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Ana Virgínia Gadelha Coelho Fortaleza-Ceará 2005 Universidade Estadual do Ceará- UECE Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Mestrado Profissional em Gestão de Negócios Turísticos 2 Universidade Estadual do Ceará Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Mestrado Profissional em Gestão de Negócios Turísticos A GESTÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA EM EMPREENDIMENTOS HOTELEIROS: O CASO DO PORTO JANGADA BUSINESS FLAT Ana Virgínia Gadelha Coelho Dissertação apresentada à coordenação do Curso de Mestrado Profissional em Gestão de Negócios Turísticos, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Turismo. Área de Concentração: Custos em Hotelaria. Orientadoras: Prof.a Dr.a Luzia Neide Menezes Teixeira Coriolano e Profa. Ms. Ana Maria Matos Araújo Fortaleza, abril de 2005. 3 Universidade Estadual do Ceará Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Mestrado Profissional em Gestão de Negócios Turísticos A GESTÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA EM EMPREENDIMENTOS HOTELEIROS: O CASO DO PORTO JANGADA BUSINESS FLAT Ana Virgínia Gadelha Coelho Defesa em: ____/____/____ Conceito Obtido: ______ Banca Examinadora Orientadora: Profa. Dra. Luzia Neide M.T. Coriolano Orientadora: Profa. Ms. Ana Maria Matos Araújo Prof. Dr. Paulo César Sousa Batista Profa. Dra. Sandra Maia F. Vasconcelos 4 A minha filha, Odayna Gadelha Coelho Ellery, para que lhe sirva de exemplo e que lhe seja motivo de orgulho. 5 AGRADECIMENTOS A DEUS que me deu vida, a inteligência, e que me dá força para continuar a caminhada em busca dos meus objetivos. A professora Ana Maria Matos Araújo pela dedicação e paciência na realização deste trabalho, que sem a sua importante ajuda não teria sido concretizado. E a professora Luzia Neide M. T. Coriolano que acreditou em mim e me mostrou o melhor caminho a ser seguido. A minha mãe Maria de Nazaré Gadelha, ao meu pai José Selmo Coelho e o meu grande amigo Francisco Hélio Germano Correia que me ensinaram a não temer desafios e a superar os obstáculos com humildade. A minha avó Maria Zenir Gadelha, pela grande mulher que foi, pelo exemplo de coragem e persistência, pelo carinho e dedicação e por me ensinar a aceitar os desígnios de DEUS. Aos meus tios Geraldo de Lima Gadelha Filho e Francisco Agileu de Lima Gadelha e a minha amiga Ana Lúcia Teixeira Coelho pelo incentivo e sugestões dadas para a realização da Monografia. Aos meus primos Helly Pinheiro Ellery Filho e Manuela Machado Gadelha, pelo auxílio nas traduções e na confecção das imagens fotográficas. Aos meus irmãos José Selmo Coelho Filho e Samuel Gadelha Coelho, e a minha querida amiga Regina de Sousa Maciel pelo incentivo e apoio durante a realização da dissertação. Ao meu esposo Odijas de Pinho Ellery e a minha filha Odayna Gadelha Coelho Ellery, que, além de tudo, tiveram que compreender os momentos de minha ausência. Aos professores Paulo César de Sousa Batista e Sandra Maria F. Vasconcelos por participarem da minha qualificação e da minha banca examinadora. E em especial, ao meu amigo Antonio Carlos Macedo Leitão, síndico e gerente do Condomínio Edifício Porto Jangada Residence durante a maior parte do período da pesquisa, que sem a sua confiança na minha seriedade e no meu trabalho, a realização deste trabalho não teria sido possível. 6 RESUMO No contexto de mundialização e crescimento do turismo, surge a partir do final do século XX uma diferente modalidade de meio de hospedagem: os flats. Com o intuito de prestar esclarecimento sobre esse novo tipo de empreendimento turístico, é que foi elaborada essa dissertação, dando ênfase a gestão econômico-financeira dos preços, como ferramenta importante para a garantia de rentabilidade aos seus investidores e como sobrevivência e progresso dessa nova forma de hospedar. O estudo desenvolvido nesta pesquisa tem como objeto o Porto Jangada Business Flat. Inaugurado no ano 2000, em meio ao boom dos flats na Cidade de Fortaleza, o Porto Jangada se desenvolve em um mercado de grandes concorrências e é surpreendido por grandes entraves econômicos mundiais, como os acontecimentos do 11 de setembro de 2002, em Nova York, por exemplo. Para constituir cientificamente esta pesquisa, se buscou um embasamento teórico a respeito de turismo, hotelaria, economia do turismo e acerca dos flats propriamente ditos. Posteriormente, passou-se à elaboração da parte prática da pesquisa constante da análise dos dados coletados durante os anos de 2001, 2002 e 2003, no próprio local estudado. Verificando a importância da aplicação de recursos técnicos de análises de elaboração de preços, distribuição de custos, lucratividade e rentabilidade, verificamos que o flat nada mais é do que um empreendimento misto (turístico-imobiliário), que tem pouco tempo de atuação no mercado. Não possui uma legislação clara para regulamentá-lo e, por tal razão, somente uma gestão econômico- financeira correta e comprometida com os resultados fará com que os investidores passem a ver com bons olhos novamente esse tipo de empreendimento no mercado hoteleiro de Fortaleza. 7 ABSTRACT Inside of the globalization context and growth of the tourism, it appears starting from the end of the century XX a new modality of middle of lodging: the flats. In the intention of clearing the society on that new type of tourist enterprise, we solved for lecturing regarding the subject, giving emphasis your economical-financial administration of the prices, while important tool for the profitability warranty to your investors and, therefore, the survival of the same. The study developed in this research he/she has as object the Porto Jangada Business Flat. Inaugurating in the year 2000, amid the "boom" of the flats in the city of Fortaleza, Porto Jangada, grows at a market of great competitions and it is surprised by great world economical fetter, as the events of the September 11, 2002, in New York, for instance. To constitute this research scientifically, we had to look for a theoretical base regarding tourism, hostelry, and economy of the tourism and on the flats properly said. Later, we passed the practical part of the research of analysis of the data collected during the years of 2001, 2002 and 2003, in Porto Jangada. Verifying the importance of the application of technical resources of analyses of prices, costs, profit, profitability, we verified that the flat, is nothing else than a mixed enterprise (tourist-real estate), that has little time of performance in the market, that doesn't possess a clear legislation to regulate him and, therefore, only a correct economical-financial administration and committed with the results, he/she will do with that the investors start to see again with good eyes that enterprise type in the hotel market of Fortaleza. 8 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 12 2. TURISMO E HOSPEDAGEM 19 2.1. O turismo: atividade e produto do tempo livre 21 2.2. Um breve histórico sobre a hotelaria no Brasil e no mundo 24 2.3. Os flats: um novo conceito de hospedagem 31 2.4. Aspectos teóricos do mercado turístico 40 2.5. Fatores que interferem na atividade turística 44 2.6. O núcleo receptivo de Fortaleza 48 2.7. O desempenho dos flats no mercado local e brasileiro 55 3. OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS E O ESTUDO DE CASO 63 3.1. Histórico e características gerais do Porto Jangada Business Flat 64 3.2. O ponto de equilíbrio e a formação de preços 78 3.3. Aspectos metodológicos da coleta de dados 89 3.4. Os resultados econômico-financeiros 92 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS113 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 120 ANEXOS 127 Ponto de Equilíbrio Contábil do Porto Jangada em 2001 Ponto de Equilíbrio Econômico do Porto Jangada 2001 Ponto de Equilíbrio Contábil do Porto Jangada em 2002 Ponto de Equilíbrio Econômico do Porto Jangada 2002 Ponto de Equilíbrio Contábil do Porto Jangada em 2003 Ponto de Equilíbrio Econômico do Porto Jangada 2003 9 LISTA DE ABREVIATURAS: ABIH: Associação Brasileira da Indústria de Hotéis BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CAGECE: Companhia de Água e Esgoto do Ceará CNPJ: Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica EMBRATUR: Empresa Brasileira de Turismo EQUIPOTEL: Feira de Exposição de Equipamentos para Hotelaria FINAME: Programa de Financiamento para Máquinas e Equipamentos FOHB: Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil GLP: Gás Liquefeito de Petróleo SETUR-CE: Secretaria de Turismo do Estado do Ceará SUDAM: Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia SUDENE: Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste PIB: Produto Interno Bruto UH: Unidade Habitacional 10 LISTA DE FIGURAS, TABELAS E GRÁFICOS: Figura 01: Planta Baixa da UH do flat Praia Mansa Residence 31 Figura 02: Suíte Master do flat Iate Plaza Flat 32 Figura 03: Suíte Master do flat Brasil Tropical Residence 32 Figura 04: Apto tipo Suíte do Porto Jangada 65 Figura 05: Apto tipo Standard do Porto Jangada 66 Figura 06: Logomarca do Porto Jangada 70 Figura 07: Localização Litorânea do Porto Jangada 73 Figura 08: Vista do Morro Santa Terezinha a partir do Porto Jangada 74 Figura 09: Vista da Orla de Fortaleza a partir do Porto Jangada 76 Figura 10: Escala de Valores Segundo os Tipo de Diárias: Porto Jangada, 2001 – 2003 97 Tabela 01: Grau de Satisfação dos Turistas que Visitaram o Ceará 1999/2000 51 Tabela 02: Avaliação pelos Turistas dos Preços Praticados no Litoral da Região Metropolitana de Fortaleza – 1997/2000 53 Tabela 03: Cadastro de Flats em Fortaleza – Janeiro/2003 56 Tabela 04: Taxa anual de Utilização dos Alojamentos pelos Turistas no Brasil, 2001-2003 57 Tabela 05: Taxa anual de Utilização dos Alojamentos pelos Turistas via Fortaleza, 2001-2003 57 Tabela 06: Oferta Hoteleira em Fortaleza 59 Tabela 07: Oferta Hoteleira no Brasil 59 Tabela 08: Evolução da Taxa de Ocupação da Rede Hoteleira em Fortaleza 60 Tabela 09: Referencial Tarifa – 2000 A 2004 60 Tabela 10: Estabelecimentos por Tipo - Ceará 61 Tabela 11: Estabelecimentos por Referencial de Tarifa - Ceará 61 Tabela 12: Ponto de Equilíbrio do Porto Jangada 105 Tabela 13: Porto Jangada. Diária Média X Diária Mínima – 2001, 2002 e 2003 107 Tabela 14: Lucratividade Média do Porto Jangada 108 Tabela 15: Rentabilidade Média do Porto Jangada 109 Tabela 16: Taxa de Retorno em anos do Porto Jangada 110 Tabela 17: Repasses Efetuados pelo Porto Jangada – 2001, 2002 e 2003 111 11 Gráfico 01: Gasto Percapita/dia nas Capitais do Nordeste 2000 53 Gráfico 02: Principais Mercados Emissores Para o Destino do Ceará Via Fortaleza: 2003 58 Gráfico 03: Total de Apartamentos no Pool do Porto Jangada – 2001 a 2003 93 Gráfico 04: Taxas de Ocupação (%) - 2001, 2002 e 2003 94 Gráfico 05: Taxa de Ocupação: Fortaleza x Porto Jangada - 2001 95 Gráfico 06: Taxa de Ocupação: Fortaleza x Porto Jangada - 2002 95 Gráfico 07: Taxa de Ocupação: Fortaleza x Porto Jangada - 2003 96 Gráfico 08: Diárias Médias - 2001, 2002 e 2003 98 Gráfico 09: Relação entre a Diária Média e o Custo por UH - 2001 99 Gráfico 10: Relação entre a Diária Média e o Custo por UH – 2002 100 Gráfico 11: Relação entre a Diária Média e o Custo por UH – 2003 101 Gráfico 12: Margens de Contribuição - 2001, 2002 e 2003 102 Gráfico 13: Ponto de Equilíbrio Contábil x Ponto de Equilíbrio Econômico 106 12 _____________________________________________________ 1. INTRODUÇÃO _____________________________________________________ Vive-se na atualidade a era da prestação de serviços, que cada vez mais concentra capital e trabalho, além de contribuir na produção das riquezas. Essa expressão dos serviços é comprovada pelos empregos e ocupação terciária e na participação do Produto Interno Bruto (PIB) gerado nas cidades e em diferentes partes do mundo. Dentro dessa economia produtora de serviços pode-se destacar a expansão do turismo, em função da segmentação do mercado e da massificação do produto, além de seu efeito multiplicador na renda entre vários ramos econômicos, nas sociedades desenvolvidas e em diferentes partes do mundo, inclusive nos paises não desenvolvidos com vantagens natural e cultural, além de estabilidade política. No Ceará e em Fortaleza a expansão do mercado turístico deu-se, sobretudo nos anos 90, como resultado de uma política pública mais agressiva adotada desde meados da década anterior. O Governo Estadual, financiado pelo capital estrangeiro, dotou Fortaleza e alguns principais núcleos receptivos de infra-estrutura, promovendo o incentivo aos investimentos privados, aproveitando o potencial turístico local, notadamente de suas praias, e a partir de sua Capital. A expectativa do Governo era de geração de riqueza e de tributos, além de proporcionar alguns empregos permanentes e outros temporários. A evolução no número de turistas para Fortaleza foi tão expressiva que em menos de 10 anos, considerando o período de 1994 a 2002, cresceu de 227,54%, atingindo uma população flutuante anual que se aproximava da população residente em Fortaleza, em 2000, com pouco mais de dois milhões de habitantes, evoluindo de 716 mil turistas ao ano, para 1.629 mil. A demanda dos meios de hospedagem experimentou um crescimento relativo ainda maior, de 243,66%, tendo maior contribuição da oferta hoteleira, que em 2002 garantia a hospedagem para 69% da demanda, que também passou por um expressivo impulso na capacidade de atendimento, evoluindo no período 13 em 51%. Os flats com 18% da demanda cresceram no atendimento em cerca de 28%, posicionando melhor no mercado que as pousadas, com maior número de estabelecimentos (SETUR, 2002). Mas essa concentração do movimento turístico na capital não é de todo positiva. Ao mesmo tempo em que favorece e incentiva a inversão privada no setor e conseqüentemente para outros setores complementares acirra a competição entre empresas e localidades. Também, muitos são os problemas ambientais gerados a partir de investimentos públicos massivos na orla marítima de Fortaleza, realizados em beneficio do corredor turístico principal deste núcleo e em detrimento de parte da população local. Maior participação no mercado é atingida pelas grandes empresas que conseguem administrar os seus custos fixos nos períodos de baixa estação, para garantir melhores resultados na alta estação. São elas que tiram vantagens locacionais desse corredor turístico mais procurado, visando proporcionar mais fácil acesso ao turista e melhor infra- estrutura, pagando um preço mais alto e dando uma contribuição maior nos tributos pelo uso valorizado do solo urbano. As pequenas empresas, como as pousadas são as que mais sofrem os efeitos da sazonalidade e da concorrência de mercado, embora grandes empresas já tenham cerrado suas portas pelos mesmos motivos, talvez pelas dificuldades na gestão econômico-financeira e na manutenção da lucratividade do setor. Em recente pesquisa realizada por Lima (2005, p.150) constata-se que 30% dos pequenos meios de hospedagem em Fortaleza já foram adquiridos de investidores anteriores, que desistiram desse ramo de negócios, sendo que quase a mesma proporção (29%) ingressou nesse tipo de atividades em 2000, demonstrando uma rotatividade nas pequenas empresas com negócios turísticos de hospedagem, pois a mesma proporção que sai entra no mercado. Os flats com uma posição intermediária entre os grandes e pequenosinvestimentos, na cidade de Fortaleza, entre 1994 e 2002 duplicaram de número, evoluindo de 13 para 27 (SETUR, 2002). Em particular, o interesse pelos flats surgiu na medida em que se constatava que, apesar das oscilações no investimento turístico, da entrada e saída de empresas no 14 mercado na década de 90, esta modalidade de hospedagem atraiu, em curto espaço de tempo, muitos investidores devido à promessa sugestiva de rentabilidade, aumentando, consideravelmente a competitividade dentro do ramo hoteleiro, e até produzindo conflitos e divisões no grupo de empresários de hospedagem. Os flats já chamavam atenção, no Brasil, ao final da década de 1980, enquanto nova modalidade de hospedagem e mais barata, atraindo na população local, um grupo específico de público para ali residir, aumentando expressivamente a oferta hoteleira. A dupla característica, residencial e hoteleira - ao contrário de provocar indefinição, como poderia pensar os menos avisados - foi a principal responsável pelo ingresso de novos investimentos no mercado hoteleiro brasileiro, durante os anos 90. No caso cearense essa especificidade dos flats era reconhecida e valorizada, entretanto, o crescimento rápido e, de certo modo, desorganizado, do número de flats no mercado turístico foi seguido de um bom número de ocorrências de empresas passando por processo de auditorias, sendo obrigadas a mudanças administrativas, pelas dívidas que se acumularam, levando seus investidores a prejuízos imensuráveis, alguns até à falência. Essa mudança no ritmo dos negócios de flats sinalizava um problema de gestão econômica e financeira reforçando nosso interesse pelo tema e direcionando o foco da pesquisa. Pela experiência profissional da pesquisadora e pelo contato com administradores e empresários do ramo, percebeu-se antes do inicio da pesquisa que, se as técnicas de otimização dos recursos hoteleiros conquistavam maior espaço entre os profissionais do turismo, na prática das empresas turísticas não se utilizava administrativamente tais recursos. Em particular o desempenho na área econômico-financeira e nesse tipo de empreendimento nos mostrava que, muitas vezes, a gerência geral não se respaldava em informações técnicas e em critérios racionais, apesar de disponíveis, mesmo quando decidia sobre o preço de venda. Assim, desse breve diagnóstico do setor, despertou a curiosidade sobre o problema, resultando em vários questionamentos, que, a luz do curso de mestrado, foram sendo delimitadas e melhor se definindo como pesquisa, culminando com as seguintes: Como utilizar métodos econômico-financeiros no tratamento das informações disponíveis nos sistemas hoteleiros para auxiliar na formação de preços de um flat? Quais são as determinações do mercado sobre os preços a serem praticados por um 15 flat? Qual a relação entre o preço e a rentabilidade de um flat? Que especificidades os flats possuiriam para manter posição no mercado e atrair novos investimentos? Mesmo sem utilizar métodos econômico-financeiros para formar seus preços de venda, um flat poderia gerar lucro e trazer rentabilidade para o investidor? Portanto, como objetivo geral buscou-se verificar a importância da gestão econômica e financeira para formação dos preços e garantia de lucratividade e rentabilidade dos investimentos financeiros aplicados em flats, no mercado de Fortaleza. Em termos específicos, pretendia-se, pelo uso de técnicas contábeis, acomodar as informações fornecidas pelos sistemas hoteleiros no sentido de melhorar a gerência dos custos e aprimoramento dos métodos utilizados na elaboração dos preços, analisando os resultados obtidos e desejados no empreendimento estudado, no período de 2001-2003 (período no qual se obteve as informações necessárias); avaliaram-se as condições específicas e gerais do empreendimento em apreço em termos de mercado e de localização, observando suas implicações sobre os resultados; examinaram-se a partir das características de um flat os fatores determinantes na atração dos consumidores e dos investidores para o segmento; além de estabelecer outras relações com o segmento da hospedagem. Por recurso metodológico, adotou-se o clássico levantamento bibliográfico, investigando sobre a teoria econômica e financeira, de um modo geral sobre a hospedagem e as poucas pesquisas sobre a história dos flats. Apesar da dificuldade de acesso a bibliografia especifica sobre o tema foi possível a realização deste estudo, através da reconstituição de sua história e evolução, adaptando-se as informações disponíveis sobre a hotelaria e o turismo em geral às constatações especificas provenientes de artigos sobre flats, levando em consideração, inclusive, as opiniões de pessoas influentes no mercado hoteleiro do Brasil, além de contar com a experiência profissional da pesquisadora. O uso de informações estatísticas oficiais (da EMBRATUR e da SETUR) foi tão importante quanto daquelas produzidas pela iniciativa privada (HOTEL ON LINE). Mas, o lado prático da análise somente foi possível por se utilizar o estudo do caso de um empreendimento localizado em Fortaleza - o Porto Jangada Business Flat. Vários foram os fatores porque se escolheu o estudo de caso e este empreendimento. Inicialmente, considerou-se serem indispensáveis casos concretos 16 com informações econômico-financeiras à realização desta pesquisa cujo objetivo geral seria inviável se isto não ocorresse. Por outro lado, tendo em vista a facilidade de acesso aos dados reais de receitas e custos deste empreendimento, contradizendo a prática usual, onde esse tipo de informação não se encontra disponível nos meios acadêmicos, e dificilmente é disponibilizada pelas empresas em geral. A respeito deste empreendimento especificamente, considerou-se o fato de ele ter sido inaugurado em julho de 2000, e logo haver adotado um sistema de gestão confiável, aberto e disponível para os anos de 2001, 2002 e 2003, correspondentes ao período de crescimento do empreendimento (GIACOMINI FILHO, 2001). Assim, pode-se considerar o estudo de caso do Porto Jangada Business Flat como um exemplo de lição para a compreensão do fenômeno imobiliário-turístico dos flats em Fortaleza, por ter sido criado e sobrevivido no mesmo período em que a maioria dos flats na Cidade estava em crise sob efeito de várias especulações experimentadas no setor e em face das conjunturas desfavoráveis na economia brasileira e mundial. Acreditava-se enfim, que se o estudo de caso limitava a generalização para o segmento turístico, serviria, entretanto como exemplo a ser verificado por outras pesquisas ou na prática de outros empreendimentos, tornando-se um modelo a ser perseguido. Com esse caso, foi possível examinar, na prática, como acontece a formação dos preços deste tipo de empresa existente no mercado turístico em Fortaleza, à luz da teoria exposta nas disciplinas durante o Curso de Mestrado, especialmente na Economia do Turismo e nas ministradas em Barcelona, obedecendo ao convênio firmado entre a UECE e a Universidade de Barcelona, na Espanha. Visando à aplicabilidade dessas teorias e técnicas aprendidas e/ou aperfeiçoadas, considerou-se o tema como um campo ideal para demonstrar o aprendizado desse referencial teórico, agregando ao conhecimento técnico anterior o recente conhecimento teórico. Em termos operacionais, na primeira fase da pesquisa foram fichados diversos textos que contribuíram para esclarecer o problema desta pesquisa. Recorreu-se não apenas aos textos disponibilizados pelo Mestrado, mas a importantes obras, que nos trouxeram informações acerca de turismo, hotelaria, mercado turístico, custos e preços. Com os dados do Porto Jangada Business Flat, foram calculados o ponto de equilíbrio entre o preço, os custos e a quantidade vendida; e, posteriormente encontraram-se os 17 resultados econômico-financeiros, que,expostos em forma de tabelas e gráficos deram suporte a realização de nossos objetivos. Mediante o estudo da formação dos preços nos flats, constatou-se meios exeqüíveis de formação dos preços de hospedagem, complementando as informações de mercado, associando a estas o controle de gastos, e atentando para a legislação atual. Segundo Tovar (1995), a política de preços deve ser elaborada tomando como base os fatores que influenciam na sua formação como a demanda, a disposição dos consumidores, os custos, os concorrentes. Todos estes são conhecimentos indispensáveis à racionalidade administrativa e à tomada de decisões. A variável “custo" mostra-se tão importante quanto os preços, pois auxilia na formação deles e na delimitação das margens de lucro. Sua estrutura deve ser examinada e criticada, cotejando as despesas em determinados itens, ou a forma de reduzi-los, ou seja, gerenciar custos é, de certo modo, controlar os preços e o lucro, é saber sobreviver à baixa estação na hospedagem e aproveitar melhor os períodos de alta temporada (CASTELLI, 2001). Apoiando-se nas argumentações de Ansarah (2001), considerou-se a rentabilidade de um investimento como a capacidade que o empreendimento tem de proporcionar acumulação e retorno ao capital investido. Para tanto, o empreendimento tem que ser viável, sendo a viabilidade identificada anteriormente à instalação do empreendimento, revelando o potencial do produto antes de sua efetiva comercialização. Sobretudo, é preciso haver lucratividade, em matéria não apenas operacional, mas também com resultado líquido mensal positivo. Assim, não bastaria definir preços, ou administrar custos, a lucratividade é que garantiria a rentabilidade do empreendimento, uma premissa a se verificar com estudo de caso dos flats em Fortaleza. Esta é uma pesquisa simultaneamente científica e de mercado, típica de um curso profissionalizante, pois respaldada na teoria possui ligações diretas com cotidiano da empresa, ou seja, assemelha-se àquelas que “produzem informações sobre negócios turísticos em particular (...), medindo (...) intenções e expectativas” do mercado como um todo (DENCKER, 2000). Em termos estruturais, a dissertação foi dividida em quatro capítulos, compreendendo uma introdução à pesquisa, com breve descrição da problemática e de 18 seus procedimentos metodológicos operacionais e principais conceitos; seguido de uma contextualização do objeto da pesquisa, trazendo observações sobre o comportamento do mercado turístico de Fortaleza, e sobre a demanda e o comportamento dos flats na oferta hoteleira; ato contínuo foi desenvolvido um referencial teórico, fundamentando o estudo de caso propriamente dito, analisando seus resultados e aplicabilidade dentro do setor, buscando respostas para os questionamentos iniciais e possibilitando a elaboração de considerações finais sobre o assunto. Como resultado mais abrangente, tem-se a oportunidade de dar mais esclarecimentos sobre a problemática criada pelos flats no mercado hoteleiro no Brasil, através de uma análise técnico-científica dos aspectos apresentados dessa realidade. Embora se reconheça a limitação de um estudo de caso, defende-se o mérito de nos servir de lição e como pistas para novas investigações, com as quais espera-se contribuir para a formação do conhecimento científico que, uma vez repassado a empresários e/ou gestores, poderá proporcionar melhor rendimento aos sócios-proprietários dos flats e harmonizar a convivência destes com os demais empreendimentos hoteleiros existentes no mercado turístico. 19 ___________________________________________________ 2. TURISMO E HOSPEDAGEM ____________________________________________________ A fase atual da globalização determinou um dos processos de mudança mais significativos na história da humanidade. Em Mészáros, constatam-se essas transformações pelas contradições existentes na sociedade atual, produtora de mercadorias sob as razões do capital. Ao mesmo tempo em que as atividades capitalistas necessitam de recursos humanos e naturais, também destroem e dispensam força de trabalho e degradam o meio ambiente, através da: relação metabólica entre homem, tecnologia e natureza”. Conforme o Filósofo húngaro, há um “aprofundamento da separação entre, de um lado, a produção voltada genuinamente para o atendimento das necessidades e, de outro, as necessidades de sua auto-reprodução [do capital]. E quanto mais aumenta a competitividade e a concorrência intercapitais, mais nefastas são as conseqüências (Mészáros, 2002, p. 18). A maior contradição relativa ao turismo está, por um lado, no fato de o desemprego assumir uma das faces mais cruéis da sociedade capitalista, e, portanto, limitar o número daqueles que podem dele usufruir. Em contrapartida, dando destaque ao tempo do ócio, torna-se cada vez maior as chances da humanidade de gozar o prazer e as benesses do desenvolvimento tecnológico. O turismo necessita de trabalhadores e ao mesmo tempo de pessoas com tempo livre. Para a atividade turística, os espaços naturais e produzidos são a matéria-prima a oferecer aos clientes, logo, são fundamentais: a conservação da natureza, a manutenção da cultura, a preservação dos patrimônios históricos, sociais e ambientais, aspectos nem sempre respeitados pela maioria daqueles que produzem ou gozam o turismo. Não apenas a indústria é objeto de transformações nesta fase da globalização, como pensariam os economistas mais clássicos. O setor de serviços passa por profundas alterações em conseqüência da valorização do capital financeiro associado ao industrial (CHESNAIS, 1996). Neste sentido, cada vez mais, a competição e a concorrência em um mesmo tipo de serviço tende a se acirrar. 20 Tecnologia, qualidade e atendimento ao cliente tornaram-se as estratégias centrais das políticas de mercado. Conquistar um cliente hoje, entretanto, não é somente atender as suas necessidades, mas sim, descobrir seus desejos, expectativas e ansiedades para satisfazê-los. Uma empresa para se manter no mercado, deve então ser excelente, e, para tanto, possuir um diferencial, no produto ou no preço. Para De Masi (2000, p.13), houve uma mudança rápida, considerando a história da humanidade. A fase atual – do tempo do ócio - teve como antecedente uma revolução anterior - do tempo do trabalho. Em menos de três séculos, a população deixou a vida nos campos e áreas rurais, para viver notadamente nas cidades, metrópoles, vilas e pequenos núcleos urbanos. Ao mesmo tempo, foi uma revolução que transformou camponeses e artesãos em “trabalhadores ‘subordinados’ e os tempos e lugares de trabalho passaram a não depender mais da natureza, mas das regras empresariais e dos ritmos da máquina, dos quais o operário não passava de uma engrenagem”. Na atualidade, com o desenvolvimento da produtividade, de novas organizações e da tecnologia, que permitiram produzir e reproduzir o capital, estão postas as condições de liberação definitiva do “trabalho desgastante e de somar as vantagens de bem-estar industrial as vantagens que gozavam os homens livres da Grécia antiga: tempo disponível, autonomia, ócio criativo e levando à arte”. Contudo, as organizações sociais, contudo, não conseguem acompanhar o desenvolvimento tecnológico, e apenas uma minoria dos trabalhadores pode usufruir o tempo do ócio e fazer turismo, enquanto uma maioria continua trabalhando para sobreviver, sem tempo e dinheiro para o lazer, pois, ainda segundo De Masi (op.cit. p.15), as máquinas mudam muito mais velozmente do que os hábitos, as mentalidades e as normas. Precisaria distribuir eqüitativamente a riqueza (que aumenta) e o trabalho (que diminui); entretanto, alarga-se a distância entre alguns que trabalham e ganham cada vez mais e outros que são forçados à inércia e à miséria. Sem entrar no mérito ou demérito dos que defendemo fim da sociedade do trabalho nem daqueles que reafirmam sua continuidade, constata-se a importância da prestação de serviços, que é destaque na economia e no desenvolvimento nas cidades pela geração de emprego e pela grande participação no Produto Interno Bruto (PIB) (GIANESI; CORREA, 1966). Por conseguinte, o setor de turismo produz riqueza nas principais cidades do mundo, atingindo até os lugares historicamente excluídos pelo capitalismo. 21 O turismo, porém, experimentou várias trajetórias, conforme as especificidades dos lugares, das populações receptoras, das formas de organizações da produção e, em particular, dos modos como empresários e comunidades acomodam e hospedam seus clientes preferenciais - os turistas. Em particular, ressalta-se o processo de “turistificação”1 de Fortaleza, que pode ser compreendido pelo fato de a Cidade oferecer condições de desenvolvimento, pois lugar do território cearense de todos os capitais e de todos os trabalhos, sobretudo pelo destaque do turismo na atual fase de acumulação ampliada do capital, que chegou a contribuir em 2001 com cerca de 7,2% do PIB (SETUR, 2002). Em Vainer, pode-se ler o papel da cidade de Fortaleza para o turismo por sua não- neutralidade como herdeira do passado e de desigualdades estruturais, que podem ser aprofundadas pela própria Cidade. A Cidade constitui mecanismo de produção de riqueza. Os investidores que desejam conquistar a cidade buscam o que está eternizado em suas ruas, mas, sobretudo nos mecanismos de reprodução, exploração e dominação que surgem das articulações regionais, nacionais e internacionais (VAINER, 2002, p. 27). A atividade turística avança no mercado globalizado atendendo as necessidades de lazer, de fuga de estresse urbano do cotidiano, da violência das metrópoles, da busca de paisagens mais naturais, mas sempre atendendo as necessidades de consumidores com tempo livre. 2.1. O turismo: atividade e produto do tempo livre A revolução tecnológica do mundo contemporâneo incrementou os processos operacionais, administrativos e financeiros nas organizações industriais e terciárias, avançando sobre as empresas atuantes no mercado turístico globalizado. Entretanto, não se pode comparar a tecnologia e o aumento da produtividade que liberou o homem do trabalho mecânico e repetitivo da primeira Revolução Industrial, com o recentemente introduzido através da informatização, criando novos paradigmas sequer imaginado a menos de um século, tais como o do trabalho virtual, da supervalorização do conhecimento e da sociedade do “tempo livre”. 1 “Turistificação” é neologismo não dicionarizado, e pode ser entendido como processo de produção do espaço turístico pelas empresas capitalistas. 22 Toda essa transformação cultural no plano mundial teria por finalidade o desenvolvimento do ser humano e o atendimento de suas necessidades, não fossem as desigualdades sociais e espaciais. O lazer seria uma das conseqüências do tempo livre que adquiriria maior dimensão do que nos dias atuais, influenciando as decisões individuais e coletivas e estimulando o crescimento do turismo, que continua limitado a uma parcela da população que possui renda para tanto. Segundo Wahab (1972, p.55), o turismo, mais do que lazer é fruto das necessidades de interações sociais, culturais, geográficas e políticas, entre os lugares e as populações, na medida em que o define como uma atividade humana intencional que serve de comunicação e como elo de interação entre os povos, tanto de um mesmo país como fora dos limites geográficos dos países. Ele acaba por envolver os deslocamento temporário de pessoas para outras regiões, países ou continentes, visando a satisfação de necessidades outras que não o exercício de uma função remunerada. A discussão passa entre os que acreditam que a necessidade de viajar é algo criado pela classe dominante, pelo sistema capitalista de produção, enquanto outros apontam os anseios internos dos seres humanos de contato com a natureza, de ânsia por liberdade e independência, para também realizarem viagens. Neste aspecto, considerando-se anseios internos como algo não inerente ao homem e seus padrões ideológicos, sendo a viagem algo necessário aos indivíduos, independente dos estímulos criados pela mídia, ou por sua classe social. De qualquer forma, se pode observar perspectivas gerais cada vez mais promissoras para o turismo. Na óptica empresarial, “o turismo é uma máquina limpa de gerar empregos e oportunidades, movimentando dezenas de setores diferentes da economia” (FIRMIN ANTONIO, 2001). Realmente, esta parece ser a visão de um conjunto maior de empresários, a tirar pela realização do 42º EQUIPOTEL, que aconteceu em 30 de setembro de 2004, em São Paulo. O evento reuniu, em 50 mil metros quadrados, 52 expositores dos três setores da economia, responsáveis por cerca de 25% do PIB nacional, com um potencial de negócios da ordem de US$ 8,25 bilhões. Na ocasião, objetivava-se atrair empresários e proprietários de empresas com poder de decisão de compras nas áreas de serviços, comércio e indústria. E as empresas exibiram, para milhares de visitantes, produtos e 23 serviços no ramo de alimentos e bebidas; aquecimento; cama, mesa e banho; construção; copa e cozinha industrial; decoração; equipamentos eletroeletrônicos e produtos de higiene e limpeza; informática e telecomunicações; lavanderia; piscina, jogos e lazer; refrigeração; som; telefonia; uniformes e veículos utilitários (EQUIPOTEL VOICE, 2004). Por outro lado, o evento serve de demonstrativo das atuais condições de vida nas grandes Cidades que, aglomeradas e congestionadas, portanto, constituem importantes fatores de motivação à prática das viagens. Alguns estudiosos consideram alguns aspectos negativos da vida urbana (ameaça constante da violência, tensão no trânsito, estresses urbanos) como determinantes e justificadores do turismo. “Emerge a indústria do lazer e do turismo, que erige a viagem como única forma de livrar-se das neuroses urbanas, do cotidiano constrangedor das Cidades” (RODRIGUES, 1977, p.127). Há uma relativa unidade de pensamento no grupo de estudiosos, líderes políticos e empresários, que vêem o turismo sob a óptica dos benefícios econômicos, justificando e valorizando a atividade. Neste caso, cita-se a geração de empregos e a atração de impostos. Molina e Rodríguez, por exemplo, ao falarem da evolução do turismo na América Latina, ressaltam a importância econômica para justificar os massivos investimentos de apoio à atividade turística, assinalando que o turismo foi “concebido pela superestrutura dependente latino-americana como fator de desenvolvimento, em virtude de seus possíveis efeitos econômicos” (MOLINA; RODRIGUES 1997, p. 41). Apesar de sua importância econômica, na contemporaneidade, é inegável o papel das inovações tecnológicas e das comunicações sociais sobre a atividade turística, atreladas que estão ao incremento do nível de vida de grupos variados da população nas sociedades consideradas desenvolvidas, e pela alteração de seus hábitos de consumo, que se estendem inclusive para aquelas tidas como subdesenvolvidas. É preciso considerar ainda que, em diversos lugares, as atividades turísticas produzem impactos tanto positivos quanto negativos a essas sociedades, sob diversos aspectos (culturais, ambientais, sociais e econômicos), modificando substancialmente o espaço, a estrutura e os costumes das comunidades receptoras, por exemplo. Contrariando as expectativas, uma aplicação prática e ampla de uma política de turismo social e ecologicamente responsável, em todos os âmbitos (empresarial, local, 24 regional, nacional, internacional, tanto de consumidores como de produtores), ainda não aconteceu. Conseqüentemente, a sobrecarga sobre a natureza e a cultura causada pelo turismo, continuaa aumentar (KRIPPENDORF, 2001). A discussão da atividade turística para além do foco econômico já vem permeando diversos debates acadêmicos e técnicos. A temática relacionada ao meio físico, ao ambiente onde o turismo se inscreve, ganha destaque. Conforme Magalhães (2002 p. 22), é uma perspectiva de controle dos impactos negativos: Na tentativa de minimizar os prejuízos, resultantes da apropriação capitalista do espaço pela atividade turística, esses estudos já vêm se desenvolvendo há algum tempo, sobrepondo-se aos trabalhos anteriores que apresentava um enfoque essencialmente economicista. Mesmo com uma dupla face nos resultados das inovações tecnológicas e das comunicações sociais sobre o turismo, simultaneamente motivadoras e/ou facilitadoras da atividade com forte repercussão negativa sobre os lugares, ainda assim, o turismo é concebido como algo necessário tanto para a sociedade (para o turista que necessita fugir das “neuroses urbanas”, dentre outros motivos) quanto para as Cidades, (por atividades produzidas para aqueles com tempo livre) sendo atribuída, ao setor, a responsabilidade de propulsor do desenvolvimento econômico. Este conceito evoluiu simultaneamente a partir do processo de hospedagem verificado no mundo, e, em particular, no Brasil, que assumiu diversas tipologias históricas, culminando com o atual conceito de flats. 2.2. Um breve histórico sobre a hotelaria no Brasil e no mundo A hospedagem tem centralidade na atividade turística. Basta que se examine na complexidade de serviços, que se formam para atender o turista nos núcleos receptores, o mérito e a posição econômica do setor de hospedagem na produção de riqueza local, regional ou mundial, por seus efeitos para frente e para trás. Isto é, no ato do serviço de hospedagem adquire-se e oferece-se diversos produtos primários e industrializados (frutas, sucos, utensílios de cama e mesa, etc), e por exigir diversos serviços complementares (tais como, serviços pessoais, vendas de produtos, pacotes de entretenimento, transportes e etc.). 25 Assim, dentre as diversas atividades que formam a cadeia produtiva do turismo2, Souza (2004, p.2) destaca as empresas lideres (meios de hospedagem, agências de viagem, operadoras turísticas, empresas de alimentação e de transportes). Dentre elas, ressaltam-se os meios de hospedagem, por ser um dos segmentos de maior importância para o setor, tanto por sua centralidade na cadeia produtiva quanto por ser abrangente e composto de uma infinidade de variações de formas de satisfazer os mais diversos clientes. A hotelaria é bem mais antiga do que se imagina. Comerciantes que negociavam entre a Europa e o Oriente, no século VI a.C., utilizavam-se do serviço de hospedagens, disponibilizados em partes de residências ou quartos, durante suas viagens. Nos primórdios da hotelaria, o conforto, a higiene e a privacidade não eram requisitos essenciais como atualmente. O primeiro registro de hospedagem, segundo Duarte (1996), é de 1407. Foi na França, onde se criou a primeira lei para registro de hóspedes, visando a aumentar a segurança das hospedarias. Em 1561, também na França, as tarifas das pousadas foram regulamentadas e, por conseqüência, os hóspedes passaram a exigir maior conforto. No período de 1750 a 1820, na Inglaterra, as estalagens foram substituídas pelos inns, que ofereciam diversidade maior de serviços, alto padrão de limpeza e excelente alimentação. Os inns eram os quartos das hospedarias que acomodavam as pessoas que participavam de diligências, os stag inns eram as hospedarias ligadas ao transporte de cargas. Os banheiros não eram privativos e os hóspedes serviam-se por conta própria (DIAS, 1990, p.212). Segundo Goeldner, Ritchie e Mcintosh (2002), os inns corresponderiam hoje aos pequenos hotéis, albergues ou pousadas. Já naquela época, entretanto, havia hospedarias com um conceito superior, que recebiam pessoas das classes mais abastadas, oferecendo serviços de qualidade. Na época do Império Romano havia os palacetes, conhecidos como hostellum, onde os reis e os nobres se hospedavam. Na evolução histórica do mercado, a hotelaria foi se aprimorando, assimilando e aplicando novos conceitos. Surgiram leis de regulamentação de preços, de controle da 2 Conforme SOUZA (2004, p.1), cadeia produtiva do turismo é formada pelo conjunto de empresas e dos elementos materiais e imateriais que realizam atividades ligadas ao turismo, com procedimentos, idéias, doutrinas e princípios ordenados, coesos e afins, para conquista dos seus mercados estratégicos receptivos, utilizando-se de produtos competitivos. 26 qualidade dos serviços, de higiene e de alimentação, representando algumas das melhorias obtidas. A Europa, pioneira na hotelaria, perdeu a liderança para os Estados Unidos, nos 50 anos seguintes (DUARTE, 1996). Após a Primeira Revolução Industrial, os Estados Unidos eram os maiores do mundo, destacando-se pelo número de albergues e por melhores serviços. O conceito de apartamentos double e single, bem como a disponibilização de utensílios para higiene pessoal e sabonete de cortesia, remontam a 1829, numa iniciativa do Tremont House, de Boston, considerado o maior e mais caro hotel, caracterizando um marco nos procedimentos hoteleiros, dando origem também a padronização e treinamento dos recepcionistas e à criação definitiva do staff de gerência dentro dos hotéis. Já no final do século XIX, a expansão da economia norte-americana provocou aumento do turismo de negócios e de lazer (BOJAR, 2003). Segundo Dias (2002), a continuidade das inovações veio em 1870, quando surgiu o primeiro hotel planejado do mundo. Construído por Cesar Ritz, em Paris, com banheiros privativos e empregados padronizados, o empreendimento é considerado o marco inicial da hotelaria planejada abrindo caminho para a oficialização da indústria hoteleira no mundo. O setor hoteleiro teve a oportunidade de amplo crescimento, principalmente, após a Primeira Guerra Mundial, num contexto em que a Revolução Industrial já se encontrava consolidada, beneficiando-se do avanço tecnológico no setor de transportes e também da relativa melhoria nas condições de vida de alguns grupos de assalariados. A recessão dos anos 1930 trouxe grande impacto para a hotelaria. A queda da bolsa de valores de Nova York provocou uma pausa no crescimento deste mercado. Cerca de 85% das propriedades hoteleiras nos Estados Unidos ficaram sob intervenção judicial, ou foram liquidados (DIAS, 2002, p.105). Somente após este episódio, foi retomado o crescimento do mercado, permitindo às cadeias hoteleiras construir prédios, crescer e se desenvolver em todo o mundo. Com a inauguração do "Statler Hotel" em Búfalo, na década de 1950, aparecem os motéis nos Estados Unidos, multiplicando-se rapidamente e fazendo concorrência com os hotéis. Com o passar do tempo, houve uma incorporação dos motéis pela associação norte-americana de hotéis, o que possibilitou a aproximação dos dois segmentos. 27 No Brasil, é possível citar como um dos primeiros alojamentos a Casa de Anchieta, em São Paulo, no século XVI, que servia de abrigo aos religiosos que vinham em nome da Companhia de Jesus. Os hotéis propriamente ditos, só começaram a surgir após a Segunda Guerra Mundial, em associação ao surto industrial da década de 1960. Antes disso, a atividade hoteleira era sempre atrelada a outras atividades econômicas, em que os profissionais de setores diferentes (barbeiros, alfaiates, sapateiros e outros) eram também donos de estalagens. O mercado referia-se a eles como vendedores de alimentos e hospedagem, mas não demorou a surgir a definição de "vendeiros" e "taberneiros", como forma de organizar o mercado. Somente ao início do século XVIII, cresceu a necessidade de se classificar os meios de hospedagens no Brasil. A primeira classificaçãooficial foi efetuada em cinco categorias, variando do "simples pouso de tropeiro" (primeira categoria) aos hotéis (quinta categoria). A variedade de formas de hospedagem no Brasil certamente foi resposta ao fato de que, na época, por volta de 1870, apesar de haver diversos hotéis importantes na Capital paulista, as pessoas para se hospedarem teriam que possuir carta de apresentação (DUARTE, 1996). Impulsionado pelo turismo de negócios, o setor começou a experimentar grande destaque e notória expansão, ganhando, inclusive, fama internacional. As belezas naturais e a música popular conferiam prestígio ao País, e começaram a despontar destinos importantes, como Rio de Janeiro, cujo marco da hotelaria foi a inauguração do Copacabana Palace, construído pela família Guinle, e decisivo na consolidação da Capital fluminense como pólo de turismo e lazer. Em 1922, o potencial e a vocação da Cidade do Rio de Janeiro para o turismo intensificaram-se com a inauguração do "Hotel Glória", até hoje um dos maiores hotéis do Brasil, com 700 apartamentos (BOJAR, 2003). Atualmente, hotéis de pequeno e médio porte formam a base da oferta existente na Indústria Hoteleira brasileira. Geralmente, esses empreendimentos são de propriedade familiar, e, em sua grande maioria, foram construídos com o excedente de capital dos negócios principais destas famílias, seja com o objetivo de ter um imóvel gerador de renda ou simplesmente para atender suas satisfações pessoais. Na década de 40, houve grande desenvolvimento da hotelaria no Brasil em razão dos incentivos governamentais, favorecendo o turismo de negócios e de lazer, com 28 investimentos significativos. Foram construídos vários hotéis, entre eles o "Grande Hotel São Pedro", em São Paulo, hoje importante equipamento para o turismo de lazer e de convenções, além de sediar a maior escola de hotelaria da América Latina, administrada pelo SENAC. Contribuíram para o avanço da hotelaria no Brasil o crescimento das redes Othon, Vila Rica e Luxor. Durante os anos 1970, o Brasil experimentou rápido crescimento no setor. A criação da EMBRATUR (hoje, Instituto Brasileiro de Turismo) viabilizou a aprovação de inúmeros projetos ligados ao segmento de turismo e hotelaria. Essa fase de expansão coincidiu com a disponibilidade de financiamento de longo prazo (BNDES, FINAME etc.) e incentivos fiscais (SUDENE, SUDAM) para a construção de hotéis. As linhas de crédito oferecidas tornaram-se bastante atrativas, tanto em moeda nacional como em dólar. Como resultado, as empresas hoteleiras nacionais praticamente dobraram a sua capacidade, e também as de origem internacional aqui também se instalaram (BOJAR, 2003). Ainda segundo Bojar, é dessa fase o surgimento dos primeiros grandes hotéis do País, principalmente nas cidades onde havia um misto de negócios e turismo, como Salvador e Rio de Janeiro. Nas Cidades turísticas, além de financiamentos, os hotéis contavam com incentivos fiscais. Um bom exemplo de expansão nesta década é o da Rede de Hotéis Othon, e também a Rede Luxor. A Horsa, Hotéis Reunidos S/A, construiu no período o Hotel Nacional, superluxo da Praia de São Conrado, no Rio de Janeiro, que então se equiparava ao mesmo padrão do suntuoso Copacabana Palace, que hoje faz parte da cadeia Orient-Express. Foi nessa ocasião que a Abril Cultural lançou resorts com padrão de luxo, sob a marca Quatro Rodas no Recife, em São Luís e Salvador, enquanto o Banco Real iniciou a construção do luxuoso Transamérica, em São Paulo e, em seguida, na região de Comandatuba, próximo a Ilhéus, o primeiro resort de luxo do Brasil. Esse também foi um período promissor para os hotéis ligados a cadeias internacionais. Entre eles o "São Paulo Hilton", inaugurado em 1972, marcando mudança na hotelaria brasileira por uma administração profissional. Na mesma categoria, surgem o Sheraton e o Méridien no Rio de Janeiro. Enquanto grupos, como a francesa Accor, a espanhola Meliá e o Club Mediterranée, no mesmo período, iniciaram forte consolidação de suas respectivas marcas, no sentido do interior do País e do litoral nordestino, com 29 inúmeras construções de hotéis independentes, sendo o Hotel Jatiúca, em Maceió, um dos destaques. Na década seguinte, dos anos 1980, a crise econômica veio desanimar as perspectivas de novos e lucrativos empreendimentos imobiliários para pequenos e médios investidores. O quadro tornara-se ainda mais crítico, no mercado de aluguel, sob efeito da "Lei do Inquilinato", que ocasionou quase total paralisação na indústria imobiliária de locação residencial, por trazer novas regras, burocratizando as relações entre locador e locatário. A respeito dos flats, no entanto, logo no Artigo Primeiro, Parágrafo Único, item 4, se encontra que: Art. Primeiro - A locação de imóvel urbano regula-se pelo disposto nesta Lei. Parágrafo único - Continuam regulados pelo Código Civil e pelas leis especiais: (...) 4. em apart-hotéis, hotéis-residência ou equiparados, assim considerados aqueles que prestam serviços regulares a seus usuários e como tais sejam autorizados a funcionar; (...). Isto quer dizer que todas as novas regras aplicavam-se aos flats. Por conta disso, a pressão dos grupos hoteleiros junto aos agentes imobiliários para produção de meios de hospedagem provocou o aumento desse tipo híbrido de empreendimento, com um conceito de hospedagem transformado a partir dos apart-hotéis, conforme se constatará a seguir. A indústria hoteleira no Brasil passou a vislumbrar, durante a década de 1990, uma nova fase de desenvolvimento. No início do Governo Collor, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) começou a oferecer uma linha de crédito especial para a construção de hotéis. Apesar de apresentar condições (prazo e juros) relativamente desfavoráveis, comparando-se ao financiamento de hotéis no Exterior, muitos empreendimentos hoteleiros foram financiados pelo BNDES. Empresas como Accor, Sol Meliá e Caesar Park usaram a fórmula dos flats para expandir seus negócios no País, beneficiando-se da forma de Condomínio como base para crescimento desses grupos hoteleiros. A implantação do Plano Real beneficiou a indústria hoteleira. A estabilidade econômica do País ocasionou grande interesse dos investidores institucionais, principalmente dos fundos de pensão e de outros investidores atraídos pela possibilidade de rendimento de capital investido em novos hotéis. 30 Essa década reflete um dos períodos de maior expansão da oferta da indústria hoteleira no Brasil. Os hotéis de luxo foram inaugurados em São Paulo (Meliá, Inter- Continental, Renaissance e Sofitel), em Belo Horizonte (Ouro Minas), em Porto Alegre (Sheraton), em Pernambuco (Blue Tree Cabo de Santo Agostinho e SummerVille) e na Costa do Sauípe, um novo destino surgido na Bahia, com cinco hotéis de luxo. Na Cidade do Rio de Janeiro, que já contava com uma grande oferta de hotéis, foram feitas as reformas de importantes propriedades como o Copacabana Palace, o Le Méridien e o Sofitel Rio Palace (BOJAR, 2003). Em Fortaleza, no mesmo período foram inaugurados o Hotel Ceasar Park, o Marina Park Hotel; o grupo Meliá entrou no mercado com o Hotel Sol Jangada Meliá; o grupo Delphia adentrou mercado com a abertura de três (03) empreendimentos (Delphia Louzon Residence Flat, Delphia New Life Residence Service e Delphia Tabajara Residence Service); e a rede Provence, administrando o Provence Iracema Residence Service e o Prevence Via Veneto Flat. Em 1998, o Brasil obteve nova dinâmica, pois, além das fontes internas de capital, a indústria hoteleira brasileira atraiu a atenção do capital estrangeiro, que começou a receber investimentos externos, primeiramente por meio das próprias cadeias hoteleiras internacionais. Como conseqüência imediata da movimentação no setor hoteleiro, relacionada basicamente aos efeitos da internacionalizaçãodos capitais, ressalta-se o aumento da competitividade, os preços mais acessíveis de passagens, o aumento da longevidade das empresas, entre outros fatores correlatos. No inicio do século XXI, a explosão na oferta de quartos, que duplicou nos últimos quatro anos nas principais capitais brasileiras, começou a frustrar os investidores que entraram por último nesse mercado, de olho na alta rentabilidade da década anterior. A corrosão do poder de compra do brasileiro e os ecos do atentado terrorista ocorrido em 11 de setembro de 2001, em Nova York, são alguns fatores que explicam esta crescente diminuição do número de passageiros nas companhias aéreas e, por conseqüência, de turistas, internos e externos, em todo o Território nacional. Iniciou-se um novo momento de desequilíbrio entre demanda e oferta. Os hoteleiros e investidores do setor, em acirrada competição de mercado, começam a atribuir a essa explosão de serviços hoteleiros à proliferação dos flats. Na opinião do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) parece que a única explicação para a 31 crise da oferta está nos flats, enquanto “os grandes responsáveis por esse desequilíbrio na oferta e procura, por eles fazerem concorrência desleal com os hotéis tradicionais” (PENHALVER, 2003). Portanto, nada mais importante do que entender este novo conceito de hospedagem que são os flats com suas características, vantagens e desvantagens em relação aos demais tipos. 2.3. Os flats: um novo conceito de hospedagem Para que o hotel passasse a ser considerado e classificado como meio de hospedagem, a EMBRATUR (entre 1997 e 1998) estabeleceu algumas normas para as condições básicas do estabelecimento. Dentre elas, destacam-se as relativas à troca de roupa de cama e banho, sempre que um hóspede encerrasse a conta, dando saída do hotel, ou no mínimo duas vezes por semana, para o caso do hóspede com longa estada; a limpeza diária das UH; e, ainda, o serviço de café da manhã, não necessariamente incluso no valor da diária. No Brasil, a regra que considera um estabelecimento como meio de hospedagem enquadra-o em uma das seguintes categorias: hotel, hotel de lazer, hotel-residência, pousada ou hospedaria de turismo. Para diferenciar os produtos turísticos, entretanto, os hotéis são classificados conforme os objetivos de seus usuários, podendo mesclar mais de um desses interesses e abranger uma fatia maior de mercado. Segundo o novo critério existem hotéis de negócios, hotéis ou estâncias turísticas, resorts, hotéis residenciais ou flats, hotéis de beira de estrada. Fonte: www.praiamansahotel.com.br Figura 01 Planta Baixa da UH do flat Praia Mansa Residence 32 Os flats embora se apresentando como hotéis, originalmente, eram imóveis para fins residenciais, dotados de sala, quarto, cozinha e banheiro. Suas garagens foram transformadas em estacionamentos, zeladorias em escritórios administrativos e salões de festas em salões de convenções, acrescidos de prestação de serviços hoteleiros. Também conhecido como apart-hotel, o flat foi um produto desenvolvido para atender à nova realidade do mercado, oferecendo ao setor de construção a oportunidade de um negócio novo, seguro e viável, onde pequenos e médios investidores puderam então participar de empreendimentos hoteleiro-comerciais, com investimentos baixos e um retorno atrativo de capital. Para o mercado turístico o apart-hotel surge como uma nova modalidade de hospedagem, promovendo uma solução de hospedagem mais barata e de boa qualidade. A EMBRATUR criou, portanto, a categoria hotel-residência para identificar os flats, oficialmente, como meios de hospedagem. Apresentou-se como a alternativa de hospedagem atraente, principalmente para as pessoas divorciadas e os empresários de outras Cidades, que desejavam possuir imóvel residencial nas grandes capitais, fosse para se hospedar, estudar, fazer negócios ou mesmo tratamento de saúde. Conseqüentemente, o maior exemplo de desenvolvimento de flats ocorreu na Cidade de São Paulo, que, além de pioneira, foi onde este conceito proliferou, considerando sua forte vocação para o turismo de negócios e de pessoas de renda média-alta vivendo sós. Fonte: www.brasiltropical.com.br Figura 03 Suíte Master do flat Brasil Tropical Residence Fonte: www.iateplazahotel.com.br Figura 02 Suíte Master do flat Iate Plaza Flat 33 Atualmente este tipo de meio de hospedagem passou por algumas modificações, caracterizando-se, em geral, pelas hospedagens regulares ou de longa estada. Na maioria das vezes, mantêm em seus apartamentos uma mini cozinha equipada, de modo a permitir o preparo de refeições, como se pode verificar nas figuras 01 e 02. Diferente do que acontecera com os primeiros apart-hotéis, atualmente os flats são associados a um pool, sendo uma empresa a responsável pela administração geral do empreendimento e pela comercialização da unidade habitacional. Nos apartamentos administrados por empresas detentoras de bandeiras internacionais, todas as suas unidades são obrigadas a se associarem ao pool. Nos demais empreendimentos, no entanto, é comum, o proprietário residir nos flats, ou os manter alugados com a mediação de imobiliárias ou até fechados. Portanto, em princípio, todo flat é um condomínio residencial. A diferença é que, caso o proprietário deseje, ele pode fazer parte do sistema de pool, havendo um contrato individual entre o proprietário do apartamento com uma administradora hoteleira, a qual será, a partir de então, responsável pela comercialização e administração financeira de cada unidade. Nas últimas décadas, as companhias hoteleiras, no mundo, optaram por prestadoras de serviços, trabalhando em benefício, por conta e risco do proprietário, e estão logrando resultados positivos. O proprietário, consciente de suas responsabilidades, procede à gestão de seu ativo por conta própria ou contrata especialista (denominado de hotel asset mananger), assumindo os riscos, além de ser o beneficiário final do lucro do negócio. Na condição de imóvel comercial para fins de locação, o flat tinha um custo inicial relativamente baixo, visto que era viabilizado por comercializações individuais de cada unidade habitacional. Geralmente, se efetua um rateio dos custos variáveis e de comercialização entre todas as unidades pertencentes ao pool. Após a dedução desses custos e das cotas condominiais do faturamento, o resultado é distribuído entre os proprietários poolistas. Os custos fixos ficam sob responsabilidade do condomínio; isto é, todas as unidades de um flat pagam cota condominial, para cobrir os custos fixos, inclusive a mão-de-obra. No caso dos apartamentos que estão filiados ao pool hoteleiro, as cotas condominiais também são deduzidas do faturamento e repassadas ao condomínio. 34 Percebe-se, portanto que os proprietários de um flat pagam mais caro pelo conforto de determinados serviços hoteleiros que os demais condomínios residenciais comuns não possuem, passando, a partir de então, a fazer parte também do mercado hoteleiro. Entretanto, o sucesso inicial desse tipo de empreendimento gerou uma controvertida entrada dos flats entre os meios de hospedagem brasileiros para além de uma simples concorrência de mercado, mas pelas possíveis vantagens, debitas ou indébitas, que tiravam seus proprietários e/ou administradores da dupla característica de ao mesmo tempo ser um imóvel residencial e hoteleiro. Os flats são realmente um empreendimento que possui uma vantagem de mercado muito grande, por conta da sua estrutura de custos fixos ser subsidiada pelos condomínios dos quais eles fazem parte. Mas insatisfeitas com os níveis de lucratividade, algumas administradoras de flats passaram a efetuar suas movimentações comerciais utilizando o registro do condomínio como empresa, sonegandoimpostos, podendo assim reduzir drasticamente, o valor de suas diárias. Na realidade, apesar de, neste período, não haver nenhum prognóstico legislativo que proibisse a utilização do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) do condomínio pelo pool, dependendo dos volumes de financeiros deste último, a administradora poderia atrair a fiscalização, gerando a cobrança dos impostos devidos em nome do condomínio, inclusive, com relação ao faturamento gerado pelas cotas condominiais, que deixarão de ser recebimentos não-tributáveis. Ainda assim, muitas operadoras de flats arriscaram-se. Em Fortaleza, algumas inclusive foram autuadas pela Receita Federal, proporcionando pagamento de altas multas por todos os proprietários do condomínio, os poolistas e os não-poolistas. Um condomínio quando é constituído, caracteriza-se como uma empresa sem fins lucrativos. Participa do CNPJ, mas, em geral, não possui inscrição estadual e municipal, pois não tem a pretensão de emitir notas fiscais, já que a sua atividade é meramente organizacional. Ou seja, apesar de possuir um fundo de reserva, e que seu faturamento deve ser conciliado aos custos do prédio. O pool deve possuir outro CNPJ, em nome da administradora ou em uma sociedade limitada formada por seus sócios, “poolistas”, a fim de efetuar suas transações comerciais e realizar o pagamento dos impostos produzidos por elas. 35 Por conseguinte, o empresariado do setor hoteleiro queixa-se da "concorrência desleal", justificando que os flats são registrados como empreendimentos residenciais e oferecem, na maioria das vezes, os mesmos serviços vendidos aos hóspedes e ao público externo de hotéis. Então o mercado hoteleiro começou a pressionar o governo a fim de que fossem revistas as condições dos hotéis e das operadoras de flats. No sentido de minimizar as perdas do setor, eles se posicionam contra os flats, alegando que no mercado havia dois pesos e duas medidas, ou seja, que o mercado estava desregulado. Este é um tipo de visão equivocada e reducionista. Para gerenciar os flats, o administrador hoteleiro assume riscos não inerentes à função de hospedagem turística. Por vezes, eles são levados a suprir déficits de caixa causados por condôminos inadimplentes e a participar de assembléias com dezenas de investidores que desconhecem a natureza do próprio investimento. Há companhias que se negam a operar flats e muitas são líderes mundiais. Outras aceitam esses negócios por desejarem crescer no Brasil, e não encontrar outras formas de atuação. Nem todo o empresariado, porém, é contra a modalidade flat, havendo inclusive os que vêem as vantagens acima das desvantagens, tal como um dos sócios da Company Tecnologia de Construção S.A., cuja opinião é a seguinte: Esse perfil de flat com administradora hoteleira tende a ser mais rentável. Isso porque as empresas que fazem a gestão desses imóveis têm uma grande capacidade de atração de clientes, por serem companhias que possuem hotéis espalhados em todo o mundo, facilitando assim o contato com os turistas e dando mais garantia para os proprietários (OLIVEIRA, 2000). A garantia de rentabilidade mínima pode ser a alternativa segura para o investidor, no sentido de dividir com a administradora hoteleira os riscos desse tipo de empreendimento, em que a operadora deve garantir uma renda mínima por unidade. Muitas vezes, a rentabilidade prometida aos pequenos investidores estava amparada pelo CNPJ do condomínio, com impostos e taxas menores, chegando a menos de 20% do valor pago por um hotel registrado como empresa. Apesar de beneficiarem-se pela ausência de legislação sobre esses empreendimentos híbridos, os recursos não estão sendo bem administrados e aproveitados, levando a baixa rentabilidade dos investidores e retraindo o mercado de novos tipos de empreendimentos. A controvérsia entre os diferentes grupos de empresários dos meios de hospedagem foi encaminhada pela Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – ABIH 36 para a EMBRATUR, por meio da Câmara de Legislação do Ministério do Turismo, que decidiu apoiar as reivindicações da classe e ampliar a legislação sobre meios de hospedagem, definindo e normalizando o setor. A Deliberação Normativa número 433, de 30 de dezembro de 2002, a primeira lei a tratar a respeito de flats, resultante da referida reivindicação, delibera que todos os meios de hospedagem sejam cadastrados e administrados por empresas hoteleiras, limitadas ou sociedades anônimas, e que utilizem procedimentos operacionais e jurídicos que não prejudiquem as isonomias fiscal, tributária, de serviços públicos e de posturas legais, ao se submeterem ao cadastramento da EMBRATUR, conforme o exposto em linhas gerais: Empreendimentos ou estabelecimentos que explorem ou administrem a prestação de serviço de hospedagem em unidades mobiliadas e equipadas (UH), inclusive os conhecidos como“flat”, apart-hotel ou condo-hotel estarão sujeitos ao cadastramento obrigatório (SIQUEIRA; PENHALVER, 2003). De imediato, pôde-se admitir que acabou a acumulação indébita em que alguns flats, ou apart-hotéis e similares, utilizavam para obter receitas como hotéis. Os flats e similares foram forçados a optar pelo mercado de aluguéis com legislação específica ou pela atuação no segmento hoteleiro. Novos procedimentos operacionais e jurídicos não permitem mais irregularidades com relação às obrigações fiscais e tributárias. Isso significa dizer que os flats poderão encerrar suas atividades por não se enquadrarem no perfil exigido por lei para os meios de hospedagem. Segundo o presidente do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB)3, atualmente, os empresários do setor hoteleiro são unânimes quanto à necessidade de leis e regulamentos comuns para o conjunto dos meios de hospedagem no País, como se desejasse salvaguardar os direitos adquiridos anteriormente, destacando que: Todos concordamos que, para empreendimentos lançados a partir da promulgação da nova legislação, o novo dispositivo deve ser imediatamente aplicado. Porém, no caso dos empreendimentos já em operação ou em construção, é necessário definir um modelo de adequação e regras de transição muito claras e prazos para permitir as eventuais adaptações a serem feitas (MARIANO NETO, 2003). Realmente, o atual projeto de decreto de Lei Geral do Turismo, elaborado pelo Ministério do Turismo, não deixa suficientemente claras as referidas regras de transição. 3 FOHB - Forum de Operadores Hoteleiros do Brasil. Reúne 16 redes hoteleiras, incluindo grupos brasileiros de prestígio, como a Rede Bourbon, Bristol, Deville, Estanplaza, Hotelaria Brasil, Intercity, Othon, Plaza Inn, Slaviero, Transamérica e empresas internacionais, entre as quais o Grupo Accor, Atlantica Hotels, Club Mediterranée, Pestana , Pousadas e Sol Meliá. 37 O decreto delega às autoridades estaduais e municipais a responsabilidade de cada empreendimento conduzir diretamente com o seu modelo de transição. Portanto, abre espaço para as mais diversas negociações e interpretações, e formas de ingerência do poder político e econômico local, quiçá, contribuindo para uma desigualdade ainda maior do que a que pretendia eliminar. Comenta-se sobre uma controvérsia jurídica na natureza do artigo, pela ausência de legislação específica para a atividade hoteleira, e sem embasamento jurídico para regulamentar flats e empreendimentos condominiais, como prega o artigo terceiro, mesmo na própria Prefeitura de São Paulo, por exemplo. Parte do empresariado teme que, na falta de clareza sobre o regime de transição – quanto às normas e prazos para os empreendimentos condominiais se adaptarem à nova lei – venha a ser fechada, imediatamente, metade da oferta de quartos em São Paulo - uma ameaça que se estende para as demais localidades turísticas. É válido relembrar que, no Brasil, o surgimentodos empreendimentos hoteleiro- residenciais aconteceu como uma opção encontrada para viabilizar a expansão da indústria hoteleira e atender à demanda de mercado. Segundo lideranças do FOHB, este tipo de mudança abrupta de regras, estabelecendo efeito retroativo pode prejudicar a infra-estrutura de hospedagem e repercutir de forma desastrosa para os operadores internacionais e organizadores de eventos no Exterior. A escolha do destino de congressos e eventos de grande porte ocorre, em geral, com cinco anos de antecedência à sua realização, e a hipótese dessa medida vir a ser efetivamente aplicada, por si só excluiria o Brasil do mapa dessas realizações; isso, sem mencionar os grandes eventos que estão sendo fechados com o apoio da EMBRATUR. De acordo com as informações do FOHB, estima-se que os prejuízos atingirão cerca de 19 mil investidores da indústria de hotéis, sobre a geração de dez mil empregos diretos e outros 40 mil indiretos, sem contar o que as prefeituras deixariam de arrecadar em impostos e divisas para as Cidades. Segundo a recente pesquisa da agência de comunicação Hotel Online, em São Paulo as redes de hotéis (ou melhor, administradoras hoteleiras internacionais) operam 29 mil quartos e representam 73% do parque hoteleiro da Cidade. Desse total de empreendimentos, cerca de 50% da oferta de quartos operam como flats (BOJAR, 2003). 38 A proposta do FOHB é aplicar aos hotéis os mesmos benefícios recebidos pelos flats. Defendem a luta por incentivos para os formadores da cadeia produtiva da indústria do turismo, pronunciando-se contra a colocação de que os hotéis que tenham sido prejudicados com a expansão de flats, uma vez que o próprio mercado sinalizou e viabilizou a existência destes lançamentos. A maioria dos hoteleiros concorda com o argumento de que as regras devam ser equilibradas entre os flats e os hotéis estruturados no formato tradicional, aplicando-as imediatamente para os novos hotéis lançados. É de se reconhecer, contudo, que a deliberação normativa 433 foi um instrumento para conduzir a maturidade na gestão desses meios de hospedagem no Brasil, após anos de crescimento da indústria hoteleira atrelado a investimentos de caráter, principalmente, imobiliário. É uma regulamentação que pode concorrer para a definição de políticas sustentáveis do turismo nacional, neste momento em que o País ingressa como competidor ativo na realização de eventos internacionais e ampliação do mercado de lazer e entretenimento. Sem falsos argumentos, o País, no curto e médio prazo, possui poucas áreas para desenvolvimento com salto qualitativo que possa representar crescimento sustentável, com destaque para o agronegócio e o turismo. Se estes são os principais setores que sustentarão o crescimento nacional, logo, as regulamentações precisam ser bem consolidadas para demarcar as regras de mercado, permitindo ao empresariado solidez de seus investimentos. Neste contexto, a discussão mais cabível não é exatamente sobre a deliberação normativa 433, mas como implementá-la, com menores prejuízos para o empresariado nacional e para os turistas que visitam o País. É notório que essa deliberação não provocará um novo boom de flats. Assim, um meio-termo deverá ser desenvolvido no mercado hoteleiro até que os meios de hospedagem estejam adequados à nova legislação. O nível de maturidade nas negociações entre o governo e os empresários estaria sendo testado durante esse processo de regulamentação de mercado, feito mediante competição clara, racional, fora dos espaços políticos dos lobbies. Como todo processo de transformação, no Brasil, ou em qualquer parte do mundo, conflitos, controvérsias e 39 resistências são necessárias, porém, seja qual for o resultado, espera-se que tenha por principio a democracia e por finalidade os direitos coletivos. Na realidade, os flats, especialmente no Nordeste do Brasil, podem ainda atuar utilizando o registro do condomínio, pois alguns deles praticam preços abaixo dos definidos no mercado, provavelmente, calculados por intermédio de uma série de isenções fiscais e tributárias. Ao possuírem registro de condomínio residencial e praticarem serviços mistos (residenciais e de hospedagem), estão adotando concorrência com desvantagens para as empresas hoteleiras em geral, desequilibrando a oferta e ocasionando desemprego no setor hoteleiro. É válido ressaltar que, nos flats, convivem hóspedes e residentes locais, cujas relações costumam causar alguns problemas para os administradores. Há uma tendência de mercado, dos últimos flats construídos em São Paulo, para controlar esse problema, definindo-se por um perfil mais próximo de um quarto de hotel que de apartamento residencial. Os novos flats com administração de bandeiras internacionais padronizam os serviços no plano internacional, mostrando que investir em flats é hoje uma opção segura e com excelente rentabilidade. As taxas médias de retorno estão perto de 1,2% a 1,5% ao mês, com alguns empreendimentos de alto padrão atingindo rendimentos entre 1,8% e 2% sobre o capital aplicado. Pode ser considerado um investimento diferenciado, pois além de apresentar rentabilidade continua, valoriza o patrimônio (PENHALVER, 2003). O ingresso nesse mercado específico da hospedagem e as situações propostas pelas novas legislações proporcionarão mudanças no mercado de flats. Espera-se que os atuais e novos empreendimentos sigam exemplos bem-sucedidos, e que se voltem, exclusivamente, para a hospedagem, padronizando os serviços a custos reduzidos, elevando a oferta desses produtos, com maiores ganhos para o setor. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Hotéis (ABIH), o mercado hoteleiro concentra 18 mil estabelecimentos, entre hotéis e flats, com movimento anual de um bilhão de reais. Há 40 lançamentos por ano e 600 mil pessoas empregadas. Na opinião da coordenadora dos cursos de graduação da Faculdade de Turismo e Hotelaria do SENAC, em São Paulo, "poucos segmentos devem concentrar tantas ofertas de trabalho no novo século" (SIQUEIRA; PENHLAVER, 2003). 40 Por isso é importante que as administradoras hoteleiras locais mantenham-se sempre atualizadas a respeito do segmento de turismo, tanto em termos de País, como de sua região Nordeste e, particularmente, no Ceará. Dentre as principais informações a serem levantadas por estes, destacam-se: a busca da estabilidade econômica, os avanços tecnológicos e a melhoria nas comunicações, propiciando o alcance à cultura e à educação e despertando o interesse de outros povos em conhecer diferentes manifestações culturais e naturais. Esses processos de administração das informações e dos recursos são fundamentais para sustentar a comercialização dos flats em Fortaleza, nesta fase da globalização, é claro, respeitando as novas regras legislativas e produzindo uma taxa de retorno satisfatória considerando o mercado. Todo esse quadro atual desacredita a opinião dos que responsabilizam os flats pelo baixo nível de ocupação dos empreendimentos hoteleiros em Fortaleza nos anos anteriores. Devem ser considerados, sobretudo, os acontecimentos que desaceleraram o fluxo turístico no contexto mundial, como questões políticas, catástrofes naturais e problemas econômicos. Mas a questão requer mais do que uma analise critica dos fatos. É preciso se verificar se há uma comprovação da alegada rentabilidade dos flats e se estes realmente possuem uma boa posição de mercado, sendo necessária uma breve revisão teórica, seguida de uma contextualização do mercado de Fortaleza. 2.4. Aspectos teóricos do mercado turístico Teoricamente, analisar o mercado turístico é compreender, de um lado, o comportamento dos consumidores (turistas sujeitos a restrições orçamentárias, que procuram maximizar satisfações ou utilidades obtidas pelo consumo dos produtos turísticos), e, por outro lado, observar
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