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Farmacologia – Tratamento medicamentoso 1 Ana Luiza Azevedo de Paula Farmacologia FARMACOLOGIA CASO 4 - TRATAMENTO DE ÚLCERAS GÁSTRICAS FISIOLOGIA DA SECREÇÃO GÁSTRICA DE ÁCIDO A função do sistema digestório consiste em prover nutrientes para o corpo, enquanto o alimento transita pelo tubo digestivo desde a boca, seguindo pelo esôfago, o estômago e os intestinos, antes de ser esvaziado. O trato gastrointestinal realiza a digestão dos alimentos, porém não digere a si mesmo. Abriga grande quantidade de bactérias, mais que o próprio número de células do corpo humano, sendo que o ácido clorídrico gástrico, bem como o muco, previnem a multiplicação anormal da microbiota e acúmulo de seus produtos, prevenindo danos aos órgãos. Os mecanismos por trás dessas habilidades variam, mas uma das principais razões refere-se às suas secreções glandulares. As glândulas secretoras desempenham duas funções primárias: a secretora, com a produção de enzimas e muco, e a função de proteção do tubo digestivo. As secreções das glândulas do trato gastrintestinal e órgãos associados ocorrem em resposta aos alimentos que trafegam ao longo do tubo digestivo, tornando-os, portanto, passíveis de serem absorvidos. Desse modo, para cada tipo de secreção é importante compreender sua composição e sua função no organismo, além de sua formação e seu controle. Existem vários tipos de secreções do trato gastrointestinal, como as relacionadas com mecanismos neuroendócrinos, endócrinos e exócrinos. A primeira envolve neurotransmissores e/ou neuromoduladores; a endócrina, envolvendo hormônios, enquanto a última envolve mucosa, serosa e/ou hidroeletrólitos As secreções mais importantes são as salivar, gástrica, pancreática, hepática e as do intestino delgado. A secreção salivar é constituída por grandes quantidades de muco e, também, enzimas como a ptialina, uma enzima que inicia a digestão de compostos amiláceos. A secreção gástrica é formada por grande quantidade de ácido clorídrico e da enzima pepsina, ambos muito importantes para o início da digestão de proteínas. O pâncreas contribui com grandes quantidades de tripsina, utilizada para a continuação da digestão de proteínas, além de amilase e lipase pancreáticas, para a digestão de carboidratos e gorduras, respectivamente. Ainda, a secreção pancreática contém concentrações elevadas de bicarbonato de sódio, necessário para a neutralização de ácidos que chegam ao duodeno, provenientes do estômago. Já o fígado, contribui para a digestão com a secreção de bile, rica em sais biliares, o que favorece a emulsificação das gorduras. As secreções do intestino delgado contém altos teores de muco, água e eletrólitos, não obstante suas células epiteliais que recobrem as vilosidades contém peptidases, para a etapa final da digestão das proteínas, além de sucrase, lactase e maltase, para a finalização da digestão de carboidratos, e ainda, pequena quantidade de lipase intestinal, útil para a digestão de gorduras. Ana Luiza Azevedo de Paula Medicina 2 Farmacologia – Tratamento de úlceras gástricas O ácido clorídrico (HCl) é secretado pelas células parietais por ação da bomba de prótons (H+/K+ ATPase); esta se localiza em canalículos presentes no citoplasma. Quando tais células são estimuladas, seus canalículos apicais se fundem às microvilosidades e a secreção ácida acontece em grande quantidade. Três substâncias endógenas estimulam a secreção de ácido pelo estômago, agindo em receptores nas células parietais: A acetilcolina é liberada pela estimulação vaGal do estômago, influenciada pela visão do alimento, olfato e paladar. A secreção ácida noturna também é mediada pelo vago. A acetilcolina age sobre receptores muscarínicos. A histamina é produzida pelas células enterocromafim-like (células ECL), localizadas próximas às células parietais, nas glândulas oxínticas; sua ação se faz de forma parácrina (efeito em células da redondeza). Atualmente se sabe que a acetilcolina e a gastrina agem principalmente por estimular as células ECL a secretarem histamina! A gastrina é produzida pelas células G, pre- sentes no antro gástrico, em resposta a diversos estímulos. Os principais incluem aumento do pH do conteúdo gástrico, presença de peptídeos e aminoácidos dietéticos (fenilala- nina e tirosina) e distensão gástrica. A gastrina estimula a secreção ácida tanto de for- ma indireta (através do estímulo às células ECL), quanto direta (por meio de seus receptores nas células parietais). DOENÇA ULCEROSA PÉPTICA A úlcera é uma ferida que pode ocorrer em diversas partes do organismo, como na pele e no cólon (colite ulcerativa), por exemplo. Quando se fala em úlcera, porém, quase sempre as pessoas se referem às úlceras pépticas, isto é, às úlceras gástricas que surgem no estômago, às úlceras do duodeno, na junção do estômago com o intestino delgado, e mesmo às do esôfago que são mais raras. Os ácidos estomacais, especialmente o clorídrico, são muito fortes. Num estômago normal e saudável, sua ação restringe-se somente aos alimentos, mas, em determinadas situações, eles podem atacar o revestimento do trato digestivo e provocar o aparecimento de uma úlcera que destrói a parede estomacal e do duodeno. Uma das causas é a bactéria Helicobacter pylori: Esse micro-organismo pode atacar a parede estomacal de pessoas com predisposição para a doença. Erradicada a infecção, a úlcera tende a desaparecer. Ana Luiza Azevedo de Paula Medicina 3 Farmacologia – Tratamento de úlceras gástricas H.PYLORI O H. pylori é uma bactéria dotada de cílios compridos que lhe permitem fixar-se à superfície da mucosa gástrica. A afinidade do H. pylori pelas células mucíparas gástricas deve-se à composição neutra do muco gástrico, diferente dos mucopolissacarídeos ácidos produzidos pelas células caliciformes da metaplasia intestinal. A resistência ao ácido clorídrico é de vital importância na patogênese do H. pylori, visto que, sem este atributo biológico, a bactéria não teria condições de colonizar a mucosa gástrica. A enzima urease, que é uma proteína de alto peso molecular, atua promovendo a hidrólise da uréia, presente em condições fisiológicas no suco gástrico, levando à produção de amônia. Esta atua como receptor de íons H+, gerando pH neutro no interior da bactéria, o que confere ao H. pylori resistência à acidez gástrica. Desta maneira, a bactéria fica protegida dos efeitos deletérios do pH ácido do estômago. O H. pylori também possui adesinas que o permitem colonizar a mucosa gástrica, ligando- se às células epiteliais, envolto pela camada de muco. Algumas proteínas da bactéria são capazes de induzir a formação de citoquinas (especialmen- te a IL-8) por células da lâmina própria, estimulando quimiotaxia para neutrófilos e linfócitos . A maior liberação local do fator de ativação plaquetária promove trombose dos vasos capilares superficiais e isquemia. Além disso, o H. pylori move-se facilmente devido à morfologia em espiral e aos flagelos e, assim, atravessa a camada de muco, estabelecendo íntimo contato com as células epiteliais de revestimento. TRATAMENTO DO H. PYLORI O tratamento da infecção por H. pylori utiliza antibióticos de amplo espectro, como amoxicilina ou tetraciclina, combinada com metronidazol ou claritromicina O tratamento farmacológico visa à redução da acidez do conteúdo gástrico somada à erradicação do Helicobacter pylori, quando a bactéria se encontra presente. O tratamento da infecção por H. pylori utiliza antibióticos de amplo espectro, como amoxicilina ou tetraciclina, combinada com metronidazol ou claritromicina. Os agentesdisponíveis podem ser divididos em fármacos que: (1) Diminuem a secreção de ácido (2) Neutralizam o ácido (3) Promovem a defesa da mucosa (4) Modificam os fatores de risco Os antagonistas dos receptores H2 (bloqueadores H2) inibem a ativação do receptor H2 de histamina pela histamina endógena. Os antagonistas muscarínicos inibem a sinalização através do receptor muscarínico M3 de acetilcolina (ACh). Os inibidores da bomba de prótons diminuem a atividade da H+/K+-ATPase na membrana canalicular da célula parietal. Os antiácidos neutralizam o ácido na luz gástrica. Os agentes de revestimento Ana Luiza Azevedo de Paula Medicina 4 Farmacologia – Tratamento de úlceras gástricas proporcionam uma camada protetora sobre a superfície epitelial da mucosa gástrica. O bismuto e os antibióticos têm, como ação, erradicar o H. pylori da camada mucosa que reveste a mucosa gástrica. A infecção por H. pylori constitui um importante fator contribuinte na patogenia da doença ulcerosa péptica. AINES Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) encontram-se entre os medicamentos mais prescritos em todo o mundo. São utilizados principalmente no tratamento da inflamação, dor e edema, como também nas osteoartrites, artrite reumatoide e distúrbios músculo-esqueléticos. Essa classe heterogênea de fármacos inclui a aspirina e vários outros agentes inibidores da ciclo-oxigenase (COX). Os AINEs não seletivos são os mais antigos, designados tradicionais ou convencionais. Os AINEs seletivos para a COX-2 são designados COXIBEs2. Nos últimos anos, tem sido questionada a segurança do uso dos AINEs na prática clínica, particularmente dos inibidores seletivos da COX-2 em presença de determinadas condições e doenças, o que levou à retirada de alguns desses fármacos do mercado. Os AINEs tradicionais podem apresentar padrão de seletividade COX-2 similar ao dos COXIBEs, como é o caso do diclofenaco comparado com o celecoxibe, ou serem inibidores mais ativos da COX-1, como naproxeno e ibuprofeno. As diferenças nos efeitos biológicos dos inibidores da COX resultam do grau de seletividade para as duas isoenzimas, das variações teciduais específicas em sua distribuição e das enzimas que convertem a PGH2 em prostanoides específicos. Os AINEs não seletivos da COX inibem a produção de prostaglandinas na mucosa gastrointestinal, podendo causar gastroduadinite, úlcera gástrica e sangramento digestivo. Esses AINEs, como a aspirina, reduzem a produção plaquetária de TXA2, devido ao bloqueio da COX-1, e previnem a trombose arterial. INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS (IBPS) Atuam na H+/K+ATPase, inibindo diretamente o mecanismo de secreção de HCl da célula parietal, sendo considerados os antissecretores de Ana Luiza Azevedo de Paula Medicina 5 Farmacologia – Tratamento de úlceras gástricas primeira escolha para o tratamento da DUP. • PRÓ-FÁRMACOS •ADMINISTRAÇÃO: 1H ANTES DA REFEIÇÃO • EFEITO: até 18h Após a administração, o início de ação dos IBPs é rápido, com o efeito inibitório máximo na secreção ácida ocorrendo dentro de duas a seis horas. Esses agentes atuam com maior eficácia quando a bomba de prótons se encontra ativa- da, daí a recomendação de serem administrados em jejum. A secreção ácida retorna totalmente ao normal somente após 7 a 14 dias da suspensão da medicação. Como vimos antes, o uso de IBP pode levar à hipergastrinemia e consequente efeito trófico sobre as células ECL e células parietais. A gastrinemia também costuma retornar ao normal uma a duas semanas após a interrupção da droga. INDICAÇÕES CLÍNICAS • Úlceras hemorrágicas • Úlceras associadas com o H. pylori • Permitir o uso contínuo de AINE em paciente com úlcera péptica conhecida EFEITOS ADVERSOS • Hipersecreção de gastrina: hiperplasia celular • Secreção de rebote de ácido gástrico • Infecções entéricas BLOQUEADORES H2 Os antagonistas dos receptores H2 (bloqueadores H2) inibem a ativação do receptor H2 de histamina pela histamina endógena. Os antagonistas muscarínicos inibem a sinalização através do receptor muscarínico M3 de acetilcolina (ACh). Os inibidores da bomba de prótons diminuem a atividade da H+/K+-ATPase na membrana canalicular da célula parietal. Os antiácidos neutralizam o ácido na luz gástrica. Os agentes de revestimento proporcionam uma camada protetora sobre a superfície epitelial da mucosa gástrica. O bismuto e os antibióticos têm, como ação, erradicar o H. pylori da camada mucosa que reveste a mucosa gástrica. A infecção por H. pylori constitui um importante fator contribuinte na patogenia da doença ulcerosa péptica. Bloqueiam competitivamente os receptores H2 de histamina das células parietais, responsáveis pelo estímulo à produção de ácido gástrico – tais células, além de ficarem menos responsivas aos efeitos estimulantes da histamina, também ficam menos responsivas à acetilcolina e à gastrina. Ana Luiza Azevedo de Paula Medicina 6 Farmacologia – Tratamento de úlceras gástricas Existem diversos BH2, que diferem em termos de potência, efeitos colaterais etc. Os principais agentes disponíveis no mercado são: APLICAÇÕES CLÍNICAS • Úlcera péptica • Refluxo gastroesofágico • Profilaxia de úlcera induzida por estresse INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS (CIMETIDINA) • Alteração do pH intestinal • Cetoconazol (absorvido em meio ácido) • Inibição do CYP450 (2C19 / 3A4) • Lidocaína, fenitoína, quinidina, teofilina e varfarina ANTIÁCIDOS Ao reagirem com o HCl, os antiácidos neutralizam diretamente o pH reduzido do estômago. Atualmente esta classe de drogas é utilizada apenas para alívio dos sintomas. Os antiácidos mais conhecidos são: • Hidróxido de alumínio • Hidróxido de magnésio • Bicarbonato de sódio • Carbonato de cálcio Os hidróxidos de alumínio e magnésio são os mais utilizados e podem ser encontrados em comprimidos ou na forma de gel. Como o hidróxido de alumínio é constipante e o de magnésio é laxante, a maioria das preparações mistura os dois fármacos. Se os antiácidos forem tomados com o estômago vazio, eles rapidamente deixam este local, sendo eficazes por apenas 10-20min. Quando tomados uma hora após as refeições, momento em que a secreção de ácido (reativa) não mais consegue ser tamponada pela comida no estômago, são geralmente efetivos por duas a três horas. Dessa forma, os antiácidos devem ser tomados uma hora após as principais refeições e ao deitar. Os antiácidos que contêm alumínio, quando usados em grande quantidade, podem causar depleção de fosfato pela formação de precipitados intestinais inabsorvíveis. Isso pode resultar em Ana Luiza Azevedo de Paula Medicina 7 Farmacologia – Tratamento de úlceras gástricas anorexia, fraqueza muscular e doença óssea. O uso a longo prazo do carbonato de cálcio, como antiácido, pode levar à s hipercalcemia, hiperfosfatemia e calcinose dos rins, com progressão para insuficiência renal. SUCRALFATO O sucralfato é uma molécula complexa que apresenta em sua estrutura uma porção hidrato de carbono e uma porção inorgânica (alumínio, sulfato). É insolúvel em água e possui consistência viscosa; considerado uma droga citoprotetora, funciona como um protetor da base da úlcera, formando uma película que impede a ação do ácido, da pepsina e dos sais biliares. Além de servir como uma barreira físico- química, a droga estimula ainda a produção de prostaglandinas, bicarbonato e muco. Outra ação importante se dá através de seu efeito trófico sobre o epitélio. Sendo pouco absorvido sistemicamente, o sucralfato apresenta efeitoscolaterais mínimos, como constipação intestinal e náuseas. Devido ao alumínio de sua estrutura, deve ser evitado na presença de insuficiência renal. A dose habitual é 1 g quatro vezes ao dia. Fontes: (Johansson et al., 2013). (Fry, 2009). Transcrição com base no slide da aula
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