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Geografia Cultural e da Religião

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Prévia do material em texto

Religião
Prof.a Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio
Prof. Jefferson Rodrigues de Oliveira
geogRafia 
CultuRal e da
Indaial – 2020
1a Edição
Impresso por:
Elaboração:
Prof.a Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio
Prof. Jefferson Rodrigues de Oliveira
Copyright © UNIASSELVI 2022
 Revisão, Diagramação e Produção:
Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI
S192g
Sampaio, Débora Vanessa Régis Ferreira
Geografia cultural e da religião. / Débora Vanessa Régis Ferreira 
Sampaio; Jefferson Rodrigues de Oliveira. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.
250 p.; il.
ISBN 978-65-5663-234-6
ISBN Digital 978-65-5663-235-3
1. Fenômenos geográficos culturais. - Brasil. I. Oliveira, Jefferson 
Rodrigues de. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 900
Caros alunos, este livro reúne uma série de discussões textuais 
referentes à compreensão da geografia cultural discutida amplamen-
te nas academias, principalmente após o processo de renovação, que 
fomentou os debates mais recentes desse significativo subcampo da 
ciência geográfica.
 
As Unidades 1, 2 e 3 têm, como objetivo, proporcionar uma base formativa sólida 
que auxilie a interpretar os fenômenos geográficos culturais que ocorrem no espaço e, 
sobretudo, poder encontrar referências científicas que possam amparar suas futuras 
pesquisas. Os assuntos discutidos encontram-se tangenciados frente à conceituação e 
ao entendimento de pensadores, desde os séculos passados ao contemporâneo, como 
geógrafos, antropólogos e sociólogos.
Esses capítulos abordarão, especificamente, as diferentes transformações 
na geografia, através de um breve histórico ou resgate da história do pensamento 
geográfico. Desde as interpretações clássicas e seus fundamentos da base inicial, 
buscaremos compreender as relações entre cultura, espaço e algumas das diferentes 
dimensões de análise e estudo, assim, poderemos verificar como a geografia e sua 
dimensão espacial estão em toda parte.
Nessas circunstâncias, apresentamos a importância da cultura para os estudos, 
como esta veio a ser percebida, analisada e incorporada aos estudos culturais da 
geografia através das disciplinas Geografia Cultural e Geografia da Religião.
Sugerimos, a você, enquanto graduando e futuro profissional da geografia, 
aprofundar seus conhecimentos a partir desse estudo, envolvendo leitura, reflexões e 
discussões sobre o campo da geografia cultural. Apesar de estar sendo difundida no 
Brasil desde o começo da década de 1990, ainda precisa ser explorada e amplamente 
estudada, tendo em vista seu aspecto dinâmico, popular e diverso, mediante a 
heterogeneidade da cultura brasileira.
Honrosamente, convidamos você para, a partir do material didático, aprender e 
compreender um pouco mais sobre o subcampo que ultrapassou a marca centenária. 
Essa jornada, baseada entre homem, espaço e cultura, parece longa, mas ainda possui 
muito a ser desvendada, depende, inclusive, de você, futuro geógrafo da geografia 
cultural. Desejamos bons estudos!
Prof.a Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio
Prof. Jefferson Rodrigues de Oliveira
APRESENTAÇÃO
GIO
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – 
e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR 
Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite 
que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, 
é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
QR CODE
SUMÁRIO
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA 
CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, RETRAÇÕES E 
DESENVOLVIMENTO .........................................................................1
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO 
ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA ............................ 3
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3
2 CULTURA: UMA PERCEPÇÃO DINÂMICA .......................................................... 5
3 O INTERESSE DA GEOGRAFIA PELA CULTURA E A GEOGRAFICIDADE DA 
GEOGRAFIA CULTURAL .................................................................................... 14
RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................22
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................24
TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO 
DA GEOGRAFIA CULTURAL .............................................................. 27
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 27
2 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE I - AS PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES: 
CULTURA E GEOGRAFIA, O DESVENDAR A PARTIR DE UMA GEOGRAFIA 
ENRIJECIDA .......................................................................................................29
3 OS ESTUDOS DE CARL SAUER E SUA IMPORTÂNCIA ..................................... 31
4 GEOGRAFIACULTURAL – FASE II – TRANSFORMAÇÕES NO CAMPO 
GEOGRÁFICO E O HIATO NOS ESTUDOS DA CULTURA ...................................39
5 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE III – IMATERIALIDADE E RENOVAÇÃO .........42
RESUMO DO TÓPICO 2 ......................................................................................... 48
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................49
TÓPICO 3 — A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA GEOGRAFIA 
CULTURAL NO BRASIL: UM CAMINHAR PARALELO ENTRE A 
ORIGEM, “NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO ........................................ 51
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 51
2 GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UMA PRÉVIA DAS PRIMEIRAS 
INCURSÕES ........................................................................................................52
3 GEOGRAFIA CULTURAL: UM CAMPO NEGLIGENCIADO NO BRASIL ...............55
4 O FLORESCER DOS ESTUDOS CULTURAIS PÓS-1980 .................................... 57
5 PRINCIPAIS DIFUSORES: A EXPANSÃO E O INTERESSE DA GEOGRAFIA 
CULTURAL .........................................................................................................59
6 A PRODUÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL .................................... 61
LEITURA COMPLEMENTAR ..................................................................................63
RESUMO DO TÓPICO 3 ..........................................................................................69
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................70
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, 
UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE ........................... 73
TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES 
DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À INTERPRETAÇÃO 
DA GEOGRAFIA CULTURAL .............................................................. 75
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 75
2 GEOGRAFIA: O CONHECIMENTO QUE ESTÁ EM TODA PARTE? ...................... 76
2.1 NOTAS: DO NASCIMENTO DA GEOGRAFIA ESCOLAR A UMA GEOGRAFIA 
UNIVERSITÁRIA .................................................................................................................. 87
3 ESTUDOS CONTEMPORÂNEOS DA GEOGRAFIA CULTURAL: UMA BREVE 
COMPREENSÃO ....................................................................................................93
RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................98
AUTOATIVIDADE .................................................................................................100
TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA 
GEOGRAFIA CULTURAL .................................................................. 101
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 101
2 PAUL CLAVAL E OS ESTUDOS CULTURAIS ....................................................102
3 FORMAS SIMBÓLICAS ESPACIAIS: BREVES APONTAMENTOS ....................105
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................124
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 125
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO 
DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO ................................... 127
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 127
2 PAISAGEM CULTURAL, TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E 
IDENTIDADE: COMPOSTOS NA GEOGRAFIA CULTURAL ...............................128
3 DIMENSÕES ESPACIAIS ATRAVÉS DA LITERATURA, MÚSICA POPULAR 
E IMAGEM .........................................................................................................143
4 INTRODUÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL EM SALA DE AULA .....................146
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 156
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................ 159
AUTOATIVIDADE .................................................................................................160
UNIDADE 3 — ESPAÇO E RELIGIÃO: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA ............161
TÓPICO 1 — ESPAÇO E RELIGIÃO: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA .............. 163
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 163
2 DISCUSSÕES .................................................................................................... 167
3 RELIGIÃO E SUA ESPACIALIDADE: REPETIÇÃO DA HIEROFANIA INICIAL .....173
4 CATEGORIAS DE ANÁLISE: SAGRADO E PROFANO ...................................... 174
4.1 AS DIMENSÕES DE ANÁLISE..........................................................................................176
5 HIERÓPOLIS OU CIDADES-SANTUÁRIO......................................................... 178
6 O ESTUDO GEOGRÁFICO DAS PEREGRINAÇÕES ..........................................186
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................190
RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................191
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 193
TÓPICO 2 — O SAGRADO E A CIDADE: OLHARES SIMBÓLICOS RELIGIOSOS ..... 195
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 195
2 A CIDADE: TRANSFORMAÇÕES E PROCESSOS ............................................. 197
2.1 A HISTÓRIA DA CIDADE: AS VERSÕES E OS OLHARES .......................................... 201
3 O SAGRADO E O URBANO: UMA INTRÍNSECA RELAÇÃO? ........................... 204
4 O FOGO SAGRADO, O COLETIVO E AS PRIMEIRAS CIDADES .......................207
5 O SAGRADO E O URBANO: GÊNESE E FUNÇÃO DAS CIDADES .....................210
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 213
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 215
TÓPICO 3 — NOVAS DINÂMICAS DO SÉCULO XXI – RELIGIÃO E 
HIPERMODERNIDADE .................................................................... 217
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 217
2 TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE RELIGIOSA ON-LINE: 
NOVAS ESTRATÉGIAS DE DIFUSÃO A PARTIR DAS MÍDIAS ......................... 221
3 TV, RÁDIO E INTERNET: O PODER DAS MÍDIAS NA DIFUSÃO DA FÉ ............ 225
4 A RELIGIÃO E AS NOVAS INTERFACES DO SAGRADO NAS ERAS 2.0 
E 3.0: AS PEREGRINAÇÕES ON-LINE .............................................................227
5 O SAGRADO E O PROFANO NA ERA HIPERMODERNA .................................. 230
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................... 233
AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 235
REFERÊNCIAS .....................................................................................................237
1
UNIDADE 1 — 
UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA 
DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA 
CULTURAL, CONTEXTOS, 
ABORDAGENS, RETRAÇÕES E 
DESENVOLVIMENTO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 identificar	 a	 relação	 da	 geografia	 com	 as	 ciências	 sociais,	 principalmente	 com	 as	
áreas	da	antropologia	e	sociologia,	a	partir	das	nuanças	e	atualizações	do	conceito	
de	cultura,	o	qual	fundamenta	os	estudos	da	geografia	cultural;
•	 compreender	a	geografia	culturalenquanto	subcampo	da	ciência	geográfica,	dedicada	
ao	 estudo	 das	 relações	 do	 ser	 humano	 (fenômenos	 espaciais),	 manifestações	
culturais,	ou	seja,	das	dimensões	espaciais	da	cultura;
•	 discutir,	a	partir	do	estado	da	arte,	o	processo	da	gênese	da	geografia	cultural	e	o	
desenvolvimento	da	sua	dinâmica	de	renovação;
•	 analisar	 a	 criação	 da	 geografia	 cultural	 no	 Brasil,	 suas	 influências,	 interfaces	 e	
heterogeneidade	do	campo	brasileiro.
	 A	cada	tópico	desta	unidade	você	encontrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	
reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO	1	–	 AS	INTERFACES	DA	APLICABILIDADE	DA	CULTURA	NO	ÂMBITO	DO	
DESENVOLVIMENTO	DA	GEOGRAFIA	
TÓPICO	2	–		UMA	REFERÊNCIA	AOS	PERÍODOS	DE	DESENVOLVIMENTO	DA	GEOGRAFIA	
CULTURAL
TÓPICO	3	–	 A	CENTRALIDADE	DA	ABORDAGEM	DA	GEOGRAFIA	CULTURAL	NO	
BRASIL:	UM	CAMINHAR	PARALELO	ENTRE	A	ORIGEM,	“NEGLIGÊNCIA”	E	
DINAMISMO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
AS INTERFACES DA APLICABILIDADE 
DA CULTURA NO ÂMBITO DO 
DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
TÓPICO 1 — UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Sejam	bem-vindos!	A	partir	de	agora,	vocês	estão	convidados	a	
navegar	em	um	mar	de	conhecimento	que,	por	muito	tempo,	foi	negli-
genciado	pela	comunidade	acadêmica	geográfica:	a	geografia	cultural,	
um	campo	da	geografia	humana	que	se	firmou	cientificamente	e	temporalmente.	Su-
pera	mais	de	100	anos	de	história	do	pensamento	geográfico,	tendo,	como	focos,	as	
análises	baseadas	entre	homem,	espaço	e	cultura.
Neste	tópico,	são	desenvolvidas,	além	da	 introdução,	as	temáticas	“a	cultura:	
uma	percepção	dinâmica”	e	“o	interesse	da	geografia	pela	cultura	e	a	geograficidade	da	
geografia	cultural”.	Ainda,	há	o	resumo	referente	ao	tópico	e	as	atividades,	auxiliando	o	
processo	de	aprendizagem.
 
Quando	trouxemos	“a	cultura:	uma	percepção	dinâmica”,	tivemos,	como	prin-
cípio,	apresentar,	de	maneira	breve,	porém	contextualizada	e	embasada,	os	processos	
evolutivos	sobre	a	definição	do	termo	cultura,	 respeitando	cada	momento,	aconteci-
mentos	em	escalas	mundiais	e	influência	epistemológica.	O	assunto	discutido	encon-
tra-se	tangenciado	frente	à	conceituação	e	ao	entendimento	de	pensadores	desde	os	
séculos	passados	ao	mais	atual.	É	possível	encontrar	geógrafos,	antropólogos	e	soció-
logos:	Edward	Burnett	Tylor,	Franz	Uri	Boas,	Alfred	Kroeber,	Cliford	Geertz	e	Stuart	Hall.
 
Passamos	 da	 definição	 determinista	 de	 cultura	 inspirada	 no	 darwinismo	 evolu-
cionista,	as	abordagens	sobre	o	particularismo	histórico	de	Boas,	a	teoria supraorgânica	 
de	Kroeber,	a	teoria	interpretativista	apontada	por	Geertz	e,	por	fim,	o	multiculturalismo	
compreendido	por	Hall.
4
Caros estudantes, o conteúdo possui extensa literatura. Como meio 
auxiliar, a biblioteca virtual possui o livro do antropólogo Roque de 
Barros Laraia, intitulado Cultura: um conceito antropológico. 
No título, o autor consegue expor um histórico sobre a histórica 
definição e conceito de cultura, as influências sobre a formação social 
por meio da cultura e a dinamicidade e diversidade da cultura entre os 
homens. Considera-se uma literatura clássica auxiliar, cujo objetivo é, 
de maneira acessível e introdutória, esclarecer o estudo sobre cultura.
DICA
Trazemos,	 com	clareza,	 que	a	 compreensão	conceitual	 sobre	cultura	passou	
por	 transformações	 ao	 longo	 do	 tempo,	 perpassando	 caminhos,	 perdendo	 e	 ganhando	
estruturas,	não	indicando	graus	de	inferioridade	ou	superioridade	quanto	às	abordagens,	
mas	uma	construção	de	conhecimentos	baseados	em	possibilidades	distintas,	tendo,	
por	exemplo,	a	aproximação	da	geografia	entre	alguns	campos	da	humanidade,	cujo	
resultado	 rende	 uma	 produção	 interdisciplinar	 rica,	 valorizando	 a	 dinâmica	 espaço-
temporal.
 
O	segundo	tema,	“o	 interesse	da	geografia	pela	cultura	e	a	geograficidade	da	
geografia	cultural”,	vem	sincronizar	com	o	conteúdo	estudado	anteriormente,	retomando	
os	pontos	de	contato	entre	a	ciência	geográfica	e	a	cultura.	São	apresentadas	narrativas	
geográficas	 que	 sustentam	 cientificamente	 a	 geografia	 cultural	 e	 seu	 interesse	 pela	
espacialidade,	 este	 compreendido	 pela	 formação	 de	 território,	 poder,	 territorialidade,	
lugar,	espaços	e	paisagens.	
Seguimos	tratando	das	novas	possibilidades	de	interpretar	as	relações	socioes-
paciais	a	partir	da	importância	da	cultura	na	geografia,	desconstruindo	as	barreiras	an-
teriormente	formadas	na	macroesfera	da	disciplina.	A	temática	afirma	que	os	fenôme-
nos	geográficos	também	carregam	traços	culturais	que	podem	ser	desvendados	pela	
geografia	cultural.	Embora	essa	discussão	possa	parecer	retrógrada	e	aparentemente	
resolvida,	acredite,	ainda	é	recorrente.	Especulações	circulam	indagando	sobre	a	origi-
nalidade	do	ramo	e	se	ele,	efetivamente,	faz	parte	dos	estudos	da	ciência	geográfica.	
Por	 fim,	 são	 apresentadas	 e	 discutidas	 nove	 estruturas	 culturais	 da	 ciência	
geográfica:	 O	 conhecimento	 do	 mundo	 sempre	 se	 faz	 através	 das	 representações;	
A	 cultura	 é	 construída	 a	 partir	 de	 elementos	 transmitidos	 ou	 inventados;	 A	 cultura	
existe	através	dos	indivíduos	que	a	recebem	e	a	modificam,	eles	se	constroem	como	
indivíduos	no	processo;	O	processo	da	construção	da	cultura	também	é	um	processo	
social;	A	construção	do	indivíduo	como	ser	social	se	traduz	pelo	nascimento	de	sentidos	
de	 identidade;	A	construção	da	sociedade	pela	cultura;	A	construção	do	espaço	pela	
cultura;	A	gênese	dos	sistemas	de	crenças	e	valores	e	Cultura	e	ideologias	comunitárias.	
Bons	estudos!	
5
2 CULTURA: UMA PERCEPÇÃO DINÂMICA 
Certamente,	 enquanto	 indivíduos,	 estudantes	 e	 futuros	 profissionais	 da	
ciência	geográfica,	vocês	já	ouviram	ou	fizeram	alusão	ao	termo	“cultura”,	certo?	Assim,	
independentemente	das	circunstâncias,	experiências	pessoais	ou	regionais,	optamos	
por	percorrer	os	caminhos	existentes	da	 (re)construção,	elencando	as	possibilidades	
do	emprego	conceitual	da	cultura	no	âmbito	acadêmico,	cujo	foco	ampara	a	geografia	
cultural.
Então,	 primeiramente,	 para	 promover	 essa	 apresentação,	 Corrêa	 (2009)	 contribui	
afirmando	que,	a	cultura,	enquanto	vocábulo,	possui	uma	diversidade	de	colocações	e	
significados,	desde	o	senso	comum,	o	qual	não	deve	ganhar	força	na	aprendizagem	em	
questão,	até	nas	discussões	conceituais,	que	adentram	as	matrizes	acadêmicas	nas	
ciências	sociais.
 
No	momento	 inicial	 da	 leitura,	 façamos	 uma	 proposta,	 cujo	 objetivo	 indica	 uma	
compreensão	histórica	dos	fatos,	realidade	acadêmica	e	período	da	construção	conceitual	
do	termo	cultura.	Realize	uma	retrospectiva,	mediante	seu	conhecimento,	quanto	à	gênesis	
da	 ciência	 geográfica	 e	 seus	 desafios	 epistemológicos.	 Seria	 possível?	 Caso	 contrário,	
apresentaremos	um	contexto	inicial.
 
As	concepções	epistemológicas	no	meio	científico,	antes	do	Século	XX,	predo-
minavam	sob	o	aspecto	positivista	e,	posteriormente,	neopositivista.	Majoritariamente,	
os	geógrafos	mantinham	alicerces	naturalistas	nas	pesquisas.	As	análises	sobre	o	am-
biente,	sociedade	e	cultura	eram,	basicamente,	explicadas	mediante	as	leis	naturais.	
Caros alunos, atenham-se à palavra epistemologia com uma certa dose de atenção, 
porque ela tem estado, com frequência, no ambiente acadêmico, nas aulas ministradas, 
livros, e outros meios de busca, mas o seu uso excessivo ou mal alocado, por vezes, 
distorce seu conceito essencial. A palavra “epistemologia” tem origem no grego, equivale 
à episteme + logos = conhecimento científico, explicação, discurso, opinião. Essa 
sentença, criada no Século XX, teve o objetivo de superar a perspectiva 
unívoca e homogênea da concepção da filosofia da ciência encontrada 
na linha positivista. Ainda, tratar, de maneira crítica, construtiva e 
democrática, o conhecimento científico, como apresenta Gomes (2009, 
p. 14): “[...] discutir criticamenteas formas de construir um pensamento 
científico não quer dizer se transformar, em um tribunal, para julgar a 
sua conformidade ou não em relação a um modelo único e ideal, ao 
contrário”. Esse entendimento conclui que não existe uma fórmula 
determinante para fazer ciência, principalmente, a geográfica, pois 
cada fenômeno demonstra uma singularidade e dinâmica.
ATENÇÃO
6
Seguindo	na	perspectiva	predominante	de	análise	epistemológica,	encontramos	
a	 definição	 antropológica	 de	 cultura	 que,	 não	 obstante	 da	 realidade	 conceitual	 da	
geografia,	 também	 foi	 compreendida	 sob	 o	 ponto	 de	vista	 das	 dinâmicas	 naturais	 e	
do	princípio	 empirista	 e	 sistemático.	Contudo,	 como	todo	 texto	possui	 um	contexto,	
traremos	alguns	precedentes	que	auxiliaram	o	descortinar	da	definição	inicial	da	cultura	
cujas	influências	pairaram	sobre	o	desenvolvimento	da	geografia	cultural.	
 
Entre	o	Século	XVIII	e	XIX,	duas	palavras	foram	polarizadas	entre	germânicos	
e	 franceses.	 Seccionados	 como	 os	 antecedentes	 históricos	 do	 conceito	 de	 cultura,	
os	termos	Kultur	e	Civilization	intuíam	considerações	primárias:	o	primeiro	refletia	sob	
as	 convicções	 espirituais	 de	 um	 grupo	 de	 indivíduos	 denominado	 de	 comunidade	
e,	o	 segundo,	 sobre	as	conquistas	de	ordem	material	de	um	povo.	Com	o	 intuito	de	
unificar	 as	duas	convicções	em	torno	da	cultura,	 Edward	Burnett	Tylor,	 nos	 anos	de	
1871,	apresentou	a	culture,	vocabulário	inglês	que	sistematizava	oficialmente	a	primeira	
definição	da	cultura.
FIGURA 1 – SÍNTESE DA PRIMEIRA DEFINIÇÃO DE CULTURA
FONTE: O autor
Kultur
Civilization
Culture
Configura-se	que	a	criação	das	primeiras	nomenclaturas	dadas	por	países	da	
Europa	Ocidental,	para	interpretar	o	complexo	social,	sinalizou	que	havia	uma	inquietação	
pelo	 estudo	 da	 sociedade,	 ou	melhor,	 pelas	 interfaces	 de	 arranjos	 condizentes	 com	
formação	social.	Os	temas	de	maiores	proporções	de	estudos,	na	primeira	metade	do	
Século	 XIX,	 estavam	 relacionados	 à	 etnografia	 dos	 grupos	 humanos,	 suas	 técnicas,	
obras,	além	das	línguas,	crenças	e	tradições	(CLAVAL,	2011).
A	compilação	efetuada	por	Tylor	trouxe,	com	imponência,	a	voz	que	definiu	a	
cultura	dentre	os	estudos	da	antropologia,	porém,	história	apontou	que	não	foi	a	única.	
As	discussões	no	universo	conceitual	têm	uma	 longa	 jornada,	esta	que	antecedeu	e	
procedeu	a	interpretação	de	culture.	
7
Edward Burnett Tylor
Abreviadamente conhecido como Tylor (1832 -1917). Um britâni-
co, antropólogo, cujas atividades foram relacionadas à escola do 
evolucionismo social. Foi considerado o pai do conceito moderno 
de cultura.
NOTA
Tylor	 trouxe,	 como	 capacidade	 interpretativa,	 a	 causa	 e	 regularidade	 para	
cultura,	afirmando	que	ela	não	faz	parte	do	código	genético	do	indivíduo,	não	nasce	com	
características	culturais	próprias,	mas	a	cultura	passa	a	ser	concebida	de	todas	as	coisas	
que	são	adquiridas	por	meio	da	aprendizagem	na	sociedade.	Como	exemplos,	símbolos,	
práticas,	técnicas	e	tantos	outros	que	formam	ciclos	de	práticas	que	desenvolvem	a	
cultura	(CLAVAL,	2011).
Sobre	 a	 compreensão	 de	 cultura,	 Wagner	 e	 Mikesell	 (2011)	 introduzem	 a	
temática	sinalizando	que,	em	pessoas	cujas	vivências	são	em	grupos,	torna-se	comum	
apresentar	tendências	de	comportamentos	semelhantes,	como	o	pensar	e	o	agir.	Tais	
atributos	são	justificados	pela	rotina	de	vida	e	por	referências	únicas	de	condiscípulos	e	
mestres.	Compartilham	e	difundem,	em	um	mesmo	nicho,	suas	relações	de	trabalhos,	
conversas,	observações,	aprendizagem,	significado,	rituais	e	recordações	do	passado	
igualmente	vivenciado,	 ou	 seja,	 a	 definição	Tyloriana	de	 cultura	 acreditou	que	 “[...]	 o	
meio	ambiente	podia	determiná-la	ou	influenciá-la”	(CLAVAL,	2011,	p.	6),	argumento	que	
caracterizou	uma	associação	com	o	determinismo	geográfico.
Wagner	 e	 Mikesell	 (2011)	 destacam	 que,	 naquele	 século,	 a	 noção	 de	 cultura	
se	 abstinha	 de	 estudar	 o	 ser	 enquanto	 indivíduo	 único,	 segundo	 características	
particulares.	Contudo,	havia	destaque	no	estudo	de	grupos	de	pessoas	que	prontamente	
estivessem	tomado	posse	de	áreas	espaciais	amplas	e	bem	demarcadas,	além	daquelas	
que	já	fossem	estabelecidas	em	suas	crenças	e	comportamentos,	pois	essas	poderiam	
identificar	ou	distinguir	entre	comunidades	evolutivas.
Tylor	abriu	mão	do	relativismo	cultural	e	desconheceu	os	vários	caminhos	da	
cultura.	A	definição	de	cultura,	inspirada	no	darwinismo	evolucionista	que,	a	princípio,	
fundamentou	e	representou	para	muitos	estudiosos	das	ciências	humanas,	entre	eles	
etnólogos,	antropólogos	e	geógrafos,	outrora	foi	considerada	simplista,	pois	congregava	
um	termo,	uma	concepção	seccionada	sobre	toda	a	diversidade	e	complexidade	das	
relações	humanas.	A	exemplo	da	abordagem	unilinear	realizada	como	método	de	análise	
entre	civilizações	e	tribos	selvagens.	
8
A	abordagem	unilinear	foi	um	método	de	análise	que,	sugestivamente,	media	
os	 pares	 (seres	 humanos)	 de	 continentes	 diversos,	 segundo	uma	 régua	 de	 estágios	
evolutivos.	 A	 regra	 evidenciava	 que,	 historicamente,	 uma	 sociedade	 passava	 por	
três	fases:	a	primeira,	de	selvageria,	a	segunda,	de	barbarismo,	até	chegar	ao	ultimo	
grau,	 a	 civilização.	 Sugestivamente,	 povos	 eram	 dimensionados	 e	 expostos	 a	 uma	
supervalorização	 e	 subestimação.	 Foram	 sinalizadas,	 mediante	 a	 unilinearidade,	 as	
diferenças	latentes	entre	as	tribos	indígenas	brasileiras	e	civilizações	da	Europa.
Franz Uri Boas (1858-1942)
O criador da escola cultural americana nasceu na cidade alemã 
de Westfália, mas projetou sua carreira nos Estados Unidos 
desde 1886. Apesar de ter estudado nas áreas da física e da 
geografia com o professor Ratzel, foi na antropologia que se 
descobriu quando fez uma expedição geográfica até a ilha 
Baffinland – Canadá. Uma experiência com os esquimós o tornou 
o antropólogo da era moderna.
NOTA
Longe	de	 uma	 conceituação	 acabada,	 um	outro	 capítulo	 sobre	 a	 história	 da	
evolução	do	conceito	de	cultura	foi	formado,	dessa	vez,	com	Franz	Boas,	no	circuito	da	
antropologia,	entre	os	anos	de	1920-1930	do	Século	XX	(CLAVAL,	2011).	
Franz	Boas	ficou	conhecido	por	se	contrapor	ao	método	evolucionista	unilinear	
e	ser	contra	a	teoria	do	determinismo	geográfico	quando	propagada	pela	capacidade	
generalizadora,	 referindo-se	 à	 normatização	 da	 influência	 geográfica	 acerca	 dos	
fundamentos	culturais	de	um	povo.
O	 determinismo	 geográfico	 considera	 que	 as	 diferenças	 do	 ambiente	 físico	
condicionam	a	diversidade	cultural.	São	explicações	existentes	desde	a	Antiguidade,	
das	formuladas	por	Pollio,	Ibn	Khaldun,	Bodin	e	outros.	Na	virada	do	Século	XIX	para	o	
XX,	teorias	foram	popularizadas	e	vigorosamente	estudadas	por	geógrafos.	A	publicação	
de	obras	contribuiu	para	a	expansão	do	determinismo	geográfico.	Para	a	análise,	 foram	
utilizados	dois	parâmetros,	a	latitude	e	os	centros	de	civilização,	tomando,	como	verdade	
absoluta,	que	as	regiões	dependiam	do	clima	como	um	condicionante	para	o	progresso.
Ele	 se	 diferenciou	 por	 erguer	 a	 bandeira	 da	 ‘diversidade	 cultural’,	 inclusive,	
entre	entes	de	uma	mesma	região,	difundindo	que	existia	um	particularismo	histórico.	
Boas,	enquanto	antropólogo,	questionou	explicações	da	sociedade	e	cultura	por	meio	
único	de	leis	evolucionistas,	direcionando	uma	crítica	a	modos	limitados	dos	métodos	
comparativos.
9
De	maneira	explicativa,	a	partir	de	uma	abordagem	multilinear,	Boas	sugeriu	a	
antropologia	abdicar	do	método	simples	da	comparação	e	fazer	análises	culturais	dos	
povos/regiões	mediante	dois	caminhos:	primeiro,	partindo	do	pressuposto	de	que	todo	
povo	ou	região	possui	uma	história,	para	melhor	compreensão	da	realidade,	tornava-
se	importante	fazer	uma	reconstrução	histórica;	o	segundo,	de	caráter	complementar,	
pois	 traçava	 um	 comparativo	 da	 relação	 social	 entre	 povos	 distintos,	 segundo	 leis	
semelhantes.
Como	formador	cultural	de	inúmeros	antropólogos,	Franz	Boas	foi	uma	grandereferência	 para	 o	 antropólogo	 Alfred	 Kroeber,	 um	 nome	 que	 cresceu	 na	 sociedade	
acadêmica	frente	à	teoria supraorgânica	(CORRÊA,	2009).
Kroeber	elaborou	uma	perspectiva	da	cultura	segundo	a	gênese	da	vida	humana.	
Para	 ele,	 o	 processo	 de	 desenvolvimento	 do	 homem	 começa	 pelo	 nível	 inorgânico,	
orgânico,	até	a	ordem	social	ou	cultural,	que	se	sobrepõe	aos	demais	níveis	(CORRÊA,	
2009).
 
No	decorrer	dos	primeiros	vinte	e	cinco	anos	do	Século	XX,	o	desenvolvimento	
de	outro	ciclo	na	reelaboração	do	conceito	de	cultura	foi	formado.	Agora,	os	aspectos	
biológicos/naturais,	dados	em	hegemonia	nas	análises	anteriores,	foram	interrompidos	
em	 virtude	 do	 novo	 valor	 empregado	 à	 cultura.	 A	 “[...]	 cultura	 era	 vista	 como	 uma	
entidade	 acima	 do	 homem,	 não	 redutível	 às	 ações	 do	 indivíduo	 e,	misteriosamente,	
contemplando	as	leis	próprias”	(DUNCAN,	2011,	p.	64).
 
Conforme	Duncan	 (2011),	os	principais	holistas	transcendentais,	criadores	da	
teoria	que	elevou	a	cultura	a	um	patamar	de	superioridade	naquele	período,	foram	os	
antropólogos	Alfred	Kroeber	e	Robert	Lowie.	Logo	adiante,	Leslie	White	pôde	prosseguir	
com	a	tese	neoevolucionista.
 
Kroeber	 redirecionou	a	antropologia	americana,	de	um	determinismo	geográfico	
na	 perspectiva	 da	 cultura,	 para	 um	 determinismo	 puramente	 cultural.	 Para	 a	 teoria	
supraorgânica,	os	valores	funcionavam	como	código,	este	que	controlava	as	mentes	
humanas	e,	por	conseguinte,	suas	atividades	desenvolvidas.	Os	indivíduos	passaram	a	
ser	reconhecidos	como	simples	coadjuvantes	da	suprema	cultura,	apenas	com	a	função	
de	porta-voz,	levando-a	por	diferentes	regiões	e	períodos	(DUNCAN,	2011).
Para	 Kroeber,	 a	 realidade,	 a	 natureza	 do	 desenvolvimento	 humano	 tinha	 um	
formato	estabelecido	por	ordem	de	prioridades,	um	cenário	no	qual	a	cultura	pairava	
sob	os	demais	seguimentos,	representados	em	níveis	hierárquicos,	 livres	de	explicações	
associativas	entre	si	(DUNCAN,	2011).
10
FIGURA 2 – COMPOSIÇÃO DA REALIDADE APRESENTADA POR KROEBER
FONTE: O autor
Cultural/Social
Psicológico/Biofísico
Orgânico
Inorgânico
A	 criação	 e	 a	 veneração	 pela	 cultura,	 como	 uma	 entidade	 autônoma,	 não	
tinham	apenas	um	sentido	conceitual,	mas	objetivos	internos	da	antropologia	enquanto	
ciência.	Assim,	“[...]	ao	elevar	a	cultura	a	um	nível	superior,	o	antropólogo	não	tinha	mais	
necessidade	dos	 indivíduos	e,	portanto,	não	precisavam	dos	processos	psicológicos”	
(DUNCAN,	2011,	p.	67).	Trava-se	de	discutir	a	cultura	sem,	necessariamente,	 interligar	
explicações	 com	 os	 fundamentos	 ou	 níveis.	 Sendo	 protegida	 dos	 demais	 aspectos,	
tornava-se	um	meio	autêntico	de	pesquisa	da	antropologia.
 
Para	além	daquele	fato,	a	visão	do	holismo	transcendental	massificou	pontos	
fundamentais	 para	 o	 período	 na	 antropologia	 e,	 por	 conseguinte,	 influenciou	 outras	
ciências	que	utilizavam	as	bases	conceituais.	É	possível	que,	nesta	parte	do	texto,	você	
esteja	se	perguntando:	o	que	seria	o	holismo	transcendental?	Discutimos,	anteriormente,	
que,	para	Kroeber	e	demais	antropólogos,	os	indivíduos	com	suas	aparentes	atividades	
assumiram	 um	 papel	 de	 meros	 agentes	 passivos	 frente	 a	 ordens	 de	 algo	 superior.	
“Os	holistas	acreditam	que	eventos	de	 larga	escala,	 como	o	declínio	de	nações,	 são	
autônomos	 e	 amplamente	 independentes	 dos	 indivíduos	 que	 participam”	 (DUNCAN,	
2011,	p.	66).
Caros	 alunos,	 a	 definição	 de	 cultura,	 realizada	 por	 Tylor	 e	 tantos	 outros	
antropólogos,	 passou	 por	 críticas	 a	 partir	 da	 perspectiva	 de	Geertz	 (2008,	 p.	 3).	 Ele	
expõe	que	“[...]	todavia,	esse	padrão	se	confirma	no	caso	do	conceito	de	cultura,	em	
torno	do	qual	surgiu	todo	o	estudo	de	antropologia	e	cujo	âmbito	tem	se	preocupado	
cada	vez	mais	em	limitar,	especificar,	enforcar	e	conter”.
Segundo	Claval	(2011),	após	os	anos	1940-1970,	a	perspectiva	que	compreendia	
a	cultura	como	algo	não	redutível	ao	ser,	apesar	de	haver	ampla	influência,	passou	a	ser	
substituída,	pois	as	relações	mundiais	passavam	por	mudanças,	motivo	que	influenciou	
a	ciência	a	redirecionar	olhares	para	além	da	materialidade	da	vida,	técnicas	produtivas.
 
11
Para	a	ciência,	não	bastava	apenas	apresentar	os	efeitos	que	os	fenômenos	
culturais	causavam	na	sociedade.	Era	preciso	atribuir,	ao	indivíduo,	o	real	valor	da	sua	
visão	de	autóctone,	explicar	mais	que	a	permanência	das	estruturas,	compreendendo	
suas	evoluções	e	história	(CLAVAL,	2011).
 
Considera-se	que	os	antropólogos	da	América	do	Norte,	após	1970,	apresentaram	
mais	fortemente	outro	rumo	conceitual	de	cultura,	concepções	epistemológicas	cuja	
abordagem	trilhava	as	dimensões	simbólicas	(CLAVAL,	2011).
 
Para	entender	a	cultura,	Geertz	(2008)	fez	algumas	análises	sobre	o	processo	
de	evolução	biológica	do	homem,	refutando	a	teoria	do	ponto	crítico	(ao	entendimento	
de	 que	 a	 cultura	 apareceu	 abruptamente)	 e,	 fundamentando-se	 na	 paleontologia	 e	
arqueologia,	criou	algumas	hipóteses,	entendendo	que	a	cultura	vem	de	um	processo	
anterior	 ao	 desenvolvimento	 orgânico,	 a	 passos	 ininterruptos,	 porém	 lentos.	 Na	 sua	
teoria,	o	homem	foi	um	produto	da	cultura,	mas	logo	tornou-se	também	um	produtor,	
acumulando	e	a	desenvolvendo	dentro	de	um	processo	complexo.
Geertz	(2008)	menciona	que,	no	período	da	efervescência	do	Iluminismo,	uma	
máxima	 foi	 dita	 por	Whitehead	 para	 as	 ciências	 naturais,	 foi	 assumida	 pelas	 ciência	
sociais	como	um	ideal	científico	autorizando	noções	simplistas	para	a	compreensão	da	
cultura.	Segundo	o	ditado	“confie,	desconfiando”	da	simplicidade,	para	Geertz,	o	estudo	
do	homem	estava	intrinsicamente	ligado	à	cultura,	logo,	em	tons	de	crítica,	ele	propôs	
que	autor	da	máxima	buscasse	afirmar	o	contrário	para	as	ciências	sociais:	“[...]	procure	
a	complexidade	e	ordene-a”	(GEERTZ,	2008,	p.	25).
A	perspectiva	iluminista	do	homem	era,	naturalmente,	a	de	que	ele	
constituía	uma	só	peça	com	a	natureza	e	partilhava	da	uniformidade	
geral	de	composição	que	a	ciência	natural	havia	descoberto	sob	o	
incitamento	de	Bacon	e	a	orientação	de	Newton.	Resumindo,	há	uma	
natureza	 humana	 tão	 regularmente	 organizada,	 tão	 perfeitamente	
invariante	 e	 tão	 maravilhosamente	 simples	 como	 o	 universo	 de	
Newton.	Algumas	de	suas	leis	talvez	sejam	diferentes,	mas	existem	
leis.	 Parte	 da	 sua	 imutabilidade	 talvez	 seja	 obscurecida	 pelas	
armadilhas	da	moda	local,	mas	ela	é	imutável	(GEERTZ,	2008,	p.	25).
Geertz	buscou	significar	o	homem	mediante	a	definição	de	cultura.	Absteve-
se	da	 idealização	da	clássica	ciência	antropológica,	que	foi	 responsável	por	criar	um	
modelo	ideal	de	homem,	mas	o	fato	desenvolvido	evidencia	a	diversidade	cultural	em	
contraponto	a	uma	unicidade	da	espécie	humana.
Geertz	 (2008)	demonstra	que	a	cultura,	no	sentido	amplo,	não	se	 limita,	não	
determina,	ela	circula,	é	livre,	democrática,	pode	ser	partilhada	entre	as	pessoas.	O	ser	
independente	de	faixa	etária	sempre	estará	pronto	para	vivenciar	limitadamente	uma	
parte	da	cultura,	pois	compreendê-la	em	suas	várias	dimensões	e	plenitude	seria	como	
correr	junto	à	persistente	dinâmica	de	significados	dos	elementos	culturais.
 
12
Numa	perspectiva	demonstrativa,	as	dimensões	simbólicas	se	aplicavam	às	di-
versas	práticas	sociais	e	suas	interligações,	ao	contrário	dos	processos	de	generaliza-
ção	e	segmentação	de	análises,	como	propõe	Geertz	(2008,	p.	21):
Olhar	 as	 dimensões	 simbólicas	 da	 ação	 social	 -	 arte,	 religião,	
ideologia,	ciência,	 lei,	moralidade,	senso	comum	-	não	é	afastar-se	
dos	dilemas	existenciais	da	vida	em	favor	de	algum	domínio	empírico	
de	 formas	 não	 emocionalizadas.	 É	 mergulhar	 no	 meio.	 A	 vocação	
essencial	da	antropologia	interpretativa	não	é	responder	às	questões	
mais	profundas,	mas	colocar,	à	disposição,	as	respostas	que	outros	
deram	-	apascentando	outros	carneiros	em	outros	vales	–	e,	assim,	
incluir	no	registro	de	consultas	sobre	o	que	o	homem	falou.
A	 antropologia	 interpretativa	 identificadana	 essência	 dos	 estudos	de	Geertz	
buscava	 neutralizar	 qualquer	 significado	 fixo	 para	 teorizar	 a	 cultura,	 e	 sua	 pesquisa	
não	se	 limitou	às	 respostas	prontas	e	acabadas	como	 receitas	herdadas.	O	princípio	
do	estudo	apresentava	os	mais	diversos	grupos	sociais	em	relações	dinâmicas	com	as	
dimensões	simbólicas,	significando	e	ressignificando	a	cultura.
Cliford Geertz 
Ingressou como discente do curso de Antropologia na Universidade de 
Harvard - Departamento de Relações Sociais. Posteriormente, como 
docente, ensinou por dez anos no Departamento de Antropologia 
da Universidade de Chicago, em Princeton. No Instituto de Estudos 
Avançados, percorreu uma longa trajetória enquanto professor. 
Entre inúmeros ensaios, elaborou o livro A interpretação das Culturas, 
no ano de 1973. Como antropólogo, interessou-se em redefinir 
dinamicamente o conceito de cultura, mas trabalhou também nas 
áreas de desenvolvimento econômico, organização social, história 
comparativa e história da ecologia cultural.
NOTA
Outras	correntes	fizeram	parte	do	processo	evolutivo	dos	estudos	de	cultura,	
e	uma	é	explicada	pelo	ambiente	econômico	concebido	também	pelas	guerras.	“[...]	A	
cultura	torna-se	um	instrumento	de	dominação.	É	usado	pelas	classes	mais	altas	para	
impor,	 às	classes	mais	baixas,	comportamentos	conforme	seus	 interesses”	 (CLAVAL,	
2011,	p.	8).
 
A	inserção	do	marxismo	como	modo	explicativo	através	da	corrente	teórica	do	
materialismo	histórico	e	dialético	para	a	cultura	influenciou	estudiosos	como	Gramsci	e	
Raymond	Williams.
13
No	período	dos	anos	setenta,	embasamentos	na	área	da	sociologia,	com	Stuart	
Hall,	também	trouxeram	compreensões	sobre	os	estudos	culturais.	Ele	dinamizou	seu	
trabalho	 intelectual,	e	seu	objetivo	não	era	se	apropriar	de	 ideias	como	devoto,	nem	
retalhar	pontos	inconsistentes	frente	seu	posicionamento.	Além	dele:
 
Deglutiu	Marx,	Gramsci,	Bakhtin.	Saboreou	Louis	Althusser,	Raymond	
Williams,	Richard	Hoggort,	Fredric	Jameson,	Richard	Rorty,	Jacques	
Derrida,	Michel	Foucault,	E.	P.	Thompson,	Gayatri	Spivak,	Paul	Gilroy,	
com	algo	de	 Ien	Ang,	Cornel	West,	Homi	Bhabha,	Michele	Wallace,	
Judith	 Butler,	 David	 Morley,	 assim	 como	 ingeriu	 Doris	 Lessing,	
Barthes	Weber,	Durkheim	e	Hegel	(SOVIK,	2003,	p.	10).
 
Apesar	de	descordar	de	alguns	pontos	relativos	à	teoria	de	Marx,	Hall	foi	atraído	
pelos	atributos	do	estudo	referente	à	teoria	do	capital/classe	social,	de	poder/exploração,	
e	da	produção	de	conhecimento	crítico.	Ainda,	em	Gramsci,	pôde	absorver	o	estudo	
de	raça	e	etnia	para	compreensão	da	realidade	contemporânea	e	o	multiculturalismo	
(SOVIK,	2003).
Hall	contribuiu	com	os	paradigmas	da	teoria	da	cultura,	interessado	em	pensar	
sobre	o	social	e	simbólico	longe	do	reducionismo.	“[...]	Ele	persistiu	no	estudo	relação	
entre	os	meios	de	comunicação	e	a	cultura,	o	 lugar	da	história	no	estudo	da	cultura	
contemporânea,	 a	 sua	epistemologia	ou,	 ainda,	 a	maneira	pela	qual	 lê	questões	das	
etnias	dominantes	e	de	gênero”	(SOVIK,	2003,	p.	14).
Stuart Hall (1932)
Sua origem jamaicana auxiliou a escolha por dois motivos de estudo: 
preocupações étnicas e anticoloniais. Enquanto intelectual da sociologia, 
repensou a cultura frente à globalização. Entre os anos de 1958-1961, 
atuou na revista New Left Review, propondo temáticas sobre compreensão 
das classes sociais, movimentos sociais e política, desarmamento nuclear 
e questões raciais britânicas. Em 1964, na universidade de Birmingham, 
foi um dos fundadores do Centre for Contemporary Cultural Studies. Em 
1979, foi transferido para a Open University, onde institucionalizou os 
estudos culturais britânicos e, em períodos posteriores, pôde constatar o 
crescimento dessas pesquisas por diferentes partes do mundo.
NOTA
Cremos	que,	durante	a	primeira	leitura	acerca	da	cultura	enquanto	diretriz	de	
pesquisa	acadêmica,	você	percebeu	uma	sutil	linha	do	tempo.	Ela	teve,	como	propósito,	
evidenciar	algumas	das	inúmeras	dinâmicas	na	evolução	da	definição	de	cultura.	É	certo	
que	não	tocamos	na	totalidade	do	estudo,	 tendo	em	vista	que	não	é	nosso	objetivo	
central,	mas	apresentamos	diferentes	períodos,	 concepções	do	termo,	 além	de	uma	
apresentação	teórica	epistemológica	ligada	à	cultura.
14
3 O INTERESSE DA GEOGRAFIA PELA CULTURA E A 
GEOGRAFICIDADE DA GEOGRAFIA CULTURAL
Propomos,	 nesta	 fase,	 que	 haja	 uma	 reflexão	 sobre	 a	 geograficidade	 da	
geografia	cultural.	Para	isso,	motivamos	você	a	responder	breves	perguntas:	É	possível	
tornar	geográfico	um	fenômeno	que	envolve	dimensões	religiosas?	Como	compreender	
os	territórios	além	das	delimitações	físicas?	Existem	aproximações	entre	estudos	de	
identidade	e	geografia?	Certamente,	 ao	 longo	do	processo	de	 conhecimento,	 outros	
inúmeros	questionamentos	serão	realizados,	possibilidades	de	temáticas	pesquisadas,	
mas	atenção	quanto	à	espacialização	do	fenômeno.
 
Gomes	 (2009,	 p.	 27)	 generosamente	 esclarece	 que	 “há,	 contudo,	 sempre	
uma	análise	geográfica	quando	o	centro	de	nossa	questão	é	a	ordem	espacial,	pouco	
importando	 o	 tipo	 de	 fenômeno	 [...]”.	 A	 geografia	 cultural	 possui	 seus	 fundamentos	
amparados	 na	 ciência	 geográfica	 e	 essa	 unidade	 pode	 ser	 demonstrada	 a	 partir	 da	
absorção	intelectual	nas	bases	geográficas.
A	geografia	cultural	está	associada	a	experiências	que	os	homens	têm	da	terra,	
da	natureza	e	do	ambiente.	Estuda	a	maneira	pela	qual	eles	modelam	para	responder	às	
necessidades,	seus	gostos	e	suas	aspirações,	e	procura	compreender	a	maneira	como	
eles	aprendem	a	se	definir,	a	construir	sua	identidade	e	a	se	realizar	(CLAVAL,	1997,	p.	89).
FIGURA 3 – RELAÇÃO VISUAL ENTRE A GEOGRAFIA E A GEOGRAFIA CULTURA
FONTE: O autor
Geografia
Geografia 
Cultural
Base de estudo para o subcampo 
da Geografia Cultural.
Interesses da disciplina Geografia Cultural
• Relação Homem - Espaço;
• Dimensões simbólicas; 
• Experiência humana dos sentidos e percepções;
• Estudo da diversidade - integrantes da sociedade.
Como	 é	 oriunda	 da	 ciência	 geográfica,	 é	 natural	 que	 o	 alicerce	 da	 geografia	
cultural	seja	correspondente.	Tais	fundamentos	foram	reconhecidos	por	Claval	(2011),	
quando	apresentou	um	balanço	desses	elos	mostrando	o	que	vinculam.	
15
“[...]	 A	 geografia	 que	 estuda	 os	 grupos	 humanos	 se	 detém	 nos	 discursos	 e	
nas	representações,	uma	vez	que	estas	últimas	traduzem	maneiras	de	padronização”	
(CLAVAL,	1997,	p.	93).
A	geograficidade	é	uma	nomenclatura	referida	por	Dardel,	que	propõe	a	busca	
pela	decodificação	do	espaço	através	do	que	se	sente	ou	reconhece	a	partir	das	distintas	
formas	 atribuídas	 ao	meio.	 Há	 categorias:	 os	 espaços,	 lugar,	 paisagens,	 naturais	 ou	
artificiais,	além	da	identidade	e	territorialidade.	São	estruturas	e	modo	pelo	qual	o	ser	
humano	pode	desenvolver	suas	habilidades	e	seu	enraizamento	existencial.
A	seguir,	apresentaremos	nove	pontos	sobre	os	quais	a	geografia	cultural	 se	
baseou	para	desenvolver	suas	análises	e	narrativas.
QUADRO 1 – CONCEPÇÕES ABORDADAS PELA GEOGRAFIA CULTURAL
Relação de aspectos comuns entre Geografia e a Geografia Cultural
I-	O	conhecimento	do	mundo	sempre	se	faz	através	das	representações
II-	A	cultura	é	construída	a	partir	de	elementos	transmitidos	ou	inventados
III-	A	cultura	existe	através	dos	indivíduos	que	a	recebem	e	a	modificam.	Eles	se	constroem	
como	indivíduos	no	processo
IV-	O	processo	da	construção	da	cultura	também	é	um	processo	social
V-	A	construção	do	indivíduo	como	ser	social	se	traduz	pelo	nascimento	de	sentidos	de	
identidade
VI-	A	construção	da	sociedade	pela	cultura
VII-	A	construção	do	espaço	pela	cultura
VIII-	A	gênese	dos	sistemas	de	crenças	e	valores
IX-	Cultura	e	ideologias	comunitárias
FONTE: Adaptado de Claval (2011, p. 16 -19)
Percebe-se	que,	dentro	da	abordagem,	o	homem	se	destaca.	Tal	fato	caracteriza	
a	 geografia	 cultural	 moderna	 e	 na	 perspectiva	 que	 discutiremos	 pontualmente	 os	
conteúdos	apresentados.
O	primeiro	ponto,	“o	conhecimento	do	mundo	sempre	sefaz	através	das	repre-
sentações”,	indica	que	o	ser	humano,	a	princípio,	não	adquire	um	conhecimento	instan-
tâneo	sobre	os	fatos	e	realidades	da	terra,	pois	são	distintos,	a	exemplo	das	estruturas	
de	organização	espacial	e	lugares,	mas	o	processo	se	inicia	de	maneira	básica,	com	os	
sentidos	e	as	sensações	liberadas	aos	primeiros	contatos	do	indivíduo	com	o	mundo.
Claval	 (1997)	afirma	que	o	homem	interpreta	o	mundo	por	meio	dos	sentidos	
inerentes	 a	 ele.	 Com	 a	 visão,	 observa-se	 as	 formas,	 audição,	 ruídos	 e,	 com	 olfato,	
aromas.	“[...]	O	homem	age,	primeiramente,	em	função	das	indicações	que	ele	recebe	
dos	sentidos”	(CLAVAL,	1997,	p.	93).
 
16
Outra	afirmativa	do	autor	supracitado	se	refere	à	sensação,	garantindo	que	esta,	
apesar	de	refletir	a	realidade,	apenas	torna-se	segura	quando	assume	uma	condição	
estável,	ou	seja,	quando,	junto	com	a	sensação,	exista	uma	percepção.
A	percepção	é	um	importante	elemento	da	dinâmica	das	represen-
tações	sociais,	pois	significa	o	movimento	de	um	sujeito	situado	na	
relação	com	o	concreto	em	construção.	A	apreensão	que	o	sujeito	
faz	a	partir	dos	referenciais	faz	concluir	que	a	racionalidade	não	está	
imune	à	ideologia	(BOMFIM,	2012,	p.	15).
Para	 Claval	 (1997),	 o	 contexto	 das	 representações	 se	 pauta	 em	 processos	
que	 ocorrem	 entre	 indivíduos,	 relacionando,	 por	 exemplo,	 a	 educação	 na	 troca	 de	
experiências	 e	 a	 construção	 da	 realidade	 e	 reinterpretação.	 A	 estruturação	 da	 fase	
ocorre	no	domínio	do	cognitivo,	primeiramente	com	as	sensações	adquiridas	e,	depois,	
com	a	idealização	da	imagem	constituída.
De	acordo	com	o	que	está	sendo	desenvolvido	e	relacionado	às	representações,	
poderíamos	questionar	qual	a	finalidade.	Claval	(1997)	sintetiza	que	as	representações	
são	 como	 tramas,	 um	 conjunto	 de	 fios	 entrelaçados	 que	 contribuem	 para	 que	 o	
indivíduo	assimile	a	realidade,	destacando	aspectos	sociais,	geográficos	e	metafísicos.	
Por	fim,	essas	representações	subsidiam	a	criação	de	valores,	alimentando	a	formação	
de	ordens	regulamentadoras.
Certamente,	 a	discussão	ganha	 rumos	discordantes	 também,	pois	 a	 realidade	
pode	 não	 ser	 refletida	 fielmente,	 mas	 individualizada	 através	 da	 percepção.	 “[...]	 Os	
homens	não	agem	em	função	do	real,	mas	em	razão	da	imagem”	(CLAVAL,	1997,	p.	94).
 
Se	o	indivíduo	for	capaz	de	captar,	questionar,	perceber	os	ambientes,	buscando	
entender	como	funciona	a	criação	das	representações	e,	também,	sua	capacidade	de	
interferência	em	escalas	macro	ou	micro,	 inevitavelmente,	sua	 intenção	se	alinha	às	
dimensões	da	geografia	cultural.
As	 representações	são	percebidas	eficazmente	na	geografia	cultural	enquanto	
ciência	por	volta	da	década	de	1980	para	1990.	Primeiramente,	com	as	representações	
mentais	de	imagens	relacionadas	ao	meio	ambiente,	como	os	alpes,	neve,	comunidades	
locais	ou	turísticas.	Posteriormente,	outro	aspecto	passou	a	ser	levado	em	consideração,	
o	 do	 meio	 social	 e	 os	 discursos,	 ou	 o	 poder	 da	 utilização	 da	 língua	 relacionado	 à	
construção	da	realidade	geográfica	(CLAVAL,	2011).
O	segundo	ponto	descrito	no	quadro,	“a	cultura	é	construída	a	partir	de	elementos	
transmitidos	ou	 inventados”,	destitui	 a	 ideia	de	que	a	cultura	é	 inata	e	nasce	com	o	
homem.	As	 culturas	 são	 aprendidas	 e	 assimiladas	 por	 um	processo	 de	 transmissão,	
representadas	 pelo	 agrupamento	 de	 práticas,	 conhecimentos,	 atitudes	 e	 crenças.	 Dois	
fatores	são	 importantes	para	compreender	os	conhecimentos	e	práticas:	a	natureza	e	o	
conteúdo	da	cultura	portada	por	cada	sujeito.
17
A	transmissão	pela	língua	nativa,	gestos,	escrita	e	mídias	modernas	são	meios	
de	 difusão	 da	 cultura,	 mas,	 para	 a	 geografia	 cultural,	 os	 lugares	 onde	 ocorre	 essa	
difusão	se	destacam,	estrategicamente,	tanto	na	formação	do	ser	humano	quanto	na	
elaboração	da	cultura,	pois	“os	lugares	e	suas	paisagens	servem	de	suporte	a	uma	parte	
das	mensagens	transmitidas”	(CLAVAL,	2011,	p.	16).
Para	 Claval	 (1997,	 p.	 94),	 “a	 informação	 que	 constitui	 a	 cultura	 concerne	 o	
ambiente	natural	no	qual	vive	o	homem,	a	maneira	de	produzir	 alimentos,	 energia	e	
matéria-prima,	assim	como	as	formas	de	construir	instrumentos	e	de	empregá-los	para	
criar	ambientes	artificiais”.
No	 terceiro	 ponto,	 é	 perceptível	 que	 a	 geografia	 cultural	 apresente	 o	 sujeito	
com	destaque	em	relação	ao	processo	de	absorção	e	modificação	da	cultura,	indicando,	
também,	uma	mudança	na	dimensão	individual	do	ser	ao	longo	da	vida.
 
O	processo	pode	ser	tomado,	inicialmente,	a	partir	da	fase	infantil,	período	de	
conhecimento	 prático,	 habilidades,	 competências,	 base	 para	 uma	 estrutura	 interna	
segundo	 noções,	 preferências	 e	 crenças.	 Posteriormente,	 na	 adolescência,	 segundo	
um	 processo	 de	 interiorização	 e	 reconstrução	 que	 prossegue	 absorvendo	 novos	
conhecimentos,	técnicas	e	valores	que	vão	se	transformando	nas	fases	vindouras,	ou	
seja,	todo	o	processo	não	finda	em	uma	faixa	etária.
 
Apesar	do	ciclo	de	transformações	ser	constante	em	todas	as	fases,	é,	na	vida	
adulta,	que	o	sujeito	entende	os	processos	de	 institucionalização	 indicados	pelas	regras	 
e	valores	desenvolvidos	pela	sociedade.
Contextualizando, é possível que você, enquanto estudante, já tenha instalado um aplica-
tivo em seu smartphone. Quando a tarefa é realizada, observe que ele vem pronto e pode 
ser colocado de forma idêntica em qualquer outro aparelho. São meios engessados, não 
pensam por si, já nós, seres humanos, temos a capacidade de controle, somos agentes de 
um processo de transformação em cada etapa, temos a escolha de seguir ou 
não adiante. As mudanças são constantes, diárias. Em segundos, opiniões 
são desfeitas e refeitas. 
As culturas também não são como um programa fixo, definido, mas são 
heterogêneas, principalmente entre os entes da sociedade, em seus 
processos de construção. Imagine o Brasil, onde as regiões possuem 
suas particularidades entre cultura, fauna, flora, paisagens, 
e todas as dinâmicas espaciais, incluindo grupos sociais 
que carregam identidade própria. Certamente, a partir 
de um processo de recebimento de cultura que todo e 
qualquer indivíduo se desenvolve.
NOTA
18
	“O	processo	da	construção	da	cultura	também	é	um	processo	social”.	Para	a	
compreensão	do	tópico,	Claval	(2011)	inicia	apresentando	o	indivíduo	como	um	resul-
tado	de	um	processo	social,	tendo	em	vista	a	influência	coletiva	que	ele	experimenta.	
Desde	atitudes,	costumes,	representações	e	valores,	foi	argumentado	que,	dentro	de	
cada	processo	social,	a	transmissão	torna-se	a	etapa	mais	significativa.	É	a	partir	dela	
que	o	sujeito	se	torna	um	ser	social,	diferente	ou	semelhante	a	outros.	“O	processo	é	tão	
fundamental	quanto	o	processo	de	divisão	da	sociedade	em	profissões,	em	estatutos,	
em	classes	ou	conforme	as	riquezas”	(CLAVAL,	2011,	p.	17).
Neste	 momento,	 vamos	 observar	 o	 seu	 entendimento	 da	 afirmativa:	 “A	
construção	do	 indivíduo	como	ser	 social	 se	traduz	pelo	nascimento	dos	sentidos	de	
identidade”.
A	grande	maioria	dos	brasileiros	porta	documentos,	e	um	deles	é	a	identidade.	É	
caracterizada	por	conter	informações	básicas	de	quem	você	é,	sua	origem,	descendência,	
sobrenome,	 o	 local	 de	 nascimento,	 quesitos	 que	 podem	 dizer	 algo	 ao	 seu	 respeito,	
não	o	bastante	quando	se	refere	à	construção	da	individualidade	e	às	diferenças.	Ao	
longo	da	vida,	de	forma	individual,	o	sujeito	busca	formar	uma	identidade,	e	as	pessoas,	
coletivamente,	buscam	perpetuar	uma	identidade	já	estabelecida.
 
Sobre	o	sentido	da	identidade,	Claval	(2011)	afirma	que	é	uma	experiência	indi-
vidual,	e	está	relacionada	com	os	convívios	familiar	e	social.	A	 identidade,	em	caso	de	
confissão	de	fé	ou	concretude	de	uma	nação,	advém	de	conjunto	aplicado	à	construção	
do	intelecto	e	ao	ensino	sistemático.	Um	outro	ponto	se	refere	à	imparcialidade	entre	a	
ligação	de	um	dado	território	com	uma	identidade	anteriormente	assumida.	A	partir	do	
advento	das	mídias	modernas,outras	perspectivas	foram	analisadas,	houve	uma	inter-
venção	quanto	às	posições	hegemônicas	e	novos	conceitos	foram	gerados	e	associados.
A partir de uma experiência pessoal, é possível entender o sentido da 
identidade na formação do ser social. Eu, sou professor, por exemplo, 
sou natural da cidade de Campina Grande, localizada no estado da 
Paraíba, região do Nordeste brasileiro, mas hoje escrevo de uma 
cidade situada na Região Sul, conhecida por ter sido uma colônia 
alemã, Blumenau. 
 
Com os blumenauenses, revivi as raízes culturais germânicas a 
partir de festas típicas, do uso da língua alemã entre as famílias, na 
culinária, nas construções e edificações, apesar de brasileiros, assim 
como eu, outros habitantes da cidade, se distinguirem de mim e das 
minhas heranças culturais. Essas relações formam grupos com uma 
identidade local e demais com suas referências culturais diferentes.
NOTA
19
As	 identidades	 se	 associam	 ao	 espaço:	 elas	 se	 baseiam	 nas	 lembranças	
divididas,	nos	lugares	visitados	por	todos,	nos	monumentos	que	refrescam	a	memória	
dos	grandes	momentos	do	passado,	nos	símbolos	gravados	nas	pedras	das	esculturas	
ou	nas	inscrições	(CLAVAL,	1997).
O	sexto	tópico	explica	que,	assim	como	a	sociedade,	a	partir	da	cultura,	interfere	
na	formação	do	indivíduo,	a	sociedade	também	é	resultado	das	práticas	culturais:
 
A	análise	parte	do	calendário	de	cada	um,	de	sua	agenda,	dos	papéis	
diversos	 que	 ele	 tem	no	 tempo,	 da	 proximidade	 com	 aqueles	 que	
têm	o	mesmo	papel.	O	processo	gera	uma	consciência	de	pertencer	
a	 uma	 comunidade	 compartilhada,	 a	 uma	mesma	 classe,	 quando	
os	 indivíduos	 que	 efetuam	 as	 mesmas	 atividades	 se	 comunicam	
facilmente	e	têm	uma	ideia	clara	da	semelhança	de	seus	problemas	
e	interesses.	Ao	mesmo	tempo,	a	participação	dos	indivíduos	em	face	
de	relações	institucionalizadas	explica	a	divisão	do	trabalho	social	e	
o	funcionamento	dos	grupos	(CLAVAL,	2011,	p.	18).	
A	geografia	cultural	deve,	como	prioridade,	apresentar	a	construção	do	espaço	
pelo	prisma	da	cultura.	Claval	(1997;	2011)	fez	uma	retrospectiva	para	compreendermos.
 
A	princípio,	o	homem	fez	uso	do	espaço	de	maneira	que	contemplasse	suas	
necessidades	de	alimentação,	retirando	da	natureza,	da	segurança	e	proteção	em	relação	
aos	 eventos	 naturais	 e	 àqueles	 oriundos	 do	meio	 social.	 De	maneira	 esclarecedora,	
o	autor	expõe	que	a	organização	do	espaço	desenvolvida	pelo	homem	nem	sempre	
apontou	por	efeitos	nocivos,	mas,	em	sua	maioria,	exaltou-se	pela	representatividade	
da	conquista	e	domínio	do	meio.
Para	 Claval	 (2011),	 a	 organização	 espacial	 é	 resultado	 de	 percepção	 de	 que	
o	 homem	 tem,	 do	 espaço,	 uma	 força	 de	 atuação	 coletiva,	 desenvolvendo	 técnicas,	
modelos	e	sua	socialização	para	construir.
 
No	âmbito	da	organização	espacial,	é	inerente	focalizar	no	item	da	socialização	
do	espaço.	É,	por	meio	do	desempenho	de	diversos	seguimentos,	que	há	a	composição	
da	sociedade,	desde	a	dimensão	individual,	coletiva,	até	organizações	institucionalizadas	
que	são	empregadas	as	condições	de	direito	de	uso	da	terra,	de	práticas	estratégicas	de	
atividades	produtivas	ou	de	lazer.
A	 influência	 na	 construção	 do	 espaço	 está	 na	 interiorização,	 na	 atuação	 do	
homem	 desde	 o	 momento	 em	 que	 se	 criou	 ou	 idealizou	 representações	 acerca	 da	
realidade.	Esses	elementos	representam	os	seus	anseios,	desejos	e	valores.
A	 socialização	 do	 espaço	 não	 distribui	 os	 direitos	 de	 uso	 ou	 de	
propriedade	do	espaço	duma	maneira	igualitária.	Os	poderosos	e	ricos	
têm	muitas	mais	possibilidades.	Eles	utilizam	para	escolher	as	ótimas	
localizações,	os	lugares,	os	nada	agradáveis,	e	para	impor	as	formas	
de	utilização	da	terra	e	da	construção	de	edifícios.	A	qualidade	de	
suas	escolhas	confere	um	estatuto	mais	alto	e	legitima	a	sua	posição	
social	(CLAVAL,	2011,	p.	18).	
 
20
Ainda	na	perspectiva	mencionada,	Claval	 (2011)	propõe	 refletir	 sobre	a	direta	
participação	ou	 luta	das	classes	menos	favorecidas	na	construção	espacial,	além	da	
apropriação	social	do	espaço.	Independentemente	dos	atos	reais	que	agreguem	atenção	
para	os	grupos,	eles,	por	diversas	vezes,	são	colocados	nas	zonas	de	invisibilidade	da	
sociedade.	Para	facilitar	o	entendimento	sobre	essa	realidade:	vocês	consegue	lembrar	
de	algum	ato	ou	protesto	de	entidades	ou	parcelas	da	população	realizado	em	espaços	
públicos?	Pois	bem,	atos	são	caracterizados	pela	busca	da	visibilidade	com	a	apropriação	
social	dos	espaços.
 
O	 ponto	 oitavo	 busca	 apresentar	 uma	 compreensão	 de	 como	 surgiram	
os	 sistemas	 de	 crenças	 e	 de	 valores.	 A	 princípio,	 cada	 ser	 possui	 uma	 capacidade	
interpretativa,	mental	e	de	experiências	únicas	com	o	espaço.	Quando	somadas	essas	
realidades	complexas	que	os	indivíduos	produzem	e	materializam,	são	formalizadas	as	
ordens	normativas,	as	quais	representam	individualmente	e	coletivamente.
Esses	 alhures	 oferecem	 a	 visão	 de	 outros	 mundos.	 Servem	 de	
modelo	para	orientar	a	ação	dos	homens.	As	perspectivas	abertas	
são	a	fonte	dos	sistemas	de	crenças,	religiões	ou	ideologias,	dando	
uma	dimensão	normativa	à	vida	social,	dirigindo	a	ação	humana	e	
conduzindo	 a	 construção	 dum	 futuro	melhor,	 neste	mundo	 ou	 no	
outro	(CLAVAL,	2011,	p.	19).
 
Pode	 ser	 confirmado	 que	 os	 sistemas	 de	 crenças	 e	 de	valores	 somente	 são	
possíveis	 quando	 entendidos	 a	 partir	 de	 normas	 criadas,	 das	 relações	 entre	 grupos	
sociais	e	da	socialização	dos	espaços	(CLAVAL,	2011).	Com	essa	interação,	é	possível	
difundir	 que	 fundamentos	 concretos	 e	 abstratos	 se	 conectam	 em	 prol	 de	 uma	
organização	funcional.
 
O	aspecto	sobre	cultura	e	ideologia	comunitária,	no	ponto	nove,	retrata	a	noção	
da	 cultura	 a	 partir	 de	 uma	 sequência	 mencionada	 anteriormente	 no	 ponto	 dois.	 A	
cultura	se	caracteriza	por	ser	um	conjunto	de	processos	transmitida	pelos	e	entre	os	
homens,	os	quais	produzem	e	reproduzem	comportamentos	não	congênitos,	ou	seja	
não	se	encontram	no	DNA	dos	seres	humanos.
FIGURA 4 – AFIRMATIVAS SOBRE A CULTURA
A cultura não é
Fixa ou imóvel
Intangível ou imcompreensível
A cultura é
Múltipla, formada por vários elementos
Evolui contínuamente
FONTE: Adaptado de Claval (2011)
21
A	cultura	desenvolve	outra	face	quando	utilizada	em	grupos	comunitários.	Iden-
tidades	são	construídas	e	certas	dimensões	apresentam	aspectos	normativos,	aqueles	
que	regulamentam,	propõem	padrões	e	regras	por	 indivíduos	que	vivem	determinados	
espaços,	 territórios	 ou	 sociedades.	 As	 ideologias	 comunitárias	 entram	 na	 discussão	
para	 justificar	a	dimensão	 ideológica	que	se	forma	através	da	cultura.	Como	exemplo,	
há	uma	comunidade	cristã	da	fé	reformada.	Ela	se	une	em	prol	do	compartilhamento	de	 
uma	visão	cristocêntrica,	carregando	regras	de	fé,	condutas,	valores.
 
Apesar	do	exemplo	mencionado,	vale	lembrar	que	existem	grupos	que	constro-
em	uma	 identidade	para	 realizar	práticas	de	fundamentalismo	religioso,	utilizando	a	fé	
para	impor	violentamente	suas	crenças,	causando	conflitos	de	intolerância	religiosa	em	 
escala	local	e,	até	mesmo,	internacional.
 
O	Tópico	1	 introduz	etapas	evolutivas	do	entendimento	sobre	cultura,	culminando	 
no	Tópico	2,	com	o	interesse	da	dimensão	espacial	da	cultura	pela	geografia	cultural	em	
sua	perspectiva	moderna.	Ao	desenvolver	do	estudo,	 longas	trajetórias	serão	explicadas	
nas	seções	seguintes.	Realizamos,	até	o	presente	momento,	uma	breve	apresentação	
da	descendência,	originalidade	e	pertencimento	da	geografia	cultural,	 seu	elo	com	a	
ciência	geográfica,	e	aproximações	com	as	ciências	sociais	afins,	o	que	demonstra	sua	
interdisciplinaridade	e	importância	na	produção	de	estudos	de	ordem	espaciais.
22
Neste tópico, você aprendeu:
•	 Existe	 uma	 reflexão	 interdisciplinar	 na	 geografia	 cultural	 em	 torno	 da	 construção	
conceitual	da	definição	de	cultura.	Foi	 tangenciada	por	geógrafos,	 antropólogos	e	
sociólogos,	como	Edward	Burnett	Tylor,	FranzUri	Boas,	Alfred	Kroeber,	Cliford	Geertz	
e	Stuart	Hall.	Profissionais	que	produziram,	em	séculos,	e	com	influências	filosóficas	
distintas.
•	 A	concepção	filosófica	tyloriana	definiu	que	o	meio	ambiente	podia	determinar	e	gerar	
influências	à	cultura,	segundo	o	princípio	de	determinismo	geográfico	e	a	concepção	
unilinear.
•	 Boas	 foi	 um	 geógrafo	 e	 antropólogo	 que	 se	 diferenciou	 por	 utilizar	 o	 discurso	
multilinear	para	conceituação	da	cultura.	Amparando-se	no	particularismo	histórico,	
ele	afastou-se	de	uma	perspectiva	de	comparação	metodológica,	segundo	as	 leis	
evolucionistas,	 para	 buscar	 explicações	 culturais.	 Boas	 partiu	 do	 princípio	 de	 que	
todo	 povo	 ou	 região	 possui	 uma	história	 singular	 e,	 por	 esse	motivo,	 sua	 história	
deveria	ser	reconstruída.
•	 Kroeber	foi	 responsável	pela	teoria	cultural	 supraorgânica	que,	posteriormente,	 foi	
assimilada	e	adotada	por	Sauer.	A	definição	sobre	a	cultura	se	vinculava	e	reproduzia	
uma	estrutura	da	gênese	da	vida	humana	na	perspectiva	evolucionista,	iniciando	pelo	
nível	 inorgânico,	orgânico,	até	a	ordem	social	ou	cultural,	cuja	dimensão	se	posiciona	
acima	do	homem,	além	dos	demais	níveis.
 
•	 Na	 teoria	 interpretativista,	 a	 cultura	 passou	 a	 ser	 interpretada	 como	 sistemas	
simbólicos	(linguagem,	arte,	mito	ritual),	desenvolvida,	sobretudo,	pelo	estadunidense	
Clifford	Geertz,	um	dos	maiores	nomes	da	antropologia	do	Século	XX.
 
•	 Outro	 nome	 importante	 que	 rompeu	 com	 o	 antigo	 paradigma	 sobre	 uma	 cultura	
pronta	e	engessada	foi	o	sociólogo	Stuar	Hall.	Ele	propôs	aliar	as	temáticas	sociais	
com	as	simbólicas	para,	então,	compreender	a	cultura.	Em	seus	estudos,	trata,	por	
exemplo,	 das	 relações	 entre	 cultura	 e	 meios	 de	 comunicação,	 história	 e	 cultura,	
etnias,	gênero	e	outros	temas.
•	 A	 geografia	 cultural	 é	 definida	 como	 um	 subcampo	 da	 geografia,	 e	 os	 objetivos	
de	análise	da	disciplina	seguem	através	da	ordem	espacial	da	cultura,	ou	seja,	as	
dimensões	simbólicas	do	espaço,	os	sentidos	e	percepções	do	homem,	a	diversidade	
de	contextos	espaciais	etc.
RESUMO DO TÓPICO 1
23
•	 A	 geografia	 cultural	 foi	 substanciada	 pelas	 cíclicas	 revisões	 na	 conceituação	
da	 cultura,	 como	 a	 abdicação	 do	 entendimento	 supraorgânico	 da	 cultura.	 Há	 a	
possibilidade	de	assimilar	a	cultura	através	de	coisas	comuns	do	dia	a	dia	familiar,	no	
ambiente	de	convívio	social,	linguagens,	habilidades	referentes	a	classes	ou	minorias	
sociais.
•	 A	base	da	geograficidade	da	geografia	cultural	advém	de	Dardel,	historiador	e	geógrafo	
que	preocupou-se	em	compreender	o	seu	meio,	independentemente	de	ser	natural	
ou	artificial,	mas,	em	sua	forma	mais	ampla,	envolvendo	sentimento	nas	relações	dos	
espaços,	com	paisagens,	territorialidade,	identidade	etc.
24
AUTOATIVIDADE
1	 Com	 relação	 à	 abordagem	 de	 Tylor	 em	 1871	 sobre	 a	 cultura,	 marque	 com	 (V)	 as	
proposições	verdadeiras	e	com	(F)	as	falsas:
(			)	 Tylor,	 em	 1817,	 propôs	 uma	 concepção	 complexa	 sobre	 cultura:	 “a	 cultura	 era	
absorvida	mediante	o	relativismo	cultural;	tudo	era	inato	do	homem”.
(			)	 Para	Tylor,	a	cultura	não	faz	parte	do	código	genético	do	indivíduo.	Este	não	nasce	
com	 características	 culturais	 próprias,	mas	 a	 cultura	 passa	 a	 ser	 concebida	 por	
meio	da	aprendizagem	na	sociedade,	a	exemplo	da	linguagem,	símbolos,	práticas,	
técnicas,	leis	etc.
(			)	 Os	geógrafos	apoiaram	a	concepção	tyloriana	da	cultura	mediante	o	determinismo	
geográfico	representado	na	estrutura	conceitual.
(			)	 Tylor	 se	 abdicou	 do	 relativismo	 cultural,	 mas	 fez	 uso	 da	 abordagem	 unilinear,	
método	que	comparava,	em	níveis	equivalentes,	todos	os	seres	humanos	de	cada	
sociedade,	ou	seja,	as	mais	diversas	sociedades	se	tornaram	reféns	de	um	único	
modelo	 evolutivo.	 Assim,	 foi	 entendendo	 que	 todas	 as	 sociedades	 seguiam	 um	
único	processo	composto	por	três	fases	evolutivas:	de	selvageria,	barbarismo	e,	por	
fim,	a	conquista	de	um	modelo	civilizatório.
 
Agora,	assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	 F-	V	–	V	-	V.
b)	(			)	 V	–	V	–	V	-	V.
c)	 (			)	 F	–	F	–	V	-	V.
d)	(			)	 V	–	F	–	F	-	F.
2	 Sobre	a	percepção	de	Franz	Boas	nos	estudos	de	análises	culturais,	é	CORRETO	dizer	
que:
a)	 (			)	 Para	compreender	a	cultura,	é	necessária	a	reconstrução	histórica	de	cada	povo	
e	região,	identificando	o	particularismo/singularidade	dos	mais	diversos	grupos	
humanos	e	suas	realidades.		
b)	 (			)	 Boas	utilizava	as	abordagens	unilineares	para	valorizar	o	discurso	evolucionista	
do	Século	XIX.
c)	 (			)	 Boas	se	contrapôs	ao	método	evolucionista	unilinear	e	à	teoria	do	determinismo	
geográfico.
d)	 (			)	 As	opções	a	e	c	estão	corretas.
 
25
3	 Sobre	a	teoria	cultural	supraorgânica,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
 
a)	 (			)	 Ela	é	considerada	uma	entidade	superior,	controladora	de	mentes	e	atividades	
humanas.
b)	 (			)	 Democrática	e	dinâmica,	vistos	os	acontecimentos	referentes	ao	Século	XX.
c)	 (			)	 A	cultura	assimila	as	dimensões	simbólicas	aplicadas	aos	processos	sociais.	
d)	 (			)	 Mudança	 em	 sua	 conceituação,	 passando	 a	 ser	 compreendida	 a	 partir	 da	
sociedade	de	classes.
4	 Quem	foi	o	autor	da	antropologia	que	teve,	como	foco,	neutralizar	qualquer	significado	
fixo	para	teorizar	a	cultura?	Ainda,	não	se	limitou	às	respostas	prontas	e	acabadas	
como	 receitas	 herdadas,	 mas,	 em	 seu	 estudo,	 apresentava	 os	 mais	 diversos	
grupos	sociais	em	relações	dinâmicas	com	as	dimensões	simbólicas,	significando	e	
ressignificando	a	cultura.
a)	 (			)	 Stuart	Hall.
b)	 (			)	 Franz	Boas.
c)	 (			)	 Clifford	Geertz.
d)	 (			)	 Edward	Tylor.
5	 Sobre	 as	 influências	 teoóricas	 marxistas,	 o	 sociólogo	 Stuart	 Hall	 concordou	 com	
alguns	pontos,	EXCETO:
a)	 (			)	 A	falta	de	interesse	da	teoria	marxista	pelos	assuntos	referentes	à	cultura	e	suas	
perspectivas	simbólicas.
b)	 (			)	 Atributos	 do	 estudo	 referente	 à	 teoria	 do	 capital/classe	 social,	 de	 poder/
exploração.
c)	 (			)	 Movimentos	sociais	e	política.
d)	 (			)	 Desarmamento	nuclear	e	questões	raciais	britânicas.
6	 De	 acordo	 com	 o	 Quadro	 1,	 escolha	 um	 título	 e	 apresente	 uma	 breve	 descrição	
reflexiva.
26
27
UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS 
DE DESENVOLVIMENTO DA 
GEOGRAFIA CULTURAL
UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 
1 INTRODUÇÃO
Caros	 alunos,	 chegamos	 ao	Tópico	 2.	Nesta	 fase	 de	 estudos,	
vamos	ancorar	 na	 leitura	 e	 refletir	 sobre	uma	breve	 apresentação	da	
longa	história	do	pensamento	geográfico	e	suas	contribuições	para	a	
formação	e	estabelecimento	da	geografia	cultural.
O	 Tópico	 2	 tem,	 como	 objetivo,	 responder	 algumas	 questões	 referentes	 ao	
nascimento,	 ao	 percurso	 e	 conceito.	 Como	 a	 cultura	 foi	 abordada	 pela	 geografia?	
Quem	a	influenciou?	Em	qual	período?	Quais	as	compreensões	adotadas	pela	geografia	
cultural?
 
Neste	tópico,	serão	desenvolvidas,	além	desta	introdução,	os	assuntos	centrais,	
os	quais	se	dividem	em:	Geografia	Cultural	-	Fase	I,	Geografia	Cultural	-	Fase	II,	Geografia	
Cultural	-	Fase	III	e	suas	sessões.
A	Fase	I,	na	sessão	“As	primeiras	aproximações	cultura	e	geografia:	a	contribuição	
das	 escolas	 alemã	 e	 francesa”,	 traz	 o	 período	 que	 data	 o	 início	 das	menções	 sobre	 a	
geografia	cultural	com	o	processo	de	introdução	do	campo.	Neste	momento,	pode-se	dizer	
que	 a	 geografia	 enquanto	 disciplina-mãe	 apresentou	flashes	 a	 partir	 dos	 quais	 indicou	
aberturas	para	aplicação	de	abordagens	em	direção	ao	futuro	da	geografia	cultural.
	A	partir	do	desenvolvimento	geográfico	das	escolas	alemã	e	francesa	de	Ratzel	
e	Vidal	 de	La	Blache,	 respectivamente,	uma	narrativa	objetiva	a	 compreensão	 sobre	
a	inclusão	da	cultura	na	ciência	geográfica.	A	análise	se	delineia	formalmente	a	partir	
da	 obra	Antropogeografia,	 da	 noção	 de	 gênero	 de	vida,	 da	 base	 darwiniana	 e	 outra	
lamarckiana,	da	 seleção	das	espécies	e	adaptação	das	espécies	ao	ambiente.	Esses	
vetores	contribuíram,	principalmente,para	tratar	de	uma	embrionária	geografia	cultural,	
segundo	o	alicerce	científico	naturalista.
A	sessão	Os estudos de Carl Sauer e sua importância	traz	um	histórico	sobre	
parte	da	biografia	do	precursor	da	geografia	cultural,	Carl	Sauer,	compreendendo	suas	
escolhas	 teóricas	 durante	 a	 vida	 de	 estudante,	 professor	 e	 pesquisador	 do	 campo	
cultural	da	ciência	geográfica	norte-americana.
28
Apresentamos	a	expressividade	e	importância	que	as	obras	de	Sauer,	a	partir	do	
Século	XX,	trouxeram	para	a	comunidade	acadêmica,	além	da	formação	de	discípulos	na	
área,	forçando	a	geografia	cultural	a	assimilar	e	a	assumir	sua	identidade,	favorecendo	
a	abertura	de	um	novo	ciclo.	A	primeira	renovação	ocorreu	nos	Estados	Unidos,	mais	
precisamente	 na	 escola	 de	 Berkeley,	 onde	 o	 processo	 de	 teorização	 historicista	 e	 a	
utilização	da	supraorgânica	substantivaram	a	geografia	cultural,	disseminando-a	para	
inúmeras	universidades	mundo.
A	morfologia	 da	 paisagem	 representou	 o	 carro-chefe	 de	 seus	 escritos,	 pois	
reverenciou	a	impressão	do	homem	(um	autômato)	na	superfície	terrestre	através	da	
cultura	(a	entidade	independente	de	leis	próprias),	ao	invés	da	posição	determinista	do	
meio	ambiente.	Fica	evidente	que	a	geografia	cultural	de	Saeur	contemplou	tendências	
do	historicismo.
 
Dando	continuidade	ao	processo	de	fixação	da	geografia	 cultural,	 chegamos	
a	um	momento	de	desaceleração,	a	Fase	II,	“Transformações	no	campo	geográfico	e	o	
hiato	nos	estudos	da	cultura”.	Sumarizamos,	em	uma	abordagem	amostral	que	ocorreu	
entre	os	anos	de	1950	a	1970,	tempo	em	que	existiram	muitas	tentativas	de	direcionar	
e	 redirecionar	 a	 geografia,	 incluindo,	 consequentemente,	 o	 domínio	 da	 geografia	
cultural.	Uma	das	linhas	epistemológicas	em	destaque	refere-se	à	teórico-quantitativa,	
alinhada	ao	neopositivismo	e	suas	referências	estatísticas.	Inicialmente,	a	associação	
da	geografia	ao	método	de	análise	matemático	tratou	de	silenciar	algumas	tendências,	
incluindo	a	sauariana,	tecendo	críticas	por	afirmar	que	ela	se	ocupava	com	comunidades	
tradicionais,	ao	invés	de	utilizar	a	visão	pragmática	em	suas	pesquisas.
 
Parte	do	período	 representou	dois	estágios:	a	perca	de	pujança	da	geografia	
cultural	e	a	transição	para	a	renovação	com	incursão	das	novas	perspectivas	críticas	
do	 materialismo	 histórico	 dialético,	 dando	 início	 à	 terceira	 fase:	 “Imaterialidade	 e	
Renovação”.
O	movimento	da	geografia	de	1970	e	pós-1980	reflete	a	inquietação	científica	
pela	 explosão	 de	 conhecimento	 proposto	 para	 a	 disciplina.	 Houve	 a	 reflexão	 da	
ausência	 da	versão	 crítica	 balizada	 pelo	materialismo	histórico	 e	 dialético,	 cujo	 foco	
estava,	principalmente,	nas	condições	econômicas	e	sociais	do	povo.	Logo,	a	corrente	
enxergou	a	necessidade	de	romper	com	o	neopositivismo		e	gerar	conteúdo	no	campo	
cultural	da	geografia,	reafirmando	as	dinâmicas	sociais	referentes	às	esferas	de	gênero	
e	 etnicidade,	 por	 exemplo.	 No	 entanto,	 sabe-se	 que	 a	 filosofia	 não	 compreendeu	 a	
corrente	 idealista,	 assumindo	 incompatibilidade	 nas	visões	 filosóficas,	 cujo	 resultado	
volta-se	à	negligência	das	dinâmicas	imateriais	do	campo	cultural.
O	movimento	de	renovação,	a	virada	cultural,	além	de	tantos	atributos,	vieram	
para	 corrigir	 algumas	 brechas	 que,	 ao	 longo	 da	 história	 do	 pensamento	 geográfico,	
foram	 abertas,	 e	 uma	 delas	 referiu-se	 ao	 silenciamento	 das	 concepções	 subjetivas.	
Houve	a	ressurreição	da	ordem	fenomenológica,	além	das	análises	voltadas	ao	mundo	
vivido,	a	valorização	da	cultura	e	experiências	humanas	junto	ao	meio.		
29
2 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE I - AS PRIMEIRAS 
APROXIMAÇÕES: CULTURA E GEOGRAFIA, O 
DESVENDAR A PARTIR DE UMA GEOGRAFIA ENRIJECIDA
A	 geografia	 cultural	 denota-se	 como	 um	 subcampo	 expressivo	 da	 ciência	
geográfica,	mas	a	abordagem	cultural	passou	por	ciclos	evolutivos	e	complementares.	
Tais	 dinâmicas	 aconteceram	 sincronicamente	 com	 uma	 engrenagem	 de	 dimensões	
maiores	da	disciplina,	relacionadas	à	busca	de	método	e	doutrina,	além	do	seu	objeto	
de	estudo.
 
Anteriormente	ao	processo	da	utilização	da	cultura	nas	análises	geográficas,	o	
método	racional,	naturalista	imperou	no	Século	XVIII,	além	do	crescimento	e	influência	
da	 física	 newtoniana.	 Observações,	 experiências	 e	 cálculos	 matemáticos	 nascem	 a	
partir	 de	 conhecimentos	 voltados	 para	 análises	 de	 estrutura	 e	minerais	 das	 rochas,	
plantas	e	animais.	Assim,	a	ciência	geográfica	cria	uma	espécie	de	fosso,	separando-o	
dos	aspectos	sociais	e	culturais	(CLAVAL,	2010).
 
O	 ponto	 de	 vista,	 aos	 poucos,	 foi	 sendo	 minado	 pelos	 acontecimentos	 dos	
demais	fenômenos	geográficos	da	contemporaneidade,	gerando	um	certo	desconforto	
na	comunidade	acadêmica	e	limitando	o	campo	de	pesquisa	que,	futuramente,	buscou	
uma	renovação.	Os	processos	evolutivos	foram	sendo	observados	timidamente.
 
Os	aspectos	 racionais	também	se	aplicaram	às	análises	humanas	e	sociais,	 já	
que,	no	fim	do	Século	XVIII,	questionamentos	surgiram,	porém,	a	perspectiva	utilizou	ba-
ses	utilitárias,	observando	o	homem	sob	vistas	dos	interesses	materiais	(CLAVAL,	2010).
Na	perspectiva	de	Sauer	(2011),	é	evidente,	ao	decorrer	da	evolução	da	ciência,	
que	a	geografia	se	responsabilizou	por	uma	subdivisão	dos	 interesses	geográficos	entre	
os	grupos	da	geografia	humana	e	cultural,	 limitando	o	particularismo	e	objetivações.	
Apesar	de	ambas	se	desenvolverem	no	mesmo	período,	cada	uma	surgiu	com	um	ponto	
de	partida.
Sendo	a	geografia	cultural	disseminada	entre	duas	vertentes,	certos	números	
de	geógrafos	compreendiam	ela	como	um	subcampo	da	geografia	humana,	“[...]	uma	
outra	formulação	da	geografia	humana”	e,	para	outros,	ela	surgiu	com	a	perspectiva	do	
estudo	da	cultura	material	dos	grupos	humanos	(CLAVAL,	2011,	p.	5).
Todavia,	 compreende-se	 que,	 na	 passagem	 do	 Século	 XIX	 para	 o	 Século	
XX,	 na	 Europa,	 surgiam	as	 bases	 da	 dimensão	 cultural,	marcadas	 por	 uma	 aguçada	
curiosidade	científica	e	pela	diversidade	das	sociedades	desde	suas	línguas,	técnicas,	
obras	 e	princípios	morais	 (CLAVAL,	 2011).	A	geografia	buscava,	 na	 cultura	material	 e	
na	análise	entre	gêneros	de	vida	e	paisagens	rústicas,	conteúdos	básicos	para	o	seu	
desenvolvimento	(CLAVAL,	2002).
 
30
Naquele	século,	grande	parte	dos	geógrafos	comungava	do	alicerce	científico	
naturalista,	 o	 qual	 deu	 apoio	 ao	 princípio	 de	 que	 o	 ambiente,	 mediante	 suas	 leis,	
explicava	a	sociedade	e,	por	conseguinte,	a	cultura.	A	partir	da	realidade,	empreendeu-
se	uma	inclinação	por	uma	geografia	de	conteúdos	regidos	pela	ação	da	natureza,	com	
objeção	 negativa	 ao	 que	 estivesse	 à	 parte	 da	 concepção	 científica.	 Suas	 premissas	
negavam	o	estudo	das	dimensões	psicológicas	ou	mentais	da	cultura,	mas	aprovavam	
o	desenvolvimento	disciplinar	sob	a	ótica	do	evolucionismo	(CLAVAL	2002).
 
Com	o	olhar	contemporâneo,	compreende-se	que	era	compartilhado	o	uso	da	
cultura	em	seu	aspecto	reducionista,	fomentado	pelos	ditames	de	alguns	representantes	
da	disseminação	doutrinária.	Quando	a	geografia	tornou-se	livre	do	“fundamentalismo”	
religioso,	 imposto	por	uma	sociedade	teocêntrica,	automaticamente,	foi	fisgada	por	uma	
doutrina	 de	 afirmações	 racionais	 formuladas	 por	 uma	 elite	 pensante,	 obscurecendo,	
por	décadas,	conteúdos	de	ordens	imaterial	e	subjetiva,	em	função	da	formulação	dos	
dados	objetivos	originários	da	ordem	física.
No	contexto	da	geografia	ratzeliana	alicerçada	por	Humboldt	e	Ritter,	foi	realizada	
a	primeira	incursão	de	cultura	na	geografia,	porém,	a	novidade	remete	ao	entendimento	
evolucionista	darwiniano	que	influenciou	diretamente	o	desenvolvimento	da	geografia	
humana/cultural.	 Foi,	 sob	 o	 elo	 homem	 e	 seu	 ambiente,	 evidenciado	 por	 Friedrich	
Ratzel,	em	1882,	que	se	discutiu	a	expressão	cultura.	Apesar	da	ênfase	ambientalista	e	
de	afirmações	áridas	na	produção,	o	alemão	também	se	propôs	a	discutir	uma	geografia	
humana	 que	 também	pôde

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