas, Níveis e Concepções 
32 Estratégias de Leitura 
37 Considerações Finais 
49 Referências 
50 Gabarito 
UNIDADE II
A FERRAMENTA DA LÍNGUA A SERVIÇO DA PRÓPRIA LÍNGUA
53 Introdução 
54 Língua é Sinônimo de Gramática? 
60 Como observar a Gramática nas Práticas de Texto 
66 Considerações Finais 
75 Referências 
76 Gabarito 
SUMÁRIO
10
UNIDADE III
PRODUÇÃO DE TEXTOS: DA REFLEXÃO PARA A PRÁTICA
79 Introdução 
80 Escrita, Estilo e Autoria 
86 Concepções de Escrita 
91 Elementos da Textualidade 
94 Gêneros Textuais 
102 Considerações Finais 
113 Referências 
115 Gabarito 
UNIDADE IV
DIRECIONAMENTOS PARA A ESCRITA DE DISSERTAÇÃO 
ARGUMENTATIVA
119 Introdução 
120 A Dissertação Argumentativa 
125 Por onde começar a tarefa de Escrita? 
129 O Desenvolvimento: As diferentes formas de Organização 
136 A Introdução 
139 A Conclusão 
141 Imprescindível: Revisão Final 
SUMÁRIO
11
143 Considerações Finais 
154 Referências 
155 Gabarito 
UNIDADE V
PONTUAÇÃO EXPRESSIVA E USO DA VÍRGULA
159 Introdução 
160 Pontuação: Definição e Funções 
162 Sinais de Pontuação e Expressividade 
171 Sobre a Vírgula 
178 Dúvidas Frequentes – Vale a pena Saber 
188 Considerações Finais 
194 Referências 
195 Gabarito 
196 CONCLUSÃO
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Professora Me. Débora Azevedo Malentachi
LEITORES E LEITURAS: DA 
AUTOAVALIAÇÃO PARA A 
FORMAÇÃO
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Compreender a importância da leitura na formação humana e 
acadêmica, de modo a praticá-la com criticidade.
 ■ Autoavaliar suas características enquanto leitor, com vistas ao 
aprimoramento das habilidades típicas de leitores competentes, 
experientes e proficientes.
 ■ Entender a leitura enquanto produção de sentidos, colocando-se 
como sujeito ativo diante dos textos.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Leitores: algumas características
 ■ Leitura: etapas, níveis e concepções
 ■ Estratégias de leitura 
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), bem-vindo a primeira unidade do nosso livro.
Se alguém lhe perguntasse sobre como você se considera enquanto leitor, 
qual avaliação faria de si mesmo? Qual o significado da leitura para você e qual 
a sua concepção a esse respeito? Quais os motivos e objetivos que o conduzem 
nas suas leituras? O que busca a partir delas, como as realiza e qual seu nível de 
compreensão ao final de cada texto?
Para que esta unidade lhe seja produtiva, é fundamental que você comece 
por uma autoavaliação acerca de suas características enquanto leitor. Esse será 
o seu primeiro passo, e as perguntas anteriores podem ajudá-lo(a) a iniciar esse 
processo de autoconhecimento. Aliás, para que você seja, de fato, um leitor de 
sucesso, é importante que esse passo seja parte de sua rotina acadêmica e, sobre-
tudo, de sua vida pessoal.
Todos nós somos leitores em processo e é sempre importante cuidar da 
QUALIDADE das nossas leituras, lançando-lhes um olhar crítico, avaliando 
nossas habilidades leitoras, de modo a lidar conscientemente com algumas difi-
culdades que podem interferir no desenvolvimento desse processo fascinante 
que é a leitura – de mundo, de imagens, de palavras, de pessoas, de tudo o que 
está disponível para atribuição de sentidos.
Tudo o que você já sabe sobre textos e leituras certamente tem algum valor. 
Porém, é tempo de aprofundar seus conhecimentos e aperfeiçoar suas habili-
dades leitoras, de modo a acrescentar em sua formação humana, acadêmica e 
profissional todas as características de um leitor proficiente, experiente. Nesse 
sentido, visitaremos alguns estudiosos da linguagem que nos explicam as prin-
cipais concepções de leitura. Vamos entender o porquê de sua importância, 
compreendê-la enquanto processo, analisar o encontro do leitor com o texto e 
averiguar as estratégias que constituem esse diálogo.
Estudaremos suas etapas e níveis, concomitantemente passearemos por 
alguns textos e, na tarefa de interpretá-los, você perceberá que eles dizem muito 
mais do que está explícito em suas palavras.
Introdução
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LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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LEITORES: ALGUMAS CARACTERÍSTICAS
Já ouvimos muitos acadêmicos reclamando de suas dificuldades na leitura, e 
nossa maior satisfação enquanto professores é dizer-lhes que a leitura é um pro-
cesso que pode ser aprendido. Ser alfabetizado, e muito bem alfabetizado, não 
basta para a formação de leitores críticos, experientes e proficientes. É necessá-
rio mais do que simplesmente decodificar signos ou códigos linguísticos. Então, 
se não basta saber ler em sua língua materna, o que é preciso para ser um bom 
leitor? Para pensar nisso juntos, começamos com um textode opinião que nos 
mostra outra face da moeda. 
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Leitores: Algumas Características
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Ótimo texto para refletir, não é mesmo? Você poderia resumi-lo em algumas 
poucas frases, usando suas próprias palavras? Ou poderia apenas sintetizar de 
imediato qual seu assunto geral e o ponto de vista defendido pela autora? Ou seria 
necessário realizar outra leitura? Se sua resposta para esta última pergunta for 
sim, muito bem! Faça-o sem nenhum constrangimento, pois alguns textos, mais 
que outros, exigem mais leituras, e releituras fazem parte natural do processo.
Agora, não vamos simplesmente parafrasear ou dizer com outras palavras o 
que a autora tão claramente explicou e argumentou. Faremos a leitura daquilo 
que está dito por trás das linhas, as ideias implícitas. Se um mau leitor é tudo o 
que afirma a autora, então, podemos inferir que:
 ■ Um bom leitor é curioso, interessado, ávido por conhecimento.
 ■ Um bom leitor não espera que as motivações para a aprendizagem venham 
de fora, pois nele mesmo há volição, ou seja, vontade de aprender.
O mau leitor
É característico do mau leitor não apresentar curiosidade relativa ao que lhe 
é exterior. Ele não direciona sua vontade para além de seus interesses mais 
imediatos, tais como conhecer novas culturas, informar-se sobre política, 
buscar novos saberes etc. Ele é omisso ao contexto social.
O mau leitor não consegue interagir com os textos, não faz perguntas, como: 
o que sei sobre tal assunto? O que não sei? 
Em condição de aprendiz, não consegue progredir, pois não tem iniciativa, 
nem criticidade sobre seu saber. Logo, não consegue concentrar-se na leitu-
ra, nem sintetizar um texto, muito menos comparar a perspectiva do autor 
com a sua sobre o tema. Assim, é incapaz de avaliar um texto, sua discussão, 
sua confiabilidade e relevância. Ademais, o mau leitor não admite seus limi-
tes cognitivos. Em um pensamento narcisista, o que pensa não condiz com 
o que faz em relação ao saber. 
Fonte: adaptado de Hagel (2004, on-line)1.
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LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E18
 ■ Um bom leitor estuda não por mera obrigação ou simplesmente para 
concluir o que começou. Estuda porque reconhece suas limitações e 
objetiva superá-las. 
 ■ Um bom leitor se comporta como um aprendiz em potencial. 
 ■ Um bom leitor não vive imerso em uma ilha, escravizado e limitado em 
seus desejos interiores. Ele dialoga com o mundo da leitura, com a leitura 
do mundo, com os desejos de outras pessoas, impressos em uma folha de 
papel ou expressos em um simples olhar.
 ■ Um bom leitor nunca se sente vazio, porque busca concentrar sua aten-
ção e seus interesses de fora (outros textos) para dentro (seus próprios 
textos) e de dentro para fora, interagindo com conteúdos que enrique-
cem e enchem sua alma de conhecimento.
O que fizemos aqui foi um diálogo com a autora do texto. Ainda com base em 
suas ideias, propomos que dê continuidade a esse diálogo, às inferências: se a 
autora diz que um mau leitor não se pergunta “o que sei sobre isso?”, um bom 
leitor faria o quê?
Vamos lá! INFERIR é uma das ações ou estratégias de leitura sobre as quais 
abordaremos mais adiante.
Para dar continuidade à temática, vamos apreciar um poema de Carlos 
Drummond de Andrade (2006, p. 854), retirado da obra Poesia Completa.
A PALAVRA MÁGICA
Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
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Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
procuro sempre.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.
Esse poema permite algumas interpretações… É possível que o eu lírico, isto 
é, a voz que fala no poema, simbolize um leitor convicto não apenas do valor e 
poder contido nas palavras, mas, sobretudo, de seu próprio valor diante delas. 
O mundo da linguagem está à disposição dos escritores que, por sua vez, escre-
vem para serem lidos, compreendidos e, até mesmo, contestados.
O leitor do mundo real tem a seu favor todo o universo da linguagem e, 
assim como acontece com o eu lírico, vive à procura da palavra que melhor tra-
duza seus pensamentos, que da melhor forma possível expresse seus sentimentos. 
De modo consciente ou não, cada um dos leitores é a razão de ser de cada pala-
vra. É quem deixa para sempre as palavras esquecidas e apagadas nos livros da 
estante, empoeirados; ou quem, espontânea ou obrigatoriamente, retira as relí-
quias do armário eleva às palavras um sopro de vida. 
É fundamental, caro(a) aluno(a), que você compreenda que existe em cada 
leitura uma relação dialógica entre autor e leitor. Ambos interagem por meio 
da palavra escrita. De um lado da ponte, está o autor, que escreve para ser lido 
(não para que suas palavras fiquem eternamente à mercê da poeira). Do outro, 
o leitor que não é (ao menos não deveria ser) mera vítima do poder que há nas 
palavras do autor. Cabe ao leitor encontrar o autor ausente (porém presente em 
suas palavras) e, nesse diálogo, manter-se crítico e atento, de modo a propor a 
sua contrapalavra (sua opinião, seus argumentos). Um leitor crítico não cai na 
armadilha da alienação e da manipulação.
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LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E20
A ideia “palavra mágica”, no poema, também nos sugere a constatação de 
que, por ser tão mágica, uma mesma palavra ou texto pode gerar mil e uma inter-
pretações. Isso porque nenhum leitor é igual ao outro e, por isso, cada qual faz 
de um mesmo texto leituras diferentes. Isso não significa que todas as interpre-
tações estarão corretas, adequadas ou coerentes. Cada texto traz as pistas para 
que o leitor faça interpretações coerentes, e não aleatórias.
Até aqui, prezado(a) aluno(a), é importante que você compreenda, principal-
mente, a importância de seu posicionamento crítico frente às leituras, de modo 
que você entre em cada texto de um jeito e saia dele uma nova pessoa: cada vez 
mais crítica, prudente, perspicaz e experiente; com uma roupagem nova em sua 
visão de mundo, com pontos de vista e conhecimentos enriquecidos. Para o 
bem ou para o mal (e, como nos contos de fada, torcemos para que o bem sem-
pre prevaleça), os textos produzem efeitos em leitores atentos. Caso contrário, o 
que ocorre é uma leitura desatenta, aleatória, sem objetivos. Uma pseudoleitura.
Na pseudoleitura, o sujeito lê o texto e, ao final dele, resta-lhe apenas um 
grande ponto de interrogação sinalizando sua completa falta de compreensão 
do que foi lido. Isso ocorre, basicamente, porque algo inadequado, involuntário 
e não consciente ocorreu no processo dessa leitura. Seja o cansaço que limita a 
concentração e, consequentemente, a compreensão do texto; ou a preguiça de 
processar com o cérebro o que está sendo lido com os olhos; ou, ainda, a pressa 
de concluir a leitura simplesmente para dizer a quem quer que seja que leu o 
texto “in-tei-ri-nho”. Lamentavelmente, existem leitores muito mais preocupa-
dos com a quantidade do que com a qualidade de suas leituras. Para valer de 
fato a pena, a quantidade de leituras deve estar de mãos dadas com a qualidade!
Todo homem que lê demais e pensa de menos adquire a preguiça de pensar. 
(Albert Einstein)
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Leitores: Algumas Características
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Existem outros fatores, de ordem pessoal, física, emocional ou cognitiva, 
que podem interferir nas leituras, e você mesmo poderia elencar ao menos um 
deles, tomando como ponto de partida circunstâncias em que, ao final de um 
texto, a temerosa pergunta lhe surgiu espontaneamente: “o que eu li mesmo?”.
Já passou por situação semelhante? Se já, certamente não é o único e, ainda 
nesta unidade, trataremos sobre algumas estratégias fundamentais para evitar 
esse grande ponto de interrogação.
Agora, vamos retomar o poema de Drummond e acrescentar outro rumo 
ao tema. O sentido que lhe atribuímos pode se estender aos signos não verbais, 
como, as imagens. Por alguns segundos, olhe a imagem a seguir:
Essa imagem está na internet. É importante que façamos a observação de todos 
os detalhes que a compõem: o que pode nos sugerir, por exemplo, o olhar dessa 
mulher, seu rosto sem maquiagem e o fundo pálido da foto? Certamente, cada 
um dos aspectos, em separado ou em conjunto, pode suscitar várias impressões 
de leitura e interpretações muito pessoais. Depende das experiências de cada 
leitor e de seu contexto sócio-histórico-cultural.
Figura 1 - Conjunto de impressões, leitura de imagem
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Vamos refletir: 
 ■ Que tipo de leitura faria dessa imagem uma mulher que sofreu violên-
cia doméstica?
 ■ Qual seria o sentido dessa imagem para uma senhora que viveu no período 
da ditadura? Teria o mesmo sentido para uma jovem socialite contem-
porânea que vive conectada com o consumismo e interessada apenas em 
dinheiro?
 ■ Qual interpretação faria um homem que considera admirável a natureza 
comunicativa da mulher?
 ■ O que diria dessa imagem um homem que se considera senhor da verdade 
e que não tolera ser contrariado, principalmente por mulheres?
 ■ O que diria uma cidadã comum e bem esclarecida acerca de seus direi-
tos frente a uma imagem dessas?
 ■ Enfim, qual o sentido dessa imagem para você, e o que lhe faz pensar assim?
 ■ É possível estabelecer algum tipo de relação entre o poema de Drummond 
e a imagem?
 ■ Enquanto o poema nos sugere a leitura da palavra “que dorme na som-
bra de um livro raro”, a mulher da imagem suscita que tipo de reflexão 
acerca da palavra? 
 ■ Em suma, você percebeu como não existe mesmo um sentido único para 
cada palavra, texto ou imagem?
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LEITURA: ETAPAS, NÍVEIS E CONCEPÇÕES
 De modo geral, a leitura consiste em quatro etapas:
 ■ Decodificação – é o reconhecimento das letras, suas ligações com outras 
e com os seus significados. Decodificar é apenas o início do processo de 
leitura.
 ■ Compreensão – é assimilar as informações de um texto e captar suas ideias 
principais. Nessa etapa, é importante que o leitor tenha conhecimentos 
prévios sobre o assunto tratado no texto, para que tenha condições de 
atribuir significação às palavras decodificadas.
 ■ Interpretação – é a capacidade de análise crítica do leitor frente ao texto 
e só ocorre depois da compreensão. Se não há compreensão, não é possí-
vel ao leitor interpretar o que leu. Nessa etapa, o leitor recupera todas as 
informações e conhecimentos prévios sobre o assunto, estabelece a inter-
textualidade entre os textos, questiona, julga e tira conclusões a respeito 
do que leu, concorda com as palavras do autor ou as contesta.
 ■ Retenção – nessa etapa, ocorre a memorização das informações mais 
importantes, as quais ficam arquivadas na memória de longo prazo do 
leitor, seu repertório de conhecimentos. Desse repertório, o leitor resgata 
seus conhecimentos internalizados para dialogar com as novas leituras 
que realizará.
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É importante considerar cada uma das etapas de leitura no processo de autoava-
liação que combinamos no início desta unidade. Seu desempenho nessas etapas 
depende do nível de suas leituras. São, basicamente, três níveis:
 ■ Leitura superficial – nesse nível, o leitor consegue decodificar as palavras, 
mas não se preocupa em buscar os significados das que não compreende. 
Também não consegue entender o sentido global do texto, sendo incapaz 
de apontar o tema, seu assunto principal, sua relevância. Não consegue 
dialogar com o texto, nem se propor perguntas sobre ele. 
 ■ Leitura adequada – esse é o nível da compreensão. O leitor consegue 
apreender a perspectiva do autor e é capaz de apontar a discussão tex-
tual. Extrapolando a decodificação textual, ele estende sua atenção para 
as entrelinhas, por meio de suas inferências, construídas a partir de seu 
conhecimento prévio. 
 ■ Leitura complexa – é o nível da leitura crítica, em que o leitor extrapola a 
compreensão e dialoga com o texto, questionando-o e se questionando. 
Ele é capaz de perceber o dialogismo do processo argumentativo e apon-
tar intertextualidades quando houver. 
Tão importante quanto conhecer e refletir sobre as etapas e níveis de leitura, 
importa retomar, aqui, a tese – ler é um processo que pode ser aprendido. Por isso, 
o avanço de uma etapa para outra e de um nível para outro é perfeitamente possí-
vel para qualquer pessoa, de qualquer idade, desde que haja vontade e empenho.
Importa, também, considerar o fato de que teorias linguísticas não bastam 
para aperfeiçoar habilidades leitoras. Somente as desenvolvemos mediante a 
convicção do quanto a leitura é importante e do quanto precisamos dela para a 
nossa formação, não apenas profissional, mas humana.
Nesse sentido, quem já não ouviu de pais, professores e até mesmo da mídia 
os famosos clichês: “a leitura é importante”, “leia mais”, “ler é viajar” etc.? Pois 
bem! Que a leitura é importante todo mundo já sabe. Que muitas leituras nos 
possibilitam conhecer e viajar por tantos outros mundos, contextos e situações, 
também sabemos. Entretanto, poucos sabem qual é, de fato, a verdadeira lei-
tura, aquela capaz de formar, completar e transformar meros sujeitos passivos 
inseridos em uma sociedade em sujeitos ativos nela, isto é, cidadãos – no sen-
tido pleno da palavra. 
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Em que consiste, afinal, a verdadeira leitura?
O texto da leitura complementar, que está no final desta unidade, sugere 
reflexões muito pertinentes a esse respeito. Foi escrito pela historiadora, filó-
sofa, dramaturga e escritora mineira Guiomar de Grammont (1999). Vale a pena 
conhecer, na íntegra, as sábias palavras da autora.
Impressionante o poder trans(formador) da leitura, não é mesmo? Sociedades 
inteiras podem ser modificadas se forem compostas por multidões de leitores 
críticos. Leitores críticos são “perigosamente” mais humanos. Percebeu que ser 
perigoso, no sentido sugerido pelo texto de Guiomar de Grammont (1999), da 
leitura complementar, não consiste em algo destrutivo? Muito pelo contrário, 
consiste na construção de uma sociedade mais justa e solidária, feita por pes-
soas muito mais conscientes de seus deveres, muito bem preparadas para exigir 
seus direitos.
A “pensar fundo na questão”, o que mais você diria sobre a LEITURA? Qual 
a sua opinião sobre as ideias da autora Guiomar de Grammont? Você percebeu 
o quanto seus exemplos e argumentos estão carregados de ironia? Você conse-
guiu fazer a leitura nas entrelinhas?Está satisfeito com a leitura que realizou 
desse texto de Guiomar de Grammont? Se não, sugerimos que leia-o de novo. 
Experimente-o mais uma vez. FAÇA SUAS ANOTAÇÕES ÀS MARGENS. Pelo 
computador, você pode utilizar o ícone inserir comentários. É ótimo! Se, no decor-
rer das suas leituras, você tiver por hábito registrar seus argumentos, suas ideias, 
A leitura caracteriza-se como um dos processos que possibilita a partici-
pação do homem na vida em sociedade, em termos de compreensão do 
presente e passado e em termos de possibilidade de transformação socio-
cultural futura.
(Ezequiel T. da Silva)
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questionamentos e conclusões, então, você já não será mais um sujeito passivo 
diante dos textos e, por isso, a cada leitura será uma nova pessoa.
Para Leffa (1996, p. 10), “ler é [...] reconhecer o mundo através de espelhos 
[...] é, na sua essência, olhar uma coisa e ver outra”. Como, por exemplo, fixar 
os olhos em um montante de dinheiro e ver uma casa luxuosa. Trata-se de um 
processo de “triangulação”. Segundo o autor, “sem triangulação não há leitura” 
(LEFFA, 1996, p. 10), há somente uma tentativa de leitura. O leitor lê, mas não 
entende; olha, mas não vê.
Em termos mais específicos, existem três linhas teóricas a respeito da leitura: 
alguns teóricos acreditam que ler é extrair significado do texto; para outros, atri-
buir-lhe significados; para o terceiro grupo, ler é interagir.
Na primeira concepção, concepção ascendente, o texto tem maior impor-
tância, tem um fim em si mesmo, é a voz absoluta e precisa do leitor apenas para 
ser decodificado. O significado, exato e completo, está contido nas palavras do 
autor, cabendo ao leitor, simplesmente, a árdua tarefa de compreendê-las inte-
gralmente e, assim, descobrir esse significado. 
Na segunda concepção, concepção descendente, o leitor ganha importância. 
Nessa acepção, a origem do significado de um texto está no leitor. “O mesmo 
texto pode provocar em cada leitor e mesmo em cada leitura uma visão dife-
rente da realidade” (LEFFA, 1996, p. 14). 
Por fim, na terceira concepção, concepção interativa, o sentido da leitura 
consiste, exclusivamente, da relação entre leitor e texto. Este não é mais impor-
tante que aquele, ou vice e versa. Ambos dependem um do outro e da interação 
entre eles para que a atribuição de sentidos ocorra de modo eficaz. A leitura é, 
portanto, um processo de interlocução entre leitor e autor, mediado pelo texto. 
Não se trata apenas de extrair informações da escrita, decodificando-a palavra 
por palavra. É um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de cons-
trução de significados do texto.
Ainda com o intuito de pensar a leitura em seu sentido pleno, nos Parâmetros 
Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p. 69-70), encontramos a seguinte 
definição:
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A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de com-
preensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu co-
nhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a 
linguagem etc.[...].
Observe que, de fato, tal como nos ensinou Paulo Freire (2001, p. 9), “a leitura 
do mundo precede a leitura da palavra”, isto é, toda a leitura de mundo e outros 
elementos prévios que o leitor traz consigo contribuem, e muito, para que ele 
compreenda os conteúdos lidos. A partir da definição supracitada, vamos esmiu-
çar alguns desses elementos e acrescentar outros.
CONHECIMENTO SOBRE O ASSUNTO 
Sem conhecimento prévio sobre o assunto a ser lido, as dificuldades de compre-
ensão são gigantescas, mas não intransponíveis.
Se em um curso de oratória somos convocados para falar ao público e alta-
mente surpreendidos com o assunto sorteado, algo que desconhecemos totalmente 
ou sobre o qual temos pouco domínio, a situação seria embaraçosa, não é mesmo? 
Não teríamos nenhuma chance, nem mesmo tempo para buscarmos informa-
ções a respeito, a fim de conseguirmos, ao menos, meia dúzia de palavras para 
dizer. Por outro lado, se nos for proposta a leitura de conteúdos sobre os quais 
não temos prévio conhecimento, a situação não será tão embaraçosa quanto a 
mesma circunstância no curso de oratória, porque teremos tempo e condições 
para suprir essa lacuna por meio de uma série de leituras.
Não há leitura qualitativa no leitor de um livro. A qualidade (profundidade?) 
do mergulho de um leitor em um texto depende – e muito – de seus mer-
gulhos anteriores.
(João W. Geraldi)
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O conhecimento prévio sobre o assunto possibilita ao leitor colocar em prática 
uma estratégia de leitura fundamental: inferir ou levantar hipóteses sobre o que 
será dito no texto antes mesmo de iniciar sua leitura. No percurso da leitura, 
caberá ao leitor confirmá-las ou refutá-las.
 Quanto mais leituras qualitativamente realizadas sobre conteúdos diversos 
– não apenas os exigidos pela academia –, maior o repertório de conhecimentos 
do leitor, tanto o de mundo quanto o linguístico. Consequentemente, maiores as 
possibilidades de compreensão e interpretação de textos.
É mais do que natural e até mesmo necessário ao nosso crescimento, em 
alguns momentos da vida, sermos desafiados a compreender algum texto que 
nos apresente assuntos completamente novos, ou velhos assuntos tratados sob 
um viés completamente inusitado. Isso significa que, provavelmente, aquele 
texto exigirá mais que uma leitura para que possamos compreendê-lo em sua 
totalidade. Como já dissemos, releituras fazem parte do processo. Depende do 
grau de complexidade não apenas decorrente da novidade do assunto, mas, tam-
bém, do estilo de quem o produziu. Alguns escritores utilizam uma linguagem 
bastante rebuscada, períodos muito extensos, inversão de classes gramaticais e 
outros fatores que podem, sim, exigir muito mais o empenho de seus leitores.
CONHECIMENTO LINGUÍSTICO 
Nas aulas de gramática, em que o estudo da língua ocorre de modo completo, 
sistemático e minucioso, adquirimos um repertório linguístico importantíssimo 
e essencial para o nosso desempenho enquanto leitores e, também, produtores 
de texto. Entretanto, para que seja ampliado, esse repertório requer a prática de 
muitas leituras realizadas de modo crítico e consciente.
 Portanto, na leitura dos tantos materiais sobre os quais você se debruça, lan-
ce-lhes um olhar de detetive. Seja um detetive de palavras. Observe o estilo do 
autor, o emprego de regências e concordâncias. Atente para o modo como ele usa 
os pronomes. Olhe atentamente para a escrita de palavras que você não consi-
dera fáceis. Memorize-as e comece a usá-las com certa frequência, nas situações 
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que julgar convenientes, seja na fala ou na escrita. Identifique as figuras de lin-
guagem utilizadas pelo autor, como, as ironias e metáforas. Se não se lembra das 
figuras de linguagem, busque revisá-las e aplicá-las na produção de seus próprios 
textos. Além de um dicionário da língua portuguesa em mãos, tenha também 
uma gramática e a estude de vez em quando. 
CONHECIMENTO SOBRE O AUTOR
 O conhecimento prévio sobre o autor – seu estilo de escrita, as ideias que 
defende ou que contesta, suas crenças ou descrenças, seu posicionamento político 
e outros fatores – também garante ao leitor bagagem para inferir, por exemplo, 
o ponto de vista defendido por ele, suas prováveis ideias e seus possíveis argu-
mentos ou conclusões.
 Caso o leitorconheça, por exemplo, boa parte das obras de Cecília Meireles, 
uma das grandes representantes da literatura brasileira, e, certo dia, depara-se 
com um poema de sua autoria que antes não conhecia, já a partir de seu título 
poderá inferir algumas hipóteses - temáticas: talvez o poema aborde a transito-
riedade das coisas e da vida, ou então a fantasia; talvez, a solidão; quem sabe, seja 
um poema marcado por apelos sensoriais. Enfim, as hipóteses antecipam possi-
bilidades e, como consequência, auxiliam na compreensão leitora.
CONHECIMENTO SOBRE O GÊNERO 
Uma bula de remédios exige uma leitura específica. Um gibi requer outra pos-
tura completamente diferente por parte do leitor. Não é possível ler um texto 
científico da mesma forma como se lê uma receita caseira. É fundamental consi-
derar as características específicas de cada gênero, pois esse tipo de conhecimento 
auxilia na compreensão.
Ao ler um projeto acadêmico, por exemplo, é importante que o leitor conheça 
não apenas as especificidades do gênero e as partes que o compõem, mas, também, 
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a função de cada uma dessas partes. Se não souber, por exemplo, em que con-
siste a introdução, a justificativa e os objetivos do projeto, encontrará grandes 
obstáculos para dialogar com o autor do projeto – via texto – e, por fim, terá 
sérias dificuldades para prosseguir a leitura, tornando-se impossível compreen-
der o conteúdo em sua totalidade.
MOTIVAÇÃO E INTENÇÃO
É muito importante que o leitor esteja motivado para realizar a leitura com a 
intenção de fazê-la da melhor forma possível, mesmo quando tratar-se de uma 
leitura obrigatória, imposta por um sistema que requer a devolução de resultados 
para que lhe seja atribuído algum tipo de conceito ou nota. Se lhe faltar moti-
vação, será mais difícil (não impossível) colocar os neurônios para trabalhar, já 
que, em se tratando de leitura, esta consiste em um “trabalho ativo de compre-
ensão e interpretação do texto”. Porém, mesmo sem motivação, a intenção de ler 
pode fazer a diferença e ajudá-lo a cumprir suas tarefas.
Ainda assim, a motivação não perde a sua relevância. Como encontrar moti-
vação, por exemplo, para fazer a leitura de textos exigidos pela faculdade e que, 
embora abordem assuntos importantes para a sua formação acadêmica e pro-
fissional, não correspondem às suas preferências literárias? Se a motivação não 
vem de dentro, terá que buscá-la do lado de fora: nos objetivos!
OBJETIVOS
Antes de iniciar qualquer leitura, é fundamental que tenhamos muito bem defi-
nido ao menos um objetivo para realizá-la. E, mais uma vez, a ideia da intenção 
vem à tona. A intenção de ler para cumprir determinado objetivo. Nossa postura 
frente aos textos, e também nossa motivação, dependerá disso. Sem motivação 
não saímos do lugar e sem objetivos não chegamos a lugar algum.
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Seu sucesso enquanto leitor(a) requer, pois, a soma de vários fatores, mas, 
sobretudo, de objetivos específicos pré-determinados antes da leitura, com vis-
tas ao cumprimento de algum objetivo geral. Citamos, por exemplo, as leituras 
realizadas com fins para uma pesquisa acadêmica. Se, por solicitação do pro-
fessor, o objetivo geral de uma pesquisa for investigar o nível de leitura dos 
brasileiros, o acadêmico terá como objetivo específico coletar informações nos 
textos que, previamente selecionados para a realização da pesquisa, apresenta-
mos dados necessários. Nem sempre é o professor quem determina o objetivo 
geral. Na graduação, em especial, muitas vezes é o aluno quem terá que tomar 
todas as decisões: qual será a temática da sua pesquisa dentro de determinado 
eixo do conhecimento, qual será o objetivo geral, quais os objetivos específicos, 
quais livros deverá selecionar e assim por diante.
Geraldi (2008) aponta alguns objetivos possíveis para a leitura: busca de 
informações, estudo do texto, fruição do texto e texto como pretexto. Muitos 
exemplos serviriam de ilustração para cada um desses objetivos, porém vamos 
elencar apenas alguns. 
 ■ Busca de informações – esse objetivo ocorre na realização de pesqui-
sas acadêmicas ou muitas outras situações, como, por exemplo, quando 
o leitor, por curiosidade, quer ampliar seu conhecimento a respeito de 
qualquer tema de seu interesse. Quando precisa resolver alguma situa-
ção-problema e busca, nas fontes específicas, as informações certas para 
solucioná-la. Quando um candidato entra no site de uma empresa de 
grande porte e, de posse das informações ali apresentadas, elabora seu 
currículo de modo a convencer a empresa de que suas qualificações cor-
respondem às suas exigências.
 ■ Estudo do texto – esse objetivo pode ser a prioridade do leitor frente 
aos textos que apresentam conteúdos que serão cobrados em avaliações 
acadêmicas ou em concursos etc. Tal objetivo ocorre também quando o 
leitor quer apenas ganhar conhecimento sobre o conteúdo apresentado 
no texto e sua forma, analisando o estilo do autor, bem como os detalhes 
linguísticos, sintáticos e estilísticos que o compõem.
LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO
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 ■ Fruição do texto – esse objetivo advém das leituras-prazer, das leituras 
que visam, exclusivamente, o entretenimento. A leitura sem compromis-
sos predeterminados.
 ■ Texto como pretexto – se o leitor vai ao texto com a intenção de para-
fraseá-lo ou produzir outro a fim de contestar seu conteúdo, então, seu 
objetivo será usá-lo como pretexto; se o leitor tem que produzir um texto 
de opinião na academia e carece de conteúdo para fazê-lo, pode usar bons 
textos como pretexto para citá-los em sua produção, de modo a atribuir 
mais credibilidade aos seus argumentos
ESTRATÉGIAS DE LEITURA
Observe, prezado(a) aluno(a), que DEFINIR OBJETIVOS IMPLICA NA 
ESCOLHA DE ESTRATÉGIAS. E isso, é claro, não vale apenas para a leitura. Se 
você pretende alcançar o objetivo X, precisará das estratégias W, Y e Z. Escolhidas 
as estratégias, faça delas seu norte. Se perceber que alguma delas não foi uma 
escolha adequada, faça mudanças. Empenhe-se nas estratégias que funcionam, 
de modo a atingir seu objetivo da melhor forma possível.
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Vamos conhecer algumas das principais estratégias de leitura à sua disposi-
ção? Façamos isso a partir da citação a seguir:
Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipa-
ção, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É 
o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo li-
do,permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, 
avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas 
(BRASIL, 1998, p. 69-70).
Em suma, um leitor competente coloca em prática as estratégias supracitadas:
 ■ Selecionar – é uma das estratégias primordiais na vida de qualquer lei-
tor. Afinal, em determinadas situações mais que outras, é impossível ler 
tudo o que queremos ou todos os títulos que nos mandam ler em tão 
pouco tempo para cumprir certa tarefa. Para nos manter informados, não 
precisamos ler todos os jornais ou assistir a todos os telejornais, basta sele-
cionar os de boa qualidade. Para atingir certo objetivo em determinada 
leitura, basta selecionar os trechos mais importantes. Qualquer indivíduo 
já é seletivo por natureza (você não lê, por exemplo, todos os e-mails que 
caem em sua caixa de entrada, não é mesmo? Você não tem tempo nem 
paciência para isso, sem contar as ameaçasde spam) e um leitor compe-
tente aperfeiçoa ainda mais suas habilidades leitoras, de modo consciente.
 ■ Antecipar e inferir – a primeira consiste em fazer previsões ou levantar 
hipóteses do que será lido, a partir do título do texto, de seu conheci-
mento sobre o autor, sobre o assunto etc.; na segunda, o leitor lê o que está 
nas entrelinhas ou por trás das linhas do texto, a partir de seu raciocínio 
lógico, das pistas textuais e das advindas de outras leituras, bem como da 
relação que estabelece entre os textos (intertextualidade). Inferir também 
consiste em deduzir, por exemplo, o significado de uma palavra desco-
nhecida a partir do contexto em que está inserida. Ambas as estratégias 
são importantes, pois permitem ao leitor atribuir vários sentidos ao texto 
ativamente e ler o que não está explícito, de modo a identificar as infor-
mações ou ideias implícitas no texto.
 ■ Verificar – é a estratégia que permite ao leitor avaliar, confirmar ou refu-
tar as previsões feitas e, também, ter a certeza de que suas inferências 
estão coerentes e de acordo com o texto, considerando suas pistas textu-
ais e outros fatores extratextuais necessários à sua interpretação, como, 
por exemplo, o momento e o contexto histórico em que foi produzido.
LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO
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IU N I D A D E34
 São estratégias básicas e todas de igual importância. Ao praticá-las, de modo 
consciente e frequente, o leitor desenvolve características que demonstram sua 
competência leitora.
 Ler nas entrelinhas do texto é uma arte. Vamos juntos praticar um pouco 
mais dessa arte, lendo a charge abaixo.
Figura 2 - Charge para exemplifi cação
Fonte: Questão 13. Prova Enade/2014 Letras.
Que informações implícitas podem ser inferidas na leitura da charge 
anterior?
Com base em que pistas ou elementos textuais, você fez as inferências?
E que tipos de conhecimentos você utilizou para chegar a essa conclusão?
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Com base nessa charge, exemplificamos um nível de leitura realizado por leito-
res atentos que leem nas entrelinhas do texto. Leem nas entrelinhas, porque os 
sentidos dessa charge não se constroem só pela linguagem verbal e não verbal, 
mas também pelos conhecimentos linguísticos e de mundo trazidos pelo leitor. 
Assim, a partir dessa charge, podemos inferir estas informações:
 ■ Três homens bons morreram – essa inferência dupla (homens bons + 
morreram) é feita por uma pista não verbal e outra verbal. A não ver-
bal é a imagem dos anjos conversando. A pista verbal está no segundo 
balão, pelo qual o anjo diz “ganhamos três grandes penas”, significando 
que os três foram para o céu, ou seja, não vivem na terra mais (morre-
ram) e foram merecedores do céu, não do inferno (foram homens bons).
 ■ Os três homens foram grandes escritores – essa inferência pode ser feita 
pela pista não verbal presente no segundo balão, em que o sintagma 
“grandes penas” é uma metáfora para grandes escritores. Contudo, se o 
leitor já conhecia a profissão dos três homens, o conhecimento de mundo 
também participou dessa inferência, facilitando a construção dos signi-
ficados da charge.
 ■ Os anjos estão pesarosos pelo falecimento dos autores – essa inferência 
pode ser feita pela pista não verbal, mais especificamente, pela expressão 
dos anjos, que retrata pesar e não alegria.
Com ênfase no conhecimento prévio dos leitores sobre os autores, os leitores 
podem inferir que a grande perda (uma pena) foi para o Brasil, considerando-se 
que Ariano Suassuna era paraibano; Rubem Alves, mineiro; João Ubaldo Ribeiro, 
baiano. Uma das características da charge é sua significação estar ligada a um 
contexto. Essa charge foi criada em julho de 2014, mês que marca a perda desses 
três grandes nomes. Nesse período, a charge teve maior força significativa, devido 
à recente repercussão das mortes pela mídia. Em nenhum momento, porém, o 
texto foi desrespeitoso à memória de João, Ariano e Rubem, considerando-se 
que anjos são figuras positivas no imaginário popular e que, se os autores foram 
para o céu, eles receberam um elogio póstumo.
Quanto à imagem dos autores abaixo dos anjos, essa nos permite inferir 
que João, Ariano e Rubem estão escrevendo e divertindo-se juntos no céu. Essa 
inferência não pode ser comprovada indubitavelmente pela imagem, porque a 
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imagem pode retratar o afazer desses homens em vida e não sua estada no céu. 
Logo, as duas inferências são possíveis, embora não possam ser comprovadas na 
charge. A esse tipo de inferência chamamos de subentendido. O subentendido 
é uma interpretação que, embora não contrarie o texto da leitura, não é a única 
opção. Logo, o subentendido é de responsabilidade do leitor e sua validade está 
na condição de não ser uma inferência contraditória ao texto.
A inferência que pode ser confirmada pelo texto é chamada de pressuposto. 
Nessa charge, pressupomos que os autores eram homens bons (foram para o céu) 
e eram ótimos escritores (grandes penas). Essas informações são comprovadas 
no texto e, por isso, devemos tê-las como verdadeiras, caso contrário, a charge 
ficaria sem sentido. Assim, chamamos de pressuposto a inferência que é com-
provada por pistas textuais, é tida como verdadeira e a essa condição atrela-se 
os sentidos construídos.
A seguir, apresentamos uma frase que foi pronunciada há alguns anos por 
uma personalidade política, e com este exemplo demonstramos a importância 
de cuidar das palavras que usamos para expressar nossas ideias.
“Ela é inteligente, apesar de ser mulher”.
(Frase de Mário Amato, em 1989, referindo-se à ministra Dorothea Werneck)
Na época em que pronunciou essa frase, Mário Amato, autor de tantos outros 
dizeres polêmicos, conquistou a antipatia das mulheres. Ele disse, explicitamente, 
que Dorothea é mulher e que é inteligente. Temos, então, duas informações escri-
tas na linha do texto. Por outro lado, pode-se inferir outra informação, a que 
está implícita: as mulheres não são inteligentes. O que é um pressuposto, na fala 
de Mário Amato.
Quais as informações explícitas nessa frase? Qual a informação implícita?
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Esse tipo de informação não pode ser negada.Trata-se de uma informa-
ção pressuposta, implícita no conectivo “apesar de”. Em entrevista posterior ao 
evento em que essa frase foi registrada por jornalistas, Mário Amato explicou-se: 
“aquilo foi brincadeira”, conforme o site da Revista Veja (on-line)2. Entretanto, 
mesmo que tenha sido uma brincadeira (aliás, extremamente inadequada e infe-
liz), em seu dizer existe uma marca linguística que denuncia a sua indelicadeza.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), a partir de vários aspectos relacionados à leitura, sobre os quais 
discutimos nesta unidade, você teve a oportunidade de se autoavaliar enquanto 
leitor(a). Por fim, gostaríamos de sintetizar algumas das principais característi-
cas do leitor competente. 
Segundo o que foi discutido, o leitor competente: constrói vários sentidos 
possíveis e coerentes com o conteúdo do texto; compreende a mensagem que o 
autor pretendia e propõe outras leituras não previstas pelo autor; é leitor ativo 
(agente) que busca atribuir significados ativamente; a cada nova leitura, altera 
o significado de tudo o que já leu; delimita objetivos e analisa sua própria lei-
tura; emprega as estratégias de leitura; controla o que lê e toma decisões diante 
de dificuldades de compreensão; tem iniciativa própria para selecionar o texto 
ou trechosdeste texto que atendam ao objetivo daquela leitura; compreende o 
que lê e, também, o que não está escrito; estabelece relações entre o texto que lê 
e outros já lidos (construção de intertextualidade).
Vale a pena retomar a primeira pergunta que abriu nossa introdução: como 
você se considera enquanto leitor(a)? E acrescentamos esta: onde você quer che-
gar enquanto leitor(a)?
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Esperamos que nossas discussões a respeito de leitores e leituras tenham 
contribuído para a sua aprendizagem e seu crescimento, e que sua autoavaliação 
não pare por aqui. Não desista nunca diante das dificuldades de compreensão 
em razão das peculiaridades e complexidades de cada texto. E lembre-se: somos 
todos leitores em processo. Não se esqueça de colocar em prática as estratégias 
que ensinamos, não deixe de considerar a importância de interagir com o autor, 
mediante a palavra escrita, questionar o que é lido e reler os textos quantas vezes 
se fizer necessário. Aprimore suas habilidades leitoras mediante a prática diária 
de leituras, as que fazem parte da academia e as que você realiza por iniciativa 
própria. Sua dedicação, autonomia e iniciativa nesse processo serão sempre fun-
damentais para seu sucesso. Seja um(a) leitor(a) experiente, proficiente, ativo(a), 
atuante, competente!
39 
1. (FUNDEP/2014 - IF-SP - Professor - Língua Portuguesa) - A leitura e a produção 
de textos são atividades completamente diferentes, pois exigem, cada qual, de-
terminadas técnicas e habilidades específi cas, apropriadas à sua natureza e aos 
seus objetivos. Por outro lado, tanto uma quanto a outra, constituem ações in-
trínsecas, que coexistem, dialogam entre si e se completam. Em síntese, a leitu-
ra é a matéria-prima e a constituição de modelos para a escrita. Nesse sentido, 
identifi que a seguir as assertivas que fundamentam essa relação intrínseca entre 
leitura e produção de textos:
I. “Quem lê demais e pensa de menos adquire a preguiça de pensar.” (Albert 
Einstein).
II. “Aprendi que o ato de escrever é uma sequela do ato de ler.” (Moacyr Scliar).
III. “Qualquer um de nós, senhor de um assunto, é, em princípio, capaz de es-
crever sobre ele. [...] Há apenas uma falta de preparação inicial, que o esforço 
e a prática vencem.” (Mattoso Câmara Jr.).
IV. “Tudo aponta para a necessidade de aprendermos a escrever a partir daqui-
lo que nós lemos. É este o truque a ser explicado.” (Frank Smith)
Estão corretas: 
a. Apenas II e IV.
b. Apenas II e III.
c. Apenas III e IV.
d. Apenas I e IV.
e. Apenas I e II.
2. (ENADE LETRAS 2014 – Questão 13)
Fonte: Chargeonline (2014).
40 
Verifica-se que a palavra “pena”, na primeira fala, foi empregada com o mesmo sen-
tido que no seguinte trecho:
a. “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter 
nascido” (Fernando Pessoa).
b. “Aprendi a amar menos, o que foi uma pena, e aprendi a ser mais cínica com a 
vida, o que também foi uma pena, mas necessário. Viver pra sempre tão bobo 
e perdido teria sido fatal” (Tati Bernardi).
c. “E pra deixar acontecer/A pena tem que valer/Tem que ser com você” (Jorge 
e Mateus).
d. “A primeira imagem que surge quando o assunto é pena são os pássaros” 
(Arte no Corpo).
e. “De boas palavras transborda o meu coração. Ao Rei consagro o que compus; 
a minha língua é como a pena de habilidoso escritor” (Bíblia Sagrada - Salmo). 
3. (Adaptado: ENADE LETRAS 2014 – Questão 17) – Assinale a opção que melhor 
expressa as ideias desenvolvidas no texto de H. K. Olinto.
A própria produção literária atual encaminha-se na direção de uma fusão com 
vários segmentos culturais, de que a chamada cultura de massa, tradicionalmen-
te discutida em sua diferença negativa, constitui tão somente um dos aspectos 
de negociação em bases renovadas. A defesa exclusiva da literatura clássica e da 
herança nacional, um casamento expresso e legitimado pela construção e ma-
nutenção de repertórios recheados de um saber cultural canônico, no entanto 
parece tão problemática quanto a sua rejeição global. Hoje, circulam e prevale-
cem formas culturais mistas, e até os textos canônicos são relidos como pontos 
de cruzamento de discursos amplos, que transcendem as fronteiras tradicionais 
da esfera do literário e do horizonte de pertença a espaços nacionais linguística 
e geograficamente circunscritos. 
Fonte: adaptado de Olinto e Scholhammer (2008, p. 75).
41 
a. 
b. 
c. 
42 
d. 
e. 
43 
4. Considerando as 4 etapas da leitura (quais sejam, decodificação, compreensão, 
interpretação e retenção), marque, seguindo a legenda, a etapa necessária à si-
tuação ou ao objetivo de leitura exposto abaixo (ou a que melhor os descreva).
1. Decodificação.
2. Compreensão.
3. Interpretação.
4. Retenção.
( ) Consegue comparar textos sobre o mesmo tema.
( ) Leitura de vários textos para apresentação em uma comunicação oral.
( ) Leitura adequada e prazerosa de poesia.
( ) Consegue apreender as ideias do autor, mas ainda precisa de outras leitu-
ras para tecer sua própria argumentação a respeito do tema.
( ) Consegue ler em voz alta, sabe o significado das palavras, mas não conse-
gue responder questões simples sobre as ideias do texto.
A sequência correta é:
a. 4, 2, 3, 1, 1.
b. 4, 4, 3, 1, 2.
c. 4, 3, 4, 2, 1.
d. 3, 4, 3, 2, 1.
e. 4, 4, 3, 2, 1.
5. (Adaptado: ENADE 2014 – Gestão Ambiental) – Ao falar de sustentabilidade, são 
necessários parâmetros de medição relativos às exigências humanas em relação 
ao planeta e o que o planeta pode oferecer/produzir aos seus habitantes. Assim, 
falamos sobre pegada ecológica e biocapacidade do planeta. Pegada ecológica 
é um indicador que estima a demanda ou a exigência humana sobre o meio 
ambiente, considerando-se o nível de atividade para atender ao padrão de con-
sumo atual (com a tecnologia atual). É, de certa forma, uma maneira de medir o 
fluxo de ativos ambientais de que necessitamos para sustentar nosso padrão de 
consumo. Esse indicador é medido em hectare global, medida de área equiva-
lente a 10.000 m². Na medida hectare global, são consideradas apenas as áreas 
produtivas do planeta. A biocapacidade do planeta, indicador que reflete a rege-
neração (natural) do meio ambiente é medida também em hectare global. Uma 
44 
razão entre pegada ecológica e biocapacidade do planeta igual a 1 indica que a 
exigência humana sobre os recursos do meio ambiente é reposta na sua totalida-
de pelo planeta, devido à capacidade natural de regeneração. Se for maior que 1, 
a razão indica que a demanda humana é maior que a capacidade do planeta de 
se recuperar e, se for menor que 1, indica que o planeta se recupera mais rapida-
mente. Analise o gráfico e as afirmações que o seguem. 
Fonte: Lopes (2012, on-line)3.
O gráfico evidencia:
I. Que, em 1970, o planeta estava equilibrado em se tratando de sustentabili-
dade.
II. Tendência a desequilíbrio gradual e contínuo da sustentabilidade do planeta.
III. Um desequilíbrio relativo à sustentabilidade do planeta, para o qual há uma 
solução: o comércio internacional, em que os países mais populosos expor-
tam insumos de países menos populosos, contendo, com essa transação, o 
desequilíbrio global. 
IV. Um aumento populacional mundial muito intenso de 1970 a 1975, quando o 
problema de sustentabilidade do planeta começou, indicando que esse au-
mento causou o desequilíbrio global, confirmado pelos dados até 2008 que 
mostraram que a pegada ecológica, medida em termos per capita, era de 2,7 
hectares globais (gha).
V. Que, de 1961 a 1970, não havia o que o enunciado explica como pegada eco-
lógica.
45 
Marque a opção correta:
a. Todas as explicações estão corretas.
b. Somente as explicações I, II e III estão corretas.
c. Somente as explicações IV e V estão corretas.
d. Somente as explicações I e II estão corretas.
e. Somente as explicações II e V estão corretas.
MATERIALCOMPLEMENTAR
Estratégias de Leitura
Isabel Sole 
Editora: Artmed
Ano: 1998
Sinopse: o livro escrito por Isabel Solé aborda diferentes 
formas de trabalhar com o ensino da leitura. Seu propósito 
principal é promover nos alunos a utilização de estratégias 
que permitam interpretar e compreender de forma autônoma 
os textos lidos. Enfatizando sempre que o ato de ler é um 
processo complexo, a autora, utilizando um texto simples 
e agradável de ser lido, explicita-o dentro de uma perspectiva 
construtivista da aprendizagem
47 
A PENSAR FUNDO NA QUESTÃO, EU DIRIA QUE LER DEVIA SER PROIBIDO.
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impos-
síveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. 
A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no 
corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O 
primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se 
pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sus-
tinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil 
para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, in-
conformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra 
forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem 
excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. 
Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho 
com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o 
sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas, para que conhecer, se, na maior parte dos 
casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que 
dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para cami-
nhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimu-
lar a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Transportam-nos a 
paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Fazem-
-nos acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo 
a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. 
Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos 
impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não deem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a 
desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal 
diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e 
civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não 
contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida desti-
nou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus di-
reitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem 
nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos 
os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem 
suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos 
de conquista de sua liberdade.
48 
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas leem por razões utili-
tárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais 
etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria 
um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, 
menos incômodas. É esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. 
Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais 
subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve 
ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem traba-
lhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova… Ler deve 
ser coisa rara, não para qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.
Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para exe-
cutar ordens, a palavra é inútil. Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, 
alegrias, tantos outros sentimentos… A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo 
o individual e público,o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz 
identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o 
mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente mais humano.
Fonte: Grammont (apud PRADO; CONDINI, 1999, p. 71-73).
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos de ensino fun-
damental: língua portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/
SEF, 1998.
FREIRE, P. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São 
Paulo: Cortez, 2001.
GERALDI, J. W. (Org.). O texto na sala de aula. 4. ed. São Paulo: Ática, 2008.
GRAMMONT, G. de. Ler devia ser proibido. In: PRADO, J.; CONDINI, P. (Orgs.). A for-
mação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus,1999, p.71-3.
LEFFA, V. J. Aspectos da leitura. Porto Alegre: Sagra: DC Luzzatto, 1996.
OLINTO, H. K. Literatura/cultura/ficções reais. In: OLINTO, H. K.; SCHOLHAMMER, K.E. 
Literatura e cultura. Rio de Janeiro: EPUC, 2008, p. 75.
PROVA ENADE, 2014. Letras, Português: Licenciatura. Nov. 2014. INEP. Disponível 
em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2014/30_le-
tras_portugues_licenciatura.pdf>. Acesso em: 9 dez. 2016.
SILVA, E. T. da. Criticidade e leitura: ensaios. Campinas: Mercado das letras, 1998.
WERNECK, D. Apesar de ser mulher. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990.
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nov. 2016.
2 Em: <http://veja.abril.com.br/210802/entrevista.html>. Acesso em: 21 nov. 2016.
3 Em: <https://financasfaceis.wordpress.com/2012/07/29/desenvolvimento-susten-
tavel-i/>. Acesso em: 21 nov. 2016.
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GABARITO
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Professora Me. Cristina Herold Constantino
A FERRAMENTA DA LÍNGUA 
A SERVIÇO DA PRÓPRIA 
LÍNGUA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Compreender a concepção linguística de língua.
 ■ Reconhecer a variabilidade da língua.
 ■ Considerar o padrão como uma modalidade necessária.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Língua é sinônimo de gramática?
 ■ Concepções de gramática
 ■ A relação ortografia e língua
 ■ Como observar a gramática nas práticas de texto
 ■ Norma padrão: Por quê? Para quê?
 ■ Reflexões acerca do emprego da noção de gramática
Introdução
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INTRODUÇÃO
Pensamos que a primeira pergunta a se fazer para nós mesmos é: o que eu 
entendo por língua? Quais informações eu tenho sobre a concepção de língua? 
Até porque esse é um parâmetro para identificarmos, talvez, o segundo aspecto 
que nos vem à mente: tenho domínio sobre a língua? Tenho utilizado a língua 
de maneira adequada?
Imagine a imagem de uma língua. Quem sabe, essa imagem criada em sua 
mente nos auxilie na explicação complexa eabrangente, mas, ao mesmo tempo, 
simples e tão básica do que vem a ser a língua. Você deve estar imaginando o 
que essa imagem mental tem a ver com o que está sendo dito.
Na verdade, pode ter tudo, mas também pode não ter, depende do que você 
quer dizer. É isso mesmo! É apenas uma representação do quanto a língua é básica 
e faz parte das nossas atividades mais corriqueiras; por outro lado, pode cha-
mar a nossa atenção para a complexidade que a envolve. O que isso quer dizer, 
então? Quer dizer que a língua (enquanto palavra – signo linguístico) possui 
grande variedade de sentidos; ou, ainda, poderia dizer que a língua, enquanto 
instrumento de comunicação, pode ser utilizada de diferentes maneiras, reali-
zada em sua diversidade linguística. Isso quer dizer que a língua portuguesa não 
é uma só? São várias ao mesmo tempo? Como assim? A propósito, quando nos 
perguntam se não sabemos falar a língua portuguesa, normalmente as pessoas 
se referem, até mesmo ironicamente, à gramática? Assim, cabe a seguinte per-
gunta: língua é sinônimo de gramática? Será?
Durante a abordagem sobre esse assunto, vamos refletir sobre três concepções 
importantes de gramática, mostrando como elas se manifestam socialmente, em 
nosso cotidiano. Também vamos discutir o que vem a ser a língua ou a norma 
padrão, destacando a insistência escolar sobre seu ensino e os contextos em que 
ela é imprescindível.
A FERRAMENTA DA LÍNGUA A SERVIÇO DA PRÓPRIA LÍNGUA
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IIU N I D A D E54
LÍNGUA É SINÔNIMO DE GRAMÁTICA?
Sim, a concepção de língua pode estar relacionada à gramática. Cabe, agora, 
buscarmos entender melhor de que modo isso ocorre. Nada melhor do que come-
çarmos pela sua etimologia, ou seja, a palavra Gramática origina-se do grego: 
γραμματική, transl. grammatiké, feminino substantivado de grammatikós, e pode 
ser entendida como o conjunto de regras individuais usadas para um determinado 
uso de uma língua, não necessariamente o que se entende por seu uso “correto”. 
É o ramo da Linguística que tem por objetivo estudar a forma, a composição e 
todas as questões adicionais de uma determinada Língua.
Nesse sentido, a gramática tem muito a ver com cada um de nós, uma vez que 
se ocupa essencialmente das regras individuais – a saber – aquelas que nós utili-
zamos, também, em nosso cotidiano mais informal; podemos afirmar, então, que 
nossa vida está relacionada à língua, ou seja, tudo o que diz respeito ao emprego, 
ao uso da língua, não necessariamente ao uso padrão, mas também e inclusive à 
norma culta possui relação com o que somos e fazemos. Dessa forma, podemos 
entender a língua como um manual de normas e regras que regulam a língua, bem 
como regras as quais os falantes têm interiorizado acerca de sua língua materna.
Língua é Sinônimo de Gramática?
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CONCEPÇÃO DE GRAMÁTICA
O doutor em Linguística, professor Sírio Possenti (1983, on-line)1, estabelece 
uma relação entre gramática e política, apontando as diversas características da 
língua representadas, basicamente, por meio de três tipos de compreensão do 
que vem a ser gramática. Segundo o autor, 
no sentido mais comum, o termo gramática designa um conjunto de 
regras que devem ser seguidas por aqueles que querem “falar e escrever 
corretamente”. Neste sentido, pois, gramática é um conjunto de regras 
a serem seguidas. Usualmente, tais regras prescritivas são expostas, 
nos compêndios, misturadas com descrições de dados, em relação aos 
quais, no entanto, em vários capítulos das gramáticas, fica mais do que 
evidente que o que é descrito é, ao mesmo tempo, prescrito. Citem-se 
como exemplos mais evidentes os capítulos sobre concordância, regên-
cia e colocação dos pronomes átonos.
Num segundo sentido, gramática é um conjunto de regras que um 
cientista dedicado ao estudo de fatos da Língua encontra nos dados que 
analisa a partir de uma certa teoria e de um certo método. Neste caso, 
por gramática se entende um conjunto de leis que regem a estruturação 
real de enunciados realmente produzidos por falantes, regras que são 
utilizadas. Neste caso, não importa se o emprego de determinada regra 
implica numa avaliação positiva ou negativa da expressão linguística 
por parte da comunidade, ou de qualquer segmento dela, que fala esta 
mesma língua. Gramáticas do primeiro tipo preocupam-se mais com 
como deve ser dito, as do segundo ocupam-se exclusivamente de como 
se diz. Para que a diferença fique bem clara, imagine-se um antropólo-
go que descreva determinado sistema de parentesco de um certo povo, 
e outro que o censure por desrespeitoso, por não distinguir-se o papel 
do pai e do tio [...].
Num terceiro sentido, a palavra gramática designa o conjunto de regras 
que o falante de fato aprendeu e das quais lança mão ao falar. É pre-
ciso que fique claro que sempre que alguém fala o faz segundo regras 
de uma certa gramática, e o fato mesmo de que fala testemunha isto, 
porque usualmente não se “inventam” regras para construir expressões. 
Pelo conhecimento não consciente, em geral, de tais regras o falante 
sabe sua língua, pelo menos uma ou algumas de suas variedades.
O conjunto de regras linguísticas que um falante conhece constitui a 
sua gramática, o seu repertório linguístico. Ocorre que língua não é 
um conceito óbvio. Pelo menos, pode-se dizer que há um conceito de 
A FERRAMENTA DA LÍNGUA A SERVIÇO DA PRÓPRIA LÍNGUA
Reprodução proibida. A
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língua compatível com cada conceito de gramática. Isto é, vista a lín-
gua, de uma certa forma, ver-se-á a natureza e a função da gramática 
de uma forma compatível. Qualquer outra postura será incoerente em 
excesso para merecer atenção. Distingamos, pois, três conceitos de lín-
gua. O primeiro conceito é o mais usual entre os membros de uma 
comunidade linguística, pelo menos em comunidades como as nossas. 
Segundo tal forma de ver a questão, o termo língua recobre apenas uma 
das variedades linguísticas utilizadas efetivamente pela comunidade, a 
variedade que é pretensamente utilizada pelas pessoas cultas. É a cha-
mada língua padrão, ou norma culta. As outras formas de falar (ou 
escrever) são consideradas erradas, não pertencentes à língua. Definir 
língua desta forma é esconder vários fatos, alguns escandalosamente 
óbvios. Dentre eles está o fato de que todos ouvimos diariamente pes-
soas falando diversamente, isto é, segundo regras parcialmente diver-
sas, conforme quem fala seja de uma ou de outra região, de uma ou de 
outra classe social, fale com um interlocutor de um certo perfil ou de 
outro, segundo queira vender uma imagem ou outra. Esta definição de 
língua peca, pois, pela exclusão da variedade, por preconceito cultural. 
Esta exclusão não é privilégio de tal concepção, mas o é de uma forma 
especial: a variação é vista como desvio, deturpação de um protótipo. 
Quem fala diferente fala errado. E a isso se associa que pensa errado, 
que não sabe o que quer,etc. Daí a não saber votar, o passo é pequeno. 
É um conceito de língua elitista. (POSSENTI, 1983, on-line, p. 64-65)1.
 
Assim, o primeiro conceito de gramática trazido pelo autor diz respeito a uma 
gramática que prescreve normas e regras, sendo que a língua, nesse caso, fun-
cionaria como instituição segundo a qual requer observância e obediência a 
conceitos e determinações, é a gramática normativa. Já o segundo conceito 
parte da observação daquilo que o falante realmente utiliza em sua realização 
linguística e não daquilo que “deve utilizar”, como no caso anterior, por isso, a 
gramática é chamada de descritiva, nesse conceito. A terceira concepção de gra-
mática está relacionada, segundo o autor, à variedade. Desse modo, uma mesma 
língua poderia ter uma diversidade de manifestações, e a gramática é chamada

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