Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Religião Prof.a Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio Prof. Jefferson Rodrigues de Oliveira geogRafia CultuRal e da Indaial – 2020 1a Edição Impresso por: Elaboração: Prof.a Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio Prof. Jefferson Rodrigues de Oliveira Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI S192g Sampaio, Débora Vanessa Régis Ferreira Geografia cultural e da religião. / Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio; Jefferson Rodrigues de Oliveira. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 250 p.; il. ISBN 978-65-5663-234-6 ISBN Digital 978-65-5663-235-3 1. Fenômenos geográficos culturais. - Brasil. I. Oliveira, Jefferson Rodrigues de. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 900 Caros alunos, este livro reúne uma série de discussões textuais referentes à compreensão da geografia cultural discutida amplamen- te nas academias, principalmente após o processo de renovação, que fomentou os debates mais recentes desse significativo subcampo da ciência geográfica. As Unidades 1, 2 e 3 têm, como objetivo, proporcionar uma base formativa sólida que auxilie a interpretar os fenômenos geográficos culturais que ocorrem no espaço e, sobretudo, poder encontrar referências científicas que possam amparar suas futuras pesquisas. Os assuntos discutidos encontram-se tangenciados frente à conceituação e ao entendimento de pensadores, desde os séculos passados ao contemporâneo, como geógrafos, antropólogos e sociólogos. Esses capítulos abordarão, especificamente, as diferentes transformações na geografia, através de um breve histórico ou resgate da história do pensamento geográfico. Desde as interpretações clássicas e seus fundamentos da base inicial, buscaremos compreender as relações entre cultura, espaço e algumas das diferentes dimensões de análise e estudo, assim, poderemos verificar como a geografia e sua dimensão espacial estão em toda parte. Nessas circunstâncias, apresentamos a importância da cultura para os estudos, como esta veio a ser percebida, analisada e incorporada aos estudos culturais da geografia através das disciplinas Geografia Cultural e Geografia da Religião. Sugerimos, a você, enquanto graduando e futuro profissional da geografia, aprofundar seus conhecimentos a partir desse estudo, envolvendo leitura, reflexões e discussões sobre o campo da geografia cultural. Apesar de estar sendo difundida no Brasil desde o começo da década de 1990, ainda precisa ser explorada e amplamente estudada, tendo em vista seu aspecto dinâmico, popular e diverso, mediante a heterogeneidade da cultura brasileira. Honrosamente, convidamos você para, a partir do material didático, aprender e compreender um pouco mais sobre o subcampo que ultrapassou a marca centenária. Essa jornada, baseada entre homem, espaço e cultura, parece longa, mas ainda possui muito a ser desvendada, depende, inclusive, de você, futuro geógrafo da geografia cultural. Desejamos bons estudos! Prof.a Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio Prof. Jefferson Rodrigues de Oliveira APRESENTAÇÃO GIO Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! QR CODE SUMÁRIO UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO .........................................................................1 TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA ............................ 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 CULTURA: UMA PERCEPÇÃO DINÂMICA .......................................................... 5 3 O INTERESSE DA GEOGRAFIA PELA CULTURA E A GEOGRAFICIDADE DA GEOGRAFIA CULTURAL .................................................................................... 14 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................22 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................24 TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA CULTURAL .............................................................. 27 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 27 2 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE I - AS PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES: CULTURA E GEOGRAFIA, O DESVENDAR A PARTIR DE UMA GEOGRAFIA ENRIJECIDA .......................................................................................................29 3 OS ESTUDOS DE CARL SAUER E SUA IMPORTÂNCIA ..................................... 31 4 GEOGRAFIACULTURAL – FASE II – TRANSFORMAÇÕES NO CAMPO GEOGRÁFICO E O HIATO NOS ESTUDOS DA CULTURA ...................................39 5 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE III – IMATERIALIDADE E RENOVAÇÃO .........42 RESUMO DO TÓPICO 2 ......................................................................................... 48 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................49 TÓPICO 3 — A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UM CAMINHAR PARALELO ENTRE A ORIGEM, “NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO ........................................ 51 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 51 2 GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UMA PRÉVIA DAS PRIMEIRAS INCURSÕES ........................................................................................................52 3 GEOGRAFIA CULTURAL: UM CAMPO NEGLIGENCIADO NO BRASIL ...............55 4 O FLORESCER DOS ESTUDOS CULTURAIS PÓS-1980 .................................... 57 5 PRINCIPAIS DIFUSORES: A EXPANSÃO E O INTERESSE DA GEOGRAFIA CULTURAL .........................................................................................................59 6 A PRODUÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL .................................... 61 LEITURA COMPLEMENTAR ..................................................................................63 RESUMO DO TÓPICO 3 ..........................................................................................69 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................70 UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE ........................... 73 TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À INTERPRETAÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL .............................................................. 75 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 75 2 GEOGRAFIA: O CONHECIMENTO QUE ESTÁ EM TODA PARTE? ...................... 76 2.1 NOTAS: DO NASCIMENTO DA GEOGRAFIA ESCOLAR A UMA GEOGRAFIA UNIVERSITÁRIA .................................................................................................................. 87 3 ESTUDOS CONTEMPORÂNEOS DA GEOGRAFIA CULTURAL: UMA BREVE COMPREENSÃO ....................................................................................................93 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................98 AUTOATIVIDADE .................................................................................................100 TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL .................................................................. 101 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 101 2 PAUL CLAVAL E OS ESTUDOS CULTURAIS ....................................................102 3 FORMAS SIMBÓLICAS ESPACIAIS: BREVES APONTAMENTOS ....................105 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................124 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 125 TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO ................................... 127 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 127 2 PAISAGEM CULTURAL, TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E IDENTIDADE: COMPOSTOS NA GEOGRAFIA CULTURAL ...............................128 3 DIMENSÕES ESPACIAIS ATRAVÉS DA LITERATURA, MÚSICA POPULAR E IMAGEM .........................................................................................................143 4 INTRODUÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL EM SALA DE AULA .....................146 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 156 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................ 159 AUTOATIVIDADE .................................................................................................160 UNIDADE 3 — ESPAÇO E RELIGIÃO: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA ............161 TÓPICO 1 — ESPAÇO E RELIGIÃO: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA .............. 163 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 163 2 DISCUSSÕES .................................................................................................... 167 3 RELIGIÃO E SUA ESPACIALIDADE: REPETIÇÃO DA HIEROFANIA INICIAL .....173 4 CATEGORIAS DE ANÁLISE: SAGRADO E PROFANO ...................................... 174 4.1 AS DIMENSÕES DE ANÁLISE..........................................................................................176 5 HIERÓPOLIS OU CIDADES-SANTUÁRIO......................................................... 178 6 O ESTUDO GEOGRÁFICO DAS PEREGRINAÇÕES ..........................................186 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................190 RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................191 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 193 TÓPICO 2 — O SAGRADO E A CIDADE: OLHARES SIMBÓLICOS RELIGIOSOS ..... 195 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 195 2 A CIDADE: TRANSFORMAÇÕES E PROCESSOS ............................................. 197 2.1 A HISTÓRIA DA CIDADE: AS VERSÕES E OS OLHARES .......................................... 201 3 O SAGRADO E O URBANO: UMA INTRÍNSECA RELAÇÃO? ........................... 204 4 O FOGO SAGRADO, O COLETIVO E AS PRIMEIRAS CIDADES .......................207 5 O SAGRADO E O URBANO: GÊNESE E FUNÇÃO DAS CIDADES .....................210 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 213 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 215 TÓPICO 3 — NOVAS DINÂMICAS DO SÉCULO XXI – RELIGIÃO E HIPERMODERNIDADE .................................................................... 217 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 217 2 TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE RELIGIOSA ON-LINE: NOVAS ESTRATÉGIAS DE DIFUSÃO A PARTIR DAS MÍDIAS ......................... 221 3 TV, RÁDIO E INTERNET: O PODER DAS MÍDIAS NA DIFUSÃO DA FÉ ............ 225 4 A RELIGIÃO E AS NOVAS INTERFACES DO SAGRADO NAS ERAS 2.0 E 3.0: AS PEREGRINAÇÕES ON-LINE .............................................................227 5 O SAGRADO E O PROFANO NA ERA HIPERMODERNA .................................. 230 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................... 233 AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 235 REFERÊNCIAS .....................................................................................................237 1 UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, RETRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar a relação da geografia com as ciências sociais, principalmente com as áreas da antropologia e sociologia, a partir das nuanças e atualizações do conceito de cultura, o qual fundamenta os estudos da geografia cultural; • compreender a geografia culturalenquanto subcampo da ciência geográfica, dedicada ao estudo das relações do ser humano (fenômenos espaciais), manifestações culturais, ou seja, das dimensões espaciais da cultura; • discutir, a partir do estado da arte, o processo da gênese da geografia cultural e o desenvolvimento da sua dinâmica de renovação; • analisar a criação da geografia cultural no Brasil, suas influências, interfaces e heterogeneidade do campo brasileiro. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA TÓPICO 2 – UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA CULTURAL TÓPICO 3 – A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UM CAMINHAR PARALELO ENTRE A ORIGEM, “NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA TÓPICO 1 — UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Sejam bem-vindos! A partir de agora, vocês estão convidados a navegar em um mar de conhecimento que, por muito tempo, foi negli- genciado pela comunidade acadêmica geográfica: a geografia cultural, um campo da geografia humana que se firmou cientificamente e temporalmente. Su- pera mais de 100 anos de história do pensamento geográfico, tendo, como focos, as análises baseadas entre homem, espaço e cultura. Neste tópico, são desenvolvidas, além da introdução, as temáticas “a cultura: uma percepção dinâmica” e “o interesse da geografia pela cultura e a geograficidade da geografia cultural”. Ainda, há o resumo referente ao tópico e as atividades, auxiliando o processo de aprendizagem. Quando trouxemos “a cultura: uma percepção dinâmica”, tivemos, como prin- cípio, apresentar, de maneira breve, porém contextualizada e embasada, os processos evolutivos sobre a definição do termo cultura, respeitando cada momento, aconteci- mentos em escalas mundiais e influência epistemológica. O assunto discutido encon- tra-se tangenciado frente à conceituação e ao entendimento de pensadores desde os séculos passados ao mais atual. É possível encontrar geógrafos, antropólogos e soció- logos: Edward Burnett Tylor, Franz Uri Boas, Alfred Kroeber, Cliford Geertz e Stuart Hall. Passamos da definição determinista de cultura inspirada no darwinismo evolu- cionista, as abordagens sobre o particularismo histórico de Boas, a teoria supraorgânica de Kroeber, a teoria interpretativista apontada por Geertz e, por fim, o multiculturalismo compreendido por Hall. 4 Caros estudantes, o conteúdo possui extensa literatura. Como meio auxiliar, a biblioteca virtual possui o livro do antropólogo Roque de Barros Laraia, intitulado Cultura: um conceito antropológico. No título, o autor consegue expor um histórico sobre a histórica definição e conceito de cultura, as influências sobre a formação social por meio da cultura e a dinamicidade e diversidade da cultura entre os homens. Considera-se uma literatura clássica auxiliar, cujo objetivo é, de maneira acessível e introdutória, esclarecer o estudo sobre cultura. DICA Trazemos, com clareza, que a compreensão conceitual sobre cultura passou por transformações ao longo do tempo, perpassando caminhos, perdendo e ganhando estruturas, não indicando graus de inferioridade ou superioridade quanto às abordagens, mas uma construção de conhecimentos baseados em possibilidades distintas, tendo, por exemplo, a aproximação da geografia entre alguns campos da humanidade, cujo resultado rende uma produção interdisciplinar rica, valorizando a dinâmica espaço- temporal. O segundo tema, “o interesse da geografia pela cultura e a geograficidade da geografia cultural”, vem sincronizar com o conteúdo estudado anteriormente, retomando os pontos de contato entre a ciência geográfica e a cultura. São apresentadas narrativas geográficas que sustentam cientificamente a geografia cultural e seu interesse pela espacialidade, este compreendido pela formação de território, poder, territorialidade, lugar, espaços e paisagens. Seguimos tratando das novas possibilidades de interpretar as relações socioes- paciais a partir da importância da cultura na geografia, desconstruindo as barreiras an- teriormente formadas na macroesfera da disciplina. A temática afirma que os fenôme- nos geográficos também carregam traços culturais que podem ser desvendados pela geografia cultural. Embora essa discussão possa parecer retrógrada e aparentemente resolvida, acredite, ainda é recorrente. Especulações circulam indagando sobre a origi- nalidade do ramo e se ele, efetivamente, faz parte dos estudos da ciência geográfica. Por fim, são apresentadas e discutidas nove estruturas culturais da ciência geográfica: O conhecimento do mundo sempre se faz através das representações; A cultura é construída a partir de elementos transmitidos ou inventados; A cultura existe através dos indivíduos que a recebem e a modificam, eles se constroem como indivíduos no processo; O processo da construção da cultura também é um processo social; A construção do indivíduo como ser social se traduz pelo nascimento de sentidos de identidade; A construção da sociedade pela cultura; A construção do espaço pela cultura; A gênese dos sistemas de crenças e valores e Cultura e ideologias comunitárias. Bons estudos! 5 2 CULTURA: UMA PERCEPÇÃO DINÂMICA Certamente, enquanto indivíduos, estudantes e futuros profissionais da ciência geográfica, vocês já ouviram ou fizeram alusão ao termo “cultura”, certo? Assim, independentemente das circunstâncias, experiências pessoais ou regionais, optamos por percorrer os caminhos existentes da (re)construção, elencando as possibilidades do emprego conceitual da cultura no âmbito acadêmico, cujo foco ampara a geografia cultural. Então, primeiramente, para promover essa apresentação, Corrêa (2009) contribui afirmando que, a cultura, enquanto vocábulo, possui uma diversidade de colocações e significados, desde o senso comum, o qual não deve ganhar força na aprendizagem em questão, até nas discussões conceituais, que adentram as matrizes acadêmicas nas ciências sociais. No momento inicial da leitura, façamos uma proposta, cujo objetivo indica uma compreensão histórica dos fatos, realidade acadêmica e período da construção conceitual do termo cultura. Realize uma retrospectiva, mediante seu conhecimento, quanto à gênesis da ciência geográfica e seus desafios epistemológicos. Seria possível? Caso contrário, apresentaremos um contexto inicial. As concepções epistemológicas no meio científico, antes do Século XX, predo- minavam sob o aspecto positivista e, posteriormente, neopositivista. Majoritariamente, os geógrafos mantinham alicerces naturalistas nas pesquisas. As análises sobre o am- biente, sociedade e cultura eram, basicamente, explicadas mediante as leis naturais. Caros alunos, atenham-se à palavra epistemologia com uma certa dose de atenção, porque ela tem estado, com frequência, no ambiente acadêmico, nas aulas ministradas, livros, e outros meios de busca, mas o seu uso excessivo ou mal alocado, por vezes, distorce seu conceito essencial. A palavra “epistemologia” tem origem no grego, equivale à episteme + logos = conhecimento científico, explicação, discurso, opinião. Essa sentença, criada no Século XX, teve o objetivo de superar a perspectiva unívoca e homogênea da concepção da filosofia da ciência encontrada na linha positivista. Ainda, tratar, de maneira crítica, construtiva e democrática, o conhecimento científico, como apresenta Gomes (2009, p. 14): “[...] discutir criticamenteas formas de construir um pensamento científico não quer dizer se transformar, em um tribunal, para julgar a sua conformidade ou não em relação a um modelo único e ideal, ao contrário”. Esse entendimento conclui que não existe uma fórmula determinante para fazer ciência, principalmente, a geográfica, pois cada fenômeno demonstra uma singularidade e dinâmica. ATENÇÃO 6 Seguindo na perspectiva predominante de análise epistemológica, encontramos a definição antropológica de cultura que, não obstante da realidade conceitual da geografia, também foi compreendida sob o ponto de vista das dinâmicas naturais e do princípio empirista e sistemático. Contudo, como todo texto possui um contexto, traremos alguns precedentes que auxiliaram o descortinar da definição inicial da cultura cujas influências pairaram sobre o desenvolvimento da geografia cultural. Entre o Século XVIII e XIX, duas palavras foram polarizadas entre germânicos e franceses. Seccionados como os antecedentes históricos do conceito de cultura, os termos Kultur e Civilization intuíam considerações primárias: o primeiro refletia sob as convicções espirituais de um grupo de indivíduos denominado de comunidade e, o segundo, sobre as conquistas de ordem material de um povo. Com o intuito de unificar as duas convicções em torno da cultura, Edward Burnett Tylor, nos anos de 1871, apresentou a culture, vocabulário inglês que sistematizava oficialmente a primeira definição da cultura. FIGURA 1 – SÍNTESE DA PRIMEIRA DEFINIÇÃO DE CULTURA FONTE: O autor Kultur Civilization Culture Configura-se que a criação das primeiras nomenclaturas dadas por países da Europa Ocidental, para interpretar o complexo social, sinalizou que havia uma inquietação pelo estudo da sociedade, ou melhor, pelas interfaces de arranjos condizentes com formação social. Os temas de maiores proporções de estudos, na primeira metade do Século XIX, estavam relacionados à etnografia dos grupos humanos, suas técnicas, obras, além das línguas, crenças e tradições (CLAVAL, 2011). A compilação efetuada por Tylor trouxe, com imponência, a voz que definiu a cultura dentre os estudos da antropologia, porém, história apontou que não foi a única. As discussões no universo conceitual têm uma longa jornada, esta que antecedeu e procedeu a interpretação de culture. 7 Edward Burnett Tylor Abreviadamente conhecido como Tylor (1832 -1917). Um britâni- co, antropólogo, cujas atividades foram relacionadas à escola do evolucionismo social. Foi considerado o pai do conceito moderno de cultura. NOTA Tylor trouxe, como capacidade interpretativa, a causa e regularidade para cultura, afirmando que ela não faz parte do código genético do indivíduo, não nasce com características culturais próprias, mas a cultura passa a ser concebida de todas as coisas que são adquiridas por meio da aprendizagem na sociedade. Como exemplos, símbolos, práticas, técnicas e tantos outros que formam ciclos de práticas que desenvolvem a cultura (CLAVAL, 2011). Sobre a compreensão de cultura, Wagner e Mikesell (2011) introduzem a temática sinalizando que, em pessoas cujas vivências são em grupos, torna-se comum apresentar tendências de comportamentos semelhantes, como o pensar e o agir. Tais atributos são justificados pela rotina de vida e por referências únicas de condiscípulos e mestres. Compartilham e difundem, em um mesmo nicho, suas relações de trabalhos, conversas, observações, aprendizagem, significado, rituais e recordações do passado igualmente vivenciado, ou seja, a definição Tyloriana de cultura acreditou que “[...] o meio ambiente podia determiná-la ou influenciá-la” (CLAVAL, 2011, p. 6), argumento que caracterizou uma associação com o determinismo geográfico. Wagner e Mikesell (2011) destacam que, naquele século, a noção de cultura se abstinha de estudar o ser enquanto indivíduo único, segundo características particulares. Contudo, havia destaque no estudo de grupos de pessoas que prontamente estivessem tomado posse de áreas espaciais amplas e bem demarcadas, além daquelas que já fossem estabelecidas em suas crenças e comportamentos, pois essas poderiam identificar ou distinguir entre comunidades evolutivas. Tylor abriu mão do relativismo cultural e desconheceu os vários caminhos da cultura. A definição de cultura, inspirada no darwinismo evolucionista que, a princípio, fundamentou e representou para muitos estudiosos das ciências humanas, entre eles etnólogos, antropólogos e geógrafos, outrora foi considerada simplista, pois congregava um termo, uma concepção seccionada sobre toda a diversidade e complexidade das relações humanas. A exemplo da abordagem unilinear realizada como método de análise entre civilizações e tribos selvagens. 8 A abordagem unilinear foi um método de análise que, sugestivamente, media os pares (seres humanos) de continentes diversos, segundo uma régua de estágios evolutivos. A regra evidenciava que, historicamente, uma sociedade passava por três fases: a primeira, de selvageria, a segunda, de barbarismo, até chegar ao ultimo grau, a civilização. Sugestivamente, povos eram dimensionados e expostos a uma supervalorização e subestimação. Foram sinalizadas, mediante a unilinearidade, as diferenças latentes entre as tribos indígenas brasileiras e civilizações da Europa. Franz Uri Boas (1858-1942) O criador da escola cultural americana nasceu na cidade alemã de Westfália, mas projetou sua carreira nos Estados Unidos desde 1886. Apesar de ter estudado nas áreas da física e da geografia com o professor Ratzel, foi na antropologia que se descobriu quando fez uma expedição geográfica até a ilha Baffinland – Canadá. Uma experiência com os esquimós o tornou o antropólogo da era moderna. NOTA Longe de uma conceituação acabada, um outro capítulo sobre a história da evolução do conceito de cultura foi formado, dessa vez, com Franz Boas, no circuito da antropologia, entre os anos de 1920-1930 do Século XX (CLAVAL, 2011). Franz Boas ficou conhecido por se contrapor ao método evolucionista unilinear e ser contra a teoria do determinismo geográfico quando propagada pela capacidade generalizadora, referindo-se à normatização da influência geográfica acerca dos fundamentos culturais de um povo. O determinismo geográfico considera que as diferenças do ambiente físico condicionam a diversidade cultural. São explicações existentes desde a Antiguidade, das formuladas por Pollio, Ibn Khaldun, Bodin e outros. Na virada do Século XIX para o XX, teorias foram popularizadas e vigorosamente estudadas por geógrafos. A publicação de obras contribuiu para a expansão do determinismo geográfico. Para a análise, foram utilizados dois parâmetros, a latitude e os centros de civilização, tomando, como verdade absoluta, que as regiões dependiam do clima como um condicionante para o progresso. Ele se diferenciou por erguer a bandeira da ‘diversidade cultural’, inclusive, entre entes de uma mesma região, difundindo que existia um particularismo histórico. Boas, enquanto antropólogo, questionou explicações da sociedade e cultura por meio único de leis evolucionistas, direcionando uma crítica a modos limitados dos métodos comparativos. 9 De maneira explicativa, a partir de uma abordagem multilinear, Boas sugeriu a antropologia abdicar do método simples da comparação e fazer análises culturais dos povos/regiões mediante dois caminhos: primeiro, partindo do pressuposto de que todo povo ou região possui uma história, para melhor compreensão da realidade, tornava- se importante fazer uma reconstrução histórica; o segundo, de caráter complementar, pois traçava um comparativo da relação social entre povos distintos, segundo leis semelhantes. Como formador cultural de inúmeros antropólogos, Franz Boas foi uma grandereferência para o antropólogo Alfred Kroeber, um nome que cresceu na sociedade acadêmica frente à teoria supraorgânica (CORRÊA, 2009). Kroeber elaborou uma perspectiva da cultura segundo a gênese da vida humana. Para ele, o processo de desenvolvimento do homem começa pelo nível inorgânico, orgânico, até a ordem social ou cultural, que se sobrepõe aos demais níveis (CORRÊA, 2009). No decorrer dos primeiros vinte e cinco anos do Século XX, o desenvolvimento de outro ciclo na reelaboração do conceito de cultura foi formado. Agora, os aspectos biológicos/naturais, dados em hegemonia nas análises anteriores, foram interrompidos em virtude do novo valor empregado à cultura. A “[...] cultura era vista como uma entidade acima do homem, não redutível às ações do indivíduo e, misteriosamente, contemplando as leis próprias” (DUNCAN, 2011, p. 64). Conforme Duncan (2011), os principais holistas transcendentais, criadores da teoria que elevou a cultura a um patamar de superioridade naquele período, foram os antropólogos Alfred Kroeber e Robert Lowie. Logo adiante, Leslie White pôde prosseguir com a tese neoevolucionista. Kroeber redirecionou a antropologia americana, de um determinismo geográfico na perspectiva da cultura, para um determinismo puramente cultural. Para a teoria supraorgânica, os valores funcionavam como código, este que controlava as mentes humanas e, por conseguinte, suas atividades desenvolvidas. Os indivíduos passaram a ser reconhecidos como simples coadjuvantes da suprema cultura, apenas com a função de porta-voz, levando-a por diferentes regiões e períodos (DUNCAN, 2011). Para Kroeber, a realidade, a natureza do desenvolvimento humano tinha um formato estabelecido por ordem de prioridades, um cenário no qual a cultura pairava sob os demais seguimentos, representados em níveis hierárquicos, livres de explicações associativas entre si (DUNCAN, 2011). 10 FIGURA 2 – COMPOSIÇÃO DA REALIDADE APRESENTADA POR KROEBER FONTE: O autor Cultural/Social Psicológico/Biofísico Orgânico Inorgânico A criação e a veneração pela cultura, como uma entidade autônoma, não tinham apenas um sentido conceitual, mas objetivos internos da antropologia enquanto ciência. Assim, “[...] ao elevar a cultura a um nível superior, o antropólogo não tinha mais necessidade dos indivíduos e, portanto, não precisavam dos processos psicológicos” (DUNCAN, 2011, p. 67). Trava-se de discutir a cultura sem, necessariamente, interligar explicações com os fundamentos ou níveis. Sendo protegida dos demais aspectos, tornava-se um meio autêntico de pesquisa da antropologia. Para além daquele fato, a visão do holismo transcendental massificou pontos fundamentais para o período na antropologia e, por conseguinte, influenciou outras ciências que utilizavam as bases conceituais. É possível que, nesta parte do texto, você esteja se perguntando: o que seria o holismo transcendental? Discutimos, anteriormente, que, para Kroeber e demais antropólogos, os indivíduos com suas aparentes atividades assumiram um papel de meros agentes passivos frente a ordens de algo superior. “Os holistas acreditam que eventos de larga escala, como o declínio de nações, são autônomos e amplamente independentes dos indivíduos que participam” (DUNCAN, 2011, p. 66). Caros alunos, a definição de cultura, realizada por Tylor e tantos outros antropólogos, passou por críticas a partir da perspectiva de Geertz (2008, p. 3). Ele expõe que “[...] todavia, esse padrão se confirma no caso do conceito de cultura, em torno do qual surgiu todo o estudo de antropologia e cujo âmbito tem se preocupado cada vez mais em limitar, especificar, enforcar e conter”. Segundo Claval (2011), após os anos 1940-1970, a perspectiva que compreendia a cultura como algo não redutível ao ser, apesar de haver ampla influência, passou a ser substituída, pois as relações mundiais passavam por mudanças, motivo que influenciou a ciência a redirecionar olhares para além da materialidade da vida, técnicas produtivas. 11 Para a ciência, não bastava apenas apresentar os efeitos que os fenômenos culturais causavam na sociedade. Era preciso atribuir, ao indivíduo, o real valor da sua visão de autóctone, explicar mais que a permanência das estruturas, compreendendo suas evoluções e história (CLAVAL, 2011). Considera-se que os antropólogos da América do Norte, após 1970, apresentaram mais fortemente outro rumo conceitual de cultura, concepções epistemológicas cuja abordagem trilhava as dimensões simbólicas (CLAVAL, 2011). Para entender a cultura, Geertz (2008) fez algumas análises sobre o processo de evolução biológica do homem, refutando a teoria do ponto crítico (ao entendimento de que a cultura apareceu abruptamente) e, fundamentando-se na paleontologia e arqueologia, criou algumas hipóteses, entendendo que a cultura vem de um processo anterior ao desenvolvimento orgânico, a passos ininterruptos, porém lentos. Na sua teoria, o homem foi um produto da cultura, mas logo tornou-se também um produtor, acumulando e a desenvolvendo dentro de um processo complexo. Geertz (2008) menciona que, no período da efervescência do Iluminismo, uma máxima foi dita por Whitehead para as ciências naturais, foi assumida pelas ciência sociais como um ideal científico autorizando noções simplistas para a compreensão da cultura. Segundo o ditado “confie, desconfiando” da simplicidade, para Geertz, o estudo do homem estava intrinsicamente ligado à cultura, logo, em tons de crítica, ele propôs que autor da máxima buscasse afirmar o contrário para as ciências sociais: “[...] procure a complexidade e ordene-a” (GEERTZ, 2008, p. 25). A perspectiva iluminista do homem era, naturalmente, a de que ele constituía uma só peça com a natureza e partilhava da uniformidade geral de composição que a ciência natural havia descoberto sob o incitamento de Bacon e a orientação de Newton. Resumindo, há uma natureza humana tão regularmente organizada, tão perfeitamente invariante e tão maravilhosamente simples como o universo de Newton. Algumas de suas leis talvez sejam diferentes, mas existem leis. Parte da sua imutabilidade talvez seja obscurecida pelas armadilhas da moda local, mas ela é imutável (GEERTZ, 2008, p. 25). Geertz buscou significar o homem mediante a definição de cultura. Absteve- se da idealização da clássica ciência antropológica, que foi responsável por criar um modelo ideal de homem, mas o fato desenvolvido evidencia a diversidade cultural em contraponto a uma unicidade da espécie humana. Geertz (2008) demonstra que a cultura, no sentido amplo, não se limita, não determina, ela circula, é livre, democrática, pode ser partilhada entre as pessoas. O ser independente de faixa etária sempre estará pronto para vivenciar limitadamente uma parte da cultura, pois compreendê-la em suas várias dimensões e plenitude seria como correr junto à persistente dinâmica de significados dos elementos culturais. 12 Numa perspectiva demonstrativa, as dimensões simbólicas se aplicavam às di- versas práticas sociais e suas interligações, ao contrário dos processos de generaliza- ção e segmentação de análises, como propõe Geertz (2008, p. 21): Olhar as dimensões simbólicas da ação social - arte, religião, ideologia, ciência, lei, moralidade, senso comum - não é afastar-se dos dilemas existenciais da vida em favor de algum domínio empírico de formas não emocionalizadas. É mergulhar no meio. A vocação essencial da antropologia interpretativa não é responder às questões mais profundas, mas colocar, à disposição, as respostas que outros deram - apascentando outros carneiros em outros vales – e, assim, incluir no registro de consultas sobre o que o homem falou. A antropologia interpretativa identificadana essência dos estudos de Geertz buscava neutralizar qualquer significado fixo para teorizar a cultura, e sua pesquisa não se limitou às respostas prontas e acabadas como receitas herdadas. O princípio do estudo apresentava os mais diversos grupos sociais em relações dinâmicas com as dimensões simbólicas, significando e ressignificando a cultura. Cliford Geertz Ingressou como discente do curso de Antropologia na Universidade de Harvard - Departamento de Relações Sociais. Posteriormente, como docente, ensinou por dez anos no Departamento de Antropologia da Universidade de Chicago, em Princeton. No Instituto de Estudos Avançados, percorreu uma longa trajetória enquanto professor. Entre inúmeros ensaios, elaborou o livro A interpretação das Culturas, no ano de 1973. Como antropólogo, interessou-se em redefinir dinamicamente o conceito de cultura, mas trabalhou também nas áreas de desenvolvimento econômico, organização social, história comparativa e história da ecologia cultural. NOTA Outras correntes fizeram parte do processo evolutivo dos estudos de cultura, e uma é explicada pelo ambiente econômico concebido também pelas guerras. “[...] A cultura torna-se um instrumento de dominação. É usado pelas classes mais altas para impor, às classes mais baixas, comportamentos conforme seus interesses” (CLAVAL, 2011, p. 8). A inserção do marxismo como modo explicativo através da corrente teórica do materialismo histórico e dialético para a cultura influenciou estudiosos como Gramsci e Raymond Williams. 13 No período dos anos setenta, embasamentos na área da sociologia, com Stuart Hall, também trouxeram compreensões sobre os estudos culturais. Ele dinamizou seu trabalho intelectual, e seu objetivo não era se apropriar de ideias como devoto, nem retalhar pontos inconsistentes frente seu posicionamento. Além dele: Deglutiu Marx, Gramsci, Bakhtin. Saboreou Louis Althusser, Raymond Williams, Richard Hoggort, Fredric Jameson, Richard Rorty, Jacques Derrida, Michel Foucault, E. P. Thompson, Gayatri Spivak, Paul Gilroy, com algo de Ien Ang, Cornel West, Homi Bhabha, Michele Wallace, Judith Butler, David Morley, assim como ingeriu Doris Lessing, Barthes Weber, Durkheim e Hegel (SOVIK, 2003, p. 10). Apesar de descordar de alguns pontos relativos à teoria de Marx, Hall foi atraído pelos atributos do estudo referente à teoria do capital/classe social, de poder/exploração, e da produção de conhecimento crítico. Ainda, em Gramsci, pôde absorver o estudo de raça e etnia para compreensão da realidade contemporânea e o multiculturalismo (SOVIK, 2003). Hall contribuiu com os paradigmas da teoria da cultura, interessado em pensar sobre o social e simbólico longe do reducionismo. “[...] Ele persistiu no estudo relação entre os meios de comunicação e a cultura, o lugar da história no estudo da cultura contemporânea, a sua epistemologia ou, ainda, a maneira pela qual lê questões das etnias dominantes e de gênero” (SOVIK, 2003, p. 14). Stuart Hall (1932) Sua origem jamaicana auxiliou a escolha por dois motivos de estudo: preocupações étnicas e anticoloniais. Enquanto intelectual da sociologia, repensou a cultura frente à globalização. Entre os anos de 1958-1961, atuou na revista New Left Review, propondo temáticas sobre compreensão das classes sociais, movimentos sociais e política, desarmamento nuclear e questões raciais britânicas. Em 1964, na universidade de Birmingham, foi um dos fundadores do Centre for Contemporary Cultural Studies. Em 1979, foi transferido para a Open University, onde institucionalizou os estudos culturais britânicos e, em períodos posteriores, pôde constatar o crescimento dessas pesquisas por diferentes partes do mundo. NOTA Cremos que, durante a primeira leitura acerca da cultura enquanto diretriz de pesquisa acadêmica, você percebeu uma sutil linha do tempo. Ela teve, como propósito, evidenciar algumas das inúmeras dinâmicas na evolução da definição de cultura. É certo que não tocamos na totalidade do estudo, tendo em vista que não é nosso objetivo central, mas apresentamos diferentes períodos, concepções do termo, além de uma apresentação teórica epistemológica ligada à cultura. 14 3 O INTERESSE DA GEOGRAFIA PELA CULTURA E A GEOGRAFICIDADE DA GEOGRAFIA CULTURAL Propomos, nesta fase, que haja uma reflexão sobre a geograficidade da geografia cultural. Para isso, motivamos você a responder breves perguntas: É possível tornar geográfico um fenômeno que envolve dimensões religiosas? Como compreender os territórios além das delimitações físicas? Existem aproximações entre estudos de identidade e geografia? Certamente, ao longo do processo de conhecimento, outros inúmeros questionamentos serão realizados, possibilidades de temáticas pesquisadas, mas atenção quanto à espacialização do fenômeno. Gomes (2009, p. 27) generosamente esclarece que “há, contudo, sempre uma análise geográfica quando o centro de nossa questão é a ordem espacial, pouco importando o tipo de fenômeno [...]”. A geografia cultural possui seus fundamentos amparados na ciência geográfica e essa unidade pode ser demonstrada a partir da absorção intelectual nas bases geográficas. A geografia cultural está associada a experiências que os homens têm da terra, da natureza e do ambiente. Estuda a maneira pela qual eles modelam para responder às necessidades, seus gostos e suas aspirações, e procura compreender a maneira como eles aprendem a se definir, a construir sua identidade e a se realizar (CLAVAL, 1997, p. 89). FIGURA 3 – RELAÇÃO VISUAL ENTRE A GEOGRAFIA E A GEOGRAFIA CULTURA FONTE: O autor Geografia Geografia Cultural Base de estudo para o subcampo da Geografia Cultural. Interesses da disciplina Geografia Cultural • Relação Homem - Espaço; • Dimensões simbólicas; • Experiência humana dos sentidos e percepções; • Estudo da diversidade - integrantes da sociedade. Como é oriunda da ciência geográfica, é natural que o alicerce da geografia cultural seja correspondente. Tais fundamentos foram reconhecidos por Claval (2011), quando apresentou um balanço desses elos mostrando o que vinculam. 15 “[...] A geografia que estuda os grupos humanos se detém nos discursos e nas representações, uma vez que estas últimas traduzem maneiras de padronização” (CLAVAL, 1997, p. 93). A geograficidade é uma nomenclatura referida por Dardel, que propõe a busca pela decodificação do espaço através do que se sente ou reconhece a partir das distintas formas atribuídas ao meio. Há categorias: os espaços, lugar, paisagens, naturais ou artificiais, além da identidade e territorialidade. São estruturas e modo pelo qual o ser humano pode desenvolver suas habilidades e seu enraizamento existencial. A seguir, apresentaremos nove pontos sobre os quais a geografia cultural se baseou para desenvolver suas análises e narrativas. QUADRO 1 – CONCEPÇÕES ABORDADAS PELA GEOGRAFIA CULTURAL Relação de aspectos comuns entre Geografia e a Geografia Cultural I- O conhecimento do mundo sempre se faz através das representações II- A cultura é construída a partir de elementos transmitidos ou inventados III- A cultura existe através dos indivíduos que a recebem e a modificam. Eles se constroem como indivíduos no processo IV- O processo da construção da cultura também é um processo social V- A construção do indivíduo como ser social se traduz pelo nascimento de sentidos de identidade VI- A construção da sociedade pela cultura VII- A construção do espaço pela cultura VIII- A gênese dos sistemas de crenças e valores IX- Cultura e ideologias comunitárias FONTE: Adaptado de Claval (2011, p. 16 -19) Percebe-se que, dentro da abordagem, o homem se destaca. Tal fato caracteriza a geografia cultural moderna e na perspectiva que discutiremos pontualmente os conteúdos apresentados. O primeiro ponto, “o conhecimento do mundo sempre sefaz através das repre- sentações”, indica que o ser humano, a princípio, não adquire um conhecimento instan- tâneo sobre os fatos e realidades da terra, pois são distintos, a exemplo das estruturas de organização espacial e lugares, mas o processo se inicia de maneira básica, com os sentidos e as sensações liberadas aos primeiros contatos do indivíduo com o mundo. Claval (1997) afirma que o homem interpreta o mundo por meio dos sentidos inerentes a ele. Com a visão, observa-se as formas, audição, ruídos e, com olfato, aromas. “[...] O homem age, primeiramente, em função das indicações que ele recebe dos sentidos” (CLAVAL, 1997, p. 93). 16 Outra afirmativa do autor supracitado se refere à sensação, garantindo que esta, apesar de refletir a realidade, apenas torna-se segura quando assume uma condição estável, ou seja, quando, junto com a sensação, exista uma percepção. A percepção é um importante elemento da dinâmica das represen- tações sociais, pois significa o movimento de um sujeito situado na relação com o concreto em construção. A apreensão que o sujeito faz a partir dos referenciais faz concluir que a racionalidade não está imune à ideologia (BOMFIM, 2012, p. 15). Para Claval (1997), o contexto das representações se pauta em processos que ocorrem entre indivíduos, relacionando, por exemplo, a educação na troca de experiências e a construção da realidade e reinterpretação. A estruturação da fase ocorre no domínio do cognitivo, primeiramente com as sensações adquiridas e, depois, com a idealização da imagem constituída. De acordo com o que está sendo desenvolvido e relacionado às representações, poderíamos questionar qual a finalidade. Claval (1997) sintetiza que as representações são como tramas, um conjunto de fios entrelaçados que contribuem para que o indivíduo assimile a realidade, destacando aspectos sociais, geográficos e metafísicos. Por fim, essas representações subsidiam a criação de valores, alimentando a formação de ordens regulamentadoras. Certamente, a discussão ganha rumos discordantes também, pois a realidade pode não ser refletida fielmente, mas individualizada através da percepção. “[...] Os homens não agem em função do real, mas em razão da imagem” (CLAVAL, 1997, p. 94). Se o indivíduo for capaz de captar, questionar, perceber os ambientes, buscando entender como funciona a criação das representações e, também, sua capacidade de interferência em escalas macro ou micro, inevitavelmente, sua intenção se alinha às dimensões da geografia cultural. As representações são percebidas eficazmente na geografia cultural enquanto ciência por volta da década de 1980 para 1990. Primeiramente, com as representações mentais de imagens relacionadas ao meio ambiente, como os alpes, neve, comunidades locais ou turísticas. Posteriormente, outro aspecto passou a ser levado em consideração, o do meio social e os discursos, ou o poder da utilização da língua relacionado à construção da realidade geográfica (CLAVAL, 2011). O segundo ponto descrito no quadro, “a cultura é construída a partir de elementos transmitidos ou inventados”, destitui a ideia de que a cultura é inata e nasce com o homem. As culturas são aprendidas e assimiladas por um processo de transmissão, representadas pelo agrupamento de práticas, conhecimentos, atitudes e crenças. Dois fatores são importantes para compreender os conhecimentos e práticas: a natureza e o conteúdo da cultura portada por cada sujeito. 17 A transmissão pela língua nativa, gestos, escrita e mídias modernas são meios de difusão da cultura, mas, para a geografia cultural, os lugares onde ocorre essa difusão se destacam, estrategicamente, tanto na formação do ser humano quanto na elaboração da cultura, pois “os lugares e suas paisagens servem de suporte a uma parte das mensagens transmitidas” (CLAVAL, 2011, p. 16). Para Claval (1997, p. 94), “a informação que constitui a cultura concerne o ambiente natural no qual vive o homem, a maneira de produzir alimentos, energia e matéria-prima, assim como as formas de construir instrumentos e de empregá-los para criar ambientes artificiais”. No terceiro ponto, é perceptível que a geografia cultural apresente o sujeito com destaque em relação ao processo de absorção e modificação da cultura, indicando, também, uma mudança na dimensão individual do ser ao longo da vida. O processo pode ser tomado, inicialmente, a partir da fase infantil, período de conhecimento prático, habilidades, competências, base para uma estrutura interna segundo noções, preferências e crenças. Posteriormente, na adolescência, segundo um processo de interiorização e reconstrução que prossegue absorvendo novos conhecimentos, técnicas e valores que vão se transformando nas fases vindouras, ou seja, todo o processo não finda em uma faixa etária. Apesar do ciclo de transformações ser constante em todas as fases, é, na vida adulta, que o sujeito entende os processos de institucionalização indicados pelas regras e valores desenvolvidos pela sociedade. Contextualizando, é possível que você, enquanto estudante, já tenha instalado um aplica- tivo em seu smartphone. Quando a tarefa é realizada, observe que ele vem pronto e pode ser colocado de forma idêntica em qualquer outro aparelho. São meios engessados, não pensam por si, já nós, seres humanos, temos a capacidade de controle, somos agentes de um processo de transformação em cada etapa, temos a escolha de seguir ou não adiante. As mudanças são constantes, diárias. Em segundos, opiniões são desfeitas e refeitas. As culturas também não são como um programa fixo, definido, mas são heterogêneas, principalmente entre os entes da sociedade, em seus processos de construção. Imagine o Brasil, onde as regiões possuem suas particularidades entre cultura, fauna, flora, paisagens, e todas as dinâmicas espaciais, incluindo grupos sociais que carregam identidade própria. Certamente, a partir de um processo de recebimento de cultura que todo e qualquer indivíduo se desenvolve. NOTA 18 “O processo da construção da cultura também é um processo social”. Para a compreensão do tópico, Claval (2011) inicia apresentando o indivíduo como um resul- tado de um processo social, tendo em vista a influência coletiva que ele experimenta. Desde atitudes, costumes, representações e valores, foi argumentado que, dentro de cada processo social, a transmissão torna-se a etapa mais significativa. É a partir dela que o sujeito se torna um ser social, diferente ou semelhante a outros. “O processo é tão fundamental quanto o processo de divisão da sociedade em profissões, em estatutos, em classes ou conforme as riquezas” (CLAVAL, 2011, p. 17). Neste momento, vamos observar o seu entendimento da afirmativa: “A construção do indivíduo como ser social se traduz pelo nascimento dos sentidos de identidade”. A grande maioria dos brasileiros porta documentos, e um deles é a identidade. É caracterizada por conter informações básicas de quem você é, sua origem, descendência, sobrenome, o local de nascimento, quesitos que podem dizer algo ao seu respeito, não o bastante quando se refere à construção da individualidade e às diferenças. Ao longo da vida, de forma individual, o sujeito busca formar uma identidade, e as pessoas, coletivamente, buscam perpetuar uma identidade já estabelecida. Sobre o sentido da identidade, Claval (2011) afirma que é uma experiência indi- vidual, e está relacionada com os convívios familiar e social. A identidade, em caso de confissão de fé ou concretude de uma nação, advém de conjunto aplicado à construção do intelecto e ao ensino sistemático. Um outro ponto se refere à imparcialidade entre a ligação de um dado território com uma identidade anteriormente assumida. A partir do advento das mídias modernas,outras perspectivas foram analisadas, houve uma inter- venção quanto às posições hegemônicas e novos conceitos foram gerados e associados. A partir de uma experiência pessoal, é possível entender o sentido da identidade na formação do ser social. Eu, sou professor, por exemplo, sou natural da cidade de Campina Grande, localizada no estado da Paraíba, região do Nordeste brasileiro, mas hoje escrevo de uma cidade situada na Região Sul, conhecida por ter sido uma colônia alemã, Blumenau. Com os blumenauenses, revivi as raízes culturais germânicas a partir de festas típicas, do uso da língua alemã entre as famílias, na culinária, nas construções e edificações, apesar de brasileiros, assim como eu, outros habitantes da cidade, se distinguirem de mim e das minhas heranças culturais. Essas relações formam grupos com uma identidade local e demais com suas referências culturais diferentes. NOTA 19 As identidades se associam ao espaço: elas se baseiam nas lembranças divididas, nos lugares visitados por todos, nos monumentos que refrescam a memória dos grandes momentos do passado, nos símbolos gravados nas pedras das esculturas ou nas inscrições (CLAVAL, 1997). O sexto tópico explica que, assim como a sociedade, a partir da cultura, interfere na formação do indivíduo, a sociedade também é resultado das práticas culturais: A análise parte do calendário de cada um, de sua agenda, dos papéis diversos que ele tem no tempo, da proximidade com aqueles que têm o mesmo papel. O processo gera uma consciência de pertencer a uma comunidade compartilhada, a uma mesma classe, quando os indivíduos que efetuam as mesmas atividades se comunicam facilmente e têm uma ideia clara da semelhança de seus problemas e interesses. Ao mesmo tempo, a participação dos indivíduos em face de relações institucionalizadas explica a divisão do trabalho social e o funcionamento dos grupos (CLAVAL, 2011, p. 18). A geografia cultural deve, como prioridade, apresentar a construção do espaço pelo prisma da cultura. Claval (1997; 2011) fez uma retrospectiva para compreendermos. A princípio, o homem fez uso do espaço de maneira que contemplasse suas necessidades de alimentação, retirando da natureza, da segurança e proteção em relação aos eventos naturais e àqueles oriundos do meio social. De maneira esclarecedora, o autor expõe que a organização do espaço desenvolvida pelo homem nem sempre apontou por efeitos nocivos, mas, em sua maioria, exaltou-se pela representatividade da conquista e domínio do meio. Para Claval (2011), a organização espacial é resultado de percepção de que o homem tem, do espaço, uma força de atuação coletiva, desenvolvendo técnicas, modelos e sua socialização para construir. No âmbito da organização espacial, é inerente focalizar no item da socialização do espaço. É, por meio do desempenho de diversos seguimentos, que há a composição da sociedade, desde a dimensão individual, coletiva, até organizações institucionalizadas que são empregadas as condições de direito de uso da terra, de práticas estratégicas de atividades produtivas ou de lazer. A influência na construção do espaço está na interiorização, na atuação do homem desde o momento em que se criou ou idealizou representações acerca da realidade. Esses elementos representam os seus anseios, desejos e valores. A socialização do espaço não distribui os direitos de uso ou de propriedade do espaço duma maneira igualitária. Os poderosos e ricos têm muitas mais possibilidades. Eles utilizam para escolher as ótimas localizações, os lugares, os nada agradáveis, e para impor as formas de utilização da terra e da construção de edifícios. A qualidade de suas escolhas confere um estatuto mais alto e legitima a sua posição social (CLAVAL, 2011, p. 18). 20 Ainda na perspectiva mencionada, Claval (2011) propõe refletir sobre a direta participação ou luta das classes menos favorecidas na construção espacial, além da apropriação social do espaço. Independentemente dos atos reais que agreguem atenção para os grupos, eles, por diversas vezes, são colocados nas zonas de invisibilidade da sociedade. Para facilitar o entendimento sobre essa realidade: vocês consegue lembrar de algum ato ou protesto de entidades ou parcelas da população realizado em espaços públicos? Pois bem, atos são caracterizados pela busca da visibilidade com a apropriação social dos espaços. O ponto oitavo busca apresentar uma compreensão de como surgiram os sistemas de crenças e de valores. A princípio, cada ser possui uma capacidade interpretativa, mental e de experiências únicas com o espaço. Quando somadas essas realidades complexas que os indivíduos produzem e materializam, são formalizadas as ordens normativas, as quais representam individualmente e coletivamente. Esses alhures oferecem a visão de outros mundos. Servem de modelo para orientar a ação dos homens. As perspectivas abertas são a fonte dos sistemas de crenças, religiões ou ideologias, dando uma dimensão normativa à vida social, dirigindo a ação humana e conduzindo a construção dum futuro melhor, neste mundo ou no outro (CLAVAL, 2011, p. 19). Pode ser confirmado que os sistemas de crenças e de valores somente são possíveis quando entendidos a partir de normas criadas, das relações entre grupos sociais e da socialização dos espaços (CLAVAL, 2011). Com essa interação, é possível difundir que fundamentos concretos e abstratos se conectam em prol de uma organização funcional. O aspecto sobre cultura e ideologia comunitária, no ponto nove, retrata a noção da cultura a partir de uma sequência mencionada anteriormente no ponto dois. A cultura se caracteriza por ser um conjunto de processos transmitida pelos e entre os homens, os quais produzem e reproduzem comportamentos não congênitos, ou seja não se encontram no DNA dos seres humanos. FIGURA 4 – AFIRMATIVAS SOBRE A CULTURA A cultura não é Fixa ou imóvel Intangível ou imcompreensível A cultura é Múltipla, formada por vários elementos Evolui contínuamente FONTE: Adaptado de Claval (2011) 21 A cultura desenvolve outra face quando utilizada em grupos comunitários. Iden- tidades são construídas e certas dimensões apresentam aspectos normativos, aqueles que regulamentam, propõem padrões e regras por indivíduos que vivem determinados espaços, territórios ou sociedades. As ideologias comunitárias entram na discussão para justificar a dimensão ideológica que se forma através da cultura. Como exemplo, há uma comunidade cristã da fé reformada. Ela se une em prol do compartilhamento de uma visão cristocêntrica, carregando regras de fé, condutas, valores. Apesar do exemplo mencionado, vale lembrar que existem grupos que constro- em uma identidade para realizar práticas de fundamentalismo religioso, utilizando a fé para impor violentamente suas crenças, causando conflitos de intolerância religiosa em escala local e, até mesmo, internacional. O Tópico 1 introduz etapas evolutivas do entendimento sobre cultura, culminando no Tópico 2, com o interesse da dimensão espacial da cultura pela geografia cultural em sua perspectiva moderna. Ao desenvolver do estudo, longas trajetórias serão explicadas nas seções seguintes. Realizamos, até o presente momento, uma breve apresentação da descendência, originalidade e pertencimento da geografia cultural, seu elo com a ciência geográfica, e aproximações com as ciências sociais afins, o que demonstra sua interdisciplinaridade e importância na produção de estudos de ordem espaciais. 22 Neste tópico, você aprendeu: • Existe uma reflexão interdisciplinar na geografia cultural em torno da construção conceitual da definição de cultura. Foi tangenciada por geógrafos, antropólogos e sociólogos, como Edward Burnett Tylor, FranzUri Boas, Alfred Kroeber, Cliford Geertz e Stuart Hall. Profissionais que produziram, em séculos, e com influências filosóficas distintas. • A concepção filosófica tyloriana definiu que o meio ambiente podia determinar e gerar influências à cultura, segundo o princípio de determinismo geográfico e a concepção unilinear. • Boas foi um geógrafo e antropólogo que se diferenciou por utilizar o discurso multilinear para conceituação da cultura. Amparando-se no particularismo histórico, ele afastou-se de uma perspectiva de comparação metodológica, segundo as leis evolucionistas, para buscar explicações culturais. Boas partiu do princípio de que todo povo ou região possui uma história singular e, por esse motivo, sua história deveria ser reconstruída. • Kroeber foi responsável pela teoria cultural supraorgânica que, posteriormente, foi assimilada e adotada por Sauer. A definição sobre a cultura se vinculava e reproduzia uma estrutura da gênese da vida humana na perspectiva evolucionista, iniciando pelo nível inorgânico, orgânico, até a ordem social ou cultural, cuja dimensão se posiciona acima do homem, além dos demais níveis. • Na teoria interpretativista, a cultura passou a ser interpretada como sistemas simbólicos (linguagem, arte, mito ritual), desenvolvida, sobretudo, pelo estadunidense Clifford Geertz, um dos maiores nomes da antropologia do Século XX. • Outro nome importante que rompeu com o antigo paradigma sobre uma cultura pronta e engessada foi o sociólogo Stuar Hall. Ele propôs aliar as temáticas sociais com as simbólicas para, então, compreender a cultura. Em seus estudos, trata, por exemplo, das relações entre cultura e meios de comunicação, história e cultura, etnias, gênero e outros temas. • A geografia cultural é definida como um subcampo da geografia, e os objetivos de análise da disciplina seguem através da ordem espacial da cultura, ou seja, as dimensões simbólicas do espaço, os sentidos e percepções do homem, a diversidade de contextos espaciais etc. RESUMO DO TÓPICO 1 23 • A geografia cultural foi substanciada pelas cíclicas revisões na conceituação da cultura, como a abdicação do entendimento supraorgânico da cultura. Há a possibilidade de assimilar a cultura através de coisas comuns do dia a dia familiar, no ambiente de convívio social, linguagens, habilidades referentes a classes ou minorias sociais. • A base da geograficidade da geografia cultural advém de Dardel, historiador e geógrafo que preocupou-se em compreender o seu meio, independentemente de ser natural ou artificial, mas, em sua forma mais ampla, envolvendo sentimento nas relações dos espaços, com paisagens, territorialidade, identidade etc. 24 AUTOATIVIDADE 1 Com relação à abordagem de Tylor em 1871 sobre a cultura, marque com (V) as proposições verdadeiras e com (F) as falsas: ( ) Tylor, em 1817, propôs uma concepção complexa sobre cultura: “a cultura era absorvida mediante o relativismo cultural; tudo era inato do homem”. ( ) Para Tylor, a cultura não faz parte do código genético do indivíduo. Este não nasce com características culturais próprias, mas a cultura passa a ser concebida por meio da aprendizagem na sociedade, a exemplo da linguagem, símbolos, práticas, técnicas, leis etc. ( ) Os geógrafos apoiaram a concepção tyloriana da cultura mediante o determinismo geográfico representado na estrutura conceitual. ( ) Tylor se abdicou do relativismo cultural, mas fez uso da abordagem unilinear, método que comparava, em níveis equivalentes, todos os seres humanos de cada sociedade, ou seja, as mais diversas sociedades se tornaram reféns de um único modelo evolutivo. Assim, foi entendendo que todas as sociedades seguiam um único processo composto por três fases evolutivas: de selvageria, barbarismo e, por fim, a conquista de um modelo civilizatório. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F- V – V - V. b) ( ) V – V – V - V. c) ( ) F – F – V - V. d) ( ) V – F – F - F. 2 Sobre a percepção de Franz Boas nos estudos de análises culturais, é CORRETO dizer que: a) ( ) Para compreender a cultura, é necessária a reconstrução histórica de cada povo e região, identificando o particularismo/singularidade dos mais diversos grupos humanos e suas realidades. b) ( ) Boas utilizava as abordagens unilineares para valorizar o discurso evolucionista do Século XIX. c) ( ) Boas se contrapôs ao método evolucionista unilinear e à teoria do determinismo geográfico. d) ( ) As opções a e c estão corretas. 25 3 Sobre a teoria cultural supraorgânica, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Ela é considerada uma entidade superior, controladora de mentes e atividades humanas. b) ( ) Democrática e dinâmica, vistos os acontecimentos referentes ao Século XX. c) ( ) A cultura assimila as dimensões simbólicas aplicadas aos processos sociais. d) ( ) Mudança em sua conceituação, passando a ser compreendida a partir da sociedade de classes. 4 Quem foi o autor da antropologia que teve, como foco, neutralizar qualquer significado fixo para teorizar a cultura? Ainda, não se limitou às respostas prontas e acabadas como receitas herdadas, mas, em seu estudo, apresentava os mais diversos grupos sociais em relações dinâmicas com as dimensões simbólicas, significando e ressignificando a cultura. a) ( ) Stuart Hall. b) ( ) Franz Boas. c) ( ) Clifford Geertz. d) ( ) Edward Tylor. 5 Sobre as influências teoóricas marxistas, o sociólogo Stuart Hall concordou com alguns pontos, EXCETO: a) ( ) A falta de interesse da teoria marxista pelos assuntos referentes à cultura e suas perspectivas simbólicas. b) ( ) Atributos do estudo referente à teoria do capital/classe social, de poder/ exploração. c) ( ) Movimentos sociais e política. d) ( ) Desarmamento nuclear e questões raciais britânicas. 6 De acordo com o Quadro 1, escolha um título e apresente uma breve descrição reflexiva. 26 27 UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA CULTURAL UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 1 INTRODUÇÃO Caros alunos, chegamos ao Tópico 2. Nesta fase de estudos, vamos ancorar na leitura e refletir sobre uma breve apresentação da longa história do pensamento geográfico e suas contribuições para a formação e estabelecimento da geografia cultural. O Tópico 2 tem, como objetivo, responder algumas questões referentes ao nascimento, ao percurso e conceito. Como a cultura foi abordada pela geografia? Quem a influenciou? Em qual período? Quais as compreensões adotadas pela geografia cultural? Neste tópico, serão desenvolvidas, além desta introdução, os assuntos centrais, os quais se dividem em: Geografia Cultural - Fase I, Geografia Cultural - Fase II, Geografia Cultural - Fase III e suas sessões. A Fase I, na sessão “As primeiras aproximações cultura e geografia: a contribuição das escolas alemã e francesa”, traz o período que data o início das menções sobre a geografia cultural com o processo de introdução do campo. Neste momento, pode-se dizer que a geografia enquanto disciplina-mãe apresentou flashes a partir dos quais indicou aberturas para aplicação de abordagens em direção ao futuro da geografia cultural. A partir do desenvolvimento geográfico das escolas alemã e francesa de Ratzel e Vidal de La Blache, respectivamente, uma narrativa objetiva a compreensão sobre a inclusão da cultura na ciência geográfica. A análise se delineia formalmente a partir da obra Antropogeografia, da noção de gênero de vida, da base darwiniana e outra lamarckiana, da seleção das espécies e adaptação das espécies ao ambiente. Esses vetores contribuíram, principalmente,para tratar de uma embrionária geografia cultural, segundo o alicerce científico naturalista. A sessão Os estudos de Carl Sauer e sua importância traz um histórico sobre parte da biografia do precursor da geografia cultural, Carl Sauer, compreendendo suas escolhas teóricas durante a vida de estudante, professor e pesquisador do campo cultural da ciência geográfica norte-americana. 28 Apresentamos a expressividade e importância que as obras de Sauer, a partir do Século XX, trouxeram para a comunidade acadêmica, além da formação de discípulos na área, forçando a geografia cultural a assimilar e a assumir sua identidade, favorecendo a abertura de um novo ciclo. A primeira renovação ocorreu nos Estados Unidos, mais precisamente na escola de Berkeley, onde o processo de teorização historicista e a utilização da supraorgânica substantivaram a geografia cultural, disseminando-a para inúmeras universidades mundo. A morfologia da paisagem representou o carro-chefe de seus escritos, pois reverenciou a impressão do homem (um autômato) na superfície terrestre através da cultura (a entidade independente de leis próprias), ao invés da posição determinista do meio ambiente. Fica evidente que a geografia cultural de Saeur contemplou tendências do historicismo. Dando continuidade ao processo de fixação da geografia cultural, chegamos a um momento de desaceleração, a Fase II, “Transformações no campo geográfico e o hiato nos estudos da cultura”. Sumarizamos, em uma abordagem amostral que ocorreu entre os anos de 1950 a 1970, tempo em que existiram muitas tentativas de direcionar e redirecionar a geografia, incluindo, consequentemente, o domínio da geografia cultural. Uma das linhas epistemológicas em destaque refere-se à teórico-quantitativa, alinhada ao neopositivismo e suas referências estatísticas. Inicialmente, a associação da geografia ao método de análise matemático tratou de silenciar algumas tendências, incluindo a sauariana, tecendo críticas por afirmar que ela se ocupava com comunidades tradicionais, ao invés de utilizar a visão pragmática em suas pesquisas. Parte do período representou dois estágios: a perca de pujança da geografia cultural e a transição para a renovação com incursão das novas perspectivas críticas do materialismo histórico dialético, dando início à terceira fase: “Imaterialidade e Renovação”. O movimento da geografia de 1970 e pós-1980 reflete a inquietação científica pela explosão de conhecimento proposto para a disciplina. Houve a reflexão da ausência da versão crítica balizada pelo materialismo histórico e dialético, cujo foco estava, principalmente, nas condições econômicas e sociais do povo. Logo, a corrente enxergou a necessidade de romper com o neopositivismo e gerar conteúdo no campo cultural da geografia, reafirmando as dinâmicas sociais referentes às esferas de gênero e etnicidade, por exemplo. No entanto, sabe-se que a filosofia não compreendeu a corrente idealista, assumindo incompatibilidade nas visões filosóficas, cujo resultado volta-se à negligência das dinâmicas imateriais do campo cultural. O movimento de renovação, a virada cultural, além de tantos atributos, vieram para corrigir algumas brechas que, ao longo da história do pensamento geográfico, foram abertas, e uma delas referiu-se ao silenciamento das concepções subjetivas. Houve a ressurreição da ordem fenomenológica, além das análises voltadas ao mundo vivido, a valorização da cultura e experiências humanas junto ao meio. 29 2 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE I - AS PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES: CULTURA E GEOGRAFIA, O DESVENDAR A PARTIR DE UMA GEOGRAFIA ENRIJECIDA A geografia cultural denota-se como um subcampo expressivo da ciência geográfica, mas a abordagem cultural passou por ciclos evolutivos e complementares. Tais dinâmicas aconteceram sincronicamente com uma engrenagem de dimensões maiores da disciplina, relacionadas à busca de método e doutrina, além do seu objeto de estudo. Anteriormente ao processo da utilização da cultura nas análises geográficas, o método racional, naturalista imperou no Século XVIII, além do crescimento e influência da física newtoniana. Observações, experiências e cálculos matemáticos nascem a partir de conhecimentos voltados para análises de estrutura e minerais das rochas, plantas e animais. Assim, a ciência geográfica cria uma espécie de fosso, separando-o dos aspectos sociais e culturais (CLAVAL, 2010). O ponto de vista, aos poucos, foi sendo minado pelos acontecimentos dos demais fenômenos geográficos da contemporaneidade, gerando um certo desconforto na comunidade acadêmica e limitando o campo de pesquisa que, futuramente, buscou uma renovação. Os processos evolutivos foram sendo observados timidamente. Os aspectos racionais também se aplicaram às análises humanas e sociais, já que, no fim do Século XVIII, questionamentos surgiram, porém, a perspectiva utilizou ba- ses utilitárias, observando o homem sob vistas dos interesses materiais (CLAVAL, 2010). Na perspectiva de Sauer (2011), é evidente, ao decorrer da evolução da ciência, que a geografia se responsabilizou por uma subdivisão dos interesses geográficos entre os grupos da geografia humana e cultural, limitando o particularismo e objetivações. Apesar de ambas se desenvolverem no mesmo período, cada uma surgiu com um ponto de partida. Sendo a geografia cultural disseminada entre duas vertentes, certos números de geógrafos compreendiam ela como um subcampo da geografia humana, “[...] uma outra formulação da geografia humana” e, para outros, ela surgiu com a perspectiva do estudo da cultura material dos grupos humanos (CLAVAL, 2011, p. 5). Todavia, compreende-se que, na passagem do Século XIX para o Século XX, na Europa, surgiam as bases da dimensão cultural, marcadas por uma aguçada curiosidade científica e pela diversidade das sociedades desde suas línguas, técnicas, obras e princípios morais (CLAVAL, 2011). A geografia buscava, na cultura material e na análise entre gêneros de vida e paisagens rústicas, conteúdos básicos para o seu desenvolvimento (CLAVAL, 2002). 30 Naquele século, grande parte dos geógrafos comungava do alicerce científico naturalista, o qual deu apoio ao princípio de que o ambiente, mediante suas leis, explicava a sociedade e, por conseguinte, a cultura. A partir da realidade, empreendeu- se uma inclinação por uma geografia de conteúdos regidos pela ação da natureza, com objeção negativa ao que estivesse à parte da concepção científica. Suas premissas negavam o estudo das dimensões psicológicas ou mentais da cultura, mas aprovavam o desenvolvimento disciplinar sob a ótica do evolucionismo (CLAVAL 2002). Com o olhar contemporâneo, compreende-se que era compartilhado o uso da cultura em seu aspecto reducionista, fomentado pelos ditames de alguns representantes da disseminação doutrinária. Quando a geografia tornou-se livre do “fundamentalismo” religioso, imposto por uma sociedade teocêntrica, automaticamente, foi fisgada por uma doutrina de afirmações racionais formuladas por uma elite pensante, obscurecendo, por décadas, conteúdos de ordens imaterial e subjetiva, em função da formulação dos dados objetivos originários da ordem física. No contexto da geografia ratzeliana alicerçada por Humboldt e Ritter, foi realizada a primeira incursão de cultura na geografia, porém, a novidade remete ao entendimento evolucionista darwiniano que influenciou diretamente o desenvolvimento da geografia humana/cultural. Foi, sob o elo homem e seu ambiente, evidenciado por Friedrich Ratzel, em 1882, que se discutiu a expressão cultura. Apesar da ênfase ambientalista e de afirmações áridas na produção, o alemão também se propôs a discutir uma geografia humana que também pôde
Compartilhar