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Prévia do material em texto

Religião
Prof.a Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio
Prof. Jefferson Rodrigues de Oliveira
geogRafia 
CultuRal e da
Indaial – 2020
1a Edição
Impresso por:
Elaboração:
Prof.a Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio
Prof. Jefferson Rodrigues de Oliveira
Copyright © UNIASSELVI 2022
 Revisão, Diagramação e Produção:
Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI
S192g
Sampaio, Débora Vanessa Régis Ferreira
Geografia cultural e da religião. / Débora Vanessa Régis Ferreira 
Sampaio; Jefferson Rodrigues de Oliveira. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.
250 p.; il.
ISBN 978-65-5663-234-6
ISBN Digital 978-65-5663-235-3
1. Fenômenos geográficos culturais. - Brasil. I. Oliveira, Jefferson 
Rodrigues de. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 900
Caros alunos, este livro reúne uma série de discussões textuais 
referentes à compreensão da geografia cultural discutida amplamen-
te nas academias, principalmente após o processo de renovação, que 
fomentou os debates mais recentes desse significativo subcampo da 
ciência geográfica.
 
As Unidades 1, 2 e 3 têm, como objetivo, proporcionar uma base formativa sólida 
que auxilie a interpretar os fenômenos geográficos culturais que ocorrem no espaço e, 
sobretudo, poder encontrar referências científicas que possam amparar suas futuras 
pesquisas. Os assuntos discutidos encontram-se tangenciados frente à conceituação e 
ao entendimento de pensadores, desde os séculos passados ao contemporâneo, como 
geógrafos, antropólogos e sociólogos.
Esses capítulos abordarão, especificamente, as diferentes transformações 
na geografia, através de um breve histórico ou resgate da história do pensamento 
geográfico. Desde as interpretações clássicas e seus fundamentos da base inicial, 
buscaremos compreender as relações entre cultura, espaço e algumas das diferentes 
dimensões de análise e estudo, assim, poderemos verificar como a geografia e sua 
dimensão espacial estão em toda parte.
Nessas circunstâncias, apresentamos a importância da cultura para os estudos, 
como esta veio a ser percebida, analisada e incorporada aos estudos culturais da 
geografia através das disciplinas Geografia Cultural e Geografia da Religião.
Sugerimos, a você, enquanto graduando e futuro profissional da geografia, 
aprofundar seus conhecimentos a partir desse estudo, envolvendo leitura, reflexões e 
discussões sobre o campo da geografia cultural. Apesar de estar sendo difundida no 
Brasil desde o começo da década de 1990, ainda precisa ser explorada e amplamente 
estudada, tendo em vista seu aspecto dinâmico, popular e diverso, mediante a 
heterogeneidade da cultura brasileira.
Honrosamente, convidamos você para, a partir do material didático, aprender e 
compreender um pouco mais sobre o subcampo que ultrapassou a marca centenária. 
Essa jornada, baseada entre homem, espaço e cultura, parece longa, mas ainda possui 
muito a ser desvendada, depende, inclusive, de você, futuro geógrafo da geografia 
cultural. Desejamos bons estudos!
Prof.a Débora Vanessa Régis Ferreira Sampaio
Prof. Jefferson Rodrigues de Oliveira
APRESENTAÇÃO
GIO
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – 
e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR 
Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite 
que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, 
é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
QR CODE
SUMÁRIO
UNIDADE 1 — UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA 
CULTURAL, CONTEXTOS, ABORDAGENS, RETRAÇÕES E 
DESENVOLVIMENTO .........................................................................1
TÓPICO 1 — AS INTERFACES DA APLICABILIDADE DA CULTURA NO 
ÂMBITO DO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA ............................ 3
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3
2 CULTURA: UMA PERCEPÇÃO DINÂMICA .......................................................... 5
3 O INTERESSE DA GEOGRAFIA PELA CULTURA E A GEOGRAFICIDADE DA 
GEOGRAFIA CULTURAL .................................................................................... 14
RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................22
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................24
TÓPICO 2 — UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO 
DA GEOGRAFIA CULTURAL .............................................................. 27
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 27
2 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE I - AS PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES: 
CULTURA E GEOGRAFIA, O DESVENDAR A PARTIR DE UMA GEOGRAFIA 
ENRIJECIDA .......................................................................................................29
3 OS ESTUDOS DE CARL SAUER E SUA IMPORTÂNCIA ..................................... 31
4 GEOGRAFIACULTURAL – FASE II – TRANSFORMAÇÕES NO CAMPO 
GEOGRÁFICO E O HIATO NOS ESTUDOS DA CULTURA ...................................39
5 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE III – IMATERIALIDADE E RENOVAÇÃO .........42
RESUMO DO TÓPICO 2 ......................................................................................... 48
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................49
TÓPICO 3 — A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA GEOGRAFIA 
CULTURAL NO BRASIL: UM CAMINHAR PARALELO ENTRE A 
ORIGEM, “NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO ........................................ 51
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 51
2 GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UMA PRÉVIA DAS PRIMEIRAS 
INCURSÕES ........................................................................................................52
3 GEOGRAFIA CULTURAL: UM CAMPO NEGLIGENCIADO NO BRASIL ...............55
4 O FLORESCER DOS ESTUDOS CULTURAIS PÓS-1980 .................................... 57
5 PRINCIPAIS DIFUSORES: A EXPANSÃO E O INTERESSE DA GEOGRAFIA 
CULTURAL .........................................................................................................59
6 A PRODUÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL .................................... 61
LEITURA COMPLEMENTAR ..................................................................................63
RESUMO DO TÓPICO 3 ..........................................................................................69
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................70
UNIDADE 2 — ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO FUNDAMENTAL, 
UM CAMINHO PARA A CONTEMPORANEIDADE ........................... 73
TÓPICO 1 — APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS E APLICAÇÕES 
DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO FRENTE À INTERPRETAÇÃO 
DA GEOGRAFIA CULTURAL .............................................................. 75
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 75
2 GEOGRAFIA: O CONHECIMENTO QUE ESTÁ EM TODA PARTE? ...................... 76
2.1 NOTAS: DO NASCIMENTO DA GEOGRAFIA ESCOLAR A UMA GEOGRAFIA 
UNIVERSITÁRIA .................................................................................................................. 87
3 ESTUDOS CONTEMPORÂNEOS DA GEOGRAFIA CULTURAL: UMA BREVE 
COMPREENSÃO ....................................................................................................93
RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................98
AUTOATIVIDADE .................................................................................................100
TÓPICO 2 — APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA COMPOSIÇÃO DA 
GEOGRAFIA CULTURAL .................................................................. 101
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 101
2 PAUL CLAVAL E OS ESTUDOS CULTURAIS ....................................................102
3 FORMAS SIMBÓLICAS ESPACIAIS: BREVES APONTAMENTOS ....................105
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................124
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 125
TÓPICO 3 — POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR DA COMPREENSÃO 
DAS DIMENSÕES CULTURAIS DO ESPAÇO ................................... 127
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 127
2 PAISAGEM CULTURAL, TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E 
IDENTIDADE: COMPOSTOS NA GEOGRAFIA CULTURAL ...............................128
3 DIMENSÕES ESPACIAIS ATRAVÉS DA LITERATURA, MÚSICA POPULAR 
E IMAGEM .........................................................................................................143
4 INTRODUÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL EM SALA DE AULA .....................146
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 156
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................ 159
AUTOATIVIDADE .................................................................................................160
UNIDADE 3 — ESPAÇO E RELIGIÃO: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA ............161
TÓPICO 1 — ESPAÇO E RELIGIÃO: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA .............. 163
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 163
2 DISCUSSÕES .................................................................................................... 167
3 RELIGIÃO E SUA ESPACIALIDADE: REPETIÇÃO DA HIEROFANIA INICIAL .....173
4 CATEGORIAS DE ANÁLISE: SAGRADO E PROFANO ...................................... 174
4.1 AS DIMENSÕES DE ANÁLISE..........................................................................................176
5 HIERÓPOLIS OU CIDADES-SANTUÁRIO......................................................... 178
6 O ESTUDO GEOGRÁFICO DAS PEREGRINAÇÕES ..........................................186
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................190
RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................191
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 193
TÓPICO 2 — O SAGRADO E A CIDADE: OLHARES SIMBÓLICOS RELIGIOSOS ..... 195
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 195
2 A CIDADE: TRANSFORMAÇÕES E PROCESSOS ............................................. 197
2.1 A HISTÓRIA DA CIDADE: AS VERSÕES E OS OLHARES .......................................... 201
3 O SAGRADO E O URBANO: UMA INTRÍNSECA RELAÇÃO? ........................... 204
4 O FOGO SAGRADO, O COLETIVO E AS PRIMEIRAS CIDADES .......................207
5 O SAGRADO E O URBANO: GÊNESE E FUNÇÃO DAS CIDADES .....................210
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 213
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 215
TÓPICO 3 — NOVAS DINÂMICAS DO SÉCULO XXI – RELIGIÃO E 
HIPERMODERNIDADE .................................................................... 217
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 217
2 TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE RELIGIOSA ON-LINE: 
NOVAS ESTRATÉGIAS DE DIFUSÃO A PARTIR DAS MÍDIAS ......................... 221
3 TV, RÁDIO E INTERNET: O PODER DAS MÍDIAS NA DIFUSÃO DA FÉ ............ 225
4 A RELIGIÃO E AS NOVAS INTERFACES DO SAGRADO NAS ERAS 2.0 
E 3.0: AS PEREGRINAÇÕES ON-LINE .............................................................227
5 O SAGRADO E O PROFANO NA ERA HIPERMODERNA .................................. 230
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................... 233
AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 235
REFERÊNCIAS .....................................................................................................237
1
UNIDADE 1 — 
UMA VERSÃO INTRODUTÓRIA 
DA HISTÓRIA DA GEOGRAFIA 
CULTURAL, CONTEXTOS, 
ABORDAGENS, RETRAÇÕES E 
DESENVOLVIMENTO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 identificar	 a	 relação	 da	 geografia	 com	 as	 ciências	 sociais,	 principalmente	 com	 as	
áreas	da	antropologia	e	sociologia,	a	partir	das	nuanças	e	atualizações	do	conceito	
de	cultura,	o	qual	fundamenta	os	estudos	da	geografia	cultural;
•	 compreender	a	geografia	culturalenquanto	subcampo	da	ciência	geográfica,	dedicada	
ao	 estudo	 das	 relações	 do	 ser	 humano	 (fenômenos	 espaciais),	 manifestações	
culturais,	ou	seja,	das	dimensões	espaciais	da	cultura;
•	 discutir,	a	partir	do	estado	da	arte,	o	processo	da	gênese	da	geografia	cultural	e	o	
desenvolvimento	da	sua	dinâmica	de	renovação;
•	 analisar	 a	 criação	 da	 geografia	 cultural	 no	 Brasil,	 suas	 influências,	 interfaces	 e	
heterogeneidade	do	campo	brasileiro.
	 A	cada	tópico	desta	unidade	você	encontrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	
reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO	1	–	 AS	INTERFACES	DA	APLICABILIDADE	DA	CULTURA	NO	ÂMBITO	DO	
DESENVOLVIMENTO	DA	GEOGRAFIA	
TÓPICO	2	–		UMA	REFERÊNCIA	AOS	PERÍODOS	DE	DESENVOLVIMENTO	DA	GEOGRAFIA	
CULTURAL
TÓPICO	3	–	 A	CENTRALIDADE	DA	ABORDAGEM	DA	GEOGRAFIA	CULTURAL	NO	
BRASIL:	UM	CAMINHAR	PARALELO	ENTRE	A	ORIGEM,	“NEGLIGÊNCIA”	E	
DINAMISMO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
AS INTERFACES DA APLICABILIDADE 
DA CULTURA NO ÂMBITO DO 
DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
TÓPICO 1 — UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Sejam	bem-vindos!	A	partir	de	agora,	vocês	estão	convidados	a	
navegar	em	um	mar	de	conhecimento	que,	por	muito	tempo,	foi	negli-
genciado	pela	comunidade	acadêmica	geográfica:	a	geografia	cultural,	
um	campo	da	geografia	humana	que	se	firmou	cientificamente	e	temporalmente.	Su-
pera	mais	de	100	anos	de	história	do	pensamento	geográfico,	tendo,	como	focos,	as	
análises	baseadas	entre	homem,	espaço	e	cultura.
Neste	tópico,	são	desenvolvidas,	além	da	 introdução,	as	temáticas	“a	cultura:	
uma	percepção	dinâmica”	e	“o	interesse	da	geografia	pela	cultura	e	a	geograficidade	da	
geografia	cultural”.	Ainda,	há	o	resumo	referente	ao	tópico	e	as	atividades,	auxiliando	o	
processo	de	aprendizagem.
 
Quando	trouxemos	“a	cultura:	uma	percepção	dinâmica”,	tivemos,	como	prin-
cípio,	apresentar,	de	maneira	breve,	porém	contextualizada	e	embasada,	os	processos	
evolutivos	sobre	a	definição	do	termo	cultura,	 respeitando	cada	momento,	aconteci-
mentos	em	escalas	mundiais	e	influência	epistemológica.	O	assunto	discutido	encon-
tra-se	tangenciado	frente	à	conceituação	e	ao	entendimento	de	pensadores	desde	os	
séculos	passados	ao	mais	atual.	É	possível	encontrar	geógrafos,	antropólogos	e	soció-
logos:	Edward	Burnett	Tylor,	Franz	Uri	Boas,	Alfred	Kroeber,	Cliford	Geertz	e	Stuart	Hall.
 
Passamos	 da	 definição	 determinista	 de	 cultura	 inspirada	 no	 darwinismo	 evolu-
cionista,	as	abordagens	sobre	o	particularismo	histórico	de	Boas,	a	teoria supraorgânica	 
de	Kroeber,	a	teoria	interpretativista	apontada	por	Geertz	e,	por	fim,	o	multiculturalismo	
compreendido	por	Hall.
4
Caros estudantes, o conteúdo possui extensa literatura. Como meio 
auxiliar, a biblioteca virtual possui o livro do antropólogo Roque de 
Barros Laraia, intitulado Cultura: um conceito antropológico. 
No título, o autor consegue expor um histórico sobre a histórica 
definição e conceito de cultura, as influências sobre a formação social 
por meio da cultura e a dinamicidade e diversidade da cultura entre os 
homens. Considera-se uma literatura clássica auxiliar, cujo objetivo é, 
de maneira acessível e introdutória, esclarecer o estudo sobre cultura.
DICA
Trazemos,	 com	clareza,	 que	a	 compreensão	conceitual	 sobre	cultura	passou	
por	 transformações	 ao	 longo	 do	 tempo,	 perpassando	 caminhos,	 perdendo	 e	 ganhando	
estruturas,	não	indicando	graus	de	inferioridade	ou	superioridade	quanto	às	abordagens,	
mas	uma	construção	de	conhecimentos	baseados	em	possibilidades	distintas,	tendo,	
por	exemplo,	a	aproximação	da	geografia	entre	alguns	campos	da	humanidade,	cujo	
resultado	 rende	 uma	 produção	 interdisciplinar	 rica,	 valorizando	 a	 dinâmica	 espaço-
temporal.
 
O	segundo	tema,	“o	 interesse	da	geografia	pela	cultura	e	a	geograficidade	da	
geografia	cultural”,	vem	sincronizar	com	o	conteúdo	estudado	anteriormente,	retomando	
os	pontos	de	contato	entre	a	ciência	geográfica	e	a	cultura.	São	apresentadas	narrativas	
geográficas	 que	 sustentam	 cientificamente	 a	 geografia	 cultural	 e	 seu	 interesse	 pela	
espacialidade,	 este	 compreendido	 pela	 formação	 de	 território,	 poder,	 territorialidade,	
lugar,	espaços	e	paisagens.	
Seguimos	tratando	das	novas	possibilidades	de	interpretar	as	relações	socioes-
paciais	a	partir	da	importância	da	cultura	na	geografia,	desconstruindo	as	barreiras	an-
teriormente	formadas	na	macroesfera	da	disciplina.	A	temática	afirma	que	os	fenôme-
nos	geográficos	também	carregam	traços	culturais	que	podem	ser	desvendados	pela	
geografia	cultural.	Embora	essa	discussão	possa	parecer	retrógrada	e	aparentemente	
resolvida,	acredite,	ainda	é	recorrente.	Especulações	circulam	indagando	sobre	a	origi-
nalidade	do	ramo	e	se	ele,	efetivamente,	faz	parte	dos	estudos	da	ciência	geográfica.	
Por	 fim,	 são	 apresentadas	 e	 discutidas	 nove	 estruturas	 culturais	 da	 ciência	
geográfica:	 O	 conhecimento	 do	 mundo	 sempre	 se	 faz	 através	 das	 representações;	
A	 cultura	 é	 construída	 a	 partir	 de	 elementos	 transmitidos	 ou	 inventados;	 A	 cultura	
existe	através	dos	indivíduos	que	a	recebem	e	a	modificam,	eles	se	constroem	como	
indivíduos	no	processo;	O	processo	da	construção	da	cultura	também	é	um	processo	
social;	A	construção	do	indivíduo	como	ser	social	se	traduz	pelo	nascimento	de	sentidos	
de	 identidade;	A	construção	da	sociedade	pela	cultura;	A	construção	do	espaço	pela	
cultura;	A	gênese	dos	sistemas	de	crenças	e	valores	e	Cultura	e	ideologias	comunitárias.	
Bons	estudos!	
5
2 CULTURA: UMA PERCEPÇÃO DINÂMICA 
Certamente,	 enquanto	 indivíduos,	 estudantes	 e	 futuros	 profissionais	 da	
ciência	geográfica,	vocês	já	ouviram	ou	fizeram	alusão	ao	termo	“cultura”,	certo?	Assim,	
independentemente	das	circunstâncias,	experiências	pessoais	ou	regionais,	optamos	
por	percorrer	os	caminhos	existentes	da	 (re)construção,	elencando	as	possibilidades	
do	emprego	conceitual	da	cultura	no	âmbito	acadêmico,	cujo	foco	ampara	a	geografia	
cultural.
Então,	 primeiramente,	 para	 promover	 essa	 apresentação,	 Corrêa	 (2009)	 contribui	
afirmando	que,	a	cultura,	enquanto	vocábulo,	possui	uma	diversidade	de	colocações	e	
significados,	desde	o	senso	comum,	o	qual	não	deve	ganhar	força	na	aprendizagem	em	
questão,	até	nas	discussões	conceituais,	que	adentram	as	matrizes	acadêmicas	nas	
ciências	sociais.
 
No	momento	 inicial	 da	 leitura,	 façamos	 uma	 proposta,	 cujo	 objetivo	 indica	 uma	
compreensão	histórica	dos	fatos,	realidade	acadêmica	e	período	da	construção	conceitual	
do	termo	cultura.	Realize	uma	retrospectiva,	mediante	seu	conhecimento,	quanto	à	gênesis	
da	 ciência	 geográfica	 e	 seus	 desafios	 epistemológicos.	 Seria	 possível?	 Caso	 contrário,	
apresentaremos	um	contexto	inicial.
 
As	concepções	epistemológicas	no	meio	científico,	antes	do	Século	XX,	predo-
minavam	sob	o	aspecto	positivista	e,	posteriormente,	neopositivista.	Majoritariamente,	
os	geógrafos	mantinham	alicerces	naturalistas	nas	pesquisas.	As	análises	sobre	o	am-
biente,	sociedade	e	cultura	eram,	basicamente,	explicadas	mediante	as	leis	naturais.	
Caros alunos, atenham-se à palavra epistemologia com uma certa dose de atenção, 
porque ela tem estado, com frequência, no ambiente acadêmico, nas aulas ministradas, 
livros, e outros meios de busca, mas o seu uso excessivo ou mal alocado, por vezes, 
distorce seu conceito essencial. A palavra “epistemologia” tem origem no grego, equivale 
à episteme + logos = conhecimento científico, explicação, discurso, opinião. Essa 
sentença, criada no Século XX, teve o objetivo de superar a perspectiva 
unívoca e homogênea da concepção da filosofia da ciência encontrada 
na linha positivista. Ainda, tratar, de maneira crítica, construtiva e 
democrática, o conhecimento científico, como apresenta Gomes (2009, 
p. 14): “[...] discutir criticamenteas formas de construir um pensamento 
científico não quer dizer se transformar, em um tribunal, para julgar a 
sua conformidade ou não em relação a um modelo único e ideal, ao 
contrário”. Esse entendimento conclui que não existe uma fórmula 
determinante para fazer ciência, principalmente, a geográfica, pois 
cada fenômeno demonstra uma singularidade e dinâmica.
ATENÇÃO
6
Seguindo	na	perspectiva	predominante	de	análise	epistemológica,	encontramos	
a	 definição	 antropológica	 de	 cultura	 que,	 não	 obstante	 da	 realidade	 conceitual	 da	
geografia,	 também	 foi	 compreendida	 sob	 o	 ponto	 de	vista	 das	 dinâmicas	 naturais	 e	
do	princípio	 empirista	 e	 sistemático.	Contudo,	 como	todo	 texto	possui	 um	contexto,	
traremos	alguns	precedentes	que	auxiliaram	o	descortinar	da	definição	inicial	da	cultura	
cujas	influências	pairaram	sobre	o	desenvolvimento	da	geografia	cultural.	
 
Entre	o	Século	XVIII	e	XIX,	duas	palavras	foram	polarizadas	entre	germânicos	
e	 franceses.	 Seccionados	 como	 os	 antecedentes	 históricos	 do	 conceito	 de	 cultura,	
os	termos	Kultur	e	Civilization	intuíam	considerações	primárias:	o	primeiro	refletia	sob	
as	 convicções	 espirituais	 de	 um	 grupo	 de	 indivíduos	 denominado	 de	 comunidade	
e,	o	 segundo,	 sobre	as	conquistas	de	ordem	material	de	um	povo.	Com	o	 intuito	de	
unificar	 as	duas	convicções	em	torno	da	cultura,	 Edward	Burnett	Tylor,	 nos	 anos	de	
1871,	apresentou	a	culture,	vocabulário	inglês	que	sistematizava	oficialmente	a	primeira	
definição	da	cultura.
FIGURA 1 – SÍNTESE DA PRIMEIRA DEFINIÇÃO DE CULTURA
FONTE: O autor
Kultur
Civilization
Culture
Configura-se	que	a	criação	das	primeiras	nomenclaturas	dadas	por	países	da	
Europa	Ocidental,	para	interpretar	o	complexo	social,	sinalizou	que	havia	uma	inquietação	
pelo	 estudo	 da	 sociedade,	 ou	melhor,	 pelas	 interfaces	 de	 arranjos	 condizentes	 com	
formação	social.	Os	temas	de	maiores	proporções	de	estudos,	na	primeira	metade	do	
Século	 XIX,	 estavam	 relacionados	 à	 etnografia	 dos	 grupos	 humanos,	 suas	 técnicas,	
obras,	além	das	línguas,	crenças	e	tradições	(CLAVAL,	2011).
A	compilação	efetuada	por	Tylor	trouxe,	com	imponência,	a	voz	que	definiu	a	
cultura	dentre	os	estudos	da	antropologia,	porém,	história	apontou	que	não	foi	a	única.	
As	discussões	no	universo	conceitual	têm	uma	 longa	 jornada,	esta	que	antecedeu	e	
procedeu	a	interpretação	de	culture.	
7
Edward Burnett Tylor
Abreviadamente conhecido como Tylor (1832 -1917). Um britâni-
co, antropólogo, cujas atividades foram relacionadas à escola do 
evolucionismo social. Foi considerado o pai do conceito moderno 
de cultura.
NOTA
Tylor	 trouxe,	 como	 capacidade	 interpretativa,	 a	 causa	 e	 regularidade	 para	
cultura,	afirmando	que	ela	não	faz	parte	do	código	genético	do	indivíduo,	não	nasce	com	
características	culturais	próprias,	mas	a	cultura	passa	a	ser	concebida	de	todas	as	coisas	
que	são	adquiridas	por	meio	da	aprendizagem	na	sociedade.	Como	exemplos,	símbolos,	
práticas,	técnicas	e	tantos	outros	que	formam	ciclos	de	práticas	que	desenvolvem	a	
cultura	(CLAVAL,	2011).
Sobre	 a	 compreensão	 de	 cultura,	 Wagner	 e	 Mikesell	 (2011)	 introduzem	 a	
temática	sinalizando	que,	em	pessoas	cujas	vivências	são	em	grupos,	torna-se	comum	
apresentar	tendências	de	comportamentos	semelhantes,	como	o	pensar	e	o	agir.	Tais	
atributos	são	justificados	pela	rotina	de	vida	e	por	referências	únicas	de	condiscípulos	e	
mestres.	Compartilham	e	difundem,	em	um	mesmo	nicho,	suas	relações	de	trabalhos,	
conversas,	observações,	aprendizagem,	significado,	rituais	e	recordações	do	passado	
igualmente	vivenciado,	 ou	 seja,	 a	 definição	Tyloriana	de	 cultura	 acreditou	que	 “[...]	 o	
meio	ambiente	podia	determiná-la	ou	influenciá-la”	(CLAVAL,	2011,	p.	6),	argumento	que	
caracterizou	uma	associação	com	o	determinismo	geográfico.
Wagner	 e	 Mikesell	 (2011)	 destacam	 que,	 naquele	 século,	 a	 noção	 de	 cultura	
se	 abstinha	 de	 estudar	 o	 ser	 enquanto	 indivíduo	 único,	 segundo	 características	
particulares.	Contudo,	havia	destaque	no	estudo	de	grupos	de	pessoas	que	prontamente	
estivessem	tomado	posse	de	áreas	espaciais	amplas	e	bem	demarcadas,	além	daquelas	
que	já	fossem	estabelecidas	em	suas	crenças	e	comportamentos,	pois	essas	poderiam	
identificar	ou	distinguir	entre	comunidades	evolutivas.
Tylor	abriu	mão	do	relativismo	cultural	e	desconheceu	os	vários	caminhos	da	
cultura.	A	definição	de	cultura,	inspirada	no	darwinismo	evolucionista	que,	a	princípio,	
fundamentou	e	representou	para	muitos	estudiosos	das	ciências	humanas,	entre	eles	
etnólogos,	antropólogos	e	geógrafos,	outrora	foi	considerada	simplista,	pois	congregava	
um	termo,	uma	concepção	seccionada	sobre	toda	a	diversidade	e	complexidade	das	
relações	humanas.	A	exemplo	da	abordagem	unilinear	realizada	como	método	de	análise	
entre	civilizações	e	tribos	selvagens.	
8
A	abordagem	unilinear	foi	um	método	de	análise	que,	sugestivamente,	media	
os	 pares	 (seres	 humanos)	 de	 continentes	 diversos,	 segundo	uma	 régua	 de	 estágios	
evolutivos.	 A	 regra	 evidenciava	 que,	 historicamente,	 uma	 sociedade	 passava	 por	
três	fases:	a	primeira,	de	selvageria,	a	segunda,	de	barbarismo,	até	chegar	ao	ultimo	
grau,	 a	 civilização.	 Sugestivamente,	 povos	 eram	 dimensionados	 e	 expostos	 a	 uma	
supervalorização	 e	 subestimação.	 Foram	 sinalizadas,	 mediante	 a	 unilinearidade,	 as	
diferenças	latentes	entre	as	tribos	indígenas	brasileiras	e	civilizações	da	Europa.
Franz Uri Boas (1858-1942)
O criador da escola cultural americana nasceu na cidade alemã 
de Westfália, mas projetou sua carreira nos Estados Unidos 
desde 1886. Apesar de ter estudado nas áreas da física e da 
geografia com o professor Ratzel, foi na antropologia que se 
descobriu quando fez uma expedição geográfica até a ilha 
Baffinland – Canadá. Uma experiência com os esquimós o tornou 
o antropólogo da era moderna.
NOTA
Longe	de	 uma	 conceituação	 acabada,	 um	outro	 capítulo	 sobre	 a	 história	 da	
evolução	do	conceito	de	cultura	foi	formado,	dessa	vez,	com	Franz	Boas,	no	circuito	da	
antropologia,	entre	os	anos	de	1920-1930	do	Século	XX	(CLAVAL,	2011).	
Franz	Boas	ficou	conhecido	por	se	contrapor	ao	método	evolucionista	unilinear	
e	ser	contra	a	teoria	do	determinismo	geográfico	quando	propagada	pela	capacidade	
generalizadora,	 referindo-se	 à	 normatização	 da	 influência	 geográfica	 acerca	 dos	
fundamentos	culturais	de	um	povo.
O	 determinismo	 geográfico	 considera	 que	 as	 diferenças	 do	 ambiente	 físico	
condicionam	a	diversidade	cultural.	São	explicações	existentes	desde	a	Antiguidade,	
das	formuladas	por	Pollio,	Ibn	Khaldun,	Bodin	e	outros.	Na	virada	do	Século	XIX	para	o	
XX,	teorias	foram	popularizadas	e	vigorosamente	estudadas	por	geógrafos.	A	publicação	
de	obras	contribuiu	para	a	expansão	do	determinismo	geográfico.	Para	a	análise,	 foram	
utilizados	dois	parâmetros,	a	latitude	e	os	centros	de	civilização,	tomando,	como	verdade	
absoluta,	que	as	regiões	dependiam	do	clima	como	um	condicionante	para	o	progresso.
Ele	 se	 diferenciou	 por	 erguer	 a	 bandeira	 da	 ‘diversidade	 cultural’,	 inclusive,	
entre	entes	de	uma	mesma	região,	difundindo	que	existia	um	particularismo	histórico.	
Boas,	enquanto	antropólogo,	questionou	explicações	da	sociedade	e	cultura	por	meio	
único	de	leis	evolucionistas,	direcionando	uma	crítica	a	modos	limitados	dos	métodos	
comparativos.
9
De	maneira	explicativa,	a	partir	de	uma	abordagem	multilinear,	Boas	sugeriu	a	
antropologia	abdicar	do	método	simples	da	comparação	e	fazer	análises	culturais	dos	
povos/regiões	mediante	dois	caminhos:	primeiro,	partindo	do	pressuposto	de	que	todo	
povo	ou	região	possui	uma	história,	para	melhor	compreensão	da	realidade,	tornava-
se	importante	fazer	uma	reconstrução	histórica;	o	segundo,	de	caráter	complementar,	
pois	 traçava	 um	 comparativo	 da	 relação	 social	 entre	 povos	 distintos,	 segundo	 leis	
semelhantes.
Como	formador	cultural	de	inúmeros	antropólogos,	Franz	Boas	foi	uma	grandereferência	 para	 o	 antropólogo	 Alfred	 Kroeber,	 um	 nome	 que	 cresceu	 na	 sociedade	
acadêmica	frente	à	teoria supraorgânica	(CORRÊA,	2009).
Kroeber	elaborou	uma	perspectiva	da	cultura	segundo	a	gênese	da	vida	humana.	
Para	 ele,	 o	 processo	 de	 desenvolvimento	 do	 homem	 começa	 pelo	 nível	 inorgânico,	
orgânico,	até	a	ordem	social	ou	cultural,	que	se	sobrepõe	aos	demais	níveis	(CORRÊA,	
2009).
 
No	decorrer	dos	primeiros	vinte	e	cinco	anos	do	Século	XX,	o	desenvolvimento	
de	outro	ciclo	na	reelaboração	do	conceito	de	cultura	foi	formado.	Agora,	os	aspectos	
biológicos/naturais,	dados	em	hegemonia	nas	análises	anteriores,	foram	interrompidos	
em	 virtude	 do	 novo	 valor	 empregado	 à	 cultura.	 A	 “[...]	 cultura	 era	 vista	 como	 uma	
entidade	 acima	 do	 homem,	 não	 redutível	 às	 ações	 do	 indivíduo	 e,	misteriosamente,	
contemplando	as	leis	próprias”	(DUNCAN,	2011,	p.	64).
 
Conforme	Duncan	 (2011),	os	principais	holistas	transcendentais,	criadores	da	
teoria	que	elevou	a	cultura	a	um	patamar	de	superioridade	naquele	período,	foram	os	
antropólogos	Alfred	Kroeber	e	Robert	Lowie.	Logo	adiante,	Leslie	White	pôde	prosseguir	
com	a	tese	neoevolucionista.
 
Kroeber	 redirecionou	a	antropologia	americana,	de	um	determinismo	geográfico	
na	 perspectiva	 da	 cultura,	 para	 um	 determinismo	 puramente	 cultural.	 Para	 a	 teoria	
supraorgânica,	os	valores	funcionavam	como	código,	este	que	controlava	as	mentes	
humanas	e,	por	conseguinte,	suas	atividades	desenvolvidas.	Os	indivíduos	passaram	a	
ser	reconhecidos	como	simples	coadjuvantes	da	suprema	cultura,	apenas	com	a	função	
de	porta-voz,	levando-a	por	diferentes	regiões	e	períodos	(DUNCAN,	2011).
Para	 Kroeber,	 a	 realidade,	 a	 natureza	 do	 desenvolvimento	 humano	 tinha	 um	
formato	estabelecido	por	ordem	de	prioridades,	um	cenário	no	qual	a	cultura	pairava	
sob	os	demais	seguimentos,	representados	em	níveis	hierárquicos,	 livres	de	explicações	
associativas	entre	si	(DUNCAN,	2011).
10
FIGURA 2 – COMPOSIÇÃO DA REALIDADE APRESENTADA POR KROEBER
FONTE: O autor
Cultural/Social
Psicológico/Biofísico
Orgânico
Inorgânico
A	 criação	 e	 a	 veneração	 pela	 cultura,	 como	 uma	 entidade	 autônoma,	 não	
tinham	apenas	um	sentido	conceitual,	mas	objetivos	internos	da	antropologia	enquanto	
ciência.	Assim,	“[...]	ao	elevar	a	cultura	a	um	nível	superior,	o	antropólogo	não	tinha	mais	
necessidade	dos	 indivíduos	e,	portanto,	não	precisavam	dos	processos	psicológicos”	
(DUNCAN,	2011,	p.	67).	Trava-se	de	discutir	a	cultura	sem,	necessariamente,	 interligar	
explicações	 com	 os	 fundamentos	 ou	 níveis.	 Sendo	 protegida	 dos	 demais	 aspectos,	
tornava-se	um	meio	autêntico	de	pesquisa	da	antropologia.
 
Para	além	daquele	fato,	a	visão	do	holismo	transcendental	massificou	pontos	
fundamentais	 para	 o	 período	 na	 antropologia	 e,	 por	 conseguinte,	 influenciou	 outras	
ciências	que	utilizavam	as	bases	conceituais.	É	possível	que,	nesta	parte	do	texto,	você	
esteja	se	perguntando:	o	que	seria	o	holismo	transcendental?	Discutimos,	anteriormente,	
que,	para	Kroeber	e	demais	antropólogos,	os	indivíduos	com	suas	aparentes	atividades	
assumiram	 um	 papel	 de	 meros	 agentes	 passivos	 frente	 a	 ordens	 de	 algo	 superior.	
“Os	holistas	acreditam	que	eventos	de	 larga	escala,	 como	o	declínio	de	nações,	 são	
autônomos	 e	 amplamente	 independentes	 dos	 indivíduos	 que	 participam”	 (DUNCAN,	
2011,	p.	66).
Caros	 alunos,	 a	 definição	 de	 cultura,	 realizada	 por	 Tylor	 e	 tantos	 outros	
antropólogos,	 passou	 por	 críticas	 a	 partir	 da	 perspectiva	 de	Geertz	 (2008,	 p.	 3).	 Ele	
expõe	que	“[...]	todavia,	esse	padrão	se	confirma	no	caso	do	conceito	de	cultura,	em	
torno	do	qual	surgiu	todo	o	estudo	de	antropologia	e	cujo	âmbito	tem	se	preocupado	
cada	vez	mais	em	limitar,	especificar,	enforcar	e	conter”.
Segundo	Claval	(2011),	após	os	anos	1940-1970,	a	perspectiva	que	compreendia	
a	cultura	como	algo	não	redutível	ao	ser,	apesar	de	haver	ampla	influência,	passou	a	ser	
substituída,	pois	as	relações	mundiais	passavam	por	mudanças,	motivo	que	influenciou	
a	ciência	a	redirecionar	olhares	para	além	da	materialidade	da	vida,	técnicas	produtivas.
 
11
Para	a	ciência,	não	bastava	apenas	apresentar	os	efeitos	que	os	fenômenos	
culturais	causavam	na	sociedade.	Era	preciso	atribuir,	ao	indivíduo,	o	real	valor	da	sua	
visão	de	autóctone,	explicar	mais	que	a	permanência	das	estruturas,	compreendendo	
suas	evoluções	e	história	(CLAVAL,	2011).
 
Considera-se	que	os	antropólogos	da	América	do	Norte,	após	1970,	apresentaram	
mais	fortemente	outro	rumo	conceitual	de	cultura,	concepções	epistemológicas	cuja	
abordagem	trilhava	as	dimensões	simbólicas	(CLAVAL,	2011).
 
Para	entender	a	cultura,	Geertz	(2008)	fez	algumas	análises	sobre	o	processo	
de	evolução	biológica	do	homem,	refutando	a	teoria	do	ponto	crítico	(ao	entendimento	
de	 que	 a	 cultura	 apareceu	 abruptamente)	 e,	 fundamentando-se	 na	 paleontologia	 e	
arqueologia,	criou	algumas	hipóteses,	entendendo	que	a	cultura	vem	de	um	processo	
anterior	 ao	 desenvolvimento	 orgânico,	 a	 passos	 ininterruptos,	 porém	 lentos.	 Na	 sua	
teoria,	o	homem	foi	um	produto	da	cultura,	mas	logo	tornou-se	também	um	produtor,	
acumulando	e	a	desenvolvendo	dentro	de	um	processo	complexo.
Geertz	(2008)	menciona	que,	no	período	da	efervescência	do	Iluminismo,	uma	
máxima	 foi	 dita	 por	Whitehead	 para	 as	 ciências	 naturais,	 foi	 assumida	 pelas	 ciência	
sociais	como	um	ideal	científico	autorizando	noções	simplistas	para	a	compreensão	da	
cultura.	Segundo	o	ditado	“confie,	desconfiando”	da	simplicidade,	para	Geertz,	o	estudo	
do	homem	estava	intrinsicamente	ligado	à	cultura,	logo,	em	tons	de	crítica,	ele	propôs	
que	autor	da	máxima	buscasse	afirmar	o	contrário	para	as	ciências	sociais:	“[...]	procure	
a	complexidade	e	ordene-a”	(GEERTZ,	2008,	p.	25).
A	perspectiva	iluminista	do	homem	era,	naturalmente,	a	de	que	ele	
constituía	uma	só	peça	com	a	natureza	e	partilhava	da	uniformidade	
geral	de	composição	que	a	ciência	natural	havia	descoberto	sob	o	
incitamento	de	Bacon	e	a	orientação	de	Newton.	Resumindo,	há	uma	
natureza	 humana	 tão	 regularmente	 organizada,	 tão	 perfeitamente	
invariante	 e	 tão	 maravilhosamente	 simples	 como	 o	 universo	 de	
Newton.	Algumas	de	suas	leis	talvez	sejam	diferentes,	mas	existem	
leis.	 Parte	 da	 sua	 imutabilidade	 talvez	 seja	 obscurecida	 pelas	
armadilhas	da	moda	local,	mas	ela	é	imutável	(GEERTZ,	2008,	p.	25).
Geertz	buscou	significar	o	homem	mediante	a	definição	de	cultura.	Absteve-
se	da	 idealização	da	clássica	ciência	antropológica,	que	foi	 responsável	por	criar	um	
modelo	ideal	de	homem,	mas	o	fato	desenvolvido	evidencia	a	diversidade	cultural	em	
contraponto	a	uma	unicidade	da	espécie	humana.
Geertz	 (2008)	demonstra	que	a	cultura,	no	sentido	amplo,	não	se	 limita,	não	
determina,	ela	circula,	é	livre,	democrática,	pode	ser	partilhada	entre	as	pessoas.	O	ser	
independente	de	faixa	etária	sempre	estará	pronto	para	vivenciar	limitadamente	uma	
parte	da	cultura,	pois	compreendê-la	em	suas	várias	dimensões	e	plenitude	seria	como	
correr	junto	à	persistente	dinâmica	de	significados	dos	elementos	culturais.
 
12
Numa	perspectiva	demonstrativa,	as	dimensões	simbólicas	se	aplicavam	às	di-
versas	práticas	sociais	e	suas	interligações,	ao	contrário	dos	processos	de	generaliza-
ção	e	segmentação	de	análises,	como	propõe	Geertz	(2008,	p.	21):
Olhar	 as	 dimensões	 simbólicas	 da	 ação	 social	 -	 arte,	 religião,	
ideologia,	ciência,	 lei,	moralidade,	senso	comum	-	não	é	afastar-se	
dos	dilemas	existenciais	da	vida	em	favor	de	algum	domínio	empírico	
de	 formas	 não	 emocionalizadas.	 É	 mergulhar	 no	 meio.	 A	 vocação	
essencial	da	antropologia	interpretativa	não	é	responder	às	questões	
mais	profundas,	mas	colocar,	à	disposição,	as	respostas	que	outros	
deram	-	apascentando	outros	carneiros	em	outros	vales	–	e,	assim,	
incluir	no	registro	de	consultas	sobre	o	que	o	homem	falou.
A	 antropologia	 interpretativa	 identificadana	 essência	 dos	 estudos	de	Geertz	
buscava	 neutralizar	 qualquer	 significado	 fixo	 para	 teorizar	 a	 cultura,	 e	 sua	 pesquisa	
não	se	 limitou	às	 respostas	prontas	e	acabadas	como	 receitas	herdadas.	O	princípio	
do	estudo	apresentava	os	mais	diversos	grupos	sociais	em	relações	dinâmicas	com	as	
dimensões	simbólicas,	significando	e	ressignificando	a	cultura.
Cliford Geertz 
Ingressou como discente do curso de Antropologia na Universidade de 
Harvard - Departamento de Relações Sociais. Posteriormente, como 
docente, ensinou por dez anos no Departamento de Antropologia 
da Universidade de Chicago, em Princeton. No Instituto de Estudos 
Avançados, percorreu uma longa trajetória enquanto professor. 
Entre inúmeros ensaios, elaborou o livro A interpretação das Culturas, 
no ano de 1973. Como antropólogo, interessou-se em redefinir 
dinamicamente o conceito de cultura, mas trabalhou também nas 
áreas de desenvolvimento econômico, organização social, história 
comparativa e história da ecologia cultural.
NOTA
Outras	correntes	fizeram	parte	do	processo	evolutivo	dos	estudos	de	cultura,	
e	uma	é	explicada	pelo	ambiente	econômico	concebido	também	pelas	guerras.	“[...]	A	
cultura	torna-se	um	instrumento	de	dominação.	É	usado	pelas	classes	mais	altas	para	
impor,	 às	classes	mais	baixas,	comportamentos	conforme	seus	 interesses”	 (CLAVAL,	
2011,	p.	8).
 
A	inserção	do	marxismo	como	modo	explicativo	através	da	corrente	teórica	do	
materialismo	histórico	e	dialético	para	a	cultura	influenciou	estudiosos	como	Gramsci	e	
Raymond	Williams.
13
No	período	dos	anos	setenta,	embasamentos	na	área	da	sociologia,	com	Stuart	
Hall,	também	trouxeram	compreensões	sobre	os	estudos	culturais.	Ele	dinamizou	seu	
trabalho	 intelectual,	e	seu	objetivo	não	era	se	apropriar	de	 ideias	como	devoto,	nem	
retalhar	pontos	inconsistentes	frente	seu	posicionamento.	Além	dele:
 
Deglutiu	Marx,	Gramsci,	Bakhtin.	Saboreou	Louis	Althusser,	Raymond	
Williams,	Richard	Hoggort,	Fredric	Jameson,	Richard	Rorty,	Jacques	
Derrida,	Michel	Foucault,	E.	P.	Thompson,	Gayatri	Spivak,	Paul	Gilroy,	
com	algo	de	 Ien	Ang,	Cornel	West,	Homi	Bhabha,	Michele	Wallace,	
Judith	 Butler,	 David	 Morley,	 assim	 como	 ingeriu	 Doris	 Lessing,	
Barthes	Weber,	Durkheim	e	Hegel	(SOVIK,	2003,	p.	10).
 
Apesar	de	descordar	de	alguns	pontos	relativos	à	teoria	de	Marx,	Hall	foi	atraído	
pelos	atributos	do	estudo	referente	à	teoria	do	capital/classe	social,	de	poder/exploração,	
e	da	produção	de	conhecimento	crítico.	Ainda,	em	Gramsci,	pôde	absorver	o	estudo	
de	raça	e	etnia	para	compreensão	da	realidade	contemporânea	e	o	multiculturalismo	
(SOVIK,	2003).
Hall	contribuiu	com	os	paradigmas	da	teoria	da	cultura,	interessado	em	pensar	
sobre	o	social	e	simbólico	longe	do	reducionismo.	“[...]	Ele	persistiu	no	estudo	relação	
entre	os	meios	de	comunicação	e	a	cultura,	o	 lugar	da	história	no	estudo	da	cultura	
contemporânea,	 a	 sua	epistemologia	ou,	 ainda,	 a	maneira	pela	qual	 lê	questões	das	
etnias	dominantes	e	de	gênero”	(SOVIK,	2003,	p.	14).
Stuart Hall (1932)
Sua origem jamaicana auxiliou a escolha por dois motivos de estudo: 
preocupações étnicas e anticoloniais. Enquanto intelectual da sociologia, 
repensou a cultura frente à globalização. Entre os anos de 1958-1961, 
atuou na revista New Left Review, propondo temáticas sobre compreensão 
das classes sociais, movimentos sociais e política, desarmamento nuclear 
e questões raciais britânicas. Em 1964, na universidade de Birmingham, 
foi um dos fundadores do Centre for Contemporary Cultural Studies. Em 
1979, foi transferido para a Open University, onde institucionalizou os 
estudos culturais britânicos e, em períodos posteriores, pôde constatar o 
crescimento dessas pesquisas por diferentes partes do mundo.
NOTA
Cremos	que,	durante	a	primeira	leitura	acerca	da	cultura	enquanto	diretriz	de	
pesquisa	acadêmica,	você	percebeu	uma	sutil	linha	do	tempo.	Ela	teve,	como	propósito,	
evidenciar	algumas	das	inúmeras	dinâmicas	na	evolução	da	definição	de	cultura.	É	certo	
que	não	tocamos	na	totalidade	do	estudo,	 tendo	em	vista	que	não	é	nosso	objetivo	
central,	mas	apresentamos	diferentes	períodos,	 concepções	do	termo,	 além	de	uma	
apresentação	teórica	epistemológica	ligada	à	cultura.
14
3 O INTERESSE DA GEOGRAFIA PELA CULTURA E A 
GEOGRAFICIDADE DA GEOGRAFIA CULTURAL
Propomos,	 nesta	 fase,	 que	 haja	 uma	 reflexão	 sobre	 a	 geograficidade	 da	
geografia	cultural.	Para	isso,	motivamos	você	a	responder	breves	perguntas:	É	possível	
tornar	geográfico	um	fenômeno	que	envolve	dimensões	religiosas?	Como	compreender	
os	territórios	além	das	delimitações	físicas?	Existem	aproximações	entre	estudos	de	
identidade	e	geografia?	Certamente,	 ao	 longo	do	processo	de	 conhecimento,	 outros	
inúmeros	questionamentos	serão	realizados,	possibilidades	de	temáticas	pesquisadas,	
mas	atenção	quanto	à	espacialização	do	fenômeno.
 
Gomes	 (2009,	 p.	 27)	 generosamente	 esclarece	 que	 “há,	 contudo,	 sempre	
uma	análise	geográfica	quando	o	centro	de	nossa	questão	é	a	ordem	espacial,	pouco	
importando	 o	 tipo	 de	 fenômeno	 [...]”.	 A	 geografia	 cultural	 possui	 seus	 fundamentos	
amparados	 na	 ciência	 geográfica	 e	 essa	 unidade	 pode	 ser	 demonstrada	 a	 partir	 da	
absorção	intelectual	nas	bases	geográficas.
A	geografia	cultural	está	associada	a	experiências	que	os	homens	têm	da	terra,	
da	natureza	e	do	ambiente.	Estuda	a	maneira	pela	qual	eles	modelam	para	responder	às	
necessidades,	seus	gostos	e	suas	aspirações,	e	procura	compreender	a	maneira	como	
eles	aprendem	a	se	definir,	a	construir	sua	identidade	e	a	se	realizar	(CLAVAL,	1997,	p.	89).
FIGURA 3 – RELAÇÃO VISUAL ENTRE A GEOGRAFIA E A GEOGRAFIA CULTURA
FONTE: O autor
Geografia
Geografia 
Cultural
Base de estudo para o subcampo 
da Geografia Cultural.
Interesses da disciplina Geografia Cultural
• Relação Homem - Espaço;
• Dimensões simbólicas; 
• Experiência humana dos sentidos e percepções;
• Estudo da diversidade - integrantes da sociedade.
Como	 é	 oriunda	 da	 ciência	 geográfica,	 é	 natural	 que	 o	 alicerce	 da	 geografia	
cultural	seja	correspondente.	Tais	fundamentos	foram	reconhecidos	por	Claval	(2011),	
quando	apresentou	um	balanço	desses	elos	mostrando	o	que	vinculam.	
15
“[...]	 A	 geografia	 que	 estuda	 os	 grupos	 humanos	 se	 detém	 nos	 discursos	 e	
nas	representações,	uma	vez	que	estas	últimas	traduzem	maneiras	de	padronização”	
(CLAVAL,	1997,	p.	93).
A	geograficidade	é	uma	nomenclatura	referida	por	Dardel,	que	propõe	a	busca	
pela	decodificação	do	espaço	através	do	que	se	sente	ou	reconhece	a	partir	das	distintas	
formas	 atribuídas	 ao	meio.	 Há	 categorias:	 os	 espaços,	 lugar,	 paisagens,	 naturais	 ou	
artificiais,	além	da	identidade	e	territorialidade.	São	estruturas	e	modo	pelo	qual	o	ser	
humano	pode	desenvolver	suas	habilidades	e	seu	enraizamento	existencial.
A	seguir,	apresentaremos	nove	pontos	sobre	os	quais	a	geografia	cultural	 se	
baseou	para	desenvolver	suas	análises	e	narrativas.
QUADRO 1 – CONCEPÇÕES ABORDADAS PELA GEOGRAFIA CULTURAL
Relação de aspectos comuns entre Geografia e a Geografia Cultural
I-	O	conhecimento	do	mundo	sempre	se	faz	através	das	representações
II-	A	cultura	é	construída	a	partir	de	elementos	transmitidos	ou	inventados
III-	A	cultura	existe	através	dos	indivíduos	que	a	recebem	e	a	modificam.	Eles	se	constroem	
como	indivíduos	no	processo
IV-	O	processo	da	construção	da	cultura	também	é	um	processo	social
V-	A	construção	do	indivíduo	como	ser	social	se	traduz	pelo	nascimento	de	sentidos	de	
identidade
VI-	A	construção	da	sociedade	pela	cultura
VII-	A	construção	do	espaço	pela	cultura
VIII-	A	gênese	dos	sistemas	de	crenças	e	valores
IX-	Cultura	e	ideologias	comunitárias
FONTE: Adaptado de Claval (2011, p. 16 -19)
Percebe-se	que,	dentro	da	abordagem,	o	homem	se	destaca.	Tal	fato	caracteriza	
a	 geografia	 cultural	 moderna	 e	 na	 perspectiva	 que	 discutiremos	 pontualmente	 os	
conteúdos	apresentados.
O	primeiro	ponto,	“o	conhecimento	do	mundo	sempre	sefaz	através	das	repre-
sentações”,	indica	que	o	ser	humano,	a	princípio,	não	adquire	um	conhecimento	instan-
tâneo	sobre	os	fatos	e	realidades	da	terra,	pois	são	distintos,	a	exemplo	das	estruturas	
de	organização	espacial	e	lugares,	mas	o	processo	se	inicia	de	maneira	básica,	com	os	
sentidos	e	as	sensações	liberadas	aos	primeiros	contatos	do	indivíduo	com	o	mundo.
Claval	 (1997)	afirma	que	o	homem	interpreta	o	mundo	por	meio	dos	sentidos	
inerentes	 a	 ele.	 Com	 a	 visão,	 observa-se	 as	 formas,	 audição,	 ruídos	 e,	 com	 olfato,	
aromas.	“[...]	O	homem	age,	primeiramente,	em	função	das	indicações	que	ele	recebe	
dos	sentidos”	(CLAVAL,	1997,	p.	93).
 
16
Outra	afirmativa	do	autor	supracitado	se	refere	à	sensação,	garantindo	que	esta,	
apesar	de	refletir	a	realidade,	apenas	torna-se	segura	quando	assume	uma	condição	
estável,	ou	seja,	quando,	junto	com	a	sensação,	exista	uma	percepção.
A	percepção	é	um	importante	elemento	da	dinâmica	das	represen-
tações	sociais,	pois	significa	o	movimento	de	um	sujeito	situado	na	
relação	com	o	concreto	em	construção.	A	apreensão	que	o	sujeito	
faz	a	partir	dos	referenciais	faz	concluir	que	a	racionalidade	não	está	
imune	à	ideologia	(BOMFIM,	2012,	p.	15).
Para	 Claval	 (1997),	 o	 contexto	 das	 representações	 se	 pauta	 em	 processos	
que	 ocorrem	 entre	 indivíduos,	 relacionando,	 por	 exemplo,	 a	 educação	 na	 troca	 de	
experiências	 e	 a	 construção	 da	 realidade	 e	 reinterpretação.	 A	 estruturação	 da	 fase	
ocorre	no	domínio	do	cognitivo,	primeiramente	com	as	sensações	adquiridas	e,	depois,	
com	a	idealização	da	imagem	constituída.
De	acordo	com	o	que	está	sendo	desenvolvido	e	relacionado	às	representações,	
poderíamos	questionar	qual	a	finalidade.	Claval	(1997)	sintetiza	que	as	representações	
são	 como	 tramas,	 um	 conjunto	 de	 fios	 entrelaçados	 que	 contribuem	 para	 que	 o	
indivíduo	assimile	a	realidade,	destacando	aspectos	sociais,	geográficos	e	metafísicos.	
Por	fim,	essas	representações	subsidiam	a	criação	de	valores,	alimentando	a	formação	
de	ordens	regulamentadoras.
Certamente,	 a	discussão	ganha	 rumos	discordantes	 também,	pois	 a	 realidade	
pode	 não	 ser	 refletida	 fielmente,	 mas	 individualizada	 através	 da	 percepção.	 “[...]	 Os	
homens	não	agem	em	função	do	real,	mas	em	razão	da	imagem”	(CLAVAL,	1997,	p.	94).
 
Se	o	indivíduo	for	capaz	de	captar,	questionar,	perceber	os	ambientes,	buscando	
entender	como	funciona	a	criação	das	representações	e,	também,	sua	capacidade	de	
interferência	em	escalas	macro	ou	micro,	 inevitavelmente,	sua	 intenção	se	alinha	às	
dimensões	da	geografia	cultural.
As	 representações	são	percebidas	eficazmente	na	geografia	cultural	enquanto	
ciência	por	volta	da	década	de	1980	para	1990.	Primeiramente,	com	as	representações	
mentais	de	imagens	relacionadas	ao	meio	ambiente,	como	os	alpes,	neve,	comunidades	
locais	ou	turísticas.	Posteriormente,	outro	aspecto	passou	a	ser	levado	em	consideração,	
o	 do	 meio	 social	 e	 os	 discursos,	 ou	 o	 poder	 da	 utilização	 da	 língua	 relacionado	 à	
construção	da	realidade	geográfica	(CLAVAL,	2011).
O	segundo	ponto	descrito	no	quadro,	“a	cultura	é	construída	a	partir	de	elementos	
transmitidos	ou	 inventados”,	destitui	 a	 ideia	de	que	a	cultura	é	 inata	e	nasce	com	o	
homem.	As	 culturas	 são	 aprendidas	 e	 assimiladas	 por	 um	processo	 de	 transmissão,	
representadas	 pelo	 agrupamento	 de	 práticas,	 conhecimentos,	 atitudes	 e	 crenças.	 Dois	
fatores	são	 importantes	para	compreender	os	conhecimentos	e	práticas:	a	natureza	e	o	
conteúdo	da	cultura	portada	por	cada	sujeito.
17
A	transmissão	pela	língua	nativa,	gestos,	escrita	e	mídias	modernas	são	meios	
de	 difusão	 da	 cultura,	 mas,	 para	 a	 geografia	 cultural,	 os	 lugares	 onde	 ocorre	 essa	
difusão	se	destacam,	estrategicamente,	tanto	na	formação	do	ser	humano	quanto	na	
elaboração	da	cultura,	pois	“os	lugares	e	suas	paisagens	servem	de	suporte	a	uma	parte	
das	mensagens	transmitidas”	(CLAVAL,	2011,	p.	16).
Para	 Claval	 (1997,	 p.	 94),	 “a	 informação	 que	 constitui	 a	 cultura	 concerne	 o	
ambiente	natural	no	qual	vive	o	homem,	a	maneira	de	produzir	 alimentos,	 energia	e	
matéria-prima,	assim	como	as	formas	de	construir	instrumentos	e	de	empregá-los	para	
criar	ambientes	artificiais”.
No	 terceiro	 ponto,	 é	 perceptível	 que	 a	 geografia	 cultural	 apresente	 o	 sujeito	
com	destaque	em	relação	ao	processo	de	absorção	e	modificação	da	cultura,	indicando,	
também,	uma	mudança	na	dimensão	individual	do	ser	ao	longo	da	vida.
 
O	processo	pode	ser	tomado,	inicialmente,	a	partir	da	fase	infantil,	período	de	
conhecimento	 prático,	 habilidades,	 competências,	 base	 para	 uma	 estrutura	 interna	
segundo	 noções,	 preferências	 e	 crenças.	 Posteriormente,	 na	 adolescência,	 segundo	
um	 processo	 de	 interiorização	 e	 reconstrução	 que	 prossegue	 absorvendo	 novos	
conhecimentos,	técnicas	e	valores	que	vão	se	transformando	nas	fases	vindouras,	ou	
seja,	todo	o	processo	não	finda	em	uma	faixa	etária.
 
Apesar	do	ciclo	de	transformações	ser	constante	em	todas	as	fases,	é,	na	vida	
adulta,	que	o	sujeito	entende	os	processos	de	 institucionalização	 indicados	pelas	regras	 
e	valores	desenvolvidos	pela	sociedade.
Contextualizando, é possível que você, enquanto estudante, já tenha instalado um aplica-
tivo em seu smartphone. Quando a tarefa é realizada, observe que ele vem pronto e pode 
ser colocado de forma idêntica em qualquer outro aparelho. São meios engessados, não 
pensam por si, já nós, seres humanos, temos a capacidade de controle, somos agentes de 
um processo de transformação em cada etapa, temos a escolha de seguir ou 
não adiante. As mudanças são constantes, diárias. Em segundos, opiniões 
são desfeitas e refeitas. 
As culturas também não são como um programa fixo, definido, mas são 
heterogêneas, principalmente entre os entes da sociedade, em seus 
processos de construção. Imagine o Brasil, onde as regiões possuem 
suas particularidades entre cultura, fauna, flora, paisagens, 
e todas as dinâmicas espaciais, incluindo grupos sociais 
que carregam identidade própria. Certamente, a partir 
de um processo de recebimento de cultura que todo e 
qualquer indivíduo se desenvolve.
NOTA
18
	“O	processo	da	construção	da	cultura	também	é	um	processo	social”.	Para	a	
compreensão	do	tópico,	Claval	(2011)	inicia	apresentando	o	indivíduo	como	um	resul-
tado	de	um	processo	social,	tendo	em	vista	a	influência	coletiva	que	ele	experimenta.	
Desde	atitudes,	costumes,	representações	e	valores,	foi	argumentado	que,	dentro	de	
cada	processo	social,	a	transmissão	torna-se	a	etapa	mais	significativa.	É	a	partir	dela	
que	o	sujeito	se	torna	um	ser	social,	diferente	ou	semelhante	a	outros.	“O	processo	é	tão	
fundamental	quanto	o	processo	de	divisão	da	sociedade	em	profissões,	em	estatutos,	
em	classes	ou	conforme	as	riquezas”	(CLAVAL,	2011,	p.	17).
Neste	 momento,	 vamos	 observar	 o	 seu	 entendimento	 da	 afirmativa:	 “A	
construção	do	 indivíduo	como	ser	 social	 se	traduz	pelo	nascimento	dos	sentidos	de	
identidade”.
A	grande	maioria	dos	brasileiros	porta	documentos,	e	um	deles	é	a	identidade.	É	
caracterizada	por	conter	informações	básicas	de	quem	você	é,	sua	origem,	descendência,	
sobrenome,	 o	 local	 de	 nascimento,	 quesitos	 que	 podem	 dizer	 algo	 ao	 seu	 respeito,	
não	o	bastante	quando	se	refere	à	construção	da	individualidade	e	às	diferenças.	Ao	
longo	da	vida,	de	forma	individual,	o	sujeito	busca	formar	uma	identidade,	e	as	pessoas,	
coletivamente,	buscam	perpetuar	uma	identidade	já	estabelecida.
 
Sobre	o	sentido	da	identidade,	Claval	(2011)	afirma	que	é	uma	experiência	indi-
vidual,	e	está	relacionada	com	os	convívios	familiar	e	social.	A	 identidade,	em	caso	de	
confissão	de	fé	ou	concretude	de	uma	nação,	advém	de	conjunto	aplicado	à	construção	
do	intelecto	e	ao	ensino	sistemático.	Um	outro	ponto	se	refere	à	imparcialidade	entre	a	
ligação	de	um	dado	território	com	uma	identidade	anteriormente	assumida.	A	partir	do	
advento	das	mídias	modernas,outras	perspectivas	foram	analisadas,	houve	uma	inter-
venção	quanto	às	posições	hegemônicas	e	novos	conceitos	foram	gerados	e	associados.
A partir de uma experiência pessoal, é possível entender o sentido da 
identidade na formação do ser social. Eu, sou professor, por exemplo, 
sou natural da cidade de Campina Grande, localizada no estado da 
Paraíba, região do Nordeste brasileiro, mas hoje escrevo de uma 
cidade situada na Região Sul, conhecida por ter sido uma colônia 
alemã, Blumenau. 
 
Com os blumenauenses, revivi as raízes culturais germânicas a 
partir de festas típicas, do uso da língua alemã entre as famílias, na 
culinária, nas construções e edificações, apesar de brasileiros, assim 
como eu, outros habitantes da cidade, se distinguirem de mim e das 
minhas heranças culturais. Essas relações formam grupos com uma 
identidade local e demais com suas referências culturais diferentes.
NOTA
19
As	 identidades	 se	 associam	 ao	 espaço:	 elas	 se	 baseiam	 nas	 lembranças	
divididas,	nos	lugares	visitados	por	todos,	nos	monumentos	que	refrescam	a	memória	
dos	grandes	momentos	do	passado,	nos	símbolos	gravados	nas	pedras	das	esculturas	
ou	nas	inscrições	(CLAVAL,	1997).
O	sexto	tópico	explica	que,	assim	como	a	sociedade,	a	partir	da	cultura,	interfere	
na	formação	do	indivíduo,	a	sociedade	também	é	resultado	das	práticas	culturais:
 
A	análise	parte	do	calendário	de	cada	um,	de	sua	agenda,	dos	papéis	
diversos	 que	 ele	 tem	no	 tempo,	 da	 proximidade	 com	 aqueles	 que	
têm	o	mesmo	papel.	O	processo	gera	uma	consciência	de	pertencer	
a	 uma	 comunidade	 compartilhada,	 a	 uma	mesma	 classe,	 quando	
os	 indivíduos	 que	 efetuam	 as	 mesmas	 atividades	 se	 comunicam	
facilmente	e	têm	uma	ideia	clara	da	semelhança	de	seus	problemas	
e	interesses.	Ao	mesmo	tempo,	a	participação	dos	indivíduos	em	face	
de	relações	institucionalizadas	explica	a	divisão	do	trabalho	social	e	
o	funcionamento	dos	grupos	(CLAVAL,	2011,	p.	18).	
A	geografia	cultural	deve,	como	prioridade,	apresentar	a	construção	do	espaço	
pelo	prisma	da	cultura.	Claval	(1997;	2011)	fez	uma	retrospectiva	para	compreendermos.
 
A	princípio,	o	homem	fez	uso	do	espaço	de	maneira	que	contemplasse	suas	
necessidades	de	alimentação,	retirando	da	natureza,	da	segurança	e	proteção	em	relação	
aos	 eventos	 naturais	 e	 àqueles	 oriundos	 do	meio	 social.	 De	maneira	 esclarecedora,	
o	autor	expõe	que	a	organização	do	espaço	desenvolvida	pelo	homem	nem	sempre	
apontou	por	efeitos	nocivos,	mas,	em	sua	maioria,	exaltou-se	pela	representatividade	
da	conquista	e	domínio	do	meio.
Para	 Claval	 (2011),	 a	 organização	 espacial	 é	 resultado	 de	 percepção	 de	 que	
o	 homem	 tem,	 do	 espaço,	 uma	 força	 de	 atuação	 coletiva,	 desenvolvendo	 técnicas,	
modelos	e	sua	socialização	para	construir.
 
No	âmbito	da	organização	espacial,	é	inerente	focalizar	no	item	da	socialização	
do	espaço.	É,	por	meio	do	desempenho	de	diversos	seguimentos,	que	há	a	composição	
da	sociedade,	desde	a	dimensão	individual,	coletiva,	até	organizações	institucionalizadas	
que	são	empregadas	as	condições	de	direito	de	uso	da	terra,	de	práticas	estratégicas	de	
atividades	produtivas	ou	de	lazer.
A	 influência	 na	 construção	 do	 espaço	 está	 na	 interiorização,	 na	 atuação	 do	
homem	 desde	 o	 momento	 em	 que	 se	 criou	 ou	 idealizou	 representações	 acerca	 da	
realidade.	Esses	elementos	representam	os	seus	anseios,	desejos	e	valores.
A	 socialização	 do	 espaço	 não	 distribui	 os	 direitos	 de	 uso	 ou	 de	
propriedade	do	espaço	duma	maneira	igualitária.	Os	poderosos	e	ricos	
têm	muitas	mais	possibilidades.	Eles	utilizam	para	escolher	as	ótimas	
localizações,	os	lugares,	os	nada	agradáveis,	e	para	impor	as	formas	
de	utilização	da	terra	e	da	construção	de	edifícios.	A	qualidade	de	
suas	escolhas	confere	um	estatuto	mais	alto	e	legitima	a	sua	posição	
social	(CLAVAL,	2011,	p.	18).	
 
20
Ainda	na	perspectiva	mencionada,	Claval	 (2011)	propõe	 refletir	 sobre	a	direta	
participação	ou	 luta	das	classes	menos	favorecidas	na	construção	espacial,	além	da	
apropriação	social	do	espaço.	Independentemente	dos	atos	reais	que	agreguem	atenção	
para	os	grupos,	eles,	por	diversas	vezes,	são	colocados	nas	zonas	de	invisibilidade	da	
sociedade.	Para	facilitar	o	entendimento	sobre	essa	realidade:	vocês	consegue	lembrar	
de	algum	ato	ou	protesto	de	entidades	ou	parcelas	da	população	realizado	em	espaços	
públicos?	Pois	bem,	atos	são	caracterizados	pela	busca	da	visibilidade	com	a	apropriação	
social	dos	espaços.
 
O	 ponto	 oitavo	 busca	 apresentar	 uma	 compreensão	 de	 como	 surgiram	
os	 sistemas	 de	 crenças	 e	 de	 valores.	 A	 princípio,	 cada	 ser	 possui	 uma	 capacidade	
interpretativa,	mental	e	de	experiências	únicas	com	o	espaço.	Quando	somadas	essas	
realidades	complexas	que	os	indivíduos	produzem	e	materializam,	são	formalizadas	as	
ordens	normativas,	as	quais	representam	individualmente	e	coletivamente.
Esses	 alhures	 oferecem	 a	 visão	 de	 outros	 mundos.	 Servem	 de	
modelo	para	orientar	a	ação	dos	homens.	As	perspectivas	abertas	
são	a	fonte	dos	sistemas	de	crenças,	religiões	ou	ideologias,	dando	
uma	dimensão	normativa	à	vida	social,	dirigindo	a	ação	humana	e	
conduzindo	 a	 construção	 dum	 futuro	melhor,	 neste	mundo	 ou	 no	
outro	(CLAVAL,	2011,	p.	19).
 
Pode	 ser	 confirmado	 que	 os	 sistemas	 de	 crenças	 e	 de	valores	 somente	 são	
possíveis	 quando	 entendidos	 a	 partir	 de	 normas	 criadas,	 das	 relações	 entre	 grupos	
sociais	e	da	socialização	dos	espaços	(CLAVAL,	2011).	Com	essa	interação,	é	possível	
difundir	 que	 fundamentos	 concretos	 e	 abstratos	 se	 conectam	 em	 prol	 de	 uma	
organização	funcional.
 
O	aspecto	sobre	cultura	e	ideologia	comunitária,	no	ponto	nove,	retrata	a	noção	
da	 cultura	 a	 partir	 de	 uma	 sequência	 mencionada	 anteriormente	 no	 ponto	 dois.	 A	
cultura	se	caracteriza	por	ser	um	conjunto	de	processos	transmitida	pelos	e	entre	os	
homens,	os	quais	produzem	e	reproduzem	comportamentos	não	congênitos,	ou	seja	
não	se	encontram	no	DNA	dos	seres	humanos.
FIGURA 4 – AFIRMATIVAS SOBRE A CULTURA
A cultura não é
Fixa ou imóvel
Intangível ou imcompreensível
A cultura é
Múltipla, formada por vários elementos
Evolui contínuamente
FONTE: Adaptado de Claval (2011)
21
A	cultura	desenvolve	outra	face	quando	utilizada	em	grupos	comunitários.	Iden-
tidades	são	construídas	e	certas	dimensões	apresentam	aspectos	normativos,	aqueles	
que	regulamentam,	propõem	padrões	e	regras	por	 indivíduos	que	vivem	determinados	
espaços,	 territórios	 ou	 sociedades.	 As	 ideologias	 comunitárias	 entram	 na	 discussão	
para	 justificar	a	dimensão	 ideológica	que	se	forma	através	da	cultura.	Como	exemplo,	
há	uma	comunidade	cristã	da	fé	reformada.	Ela	se	une	em	prol	do	compartilhamento	de	 
uma	visão	cristocêntrica,	carregando	regras	de	fé,	condutas,	valores.
 
Apesar	do	exemplo	mencionado,	vale	lembrar	que	existem	grupos	que	constro-
em	uma	 identidade	para	 realizar	práticas	de	fundamentalismo	religioso,	utilizando	a	fé	
para	impor	violentamente	suas	crenças,	causando	conflitos	de	intolerância	religiosa	em	 
escala	local	e,	até	mesmo,	internacional.
 
O	Tópico	1	 introduz	etapas	evolutivas	do	entendimento	sobre	cultura,	culminando	 
no	Tópico	2,	com	o	interesse	da	dimensão	espacial	da	cultura	pela	geografia	cultural	em	
sua	perspectiva	moderna.	Ao	desenvolver	do	estudo,	 longas	trajetórias	serão	explicadas	
nas	seções	seguintes.	Realizamos,	até	o	presente	momento,	uma	breve	apresentação	
da	descendência,	originalidade	e	pertencimento	da	geografia	cultural,	 seu	elo	com	a	
ciência	geográfica,	e	aproximações	com	as	ciências	sociais	afins,	o	que	demonstra	sua	
interdisciplinaridade	e	importância	na	produção	de	estudos	de	ordem	espaciais.
22
Neste tópico, você aprendeu:
•	 Existe	 uma	 reflexão	 interdisciplinar	 na	 geografia	 cultural	 em	 torno	 da	 construção	
conceitual	da	definição	de	cultura.	Foi	 tangenciada	por	geógrafos,	 antropólogos	e	
sociólogos,	como	Edward	Burnett	Tylor,	FranzUri	Boas,	Alfred	Kroeber,	Cliford	Geertz	
e	Stuart	Hall.	Profissionais	que	produziram,	em	séculos,	e	com	influências	filosóficas	
distintas.
•	 A	concepção	filosófica	tyloriana	definiu	que	o	meio	ambiente	podia	determinar	e	gerar	
influências	à	cultura,	segundo	o	princípio	de	determinismo	geográfico	e	a	concepção	
unilinear.
•	 Boas	 foi	 um	 geógrafo	 e	 antropólogo	 que	 se	 diferenciou	 por	 utilizar	 o	 discurso	
multilinear	para	conceituação	da	cultura.	Amparando-se	no	particularismo	histórico,	
ele	afastou-se	de	uma	perspectiva	de	comparação	metodológica,	segundo	as	 leis	
evolucionistas,	 para	 buscar	 explicações	 culturais.	 Boas	 partiu	 do	 princípio	 de	 que	
todo	 povo	 ou	 região	 possui	 uma	história	 singular	 e,	 por	 esse	motivo,	 sua	 história	
deveria	ser	reconstruída.
•	 Kroeber	foi	 responsável	pela	teoria	cultural	 supraorgânica	que,	posteriormente,	 foi	
assimilada	e	adotada	por	Sauer.	A	definição	sobre	a	cultura	se	vinculava	e	reproduzia	
uma	estrutura	da	gênese	da	vida	humana	na	perspectiva	evolucionista,	iniciando	pelo	
nível	 inorgânico,	orgânico,	até	a	ordem	social	ou	cultural,	cuja	dimensão	se	posiciona	
acima	do	homem,	além	dos	demais	níveis.
 
•	 Na	 teoria	 interpretativista,	 a	 cultura	 passou	 a	 ser	 interpretada	 como	 sistemas	
simbólicos	(linguagem,	arte,	mito	ritual),	desenvolvida,	sobretudo,	pelo	estadunidense	
Clifford	Geertz,	um	dos	maiores	nomes	da	antropologia	do	Século	XX.
 
•	 Outro	 nome	 importante	 que	 rompeu	 com	 o	 antigo	 paradigma	 sobre	 uma	 cultura	
pronta	e	engessada	foi	o	sociólogo	Stuar	Hall.	Ele	propôs	aliar	as	temáticas	sociais	
com	as	simbólicas	para,	então,	compreender	a	cultura.	Em	seus	estudos,	trata,	por	
exemplo,	 das	 relações	 entre	 cultura	 e	 meios	 de	 comunicação,	 história	 e	 cultura,	
etnias,	gênero	e	outros	temas.
•	 A	 geografia	 cultural	 é	 definida	 como	 um	 subcampo	 da	 geografia,	 e	 os	 objetivos	
de	análise	da	disciplina	seguem	através	da	ordem	espacial	da	cultura,	ou	seja,	as	
dimensões	simbólicas	do	espaço,	os	sentidos	e	percepções	do	homem,	a	diversidade	
de	contextos	espaciais	etc.
RESUMO DO TÓPICO 1
23
•	 A	 geografia	 cultural	 foi	 substanciada	 pelas	 cíclicas	 revisões	 na	 conceituação	
da	 cultura,	 como	 a	 abdicação	 do	 entendimento	 supraorgânico	 da	 cultura.	 Há	 a	
possibilidade	de	assimilar	a	cultura	através	de	coisas	comuns	do	dia	a	dia	familiar,	no	
ambiente	de	convívio	social,	linguagens,	habilidades	referentes	a	classes	ou	minorias	
sociais.
•	 A	base	da	geograficidade	da	geografia	cultural	advém	de	Dardel,	historiador	e	geógrafo	
que	preocupou-se	em	compreender	o	seu	meio,	independentemente	de	ser	natural	
ou	artificial,	mas,	em	sua	forma	mais	ampla,	envolvendo	sentimento	nas	relações	dos	
espaços,	com	paisagens,	territorialidade,	identidade	etc.
24
AUTOATIVIDADE
1	 Com	 relação	 à	 abordagem	 de	 Tylor	 em	 1871	 sobre	 a	 cultura,	 marque	 com	 (V)	 as	
proposições	verdadeiras	e	com	(F)	as	falsas:
(			)	 Tylor,	 em	 1817,	 propôs	 uma	 concepção	 complexa	 sobre	 cultura:	 “a	 cultura	 era	
absorvida	mediante	o	relativismo	cultural;	tudo	era	inato	do	homem”.
(			)	 Para	Tylor,	a	cultura	não	faz	parte	do	código	genético	do	indivíduo.	Este	não	nasce	
com	 características	 culturais	 próprias,	mas	 a	 cultura	 passa	 a	 ser	 concebida	 por	
meio	da	aprendizagem	na	sociedade,	a	exemplo	da	linguagem,	símbolos,	práticas,	
técnicas,	leis	etc.
(			)	 Os	geógrafos	apoiaram	a	concepção	tyloriana	da	cultura	mediante	o	determinismo	
geográfico	representado	na	estrutura	conceitual.
(			)	 Tylor	 se	 abdicou	 do	 relativismo	 cultural,	 mas	 fez	 uso	 da	 abordagem	 unilinear,	
método	que	comparava,	em	níveis	equivalentes,	todos	os	seres	humanos	de	cada	
sociedade,	ou	seja,	as	mais	diversas	sociedades	se	tornaram	reféns	de	um	único	
modelo	 evolutivo.	 Assim,	 foi	 entendendo	 que	 todas	 as	 sociedades	 seguiam	 um	
único	processo	composto	por	três	fases	evolutivas:	de	selvageria,	barbarismo	e,	por	
fim,	a	conquista	de	um	modelo	civilizatório.
 
Agora,	assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	 F-	V	–	V	-	V.
b)	(			)	 V	–	V	–	V	-	V.
c)	 (			)	 F	–	F	–	V	-	V.
d)	(			)	 V	–	F	–	F	-	F.
2	 Sobre	a	percepção	de	Franz	Boas	nos	estudos	de	análises	culturais,	é	CORRETO	dizer	
que:
a)	 (			)	 Para	compreender	a	cultura,	é	necessária	a	reconstrução	histórica	de	cada	povo	
e	região,	identificando	o	particularismo/singularidade	dos	mais	diversos	grupos	
humanos	e	suas	realidades.		
b)	 (			)	 Boas	utilizava	as	abordagens	unilineares	para	valorizar	o	discurso	evolucionista	
do	Século	XIX.
c)	 (			)	 Boas	se	contrapôs	ao	método	evolucionista	unilinear	e	à	teoria	do	determinismo	
geográfico.
d)	 (			)	 As	opções	a	e	c	estão	corretas.
 
25
3	 Sobre	a	teoria	cultural	supraorgânica,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
 
a)	 (			)	 Ela	é	considerada	uma	entidade	superior,	controladora	de	mentes	e	atividades	
humanas.
b)	 (			)	 Democrática	e	dinâmica,	vistos	os	acontecimentos	referentes	ao	Século	XX.
c)	 (			)	 A	cultura	assimila	as	dimensões	simbólicas	aplicadas	aos	processos	sociais.	
d)	 (			)	 Mudança	 em	 sua	 conceituação,	 passando	 a	 ser	 compreendida	 a	 partir	 da	
sociedade	de	classes.
4	 Quem	foi	o	autor	da	antropologia	que	teve,	como	foco,	neutralizar	qualquer	significado	
fixo	para	teorizar	a	cultura?	Ainda,	não	se	limitou	às	respostas	prontas	e	acabadas	
como	 receitas	 herdadas,	 mas,	 em	 seu	 estudo,	 apresentava	 os	 mais	 diversos	
grupos	sociais	em	relações	dinâmicas	com	as	dimensões	simbólicas,	significando	e	
ressignificando	a	cultura.
a)	 (			)	 Stuart	Hall.
b)	 (			)	 Franz	Boas.
c)	 (			)	 Clifford	Geertz.
d)	 (			)	 Edward	Tylor.
5	 Sobre	 as	 influências	 teoóricas	 marxistas,	 o	 sociólogo	 Stuart	 Hall	 concordou	 com	
alguns	pontos,	EXCETO:
a)	 (			)	 A	falta	de	interesse	da	teoria	marxista	pelos	assuntos	referentes	à	cultura	e	suas	
perspectivas	simbólicas.
b)	 (			)	 Atributos	 do	 estudo	 referente	 à	 teoria	 do	 capital/classe	 social,	 de	 poder/
exploração.
c)	 (			)	 Movimentos	sociais	e	política.
d)	 (			)	 Desarmamento	nuclear	e	questões	raciais	britânicas.
6	 De	 acordo	 com	 o	 Quadro	 1,	 escolha	 um	 título	 e	 apresente	 uma	 breve	 descrição	
reflexiva.
26
27
UMA REFERÊNCIA AOS PERÍODOS 
DE DESENVOLVIMENTO DA 
GEOGRAFIA CULTURAL
UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 
1 INTRODUÇÃO
Caros	 alunos,	 chegamos	 ao	Tópico	 2.	Nesta	 fase	 de	 estudos,	
vamos	ancorar	 na	 leitura	 e	 refletir	 sobre	uma	breve	 apresentação	da	
longa	história	do	pensamento	geográfico	e	suas	contribuições	para	a	
formação	e	estabelecimento	da	geografia	cultural.
O	 Tópico	 2	 tem,	 como	 objetivo,	 responder	 algumas	 questões	 referentes	 ao	
nascimento,	 ao	 percurso	 e	 conceito.	 Como	 a	 cultura	 foi	 abordada	 pela	 geografia?	
Quem	a	influenciou?	Em	qual	período?	Quais	as	compreensões	adotadas	pela	geografia	
cultural?
 
Neste	tópico,	serão	desenvolvidas,	além	desta	introdução,	os	assuntos	centrais,	
os	quais	se	dividem	em:	Geografia	Cultural	-	Fase	I,	Geografia	Cultural	-	Fase	II,	Geografia	
Cultural	-	Fase	III	e	suas	sessões.
A	Fase	I,	na	sessão	“As	primeiras	aproximações	cultura	e	geografia:	a	contribuição	
das	 escolas	 alemã	 e	 francesa”,	 traz	 o	 período	 que	 data	 o	 início	 das	menções	 sobre	 a	
geografia	cultural	com	o	processo	de	introdução	do	campo.	Neste	momento,	pode-se	dizer	
que	 a	 geografia	 enquanto	 disciplina-mãe	 apresentou	flashes	 a	 partir	 dos	 quais	 indicou	
aberturas	para	aplicação	de	abordagens	em	direção	ao	futuro	da	geografia	cultural.
	A	partir	do	desenvolvimento	geográfico	das	escolas	alemã	e	francesa	de	Ratzel	
e	Vidal	 de	La	Blache,	 respectivamente,	uma	narrativa	objetiva	a	 compreensão	 sobre	
a	inclusão	da	cultura	na	ciência	geográfica.	A	análise	se	delineia	formalmente	a	partir	
da	 obra	Antropogeografia,	 da	 noção	 de	 gênero	 de	vida,	 da	 base	 darwiniana	 e	 outra	
lamarckiana,	da	 seleção	das	espécies	e	adaptação	das	espécies	ao	ambiente.	Esses	
vetores	contribuíram,	principalmente,para	tratar	de	uma	embrionária	geografia	cultural,	
segundo	o	alicerce	científico	naturalista.
A	sessão	Os estudos de Carl Sauer e sua importância	traz	um	histórico	sobre	
parte	da	biografia	do	precursor	da	geografia	cultural,	Carl	Sauer,	compreendendo	suas	
escolhas	 teóricas	 durante	 a	 vida	 de	 estudante,	 professor	 e	 pesquisador	 do	 campo	
cultural	da	ciência	geográfica	norte-americana.
28
Apresentamos	a	expressividade	e	importância	que	as	obras	de	Sauer,	a	partir	do	
Século	XX,	trouxeram	para	a	comunidade	acadêmica,	além	da	formação	de	discípulos	na	
área,	forçando	a	geografia	cultural	a	assimilar	e	a	assumir	sua	identidade,	favorecendo	
a	abertura	de	um	novo	ciclo.	A	primeira	renovação	ocorreu	nos	Estados	Unidos,	mais	
precisamente	 na	 escola	 de	 Berkeley,	 onde	 o	 processo	 de	 teorização	 historicista	 e	 a	
utilização	da	supraorgânica	substantivaram	a	geografia	cultural,	disseminando-a	para	
inúmeras	universidades	mundo.
A	morfologia	 da	 paisagem	 representou	 o	 carro-chefe	 de	 seus	 escritos,	 pois	
reverenciou	a	impressão	do	homem	(um	autômato)	na	superfície	terrestre	através	da	
cultura	(a	entidade	independente	de	leis	próprias),	ao	invés	da	posição	determinista	do	
meio	ambiente.	Fica	evidente	que	a	geografia	cultural	de	Saeur	contemplou	tendências	
do	historicismo.
 
Dando	continuidade	ao	processo	de	fixação	da	geografia	 cultural,	 chegamos	
a	um	momento	de	desaceleração,	a	Fase	II,	“Transformações	no	campo	geográfico	e	o	
hiato	nos	estudos	da	cultura”.	Sumarizamos,	em	uma	abordagem	amostral	que	ocorreu	
entre	os	anos	de	1950	a	1970,	tempo	em	que	existiram	muitas	tentativas	de	direcionar	
e	 redirecionar	 a	 geografia,	 incluindo,	 consequentemente,	 o	 domínio	 da	 geografia	
cultural.	Uma	das	linhas	epistemológicas	em	destaque	refere-se	à	teórico-quantitativa,	
alinhada	ao	neopositivismo	e	suas	referências	estatísticas.	Inicialmente,	a	associação	
da	geografia	ao	método	de	análise	matemático	tratou	de	silenciar	algumas	tendências,	
incluindo	a	sauariana,	tecendo	críticas	por	afirmar	que	ela	se	ocupava	com	comunidades	
tradicionais,	ao	invés	de	utilizar	a	visão	pragmática	em	suas	pesquisas.
 
Parte	do	período	 representou	dois	estágios:	a	perca	de	pujança	da	geografia	
cultural	e	a	transição	para	a	renovação	com	incursão	das	novas	perspectivas	críticas	
do	 materialismo	 histórico	 dialético,	 dando	 início	 à	 terceira	 fase:	 “Imaterialidade	 e	
Renovação”.
O	movimento	da	geografia	de	1970	e	pós-1980	reflete	a	inquietação	científica	
pela	 explosão	 de	 conhecimento	 proposto	 para	 a	 disciplina.	 Houve	 a	 reflexão	 da	
ausência	 da	versão	 crítica	 balizada	 pelo	materialismo	histórico	 e	 dialético,	 cujo	 foco	
estava,	principalmente,	nas	condições	econômicas	e	sociais	do	povo.	Logo,	a	corrente	
enxergou	a	necessidade	de	romper	com	o	neopositivismo		e	gerar	conteúdo	no	campo	
cultural	da	geografia,	reafirmando	as	dinâmicas	sociais	referentes	às	esferas	de	gênero	
e	 etnicidade,	 por	 exemplo.	 No	 entanto,	 sabe-se	 que	 a	 filosofia	 não	 compreendeu	 a	
corrente	 idealista,	 assumindo	 incompatibilidade	 nas	visões	 filosóficas,	 cujo	 resultado	
volta-se	à	negligência	das	dinâmicas	imateriais	do	campo	cultural.
O	movimento	de	renovação,	a	virada	cultural,	além	de	tantos	atributos,	vieram	
para	 corrigir	 algumas	 brechas	 que,	 ao	 longo	 da	 história	 do	 pensamento	 geográfico,	
foram	 abertas,	 e	 uma	 delas	 referiu-se	 ao	 silenciamento	 das	 concepções	 subjetivas.	
Houve	a	ressurreição	da	ordem	fenomenológica,	além	das	análises	voltadas	ao	mundo	
vivido,	a	valorização	da	cultura	e	experiências	humanas	junto	ao	meio.		
29
2 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE I - AS PRIMEIRAS 
APROXIMAÇÕES: CULTURA E GEOGRAFIA, O 
DESVENDAR A PARTIR DE UMA GEOGRAFIA ENRIJECIDA
A	 geografia	 cultural	 denota-se	 como	 um	 subcampo	 expressivo	 da	 ciência	
geográfica,	mas	a	abordagem	cultural	passou	por	ciclos	evolutivos	e	complementares.	
Tais	 dinâmicas	 aconteceram	 sincronicamente	 com	 uma	 engrenagem	 de	 dimensões	
maiores	da	disciplina,	relacionadas	à	busca	de	método	e	doutrina,	além	do	seu	objeto	
de	estudo.
 
Anteriormente	ao	processo	da	utilização	da	cultura	nas	análises	geográficas,	o	
método	racional,	naturalista	imperou	no	Século	XVIII,	além	do	crescimento	e	influência	
da	 física	 newtoniana.	 Observações,	 experiências	 e	 cálculos	 matemáticos	 nascem	 a	
partir	 de	 conhecimentos	 voltados	 para	 análises	 de	 estrutura	 e	minerais	 das	 rochas,	
plantas	e	animais.	Assim,	a	ciência	geográfica	cria	uma	espécie	de	fosso,	separando-o	
dos	aspectos	sociais	e	culturais	(CLAVAL,	2010).
 
O	 ponto	 de	 vista,	 aos	 poucos,	 foi	 sendo	 minado	 pelos	 acontecimentos	 dos	
demais	fenômenos	geográficos	da	contemporaneidade,	gerando	um	certo	desconforto	
na	comunidade	acadêmica	e	limitando	o	campo	de	pesquisa	que,	futuramente,	buscou	
uma	renovação.	Os	processos	evolutivos	foram	sendo	observados	timidamente.
 
Os	aspectos	 racionais	também	se	aplicaram	às	análises	humanas	e	sociais,	 já	
que,	no	fim	do	Século	XVIII,	questionamentos	surgiram,	porém,	a	perspectiva	utilizou	ba-
ses	utilitárias,	observando	o	homem	sob	vistas	dos	interesses	materiais	(CLAVAL,	2010).
Na	perspectiva	de	Sauer	(2011),	é	evidente,	ao	decorrer	da	evolução	da	ciência,	
que	a	geografia	se	responsabilizou	por	uma	subdivisão	dos	 interesses	geográficos	entre	
os	grupos	da	geografia	humana	e	cultural,	 limitando	o	particularismo	e	objetivações.	
Apesar	de	ambas	se	desenvolverem	no	mesmo	período,	cada	uma	surgiu	com	um	ponto	
de	partida.
Sendo	a	geografia	cultural	disseminada	entre	duas	vertentes,	certos	números	
de	geógrafos	compreendiam	ela	como	um	subcampo	da	geografia	humana,	“[...]	uma	
outra	formulação	da	geografia	humana”	e,	para	outros,	ela	surgiu	com	a	perspectiva	do	
estudo	da	cultura	material	dos	grupos	humanos	(CLAVAL,	2011,	p.	5).
Todavia,	 compreende-se	 que,	 na	 passagem	 do	 Século	 XIX	 para	 o	 Século	
XX,	 na	 Europa,	 surgiam	as	 bases	 da	 dimensão	 cultural,	marcadas	 por	 uma	 aguçada	
curiosidade	científica	e	pela	diversidade	das	sociedades	desde	suas	línguas,	técnicas,	
obras	 e	princípios	morais	 (CLAVAL,	 2011).	A	geografia	buscava,	 na	 cultura	material	 e	
na	análise	entre	gêneros	de	vida	e	paisagens	rústicas,	conteúdos	básicos	para	o	seu	
desenvolvimento	(CLAVAL,	2002).
 
30
Naquele	século,	grande	parte	dos	geógrafos	comungava	do	alicerce	científico	
naturalista,	 o	 qual	 deu	 apoio	 ao	 princípio	 de	 que	 o	 ambiente,	 mediante	 suas	 leis,	
explicava	a	sociedade	e,	por	conseguinte,	a	cultura.	A	partir	da	realidade,	empreendeu-
se	uma	inclinação	por	uma	geografia	de	conteúdos	regidos	pela	ação	da	natureza,	com	
objeção	 negativa	 ao	 que	 estivesse	 à	 parte	 da	 concepção	 científica.	 Suas	 premissas	
negavam	o	estudo	das	dimensões	psicológicas	ou	mentais	da	cultura,	mas	aprovavam	
o	desenvolvimento	disciplinar	sob	a	ótica	do	evolucionismo	(CLAVAL	2002).
 
Com	o	olhar	contemporâneo,	compreende-se	que	era	compartilhado	o	uso	da	
cultura	em	seu	aspecto	reducionista,	fomentado	pelos	ditames	de	alguns	representantes	
da	disseminação	doutrinária.	Quando	a	geografia	tornou-se	livre	do	“fundamentalismo”	
religioso,	 imposto	por	uma	sociedade	teocêntrica,	automaticamente,	foi	fisgada	por	uma	
doutrina	 de	 afirmações	 racionais	 formuladas	 por	 uma	 elite	 pensante,	 obscurecendo,	
por	décadas,	conteúdos	de	ordens	imaterial	e	subjetiva,	em	função	da	formulação	dos	
dados	objetivos	originários	da	ordem	física.
No	contexto	da	geografia	ratzeliana	alicerçada	por	Humboldt	e	Ritter,	foi	realizada	
a	primeira	incursão	de	cultura	na	geografia,	porém,	a	novidade	remete	ao	entendimento	
evolucionista	darwiniano	que	influenciou	diretamente	o	desenvolvimento	da	geografia	
humana/cultural.	 Foi,	 sob	 o	 elo	 homem	 e	 seu	 ambiente,	 evidenciado	 por	 Friedrich	
Ratzel,	em	1882,	que	se	discutiu	a	expressão	cultura.	Apesar	da	ênfase	ambientalista	e	
de	afirmações	áridas	na	produção,	o	alemão	também	se	propôs	a	discutir	uma	geografia	
humana	 que	 também	pôdeser	 considerada	 cultural	 a	modos	 da	 época.	 Os	 estudos	
eram	voltados	para	a	mobilidade	populacional,	condições	de	assentamento	humano	e	
difusão	da	cultura,	todavia,	geógrafos	ocidentais	disseminaram,	em	maior	proporção,	a	
faceta	ambientalista	de	suas	obras,	visto	que	a	atmosfera	preponderante	doutrinaria	a	
partir	do	positivismo	(SAUER,	2011).
Numa	espécie	de	cenário	 investigativo	em	busca	de	conhecimento,	a	geografia	
humana	de	Vidal	de	la	Blache	transpareceu	pontos	de	contatos	semelhantes	frente	à	
geografia	de	Ratzel,	em	relação	ao	uso	de	referências	básicas	de	pesquisas.	A	exemplo	
de	 Ritter	 e	 as	 adversidades	 do	 evolucionismo,	 La	 Blache	 optou	 pela	 perspectiva	
lamarckiana	 de	 adaptação	 das	 espécies	 ao	 invés	 do	 proposto	 por	 Darwin	 quanto	 à	
seleção	das	espécies	(CLAVAL,	2010).
 
A	perspectiva	de	adaptação	das	espécies	explicava	o	lugar,	ou	seja,	a	combinação	
da	adaptação	dos	grupos	humanos	ocasionava	a	apreciação	do	gênero	de	vida,	o	qual	
podia	ser	visto	através	da	paisagem.
 
Imersa	no	movimento,	a	geografia	francesa	vidaliana	aderiu	ativamente	aos	re-
sultados	pautados	na	ecologia,	 assunto	 relativamente	distante	da	geografia	cultural.	
Contudo,	através	do	conceito	de	gênero	de	vida	que	foram	descobertos	novos	rumos	
da	geografia	clássica	(CLAVAL,	2011).	A	partir	de	então,	iniciou-se	uma	sutil	abordagem	
cultural,	 cujo	 foco	 limitava-se	às	 técnicas	e	hábitos	dos	grupos	humanos.	Nas	 inte-
31
rações	analisadas	entre	o	homem	e	o	meio	ambiente,	eram	percebidas	atividades	de	
subsistência,	como	preparo	do	solo,	cultivo,	colheita	de	alimentos,	caça,	pesca,	criação	
de	animais	e	a	produção	de	utensílios,	como	ferramentas.
Na	 visão	 vidaliana,	 mesmo	 não	 sendo	 expressamente	 declarados,	 existiram	
momentos	 em	 que	 o	 discurso	 direcionou	 para	 fatores	 culturais,	 como	 os	 aspectos	
da	religião,	contudo,	a	análise	mais	sensível	centrou-se	estritamente	nas	edificações	
estruturais	de	igrejas,	expondo	templos	e	mesquitas	(CLAVAL,	2011).
3 OS ESTUDOS DE CARL SAUER E SUA IMPORTÂNCIA 
O	 conhecimento	 e	 a	 compreensão	 da	 fase	 Sauariana	 na	 geografia	 cultural	
ocasionam	 a	 recuperação	 das	 bases	 que	 firmaram	 a	 disciplina.	 Adentrar	 no	 perfil	
histórico	 é	 necessário,	 pois	 descortinaremos	 a	 evolução	 da	 geografia	 cultural.	
Iniciaremos	propondo	responder,	principalmente,	duas	perguntas,	a	primeira:	Quem	foi	
Carl	Ortwin	Sauer?	Toda	história	pessoal	de	Carl	Sauer	sugere	um	caminho	explicativo	
sobre	suas	escolhas	enquanto	geógrafo.	A	segunda	pergunta:	Qual	foi	a	importância	de	
seus	estudos	para	a	geografia	cultural?	Essa	explicará	as	conexões	realizadas	por	ele	
em	virtude	da	construção	do	ramo	da	ciência	geográfica.
Em	1889,	nos	Estados	Unidos	da	América,	em	Wisconsin,	Carl	Ortwin	Sauer	nas-
ceu.	Embora	sua	nacionalidade	seja	estadunidense,	suas	origens	familiares	permane-
ciam	firmadas	na	Europa	central,	mais	precisamente	em	Wurtemburg,	na	Alemanha.	O	
então	pequeno	Sauer,	desde	a	 infância,	apresentava	um	perfil	 intrépido,	de	natureza	
curiosa,	pelo	estímulo	dos	seus	ambientes	familiar	e	educacional,	ressaltando	que	parte	
do	seu	período	escolar	foi	em	um	internato	alemão	(GADE,	2011;	MOREIRA,	2008).
Em	 busca	 de	 conhecimento,	 Sauer	 matriculou-se	 na	 universidade	 de	 Nor-
thwestern,	no	curso	de	Geologia,	porém,	num	intervalo	de	um	ano,	ingressou	na	univer-
sidade	de	Chicago,	transferindo-se	para	o	curso	de	Geografia,	criado	em	1903,	por	seu	
professor	orientador,	o	geólogo	Rollin	Salisbury,	pessoa	quem	inspirou	Sauer	para	além	
da	graduação,	pela	metodologia	utilizada,	pautada	na	base	filosófica	socrática.
 
Sua	pesquisa	de	doutorado	apresentou	a	face	dos	grupos	étnicos	irlandeses,	
escoceses	e	os	alemães	que	migraram	para	Missouri.	A	tese	destacava	que	eram	os	
dois	 grupos	 mais	 importantes	 que	 ocuparam	 parte	 das	 montanhas	 de	 Ozark.	 Na	
pesquisa,	Sauer	localizou	esses	povos	e	descreveu	seu	modo	de	vida.	Ele	concluiu	que	a	
comunidade	dos	irlandeses	(escoceses)	apresentava	um	estilo	de	vida	simples,	fincava	
raízes	nas	encostas	do	planalto	e	concordava	em	ter	uma	vida	simples,	com	recursos	
restritos.	O	comportamento	era	distinto	do	praticado	pelos	alemães,	por	exemplo,	que	
se	instalaram	nas	várzeas	dos	vales,	locais	de	grandes	terrenos	com	capacidade	para	
criação	de	animais	e	práticas	de	cultivo	da	terra.
32
	 “[...]	Os	alemães	desenvolveram	uma	vida	mais	civilizada,	manifestada	pelas	
casas	 bem	 construídas,	 uma	 dieta	 ampla	 e	 variada,	 e	 escolas	 para	 que	 os	 filhos	
pudessem	ler	e	escrever”	(GADE,	2011,	p.	24).
Alcançado	o	nível	 de	doutor	 em	 1915,	Sauer	 conquistou	novos	espaços	para	
realizar	pesquisas	e	disseminar	práticas	metodológicas	variadas	na	geografia	cultural.	
Sauer	apresentava	características	próprias	de	fazer	ciência,	como	itens	relacionados	à	
curiosidade,	intelectualidade,	ao	historicismo	aprofundado,	às	formas,	às	relações	com	
as	funções	intuitivamente	evidenciadas	e	uma	filosofia	a	despeito	de	si	próprio,	a	cultura	
como	entidade	supraorgânica.	Foram	alguns	dos	modelos	das	perspectivas	analisadas	
pelos	geógrafos	sauarianos	Daniel	Gade,	Speth,	May,	Entrikin,	Penn	e	Lukermann	(COR-
RÊA;	ROSENDAHL,	2011).
Considerada	 uma	 teoria	 utilizada	 de	 maneira	 implícita	 nas	 construções	 de	
conhecimentos,	 o	 historicismo,	 para	 Speth	 (2011),	 teve	 os	 primeiros	 contatos	 com	o	
geógrafo	a	partir	das	obras	dos	representantes	da	matriz	teórica,	os	filósofos	alemães	
Johann	G.	Herder	e	Goethe.	A	apresentação	se	deu	por	intermédio	da	proximidade	de	
Sauer	com	a	origem	germânica,	em	suas	visitas	a	uma	entidade	que	produzia	 rodas	 
de	 debates,	 discussões	 e	 estudos	 aprofundados	 sobre	 ideologias	 historicistas	 firmadas	
pelos	filósofos.
Goethe foi um escritor clássico do Século XVIII, conhecido por sua 
dedicação em disseminar o movimento cultural do romantismo. Herder, 
por construir um papel importante nas ciências humanas. Quando 
fundamentou o conceito de cultura, contribuiu para interpretação 
de textos filosóficos do romantismo. Contrário às teorias filosóficas 
francesas proeminentes, teceu a teoria do desenvolvimento histórico 
mediante a base de cultura nacional, que se justificava pelo período de 
unificação territorial que a Alemanha passava (PEDROSA, 2015).
NOTA
33
FIGURA 5 – BASE FILOSÓFICA DO HISTORICISMO
HISTORICISMO
O idealismo concede, ao mundo, a vontade e o desejo. 
É a esfera da liberdade, das ideias, do espírito.
Identificado como um movimento para resguardar valores 
espirituais desgastados pelo cientificismo mecaniscista;
Fundamentado em um espírito transcendental;
Possui uma visão subjetiva da realidade, descobrindo, na 
humanidade, uma vontade independente da natureza;
Oriundo do Idealismo
FONTE: Adaptado de Speth (2011)
Um	novo	momento	surge	com	a	geografia	cultural	norte-americana	em	1923,	
quando	a	Universidade	da	Califórnia,	campus	de	Berkeley,	recebeu	Carl	Ortwin	Sauer,	um	
professor	transferido	da	Universidade	de	Michigan,	em	Ann	Arbor,	que	tinha	o	objetivo	
de	dedicar-se	e	desenvolver	sua	carreira	enquanto	geógrafo	até	o	fim	da	vida,	em	1957.	
Ele	se	dispôs	a	apresentar	um	formato	particular	para	pesquisar	a	ciência	geográfica	e,	
vista	sua	projeção,	por	ser	um	exemplo	de	profissional	erudito	que	se	negou	a	replicar	
e	a	 reproduzir	as	abordagens	recorrentes,	foi	eleito	honrosamente	o	geógrafo	norte-
americano	de	maior	importância	do	Século	XX	(GADE,	2011;	MOREIRA,	2008).
Segundo	Corrêa	e	Rosendahl	(2011),	a	escola	de	Berkeley	teve	papel	fundamental	
para	 a	 geografia	 cultural,	 pois	 representou	 o	 primeiro	 start	 no	 desenvolvimento	 e	
disseminação	de	conteúdo	intelectual.
Berkeley é uma cidade da periferia da Califórnia, onde a geografia 
cultural começou a florescer. A importância da escola introduziu, 
ao campo universitário, uma importância como polo difusor dos 
estudos culturais na geografia, a famosa Escola Saueriana ou 
Escola de Berkeley.
NOTA
34
De	acordo	com	Duncan	(2011),	a	atuação	de	Sauerem	Berkeley,	entre	as	décadas	
de	1920	e	1930,	proporcionou	sua	aproximação	com	os	maiores	nomes	da	antropologia	
cultural	americana	da	época,	Alfred	Kroeber	e	Lowie,	além	da	aplicação	da	perspectiva	
cultural	do	superorgânico	que,	a	princípio,	dominou	não	apenas	a	antropologia,	mas	a	
geografia	cultural.
 
Tornando-se	 o	 principal	 fomentador	 do	 campo	 de	 pesquisa,	 o	 professor	 e	
fundador	 da	 escola	 Berkeley	 introduziu	 as	 intervenções	 iniciais	 para	 os	 estudos	 da	
geografia	cultural,	privilegiando	a	paisagem	cultural,	além	das	outras	temáticas.
 
Dos	 anos	 de	 1926	 em	 diante,	 o	 professor	 embarcou	 em	 uma	 aventura	 de	
descobertas	e	pesquisas	pelo	mundo.	A	primeira	parada	foi	no	norte	do	México,	 local	
onde	percebeu,	através	da	paisagem,	vestígios	de	uma	sociedade	pré-industrial	ainda	
com	evidências,	marcas	que	o	 levaram	a	descobrir	 o	passado	por	meio	do	presente	
tempo	(GADE,	2011).
Para	que	vocês	tenham	acesso	à	realidade	de	vida	daquela	sociedade,	Cunha	e	
Ávila	(2019,	p.	11)	discorrem	acerca	dos	acontecimentos	na	corrente	da	década	de	1920:	 
É	importante	ressaltar	que	a	indústria	de	mineração	petrolífera	ainda	
estava	em	seus	estágios	iniciais	de	desenvolvimento	de	suas	técnicas	
de	 operação,	 e	 que	nem	sempre	 a	 concessão	de	uma	 licença	para	
perfurar	um	posso	se	traduzia	em	sucesso	comercial.	Na	década	de	
1920,	a	República	Mexicana	haveria	de	se	tornar	a	maior	exportadora	
mundial	de	petróleo	e	a	segunda	maior	produtora.	Em	1921,	de	cada	
cinco	barris	de	petróleo	produzidos	no	mundo,	um	era	mexicano.	
Entusiasmado,	 Sauer	 não	 parou	 e,	 assim,	 viajou	 por	 todo	 o	 país	 do	 México,	
América	 Central	 e	 Antilhas,	 com	 o	 objetivo	 de	 investigar	 os	 aspectos	 da	 geografia	
histórico-regional	(GADE,	2011).	Segundo	Speth	(2011),	Sauer	tinha	uma	visão	disciplinar	
baseada	 no	 historicismo	 com	 incursões	 atuais.	 Por	 meio	 da	 geografia	 americana	
desenvolvida	por	ele,	alguns	dogmas	deterministas	foram	excluídos,	proporcionando,	
ao	pensamento	geográfico,	o	foco	no	homem	enquanto	ser,	e	agente	modificador	da	
natureza	e	da	cultura.
 
A	visão	historiográfica	de	Sauer	também	carregou	a	 influência	do	departamento	
de	história	de	Berkeley,	através	do	professor	historiógrafo	Herbert	Bolton	e	seus	estudos	
e	transcritos	documentais	sobre	a	história	do	México	e	do	Sudoeste	Norte-Americano.
 
A	trajetória	do	geógrafo	Sauer	é	vasta,	 resultou	em	 relevantes	obras,	muitas	
das	quais	os	brasileiros	desconhecem,	pois	ainda	não	foram	traduzidas	para	a	 língua	
portuguesa.	Os	assuntos	permearam	o	mapeamento	do	uso	da	terra,	a	domesticação	
das	 plantas	 e	 animais,	 geografia	 histórica	 do	 México,	 Antilhas	 e	 Estados	 Unidos	 da	
América,	e	o	 importante	texto	sobre	a	origem	e	a	dispersão	da	agricultura	no	mundo	
inteiro	(CORRÊA;	ROSENDAHL,	2011).
 
35
A	partir	de	 1940,	ele	 reuniu	 informações	com	base	em	observações	
pessoais,	fontes	históricas	e	restos	arqueológicos	para	sintetizar	uma	
longa	discussão	sobre	as	plantas	do	novo	mundo	(1950,	1952).	Por	mais	
desatualizada	 que	 seja	 agora,	 aquela	 obra	 representava	 a	 primeira	
apresentação	 da	 história	 cultural	 das	 plantas	 cultivadas	 originárias	 
da	América	Latina	em	sua	diversidade	(GADE,	2011,	p.	25-26).
A	abordagem	colocou	em	destaque	a	 impressão	humana	na	Terra,	 rompendo	o	
enfoque	preponderante	do	determinismo	do	meio	ambiente	 (GADE,	2011).	No	caso,	não	
ficou	apenas	na	afirmação	recorrente	de	que	o	ambiente	era	o	meio	 influenciador	do	
homem.	A	cultura	do	homem,	de	certa	forma,	exercia	seu	poder	de	transformação	sobre	
o	meio	e	comprimiu,	em	seus	estudos,	tendências	estéticas	e	filosóficas,	empíricas	e	
éticas	do	historicismo	(SPETH,	2011).	
Assim	como	toda	teoria	possui	características	próprias,	o	historicismo	não	fugiu	
à	regra:
•	 Descrição,	comparação,	indução,	generalização	sintética.
•	 Subjetividade,	relativismo	metodológico.
•	 Liberdade,	contingência.
•	 Ênfase	no	passado.
•	 Importância	da	mudança,	sucessão	de	fatos.
•	 Crença	na	diversidade	e	na	importância	do	único	fim	em	si	mesmo.
•	 Tradicionalismo,	moralismo.
•	 Contemplação,	apreciação	estética.
•	 Compreensão.	
A	 morfologia	 da	 paisagem	 apresentada	 por	 Sauer	 não	 estava	 puramente	
vinculada	ao	aspecto	orgânico,	mas	sob	a	influência	da	cultura.	“A	cultura	é	o	agente;	a	
área	natural,	o	meio;	e	a	paisagem	cultural,	o	resultado”	(SAUER,	2012,	p.	69).
 
Contribuindo	para	o	raciocínio	de	Sauer	sobre	cultura,	os	seus	discípulos	Philip	
Wagner	e	Marvin	Mikesell	(2011,	p.	27)	apresentaram	que:
 
Os	aspectos	da	Terra,	em	particular	aqueles	produzidos	ou	modificados	
pela	 ação	 humana,	 são	 de	 grande	 significado.	 O	 estudo	 desses	
aspectos	geográficos	 resultantes	da	ação	do	homem	considera	as	
diferenças	entre	as	comunidades	humanas	que	criam	ou	criaram	e	
se	refere	aos	modos	especiais	de	vida.	
Em	outras	palavras,	a	cultura	torna-se	um	código	a	ser	decodificado.	Seguindo	
o	preceito	de	cultura,	áreas	foram	rotuladas	mediante	os	atributos	identificados	pelas	
comunidades	humanas.
 
Baseado	nas	discussões,	o	período	precedeu	o	processo	de	revisão	e	renovação	
dos	 conceitos	 de	 cultura	 utilizados	 pelos	 geógrafos.	 Analisando	 temporalmente	 a	
trajetória	da	geografia	cultural,	que	ultrapassa	os	100	anos	de	história	do	pensamento	
36
geográfico,	 Corrêa	 e	 Rosendahl	 (2012)	 desmembraram	 a	 geografia	 cultural	 em	 duas	
vertentes	 essenciais:	 primeiramente,	 a	 geografia	 cultural	 sauariana,	 estruturada	 no	
historicismo,	 que	 enfatizava	 a	 diversidade	 cultural,	 buscando	 a	 compreensão	 do	
presente	tempo	sob	o	aspecto	de	valorização	do	passado.
 
Wagner	e	Mikesell	sintetizam	que,	ao	analisar	os	aspectos	da	superfície	da	terra,	
torna-se	possível	compreender	a	geografia	cultural,	pois	a	 ligação	entre	os	aspectos	
ambientais	e	da	ação	humana	apresenta	os	aspectos	geográficos	criados	ou	mantidos	
pelos	povos.
 
A	cultura	foi	dimensionada	dentro	de	uma	base	geográfica	quando	compartilhada	
e	difundida	entre	pessoas	que	ocupam	uma	área	e	cultura	comum	ou	por	territórios	
diversos,	por	meio	dos	agentes,	objetos	e	ideias	que	percorrem.
A	 atribuição	 de	 significados	 inerentes	 à	 cultura	 orienta	 a	 ação	
(quer	vista	 como	 símbolos	 ou	 utilitária)	 e	 resulta,	 desse	modo,	 em	
expressão	 concreta,	 como	 sistemas	de	 crenças,	 instituições	 sociais	
e	bens	materiais.	Portanto,	o	caráter	dos	elementos	da	cultura	deve	
ser	amplamente	 inferido	da	base	de	características	significativas	da	
comunicação	e	simbolização	–	de	fórmulas	verbais	a	trajes	e	gestos	
(WAGNER;	MIKESELL,	2011,	p.	29).
A	 área	 cultural	 apresentada	 desperta	 uma	 característica	 de	 uniformidade	
relativa	comparada	a	outras	áreas,	ou	seja,	apesar	de	muitas	áreas	se	apresentarem	
numa	mesma	continuidade	geográfica	e	a	língua	ser	semelhante,	não	significava	que	as	
uniformidades	eram	absolutas,	mas	relativas.
Segundo	Sauer	(2011),	para	o	geógrafo	da	área	cultural,	é	importante	considerar,	
de	 maneira	 única,	 as	 representações,	 símbolos,	 personificações,	 todos	 conjuntos	
culturais	que	possam	remeter	ou	retratar	qualquer	expressão	quanto	ao	aproveitamento	
do	homem	na	Terra.
 
Uma	 das	 funções	 do	 geógrafo	 consiste,	 primeiramente,	 em	 representar,	 geo-
graficamente,	com	mapas,	a	forma	como	estão	organizados	os	vestígios	deixados	pelas	
culturas.	Em	seguida,	vários	elementos	são	unidos	para,	assim,	formar	associações	ge-
néticas.	O	processo	inicia	com	uma	minuciosa	descrição	que	data	sua	origem,	e	logo	se	 
dissocia	em	sínteses,	formando	sistemas	comparativos	de	áreas	culturais	(SAUER,	2011).
 
Conforme	asseguram	os	geógrafos	Wagner	e	Mikesell	(2011,	p.	32):
A	similaridade	cultural	 relativa	aparece	em	diferentes	graus,	desde	
a	 identidade	virtual	de	atitudes	e	aptidões	num	pequeno	território,	
até	 semelhanças	 gerais	 ou	 ampla	 disseminação	 de	 características	
individuais	ou	elementos	de	cultura	em	grandes	áreas.
 
37
Como	continuidade	da	linha	de	pesquisa,	e	sobrea	ótica	da	classificação,	des-
crição	e	distinção,	outro	item	aparece	como	parte	da	compreensão	cultural	da	geografia,	
as	paisagens	culturais,	que	poderiam	ser	identificadas	tanto	pelos	aspectos	ambientais	
como	pelas	transformações	realizadas	pelos	indivíduos.	“[...]	Para	o	geógrafo,	a	área	cul-
tural	também	é	sempre	uma	‘paisagem	cultural’”	(WAGNER;	MIKESELL,	2011,	p.	35).
As	paisagens	culturais	aqui	estudadas,	têm,	como	propósito,	mostrar	as	diferen-
ças	através	do	modo	de	comportamento	do	indivíduo	sob	o	mérito	das	culturas.	A	inves-
tigação	também	perpassa	as	circunstâncias	de	alterações	naturais	por	vias	humanas.
Já	a	história	da	cultura	prevê,	com	o	nome	enfatiza,	buscar,	no	passado,	o	des-
cobrimento	 da	 gênese.	 É	 preciso	 elencar	 as	 características	 históricas	 possíveis	 das	
áreas	 culturais	 e,	 consequentemente,	 das	 paisagens,	 assim,	 as	 descobertas	 surgem	
por	meio	de	questionamentos	referentes	ao	passado.	Em	algum	momento,	você	já	se	
perguntou	sobre	a	história	da	sua	região	ou	cidade?	O	que,	por	ventura,	pôde	ter	acon-
tecido?	Quais	eventos,	por	meio	dos	caminhos	e	descaminhos	evidenciados	pelos	indi-
víduos	e	suas	culturas?	Eram	tais	questionamentos	que	moveram	a	história	da	cultura.
 
Por	meio	de	documentos,	topônimos	ou	outras	evidências	linguísticas,	
os	 investigadores	podem	descobrir	 sequências	na	ocupação	de	uma	
área	por	diferentes	grupos	e	podem	conectar	esses	grupos	a	pessoas	
em	 outras	 áreas,	 apresentando	 características	 similares	 (WAGNER;	
MIKESELL,	2011,	p.	35).
Topônimos são referentes à toponímia. A nomenclatura refere-
se a uma relevante marca cultural que pode ser expressa pela 
apropriação espacial, por aqueles distintos grupos culturais. A 
nomeação de elementos encontrados na cidade ou no campo, 
desde ruas a marcos fronteiriços naturais, como rios.
NOTA
Uma	 outra	 questão	 analisada	 na	 geografia	 de	 Sauer	 era	 a	 ecologia	 cultural.	
Envolve	 apreciar	 alguns	 processos	 de	 correlação	vinculados	 à	manipulação	humana	
sobre	 o	 meio	 ambiente,	 identificando	 suas	 interferências	 no	 quesito	 bem-estar	 de	
maneiras	macro	e	micro,	tanto	das	comunidades,	como	da	humanidade	em	geral.
 
De	acordo	com	Wagner	e	Mikesell	(2011),	as	propostas	apresentadas	enveredaram	
a	disciplina	por	cinco	 ramificações	de	estudo:	cultura,	área	cultural,	paisagem	cultural,	
história	da	cultura	e	ecologia	cultural.
38
FIGURA 6 – BASE DE ESTUDO DA GEOGRAFIA DA ESCOLA DE BERKELEY
Cultura: 
Classifica seres humanos e áreas ocupadas pelos grupos.
Área Cultural: 
Região/território habitado em qualquer período determinado, por 
comunidades humanas e caracterizado por culturas específicas.
Paisagem Cultural:
Tem uma função de descrição sistemática, e apresenta uma base para 
classificação regional, possibilitando uma reflexão sobre a responsabilidade 
do indivíduo frente às alterações geográficas, desvendando alguns aspectos 
culturais de cultura de comunidades culturais.
História da Cultura:
Na reconstrução da sucessão local e regional de culturas e da história das 
origens e dispersões culturais, adotam-se muitos dos mesmos indicadores 
considerados na definição de áreas culturais contemporanêas. 
Ecologia Cultural: 
Compara dados observáveis, examina diferentes condições da paisagem. 
Com o intuito investigativo, visa descobrir quais elementos da paisagem 
podem ser vinculados a práticas recorrentes.
G
EO
G
R
A
FI
A
 C
U
LT
U
R
A
L
Apesar	 de	 componentes	 comuns,	 como	 as	 relações	 entre	 homem	 e	 meio	
ambiente	e	articulações	regionais	e	paisagens,	o	período	de	formulação	da	geografia	
clássica	 também	 foi	 marcado	 por	 distintas	 intervenções	 geográficas	 estabelecidas	
mediantes	 escolas	 formadas	 em	 países	 como	 França,	 com	 Vidal	 de	 la	 Blache,	
Alemanha,	com	Ratzel,	e	Estados	Unidos,	com	Carl	Sauer,	porém,	o	último,	apresentou	
outra	 capacidade	 de	 análise	 para	 as	 paisagens	 culturais,	 baseada	 nas	 formas	 físicas	 e	
materiais.	Contudo,	 além	da	perspectiva,	 foram	trabalhadas	as	combinações	ecológicas	
de	seres	vivos,	a	materialização	de	práticas	humanas,	compreendendo	tanto	as	aptidões	 
desenvolvidas	como	o	conhecimento	(CLAVAL,	2010).
FONTE: Adaptado de Wagner e Mikesell (2011)
39
4 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE II – TRANSFORMAÇÕES 
NO CAMPO GEOGRÁFICO E O HIATO NOS ESTUDOS DA 
CULTURA
Para uma melhor profundidade desses estudos sauerianos da 
Escola de Berkeley, os geógrafos Roberto Lobato Corrêa e Zeny 
Rosendahl, no ano de 2011, pela editora EdUERJ, lançaram o 
vigésimo volume da coleção Geografia Cultural, com o título 
Sobre Carl Sauer. O livro é de total interesse para os geógrafos 
que possuem interesse em conhecer um pouco mais do 
desenvolvimento do processo dos estudos culturais na geografia, 
principalmente através da obra apresentada. Carl Sauer, com um 
estudo multidisciplinar, aprofundava-se em outras leituras das 
ciências humanas, como na antropologia, sociologia e história, 
evidenciando e descortinando suas diferentes análises sobre o 
campo cultural.
DICA
No	campo	da	geografia	e,	por	conseguinte,	no	ramo	cultural	da	geografia,	alguns	
períodos	foram	marcados	por	apresentar	suas	singularidades.	Destacamos	que,	apesar	
de	dimensioná-los,	não	trataremos	como	períodos	severamente	medidos,	limitados	em	
inícios	 e	 términos	 absolutos,	 porque	 se	 interpõem,	 se	 cruzam.	 Em	muitos	 casos,	 os	
períodos	se	iniciam	anteriormente,	como	fase	inicial	de	pesquisa,	mas	eclodem	ou	se	
tornam	mais	conhecidas	posteriormente.	No	caso	da	fase	dois	da	geografia	cultural,	
assim	como	as	demais,	refletem,	basicamente,	as	conceituações	sobre	cultura,	método	
de	 pesquisa,	 linha	 epistemológica	 e	 a	 busca	 por	 um	 objeto	 de	 estudo	 autêntico	 da	
ciência	geográfica.
 
Segundo	 Moreira	 (2008),	 no	 período	 da	 geografia	 clássica,	 eram	 comuns	
os	 embates	 sobre	 os	 posicionamentos	 conceituais	 entre	 as	 principais	 escolas,	
alemã	e	francesa,	pois	refletiam	a	busca	por	um	eixo	central	da	disciplina.	Dentro	da	
efervescência,	o	destaque	dava-se	para	o	paradoxo	entre	a	crítica	e	o	prestígio,	pois,	
ao	mesmo	tempo	em	que	a	geografia	se	difundia	e	ganhava	prestígio,	por	outro	lado,	as	
críticas	repercutiam	e	ganhavam	espaço	entre	geógrafos	do	mundo	inteiro.
Na	fase	anterior,	até	meados	de	1940,	a	geografia	cultural	iniciou	um	processo	
de	desenvolvimento	com	a	geografia	humana,	havendo	uma	significativa	ascensão	nos	
estudos,	porém,	entrou	na	década	de	1950	com	sua	força	reduzida.	O	lapso	ecoou	nos	
anos	seguintes	de	1960	e	1970,	pela	perca	de	interesse	nas	pesquisas	das	dimensões	
materiais	da	cultura,	além	das	transformações	ocorridas	na	sociedade	e	suas	relações	
entre	o	homem	e	meio.	Outro	aspecto	influenciador	foram	as	análises	provenientes	de	
40
técnicas	quantitativas	e,	por	conseguinte,	a	crítica,	representada	pela	forma	de	se	fazer	
geografia,	 tendo	 em	vista	 que	 a	 linha	 teórica	 e	 práticas	 esbarravam	numa	 realidade	
parcial,	não	apresentando	resultados	semelhantes	à	realidade.
 
Aproximadamente,	 na	 década	de	 1950,	 o	 pensamento	 geográfico	 dominante	
entre	 o	meio	 acadêmico	 era	 denominado	 por:	 geografia	 quantitativa,	 pragmática	 ou	
nova	 geografia.	 Originou	 algumas	 novas	 percepções	 de	 teorias	 regidas	 sobre	 uma	
base	estatística.	Com	características	marcantes,	ela	se	destacou	por	enfatizar,	como	
premissas	básicas,	as	seguintes	percepções:
•	 Priorizar	as	investigações	e	seus	resultados	de	modo	objetivo,	rápido	e	exato	com	o	
uso	da	matemática	e	lógica	como	meio	de	linguagem.
•	 O	empírico,	o	ato	de	pesquisar	usando	a	experiência	tornou-se	prioridade	no	âmbito	
do	conhecimento.
•	 A	 apropriação	 de	 técnicas	 matemáticas	 e	 estatísticas	 era	 fundamental	 para	
investigação;
•	 Recomendava-se	que,	na	esfera	científica,	houvesse	uma	unanimidade	na	linguagem	
entre	todas	as	ciências.
•	 Em	virtude	do	uso	de	técnicas	com	conjuntos	de	normas	e	procedimentos,	era	exigida	
exatidão	quanto	à	aplicação	de	métodos	científicos.
•	 A	utilizaçãode	um	parâmetro	único	entre	ciências	sociais	e	naturais.
A	corrente	pragmática,	 além	de	outros	 interesses,	 teve,	 para	 a	geografia	e	o	
Estado,	a	finalidade	de	sinalizar	um	forte	pactuado	de	poder,	pois	os	dados	geográficos	
poderiam	ser	utilizados	e	manipulados	estatisticamente	como	instrumentos	de	 infor-
mação	nacional.
De	 forma	 explicativa,	 a	 geografia	 clássica	 apresentou	 limites	 e	 imperfeições	
na	sua	construção,	esta	que	repercutiu	na	apropriação	e	efetivo	uso	da	metodologia	
centralizadora	de	resultados,	gerando	um	sentimento	de	desencanto	e	aflorando	após	
o	período	da	segunda	guerra	entre	os	geógrafos.	Além	do	senso,	ocorrências,	 como	
as	gradativas	 independências	política,	econômica	e	cultural,	 instalavam-se	em	parte	
das	 colônias.	 Ainda,	 outra	 questão	 diagnosticada	 foram	 os	 evidentes	 abismos	 de	
desigualdade	que	se	formaram	entre	os	países	industrializados	e	aqueles	que	não	eram.
Essa	 sensação	 de	 pouca	 consistência	 teórica	 e	 influxos	 internos	 produziu	
obstinação	em	buscar	um	instrumento	metodológico	para	explicar	os	novos	processos	
e	 interrogações	 ocorrentes.	 A	 situação,	 a	 princípio,	 estremeceu	 o	 caminhar	 da	
subdisciplina,	tanto	na	Europa	quanto	nos	Estados	Unidos,	e	as	 repreensões	críticas	
metodológicas	permeavam	desde	a	linha	teórico-quantitativa	ao	materialismo	histórico	
e	dialético.	Conforme	Claval	 (1999,	p.	48),	 “[...]	a	geografia	cultural	entrou	em	declínio	
41
porque	desapareceu	a	pertinência	dos	fatos	de	cultura	para	explicar	a	diversidade	das	
distribuições	 humanas”,	 tendo	 em	vista	 que	 as	 explicações	 via	 cultura	 se	 apoiavam	
na	concepção	transcendental	da	entidade	supraorgânica	e	pelo	enquadramento	dos	
estudos	do	determinismo	cultural.
 
Percorrendo	as	fases	de	evolução	e	retração	da	geografia	cultural,	ancoramos	
a	 leitura	no	fim	da	década	de	 1960	e	na	primeira	metade	de	 1970,	 tempo	em	que	a	
nova	geografia	obscureceu	a	presença	da	geografia	cultural,	tornando	incipientes	suas	
explicações	por	meio	da	cultura,	vistas	as	mudanças	e	modernizações	que	a	sociedade	
enfrentava.	 “[...]	A	preferência	mudou	dos	estudos	sobre	paisagens	culturais,	habitat	
rural,	 sistemas	 agrícolas	 e	 difusão	 cultural	 para	 estudos	 sobre	 lógicas	 locacionais	 e	
estudos	urbanos”	(CORRÊA,	2009,	p.	2).
Fadada	a	um	espaço	com	pouca	representatividade,	a	geografia	cultural	ficou	
subjugada	aos	apontamentos	da	grande	disciplina,	diga-se	de	passagem	já	fragmen-
tada,	em	setores	da	geografia	física	e	humana.	A	perspectiva	quantitativa	proposta	se	
alinhava	à	análise	com	uma	base	do	neopositivismo	lógico,	em	que	a	ciência	geográfica	
incorporou,	em	seus	estudos,	análises	matemáticas,	e	apontou,	com	“exatidão”,	os	re-
sultados	de	uma	geografia	cultural	e	humanizada.	Novamente,	houve	um	choque	entre	
o	que	se	definia	como	teoria	e	realidade.
 
Então,	ficou	dividido	entre	a	euforia	da	difusão	da	ciência	geográfica	e	a	crítica,	
esta	que	gerou	certa	instabilidade	entre	a	unidade	dos	geógrafos.	É	importante	ressaltar	
que	a	“crise”	se	deu	num	contexto	em	que	a	sociedade	moderna	adentrava	a	fase	inicial	da	
ousada	e	forte	industrialização,	momento	em	que	o	Estado	se	fazia	presente	em	relação	à	
reformulação	e	planejamento	dos	espaços	urbanos,	nas	mudanças	da	economia	e	avanço	
do	capitalismo	em	dimensão	mundial.	Tais	características	semelhantes	foram	recorrentes	
em	diversas	sociedades,	pois	refletiram	o	momento	pós-guerra	(MOREIRA,	2008).
Inserida	dentro	do	contexto,	a	geografia	percebeu	que	estava	lutando	com	as	
estratégias	erradas	e	que	os	problemas	contextuais	que	assolavam	a	discussão	entre	
meio	–	homem	eram	mais	profundos	e	possuíam	outras	diretrizes	e	perspectivas	de	
análise.	Diante	de	enigmas	e	outros	possíveis	parâmetros	epistemológicos,	a	geografia	
desacelerou	e	propôs	os	objetivos	de	repensar	e	questionar	os	padrões	orientados	até	
aquele	momento	(CLAVAL,	2010).	
Cotada	 ao	 desaparecimento,	 a	 geografia	 cultural	 ressurge	 reformulada	 no	
fim	da	década	de	1970	a	1980,	a	partir	um	novo	ciclo,	a	“virada	cultural”.	Ela	cria	uma	
transição	de	renovação	evidenciada	por	uma	crítica	às	escolas	Sauariana	e	Vidaliana	e	
maior	valorização	à	cultura	enquanto	meio	de	compreensão	do	mundo.
42
5 GEOGRAFIA CULTURAL – FASE III – IMATERIALIDADE E 
RENOVAÇÃO
Estabeleceu-se	que	o	marco	de	renovação	da	geografia	cultural	ocorreu	após	
a	 década	 de	 1970	 e	 1980,	 num	 contexto	 epistemológico	 pós-positivista,	 em	 que	 os	
estudos	culturais	estavam	aliados	a	uma	compreensão	mais	ampla	de	mundo.
 
Holzer	(2012)	esclarece	que	mesmo	que	a	geografia	cultural	estivesse	retraída	pela	
ascensão	da	geografia	quantitativa	e	pelo	aparecimento	da	geografia	comportamental,	
geógrafos	das	linhas	cultural	e	humanística	buscaram	restaurar	e	recolocar	a	geografia	
que	estava	sendo	esquecida.	Primeiramente	com	David	Lowenthal	e,	posteriormente,	
com	Yi-Fu	Tuan,	ambos	com	o	método	filosófico	de	investigação	alternativo,	longe	do	
descritivo.
 
A	discussão	proposta	por	Lowenthal	desviava-se	do	eixo	então	dominante,	o	da	
procura	de	metodologias	que	se	adequassem	aos	modelos	matemáticos,	remetendo-se	
para	a	fundamentação	de	uma	teoria	de	conhecimento	geográfico.	Seu	ponto	de	partida	
era	a	“geosofia”,	com	base	em	um	projeto	de	ciência	que	abarcasse	os	vários	modelos	
de	observação,	o	consciente	e	o	 inconsciente,	o	objetivo	e	o	subjetivo,	o	fortuito	e	o	
deliberado,	o	literal	e	o	esquemático	(HOLZER,	2012).
 
Na	perspectiva	de	Tuan,	a	geografia	deveria	aderir	aos	novos	paradigmas,	favore-
cendo	os	estudos	das	vivências	que	se	projetam	de	um	lugar	particular,	a	exemplo	do	lar,	
para	as	paisagens	mais	globais,	de	uma	paisagem	humanizada	para	outra	mais	primitiva	
(HOLZER,	2012).	Sobre	as	experiências	dos	lugares,	a	particularidade	de	sentimentos,	vis-
tas	suas	experiências	de	viagens	(CLAVAL,	2011).	Essas	afirmações	conceituais	criadas	
por	esses	e	outros	autores	imbuíram	todo	o	movimento	vindouro	da	geografia	cultural.
 
Segundo	Claval	(2011),	aderir	novos	horizontes	partia	da	necessidade	de	uma	
melhor	compreensão	da	escola	francesa,	seus	desígnios,	além	das	alterações	realizadas	
nas	orientações	humanista	e	radical	das	geografias	inglesa	e	americana.
O	processo	de	despertar	para	uma	nova	dimensão	cultural	na	geografia	pas-
sou	a	ser	evidenciado	após	a	prefixação	de	alguns	princípios.	O	primeiro	é	evidenciado	
quando	o	conceito	de	cultura	foi	retomado	dentro	da	linha	da	geografia	cultural,	opon-
do-se	às	concepções	antropológicas	criadas	por	Edward	Tylor,	no	ano	de	1871	(CLAVAL,	
2011;	CORRÊA,	2011).	Posteriormente,	a	crítica	aos	discípulos	que faziam	uso	da	defini-
ção	de	cultura	autônoma	e	abrangente	desenvolvida	pelo	antropólogo	Alfred	Kroeber	
(DUNCAN,	2011).
 
[...]	 A	 década	 de	 1970	 foi,	 em	 realidade,	 uma	 arena	 de	 embates	
epistemológicos,	 teóricos	 e	metodológicos.	 Emerge	 uma	 geografia	
crítica	 e	 diferentes	 subcampos	 que,	 nos	 anos	 80,	 iriam	 confluir,	
em	 parte,	 para	 gerar	 a	 denominada	 geografia	 cultural	 renovada.	A	
década	de	1980	vê	configurar-se	a	nova	versão	da	geografia	cultural	
(CORRÊA,	2009,	p.	2).	
43
Ainda	em	1980,	os	debates	de	ordem	epistemológica	foram	estendidos,	apesar	
das	mudanças	já	ocorridas	no	domínio	anglófono.	Diferentemente	das	propostas	dos	
anos	anteriores,	em	1950	e	1960,	a	geografia	não	se	apropriou	dos	métodos	científicos	
voltados	para	natureza	nem	para	vida,	mas	apresentou,	como	resultado,	 incessantes	
questionamentos	sobre	o	que	se	entende	pelo	progresso,	desenvolvimento,	influência	
e	 reconhecimento.	 O	 conjunto	 de	 fatores	 orientou	 as	 ciências	 para	 as	 conhecidas	
“viradas”,	iniciando	com	a	“linguística”,	“virada	espacial”	e,	por	fim,	na	geografia,	a	“virada	
cultural”	(CLAVAL,	2014).
Muitas	 das	 concepções	 preestabelecidas	 estavam	 sendo	 desmistificadas,	
avaliadas	e	reinterpretadas.	Algumas	se	referiam	exatamente	aos	conceitos	abrangentes	
de	cultura,	paisagem	cultural,	objetivos	e	método	de	análise	de	pesquisa.	Romper	com	
a	antiga	 interpretaçãoda	paisagem	cultural	torna-se	um	exemplo,	pois	compreendia	
que	a	cultura	tomava	o	lugar	da	centralidade,	passando	a	se	manifestar	como	o	agente	
transformador	da	paisagem	natural	(CORRÊA,	2014).
 
Buscando	 uma	 conotação	 significativa,	 as	 críticas	 revelaram	 ser	 contra	 a	
percepção	cultural	apresentada	como	uma	entidade	superior	ao	homem.	Não	bastava	
entender	 “[...]	 a	 cultura	 como	entidade	abstrata,	 supraorgânica,	 sem	agentes	 sociais	
concretos,	 sendo	gerado	um	quadro	harmonioso:	 a	paisagem	cultural	 [...]”	 (CORRÊA,	
2014,	p.	41),	pois	o	significado	da	paisagem	também	possui	realidades	simbólicas,	de	
explicações	visíveis	das	manifestações	na	esfera	terrestre.
 
O	contraponto	dos	estudos	focados	no	conceito	de	cultura	surge,	efetivamente,	
na	década	de	1970.	Com	uma	nova	interpretação	para	a	temática,	a	geografia	inglesa	
eleva	o	nome	de	Denis	Cosgrove,	o	qual	se	propôs	a	trabalhar	e	a	trilhar	uma	perspectiva	
marxista,	cuja	escolha	ocorreu	por	influências	acadêmicas.
O	 conceito	 de	 cultura	 tinha,	 para	 Cosgrove,	 outras	 raízes	 e	
configurações.	Com	base	em	Cassirer,	no	Centre	for	Contemporary	
Cultural	 Studies	 da	 Universidade	 de	 Birmingham,	 dirigido	 na	
década	de	1970	por	Stuart	Hall,	de	Raymond	Williams,	professor	na	
Universidade	 de	 Oxford,	 e	 na	 antropologia	 interpretativa	 de	 Clifford	
Geertz,	 cultura	 era	 entendida	 como	 os	 significados	 elaborados	 e	
reelaborados	pelos	diferentes	grupos	sociais	a	respeito	das	diversas	
esferas	da	vida	(CORRÊA,	2014,	p.	40).
Baseados	 em	 suas	 convicções	 científicas,	 Cosgrove	 e	 Peter	 Jackson	 fazem	
uma	conceituação	para	a	insurgência	da	geografia	cultural:
Uma	 possível	 definição	 dessa	 “nova”	 geografia	 cultural	 seria:	
contemporânea	 e	 histórica	 (mas	 sempre	 contextualizada	 e	 apoiada	
na	teoria);	social	e	espacial	(mas	não	reduzida	a	aspectos	da	paisagem	
definidos	 de	 forma	 restrita);	 urbana	 e	 rural;	 atenta	 à	 natureza	
contingente	 da	 cultura,	 às	 ideologias	 dominantes	 e	 às	 formas	 de	
resistência.	Para	essa	“nova”	geografia,	a	cultura	não	é	uma	categoria	
residual,	mas	 o	meio	 pelo	 qual	 a	mudança	 social	 é	 experienciada,	
contestada	e	construída	(COSGROVE;	JACKSON,	2011,	p.	136).
44
Como	 autor	 âncora	 da	 antropologia,	 que	 contribuiu	 para	 a	 geografia	 no	
momento	de	ebulição	científica,	em	relação	ao	conceito	de	cultura,	Geertz	pôde	reforçar	
o	entendimento	da	diversidade	cultural	e	acrescentar	a	possibilidade	de	elencar	diversas	
maneiras	que	obscureçam	o	sentido	conceitual	da	cultura.	Todavia,	alertou	que	tal	ato	
ocasiona	uma	simplificação,	empobrecendo	a	concepção	de	estudo.
Imaginar	que	a	cultura	é	uma	realidade	“supraorgânica”	autocontida,	
com	 forças	 e	 propósitos	 em	 si	 mesma,	 isto	 é,	 reificá-la.	 Outra	
é	 alegar	 que	 ela	 consiste	 no	 padrão	 bruto	 de	 acontecimentos	
comportamentais	que,	de	fato,	observamos	ocorrer	em	uma	ou	outra	
comunidade	identificável	(GEERTZ,	2008,	p.	8).
No	caso,	os	significados	da	cultura	e	da	análise	das	paisagens	passaram	a	ser	
reconduzidos	nas	explicações	geográficas.	A	princípio,	tudo	era	esclarecido	por	meio	
da	cultura	material,	porém,	cresceu	a	importância	de	explicação	segundo	as	mudanças	
que	ocorriam	na	sociedade,	a	exemplo	do	enraizamento	do	capitalismo	e	todos	seus	
resultados	 impressos	no	organismo	social.	A	abordagem	contemporânea	firma-se	na	
ideia	de	que	o	homem	é	um	agente	ativo	e	a	cultura	não	está	à	parte	do	 indivíduo,	
mas	 intrinsecamente	 relacionada	a	ele,	 desde	costumes	a	princípios.	A	cultura	deve	
ser	analisada	como	parte	das	construções	sociais.	Cosgrove	e	Jackson	(2011,	p.	 142)	
afirmam	que	“[...]	as	culturas	são	contestadas	politicamente.	A	visão	unitária	de	cultura	
dá	lugar	à	pluralidade	de	culturas,	cada	uma	com	suas	especificidades	de	tempo	e	lugar”.
 
A	partir	do	olhar,	Corrêa	(2011,	p.	170)	expõe	que	“[...]	a	diversidade	cultural	não	
pode	ser	restrita	às	convencionais	diferenças	raciais,	étnicas,	linguísticas	ou	religiosas”.	
Para	Geertz	 (2008),	quando	o	conceito	de	cultura	delineia	formas,	torna-se	 limitado,	
pois	 age	 especificando,	 sufocando	 e	 representando	 uma	 análise	 não	 esclarecedora,	
apontando	que	não	é	adequado	elaborar	uma	“Teoria	Geral	de	Interpretação	Cultural”,	
tendo	em	vista	que:
[...]	O	homem	é	um	animal	amarrado	a	teias	de	significados	que	ele	
mesmo	teceu,	assume	a	cultura	como	sendo	teias	e	a	sua	análise.	
Portant,o	não	como	uma	ciência	experimental	em	busca	de	leis,	mas	
como	 uma	 ciência	 interpretativa	 à	 procura	 do	 significado	 (GEERTZ,	
2008,	p.	4).
Cada	 grupo	 social	 produz	 cultura,	 e	 essa	 são	várias,	 e	 podem	 ser	 recriadas,	
heterogêneas	e	variantes.
 
Na	geografia,	em	uma	escala	gradual	de	correntes,	entende-se	que	a	diretriz	
do	 pensamento	 clássico	 progressista	 não	 foi	 capaz	 de	 sanar	 ou	 explicar	 as	 dúvidas	
recorrentes	 do	 século	 XIX	 e	 XX.	 Ao	 longo	 da	 busca	 por	 um	 rumo,	 a	 geografia	 foi	
apresentada	à	corrente	do	pensamento	radical	crítico,	situando	a	ciência	nas	realidades	
econômica,	social	e	política.
 
45
Essa	conversa,	da	geografia	cultura	com	a	matriz	crítica,	apesar	de	importante,	
por	vezes,	desvalorizou	temas	complementares,	a	exemplo	de	concepções	religiosas	na	
geografia,	sob	a	influência	dos	materialismos	histórico	e	dialético.	Ainda,	a	retórica	nas	
lutas	de	classes	entre	proletariado	e	burgueses,	processo	produtivo,	ou	seja,	em	todo	
universo	da	produção	capitalista.
 
A	 reflexão	 teórica	 marxista	 foi	 aplicada	 aos	 problemas	 sociais	 e	
aos	de	ação	política	de	transformação	da	sociedade	em	direção	ao	
socialismo.	O	procedimento	 rigorosamente	materialista	de	análise	em	
busca	de	novas	forças	que	realmente	moviam	a	sociedade	levou	os	
geógrafos	 críticos	 a	marginalizarem	 as	 questões	 religiosas	 de	 seus	
estudos.	Em	realidade,	o	materialismo	histórico	e	dialético	é	ateu,	isto	
é,	diferentemente	de	considerar	a	existência	de	Deus	uma	questão	
científica,	 como	 no	 positivismo,	 admite	 plenamente,	 com	 base	 na	
visão	materialista,	a	inexistência	de	Deus	(ROSENDAHL,	1996,	p.	22).
Nos	embalos	das	diversas	possibilidades	de	pesquisa,	a	temática	emudecida	na	
geografia	tradicional	e	avivada	na	virada	cultural	foi	a	sacrorreligiosa.	Apesar	de	ecoar	
antes	 da	 renovação	 ou	 evolução	 da	 geografia	 de	 1980,	 por	 décadas,	 foi	 ignorada	 e,	
quando	estudada,	colocada	sob	a	ótica	do	visível,	palpável	e	objetivo.
Toda	a	movimentação	colaborou	para	que	o	espaço	de	discussões	ficasse	aberto	
para	o	surgimento	de	novas	intervenções	epistemológicas.	A	proposta	estava	em	dispor	
as	diferentes	possibilidades	de	análise,	descapsulando	as	práticas	remanescentes,	que	
determinavam	alguns	resultados	e	métodos	únicos	como	verdades	absolutas.
Essas	reflexões	acerca	do	quadro	epistemológico	permitiram	dar	abertura	para	
a	subjetividade	humana	no	campo	das	pesquisas	nas	ciências	sociais,	potencializando	
o	 processo	 da	 virada	 cultural.	 A	 ressurreição	 da	 ordem	 fenomenológica	 reencontra	
ideologias	 ligadas	 às	 experiências	 dos	 homens	 nos	 meios	 social	 e	 ambiental,	
compreendendo	a	significação	no	sentido	dado	às	vidas	e	à	diversidade	(CLAVAL,	2011).
[...]	A	corrente	nova	parece	virar	as	costas	à	atualidade:	volta-se	para	
as	lembranças	de	infância	e	à	maneira	como	modela	a	sensibilidade	
das	pessoas.	Fala-se	daquilo	que	dá	charme	às	paisagens,	descobre-
se	a	festa,	o	espetáculo	(CLAVAL,	2011,	p.	221).
O	 novo	 momento	 da	 geografia	 trouxe	 novas	 perspectivas	 e	 paradigmas	 de	
análise,	dando,	ao	indivíduo,	a	possibilidade	de	se	apresentar	a	partir	da	sua	história	de	
vida,	contemplando	a	percepção	que	tem	do	mundo	por	meio	da	construção	que	faz	
do	lugar	onde	produz	suas	relações,	envolvendo,	inclusive,	suas	convicções	religiosas	
(ROSENDAHL,	1996).
 
Compreende-se	que,	no	novo	ciclo,	a	dimensão	subjetiva	não	se	sobrepôs	às	
análises	de	cultura	material,	mas	construiu	uma	dinâmica	aberta,	valorizando	tanto	uma	
quanto	a	outra,	mediante	o	uso	optativonas	pesquisas.
 
46
Outro	quesito	preservado	é	a	cerne	conceitual	da	geografia:	território,	lugar,	região,	
paisagem	e	 espaço.	A	 partir	 destes	 que	 outros	 temas	 surgem.	 São	 como	uma	 trama,	
que	 cruzam	 segundo	 as	 perspectivas	 simbólicas	 e	 tecem	 as	 variantes	 pertencentes	
aos	 conhecimentos	 geográfico	 e	 cultural.	 Questões	 são	 levantadas,	 como	 identidade	
territorial,	imaginário	espacial,	formas	simbólicas,	literatura	e	música,	religião	etc.
Corrêa	 e	 Rosendahl	 (2012)	 consideram	 a	 geografia	 cultural	 um	 conhecimento	
heterotópico,	pois	tem	a	capacidade	de	se	enraizar	por	diferentes	horizontes	a	partir	de	
uma	base,	sendo	que	nenhuma	dessas	zonas	de	ramificação,	por	mais	plural	que	seja,	
pode	se	sentir	superior,	 já	que	a	diversidade	caracteriza	uma	cultura	aberta,	sujeita	a	
uma	amplitude	no	campo	de	investigação.
A	seguir,	apresentaremos	um	resumo	reflexivo	de	três	concepções	de	cultura	
utilizadas	ao	longo	das	três	fases	da	geografia	cultural.	
QUADRO 2 – CONCEPÇÕES DE CULTURA
FONTE: Adaptado de Claval (2002)
Classificação de três concepções culturais
Primeira 
Concepção
CULTURA
• Conjunto	de	práticas,	conhecimentos	e	valores.
• Cada	indivíduo	recebe	e	se	adapta	a	situações	evolutivas.
• Aparece,	 ao	mesmo	 tempo,	 como	uma	 realidade	 individual	 (resultante	
da	 experiência	 de	 cada	 pessoa)	 e	 social	 (resultante	 de	 processos	 de	
comunicação).
• Não	é	uma	realidade	homogênea.
• Compõe	muitas	variações.
Segunda 
Concepção
• Apresentada	como	um	conjunto	de	princípios,	regras,	normas	e	valores	que	
deveriam	determinar	as	escolhas	dos	indivíduos	e	orientar	a	ação.
• Define-se	como	imutável.
• É	útil	para	compreender	a	componente	normativa	dos	comportamentos.
• As	regras	são	interpretadas	para	justificar	e	motivar	as	escolhas	diversas.
Terceira 
Concepção
• Apresentada	como	um	conjunto	de	atitudes	e	costumes	que	dão,	ao	grupo	
social,	a	sua	unidade.
• Tem	um	papel	importante	na	construção	das	identidades	coletivas.
Caro	 aluno,	 a	 compreensão	 de	 cultura	 ultrapassa	 níveis	 de	 realidades	
diferentes,	não	podendo	ser	considerado	um	aspecto	banal	de	ser	analisado.	A	cultura	
pode	ser	considerada	um	meio	para	 interpretar	formações	sociais	complexas,	grupos	
identitários,	classes	sociais	com	alguns	seguimentos	das	ciências,	como	antropologia,	
sociologia,	história,	 religião	e	geografia,	porém,	nesta	última	é	 importante	percebê-la	
enquanto	fenômeno	dentro	da	ordem	espacial.	A	 reflexão	sobre	o	aparato	discursivo	
propõe	 apresentar	 seus	 avanços,	 levando	 em	 consideração	 a	 epistemologia,	 espaço	
dos	 acontecimentos	 e	 experiência	 de	 cada	 autor	 no	 desenvolvimento	 de	 teorias	 e	
interpretações	sobre	a	cultura.
47
Sobre a perspectiva de estudo da geografia cultural, indicamos 
o vídeo Relação da geografia com a cultura, desenvolvido pelo 
Observatório do Desenvolvimento Regional (ObservaDR). A 
conversa foi realizada com o Dr. Rogério Haesbaert da Costa, 
a partir do uso das categorias geográficas território, paisagem 
e lugar e suas conexões interpretativas. O vídeo possui, 
aproximadamente, 11 min de duração, e pode ser encontrado 
na plataforma digital do youtube, no endereço https://www.
youtube.com/watch?v=P5N2x78YZYk.
DICA
48
Neste tópico, você aprendeu:
•	 Na	virada	do	Século	XIX	para	Século	XX,	 algumas	mudanças	ocorriam	no	cenário	
científico.	 A	 geografia,	 enquanto	 ciência,	 abriu	 espaço	 mesmo	 que,	 timidamente,	
para	o	desenvolvimento	de	um	subcampo	diferente	de	todos,	o	da	geografia	cultural.	
É	a	área	que	se	 interessou	pelas	dimensões	espaciais	da	cultura,	elevando	temas	
referentes	ao	gênero	de	vida	e	paisagem	cultural.	As	escolas	geográficas	dominantes,	
no	primeiro	momento,	atendiam	aos	interesses	vidalianos	e	ratzelianos.
 
•	 Por	volta	de	 1925,	nos	Estados	Unidos,	na	escola	de	Berkeley,	a	geografia	cultural	
apresenta	uma	força	anteriormente	não	experienciada.	Com	Carl	Sauer,	o	subcampo	
foi	 difundido,	 motivo	 pelo	 qual	 construiu	 uma	 identidade	 própria,	 firmada	 nas	
sociedades	 tradicionais,	 no	 historicismo	 e	 na	 antropologia	 de	 Kroeber	 e	 demais	
autores	da	teoria	supraorgânica.
 
•	 A	geografia	cultural	passou	por	um	período	de	 inexpressividade,	que	se	 iniciou	na	
década	 de	 1950,	 estendendo-se	 ao	 fim	 dos	 anos	 1970.	 As	 críticas	 advieram	 das	
correntes	 predominantes	 e	 da	versão	 dos	materialismos	histórico	 e	 dialético.	Uns	
julgavam	pela	geografia	cultural	não	conter	uma	análise	fiel	 ao	teor	pragmático,	 e	
outros	por	não	se	preocupar	com	as	causas	sociais	e	grupos	dominantes	através	do	
capitalismo,	por	exemplo.
•	 O	 processo	 de	 democratização	 do	 estudo	 da	 geografia	 cultural	 foi	 fomentado	
desde	a	virada	dos	séculos	 1970	para	 1980,	firmando	em	1990,	quando	as	críticas	
cresceram	e	novos	contextos	teóricos	sobre	a	valorização	cultural	surgiram.	Pode	ser	
considerado	um	processo	de	evolução	complementar,	respeitando	as	discussões	em	
sua	diversidade.
•	 Fizeram	parte	do	movimento	de	renovação:	a	tradição	contida	nos	estudos	de	Sauer,	
as	incursões	da	escola	francesa	de	Vidal	de	La	Blache,	a	corrente	filosófica	fenome-
nológica,	de	significação	e	experiências,	o	materialismo	histórico	representado	por	
uma	cultura	dominante	e	alternativa	de	sociedades	de	classes	e,	por	fim,	a	concor-
dância	com	as	ciências	humanas	antropologia,	sociologia,	das	religiões	e	outras,	que	
foram	fundamentais	para	o	fortalecimento	do	subcampo	da	geografia	cultural.
RESUMO DO TÓPICO 2
49
AUTOATIVIDADE
1	 O	nascimento	da	geografia	cultural	ocorreu	no	fim	do	Século	XIX,	coincidindo	com:
a)	 (			)	 O	nascimento	da	geografia	econômica.
b)	 (			)	 O	nascimento	da	geografia	física.
c)	 (			)	 O	nascimento	da	geografia	humana.
d)	 (			)	 O	nascimento	da	geografia	da	religião.
2	 Sobre	os	estudos	de	Carl	Sauer,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 Suas	teorias	foram	amparadas	na	antropologia	de	Franz	Boas	do	supraorgânico,	
em	que	a	cultura	foi	considerada	uma	entidade	acima	do	homem.
b)	 (			)	 Foi	a	partir	de	 1925,	em	Berkeley,	que	a	geografia	cultural	ganhou	 identidade,	
segundo	as	bases	do	historicismo	e	sua	valorização	do	presente.	
c)	 (			)	 O	 historicismo	 amparado	 no	 idealismo	 e	 a	visão	 de	 cultura	 supraorgânica	 de	
Kroeber	conduziram	os	estudos	de	Carl	Sauer.	
d)	 (			)	 Os	discípulos	de	Sauer,	em	1962,	privilegiaram	o	estudo	de	cinco	temas	na	escola	
de	Berkeley:	cultura,	paisagem	cultural,	história	da	cultura,	cultura	dominante	e	
ecologia	cultural.	
3	 Quais	as	duas	principais	correntes	do	pensamento	geográfico	que	fizeram	crítica	à	
escola	de	Berkeley?
a)	 (			)	 Teorético	–	quantitativa	e	fenomenologia.	
b)	 (			)	 Historicismo	e	materialismo	histórico	dialético.
c)	 (			)	 Teorético	–	quantitativa	e	historicismo.
d)	 (			)	 Teorético	–	quantitativa	e	materialismo	histórico	dialético.
4	 Sobre	a	renovação	da	geografia	cultural,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 A	década	de	1980	representou	uma	fase	obscura	na	geografia	cultural,	prevale-
cendo	o	determinismo	cultural	e	o	senso	comum.
b)	 (			)	 A	década	de	1980	representou	uma	democratização	dos	estudos	culturais	na	
geografia,	a	espacialização	da	cultura,	a	valorização	das	perspectivas	material	e	
não	material,	o	objetivo	e	subjetivo	e	as	experiências	expressamente	vividas	e	
planejadas.					
c)	 (			)	 O	período	de	renovação	da	cultura,	apesar	de	ser	valorizado	com	a	eclosão	da	
“virada	 cultural”,	 não	 foi	 satisfatório,	 pois	 o	 conceito	 de	 cultura	 não	 pôde	 ser	
redefinido,	permanecendo	com	perspectiva	única	do	supraorgânico.	
d)	 (			)	 A	 renovação	 remonta	 um	 marco	 na	 geografia	 segundo	 o	 amparo	 na	 base	
estruturalista,	em	que	os	estudos	culturais	estavam	aliados	a	uma	compreensão	
mais	ampla	de	mundo.
50
51
TÓPICO 3 — 
A CENTRALIDADE DA ABORDAGEM DA 
GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UM 
CAMINHAR PARALELO ENTRE A ORIGEM, 
“NEGLIGÊNCIA” E DINAMISMO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Caro	acadêmico,	até	o	presente	momento,	 trouxemos,	nos	tó-picos	anteriores,	uma	contextualização	importante	sobre	os	parâmetros	
em	que	 a	 geografia	 cultural	 se	 posicionou.	Aparentemente	 localizadas	 
em	esferas	 longínquas,	as	grandes	escolas	do	pensamento	geográfico,	a	exemplo	da	
França,	Alemanha	e	Estados	Unidos	da	América,	tocaram,	literalmente,	a	geografia	no	
Brasil,	sim,	algumas	influências	mais	fervorosas,	outras	menos,	mas	assim	que	se	for-
taleceu	o	campo	cultural.
É	chegada	a	hora	de	vocês	conhecerem	o	perfil	e	incursões	culturais	geográ-
ficas	no	Brasil	entre	as	décadas	de	1930	e	posteriores,	seus	desdobramentos,	alguns	
pesquisadores,	além	de	analogias.
 
Identificamos	que	o	campo	de	estudo	no	Brasil	constitui	uma	resposta	do	pro-
cesso	de	difusão	realizado	a	partir	de	eventos	de	proporções	maiores.	Os	atos	realizados	
formaram	a	inserção	salutar,	visto	que,	a	partir	do	Século	XIX,	o	prisma	sobre	a	geografia	
cultural	ganhou	um	perfil	caleidoscópico.	A	cada	giro	ou	fenômenos	no	espaço,	uma	
nova	abordagem	se	formava	sobre	cultura	na	geografia.	O	processor	de	formas	e	fun-
ções	diferenciadas	foi	mudando	até	o	formato	que	temos	na	década	de	2000	na,	então,	
geografia	cultural	brasileira.
 
A	proposta	 congregou,	nas	 temáticas,	 o	 cunho	explicativo	 sobre	 a	história	 e	
desenvolvimento	da	geografia	cultural	no	e	do	Brasil.	A	princípio,	com	“Geografia	cultural	
no	Brasil:	uma	prévia	das	primeiras	incursões”,	“A	produção	acadêmica	da	geografia	cul-
tural”,	“Geografia	cultural:	um	campo	negligenciado	no	Brasil”,	“O	florescer	dos	estudos	
culturais	pós-1980”,	“Principais	difusores:	a	expansão	e	o	interesse	da	geografia	cultu-
ral”	e,	por	fim,	“A	produção	acadêmica	da	geografia	cultural”.	
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2 GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL: UMA PRÉVIA DAS 
PRIMEIRAS INCURSÕES
Iniciamos	 fazendo	 uma	 abordagem	geral	 da	 condição	 da	 geografia	 do	Brasil	
enquanto	grande	disciplina	entre	os	anos	de	1930	a	1970.	É	certo	que	a	busca	por	uma	
compreensão	mais	 abrangente	 se	 traduz	 em	 explicações	 futuras	 sobre	 o	 campo	 da	
geografia	cultural.	
Antes	 da	 geografia	 ser	 estudada	 academicamente	 no	 país,	 o	 conhecimento	
geográfico	se	fazia	presente	a	partir	de	formas	comunicadoras,	a	exemplo	das	 letras	
com	 a	 literaturas	 e	 imagens	 com	 a	 linguagem	 visual.	 Eram	 realizadas	 descrições,	
classificações	que	traduziam	as	paisagens,	além	das	distribuições	locacionais,	porém,	
com	 uma	 percepção	 europeia	 marcada,	 inicialmente,	 pela	 herança	 colonialista	
portuguesa	(MOREIRA,	2008).
 
Moreira	 (2008,	 p.	 30)	 afirma	 que	 “a	 geografia	 brasileira	 já	 nasce	 clássica”.	 A	
máxima	vem	explicar	que	o	desenvolvimento	da	ciência	geográfica	brasileira	se	deve	
a	um	movimento	sinalizado	pela	ciência	em	âmbito	das	grandes	escolas	geográficas	já	
existentes	no	mundo,	cujas	referências	influenciaram	diretamente	o	crescimento.
 
Oportunamente,	no	Século	XX,	inúmeros	trabalhos	geográficos	foram	produzidos.	
Apesar	de	obedecer	às	regras	vigentes	dos	modelos	descritivos	e	estatísticos,	tal	ato	se	
transformou	em	estratégia	para	fomentar	a	geografia	no	Brasil.	Com	o	apadrinhamento	
estrangeiro,	foi	natural	que,	de	maneira	 inicial,	a	geografia	no	Brasil	tivesse	sua	essência	
marcada	por	princípios	e	interpretações	de	ordens	francesa,	alemã	e	norte-americana.	
As	influências	enriqueceram	a	ciência	e,	mais	tarde,	o	diálogo	se	deu	de	maneira	mais	
equilibrada,	 frente	 às	 construções	 de	 conhecimento	 geográfico	 próprio	 do	 Brasil,	
proporcionando	a	construção	identitária	de	uma	geografia	brasileira	realizada	por	sua	
gente	(CLAVAL,	2012).
 
No	 ano	 de	 1934,	 a	 geografia	 no	 Brasil	 ganha	 o	 primeiro	 capítulo:	 torna-se	
acadêmica	na	Universidade	de	São	Paulo	(USP).	Naquele	ano,	foi	criado	o	departamento	
de	geografia	e	o	de	história.	Mais	adiante,	em	1936,	no	Rio	de	Janeiro,	o	segundo	curso	
de	geografia	foi	criado,	na	antiga	universidade	UDF,	atual	Universidade	Federal	do	Rio	de	
Janeiro	-	UFRJ	(CORRÊA;	ROSENDAHL,	2005;	MOREIRA,	2008).
 
Geógrafos	 como	 Miguel	 Delgado	 de	 Carvalho,	 Everardo	 Backheuser,	 Pierre	
Monbeig	e	Pierre	Deffontaines	se	destacaram	por	auxiliar	na	implantação	dos	cursos,	
associação	 dos	 geógrafos	 do	 Brasil,	 congressos	 de	 geografia,	 conselho	 nacional	 de	
geografia	e	órgãos	como	o	Instituto	Brasileiro	de	Geografia	e	Estatística	(IBGE).
 
53
Delgado	 de	 Carvalho	 foi	 um	 dos	 grandes	 nomes	 do	 Século	 XX	 na	 geografia	
brasileira.	Foi	ele	quem	introduziu	o	sentido	de	uma	geografia	moderna	no	país.	Com	
uma	 formação	 acadêmica	 francesa,	 Carvalho	 mergulhou	 nas	 bases	 vidalianas	 que	
estavam	em	voga	no	começo	daquele	século,	 trazendo	a	origem	da	escola	francesa	
para	 lapidar	os	primeiros	cursos	e	 instituições	de	geografia	no	Brasil.	O	tema	relativo	
às	ordens	físicas	sobre	a	primeira	proposta	de	divisão	regional	do	Brasil,	setentrional,	
meridional,	norte	oriental,	oriental,	central/ocidental,	subsidiou	as	posteriores	divisões	
regionais	elaboradas	pelo	IBGE	(MORREIRA,	2008).
FIGURA 7 – PRIMEIRA DIVISÃO REGIONAL EM 1913 POR DELGADO DE CARVALHO
FONTE: Costa e Farias (2009, p. 6)
54
Everardo	Backheuser	 também	foi	 um	dos	 representantes	 contemporâneos	no	
desenvolvimento	da	geografia	brasileira.	Ele	traça	adaptações	da	antropogeografia	rat-
zeliana	com	elementos	conceituais	franceses,	segundo	Brunhes	e	Vallaux.	Com	uma	
pluralidade	e	diversidade	de	temas,	Backheuser	hora	perpassa	pela	geologia,	geomor-
fologia,	e	outrora	na	geopolítica.	Como	possibilidade,	em	1944,	ele	apresenta	uma	com-
binação	da	geografia	com	a	religião,	“a	religião	em	antropogeografia”	(MOREIRA,	2008).
 
Tanto	 Monbeig	 quanto	 Deffontaines	 foram	 discípulos	 de	 Vidal	 de	 La	
Blache,	 fonte	 que	 direcionou	 teoricamente	 a	 geografia	 brasileira,	 as	 primeiras	 e	 as	
gerações	posteriores,	 consequentemente.	O	papel	de	ambos	 se	cruzou	mediante	as	
responsabilidades	acadêmicas	assumidas,	primeiramente,	com	a	USP	e,	depois,	com	a	
UFRJ.	Em	um	comparativo,	Moreira	(2008)	singulariza	Monbeig	como	um	produtor	de	
trabalhos	clássicos	focado	na	geografia	agrária,	na	base	físico-territorial,	caracterizando	
a	atomização	em	campos	setoriais,	ou	seja,	estudos	fracionados.	Deffontaines,	como	
um	produtor	de	geografia	integrada,	baseado	na	geografia	humana	do	Brasil.	O	homem,	
meio	descrito	por	ele,	tinha	uma	comunicação	intrínseca,	pois	partilhava	de	uma	leitura	
dos	aspectos	humanos	e	do	meio	natural.
Para	 Claval	 (2012),	 Deffontaines	 teve	 um	 papel	 fundamental	 na	 construção	
da	geografia	cultural,	principalmente	por	suas	reflexões	acerca	da	criação	de	cidades	
brasileiras.	Ele	percebeu	que	os	grandes	latifundiários,	em	sua	maioria,	edificavam	um	
templo	que	 atendesse	 a	necessidades	da	população.	 Em	torno	da	 criação	da	 igreja,	
passava	a	existir	uma	dinâmica	espacial	envolvida,	que	modificava	os	arredores.	Um	
grupo	de	pessoas	passava	a	se	deslocar	semanalmente	para	participar,	por	horas,	das	
atividades	religiosas	desenvolvidas.	Em	outros	casos,	havia	a	permanência	de	pessoas	
naquele	 espaço	 durante	 todo	 o	 fim	 de	 semana,	 nas	 chamadas	 casas	 secundárias,	
aquelas	construídas	para	uso	excepcional,	no	caso,	para	o	compromisso	religioso.
Durante	 a	 caminhada	 profissional,	 Pierre	 Deffontaines	 ressaltou	 algumas	
pesquisas	que	apontam	para	uma	geografia	cultural	francesa	sobre	folclore	e	etnografia	
rural.	 Os	 recortes	 espaciais	 contemplam	 suas	 vivências	 pessoais	 e	 manifestações	
visíveis	da	cultura	referente	aos	países	e	regiões	nos	quais	residiu:	no	Sudoeste	e	Leste	
da	França,	Europa	Central,	Quebec,	Catalunha	e	o	Brasil,	num	período	curto	antes	da	
segunda	guerra	(CLAVAL,	2012).
Suas	obras,	para	as	geografias	humana	e	cultural,	O homem e a serra,	O homem 
e a floresta,	O homem e o inverno no Canadá,	O homem e a vinha,	O homem e o arado,	
O homem e as plantas cultivadas,	 substantivaram	 geógrafos	 brasileiros,	 dos	 quais	
destacou-se	Alberto	Ribeiro	Lamego	Jr.	Ele	escreveu,	nas	décadas	de	1940	e	1950,	obras	
em	estruturas	semelhantes	às	de	Deffontaines,	mas	como	teor	conteudístico	brasileiro:	
O homem e o brejo	(1946),	O homem e a restinga	(1946),	O homem e a Guanabara	(1948)	
e O homem e a montanha	(1950).
55
Como	 a	 mais	 importante	 matriz	 geográfica	 do	 Brasil,	 a	 escola	 francesa	 se	
preocupava	em	apresentar,	em	suas	pesquisas,	os	estudos	regionais.	De	forma	alegórica,	
a	cultura	aparecia	em	uma	ação	conjunta	entre	elementos	para	fornecimento	de	uma	
identidade	regional.
 
Tratando-se	da	influência	da	escola	sauariana	nos	estudos	geográficos	brasilei-
ros,	pode-se	dizer	que,	apesar	de	ter	sido	implantado	pelo	professor	Hilgard	Sternberg	
na	Universidade	do	Brasil	até	meados	de	1960,	o	resultado	foi	 insatisfatório,	pois	não	
houve	uma	adesão	frente	à	linha	teórica	holística	de	Berkeley.	Da	década	de	1970	até	
1980,	a	geografia	brasileira	era	dividida	em	três	linhas:	tradução	francesa,	visão	teoréti-
co-quantitativa	e	a	referenciada	pelo	materialismo	histórico	e	dialético	(CLAVAL,	2012).
Significativamente,	 a	 geografia	 cresceu,	 pesquisadores	 surgiram,	 mas	 o	
campo	 da	 geografia	 cultural	 permanecia	 marginalizado.	 Independentemente	 das	
particularidades,	dinamismo	e	heterogeneidade	cultural	existentes	no	Brasil,	até	o	fim	
da	década	de	1980,	inúmeros	geógrafos	desconheciam	o	subcampo	de	conhecimento	
pertencente	à	ordem	geográfica.	
3 GEOGRAFIA CULTURAL: UM CAMPO NEGLIGENCIADO 
NO BRASIL
Uma	modesta	perspectiva	de	crescimento	quanto	ao	estudo	cultural	geográfico	
pôde	ser	evidenciada	na	passagem	da	década	de	1970	para	1980.	O	período	mostrou	
as	 ebulições	 científicas,	 o	 princípio	 de	decadência	 das	 orientações	quantitativas	 e	 a	
ascensão	de	uma	geografia	radical	ou	crítica.
 
Contudo,	 algumas	 obras	 pós	 1980,	 a	 exemplo	 de	 dicionários	 da	 geografia	
humana-cultural,	foram	escritas	com	o	 intuito	de	reafirmar	a	geografia	cultural	como	
ciência	descritiva,	com	definições	estabelecidas	e	conceitos	existentes,	uma	geografia	
norte-americana	de	ramo	sistemático	da	geografia	humana	com	análises	morfológicas	
em	sua	essência.
Apesar	 da	 efervescência	 iniciada	 em	anos	 anteriores,	 inclusive	 com	a	virada	
linguística,	não	mudou	bruscamente	a	 realidade	do	 ramo	da	geografia.	A	abordagem	
cultural	ocorria	esparsamente	em	pequenos	grupos.
A	 passagem	 da	 década	 de	 1970	 no	 Brasil	 pouco	 impactou	 os	 movimentos	
culturais	 na	 geografia,	 pois	 a	 influência	 da	 geografia	 clássica	 francesa	 prevaleceu,	
principalmente	nas	produções	acadêmicas.	Com	os	trabalhos	de	conclusão	de	curso,	
geralmente,	permeavam	temáticas	de	interesse	regionais	e	locais,	deixando	adormecido	
o	aspecto	cultural	na	maioria	das	pesquisas.
 
56
Segundo	Claval	 (2012),	 os	geógrafos	brasileiros	 estavam	fadados	 às	práticas	
recorrentes	 e	 entusiasmados	 para	 experimentar	 outras	 epistemologias	 e	 temas	
voltados	para	atualidade	da	época,	como	a	dinâmica	e	conceituação	do	espaço.	Então,	
introduzida,	pela	 literatura	do	geógrafo	Pierre	George,	a	compreensão	do	movimento	
da	geografia	ativa	ou	crítica,	além	da	base	marxista,	com	vistas	para	a	geografia	das	
populações	mundiais.
 
No	período,	o	Brasil	estava	sob	a	governança	militar,	motivo	que	favoreceu	a	
busca	pelo	afastamento	do	regime	socialista	e	a	implantação	do	experimento	comunista	
no	país.	O	regime	militar	 investiu	nas	 incursões	quantitativas	difundidas	pelos	Estados	
Unidos,	com	a	justificativa:	a	aproximação	com	o	pragmatismo	desvincularia	o	país	do	
progressismo	encontrado	na	Europa.
Em	virtude	da	tomada	e	declínio	militar,	o	contexto	geográfico	também	absorveu	
as	mudanças.	No	fim	da	era	militar,	inúmeras	hipóteses	foram	contestadas	e	a	verdades	
absolutas	dadas	como	incertas,	primeiramente,	em	relação	à	geografia	regional	instituída	
pela	escola	francesa	e,	posteriormente,	com	a	geografia	quantitativa	norte-americana,	
com	duas	correntes	que	influenciaram	o	desenvolvimento	da	geografia	no	Brasil.
Em	 1970,	 como	 protagonista,	 a	 geografia	 crítica	 ou	 radical	 se	 instala	
principalmente	 com	 a	 difusão	 de	 pensamentos	 materializados	 por	 Milton	 Santos.	
Ele	 representou	 o	 start	 da	 renovação	 da	 disciplina	 no	 país,	 abordando	 temáticas	
anteriormente	sem	esclarecimentos	geográficos.	Ainda,	foi	a	fundo	nos	processos	de	
urbanização,	globalização,	países	subdesenvolvidos.	Um	pesquisador	ativo	desde	que	
deixou	um	legado	importante	para	a	geografia.
 
O	 retrato	 da	 geografia	 cultural	 de	 1950	 a	meados	 de	 1980,	 no	 Brasil,	 era	 de	
esquecimento	 ou	 desprezo	 quanto	 à	 renovação.	Apesar	 do	 processo	 ter	 iniciado	 na	
Europa,	não	foi	suficiente	para	conquistar	de	imediato	as	cátedras	brasileiras.	Empecilhos	
e	interesses	contra	a	efervescência	permearam	até	a	condição	política,	pois	o	sentido	
científico	oficial	eram	aqueles	baseados	na	geografia	lógica.
 
As	conquistas	da	virada	cultural	no	Brasil	 são	 introduzidas	 segundo	práticas	
disciplinares	 de	 uma	 geografia	 que	 renasce	 com	 a	 aplicação	 de	 representações	
espaciais	mentais,	com	os	“mapas	mentais”,	de	origem	interdisciplinar,	voltados	para	a	
psicologia,	cartografia	e	geografia,	seguindo	os	autores	Jean	Piaget,	Bárbara	Petchenik	
e	o	humanista	Yi	–	Fu	Tuan,	grandes	representantes	na	escala	de	conhecimento.
 
A	assimilação	humanística	 se	deu	a	partir	 da	professora	Lívia	de	Oliveira,	 na	
passagem	de	1960	para	1970.	Como	precursora	de	uma	geografia	humanística	no	Brasil,	
Oliveira	apontou	para	a	possibilidade	de	estudar	os	fenômenos	 imateriais	com	os	de	
ordem	material.	Ela	também	trouxe,	para	a	geografia,	associações	didáticas	baseadas	
nas	 leituras	afetiva	e	cognitiva	piagetiana.	Em	parceria	com	Lucy	Marion	C.	P.	M.,	em	
1975,	desenvolveu	trabalhos	sobre	a	percepção	geográfica	de	adolescentes	a	partir	de	
noções	topológicas	e	euclidianas	na	construção	de	mapas	iniciais.		
57
4 O FLORESCER DOS ESTUDOS CULTURAIS PÓS-1980
A	 reinterpretação	 cultural	 dirigiu	 parte	 das	 mudanças	 na	 geografia	 cultural.	
Tem-se	a	impressão	de	se	tornar	mais	coerente	e	participativa	nas	leituras	geográficas.	
Métodos	alternativos,	como	traduções	de	materiais	acadêmicos,	influenciaram	positiva-
mente,	como	o	caso	do	livro	Topofilia	(topo=	lugar,	filia=	gostar	de),	de	Yi-fu	Tuan.
O	geógrafo	tornou-se	o	precursor	de	um	pensamento	humanista	voltado	para	
as	 dimensões	 sensoriais	 e	 afetivas	 na	 geografia.	A	 paisagem,	 por	 exemplo,	 torna-se	
mais	do	que	a	conceituação	“até	onde	nossos	olhos	possam	ver”.	Com	a	nova	dimensão,	
é	possível	utilizar	todos	os	sentidos	humanos.
	Tuan	realizou	novas	associações	com	 incursões	fenomenológicas,	criando	uma	
geografia	sob	a	compreensão	do	homem	e	suas	realidades	e,	num	sentido	interdisciplinar,	
aproximou-se	das	 ‘convicções’	do	Eric	Dardel	(1900-1968),	historiador,	com	formação	
semelhante	à	dos	geógrafos	na	França.
 
Claval	 (2011,	 p.	 157)	 aponta	 que	L’homme et la terre	 “[...]	 foi	 escrito	 em	uma	
linguagem	magnífica,	clara,	musical”.
Claval	 (2011)	 afirma	 que,	 principalmente,	 na	 obra,	 Dardel	 propôs	 comunicar	
alguns	 novos	 aspectos	 possíveis	 na	 geografia	 a	 partir	 da	 apropriação	 dos	 sentidos	
dados	para	si	(homens)	em	relação	às	vivências	na	superfície	terrestre:
1)	 Investigar	mais	intensamente	sobre	o	sentido	da	existência	humana	no	globo	terrestre.
2)	Reconhecer	as	convicções	religiosas.
3)	Os	mitos	como	abordagem	na	geografia.
4)	Dimensões	sobrenaturais,	relativas	ao	que	se	torna	indissociável	ou	transcendente.
O	 período	 em	 que	 aconteciam	 as	 transformações	 ideológicas	 no	 Brasil,	 a	
partir	de	autores	como	Lívia	de	Oliveira,	 refletiu	os	processos	de	 “cultural	 turn”,	 com	
as	 desconstruções	 conceituais	 anteriormente	 postas	 como	 verdades	 absolutas	 e	
enrijecidas	pelos	métodos	científicos.
 
A	virada	cultural	chegou	para	dar	continuidade	à	crítica	dos	fundamentos	dos	
povos	ocidentais,	difundindo	técnicas	de	desconstrução	e	destacando	teses	sobre	os	
preconceitos	europeu,	oriental	e	o	desenvolvimento	após	o	colonialismo	(CLAVAL,	2011).
Claval	(2011,	p.	11)	denominao	período	pré-virada	cultural	a	partir	de	um	contexto	
sem	interconexão	dentro	da	própria	ciência	geográfica:
58
A	disciplina	 aprecia,	 como	um	conjunto	 de	 disciplinas:	 a	 geografia	
econômica,	 geografia	 política,	 geografia	 social,	 geografia	 urbana,	
geografia	rural,	geografia	cultural	etc.	As	fronteiras	entre	disciplinas	
eram	 fortes	 e	 rígidas.	 As	 fronteiras	 entre	 a	 geografia,	 as	 outras	
ciências	sociais	 (salvo	história)	e	as	humanidades	eram	ainda	mais	
altas	e	rígidas.
 
Quando	a	virada	cultural	surge,	tem	o	propósito	de	não	permitir	fronteiras	no	
interior	da	geografia,	nem	a	relação	dela	com	os	demais	campos	científicos.	A	finalidade	
é	 enxergar	 a	 cultura	 não	 apenas	 nas	 entrelinhas,	 mas	 em	 níveis	 anteriormente	
desconhecidos,	naqueles	que	revelam	poder,	crença	e	cotidiano,	por	exemplo.
Não	existe	uma	fronteira	rígida	entre	a	geografia	cultural	e	a	geografia	
econômica:	a	oferta	e	a	procura	nunca	são	categorias	econômicas	
puras.	 A	 oferta	 vem	 de	 empresas,	 que	 têm	 culturas	 próprias;	 a	
procura	não	se	exprime	em	categorias	abstratas.	No	Brasil,	a	procura	
de	alimentos	é	uma	procura	de	feijões	pretos,	de	farinha,	de	carne	de	
sol,	ou	camarões;	na	França,	é	uma	procura	de	pão,	vinho,	de	batatas,	
de	fígado	gordo	(CLAVAL,	2011,	p.	11).			
A	 virada	 cultural	 ocorrida	 no	 Brasil,	 em	 meados	 de	 1990,	 descreveu	 um	
movimento	de	dimensões	compactas,	mas	com	uma	preocupação	evidente:	o	zelo	pela	
solidez	das	bases	teóricas.	O	ato	de	traduzir,	para	a	língua	portuguesa,	textos	clássicos,	
materiais	teóricos	de	diversos	autores	e	em	diferentes	períodos	de	evolução	geográfica	
funcionou	como	estratégia,	livrando	a	geografia	cultural	de	um	possível	caminho	com	
superficialidade	e	efemeridade.	A	absorção	cultural	na	geografia	não	poderia	se	tornar	
um	mero	modismo	que,	a	curto	prazo,	fosse	substituída	por	outros	ventos	de	doutrinas.
 
A	partir	de	então,	iniciou-se	o	processo	de	plantação	acerca	do	interesse	cultural	
e,	a	comunidade	de	geógrafos	no	Brasil,	aos	poucos,	se	deu	conta	da	diversidade	e	das	
características	ricas,	enérgicas	e	vivas	da	cultura	presente	no	território	e	povo	brasileiro.
 
A	cultura	é	comum,	existe	em	todos	os	lugares	e	se	manifesta	rotineiramente	
no	espaço	e	tempo.	No	caso	do	Brasil,	é	possível	que	ela	tenha	dimensões	maiores,	por	
apresentar	características	distintas	entre	as	complexas	e	diferentes	regiões.
 
Ao	chegar	em	1990,	a	geografia	cultural	passa	a	 romper	com	aquela	fase	de	
nulidade	 e	 silenciamento	 do	 ramo.	 Um	 novo	 ciclo	 se	 inicia,	 abrindo	 portas	 para	 um	
processo	 de	 expansão	 que	 significa	muito	mais	 pela	 qualidade	 da	 pesquisa	 de	 uma	
geografia	brasileira.
 
Houve	 uma	 adesão	 de	 um	 novo	 público,	 conforme	 diagnosticaram	 Corrêa	
e	 Rosendahl	 (2005).	 Apontam	 que	 os	 congressos	 rendiam	 números	 cada	 vez	 mais	
expressivos,	entre	2000	a	3000	geógrafos	originários	do	Brasil,	Europa	e	América	do	
Norte.	 Eram	 estudantes	 e	 profissionais,	 além	 de	 simpatizantes	 de	 áreas	 afins,	 todos	
interessados	em	estimular	a	importância	pela	dimensão	cultural	do	espaço.
59
Após	a	década,	o	bloco	de	estudos	culturais	que	surgiu	abordou	“[...]	a	natureza	
da	 experiência	 religiosa	 e,	 particularmente,	 as	 formas	 que	 assumem	no	 espaço”,	 ou	
seja,	 uma	 nova	 perspectiva	 que	 se	 distinguiu	 daquela	 em	 que	 a	 paisagem	 refletia,	
materialmente,	o	impacto	da	religião	(ROSENDAHL,	2003).
A	geografia	cultural,	apesar	de	uma	essência	tradicional	firmada	nos	estudos	
vidalianos	e,	posteriormente,	 sauariana,	 somou	possibilidades	com	a	nova	versão	da	
dimensão	espacial	da	cultura,	além	das	significações	democratizadas.
5 PRINCIPAIS DIFUSORES: A EXPANSÃO E O INTERESSE 
DA GEOGRAFIA CULTURAL 
Sobre	a	expansão	do	estudo	da	geografia	cultural,	Corrêa	e	Rosendahl	(2005)	
afirmam	que	o	 esforço	 em	estimular	 a	 área	 cultural	 no	Brasil	vem	de	várias	 frentes,	
a	 princípio,	 da	 heterogeneidade	 cultural	 do	 país,	 da	 vitalidade,	 da	 criatividade	 dos	
geógrafos	 brasileiros	 e,	 por	 fim,	 das	 relações	 entre	 profissionais	 estadunidenses	 e	
europeus	que	incentivaram	o	estudo.
 
[...]	Surgem	periódicos	especializados,	como	o	Géographie	et	Cultures,	
na	França,	criado	por	Paul	Claval,	em	1992,	e	o	Ecumene,	na	Inglaterra	
e	 nos	 Estados	 Unidos,	 em	 1994,	 posteriormente	 redenominado	
de	 Cultural	 Geographies.	 Ambos	 se	 juntam	 ao	 Journal	 of	 Cultural	
Geography,	criado	nos	Estados	Unidos.	A	criação	posterior	do	Social	
and	Cultural	Geography	ampliou	as	possibilidades	de	publicação	de	
textos	relacionados	à	geografia	cultural	(CORRÊA,	2009,	p.	2).
O	fim	do	Século	XX	e	 início	do	Século	XXI,	no	Brasil,	mostraram	ser	períodos	
significativos	por	alguns	motivos,	como	a	seguridade	da	virada	cultural.	Em	1990,	núcleos 
de	 pesquisa,	 a	 exemplo	 do	 Núcleo	 de	 Estudos	 e	 Pesquisas	 sobre	 Espaço	 e	 Cultura	
(NEPEC),	 do	 Núcleo	 Paranaense	 de	 Pesquisa	 em	 Religião	 (NUPPER),	 Núcleo	 Estudo	
em	 Espaços	 e	 Representações	 (NEER),	 revistas,	 congressos	 e	 encontros,	 ganharam	
notoriedade	e	expressividade	com	a	disseminação	dos	aspectos	culturais	da	geografia.
 
Nos	dias	atuais,	já	se	sabe	que	houve	mais	disseminação	de	núcleos	de	estudos	
culturais.	Nos	primórdios	de	1993,	o	primeiro	deles	e	de	maior	expressividade	nacional	
foi	 criado	 em	 novembro	 daquele	 ano,	 e	 coordenado	 pela	 professora	 doutora	 Zeny	
Rosendahl	e	Roberto	Lobato	Corrêa,	no	Departamento	de	Geografia	da	Universidade	
Estadual	do	Rio	de	Janeiro.	A	fonte	de	inspiração	para	a	introdução	pioneira	do	“Espaço	
e	Cultura”	no	Brasil	originou-se	de	uma	unidade	semelhante	criada	por	Claval	em	Paris,	
em	1980.
Certamente,	você	deve	estar	se	perguntado:	Do	que	se	trata	o	NEPEC?	Corrêa	
e	Rosendahl	(2005,	p.	99)	respondem	que	“[...]	trata-se	de	um	pequeno,	porém,	ativo	
centro	de	produção	e	difusão	no	Brasil	da	geografia	cultural.	Suas	pesquisas	têm	três	
60
direções:	 relações	 entre	 espaço	 e	 religião,	 espaço	 e	 simbolismo	 e	 cultura	 popular.	A	
ênfase	fixou-se	na	primeira	das	três	temáticas”,	porque	Zeny	estava	concluindo	a	tese	
de	doutorado,	cujo	tema	foi	acerca	do	centro	de	peregrinação	do	Porto	das	Caixas,	na	
Baixada	Fluminense.	Os	dois	outros	eixos	passavam	a	ser	sustentados	pelo	interesse	
do	professor	geógrafo	Roberto	Lobato	Corrêa,	meios	auxiliares	para	o	entendimento	da	
ação	humana	(ROSENDAHL,	2003).
De	acordo	com	Rosendahl	(2010),	os	anos	1990	se	constituíram	como	divisores	
de	 águas,	 marcados	 por	 algumas	 investidas	 na	 produção	 bibliográfica	 e	 ousadas	
propostas	 de	 estudo:	 religião	 como	 uma	 construção	 cultural,	 paisagem	 cultural,	
espaços	 públicos,	 literatura	 e	 música,	 percepção	 e	 significado,	 cinema,	 espaço	 de	
festas	 populares,	 território,	 imaginário	 espacial,	 imagens,	 história	 e	 biografia,	 grupos	
étnicos,	gênero	e	sexualidade	e	identidade	territorial	(ROSENDAHL,	2010).	Todas	essas	
temáticas	se	fortaleceram	ao	decorrer	do	desenvolvimento	da	pesquisa	da	geografia	
cultural	frente	aos	anos	2000.
 
A	disseminação	ocorre	por	várias	frentes.	A	primeira	delas	refere-se	ao	periódico	
espaço	e	cultura	criado	desde	1995.	Geógrafos,	colaboradores	do	núcleo,	como	demais	
geógrafos	 com	 interesse	 em	 apresentar	 os	 resultados	 de	 suas	 pesquisas.	 Outro	
instrumento	lançado	em	1996	foram	as	séries	de	livros	“Geografia	e	Cultura”,	o	simpósio	
internacional	sobre	espaço	e	cultura,	NEPEC	textos	etc.
 
O	segundo	núcleo	foi	fundado	pelo	professor	Sylvio	Fausto	Gil	Filho,	em	2003,	
na	Universidade	Federal	do	Paraná.	O	NUPPER	surge	como	um	grupo	de	investigação	
científica	 baseado	 nas	 humanidades,	 incluindo	 a	 geografia	 cultural.	 São	 analisados	
fenômenos	religiosos	frente	ao	dualismo	da	singularidade	e	pluralismo.
 
O	NUPPER	 iniciou	com	o	objetivo	central	de	disseminar	a	tendência	de	cres-
cimento	 sobre	 as	 pesquisas	 referentes	 à	 religião,	 religiosidade	 e	 instituições	 religio-
sas.	Por	meio	de	publicações	de	artigosna	plataforma	digital,	 e	com	o	fomento	dos	
eventos	de	maior	e	menor	proporção,	como	os	congressos,	encontros	e	seminários,	há	
facilitação	do	processo	de	conhecimento	sobre	parte	do	ramo	cultural.	Inúmeros	pes-
quisadores	e	estudiosos	apresentam,	discutem	cientificamente	temáticas	sobre	novas	 
metodologias,	técnicas	ou	outras	formas	de	comunicação	envolvendo	diversos	temas.
 
O	NEER	foi	gestado	a	partir	do	movimento	da	“virada	cultural”,	na	década	de	
1990,	 sendo	 concebido	 somente	no	dia	 19	 de	 outubro	 de	 2004.	 Seu	pleito	maior	 se	
caracteriza	 pela	 institucionalização	 da	 abordagem	 cultural	 da	 geografia	 praticada	
no	 Brasil.	 Para	 conquistar	 seus	 objetivos,	 o	 NEER	 tornou-se	 um	 núcleo	 articulador,	
agregando	conhecimento	a	partir	de	projetos	e	grupos	de	pesquisas	nas	“universidades	
periféricas”	 (Salvador,	 Porto	Alegre,	 Curitiba	 e	 Porto	Velho),	 ecoando	 a	voz	 daqueles	
cursos	que,	por	vezes,	tiveram	uma	pequena	representatividade,	por	não	estarem	nos	
grandes	centros,	como	São	Paulo	e	Rio	de	Janeiro	(CLAVAL,	2012).
 
61
	Reflexo	de	um	processo	evolutivo,	 o	núcleo	cresceu	em	números,	dinâmica	
e	qualidade.	Em	2019,	são	vinte	instituições	nacionais	de	ensino	superior	que	cobrem	
todas	as	regiões	do	país	e,	colaborativamente,	produzem	conhecimento	nas	áreas	de	
nova	 geografia	 cultural,	 geografia	 humanista,	 estudos	 de	 percepção	 e	 cognição	 em	
geografia,	geografia	das	representações	e	ensino	de	geografia	no	Brasil.
O	resultado	dessas	ações	vem	representar	o	êxito,	a	boa	aceitação	da	abordagem	
cultural	na	década	de	2000,	constituindo	outros	centros	e	pesquisadores	responsáveis	
pela	difusão	da	disciplina,	além	do	NEPEC,	NUPPER	e	NEER.		
6 A PRODUÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL
A	produção	acadêmica,	na	área	da	geografia	cultural,	iniciou-se,	pioneiramente,	
desde	os	anos	de	1972,	com	a	pesquisa	da	vanguarda	no	âmbito	geográfico	religioso:	
“Pequenos	centros	paulistas	de	função	religiosa”,	por	Maria	Cecília	França,	apresentada	
para	 título	 de	doutoramento	na	USP.	Com	um	tema	 inédito	 nas	 cátedras	 brasileiras,	
França	 foi	 influenciada	 pela	 perspectiva	 do	 impacto	 religioso	 sobre	 a	 paisagem	 nas	
cidades	de	Iguape,	Bom	Jesus	dos	Perdões	e	Pirapora	do	Bom	Jesus.
 
Contudo,	a	partir	de	1990,	seu	crescimento	se	deu	de	forma	criativa,	e	temas	
como	paisagem	cultural,	percepção	e	significados,	 religião	como	construção	cultural,	
espaço	geográfico	e	literatura,	cinema,	espaço	de	festas	populares,	território,	imaginário	
e	 identidade	 passaram	 a	 fazer	 parte	 da	 diversa	 produção	 acadêmica	 no	 e	 do	 Brasil	
(CORRÊA;	ROSENDAHL,	2005).
 
Zeny	Rosendahl	é	um	dos	grandes	nomes	que,	com	Roberto	Lobato	Azevedo	
Corrêa,	contribuiu	para	o	desenvolvimento	da	produção	cultural	na	geografia.
São	gerados	conceitos	e	princípios	dentro	do	campo	da	geografia	da	religião.	
O	primeiro	é	do	espaço	sagrado,	explicado	pela	inter-relação	entre	ponto	fixo	e	entorno.	
Com	outros	conceitos	geográficos,	é	lançada	a	concepção	de	espaço	profano.	Os	demais	
temas	propostos	foram:	fé,	espaço,	tempo-difusão	e	área	de	abrangência;	os	centros	de	
convergência	e	irradiação	religiosa;	território	e	territorialidade;	e	lugar	sagrado,	vivência,	
percepção	e	simbolismo.
Destaca-se	que	a	análise	do	estudo	sobre	espaço	e	religião	traz	a	concepção	
ontológica	do	filósofo	das	religiões,	historiador	e	sociólogo	Mircea	Eliade,	o	qual	trouxe,	
para	a	geografia	da	religião,	a	compreensão	e	a	distinção	conceitual	sobre	o	sagrado	e	
o	profano.
62
A	 geografia	 da	 religião,	 como	 um	 campo	 da	 geografia	 cultural,	 passa	 a	 ser	
interpretada	 segundo	processos	dinâmicos	que	ocorrem	entre	os	grupos	 sociais	 em	
espaços	diversos.	Portanto,	seu	estudo	representa	inúmeras	possibilidades	de	enxergar	
as	influências	religiosas	no	espaço.
 
Na	 geografia	 da	 religião	 brasileira,	 também	 se	 destaca	 um	 grande	 nome,	
o	 do	 professor	 Sylvio	 Fausto	 Gil	 Filho,	 com	 diversas	 publicações.	 Em	 obras,	 são	
explicados	conceitos	de	poder,	representações	e	o	sagrado.	Na	geografia,	espaços	de	
representações	e	da	territorialidade	do	sagrado.	À	 luz	da	teoria,	foram	colocadas	três	
realidades	religiosas	diferentes:	o	estudo	do	cristianismo	católico	romano,	do	islã	shi’i e 
da	peregrinação	bahá’í, nas	cidades	de	Haifa	e	Akká.
Shi’i refere-se à frase “seguidores de Ali”. É um termo corriqueiramente 
escrito como xiita na língua portuguesa, referindo-se àquele grupo 
que tem, como crença, uma sucessão espiritual e temporal do profeta, 
o qual segue uma linhagem de descendentes mediante o genro do 
profeta Ali (GIL, 2012).
A fé bahá’í refere-se à religião que teve origem em 1844, na antiga 
Pérsia, onde se localiza, atualmente, o Irã. Seu fundador foi Mírzá 
Husayn ‘Ali Nurí. Após sua trajetória, a fé bahá’í destinou-se a defender 
uma mensagem da unidade mundial. A destinação da peregrinação 
para Akká tem correspondência com a história da religião. O lugar é 
considerado uma Terra Santa para os devotos (GIL, 2012).
NOTA
Esses	 são	 os	 principais	 nomes	 de	 influência	 e	 pesquisa	 atuantes	 na	 área	
da	geografia	cultural	no	Brasil,	 a	qual	abrange	temas	culturais	para	além	da	 religião.	
Assim,	teoria	e	conhecimento	vêm	sendo	disseminados,	fomentando	o	despertar	das	
novas	possibilidades	de	compreender	o	espaço,	além	do	acréscimo	da	produtividade	
acadêmica	segundo	o	olhar	heterogêneo	das	temáticas	encontradas	pelos	geógrafos	
brasileiros.
63
LEITURA
COMPLEMENTAR
A GEOGRAFIA CULTURAL NO BRASIL
Roberto	Lobato	Corrêa
Zeny	Rosendahl	
Negligência e gênese da Geografia Cultural
A	geografia	brasileira	de	cunho	acadêmico	nasce	em	1934,	com	a	criação	do	
departamento	de	geografia	(e	história)	na	Universidade	de	São	Paulo.	Em	1936,	aparece	
na	cidade	do	Rio	de	Janeiro	 o	 segundo	curso,	 na	 atual	Universidade	Federal	 do	Rio	
de	Janeiro.	Atualmente,	há	mais	de	 150	cursos	de	geografia,	dos	quais	25	oferecem	
cursos	em	nível	de	mestrado.	Rapidamente,	o	número	de	cursos	oferecendo	o	nível	de	
doutorado	aumenta,	ultrapassando	meia	dezena.
A	 despeito	 do	 elevado	 número	 de	 cursos	 de	 geografia,	 a	 grande	 maioria	
dedicados	 quase	 que,	 exclusivamente,	 à	 formação	 de	 professores	 do	 ensino	
secundário,	e	a	despeito	da	heterogeneidade	cultural	do	Brasil,	a	geografia	cultural	foi,	
até	ao	fim	da	década	de	1980,	negligenciada,	mesmo	desconhecida	pelos	geógrafos	
brasileiros.	Aspectos	da	cultura,	no	entanto,	eram	tratados	nos	estudos	regionais,	mas	
não	eram	priorizados,	nem	se	tinha	a	consciência	de	que	a	cultura,	em	suas	múltiplas	
manifestações,	poderia	ser	tema	central	nas	pesquisas.
A	escola	francesa	de	geografia,	a	mais	 importante	matriz	da	geografia	brasileira,	
priorizava	 os	 estudos	 regionais	 e	 a	 cultura	 se	 constituía	 em	mais	 um	 elemento	 da	
complexa	combinação	de	elementos	que	forneciam	a	identidade	regional.	A	geografia	
saueriana,	a	despeito	dos	esforços	do	geógrafo	brasileiro	Hilgard	Sternberg,	professor	
no	Rio	de	Janeiro	até	meados	da	década	de	1960,	depois	transferindo-se	para	Berkeley,	
não	 repercutiu	 no	 país.	 Durante	 as	 décadas	 de	 1970	 e	 1980,	 a	 geografia	 brasileira	
dividia-se	em	três	linhas,	de	acordo	com	a	tradição	francesa,	segundo	a	visão	teorético-
quantitativa	e	de	acordo,	após	1980,	com	a	perspectiva	crítica,	calcada	no	materialismo	
histórico	e	dialético.
A	heterogeneidade	cultural	do	Brasil,	assim	como	o	seu	dinamismo,	a	escala	
dos	praticantes	da	geografia	(os	congressos	de	geografia	reúnem	entre	2,000	e	3,000	
pessoas)	e	as	inúmeras	redes	estabelecidas	com	geógrafos	europeus	e	norte-americanos	
contribuíram	para	que	fosse	despertado	o	interesse	pela	dimensão	cultural	do	espaço.	
Afinal,	parafraseando	Denis	Cosgrove,	a	cultura	está	em	toda	parte,	manifestando-se	
no	espaço	e	no	tempo,	especialmente	se	o	espaço	for	amplo,	diversificado	e	mutável,	
como	é	o	Brasil.
64
A	geografia	cultural	está	 implantada	no	Brasil.	Como	tal,	entende-se	aquelas	
geografias	de	matriz	saueriana,	influenciada	pela	denominadanova	geografia	cultural	e	
pelo	approche culturel	de	Claval.	A	sua	implantação	gerou	polêmicas	pois,	afinal,	o	que	
é	visto	como	novo	pode	desafiar	o	establishment	geográfico.	No	entanto,	os	adeptos	da	
geografia	cultural	brasileira	são,	por	definição,	adeptos	de	uma	heterotopia	geográfica,	
sem	a	ascendência	de	nenhum	grupo.
A expansão da Geografia Cultural: o NEPEC
Em	1993,	foi	criado,	no	Departamento	de	Geografia	da	UERJ	(Universidade	do	
Estado	do	Rio	de	Janeiro),	o	NEPEC	(Núcleo	de	Estudos	e	Pesquisas	sobre	Espaço	e	
Cultura).	Criado	e	coordenado	por	Zeny	Rosendahl,	trata-se	de	um	pequeno,	porém	ativo	
centro	de	produção	e	difusão	no	Brasil	da	geografia	cultural.	Suas	pesquisas	direcionar-
se-iam	em	três	direções:	relações	entre	espaço	e	religião,	espaço	e	simbolismo	e	cultura	
popular.	A	ênfase,	contudo,	fixou-se	na	primeira	das	três	temáticas.
Em	1995,	foi	lançado,	pelo	NEPEC,	o	periódico	Espaço	e	Cultura,	com	dois	números	
por	ano.	Em	seu	Conselho	Consultivo	fazem	parte,	entre	outros,	Marvin	Mikesell,	Denis	
Cosgrove,	Paul	Claval,	representantes,	respectivamente,	da	perspectiva	saueriana,	da	
denominada	nova	geografia	cultural	e	da	visão	francesa	em	geografia	cultural.	O	teólogo	
Leonardo	Boff	(Teologia	da	Libertação)	também	é	membro	do	Conselho.	No	fim	de	2003,	
quinze	números	foram	publicados.
Em	1996,	aparece	a	série	de	 livros	 intitulada	Geografia	Cultural,	que	tem	uma	
difusão	mais	ampla	do	que	o	periódico.	Trabalhos	completos	de	um	geógrafo	brasileiro	
e	 coletâneas	 de	 importantes	 textos	 publicados	 originalmente	 em	 outra	 língua	 são	
publicados	na	coleção	que	já	possui	dez	livros	publicados.
Três	 simpósios	de	 âmbito	nacional	 foram	 realizados,	 em	 1998,	 2000	e	 2002,	
cada	um	16-20	“papers”	e	participação	de	120-200	pessoas,	estudantes,	pesquisadores	
e	professores	universitários.
Em	 2003,	 dez	 anos	 de	 existência,	 o	 NEPEC	 lança	 outra	 publicação,	 NEPEC	
TEXTOS,	de	produção	artesanal	e	destinada	à	divulgação	de	suas	próprias	pesquisas,	as	
quais	estão	fortemente	focalizadas	nas	relações	entre	espaço	e	religião.
Contudo,	 é	 preciso	 ressaltar	 e	 existência	 de	 outros	 focos	 autônomos,	 nos	
quais	a	geografia	cultural	constitui-se	em	prática	por	parte	de	alguns	geógrafos.	São	
universidades	públicas	que	têm	um	programa	de	pós-graduação	em	geografia,	entre	
elas	as	de	Goiânia,	Fortaleza,	Uberlândia	e	outras	universidades	na	cidade	do	Rio	de	
Janeiro.	A	produção	desses	focos	é	significativa	e	serão	comentados,	mais	adiante,	os	
livros	de	Almeida	e	Ratts,	Haesbaert	e	Monteiro.
65
A	expansão	da	geografia	cultural	no	Brasil	fez	com	que,	em	2003,	a	International	
Geographical	 Union	 (IGU)	 organizasse,	 por	 intermédio	 do	Working Group of Cultural 
Approach in Geography,	presidido	por	Paul	Claval,	uma	Conferência	Regional	sobre	a	
Dimensão	Histórica	da	Cultura.	Realizada	na	cidade	do	Rio	de	Janeiro,	reuniu	cerca	de	
100	“papers”,	60	de	brasileiros.
As traduções como estratégia de difusão
Os	organizadores	do	periódico	Espaço	e	Cultura	e	da	série	de	livros	intitulada	
Geografia	 Cultural	 têm	 tido,	 como	 uma	 de	 suas	 preocupações,	 contribuir	 para	
estabelecer	uma	sólida	base	teórica	na	geografia	cultural	brasileira.	O	cultural turn	que,	
no	Brasil,	 ocorreu,	 ainda	que	de	modo	 restrito,	 a	partir	 do	 início	da	década	de	 1990,	
poderia	 correr	 o	 risco	 de	 uma	 apropriação	 superficial	 e	 efêmera,	 transformando-se	
em	moda	a	ser	substituída	em	breve	por	outra.	A	apropriação	superficial	e	efêmera	já	
ocorrera	na	geografia	brasileira,	primeiramente,	com	a	denominada	geografia	teorético-
quantitativa,	por	volta	de	1970	e,	em	segundo	lugar,	com	a	geografia	radical,	de	matriz	
marxista,	 por	 volta	 de	 1980.	 Com	 a	 geografia	 humanista,	 a	 difusão	 e	 adoção	 foram	
mais	 efêmeras	 e	 limitadas	 ainda,	 e	 os	 seus	 poucos	 adeptos	 foram	 incorporados	 à	
geografia	cultural	na	década	de	1990.	A	tradução,	para	a	língua	portuguesa,	de	textos	
clássicos,	que	representam	posições	teóricas	nitidamente	identificáveis,	e	de	debates	
no	âmbito	da	geografia	cultural,	foi	uma	solução	encontrada.	Solução	condizente	com	
as	necessidades	e	vicissitudes	da	geografia	brasileira.
Dos	textos	traduzidos	e	publicados,	citam-se	os	de	Carl	Sauer	 (1998,	2000a,	
2000b),	incluindo	o	clássico	The Morphology of Landscape,	de	1925.	A	geografia	cultural	
da	Escola	de	Berkeley	está	ainda	representada	com	a	introdução	de	Readings in Cultural 
Geography,	de	Wagner	e	Mikesell	(2000).	A	denominada	nova	geografia	cultural,	por	sua	
vez,	está	presente	com	textos	referentes	às	críticas	à	Escola	de	Berkeley,	como	Duncan	
(2002)	e	Cosgrove	(1997).	Cosgrove	e	Jackson	(2000),	Cosgrove	(1998,	2000)	e	Duncan	
(2000)	apresentam	os	aspectos	fundamentais	da	geografia	cultural	 renovada.	Meinig	
(2002)	foi	incorporado	à	língua	portuguesa	pelo	seu	texto	sobre	as	dez	versões	de	uma	
mesma	paisagem.
A	contribuição	a	uma	perspectiva	marxista	da	geografia	cultural	levou	à	tradução	
do	texto	de	Williams	(2002)	sobre	base	e	superestrutura,	assim	como	ao	polêmico	artigo	
de	Mitchell	(1999),	seguido	das	réplicas	de	Cosgrove,	Duncans	e	Jackson	e	da	tréplica	
do	próprio	Mitchell.
 
A	geografia	francesa,	de	forte	influência	na	geografia	brasileira,	teve	traduzidos,	
entre	outros,	textos	de	Sorre	(2002),	sobre	os	“genres	de	vie”,	Gallais	(2002),	a	respeito	
do	 “espace	vécu”	nos	países	 tropicais,	 de	Bonnemaison	 (2002),	 sobre	o	 conceito	de	
território,	 assim	 como	 pequenos	 textos	 extraídos	 do	 debate,	 publicado	 em	 1981,	 na	
revista	 L’Espace	 Géographique.	 Paul	 Claval,	 fundador	 do	 periódico	 Géographie	 et	
Cultures,	tem	exercido	forte	e	fértil	 influência	na	geografia	cultural	brasileira.	Além	de	
66
seu	 Géographie Culturelle,	 traduzido	 e	 publicado	 pela	 EDUSC	 (CLAVAL,	 1999b),	 há,	
em	língua	portuguesa,	uma	avaliação	da	geografia	cultural	brasileira	 (CLAVAL,	1999a)	
e	dois	outros	textos	sobre	a	natureza	da	geografia	cultural	 (CLAVAL,	2002)	e	sobre	a	
contribuição	da	geografia	francesa	à	geografia	cultural	(CLAVAL,	2003).
Os	 textos	 indicados	 estão,	 sobretudo,	 na	 série	 de	 livros	 Geografia	 Cultural	
(CORRÊA;	ROSENDAHL,	1998,	2000a,	2000b,	2002	e	2003).	
A produção brasileira: uma seleção
Parcialmente	 influenciada	pelas	 traduções,	mas	dotada	de	 forte	 criatividade,	
a	 produção	 brasileira,	 em	 geografia	 cultural,	 tem	 crescido	muito	 a	 partir	 da	 década	
de	 1990.	Paisagem	cultural,	 percepção	e	 significados,	 religião	como	uma	construção	
cultural,	espaço	geográfico	e	literatura,	cinema	e	espaço	de	festas	populares,	tanto	o	
carnaval	do	Rio	de	Janeiro	como	festas	de	origem	rural,	território,	imaginário	e	identidade	
são	 alguns	 dos	 temas	 abordados	 e	 publicados	 (ROSENDAHL;	 CORRÊA,	 1999,	 2001a,	 
2001b,	2001c).
Pela	importância	que	apresentam,	foram	destacados	os	textos	sobre	religião	e	
espaço	de	Rosendahl	(1996,	1997,	1999),	de	Haesbaert	(1997),	Monteiro	(2002)	e	Almeida	
e	Ratts	(2003).
Espaço	e	religião	têm,	em	Rosendahl,	grande	ênfase.	A	partir	das	ideias	de	Mircea	
Eliade,	o	sagrado	e	o	profano	têm	sido	vistos	numa	perspectiva	geográfica.	A	autora	
propõe,	 inicialmente	 (ROSENDAHL,	 1996),	os	temas	 (a)	fé,	espaço	e	tempo:	difusão	e	
área	de	abrangência;	(b)	os	centros	da	convergência	e	irradiação;	(c)	religião,	território	
e	territorialidade;	e	(d)	espaço	e	lugar	sagrado:	percepção,	vivência	e	simbolismo.	Esses	
temas	foram,	posteriormente,	ampliados	e	agrupados	em	três	dimensões	de	análise,	
econômica,	política	e	do	lugar	(ROSENDAHL,	2003).	As	hierópolis	têm	sido	também	um	
foco	de	interesse	da	autora	(ROSENDAHL,	1999),	que	analisou	centros	de	peregrinação	
na	periferia	da	metrópole	do	Rio	de	Janeiro,	no	Nordeste	e	na	região	Centro-Oeste.	Seus	
interesses	estendem-se	a	centros	religiosos	latino-americanos	e	europeus.
A	 contribuição	 de	 Haesbaert	 (1997)	 situa-se	 nas	 confluências	 da	 geografia	
cultural	 e	 geografia	 regional.	 Ao	 Oeste	 do	 Estado	 da	 Bahia,	 analisa	 e	 interpreta	 as	
profundas	 transformaçõesregionais	 envolvendo	 mudanças	 econômicas,	 sociais,	
políticas	e	culturais,	com	a	substituição	da	cultura	tradicional	do	Nordeste,	associada	à	
pecuária	extensiva,	por	uma	cultura	moderna,	de	imigrantes	oriundos	do	Sul	do	Brasil	
e	 associada	 à	 agricultura	 especulativa	 da	 soja.	 A	 paisagem	 cultural	 é	 transformada	
radicalmente.
 
Espaço	geográfico	e	 literatura	constitui-se	em	tema	que,	nos	últimos	30	anos,	
tem	atraído	o	crescente	interesse	dos	geógrafos.	Douglas	Pocock	e	Marc	Brossseau,	por	
exemplo,	têm	grandes	contribuições	a	respeito.	No	Brasil,	onde	o	interesse	pela	temática	
tem	as	origens	no	começo	dos	anos	90,	destaca-se	o	livro	de	Monteiro	(2002),	O mapa 
67
e a trama.	 Geógrafo	 oriundo	 da	 climatologia,	 área	 na	 qual	 tornou-se	 um	 expoente,	
interessou-se,	 recentemente,	 pela	geografia	cultural,	 particularmente,	 pelas	 relações	
entre	espaço	e	literatura.
Em	 seu	 livro,	 romances	 de	 seis	 consagrados	 autores	 brasileiros	 são	
geograficamente	interpretados.	Três	–	Machado	de	Assis,	Aluísio	Azevedo	e	Lima	Barreto	
–	 retratam,	cada	um	a	seu	modo,	a	cidade	do	Rio	de	Janeiro	do	Século	XIX,	quando	
a	cidade	passa	por	grandes	transformações	socioespaciais.	Os	três	outros	autores	–	
Graça	Aranha,	Graciliano	Ramos	e	Guimarães	Rosa	–,	do	Século	XX,	retratam	o	mundo	
rural,	a	colonização	alemã	no	estado	do	Espírito	Santo,	o	drama	da	seca	no	Sertão	do	
Nordeste	e	a	vida	na	região	do	cerrado	em	Minas	Gerais.
 O mapa e a trama	representa	um	esforço	ampliado	e	sistemático	de	fortalecer	
a	 geografia	 cultural	 por	meio	 da	 interpretação	 geográfica	 de	 textos	 literários.	 Artigos,	
dissertações	de	mestrado	e	teses	de	doutorado	também	contribuíram	para	o	avanço	da	
geografia	cultural,	mas	ainda	há	muito	a	ser	feito.	Afinal,	a	heterogeneidade	cultural	do	
Brasil	suscitou,	de	um	lado,	uma	rica	literatura	de	cunho	urbano	e	regional	e,	de	outro,	
uma	rica	produção	geográfica.	O	diálogo	entre	ambos,	como	sugere	Brosseau	(1996),	
está	apenas	iniciado	no	Brasil.
 
Geografia	e	Leitura	Culturais,	coletânea	organizada	por	Almeida	e	Ratts	(2003),	
constitui-se	 em	 outra	 significativa	 expressão	 da	 produção	 brasileira	 em	 geografia	
cultural.	Reúne	doze	textos	de	geógrafos,	dos	quais	dez	são	brasileiros.	O	conjunto	de	
textos	 revela	uma	visão	ampla	do	que	se	entende	por	cultura	e	geografia	cultural.	A	
influência	francesa,	cuja	matriz	reside	na	Escola	Vidaliana	e	é	mantida	graças	à	forte	
e	fértil	influência	de	Paul	Claval,	está	presente	na	maior	parte	dos	textos.	A	influência	
da	Escola	de	Berkeley	e	da	denominada	nova	geografia	cultural	é	praticamente	nula,	
refletindo,	 sem	 dúvida,	 a	 matriz	 francesa	 na	 formação	 dos	 geógrafos	 brasileiros,	
iniciada	com	a	criação	do	primeiro	departamento	de	geografia	(e	história)	em	1934,	na	
Universidade	de	São	Paulo.	
Os	 textos	 incluem	uma	variedade	 de	 temas,	 paisagem	 cultural,	 percepção	 e	
imaginário,	 os	 territórios	 indígena	e	de	ex-escravos	 (quilombos),	 sistema	de	cidades,	
cemitérios,	festa	popular	e	cartografia	cultural.	Agricultores,	ciganos,	índios	e	citadinos	
de	diferentes	classes	sociais	são	os	atores	sociais	que	os	textos	abordam.	O	presente,	
por	sua	vez,	entendido	como	uma	seção	atual	do	tempo,	dotado	de	longa	espessura,	é	
privilegiado	nos	textos	da	coletânea	organizada	por	Almeida	e	Ratts.	A	região	Nordeste,	
em	cujas	universidades	leciona	grande	parte	dos	autores,	é	o	foco	principal	de	interesse.	
Regiões	como	a	Amazônica	e	o	Sul	estão	ausentes	da	coletânea.
 
Apesar	de	muitos	dos	doze	artigos	não	revelarem	uma	explícita	base	teórica,	
caracterizando-se	 como	 descrições	 ou	 interpretações	 superficiais,	 trata-se	 de	 um	
grande	esforço	que	representa	um	grande	passo	no	processo	de	construção	de	uma	
sólida	e	rica	geografia	cultural	brasileira.
68
	Os	geógrafos	brasileiros	iniciaram	apreciação	da	obra	de	expoentes	da	geografia	
cultural	 e	 humanista.	 Sauer,	 Schluter,	 Tuan,	 Dardel	 e	 Berque	 já	 foram	 apreciados	
(ROSENDAHL;	CORRÊA,	2001a).
Perspectivas para a pesquisa
Com	uma	 superfície	 de	 8,5	milhões	 de	 km2 e	 uma	população	 superior	 a	 170	
milhões	de	habitantes,	a	geografia	cultural	tem	muito	mais	a	fazer.	Especialmente	porque	
rápidos	e	intensos	processos	de	transformações	econômica,	social	e	cultural	alteram	a	
distribuição	espacial	da	população,	valores,	hábitos	e	crenças,	a	paisagem	cultural	e	
os	 significados	 atribuídos	 à	 natureza	 e	 às	 formas	 socialmente	 produzidas.	Ainda,	 há	
áreas	 para	 povoamento.	 País	 industrializado	 e	 urbanizado,	 com	 moderna	 atividade	
agropecuária	 e	 áreas	 de	 fronteira	 de	 povoamento,	 o	 Brasil	 oferece	 contrastes	 que	
incluem	desde	a	região	metropolitana	de	São	Paulo,	com	18	milhões	de	habitantes,	até	
selvagens	vales	da	bacia	amazônica,	áreas	de	colonização	alemã	e	áreas	de	decadentes	
plantações	canavieiras.	Ainda,	áreas	com	fortes	conflitos	pela	terra.
As	perspectivas	para	a	pesquisa	em	geografia	cultural	são	imensas.	Admite-se	
que	pesquisas	empíricas	em	um	contexto	policultural	como	o	Brasil	podem	alimentar	
novos	conceitos	e	ampliar	a	base	teórica	da	geografia	cultural.	Hipotetiza-se,	a	partir	
da	 produção	 brasileira	 em	 geografia	 cultural,	 que	 conceitos	 como	 regiões	 culturais	
emergentes,	regiões	culturais	residuais,	paisagem	poligenética	e	simulacros	espaços-
temporais	(disneyfi	cation)	possam	ser	enriquecidos	a	partir	do	Brasil,	país	de	contrastes	
culturais	e	de	forte	dinamismo	espacial.
FONTE: CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. A geografia cultural no Brasil. Rio de Janeiro: Universidade 
Federal do Rio de Janeiro, 2005.
69
Neste tópico, você aprendeu:
•	 Por	traz	dos	resultados	de	uma	geografia	cultural	sólida	no	Brasil,	houve	um	processo	
de	formação	da	subdisciplina	que	 iniciou	academicamente	no	decorrer	da	década	de	
1930,	com	a	criação	de	órgãos	e	cursos	de	geografia.	A	influência	francesa	predominou	
com	perspectivas	regionais	de	Deffontaines	e	demais	geógrafos.	Quanto	à	introdução	
cultural	na	geografia,	esta	restringiu-se	a	aparições	sutis	como	partes	dos	estudos	
regionais,	 evidenciadas	 pelas	 construções	 de	 templos	 de	 igrejas	 e	manifestações	
culturais	visíveis.
•	 A	geografia	cultural	passou	por	algumas	fases	em	âmbito	global	e	no	Brasil.	Uma	
reflete	 a	 negligência	 pelo	 interesse	 da	 dimensão	 cultural	 encontrado	 no	 espaço,	
principalmente	 pelos	 modos	 vidaliano,	 o	 teorético	 quantitativo	 e	 o	 materialismo	
histórico	 e	 dialético.	 Todos	 apontavam	 secundariamente	 os	 aspectos	 culturais,	
embora	 o	 período	 de	 1980	 fosse	 favorável	 em	 virtude	 da	 alta	 renovação	 cultural	
ocorrida	na	Europa.	No	Brasil,	ainda	havia	retração,	não	sendo	aceitas,	de	imediato,	
as	perspectivas	da	virada	cultural.
•	 A	virada	cultural	tornou-se	efetiva	no	Brasil	em	1990,	período	em	que	se	desenvolveu	
uma	 efetiva	 preocupação	 pela	 dimensão	 cultural	 do	 espaço.	 Houvre	 busca	 de	
conhecimento	evidenciada	por	traduções	de	textos	clássicos	para	 língua	portuguesa,	
além	do	cuidado	com	as	bases	teóricas	escritas	por	autores	diversos	e	com	diferentes	
linhas	de	pensamentos.
 
•	 Quando	tratamos	das	pesquisas	de	ordem	cultural	na	geografia,	ao	invés	de	excluir,	
trata-se	de	agregar,	além	de	repensar	conceitos,	modelos	teóricos	e	crenças.	Torna-
se	um	ato	de	reflexão	o	estudo	da	espacialização	da	cultura.	A	exemplo	da	paisagem,	
ela	 torna-se	 além	 de	 um	 reflexo	 social	 do	 passado/presente,	 são	 adicionados	 o	
sentimento,	a	emoção	entre	o	observador	e	a	paisagem.
•	 No	Brasil,	os	estudos	de	geografia	cultural	tomaram	forma	com	a	criação	de	núcleos	
de	 pesquisas,	 a	 exemplo	 do	 NEPEC,	 NEER	 e	 NUPPER.	 Eles	 tiveram	 um	 papel	
fundamental,	 incentivaram	a	comunidade	de	geógrafos	por	meio	da	diversidade	e	
com	características	ricas	e	enérgicas	da	cultura	presente	no	território	e	povo.
RESUMO DO TÓPICO 3
70
AUTOATIVIDADE
1	 Analisamos	que,	desde	a	formação	da	geografia	acadêmica	na	década	de	1930,	até	
meados	de	 1980,	 a	 geografia	 cultural	 foi	 negligenciadapor	vários	motivos.	Assim,	
assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 A	geografia,	no	Brasil,	por	ter	influência	francesa,	atribuiu	os	aspectos	culturais	
aos	estudos	regionais.	A	associação	aprisionou	e	limitou	a	consciência	de	cultura	
e	sua	manifestação	no	espaço.
b)	 (			)	 A	escola	francesa	de	geografia	constituiu	uma	matriz	 importante	na	geografia	
brasileira.	Ela	se	caracterizou	pela	priorização	da	cultura	nos	estudos	regionais.	
c)	 (			)	 A	geografia	cultural	brasileira,	assegurada	pelas	influências	suariana	e	vidaliana,	
motivou	a	prática	reprimida	dos	estudos	de	cultura	na	geografia.
d)	 (			)	 Os	 geógrafos	 brasileiros	 defendiam	 a	 perspectiva	 da	 geografia	 cultural	 como	
subdisciplina	da	geografia.				
2	 O	 Brasil	 possui	 uma	 extensão	 territorial	 acima	 dos	 8,5	 milhões	 de	 quilômetros	
quadrados,	 número	 que	 o	 eleva	 à	 categoria	 de	 quinto	maior	 país	 em	 dimensões	
territoriais	 da	 terra.	 Além	 disso,	 a	 estimativa	 populacional,	 para	 2019,	 segundo	 o	
IBGE,	ultrapassa	a	casa	dos	210	milhões	de	habitantes	entre	estados	e	municípios.	
Assim,	compreendemos	a	combinação	de	fatores	dimensionados	em	números,	como	
aqueles	de	origem	qualitativa,	que	produzem	efeitos	dinâmicos	na	sociedade,	que	
podem	ser	observados	pela	espacialização	da	cultura	na	geografia	cultural.	Corrêa	e	
Rosendahl	(2005,	p.	101)	afirmaram	que	a	geografia	cultural	tem	uma	missão	ampla,	
direcionada	pela	força	dinâmica	das	 “transformações	econômicas,	sociais	e	culturais.	
Estas	 alteram	 a	 distribuição	 espacial	 da	 população,	 valores,	 hábitos	 e	 crenças,	 a	
paisagem	cultural	e	os	significados	atribuídos	à	natureza	e	às	formas	socialmente	
produzidas”.	A	partir	das	informações,	o	que	querem	dizer	Correia	e	Rosendahl	(2005)	
sobre	as	perspectivas	de	estudo	no	âmbito	da	geografia	cultural?
FONTE: CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. A geografia cultural no Brasil. Rio de Janeiro: Universidade 
Federal do Rio de Janeiro, 2005. p. 97-102. 
a)	 (			)	 O	estudo	da	geografia	cultural	encontra-se	saturado,	pois	seu	campo	de	atuação	
já	compreendeu	todo	universo	policultural	do	Brasil.
b)	 (			)	 A	 geografia	 cultural	 possui	 um	 perfil	 de	 pesquisa	 dinâmico.	 Assuntos	 de	
interesse	são	paisagem	cultural,	espaço	geográfico	e	literatura,	religião,	território,	
identidade,	exceto	festas	populares.
c)	 (			)	 As	perspectivas	para	a	pesquisa	no	âmbito	da	geografia	cultural	são	inúmeras,	
visto	 o	 amplo	 campo	de	 pesquisa,	 além	de	 o	Brasil	 possuir	 fortes	 contrastes	
culturais	e	intensa	dinâmica	espacial.	
d)	 (			)	 Nenhuma	das	alternativas	está	correta.	
71
3	 O	período	da	construção	da	geografia	cultural	no	Brasil	foi	marcado	por	uma	escala	
temporal	e,	a	partir	de	1990,	a	dimensão	espacial	da	cultura	passou	por	um	processo	de	
expansão,	ou	seja,	de	um	relativo	desconhecimento	do	subcampo	ao	conhecimento	e	
aceitação.	De	acordo	com	a	afirmativa,	é	correto	afirmar	que:
a)	 (			)	 Ao	chegar	na	década	de	1990,	a	geografia	cultural,	apesar	de	ter	crescido	em	
pesquisa	e	prática,	aos	poucos,	a	subcampo,	sofreu	um	processo	de	estagnação.	
b)	 (			)	 A	década	de	 1990	corresponde	a	um	processo	de	 renovação	e	 efetivação	da	
geografia	cultural	brasileira.	A	preocupação	estava	em	receber	as	influências	da	
virada	cultural	e	aderir	a	análises	fenomenológicas,	vislumbrando	as	dimensões	
afetivas	e	sensoriais.			
c)	 (			)	 A	década	de	1990	representou	um	divisor	de	águas	para	a	geografia	cultural.	Com	
a	virada	cultural	aceita,	novos	materiais	foram	traduzidos	para	língua	portuguesa,	
alguns	núcleos	de	pesquisa	cultural	foram	abertos,	periódicos	criados,	eventos	
da	área	disseminados	e	estratégias	vieram	a	favorecer	a	expansão	da	geografia	
cultural.	
d)	 (			)	 Todas	as	alternativas	estão	corretas.
72
73
ESPAÇO E CULTURA: UM BALANÇO 
FUNDAMENTAL, UM CAMINHO 
PARA A CONTEMPORANEIDADE
UNIDADE 2 — 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 compreender	o	conhecimento	geográfico	como	meio	introdutório	à	elevação	siste-
matizada	da	geografia,	percebendo	as	influências	de	elementos	culturais	no	seu	de-
senvolvimento,	e,	como	meio	extensivo,	entender	os	 rumos	tomados	pela	geografia	
cultural	em	meio	às	escolas	e	matrizes	epistemológicas	do	pensamento	geográfico;	
•	 conhecer	algumas	das	contribuições	propostas	pelo	francês	Paul	Claval,	que	geraram	
o	desenvolvimento	da	geografia	cultural	de	maneira	ampla	e	democrática;
•	 discutir	algumas	reflexões	a	respeito	da	concepção	das	formas	simbólicas	espaciais,	
desde	a	conceituação	aos	exemplos	de	dispersões	ou	materialização	na	superfície	
terrestre	e	paisagens;
•	 relacionar	os	aspectos	conceituais	da	paisagem,	identidade,	território	e	territorialidade,			
como	fenômenos	de	ordem	da	geografia	cultural;
•	 compreender	 os	 estudos	 da	 geografia	 cultural	 segundo	 as	 dimensões:	 música,	
literatura	e	imagem,	como	representantes	da	categoria	das	expressões	culturais;
•	 apresentar	 algumas	possibilidades	 de	 introduzir	 reflexões	 da	 geografia	 cultural	 na	
matéria	escolar	da	geografia,	como	a	extensão	de	assuntos	vistos	no	âmbito	uni-
versitário	para	o	entendimento	e	discussões	em	sala	de	aula,	à	luz	da	Base	Nacional	
Comum	Curricular.
	 A	cada	tópico	desta	unidade	você	encontrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	
reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO	1	–	 APROFUNDAMENTO	DAS	PERSPECTIVAS	E	APLICAÇÕES	DO	
CONHECIMENTO	GEOGRÁFICO	FRENTE	À	INTERPRETAÇÃO	DA	GEOGRAFIA	
CULTURAL
TÓPICO	2	–	APOIOS,	DINAMISMO	E	RESISTÊNCIA	DA	COMPOSIÇÃO	DA	GEOGRAFIA	
CULTURAL
TÓPICO	3	–	POSSIBILIDADES	DE	ESTUDO	A	PARTIR	DA	COMPREENSÃO	DAS	
DIMENSÕES	CULTURAIS	DO	ESPAÇO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
74
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 2!
Acesse o 
QR Code abaixo:
75
TÓPICO 1 — 
APROFUNDAMENTO DAS PERSPECTIVAS 
E APLICAÇÕES DO CONHECIMENTO 
GEOGRÁFICO FRENTE À INTERPRETAÇÃO 
DA GEOGRAFIA CULTURAL
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico,	seja	bem-vindo	à	Unidade	2.	A	partir	deste	momento,	
convidamos	você	a	aprofundarem	os	seus	conhecimentos	a	 respeito	da	
disciplina	da	geografia,	a	Geografia	Cultural.	A	proposta	permite	que	cada	
um	 entenda	 que	 a	 cronologia	 dos	 fatos	 representados	 pela	 dimensão	
tempo	–	espaço	não	se	passou	rapidamente,	como	vem	sendo	contada	
em	 parágrafos	 curtos,	 mas	 ela	 cruza	 séculos	 até	 o	 presente	momento.	 A	 geografia	
absorveu,	 verdadeiramente,	 cada	 transformação	 social,	 cultural,	 econômica,	 natural,	
compreensões	 objetivas,	 subjetivas,	materiais	 e	 imateriais,	 até	 se	 elevar	 à	 categoria	
de	ciência,	mesmo	quando	se	tornou	um	conhecimento	sistematizado.	A	inquietação	
por	métodos	 e	 novas	 possibilidades	 de	 pesquisa	 fez	 ela	 se	 arriscar	 e	meandrar	 por	
discussões	diversas	e	heterotópicas.
Neste	 tópico,	 serão	 desenvolvidos,	 além	 da	 introdução	 às	 temáticas,	 três	
assuntos	complementares:	geografia:	o	conhecimento	que	está	em	toda	parte?;	notas:	
do	nascimento	da	geografia	escolar	a	uma	geografia	universitária;	os	primeiros	estudos	
contemporâneos	da	geografia	 cultural:	 uma	breve	compreensão.	Ao	fim	das	 leituras,	
serão	 introduzidos,	 de	 maneira	 complementar,	 o	 resumo	 referente	 ao	 tópico	 e	 as	
autoatividades.
A	temática	“geografia:	o	conhecimento	que	está	em	toda	parte?”	buscou,	através	
de	um	diálogo,	compreender,	em	períodos	anteriores,	a	formação	da	sistematização	da	
ciência	geográfica	e	sua	relação	e	alinhamento	com	assuntos	encontrados	nos	estudos	
da	 geografia	 cultural.	 Alguns	 materiais	 dispensam	 a	 história	 dos	 desenvolvimentos	
humano	 e	 espacial,	 por	 entenderem	que	 assuntos	 que	vieram	antes	 da	 ciência	 não	
fazem	 parte	 dela,	 porém,	 enquanto	 geógrafos	 da	 ordem	 cultural,	 a	 abordagem	 de	
outrora	possui	significado	e	contribuições	para	a	compreensão	dos	processos.
 
As	 “notas:	do	nascimento	da	geografia	escolar	a	umageografia	universitária”	
propõem	 ser	 a	 continuidade,	 prolongando	 as	 discussões	 acerca	 do	 processo	 da	
escolarização	 e	 a	 introdução	 da	 disciplina	 da	 geografia	 em	 anos	 iniciais	 de	 escolas	
europeias,	até	chegarmos	à	evolução	discursiva	da	geografia	enquanto	conhecimento	
sistematizado.
76
Por	fim,	abordaremos	as	discussões	dos	rumos	que	a	geografia	cultural	tomou,	
segundo	as	escolas	estadunidense,	inglesa	e	francesa,	e	matrizes	epistemológicas	de	
pesquisas	disseminadas,	 a	 exemplo	dos	materialismos	histórico	e	dialético,	 fenome-
nologia	e	a	hermenêutica.	Nomes	como	Denis	Cosgrove,	Petter	Jakcson,	Yi	–	Fu	Tuan,	
Armand	Frémont,	Augustin	Berque,	Pierre	Raison,	Joël	Bonnemaison,	Robert	Pitte,	De-
barbieux	e	Michel	Lussault	nortearam	a	discussão	contemporânea	da	geografia	cultural.
Caro acadêmico, a palavra heterotopia (aglutinação de hetero = outro 
+  topia  = espaço) é um conceito da  geografia humana, elaborado 
pelo filósofo Michel Foucault, que descreve lugares e espaços que 
funcionam em condições não  hegemônicas. Foucault usa o termo 
heterotopia para descrever espaços que têm múltiplas camadas de 
significação ou de relações a outros lugares, cuja complexidade não 
pode ser vista imediatamente.
FONTE: FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia 
das ciências humanas. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
NOTA
2 GEOGRAFIA: O CONHECIMENTO QUE ESTÁ EM TODA 
PARTE?
Acadêmico,	 se	 voltarmos	 ao	 entendimento	 do	 caminho	 que	 a	 geografia	 fez	
enquanto	 ciência,	 vamos	 nos	 deparar	 com	 uma	 longa,	 antiga	 e	 ativa	 trajetória	 que	
se	fez	e	refez,	tornando,	sempre	possível,	optar	entre	as	clássicas	ou	atuais	linhas	de	
pesquisa.	 As	 novidades	 ou	 novas	 respostas	 às	 discussões	 antigas	 são	 intrínsecas,	
pois	 a	 sua	 dinâmica	 propicia	 novas	 interpretações	 aos	 fenômenos,	 mesmo	 àqueles	
de	outrora	existentes.	As	relações	socioespaciais	não	são	fixas,	elas	estão	sempre	em	
movimento.	As	paisagens,	as	distribuições	espaciais,	as	relações	 interculturais,	todas	
variam,	as	regras	mudam,	e,	por	vezes,	tornam-se	exceções.	É,	dentro	desse	processo,	
que	a	geografia	pode	ser	percebida	e	analisada,	independente,	nas	dimensões	coletivas	
ou	individuais.
Então,	é	viável	dizer,	metaforicamente,	que	a	geografia	pode	ser	encontrada	nos	
quatro	cantos	da	Terra?	Em	tempos	pretéritos?	Sim,	com	isso,	levamos	em	consideração	
não	 apenas	 os	 quesitos	 naturais,	 aqueles	 estabelecidos	 pela	 geografia	 física,	mas	 a	
humanização,	 na	 prática	 da	 expressão	 “quatro	 cantos	 da	 Terra”.	 Generosamente,	 a	
interpretação	da	geografia	cultural	propõe	a	compreensão	de	que	a	relação	homem	e	
espaço	demonstra	uma	versatilidade	conteudística.
77
A expressão “quatro quantos da Terra” pode ser considerada uma 
metáfora. Esse sentido figurado se reporta à orientação geográfica 
dos principais pontos cardeais, norte, sul, leste e oeste, e não à 
forma geométrica, a exemplo do quadrado equivalente à formação 
das medidas do ângulo reto.
NOTA
FIGURA 1 – ROSA DOS VENTOS
FONTE: O autor
A	 geografia	 é	 uma	 ciência	 que	 pode	 ser	 analisada	 por	 prismas	 diferentes,	
mas	 sempre	 atenuando	 as	 relações	 com	 o	 espaço	 e	 as	 dinâmicas	 da	 sociedade.	
Embora	muitos	não	saibam,	o	conhecimento	da	geografia	se	 inicia	com	a	apreensão,	
experiência	e	descoberta,	através	do	senso	comum.	Possivelmente,	esse	conhecimento	
geográfico	acompanha	o	homem	desde	a	sua	existência,	atravessando	séculos,	até	o	
estabelecimento	como	ciência.
 
Esta	parte	busca	trazer	tais	informações,	visando	estabelecer	uma	linha	crono-
lógica	de	fatos,	portanto,	será	notório	o	resgate	histórico	da	dinâmica	do	conhecimento	
geográfico.	Possivelmente,	vocês	também	perceberão	trechos	que	sinalizarão	as	forças	
espiritual	e	religiosa	na	formação	da	sociedade	e	construção	dos	seus	espaços.
 
Na	 sua	 interpretação,	 Lencioni	 (2003)	 indica	 que,	 antes	 do	 conhecimento	
sistematizado	 elevado	 à	 categoria	 científica,	 o	 homem	 obteve	 o	 conhecimento	 da	
geografia	por	meio	de	conexões	com	o	espaço,	gerando,	então,	a	interpretação	de	mundo	
desde	as	civilizações	passadas,	ou	seja,	essas	perspectivas	podem	ser	apontadas.
78
FIGURA 2 – PLACA DA CONCEITUAÇÃO
FONTE: Adaptado de Lencioni (2003)
Uma	 se	 refere	 à	 era	 pré-histórica	 do	 pensamento	 geográfico,	 permeando	 a	
linha	 da	 curiosidade	 e	 as	 experiências	 coletivas	 despretensiosas,	 sem	vínculo	 científico	
comprovado	por	meio	de	métodos.	Esse	primeiro	contato	com	os	elementos	geográficos	
se	 torna	 intrínseco	 à	vivência	 humana,	 cujo	 ciclo	 remete	 à	 produção	de	 interpretações	
socioespaciais	expressas.
 
Uma	 segunda	 perspectiva	 reflete	 o	 lema	 característico	 da	 ciência,	 que	 gera	
o	aprofundamento	do	conhecimento	de	algo	ou	algum	fenômeno.	Para	tal	proposta,	
existem	meios	que	 levam	à	sapiência	de	determinados	assuntos,	geralmente,	com	a	
organização	 sistematizada	 do	 conteúdo.	 Embarcando	 com	 a	 proposta	 de	 se	 tornar	
ciência	 com	 respectiva	 autonomia,	 a	 geografia	 se	 apresentou	 como	 conhecimento	
científico,	aproximadamente,	no	fim	do	século	XIX.
 
Apesar	 de	 considerarmos,	 atualmente,	 que	 o	 saber	 geográfico	 evoluiu	 em	
relação	 a	 épocas	 passadas,	 admitimos,	 claramente,	 que	 os	 conhecimentos	 dos	
aspectos	geográficos	às	 luzes	cartográficas	registraram	o	modo	de	vida	de	 inúmeras	
comunidades.
 
Quando	tratamos	dos	povos	pré-históricos,	 ressaltamos	que	a	sabedoria	dos	
deslocamentos	 não	 obteve	 registros	 a	 partir	 da	 escrita,	 para	 validação	 científica	 da	
precisão,	mas,	com	uma	característica	rudimentar	e	inteligente,	a	comunicação	ocorreu	
por	meio	das	inscrições	rupestres,	e	passou	a	ser	uma	aliada	estratégica	para	povos	se	
desenvolverem.	 Esses	 desenhos	 descritivos	 eram	 projetados	 nas	 rochas	 por	meio	 de	
pinturas,	ou	entalhados/esculpidos,	com	os	próprios	artefatos	rochosos.
 
79
Todo	 esse	 perfil	 de	 conhecimento	 teve,	 como	 objetivo,	 a	 capacidade	 de	
compreensão	 da	 terra	 a	 partir	 de	 uma	 visão	 de	 mundo	 particular,	 por	 meio	 da	
autoidentificação	 dos	 povos,	 da	 catalogação	 das	 espécies	 selvagens,	 caça	 e	 coleta,	
das	constelações,	eventos	naturais	de	dimensões	astronômicas,	primeiras	noções	de	
representação	cartográfica,	 todos	encontrados	nas	 inscrições	 rupestres,	que	tiveram	
início	 com	 os	 povos	 pré-históricos,	 auxiliando-os	 a	 catalogarem	 territórios,	 rotas	 e	
localizações.	Por	motivos	migratórios,	tudo	isso	se	fazia	necessário.
 
Como	meio	auxiliar,	trouxemos	algumas	imagens,	entre	inúmeros	acervos,	que	
representam	a	evolução	da	percepção	do	homem	a	respeito	do	espaço.	Destacamos	as	
figuras	referentes	à	caverna	de	Altamira,	na	Espanha,	o	mapa	remanecente	da	região	
de Gar	–	Sur,	e	uma	das	figuras	das	pedras	itaquatiara	do	Ingá,	localizado	na	Paraíba.
Esses	desenhos	são	datados	da	era	paleolítica,	e	se	distribuem	nas	rochas	em	
formas	abstratas,	animais	e	outros	seres	míticos.
FIGURA 3 – ARTE RUPESTRE EM ALTAMIRA – ESPANHA
FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/d0/41/e6/d041e6b2b19c8875740372447a6ca1be.jpg>. 
Acesso em: 2 set. 2020.
O	 exposto	 a	 seguir	 é	 uma	 pequena	 representação	 geográfica,	 em	 argila,	 do	
espaço	 de	Gar	 –	 Sur,	 um	dos	mapas	mais	 antigos	 referentes	 à	vivência	 dos	 grupos	
primitivos	 que	 habitavam	 a	 Mesopotâmia.	 São	 encontrados	 pontos	 de	 referência	
naturais,	a	exemplo	da	cadeia	montanhosa	e	do	rio	Eufrades.
80
FIGURA 4 – MAPA REMANESCENTE DA REGIÃO DE GAR - SUR
FONTE: <https://3.bp.blogspot.com/-0WF8aZDAdvY/VOM4bJVYuKI/AAAAAAAAADQ/9Y07QInb6P8/
s1600/2.jpg>. Acesso em: 4 set. 2020.
A	 seguir,	 um	 monumento	 arqueológico	 com	 inscrições	 rupestres	 localizado	
no	estado	da	Paraíba,	mais	precisamente,	na	cidade	de	Ingá,	onde	as	figuras	expostas	
nas	 rochas	 gnaisse	 são	 compreensíveis	 constelações,	 como	 a	 de	 Órion,	 animais,	
representações	humanas	etc.
FIGURA 5 – PEDRA ITAQUATIARA DO INGÁ – PARAÍBA
FONTE: <https://www.destinoparaiba.pb.gov.br/wp-content/uploads/2019/08/agreste-N00000181-Itacoatiara-Ing%C3%A1-PB-www.caciomurilo.com_.jpg>. Acesso em: 2 set. 2020. 
81
Com	todo	esse	aparato	 icnográfico,	pode-se	entender	que	o	senso	de	repre-
sentação	do	espaço	geográfico,	assim	como	uma	prévia	organização	espacial,	estabe-
leceu-se	desde	períodos	passados.	Entende-se,	também,	como	o	desenvolvimento	da	
ciência	cartográfica	e	da	geografia	se	tornou	instrumento	de	análise	para	fenômenos	
naturais	 que	 ocorrem	no	 espaço,	 além	das	 interações	 socioculturais	 compreendidas	
nas	mesmas	zonas	espaciais.
O	livro	Espaço e religião: uma abordagem geográfica	(1996),	de	Zeny	Rosendahl,	
possui	um	tópico	a	 respeito	da	origem	das	cidades	e	do	papel	do	sagrado.	Permeando	
duas	linhas	de	abordagem,	a	primeira	com	o	papel	ativo	da	religião	e,	o	segundo,	com	os	
aspectos	técnicos	e	econômicos	do	nascimento	da	vida	e	a	estrutura	urbana,	Rosendahl	
(1996)	discute,	principalmente,	a	 relação	dos	antigos	santuários	paleolíticos	como	forma	
de	evolução.	Como	tudo	isso	existiu?	Segundo	a	criação	e	desenvolvimento	das	cidades	
à	luz	da	religião,	tais	insinuações	não	partem	apenas	da	autora,	mas	de	um	elenco	de	
profissionais,	pesquisadores,	como	Eliade,	Coulanges,	Mumford,	Tuan	etc.
 
Para	a	geografia	da	religião,	a	era	paleolítica	estava	além	das	inscrições	rupestres	
e	 localizações	espaciais,	 pois	 as	cavernas	eram	compreendidas	como	santuários,	 os	
homens	as	reconheciam	a	partir	de	um	significado,	cada	gruta	se	referenciava,	também,	
pelo	 elo	 sobrenatural,	 divino	 e	místico.	 Em	virtude	 das	 práticas	 de	 fé,	 esse	 lugar	 ou	
lugares	atraíam	homens	e	famílias	inteiras	para	praticar	e	compartilhar	as	experiências	
vividas	pelo	viés	espiritual.
As	cavernas,	por	exemplo,	não	representavam	apenas	abrigo	e	lugar	
de	expressão	artística.	Exerciam,	também,	um	poder	de	atração	para	
homens	 vindos	 de	 muito	 longe,	 atraídos	 pelo	 estímulo	 espiritual,	
para	compartilhar	as	mesmas	práticas	mágicas	ou	crenças	religiosas	
(ROSENDAHL,	1996,	p.	40).
 
A	evolução	e	a	percepção	da	ciência,	da	geografia	cultural	e	da	religião	estiveram	
ligadas,	 intrinsicamente,	 à	 evolução	 das	 sociedades	 humana	 e	 urbana,	 assim	 como	
foi	 exposto	 desde	 a	 era	 paleolítica.	 “As	 famílias	viviam	em	 seu	próprio	 lar,	 possuíam	
seu	próprio	deus,	seu	próprio	oratório,	seu	próprio	cemitério,	falando	a	mesma	língua	
e	participando	de	um	modo	de	vida	semelhante”	 (ROSENDALH,	1996,	p.	40-41).	Essa	
afirmativa	não	quer	dizer	que	os	paleolíticos	eram	urbanizados,	mas	foram	semeadores	
desse	modo	de	vida.
Quando	 os	 povos	 são	 retratados,	 fica	 evidenciado	 que,	 apesar	 deles	 serem	
singulares,	tendo	em	vista	que,	individualmente,	eles	se	apresentavam	cada	um	com	seus	
hábitos,	costumes	e	cultura,	entende-se	que	tal	formação	demonstra	o	início	de	uma	
futura	vida	urbana	que	pode	se	tornar	real	a	partir	do	momento	em	que	comunidades	ou	
povos	específicos	passam	a	não	hostilizar,	mas	a	respeitar	culturas	diversas,	 incluindo,	
principalmente,	 a	 união	 e	 reverência	 a	 deuses.	No	 caso,	 é	 perceptível	 a	 importância	
dada	ao	universo	religioso	frente	à	criação	das	primeiras	cidades.
82
Prosseguindo,	 a	 respeito	 do	 sagrado,	 Rosendahl	 (1996)	 expõe	 que	 a	 força	
do	 desenvolvimento	 das	 comunidades,	 no	 período	 neolítico,	 não	 anulou	 a	 presença	
do	 sagrado	 na	 paisagem,	 pois	 os	 santuários	 tribais,	 pirâmides	 e	 centro	 cerimonial	
continuaram	a	existir,	com	um	adendo,	que	agregou,	ao	seu	então	valor,	o	sentido	de	
elementos	de	referência	cultural.
A	tendência	do	tema	religião	continua	com	o	desenvolvimento	socioespacial.	
Ela	passou	a	ser	 interpretada,	com	frequência,	com	o	surgimento	de	cidades	e	suas	
autoridades	outorgadas:	“a	cidade	foi	erguida	pela	vontade	de	Deus,	e	o	‘sacerdote-rei’	
era	o	símbolo	do	todo	poderoso,	era	um	ser	semidivino,	um	intermediário	entre	o	céu	e	
a	terra.	O	cocriador	do	cosmo”	(ROSENDAHL,	1996,	p.	42).
Concordamos	 que	 esse	 processo	 de	 desenvolvimento	 socioespacial	 comungou	
com	a	 evolução	 da	 ciência	 geográfica.	 Segundo	Sodré	 (1982),	 a	 geografia	 apresenta	
uma	história	anterior	a	muitas	outras	ciências,	podendo	ser	considerada	a	mais	antiga,	
tendo	em	vista	que	suas	evidências	históricas	advêm	de	tempos	de	outrora.
Porém,	 desde	 o	 início,	 esse	 conhecimento	 se	 apresenta	 dividido	
entre	duas	tendências	oposta	ou	complementares.	De	um	 lado,	os	
geômetras	 e	 os	 astrônomos;	 do	 outro,	 os	 políticos,	 que,	 sensíveis	
aos	 aspectos	 do	 quadro	 natural,	 das	 produções,	 dos	 povos,	 e	 dos	
seus	costumes,	refletem	a	respeito	das	relações	entre	os	diferentes	
territórios	e	as	várias	sociedades	humanas.	Os	périplos,	as	conquistas,	
os	contatos	com	o	mundo	bárbaro	vão,	paulatinamente,	alargando	o	
horizonte	geográfico	(PEREIRA,	1999,	p.	83).
Em	uma	 linha	cronológica,	pode-se	perceber	que	a	evolução	organizada	dos	
conhecimentos	e	técnicas	contribuiu	para	a	aprendizagem	dos	elementos	geográficos,	
que	acompanharam	a	rotina	dos	povos	e,	principalmente,	para	o	desenvolvimento	da	
futura	ciência	geográfica.
 
O	 período	 da	 antiguidade	 clássica	 foi	 representado,	 sobretudo,	 pela	 Grécia	
antiga.	 Foi	 ela	 que,	 praticamente,	 embalou	o	nascimento	da	 civilização	do	ocidente,	
com	 a	 preconização	 e	 o	 fortalecimento	 das	 ciências,	 principalmente,	 a	 filosofia,	
considerada	a	mãe	do	conhecimento	científico,	do	saber	racionalizado,	das	artes	e	da	
estética	expressa	pela	percepção	humana	(IBGE,	2020).	Como	afirma	Martonne	(1953),	
outros	povos	e	civilizações	experimentaram	o	conhecimento	geográfico,	mas	os	gregos	
tiveram	uma	participação	decisiva	na	base	da	construção	e	sistematização	da	geografia	
enquanto	ciência.
 
Algumas	 personalidades	 se	 destacaram	 pela	 busca	 de	 comprovações	 de	
métodos	que	se	aproximassem	da	 representação	terrestre.	Como	precursor,	 tem-se	o	
filósofo,	geógrafo	e	matemático	Eratóstenes,	nascido	em	276	a.C.,	na	cidade	de	Cirene,	
colônia	da	Grécia.	Foi,	no	século	III	a.C.,	que	ele	apresentou	a	primeira	classificação	da	
palavra	geografia	como	o	estudo	da	descrição	da	Terra,	e	a	definiu	como:	Geo	=	Terra	|	
Grafia	=	Descrição.
83
FIGURA 6 – GEÓGRAFO ERATÓSTENES DE CIRENE
FONTE: <https://blog.kakaocdn.net/dn/T008G/btqEq72pwnC/o1LqkzZhc8LPk6JIvaxiE0/img.jpg>. 
Acesso em: 2 set. 2020. 
No	 século	 VI	 a.C.,	 na	 Grécia,	 Anaximandro	 de	 Mileto	 desenvolve	 o	 primeiro	
esboço	do	“mundo”,	chamado	de	carta	(PEREIRA,	1999).	As	necessidades	de	conquistas	
além-mar	de	navegações	e	missões	militares,	no	século	VI	a.C.,	geraram,	mais	tarde,	
o	fortalecimento	das	ciências,	por	meio	da	compreensão	de	métodos	na	astronomia,	
matemática	 e,	 principalmente,	 através	 do	 campo	 de	 estudo	 da	 cosmografia	 e	 sua	
compreensão	 descritiva	 do	 universo.	 O	 alinhamento	 dessas	 áreas	 explorou	 meios	
que	 reproduzissem	 a	 superfície	 terrestre.	 Ainda,	 foram	 responsáveis	 pelo	 cálculo	
da	 circunferência	 da	 Terra,	 pelo	 primeiro	 atlas	 universal,	 coordenadas	 de	 latitude	 e	
longitude,	e	projeções	cônicas	(IBGE,	2020).
No	período	da	antiguidade	clássica,	foram	 iniciados	os	estudos	dos	assuntos	
relacionados	à	geografia.	Estes	possuíam	um	caráter	de	descobrimento,	pois	pouco	se	
sabia	da	superfície	terrestre	e	do	universo.	Então,	o	conhecimento	 ligado	ao	planeta	
Terra	e	os	elementos	naturais,	em	relação	aos	aspectos	dimensionais,	como	o	formato,	
tamanho,	extensão,	proporções	entre	superfícies	cobertas	por	águas	e	demais	frações,	
descrição	 dos	 povos,	 lugarejos	 e	 reproduções	 das	 zonas	 costeiras,	 foram	 surgindo,	
assim	como	as	pesquisas,	na	área	da	astronomia,	a	respeito	do	universo,	órbita,	estrelas	
etc.	(CARVALHO,	2006).
O	 mundo	 clássico	 apresentou	 seu	 grau	 de	 relevância	 com	 as	 descobertas	
da	 geografia	 através	 de	 pensadores,	 como	 Tales	 de	 Mileto,	 Pitágoras,	 Aristóteles,	
Erastóstenes	 de	 Cirene,	 Claúdio	 Ptolomeu,	 Estrabão,	 Hiparco,	 Heródoto	 etc.	 Eles	
substantivaram	 o	 conhecimento	 da	 época	 e,	 consequentemente,	 influenciaram	 osdemais	períodos,	porém,	ainda	se	tinha	uma	longa	jornada	de	descobertas	a	respeito	
do	planeta	Terra	e	do	universo,	além	de	alguns	métodos	serem	julgados	como	pouco	
precisos,	por	representarem	a	linha	empírica	ou	factual.
84
A	fase	de	transição	da	Idade	Antiga	ou	Clássica	para	a	Idade	Média,	e,	depois,	
para	a	Idade	Moderna	renascentista,	foi	marcada	pela	forte	influência	da	religião	sobre	
a	produção,	conquistas	da	ciência	e	derrocada	do	império	romano,	além	da	tomada	de	
Constantinopla	pelos	turcos.	Acadêmico,	o	que	 isso	significa	para	a	geografia?	Podemos	
afirmar	que	significa,	a	princípio,	a	maneira	de	 representação	ou	de	mapeamento	de	
continentes	através	da	influência	da	religião	na	construção	socioespacial,	da	paisagem,	
além	do	que	se	refere	à	conquista	territorial.
Tem-se,	 por	 exemplo,	 o	 mapa	 “Die	 Ganze	 Welt	 In	 Einem	 Kleberbat”	 T-	 0,	
conhecido	 por	 sua	 semelhança	 com	o	 trevo	 ou	 cruz.	 Foi	 uma	versão	 representativa	
criada	por	Isodoro,	o	bispo	de	Sevilha,	que,	a	partir	da	sua	visão	religiosa	e	simbólica	de	
mundo,	transferiu,	para	a	representação	gráfica,	um	modelo	com	tais	características.	O	
sacerdote	apresentou,	em	primeiro	plano,	os	três	continentes,	a	Europa,	Ásia	e	África,	e,	
ao	centro,	a	cidade	símbolo	do	cristianismo,	Jerusalém;	secundariamente,	a	América,	a	
grande	área	geográfica	considerada	pouco	habitada.	A	interpretação	religiosa	afirmou	
que,	após	o	grande	dilúvio,	Noé	e	seus	descendentes	 realizaram	a	divisão	das	áreas	
geográficas	habitáveis	(IBGE,	2020).
FIGURA 7 – DIE GANZE WELT IN EINEM KLEBERBAT
FONTE: <https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/historia/hist_cart_6.jpg>. 
Acesso em: 2 set. 2020.
A	unicidade	do	 Império	Romano	permaneceu	até	meados	de	395	d.C.,	quando	
o	imperador	Constantino	se	estabeleceu	na	capital	Bizâncio.	A	priori,	deu-se	a	partir	do	
ato	de	renomear	a	cidade,	caracterizando-a,	identitariamente,	segundo	o	poder	exercido	
por	 grupos	 do	 oriente	 sobre	 aquele	 território.	 Constantinopla,	 assim	 chamada	 pelo	
então	comando,	apresentou-se,	na	história,	por	sofrer	as	insistentes	invasões.	A	tomada	
daquele	território,	por	povos	diversos,	 justificou-se	pela	sua	 importância	territorial,	 sua	 
localização	favorável	e	riquezas	adquiridas,	que	fizeram	dela	a	cidade	mais	desenvolvida	
da	época.
 
85
A	 posição	 geográfica	 da	 rebatizada	 Constantinopla,	 ligando	 o	
Ocidente	 e	 o	 Oriente,	 as	 suas	 defesas	 naturais	 (Bósforo,	 mar	 de	
Mármara,	 Corno	 de	 Ouro)	 e	 a	 sua	 privilegiada	 articulação	 com	 as	
grandes	 rotas	 comerciais	 terrestres	 e	 marítimas	 (Europa-Ásia	 e	
mar	Negro-mar	Egeu)	justificam,	plenamente,	a	escolha	do	primeiro	
imperador	cristão	(MONTEIRO,	2016,	p.	18).
Após	a	queda	do	 Império	Romano,	os	graus	de	formação	dos	novos	Estados	
estavam	se	estabelecendo,	já	fazendo	sentido	uma	reorganização	territorial,	inclusive,	
com	a	tomada	de	Constantinopla	pelo	Império	Turco	Otomano,	por	exemplo,	a	paisagem	
transmitiu	mudanças,	 como	 o	 nome	 da	 cidade,	 a	 religião	 oficial,	 transformações	 de	
elementos	simbólicos	da	paisagem,	transição	de	catedrais	para	mesquitas	etc.	Istambul	
ficou	conhecida	e	se	tornou,	oficialmente,	a	capital	do	império	otomano.
A	Era	Moderna	assume	conflitos	e	 transições,	desde	a	derrocada	do	 Império	
Bizantino,	pelos	turcos,	até	a	crise	do	sistema	feudal.	Ainda,	há	a	sucessão	do	modelo	
econômico	feudal	para	o	capitalismo,	a	Revolução	Francesa,	o	Iluminismo,	a	ascensão	
da	burguesia,	os	fenômenos	modernos	do	Renascentismo,	as	reformas	protestantes,	a	
configuração	do	Estado	absolutista	e	a	expansão	ultramarina.
O	 período	 de	 descobrimentos	 e	 conquistas	 (do	 século	 XV-XVIII)	 adentrou	na	
Era	 do	 Iluminismo.	 As	 grandes	 navegações	 contavam	 com	 registros	 de	 descrições,	
orientações	 geográficas,	 distâncias,	 desenhos,	 tudo	 para	 clarificar	 o	 desconhecido.		
Antes,	 como	 ferramentas	 das	 elites,	 os	 mapas	 passaram	 a	 ser	 disseminados	 em	
línguas	diferentes	do	latim,	a	fim	de	possibilitar	o	conhecimento.	Primeiramente,	com	
Ortelius,	criador	do	mapa	“Theatrum	Orbis	Terrarum”,	depois,	no	ano	de	1569,	o	mapa	
convencionado	por	Mercator	“Americae	Sive	Novi	Orbis”	(IBGE,	2020).
O	que	se	pode	entender,	parcialmente,	do	século	das	luzes,	foi	sua	democratização	
em	 relação	 ao	 acesso	 ao	 conhecimento.	 O	 ideal	 iluminista,	 assentado	 na	 crença	 do	
poder	e	da	razão	humana,	é	que	passa	a	defender	a	ampliação	da	formação	cultural	
para	todos,	como	forma	capaz	de	transformar	o	homem	e,	por	meio	dele,	a	sociedade	
(PEREIRA,	1999).
Anteriormente,	na	sociedade	antiga,	os	privilegiados	faziam	parte	da	alta	cúpula	
conhecida	como	a	nobreza	e	clero.	Eles	justificavam	sua	boa	vida	e	benefícios	sociais	
alcançados,	 incluindo	 o	 do	 letramento,	 em	Deus	 e	 nos	 direitos	 “concedidos”	 por	 Ele	
através	da	igreja.	Após	o	movimento	revolucionário	iluminista,	“[...]	pode-se	dizer	que	a	
maioridade	se	alcança	pela	capacidade	do	homem	de	se	tornar	autônomo,	senhor	de	si	
pela	razão.	A	antiga	sociedade,	formada	por	senhores	e	servos,	deve	ser	substituída	por	
uma	sociedade	mais	justa,	mais	igualitária”,	reflete	Pereira	(1999,	p.	21),	a	respeito	dos	
ensinamentos	deixados	por	Kant,	em	1783.
86
Para	quem	desconhece	a	geografia	de	Kant	na	Era	das	Luzes,	vale	ressaltar	que	
ele	assume	um	papel	preponderante,	pois	realizou	o	entendimento	de	uma	geografia	
física	que	valorizava	para	além	das	rochas,	valorizava	os	seres	vivos,	incluindo	o	homem.	
Ele	criou	uma	forma	de	enxergar	o	planeta	Terra	em	uma	maior	dimensão,	vislumbrando	
as	 relações	 constantes	 entre	 seres	 humanos	 e	 natureza.	 Os	 seus	 ensinamentos	
foram	influenciados	pelas	reflexões	dos	geógrafos	anteriores:	Eratóstenes,	Ptolomeu, 
Estrabão	e	Varenius.	Os	estudos	da	terra	foram	realizados	pelas	experiências	de	campo	
que	ele	tomava	dos	relatos	vivenciados	por	Foster	e	Humboltd.	Essa	trajetória	provocou	
o	desenvolvimento	da	obra	kantiana,	um	material	com	uma	identidade	original,	para	a	
fase	da	geografia,	próxima	à	sistematização	científica.
Com relação à participação de Kant nos estudos geográficos, sugerimos uma seleção de 
quatro vídeos: Kant e a Geografia I/Pensamentos Geográficos, e, de forma complementar, 
Kant e a Geografia II/Influências Geográficas. O terceiro: Kant e a Geografia III/A Geografia 
de Kant, e, por fim, a quarta entrevista, intitulada de Kant e a Geografia IV/Implicações na 
Atualidade.
Todo o material diz respeito a edições do Canal Descomplicando, com o professor Douglas 
Sathler – UFVJM e o entrevistado, o professor Oswaldo Bueno Amorim Filho, da PUCMINAS.
O vídeo 1 possui, aproximadamente, 7’:33’’ de duração e pode ser encontrado na plataforma 
digital do youtube no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=yHZLfX5teac.
O vídeo 2 possui, aproximadamente, 5’:22’’ de duração e pode 
ser encontrado na plataforma digital do youtube no endereço: 
https://www.youtube.com/watch?v=Q0Lw1N9NY_k. 
O vídeo 3 possui, aproximadamente, 12’:10’’ de duração e pode 
ser encontrado na plataforma digital do youtube no endereço: 
https://www.youtube.com/watch?v=ws_yfuCXm8U.
O vídeo 4 possui, aproximadamente, 9’:15’’ de duração e pode 
ser encontrado na plataforma digital do youtube no endereço: 
https://www.youtube.com/watch?v=9k3WnYvSxFo.
DICA
A	compreensão,	no	tempo	do	iluminismo,	estava	para	desatar	os	homens	dos	
dogmas	e	 intolerâncias.	Ela	não	estava,	diretamente,	contra	a	religião,	mas	contra	os	
privilégios	escondidos	por	trás	dela.	A	Era	do	Discernimento	antropocêntrico,	do	direito	
ao	conhecimento	concedido	amplamente	a	todos	os	homens,	foi	 iniciada	na	França,	
em	1782,	com	o	ato	da	Revolução	Francesa,	depois,	com	o	Marquês	de	Condorcet,	e,	
em	1948,	com	a	Declaração	Universal	dos	Direitos	Humanos,	tornando-se	um	dever,	do	
Estado,	fornecer,	sem	exceção,	o	direito	ao	conhecimento.	Leia-se	educação	pública	
para	todos	de	forma	obrigatória	e	laica	(PEREIRA,	1999).
87
Em	 um	 estudo	 mais	 aprofundado,	 Pereira	 (1999)	 aborda	 como	 se	 deu	 o	
nascimentoda	 geografia	 com	 o	 ensino.	 Alerta	 que	 a	 prática	 de	 educar	 todos,	 sem	
exclusão,	iniciou	pelos	germânicos	e	demais	países,	onde	houve	a	reforma	protestante.	
O	objetivo	da	educação	pública	 religiosa	estendeu	o	conhecimento	e	proporcionou,	aos	
fiéis	cristãos,	a	alfabetização,	com	a	 leitura	das	sagradas	escrituras,	a	 “Bíblia”,	para	o	
livre	esclarecimento	da	salvação	da	alma.	Porém,	aponta,	também,	que	a	possibilidade	
de	um	ensino	baseado	na	 liberdade	e	 laicidade	se	 iniciou	a	partir	das	conquistas	da	
Revolução	Francesa.		
O que foi a Reforma Protestante? Um movimento do século XVI 
liderado por Martinho Lutero, em 31 de outubro de 1517, na 
Alemanha, com os intuitos de esclarecer e romper com práticas 
da Igreja Católica Apostólica Romana, acerca do comércio de 
indulgências. Lutero fixou 95 teses na porta da igreja do castelo 
de Wittenberg. Tal ato provocou uma revolução religiosa, na 
qual muitos países, governos e religiosos apoiaram o feito, 
fazendo parte a Inglaterra, Suíça, França, Escandinávia, Hungria 
e países bálticos. Contudo, foram feitos atos repreensivos, como 
o movimento da contrarreforma e a divisão entre católicos 
romanos e os reformados protestantes.
NOTA
Alguns	fatos	históricos	mundiais	estão	no	texto,	mas	parecem	fora	do	contexto,	
será	que	você	pensou	dessa	forma?	Visto	todo	esse	ciclo,	pedimos	para	que	não	se	
percam,	pois	podemos	realizar	um	link	desses	fatos	contextualizados	com	a	geografia	
enquanto	ciência.	
É	 possível	 que	 você	 lembre	 da	 placa	 de	 conceituação,	 certo?!	 Esta	 contém	
uma	divisão	entre	o	conhecimento	a	respeito	dos	saberes	da	geografia	e	a	geografia	
enquanto	 ciência	 sistematizada.	 Pois	 bem,	 até	 o	 presente	 momento,	 trouxemos	
fatos	e	argumentos	que,	 juntos,	encaminham-se	para	uma	compreensão	anterior	ao	
nascimento	da	ciência	geográfica.	
2.1 NOTAS: DO NASCIMENTO DA GEOGRAFIA ESCOLAR A 
UMA GEOGRAFIA UNIVERSITÁRIA 
Temos,	como	objetivo,	prolongar	a	discussão	acerca	do	processo	da	escolari-
zação	e	a	introdução	da	disciplina	da	geografia	nos	anos	iniciais	das	escolas	europeias,	
principalmente,	entre	Alemanha	e	França.	Apesar	do	assunto	já	ter	sido	levemente	pon-
tuado,	propomos	uma	evolução	discursiva,	até	chegarmos	à	geografia	enquanto	conhe-
cimento	sistematizado.
88
A	 pergunta	 que	 não	 quer	 calar	 é:	 onde,	 de	 fato,	 a	 escola	 e	 o	 processo	 de	
escolarização	se	encontram	com	a	geografia?	É,	exatamente,	no	período	do	século	XIX	
que	ambos	são	oficializados:	 “as	 interligações	entre	a	escola	e	a	geografia	se	situam	
no	contexto	do	século	passado,	em	que	diferentes	interesses	políticos,	econômicos	e	
sociais	estão	em	jogo”	(PEREIRA,	1999,	p.	29).
O	século	XIX	se	destacou	pelo	ideal	da	Revolução	Francesa	para	a	constituição	
das	 mudanças	 políticas	 e	 sociais,	 além	 da	 revolução	 inglesa,	 que	 se	 traduz	 na	
emblemática	 transformação	 econômica	 representada	 pelo	 capitalismo	 e	 as	 criações	
técnicas	e	científicas.
A	escola	e	a	escolarização	se	firmam	ao	longo	do	século	XIX,	no	mesmo	
momento	em	que	se	dá	a	consolidação	do	Estado	e	do	capitalismo,	
sob	 a	 hegemonia	 da	 burguesia.	 Detentora	 do	 poder	 político,	 ela	
percebe	que	sua	dominação	pode	ser	mantida	não	apenas	através	
do	poder	repressivo,	mas	também	da	disseminação	de	seus	valores	
de	classe	apresentados	como	universais	(PEREIRA,	1999,	p.	26-27).
 
Tendo	uma	França	unificada	e	uma	 Inglaterra,	também,	com	 ideais	de	nação	
bem	 formados,	 ambos	 os	 países	 priorizaram	 a	 utilização	 da	 geografia	 para	viabilizar	
a	 permanência	 da	 burguesia	 no	 poder	 e	 a	 distinção	 de	 classes	 em	 detrimento	 do	
crescimento	do	capitalismo.
 
Em	 um	 primeiro	 momento,	 a	 geografia	 francesa	 apontou	 para	 um	 norte	
específico,	o	que	custou	demandas	e	reformulações	mais	tarde,	no	entanto,	a	França,	
por	 ser	 considerada	 uma	 nação	 bem	 estruturada,	 sem	 necessidade	 de	 unificação	
territorial,	optou	por	seguir	com	a	geografia	como	assistente	da	história,	que	era	uma	
disciplina	de	maior	vulto.
Já	 a	 Alemanha	 esbarra	 em	 uma	 realidade	 diferente,	 começando	 pela	 alta	
sociedade	então	estabelecida,	a	aristocracia	rural	e	a	não	unificação	territorial	em	pleno	
século	XIX.	
Segundo	Pereira	 (1999,	p.	98-99),	 “no	 início	do	século	XIX,	a	Alemanha	ainda	
não	havia	se	constituído	como	uma	nação,	ainda	era	como	um	Estado	nacional.	Ela	se	
acha	dividida	em	números	de	feudos	(principados,	ducados,	reinos,	terras	eclesiásticas,	
cidades	livres),	unidos,	apenas,	por	alguns	traços	culturais	comuns”.
A	 escola	 alemã	 entra	 como	 um	 instrumento	 de	 construção	 da	 unificação	
nacional,	propiciando	a	propagação	das	ideologias	patrióticas	e	nacionalistas,	e,	como	
parte	do	currículo	escolar,	as	disciplinas	de	geografia,	história	e	língua	nacional	auxiliaram	
no	processo.	Basicamente,	a	classe	favorecida	buscou	a	perpetuação	da	hegemonia	e,	
com	o	poder	do	capital,	viabilizou-se	a	consolidação	do	Estado.	O	papel	da	geografia	se	
estende	pela	apresentação	do	território	a	ser	delimitado	em	limites	e	fronteiras	frente	
ao	capital,	cultura	e	língua.
89
O	esforço	comum	para	edificar	essa	nacionalidade	e	criar	uma	identidade	coesa	
teve,	como	base,	a	anulação	das	diferenças:
A	divisão	social	precisa	ser	ocultada	para	que	se	crie	uma	comunhão	
entre	 os	 que	 nascem	num	mesmo	 lugar,	 falam	 a	mesma	 língua	 e	
respeitam	as	mesmas	tradições.	A	língua	encarna	a	possibilidade	de	
uma	 unidade	 cultural,	 unidade	 intricadamente	 ligada	 a	 um	 tempo	
(história)	e	a	um	espaço	(geografia)	(PEREIRA,	1999,	p.	27-28).
Nas	 linhas	 e	 entre	 linhas,	 falava-se	 em	 domínio	 territorial,	 ou	 seja,	 numa	
geopolítica	 estratégica	 dentro	 dessa	 geografia	 escolar	 nada	 amistosa.	 A	 geografia,	
enquanto	disciplina	escolar,	tinha	uma	missão	objetiva.	Com	uma	análise	mais	distante,	
é	possível	perceber	que	esse	estudo	nasce	com	um	intuito	da	criação	do	Estado,	para	
fortalecê-lo.	“A	geografia	analisa	o	físico,	mas	o	estudo	do	físico,	em	si	mesmo,	não	tem	
sentido.	Ele	só	terá	ser	for	considerado	como	dominado	pelo	homem	e	ligado	à	ideia	de	
um	espaço	em	que	exerce	uma	determinada	cidadania”	(PEREIRA,	1999,	p.	39).
 
O	desenvolvimento	da	disciplina	geográfica,	além	do	pioneirismo	na	formação	
de	 geógrafos,	 pode	 se	 justificar	 pelo	 desenvolvimento	 e	 nascimento	 retardatário	 do	
Estado	alemão.	Há	uma	corrida	contra	o	tempo,	a	fim	de	encontrar	meios	concretos	
para	unificar	e	tornar	a	Alemanha	uma	grande	nação.
A	geografia	dos	professores	tomou	corpo	 intimamente	 relacionado	
ao	esforço	da	escolarização	desenvolvido	pela	Alemanha	durante	o	
século	XIX	e,	ligada	a	esse	desenvolvimento	da	geografia	nos	ensinos	
primário	 e	 secundário,	 cresce,	 também,	 a	 produção	 editorial	 de	
caráter	geográfico	e	cartográfico	(PEREIRA,	1999,	p.	41).
Acadêmico,	 lembre-se	 de	 que	 os	 primeiros	 assuntos	 dos	 conhecimentos	
geográficos	chegaram	no	momento	em	que	os	homens	atentaram	para	as	necessidades	
de	descrever	e	se	localizar	no	espaço	geográfico.	
Príncipes,	 comandantes	de	guerra/embarcações	 e	 influentes	do	Estado	maior	
previram	o	desenvolvimento	de	cartas	e	futuros	mapas	geográficos	para	se	beneficiar	
com	tais	informações	privilegiadas.
Estrategicamente,	 no	 século	XIX,	 um	processo	 inverso	 acontece:	 o	 conheci-
mento	centralizado	dos	elementos	geográficos	deixa	de	ser	elitizado	e	passa	a	ser	des-
centralizado.	A	geografia	se	torna	propagada	entre	crianças	e	jovens,	e	esse	jogo	dialé-
tico,	ao	longo	da	criação	da	ciência	geográfica,	tornou-se	meio	de	conquista	e	poder,	
como	veremos	nos	parágrafos	a	seguir.
 
Segundo	Pereira	 (1999),	as	motivações,	para	a	organização	do	sistema	escolar	
alemão,	também	podem	ter	encontrado	suas	raízes	na	expansão	territorial	dos	franceses,	
com	Napoleão	Bonaparte,	vista	a	unicidade	da	nação	francesa	em	 relação	à	fragilidade	 
dos	estados	germânicos.
 
90
Para	a	 autora	 supracitada,	 o	governo	alemão,	 intuitivamente,	 atentou	para	 a	
elevação	de	esforços	na	educação	e	elevaçãoda	formação	de	jovens,	uma	preparação	
dupla:	mental/intelectual	 e	 física.	Como	diversas	matérias	apresentadas,	 a	geografia	
se	destacava	pelo	 estudo	dos	continentes	da	Alemanha	e	estados	prussianos,	 além	
da	geografia	comercial	e	das	relações	internacionais.	Já	a	preparação	física	do	jovem,	
incluída	no	currículo,	estava	baseada	nos	modelos	gregos,	como	se	exercitar	ao	ar	livre.	
Consequentemente,	todo	esse	apoio	vislumbrou	respostas	futuras.
Como	 os	 alemães	 conseguiram	 os	 resultados	 positivos	 frente	 à	 elevação	
categórica	da	geografia	escolar	para	o	auge	científico?	Com	base	nos	estudos	de	Pereira	
(1999),	foram	através	de	uma	série	de	medidas,	que	se	iniciou	no	século	XVIII.
Medidas
•	 No	ano	de	1763,	o	ensino	primário	foi	instituído	como	obrigatório	para	o	sexo	masculino.
•	 No	século	XIX,	no	ano	de	1839,	apenas	seriam	empregadas	crianças	a	partir	dos	nove	
anos	que,	minimamente,	tivessem	três	anos	concluídos	de	estudo.
•	 O	ano	de	1860	foi	marcado	pela	escolarização	obrigatória	para	todos	os	prussianos	
dos	seis	aos	quinze	anos.
 
Respostas
 
•	 Desenvolvimento	da	geografia	universitária.
•	 Elevação	exponencial	do	número	de	docentes.
•	 Queda	das	taxas	de	analfabetismo.
•	 Presença	 da	 disciplina	 de	 geografia	 em	 toda	 ampla	 rede	 de	 ensino,	 nos	 níveis	
fundamentais	e	médio	(referentes	aos	dias	atuais).
•	 Em	1870,	a	Alemanha	vence	a	França	na	guerra	franco-prussiana,	tendo,	como	álibi,	
o	ensino	da	austeridade,	objetividade	e	reconhecimento	espacial.
•	 Superioridade	do	modelo	de	ensino	alemão.
 
Chegamos	 ao	 ponto	 crucial,	 o	 início	 da	 história	 do	 pensamento	 geográfico	
quando	se	centralizam	as	duas	escolas	principais:	a	francesa	e	a	alemã.	É	possível	que	
vocês	tenham	em	mente	o	desenrolar	dessa	perspectiva	da	geografia,	mas,	de	todo	
modo,	propomos	um	breve	resgate,	um	resumo	epistemológico.
 
Até	a	concretização	e	formulação	das	vertentes	humanística	e	cultural,	a	busca	
por	 um	 objeto	 de	 análise	 e	 método	 de	 pesquisa	 na	 geografia	 percorreu	 décadas	 e	
entrou	em	séculos,	portanto,	apresentaremos	o	início	dos	pontos	de	partida	da	escola	
alemã	e,	posteriormente,	da	francesa,	contudo,	não	será	objetivo,	aqui,	aprofundar	tais	
acontecimentos.
 
91
O	exposto	a	 seguir	 apresentará	 três	geógrafos	 representantes	do	primeiro	ciclo	
científico	da	geografia	alemã:	Kant,	Alexander	Von	Humboldt	e	Karl	Ritter.	Eles	trabalharam	
pela	concretude	geográfica	nos	âmbitos	acadêmico	e	pedagógico.	O	primeiro,	no	período	
do	século	XVIII,	e,	os	outros	dois,	foram	contemporâneos	do	seguinte	século.
FIGURA 8 – GEOGRAFIA ALEMÃ - KANT, ALEXANDER VON HUMBOLDT E KARL RITTER
Kant
O primeiro professor a 
ensinar geografia física 
nos anos 1756-1796 
na Universidade de 
Königsberg
Humboldt (1769-1859)
Prussia.
Naturalista/Comparativo.
Geográfo explorador.
Dominio natural: composições 
geológica e mineralógica.
Fundador da geografia 
moderna.
Perfil de natureza científica.
Alto escalão do Estado alemão.
Participante dos processos 
de unificação alemã e 
desenvolvimento capitalista.
Karl Ritter (1779-1859)
Saxônia alemã.
Idealista/Histórico.
Geógrafo de gabinete.
Dominio das ciências humanas: 
filosofia e história.
Fundador da geografia 
moderna.
Perfil de natureza pedagógica.
Alto escalão do Estado alemão.
Participante dos processos 
de unificação alemã e 
desenvolvimento capitalista.
FONTE: Adaptado de Pereira (1999)
Como	um	quebra-cabeça,	que	possui	 inúmeras	peças	e	precisa	ser	montado,	a	
geografia	do	final	do	século	XVIII	sinalizava	para	uma	possível	ação	conjunta	que	unisse	
os	vários	elementos,	que	se	alinhasse	ao	campo	de	conhecimento	para	a	sistematização.	
Muitos	dos	elementos	estudados	pela	geografia	também	eram	objetos	de	análise	de	
outras	ciências,	situação	que	gerou	a	intencionalidade	de	personalizá-la	como	o	ato	da	
descrição	da	superfície	terrestre	(SODRÉ,	1982).
 
Diante	 de	 uma	 longa	 busca	 por	 um	 objeto	 de	 análise,	 e	 com	 a	 terra	 já	
dimensionada,	a	pergunta	seria:	o	que	será	da	geografia	enquanto	ciência,	já	que	foram	
concluídas	as	tarefas	de	conhecer	e	descrever	a	 superfície	da	Terra?	Então,	 surge	a	
necessidade	de	saber	o	que	existe	em	cada	 lugar	da	Terra,	passando	a	se	preocupar	
com	os	assuntos	da	diferenciação	dos	espaços,	além	das	interações	entre	o	homem	e	
o	meio	(FERREIRA;	SIMÕES,	1994).	
92
Apesar	 de	 eles	 serem	 considerados	 os	 fundadores	 da	 ciência	 geográfica,	
manterem	 certa	 proximidade,	 e	 trabalharem	 na	mesma	 linha	 de	 frente,	 Humboltd	 e	
Ritter	apresentaram	dicotomias	entre	si:
Humboldt	era	um	grande	naturalista	e	explorador.	Seus	escritos	são	
resumos	 de	 viagens,	 anotações	 resultantes	 da	 observação	 direta.	
Além	da	estrutura	descritiva,	há	uma	intenção	deliberada	de	verificar	
as	 relações	de	 interdependência	entre	os	fenômenos	e	as	 leis	que	
determinam	a	distribuição	espacial.	A	um	certo	privilegiamento	do	
enfoque	 natural,	 associa-se	 a	 utilização	 do	 método	 comparativo.	
A	 geografia,	 para	 ele,	 aparece	 como	 uma	 disciplina	 sintética	 que,	
através	 da	 articulação	 entre	 os	 diversos	 elementos,	 busca	 a	
causalidade	existente	na	natureza	(PEREIRA,	1999,	p.	125).
Humboldt	 apresentou,	 claramente,	 nas	 suas	 pesquisas,	 dois	 princípios	 para	 a	
geografia,	os	quais	a	diferenciavam	das	demais	ciências.	O	primeiro	é	o	da	causalidade,	
ou	seja,	um	único	fato	não	era	o	bastante	para	fazer	a	relação	de	causa	e	consequência,	
era	apenas	um	fato	 isolado.	O	segundo	é	o	princípio	da	geografia	geral,	cujo	objetivo	
está	em	assegurar	que	nada	no	globo	terrestre	pode	ser	analisado	ou	visto	de	maneira	
independente	do	todo.	Essa	integração	proporciona	um	conhecimento	rico	e	denso.	
Para fortalecer a aprendizagem, sugerimos um curto vídeo acerca do 
naturalista, diplomata e geógrafo Alexander Von Humboldt. O pequeno 
documentário aborda quem foi o cientista Alexander Von Humboltd, 
além dos seus importantes relatos de expedições pela América Latina 
e suas perspectivas de pesquisas no século XIX: https://www.dw.com/
pt-br/alexander-von-humboldt-o-pesquisador-que-redescobriu-a-
américa-latina/av-36680466.
DICA
Com	um	perfil	de	conhecimento	pedagógico	e	normativo,	Ritter	complementou	
o	meio	geográfico,	segundo	suas	experiências	enquanto	professor	da	Universidade	de	
Berlim,	com	uma	geografia	comparada.
 
Ritter,	 ao	 contrário,	 opta	 pelo	 enfoque	 histórico,	 e	 vê	 o	 espaço	
terrestre	 como	 o	 teatro	 da	 história,	 considerando	 que	 a	 maior	
harmonia	entre	o	homem	e	a	natureza	se	produz	nos	momentos	de	
maior	 desenvolvimento	 cultural.	 Ritter	 é,	 sobretudo,	 um	 geógrafo	
de	gabinete	que	produz	suas	obras	a	partir	da	leitura	de	uma	vasta	
literatura	geográfica	(PEREIRA,	1999,	p.	125).	
O	 saxônico	apresenta	uma	geografia	baseada	em	 relações	entre	dois	universos	
anteriormente	separados:	o	ambiente	natural	e	o	homem.	Basicamente,	Ritter	descreveu	
lugares	e	 sua	 interação	entre	o	 físico	e	a	apropriação	humana,	e	cada	área	descrita	
93
possuía	 sua	 singularidade,	 pois	 apenas	 nela	 ocorriam	 combinações	 de	 fenômenos	
únicos.	O	empenho	pela	compreensão	do	desenvolvimento	humano,	atrelado	à	relação	
do	homem	e	meio	ambiente,	fortalece	a	discussão	da	totalidade	implantada	na	sua	obra.
Humboldt	 e	 Ritter	 chegaram,	 juntos,	 à	 compreensão	 científica	 da	 visão	
geográfica	pela	totalidade,	visando	romper	com	a	implantação	dualista,	mesmo	que	seus	
meios	de	pesquisas	fossem	distintos.	A	representação	da	igualdade	colocou	o	universo	
físico,	referente	à	geografia	geral,	e	o	outro,	representante	da	geografia	regional,	como	
duplamente	essenciais.	A	união	marcou	o	fim	da	perseguição	pela	divisão	da	antiguidade	
clássica,	mas	datou	um	novo	momento	para	a	separação	e	submissão	entre	geografia	
humana	e	física.	Tal	marco	foi	referenciado	pelo	positivismo.
 
A	partir	de	então,	a	geografia	ganhou	um	novo	capítulo,	baseado,	não	apenas,	
no	saber	superficial,	mas	na	perspectiva	sistematizada	da	ciência.	Pode-se	dizer	que	
chegou	 aera	 da	 geografia	moderna.	 Com	 novas	 participações,	 o	 fim	 do	 século	 XIX	
apresenta	o	geógrafo	alemão	Friedrich	Ratzel	e	o	francês	Paul	Vidal	de	La	Blache,	dois	
novos	 nomes	 que	 se	 destacaram	 na	 elaboração	 da	 geografia	 científica	 dos	 séculos	 
XIX	e	XX.
 
Em	 linhas	 gerais,	 trouxemos	 uma	 exposição	 breve	 de	 fatos	 de	 outrora.	
Certamente,	a	partir	de	agora,	você	pode	fazer	a	ligação	entre	as	Unidades	1	e	2,	quando	
abordamos,	 introdutoriamente,	 a	 criação	 da	 geografia	 cultural	 e	 as	 influências	 das	
escolas	alemã	e	francesa.
 
Acadêmico,	a	partir	de	agora,	iremos	para	um	novo	ciclo	científico	da	geografia	
contemporânea.
3 ESTUDOS CONTEMPORÂNEOS DA GEOGRAFIA 
CULTURAL: UMA BREVE COMPREENSÃO 
A	princípio,	gostaríamos	de	perguntar:	o	que	significa	a	palavra	contemporâneo?	
Você	saberia	explicar	dentro	do	contexto	geográfico?	Sim,	vamos	construir	o	raciocínio	a	
partir	do	ponto	de	vista	da	idade	e	do	mundo	contemporâneo.	A	idade	contemporânea	
reflete	a	passagem	do	século	XVIII,	da	idade	moderna	para	o	século	atual,	XXI,	que	se	
refere	à	idade	contemporânea.
O	mundo	contemporâneo	não	marginaliza	a	discussão	a	respeito	do	tempo,	ao	
contrário,	um	complementa	o	outro.	Podemos	dizer	que	existe	uma	relação	alinhada	de	
tempo,	sociedade	e	espaço	na	configuração	dos	estudos	contemporâneos	da	geografia	
em	questão.	
94
O	 percurso	 dessas	 transformações	 espaciais	 atravessou	 séculos,	 e	 cada	 uma	
marcou	 as	 relações	 socioespaciais	 de	 forma	 contínua	 e	 complementar.	 A	 princípio,	
tivemos	 uma	 forte	 revolução	 política	 e	 social	 e,	 posteriormente,	 um	 impacto	 com	 a	
revolução	econômica,	trocando	em	miúdos.	
A	primeira	discursou	acerca	da	igualdade,	divisões	de	terras,	com	a	aplicação	
da	reforma	agrária	e	a	liberdade	governativa;	a	segunda	se	baseou	nas	transformações	
econômicas	 e	 comerciais	 em	 virtude	 das	 revoluções	 industriais,	 com	 um	 ritmo	
de	 produção	 acelerado.	 O	 mundo	 capitalista	 analisou	 suas	 criações	 e	 inovações	 e	
aprofundou	 as	 divisões	 de	 classes.	 Toda	 essa	 formatação	 do	 mundo	 influenciou,	
diretamente,	com	o	desenvolver	das	geografias.
No	artigo	New directions in cultural geography,	 em	português	Novos rumos da 
geografia cultural,	publicado,	originalmente,	nos	anos	de	1987,	e	traduzido	por	Márcia	
Trigueiro,	 em	 2011,	 Denis	 E.	 Cosgrove	 e	 Petter	 Jackson	 reafirmam	 que	 as	 diversas	
perspectivas	das	análises	da	geografia	cultural	passaram	a	ser	renovadas.
Como	 já	 apresentado,	 havia	 um	 contexto	 de	 renovação	 e	 inquietação	 da	
ciência	geográfica	no	fim	de	1960	e	início	de	1970,	pelas	tantas	possibilidades	e	novas	
perspectivas	em	relação	às	matrizes	epistemológicas,	principalmente,	com	a	inclusão	
dos	materialismos	 histórico	 e	 dialético	 no	 âmbito	 das	 academias	 inglesas	 (CORRÊA,	
2011).	Segundo	Cosgrove	e	Jackson	(2011,	p.	135),	“os	progressos	da	geografia	cultural	
radical	foram	focalizados	numa	edição	recente	da	revista	Antípode”.
Como	outras	matrizes	epistemológicas	antagônicas	aos	materialismos	histórico	
e	dialético	se	desenvolviam	colateralmente,	a	exemplo	da	fenomenologia	e	da	herme-
nêutica,	uma	se	dedicou	à	geografia	humanística,	com	o	Yi-Fu	Tuan,	e,	a	outra,	mais	
fortemente	à	nova	geografia	cultural,	mas	não	se	nega	que,	basicamente,	essa	tríade	
inspirou	a	nova	geografia	cultural	(CORRÊA,	2011).
O	processo	de	renovação,	de	maneira	incisiva,	iniciou	na	escola	sauariana,	nos	
Estados	Unidos,	 com	a	 crítica	 de	Duncan	 diante	 da	 perspectiva	 da	visão	 da	 cultura	
supraorgânica	de	Sauer	e	seus	discípulos.
Na	Inglaterra,	Peter	Jackson,	no	ano	de	1980,	tentava	um	elo	entre	a	geografia	
cultural	e	a	geografia	social,	 com	base	e	método	da	antropologia	social	 (COSGROVE,	
2011),	portanto,	foi	criada,	semelhantemente	à	geografia	norte-americana,	a	geografia	
cultural	inglesa	(CORRÊA,	2011).
Segundo	 Cosgrove	 (2011),	 nas	 produções	 da	 geografia	 cultura	 radical,	
inicialmente,	 foi	 trabalhada	 a	 perspectiva	 teórica,	 com	produções	 literárias	 culturais,	
política	 relacionada	 ao	 lugar,	 culturas	 dominantes	 e	 subordinadas,	 especificidades	
e	 tensões	 culturais	 demonstradas	 nas	 paisagens	 políticas	 e	 próprias	 daquele	 lugar	
(vernacular).
 
95
Essa	 geografia	 cultural	 inglesa	 foi	 profundamente	 influenciada	
pelas	 ideias	 desenvolvidas	 no	 Entre	 for	 Contemporary	 Cultural	
Studies,	da	Universidade	de	Birmingham,	liderado	por	Stuart	Hall.	Foi	
influenciada,	também,	por	Raymond	Williams,	professor	em	Oxford.	
Williams	critica	a	visão	de	cultura	como	superestrutura,	admitindo-a	
como,	 simultaneamente,	 reflexo,	 meio	 e	 condição.	 Por	 outro	 lado,	
distingue	as	culturas	dominante,	residual	e	emergente,	resgatando,	
ainda,	a	ideia	gramsciana	da	hegemonia	cultural	(CORRÊA,	2011,	p.	8).
Partiu-se	 do	 princípio	 de	 que	 essa	 “nova	 geografia”	 foi	 formada	 por	 uma	
alquimia	de	combinações	distintas,	então,	pode-se	reconhecer	o	“[...]	legado	saueriano,	
a	 contribuição	 da	 tradição	 inglesa	 da	 geografia	 social,	 assim	 como	 os	 aportes	 da	
fenomenologia,	 hermenêutica,	 materialismos	 histórico	 e	 dialético,	 ciências	 sociais,	
como	a	antropologia	interpretativa,	linguística,	história	da	arte	e	a	semiótica”	(CORRÊA,	
2011,	p.	8).
 
Percebe-se	 que	 o	 caminho	 rumo	 ao	 futuro	 são	 os	 olhares	 diversos	 que	
contribuem	 e	 ampliam	 conhecimentos	 frente	 às	 discussões	 com	 outras	 áreas,	 para	
que	 o	 debate	 seja	 enriquecido.	 A	 geografia	 cultural	 tende	 a	 buscar,	 desde	 1980,	 a	
democratização	dos	debates	entre	perspectivas	da	 linha	sauariana,	não	sauarianas	e	
dos	representantes	da	“nova”	geografia	cultural.
Caso você tenha interesse em conhecer, um pouco mais, a respeito da geografia cultural, 
indicamos o artigo Não existe aquilo que chamamos de cultura: para uma reconceitualização 
para a ideia de cultura para a geografia, de Don Mitchell. Acesse: https://www.e-publicacoes.
uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/7074/5009.
A segunda leitura congrega quatro artigos compostos por Peter Jackson, Denis Cosgrove, 
James Duncan e Nancy Duncan. 
1 – A ideia de cultura: uma resposta a Don Mitchell.
2 – Ideias e cultura: uma resposta a Don Mitchell.
3 – Reconceitualizando a ideia de cultura em geografia: uma resposta a 
Don Mitchell.
4 – Explicação em geografia cultural: uma resposta a Cosgrove, Jackson 
e aos Duncans. 
Acesse: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/
article/view/7075/5010.
DICA
96
Frente	a	essa	 inquietação,	a	geografia	francesa	também	buscou	encontrar	um	
caminho	rumo	à	nova	perspectiva	da	geografia	cultural.	
De	 acordo	 com	 Claval	 (2011),	 esse	 momento	 foi	 separado	 em	 duas	 etapas:	
primeiramente,	deu-se	a	fase	do	conhecimento,	com	um	caráter	curioso	e	principiante	
de	descobertas	acerca	das	novas	possibilidades	dessa	nova	geografia;	depois,	houve	
a	utilização	da	compreensão	da	geografia	cultural	para	transformar	a	perspectiva	até	
então	estabelecida	pela	geografia	humana	em	detrimento	das	ciências	naturais.
As	 possibilidades	 de	 descobertas	 pelos	 geógrafos	 franceses	 pairaram	 os	
domínios	estabelecidos	pela	cultura	que,	de	fato,	fazia	frente	com	um	entendimento	
da	 geografia	 humana,	 ou	 seja,	 a	 geografia	 humana	 discutindo	 fatos	 relacionados	 à	
cultura,	a	exemplo	da	cultura	como	espaço	vivido,	a	função	dos	sentidos	e	corpo	na	
geografia	cultural,	as	dimensões	das	representações,	imagens	mentais	e	discurso	como	
abordagem	cultural	na	geografia.
A	crítica	estabelecida	por	Armand	Frémont,	contra	as	análises	neopositivistas	
atenuadas	 nos	 anos	 “entas”,	 contribui	 para	 formalizar	 o	 novo	 momento	 em	 que	 a	
geografia	 renascia.	 Ele	 afirmou	 que	 não	 era	 possível	 analisar	 as	 singularidades	 das	
paisagens,	 nem	 dos	 habitantes,	 a	 partir	 de	 uma	 narrativa	 sintética	 ou	 natural,	 mas	
“a	geografia	tinha	que	falar	das	formas,	das	cores,	dos	cheiros,	dos	sons,	dos	ruídos”	
(CLAVAL,	2011,	p.	158).
 
O	modo	Frémontde	fazer	geografia	pelos	olhos	da	cultura,	como	espaço	vivido,	
contagiou	 seus	 pares	 franceses,	 que,	 por	 sua	 vez,	 descobriram,	 em	 pesquisas,	 que	
parte	da	sociedade	não	conseguia	expressar	suas	identidades	sem	se	relacionar	com	o	
espaço	vivido,	onde	reside	e	constrói	suas	vidas.	Dentre	os	estudiosos,	há	Jean	Pierre	
Raison,	que	 identificou	a	sociedade	do	espaço	vivido	como	“sociedade	geográfica”;	Joël	
Bonnemaison,	que,	a	partir	da	sua	pesquisa	na	 ilha	de	Vanuantu,	 localizada	ao	norte	
do	 território	 francês,	 apontou	 para	 uma	 geografia	 concebida	 e	 vivenciada	 por	 essa	
população;	Augustin	Berque,	um	exemplo	de	pesquisador	e	geógrafo	que	trabalhou	para	
compreender	o	espaço	vivido	dos	japoneses	e	a	sociedade	oriental,	com	a	obra	“Vivre	L	
espace	au	Japon”;	e	Robert	Pitter,	com	uma	temática	até	então	pouco	discutida,	porém	
curiosa,	a	respeito	dos	espaços	da	morte	e	dos	mortos	(CLAVAL,	2011).
 
Um	dos	principais	gatilhos	para	a	compreensão	de	outras	dimensões	estudadas	
pela	geografia	humana,	de	cunho	cultural,	foi,	sem	dúvida,	o	estudo	dos	espaços	vividos,	
além	de	outras	possibilidades	de	análise,	a	exemplo	do	papel	dos	“sentidos”	e	do	“corpo”.	
Apesar	 de	 interessante,	 a	 geografia	 de	 gênero	 foi	 um	 dos	 assuntos	 pouco	
explorados,	 no	 entanto,	 os	 estudos	 dos	 sentidos,	 na	 geografia,	 reinventaram-se	 em	
tantas	outras	versões,	como	a	geografia	dos	sons,	dos	cheiros	e,	inclusive,	dos	gostos	
(CLAVAL,	2011).
 
97
Caro	acadêmico,	seria	possível	você	compreender,	a	partir	de	fatos	pessoais,	
algumas	 dessas	 dimensões	 estudadas	 pela	 geografia?	 Existem	 estímulos	 que	 lhe	
aproximarão	dos	aspectos	subjetivos	da	análise	da	geografia	cultural.	Imaginamos	que,	
em	algum	momento	da	sua	vida,	lugares	ou	paisagens	trazem,	à	memória,	sensações,	
cheiros,	 sabores	 e	 o	 enraizamento	 cultural	 que	 te	 faz,	 em	 instantes,	 conectar-se,	
sensorialmente,	a	uma	experiência	vivida.
Na	geografia	francesa,	dentre	todos	os	sentidos,	o	mais	aplicado	às	análises	
culturais	foi	a	visão.	O	tema	em	questão,	a	paisagem,	anteriormente,	era	lidada	como	
funcionalista	ou	arqueológica,	e,	a	partir	das	novas	perspectivas,	uma	dimensão	objetiva	
e	subjetiva,	o	olhar	e	a	relação	entre	a	paisagem	como	marcas	da	cultura	e	a	paisagem	
como	matriz	da	cultura	foram	assinalados	como	via	de	mão	dupla	na	década	de	1990,	por	
Augustin	Berque.	A	obra	Lá médiance	compreendeu	as	relações	homem/meio	ambiente,	
segundo	o	entendimento	da	influência	recíproca,	(CLAVAL,	2011).
 
Para	a	compreensão	da	natureza	da	geografia	humana,	Berque	produziu	o	L’ 
ecumène,	e	entende-se	que	“[...]	o	ecumène	está	presente	na	mente	dos	indivíduos,	e	as	
paisagens	 são	marcadas	pelos	 sonhos	e	planos	dos	 indivíduos:	 as	pessoas	necessitam	
ancorar	as	suas	identidades	na	realidade	circundante”	(CLAVAL,	2011,	p.	162).
Outros	domínios	foram	as	 representações,	 imagens	mentais	e	discursos.	Um	
exemplo	de	estudo	foi	conduzido	por	Debarbieux.	Com	relação	a	algumas	representações	
mentais,	 teve,	 como	objetivo,	 analisar	áreas	naturais	 frias,	 com	a	 imagem	dos	alpes,	
neve,	 população	 local	 e	 turistas,	 além	de	nomes	estabelecidos	para	 alguns	maciços	
montanhosos.	Michel	Lussault,	por	exemplo,	analisou	discursos	políticos,	com	o	poder	
de	persuasão	para	investimentos	econômicos,	relacionados	à	implantação	da	indústria	
e	serviços.		
98
Neste tópico, você aprendeu:
•	 Existe	 uma	 diferença	 entre	 o	 conhecimento	 geográfico	 e	 a	 ciência	 geográfica.	
Segundo	 uma	 linha	 cronológica	 ou	 temporal	 estipulada	 desde	 a	 pré-história	 até	
parte	da	 Idade	Moderna,	 o	conhecimento	geográfico	foi	 alinhado	à	 transformação	
que	ocorria	com	a	sociedade,	a	princípio,	com	as	breves	noções	e	conexões	que	o	
homem	sem	vínculo	científico	tinha	com	o	espaço	e	os	elementos	geográficos	via	
curiosidade	e	experiências	despretensiosas.
•	 Uma	conexão	entre	elementos	da	ordem	cultural	era	muito	comum,	a	exemplo	da	
influência	 religiosa	 na	 formação	 social	 e	 do	 conhecimento.	 Existia,	 sempre,	 uma	
relação	muito	forte	em	torno	da	relação	homem,	espaço	e	religião,	o	que	contribuía	
para	 a	 formação	 do	 conhecimento,	 embora,	 ainda,	 não	 tenha	 caráter	 científico.	
A	 princípio,	 as	 cavernas	 eram	 compreendidas	 como	 santuários;	 a	 formação	 da	
localização	espacial	 através	dos	primeiros	mapas,	 a	 exemplo	do	T-0;	 o	mapa	que	
priorizou	Jerusalém	numa	posição	central,	e	com	um	desenho	semelhante	à	cruz,	
símbolo	cristão;	e,	até	mesmo,	as	escolhas	de	autoridades	que	regiam	a	sociedade,	
pois	elas	tinham	que	apresentar	uma	premissa	 religiosa,	que	pode	ser	compreendida	
culturalmente.
•	 Um	novo	momento	surge	com	a	 Idade	Moderna	e	todos	os	movimentos	 insurgentes,	
a	 exemplo	 do	 iluminismo,	 quando	 ouve	 a	 democratização	 do	 conhecimento	 com	 os	
novos	preceitos	econômicos	e	políticos	que	constituíram	esse	período.	Um	nome	que	
se	destacou	para	a	geografia	foi	o	de	Kant.	Sua	trajetória	provocou	o	desenvolvimento	
de	 um	material	 com	 uma	 identidade	 original	 para	 a	 fase	 da	 geografia	 próxima	 à	
sistematização	científica.
•	 O	ensino	da	geografia	e	a	ciência	geográfica	nasceram,	a	princípio,	no	século	XIX.	
A	sistematização	ocorreu	entre	as	duas	principais	escolas,	a	francesa	e	alemã,	em	
contextos	diferenciados,	porém,	ambas	contribuíram	para	as	“novas”	perspectivas	da	
geografia.	
 
•	 Os	 novos	 rumos	 da	 geografia	 cultural	 não	 negaram	 as	 contribuições	 da	 escola	
sauariana	 e	 da	 geografia	 social.	 Contudo,	 foi	 reconduzida	 e	 inspirada	 a	 partir	 do	
desenvolvimento	de	matrizes	epistemológicas	referentes	aos	materialismos	histórico	
e	 dialético,	 fenomenologia	 e	 hermenêutica,	 além	 das	 ciências	 colaboradoras,	 a	
exemplo	da	antropologia.
RESUMO DO TÓPICO 1
99
•	 A	 renovação	da	geografia	ocorreu,	 intensamente,	nos	Estados	Unidos,	por	críticas	
realizadas	à	escola	sauariana	e	ao	conceito	do	supraorgânico,	por	James	S.	Duncan,	
em	1980.	Na	Inglaterra,	um	elo	foi	proposto	entre	a	geografia	cultural	e	a	social,	por	
Peter	 Jackson.	 Com	 relação	 às	 primeiras	 temáticas	 da	 geografia	 cultural	 radical	
(referentes	aos	materialismos	histórico	e	dialético),	trabalhou-se	com	a	perspectiva	
de	produzir	materiais	culturais	e	políticos	para	explicar	categorias	da	geografia.	
•	 A	geografia	francesa	também	se	atentou	aos	novos	rumos,	e	se	dedicou	a	trabalhar	em	
busca	de	uma	base	cultural	para	a	geografia	humana,	a	exemplo	do	estudo	do	espaço	
vivido,	além	das	funções	dos	sentidos	e	corpo,	as	dimensões	das	representações,	
imagens	mentais	e	discursos	e	outros	domínios.	Destacamos	Armand	Frémont,	Jean	
–	Pierre	Raison,	Joël	Bonnemaison,	Augustin	Berque,	Jean	–	Robert	Pitte	e	Bernard	
Debarbieux.
100
AUTOATIVIDADE
1	 Os	elementos	e	fenômenos	geográficos	são	encontrados	na	superfície	terrestre	desde	
épocas	 pré-históricas,	 portanto,	 naquele	momento,	 eles	 podiam	 ser	 considerados	
conhecimento	geográfico	ou	ciência	geográfica?	Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 O	 	 homem	 obteve	 os	 primeiros	 conhecimentos	 da	 geografia	 por	 meio	 de	
conexões	com	o	espaço,	gerando	a	interpretação	de	mundo	desde	as	civilizações	
passadas,	porém,	esses	aspectos	geográficos	não	eram	regidos	por	métodos	e	
procedimentos	científicos,	mas	por	fatos	superficiais,	ou	seja,	não	científicos.
b)	 (			)	 A	sistematização	da	geografia	não	tem	vínculo	com	o	“conhecimento	geográfico”,	
pois	são	definidos	em	tempos	distintos.	
c)	 (			)	 O	homem	obteve	os	primeiros	conhecimentos	da	geografia	por	meio	de	conexões	
com	o	espaço,	gerando	a	interpretação	de	mundo	desde	as	civilizações	passadas,	
portanto,	tais	aspectos	vivenciados	são	de	origem	científica.
d)	 (			)	 Tanto	 o	 conhecimento	 geográfico	 quanto	 a	 ciência	 geográfica	 podem	 ser	
considerados	iguais,	pois	um	complementa	o	outro.
2	 A	 geografia,	 enquanto	 ciência,	 apresentou	 resistência	 ao	 tratar	 dos	 fenômenos	
geográficos	com	base	cultural,	com	algumas	exceções.	Essa	falta	foi	parcialmentesanada	no	momento	de	renovação,	quando	novas	matrizes	epistemológicas,	teóricas	
e	metodológicas	vieram	a	ser	discutidas.	Quais	dessas	filosofias	podem	ser	elencadas?
a)	 (			)	 Fenomenologia,	hermenêutica,	materialismos	histórico	e	dialético.
b)	 (			)	 Positivismo,	materialismos	histórico	e	dialético	e	fenomenologia.
c)	 (			)	 Neopositivismo,	positivismo	e	estruturalismo.
d)	 (			)	 Teorético,	quantitativa,	fenomenologia	e	historicismo.	
3	 Com	relação	aos	autores	contemporâneos,	qual	foi	referência	por	criticar	a	geografia	
sauariana	no	ano	de	1980?
a)	 (			)	 Roberto	Lobato	Corrêa,	pois	Sauer	adotou	uma	política	antiurbana.
b)	 (			)	 Marvin	W.	Mikesell,	 pois,	 apesar	 de	discípulo	de	Sauer,	 eles	não	 concordavam	
com	a	teoria	supraorgânica.
c)	 (			)	 Yi-Fu	Tuan,	pois,	enquanto	representante	da	perspectiva	radical,	 realizou	uma	
crítica	fundamentada	nos	materialismos	histórico	e	dialético,	 indicando	que	a	
teoria	supraorgânica	não	legitimava	a	geografia	cultural.
d)	 (			)	 James	 Duncan,	 pois	 realizou	 uma	 crítica	 severa	 a	 respeito	 da	 geografia	
cultural	sauariana	e	sua	visão	de	cultura	com	entidade	supraorgânica,	pois	não	
considerava	 a	 cultura	 como	 autônoma,	 acima	 da	 sociedade	 e	 detentora	 dos	
poderes	explicativos.
101
APOIOS, DINAMISMO E RESISTÊNCIA DA 
COMPOSIÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL
UNIDADE 2 TÓPICO 2 — 
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico,	esta	fase	compreende	uma	singela	parte	do	processo	
de	renovação	da	geografia	cultural,	que	se	distribuiu	em	pesquisas	bases	
com	nomes	de	referência	para	a	ciência,	ressignificação	de	conceitos,	
persistência	e	desafios	para	a	produção	do	conhecimento,	na	área	da	
geografia,	para	além	das	influências	econômicas,	políticas	e	relações	de	
classe	sociais.	Esse	momento	sinaliza	as	novas	dimensões	dos	estudos	a	respeito	da	
evolução	das	discussões	e	narrativas	ancoradas	no	espaço	frente	às	dinâmicas	culturais.	
A	interpretação	dimensiona	a	cultura,	espaço	e	tempo,	mediante	suas	ocorrências	nos	
caráteres	material	e	imaterial.
Seja	bem-vindo	ao	Tópico	2	da	Unidade	2!	A	partir	de	agora,	convidamos	você	
a	 aprofundar	 os	 estudos.	 Neste	 tópico,	 serão	 desenvolvidos,	 além	 da	 introdução	 às	
temáticas,	dois	assuntos	complementares:	Paul	Claval	e	os	estudos	culturais	e	formas	
simbólicas	 espaciais.	 Ao	 fim	 das	 leituras,	 serão	 introduzidos	 o	 resumo	 referente	 ao	
tópico	e	as	autoatividades.
Introduziremos	as	contribuições	do	autor	francês	Paul	Claval	e	seu	dinamismo	
na	geografia	cultural	a	respeito	da	relação	do	homem	x	espaço	e	cultura.	A	proposta	de	
apresentar	o	geógrafo	como	referência	está	pelo	seu	papel	de	destaque	na	atualidade,	
que,	de	maneira	generosa,	busca	interpretar	a	história	ou	natureza	das	relações	sociais	
e	culturais.	Claval	apresenta,	com	muita	destreza,	simplicidade	e	leveza,	desde	os	temas	
acirrados	do	pensamento	histórico	geográfico	aos	temas	vivenciados,	diariamente,	por	
geógrafos	e	não	geógrafos,	mas,	que	outrora,	 foram	 impedidos	de	ser	chamados	de	
trabalhos	científicos.	Ele,	 a	partir	 de	uma	base	teórica	 interdisciplinar,	 sai	 do	óbvio	e	
objetivo	e	propõe	significar	os	conceitos	por	hora	enrijecidos,	propondo	discussões	das	
expressões	culturais,	espaços	e	grupos	sociais.
 
Ainda,	haverá	a	discussão	de	um	assunto	pertinente	às	novas	concepções	da	
geografia	cultural	após	1970:	as	formas	simbólicas	e	suas	espacialidades.	Essa	relação	
opta	por	um	caminho	crítico,	humano	e	simbólico,	material	e	imaterial,	a	respeito	das	
perspectivas	tradicionais	da	geografia.
102
Confiamos	a	introdução	do	estudo	em	questão	ao	autor	Roberto	Lobato	Corrêa,	
geógrafo	 brasileiro	 que	 trabalha	 com	 as	 áreas	 da	 geografia	 urbana	 e	 da	 geografia	
cultural,	ou	seja,	os	estudos	urbanos	no	âmbito	da	geografia	cultural	renovada.	A	partir	
da	exposição	de	Corrêa,	traremos	alguns	exemplos	de	alguns	dos	assuntos	relacionados	
às	formas	simbólicas	espaciais	construídas	pela	sociedade,	além	da	dinâmica	da	vida	
mediante	 o	 poder,	 simbolismo/memorialização,	 tempo	 (passado,	 presente	 e	 futuro),	
forças	opostas	entre	concordâncias,	contradições,	diferenças,	igualdade,	celebração	e	
altercação.		
2 PAUL CLAVAL E OS ESTUDOS CULTURAIS
O	 século	 XX	 foi	marcado	 por	 inúmeros	 acontecimentos,	 principalmente,	 nos	
âmbitos	 tecnológico	 e	 científico,	 os	 quais,	 juntos,	 favoreceram	 a	 cientificidade	 da	
geografia.	Claramente,	a	ótica	de	ler	o	espaço	deixou	de	ser	uma	via	única,	mas	tornou-
se	 democrática	 e	 dinâmica,	 ao	final	 da	 segunda	metade	 do	 século	 XX	 (assunto	 que	
pode	ser	compreendido	na	Unidade	1).	Para	tal	evolução	na	ciência	geográfica,	nomes	
conhecidos	entre	os	acadêmicos	da	geografia	representaram	esse	quadro	de	mudanças,	
sendo,	um	deles,	o	francês	Paul	Claval.
Nascido	 no	 ano	 de	 1932,	 na	 comuna	 de	Meudon,	 um	 dos	vilarejos	 da	 Idade	
Medieval,	 considerada	 a	 menor	 e	 mais	 antiga	 subdivisão	 administrativa	 da	 França,	
Claval	 partiu	vinte	 e	 três	 	 anos	mais	 tarde,	 no	 ano	de	 1955,	 e	 iniciou	 seus	primeiros	
passos	da	sua	longa	jornada	na	geografia,	primeiramente,	como	professor	em	escolas	
secundárias	 (1955-1960),	depois,	como	conferencista	e	professor	da	Universidade	de	
Besançon	(FRA),	professor	na	Universidade	de	Paris	XIII	–	Nord,	conquistando,	enfim,	
a	vaga	de	catedrático,	na	Universidade	de	Paris	IV	–	Sorbonne	(1973-1998),	e	Emérito,	 
em	1998.
 
Com	uma	característica	versátil,	ele	não	se	apegou	a	um	fenômeno	específico,	
mas	 permitiu,	 na	 sua	 vida	 acadêmica,	 gostar	 de	 aprender,	 ser	 um	 observador	
entusiasmado	em	descobrir	o	novo,	motivo	pelo	qual	percorreu	os	cinco	continentes	
até	então	definidos.	Tal	ato	o	aproximou	dos	exímios	geógrafos	anteriores	a	ele,	pois	sua	
percepção	dos	continentes,	países	e	capitais	do	mundo	o	gabaritou	para	desenvolver	ricas	
produções	nas	geografias	cultural,	 regional,	econômica	e	epistemologia	da	geografia.	
Com	um	trato	singular,	suas	observações	aglutinaram	traços	da	escola	francesa,	além	
do	 movimento	 de	 renovação,	 que	 cercou	 transformações	 para	 a	 compreensão	 das	
categorias	da	geografia.
Pode-se	dizer	que	Claval	foi	um	dos	precursores	da	renovação	geográfica	do	
século	XX.	Da	França	para	o	mundo,	o	catedrático	fomentou,	nas	suas	obras,	a	criação	
dos	ramos	da	geografia	e	gerou	a	importância	dos	outros	campos	geográficos	outrora	
menosprezados,	motivo	que	o	tornou	um	referencial	para	a	academia.	
103
As	 suas	 obras,	 para	 além	 das	 fronteiras	 francesas,	 foram	 reconhecidas	 e	
traduzidas	para	inúmeros	idiomas.	Temos,	por	exemplo,	o	Espaço e poder,	a	Geografia 
cultural,	os	Princípios de geografia social,	a	Geografia econômica e A lógica das cidades.	
Ao	todo,	Claval	publicou	40	livros	e	uma	média	acima	dos	700	artigos	científicos.
Marcante	 na	 sua	 trajetória,	 Claval	 conquista	 reconhecimentos	 e	 prêmios	
internacionais.	 Assim,	 listaremos	 alguns	 títulos	 encontrados	 no	 seu	 currículo:	 em	
1992,	tornou-se	fundador	da	 revista	Géographie	et	cultures,	doutor	honoris	causa	das	
Universidades	 de	 Genebra	 (1980),	 Trieste	 (1997),	 Trento	 (1998),	 Buenos	 Aires	 (1999),	
Tsukuba	 (1999),	 Roma	 (2001)	 e	 Montreal	 (2008).	 No	 ano	 de	 1996,	 recebeu	 o	 prêmio	
internacional	 Vautrin	 Lud,	 e,	 em	 2004,	 o	 prêmio	 de	 prestígio	 da	 União	 Geográfica	
Internacional	(IGU)	–	Lauréat	d'honneur.
O que significa o prêmio Vautrin Lud?
Criado pelo festival internacional de geografia em Saint-Dié-des-Vosges. Para os geógrafos, 
o Vautrin Lud é um prêmio notável, consagrado como o “Nobel da Geografia”. Ele foi um 
meio que a comunidade científica encontrou para reconhecer geógrafos autores de 
contribuições significativas para a ciência da geografia, já que o prêmio Nobel não abrange 
essa categoria científica. No ano de 2020, o prêmio completa 29 anos de existência, e vem 
sendo um canal de propagação de nomes internacionais. 
Anualmente, desde 1991, aqueles que fazem a diferença com suas obras e meio de 
pesquisa são selecionados, e, assim como toda seleção, existeum tramite a ser seguido, 
com o Vautrin Lud não é diferente. Em etapa eliminatória, 240 profissionais da geografia 
escolhem alguns nomes para ser levados ao júri final, que é composto por cinco geógrafos 
de distintas nacionalidades, e, a partir das análises minuciosas das obras é que sairá o 
geógrafo coroado do ano. No Brasil, apenas Milton Santos teve esse reconhecimento, 
datado no ano de 1994.
Por traz da escolha da cidade e do nome do prêmio, existem algumas curiosidades e 
simbolismos para a geografia. Foi, na pequena Saint-Dié-des-Vosges, nordeste da França, 
que a “América” teve seu nome consagrado por Martin Waldseemüller, o criador do mapa 
mundi, em 1507 (o primeiro mapa que apresentou o mundo em quatro partes: a Europa, 
a América do Sul, a América do Norte e a América), diferente do mapa da Figura 7. Essa 
nomenclatura, curiosamente, teve, como influência, o nome do navegador e 
cartógrafo “Américo Vespúcio”, aquele que afirmou ter primeiro encontrado 
o continente da América nas suas navegações.
Vautrin Lud foi um cônego, líder religioso e estudioso da cosmografia. 
Ele dirigia uma equipe dos trabalhos referentes aos mapas e, a partir 
da conciliação das informações das expedições marítimas, elaborava 
representações dos continentes. Uma das imagens mais 
esperadas e emblemática foi o mapa do novo mundo, 
que teve, como parceiro, o integrante acadêmico Martin 
Waldseemüller.
NOTA
104
Prêmio IGU – Lauréat d'honneur
O prêmio Lauréat d'honneur é oferecido pela união geográfica 
internacional desde 1976, e destina-se a um público que se 
destaca com pesquisas, obras emblemáticas ou com trabalhos 
prestados à união geográfica internacional, no campo da geografia 
ou meio ambiente. Para mais informações, acesse: https://igu-
online.org/about-us/roll-of-honour/.
DICA
Na	 geografia	 brasileira,	 Claval	 tem	 genuína	 contribuição,	 principalmente,	
quanto	à	inclusão	dos	estudos	da	geografia	cultural.	Segundo	Almeida	e	Arrais	(2013),	
os	elos	formados	por	Claval	provêm	da	sua	primeira	visita	ao	país,	no	ano	de	1986,	e,	
posteriormente,	quando	um	dos	seus	livros	foi	traduzido	para	a	língua	portuguesa,	em	
1999,	motivo	 pelo	 qual	 houve	uma	aproximação	 entre	 os	 acadêmicos	 brasileiros	 e	 o	
francês	estudioso	da	geografia	cultural.	Em	parceria	com	Kozel	e	Sousa,	em	2007,	Claval	
participou	de	uma	expedição	chamada	 “Amazônica”,	pois	 se	distribuiu	nos	territórios	
de	 Roraima	 e	 Amazonas.	 O	 objetivo	 era	 percorrer	 cidades,	 comunidades	 ribeirinhas	
com	pouca	terra	e	muito	água.	Referimo-nos	aos	rios,	para	pesquisar	as	manifestações	
culturais	 dos	 lugares	 visitados,	 como	 a	 festa	 do	 boi-bumbá,	 os	 povos	 ribeirinhos,	
lançando,	como	resultado,	a	interpretação	do	sujeito	a	partir	da	sua	história,	vivências	e	
percepções	do	lugar	(KOZEL;	SOUSA,	2013).
 
Claval	 (2012)	 discorre	 a	 respeito	 das	 influências	 das	 escolas	 do	pensamento	
geográfico	 na	 geografia	 brasileira	 e	 toda	 sua	 história.	 Ainda,	 aborda	 a	 seara	 das	
diversidades	étnica	e	 religiosa	da	cultura	brasileira,	apresentando	conteúdos	riquíssimos	
pesquisados.	Claval	entende	que	o	país	é	uma	fonte	abundante	para	os	geógrafos	da	
geografia	cultural.	Os	assuntos	podem	e	são	explorados	a	partir	das	raízes	ameríndias	
da	 cultura	 nacional,	 extensivos	 aos	 hábitos	 e	modo	 de	vida	 dos	 sujeitos	 (atividades	
agrícolas,	formas	alimentares).	Ainda,	há	influências	da	cultura	africana	pelo	sincretismo	
religioso	das	religiões	afro-brasileiras,	como	a	umbanda	e	o	candomblé,	assim	como	os	
neoafricanos,	caracterizados	pelas	comunidades	quilombolas.	Outro	perfil	trazido	pela		
colonização	europeia,	que	também	pode	ser	tema,	são	os	cristãos	novos	“marranos”,	
ciganos	que	estão	distribuídos	pelo	território	nacional	e	trazem	seus	hábitos,	costumes	
e	fé.	Uma	outra	perspectiva	são	as	abordagens	que	versam	a	respeito	das	contradições	
sociais	e	as	ingerências	provocadas.
A	população	brasileira	está	cada	vez	mais	urbanizada.	A	abordagem	cultural	se	
interessa	pelas	diversas	formas	de	segregação	das	cidades	brasileiras,	por	suas	favelas	
e	seus	condomínios	fechados.	Os	problemas	que	assolam	as	cidades,	a	prostituição,	a	
criminalidade,	o	tráfico	de	drogas	são	objetos	de	pesquisas	sérias	(CLAVAL,	2012,	p.	19).
 
105
Em	uma	conferência,	Claval	discorreu	a	respeito	da	contribuição	francesa	ao	de-
senvolvimento	da	abordagem	cultural	na	geografia,	e,	como	parte	da	discussão,	ele	se	
declarou	que	faz	parte	de	uma	classe	de	geógrafos	que	entende	que	todos	os	fatos	geo-
gráficos	também	possuem	uma	origem	cultural,	e	que	boa	parte	dos	geógrafos	franceses	
investe	em	reconstruir	a	geografia	humana	sobre	as	bases	da	cultura	(CLAVAL,	2011).	
 
Na	 geografia	 francesa,	 Claval	 também	 possui	 uma	 extensa	 contribuição,	
trazendo	os	ensinamentos	de	geógrafos,	como	Vidal	de	La	Blache	(1845-1918)	e	seus	
herdeiros	vidalianos,	Albert	Demangeon	(1872-1940),	Jean	Gottmann	(1917-1995),	Jean	
Brunhes	 (1869-1930),	Pierre	Deffontaines	 (1894-1978),	Roger	Dion	 (1896-1981),	Xavier	
de	 Planhol	 (1926-2016)	 e	 Eric	 Dardel	 (1900-1968).	 Ainda,	 há	 outros	 autores,	 como	
referências	da	nova	fase	da	geografia	cultural:	Armand	Frémont,	Jean	Pierre	Raison,	
Joël	Bonnemaison,	Augustin	Berque,	Jean	Robert	Pitte,	Bernard	Debarbieux,	Antoine	
Bailly,	Vincent	Berdoulay,	Michel	Lussault	e	outros	que	não	foram	mencionados.
3 FORMAS SIMBÓLICAS ESPACIAIS: BREVES 
APONTAMENTOS
Temos,	 como	 objetivo,	 apontar	 determinadas	 reflexões	 acerca	 das	 formas	
simbólicas	no	campo	da	dimensão	do	espaço,	as	quais	são	muito	presentes	no	estudo	
da	geografia	cultural	da	segunda	metade	de	1970.	Cuidadosamente,	são	introduzidos,	
com	criticidade,	os	moldes	de	análises	tradicionais,	as	máximas	filosóficas	referentes	ao	
marxismo,	humanidades	e	significados.
Para	a	discussão	das	formas	simbólicas	e	espaciais,	tratamos	de	convidar,	ao	
texto,	o	geógrafo	Roberto	Lobato	Corrêa,	autor	brasileiro	que	mais	traduz	conceitos	e	
estudos	da	temática.	Nas	suas	leituras,	é	possível	enxergar	que	as	formas	simbólicas	
espaciais	podem	ser	materiais,	 imateriais	e	podem	aparecer	em	diferentes	domínios.	
É	 possível	 que	 alguns,	 ou	 todos	 vocês,	 conheçam	 shopping	 centers,	 templos,	
monumentos,	parques	temáticos,	procissões	e	paradas,	cemitérios,	palácios	etc.	Todas	
essas	 esferas	 em	 discussão	 são	 passíveis	 de	 se	 tornarem	um	meio	 de	 pesquisa	 na	
geografia	 cultural,	 cuja	 finalidade	 representa	 a	 análise	 entre	 as	 relações	 das	 formas	
simbólicas,	identidade	e	a	variável	tempo,	com	a	reinterpretação	do	passado	e	as	vistas	
das	novas	possibilidades	do	futuro.
 
O	grande	teórico	cultural,	sociólogo	e	estudioso	da	identidade,	Stuart	Hall	(2006),	
afirma	que,	em	um	grupo	cultural,	as	trocas	podem	ser	tão	intensas	e	complexas	entre	os	
entes	que	as	comunidades	passam	a	ser	capazes	de	produzir	e	difundir	significados	dos	
elementos	materiais	ou	não.	A	partir	deles	que	existirão	as	representações	da	realidade,	
que,	consequentemente,	projetam-se	nas	formas	simbólicas.	Assim,	fica	entendido	que	
as	formas	simbólicas,	automaticamente,	são	as	representantes	da	realidade.
106
Segundo	Corrêa	(2007),	as	formas	simbólicas,	materiais	e	não	materiais,	formam	
signos,	e	estes,	por	sua	vez,	passam	por	um	processo	de	criação,	a	partir	da	conexão	
entre	 formas,	 significantes,	 conceitos	 e	 significados.	 Então,	 pode-se	 entender	 que	
essas	relações	ou	conexões	são	homônimas,	apresentam,	aparentemente,	uma	mesma	
estrutura	para	a	elaboração	dos	significados,	porém,	são	de	livres	interpretações,	pois	
são	 diversas,	 tendo	 em	 vista	 as	 possibilidades	 e	 variabilidade	 de	 significados	 pelos	
diferentes	grupos	culturais.
Na	contramão	de	um	pensamento	generalizado,	baseado	na	hegemonia	cultural,	
a	polivocalidade	(pluralidade	e	liberdade	dos	significados)	adentrou	no	campo	geográfico,	
fortalecendo-se	com	uma	gama	de	novas	possibilidades	de	analisar	os	espaços	que	
foram	rotulados	como	 lugares	marginalizados,	não	hegemônicos	e	de	alteridades.As	
formas	simbólicas	se	tratam	de	um	alargamento	do	espectro	da	ciência	geográfica,	o	
que	dá	voz	aos	diversos	significados,	 sujeitos,	 tempos	e	espacialidades.	 “A	geografia	
cultural	se	beneficiou	com	aportes	do	marxismo,	da	fenomenologia,	da	hermenêutica,	
das	ciências	sociais	e	humanidades,	como	a	crítica	literária	e	a	linguística,	e	das	ciências	
naturais”	(CORRÊA;	ROSENDAHL,	2012,	p.	90).
 
Propomos	apresentar	a	construção	da	espacialidade,	pela	ação	humana,	como	
um	reflexo	simbólico	não	apenas	pela	perspectiva	econômica,	mas	associado,	ou	seja,	 
o	simbolismo	e	o	econômico	juntos,	com	suas	cargas	de	influências	com	as	dimensões	
espaciais.
A	corrente	que	caracteriza	a	essência	da	interpretação	do	signo,	na	perspectiva	
de	Corrêa,	 é	 a	 construcionista.	Hall	 (2006)	 denomina	 como	 sendo	uma	corrente	 em	
que	os	significados	são	criados/construídos	segundo	o	 raciocínio	de	comunidades	e	
pessoas	que	significam	e	interpretam	as	formas	simbólicas.	Todavia,	nessa	via	de	mão	
dupla,	é	possível	que	não	haja	a	unicidade	de	significado,	mas	interpretações	diversas	
que,	 apesar	 do	 valor	 adquirido,	 venham	 gerar	 instabilidade	 de	 significados	 por	 essa	
pluralidade.
 
Existe	uma	relação	muito	direta	entre	as	formas	simbólicas	com	o	espaço,	pois	
essa	conexão	transforma	as	formas	simbólicas	em	formas	simbólicas	espaciais,	a	partir	
do	momento	em	que	os	fixos	e	fluxos	são	incluídos	no	processo	de	compreensão.	Assim,	
todo	o	conjunto	passa	a	fazer	sentido.
Relembrando fixos e fluxos em poucas linhas: os fixos possuem formas, são 
elementos fixados na materialidade, em algum lugar e espaço (localização), 
como algumas construções civis, usinas, prédios, casas e imóveis em geral. 
Os fluxos são caracterizados pela imaterialidade, fluidez e dinamicidade 
(itinerários); eles vivificam os fixos, e podem ser entendidos por serem rotas 
de produtos, serviços, informações e culturas.
NOTA
107
São	considerados	correntes	de	formas	simbólicas	espaciais	“palácios,	templos,	
cemitérios,	memoriais,	obeliscos,	estátuas,	monumentos	em	geral,	shopping	centers,	
nomes	de	logradouros	públicos,	cidades	e	elementos	da	natureza,	procissões,	desfiles,	
paradas	etc.”	(CORRÊA,	2007,	p.	9).
 
No	parágrafo	anterior,	com	Corrêa	(2007),	foram	apresentadas,	nominalmente,	
algumas	formas	simbólicas	espaciais,	portanto,	para	não	fique	no	campo	 imaginário,	
trouxemos,	através	de	imagens	capturadas	da	internet,	uma	pequena,	diante	do	vasto	
campo	de	estudo.	Propomos	que	vocês	façam	um	exercício	para	compreensão	visual,	e	
entendam,	a	partir	de	alguns	exemplos,	do	que	se	tratam	as	formas	simbólicas	espaciais,	
que	estão	distribuídas	em	territórios	nacionais	e	em	internacionais.	Certamente,	a	partir	
dessa	experiência,	você	analisará	a	sua	cidade,	e	também	identificará	algum	ponto	com	
formas	simbólicas	espaciais.
A	 primeira	 figura	 é	 o	 palácio	 de	 Buckingham,	 localizado	 em	 Londres.	 Ele	 foi	
erguido	pelo	duque	Buckingham,	mas	se	tornou	residência	oficial	da	monarquia	britânica	
em	meados	dos	anos	1763,	quando	comprado	pelo	Rei	George	III.	Apesar	do	palácio	ser	
fortificado	por	ferro,	bronze	forjado,	ao	longo	das	guerras,	esse	complexo	sofreu	ataques	
e	bombardeios,	fomentando	reformas	e	melhorias	arquitetônicas.	O	palácio	se	tornou	
o	símbolo	da	pujança	da	nobreza	do	Reino	Unido,	atrai	desde	a	população	britânica	a	
turistas	de	todo	o	mundo.	Esse	lugar	possui	uma	atmosfera	de	significados.
FIGURA 9 – PALÁCIO DE BUCKINGHAM – LONDRES
FONTE: <https://cdn.civitatis.com/reino-unido/londres/galeria/palacio-buckingham-cambio-guardia.jpg>. 
Acesso em: 2 set. 2020.
A	 basílica	 de	 São	 Pedro,	 localizada	 no	Vaticano	 e	 sua	 construção	 suntuosa,	
trata-se	do	maior	complexo	religioso	referente	ao	catolicismo,	constituindo	uma	unidade	
política	e	espacial.	De	acordo	com	Rosendahl	(2003),	o	sagrado	dispõe	de	uma	gestão	
hierárquica.	No	caso	do	Vaticano,	ele	representa	uma	sede	oficial	e	se	caracteriza	por	ser	
um	território	religioso	administrativo.
108
Segundo	 Corrêa	 (2005,	 p.	 12),	 “as	 instituições	 religiosas,	 por	 outro	 lado,	 ao	
construírem	seus	 templos	e	 outras	 formas	 simbólicas,	materializam	o	 local	 do	 culto	 e	
exibem	o	poder	da	instituição	ao	comunicar	a	mensagem	religiosa	proclamada,	que	une	 
e	identifica	a	comunidade	dos	seus	fiéis”.
FIGURA 10 – BASÍLICA DE SÃO PEDRO – VATICANO
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcRJ827IYsnRfhJnfZfkHqUVpSK2SD
JV3Z-i4A&usqp=CAU>. Acesso em: 2 set. 2020.
Com	relação	aos	monumentos	que	vêm	a	ser	apresentados:	o	Cristo	Redentor	e	
o	do	Dr.	Blumenau.	Cada	um	possui	um	significado	particular:	o	primeiro	reflete,	nacional	
e	internacionalmente,	o	símbolo	do	Rio	de	Janeiro	e	a	identidade	católica	da	população	
brasileira,	estimada	como	o	país	de	maior	número	de	católicos	do	mundo.	Em	proporção	
menor,	tem-se	o	monumento	e	mausoléu	de	Hermann	Bruno	Otto	Blumenau,	fundador	
da	colônia	e,	hoje,	cidade	de	Santa	Catarina,	localizada	no	Vale	do	Itajaí,	que	leva	o	seu	
sobrenome,	Blumenau.	Esse	lugar	foi	edificado	com	o	objetivo	de	homenagear	o	fundador	
da	cidade,	e,	para	manter	a	conexão	com	a	população,	a	fundação	da	cultura	da	cidade,	
regularmente,	abre	espaço	para	exposições	das	artes.
FIGURA 11 – MONUMENTO DO CRISTO REDENTOR – RIO DE JANEIRO
FONTE: <https://pbs.twimg.com/media/CEhLqt9WIAA5GCF.jpg>. Acesso em: 2 set. 2020.
109
FIGURA 12 – MONUMENTO E MAUSOLÉU DR. BLUMENAU – BLUMENAU
FONTE: <https://mapio.net/images-p/19401243.jpg>. Acesso em: 2 set. 2020.
Os	nomes	dos	 lugares	podem	significar,	além	da	 linguística	e	da	base	etimo-
lógica,	 aspectos	 geográficos,	 históricos,	 sociais,	 econômicos	 e	 antropoculturais.	 Um	
exemplo	foi	a	renomeação	das	ruas	em	Paris,	Lisboa	e	no	Brasil,	com	o	nome	da	então	
vereadora	assassinada	Marielle	Franco.	O	acontecimento	ganhou	força	política,	por	ela	
ser	representante	das	classes	minoritárias	enquanto	mulher.
FIGURA 13 – NOME DO LOGRADOURO MARIELLE FRANCO - RIO DE JANEIRO
FONTE: <https://www.culturamix.com/wp-content/uploads/2020/06/Rua-Marielle-Franco.jpg>. 
Acesso em: 2 set. 2020.
Os	 cemitérios	 também	 faz	 parte	 de	 uma	 temática	 estudada	 pela	 geografia	
cultural.	 Esses	 lugares	 podem	 falar	 muito	 dos	 acontecimentos	 históricos,	 como	
veremos	adiante.	Em	alguns	casos,	cemitérios	podem	explicar	as	relações	das	classe	
sociais,	mas,	no	caso	do	cemitério	 judeu	em	Praga,	no	bairro	de	Josefov,	em	particular,	
a	religião,	 identidade	cultural,	tradição	e	seus	simbolismos	são	as	marcas	fortes	a	serem	
discutidas,	além	dos	temas	relacionados	ao	antissemitismo,	e	os	pogroms,	considerados	 
os	atos	violentos	contra	os	judeus.
110
FIGURA 14 – ANTIGO CEMITÉRIO JUDAICO DE PRAGA
FONTE: <https://mundovastomundo.com.br/wp-content/uploads/2018/12/Cemit%C3%A9rio-
judaico2-e1545506694980.jpg>. Acesso em: 2 set. 2020. 
O	exposto	a	seguir	representará	o	movimento	da	Marcha	para	Jesus,	na	cidade	
de	São	Paulo,	 lugar	onde	nasceu	a	primeira	MPJ	no	Brasil.	Esse	movimento	denota	a	
força	da	religião	evangélica	de	ocupar	espaços	públicos,	difundindo-se,	espacialmente,	
com	 atos	 populares	 religiosos	 e	 ideais	 políticos,	 visando	 fortalecer,	 promover	 sua	
identidade	religiosa.	Essa	ocupação	funcional	dos	espaços	públicos	por	grupos	sociais	
pode	se	caracterizar	como	forma	simbólica.
FIGURA 15 – MARCHA PARA JESUS – SÃO PAULO
FONTE: <https://noticias.r7.com/fotos/marcha-para-jesus-leva-milhares-de-fieis-as-ruas-de-sao-paulo-
veja-fotos-20062019#!/foto/1>. Acesso em: 4 set. 2020.
A	procissão	do	Círio	de	Nazaré	pode	render	análises	dos	muitos	aspectos	para	a	
geografia	cultural.	Segundo	Rosendahl	(2003),	a	marca	do	ano	de	1800	representou	o	
fechamento	de	três	séculos	de	conquista	das	colônias	e	dos	processos	de	missões	e	
evangelização	do	catolicismo.	Esse	poder,	vinculado	à	religião,	disseminou-se	por	nove	
unidade	territoriais	do	Brasil,	e	uma	dessas	foi	Belém,	região	norte	do	país.	A	paroquia	
de	Nossa	Senhora	de	Nazaré	foi	criada	em	1861,	e	todas	as	assimilaçõesde	milagres	
designadas	à	santa	contribuíram	para	o	crescimento	dos	devotos,	por	conseguinte,	da	
procissão,	tornando	aquele	espaço	uma	área	de	grande	influência	política	e	religiosa,	
pois	o	catolicismo,	face	aos	festejos,	utiliza-se	dos	espaços	e	vias	públicas	para	expor	
sua	fé	e	afirmar	a	sua	identidade	religiosa.
111
FIGURA 16 – PROCISSÃO DO CÍRIO DE NAZARÉ – BELÉM DO PARÁ
FONTE: <https://pbs.twimg.com/media/EXdVkDwXsAIXwlF.jpg:large>. Acesso em: 2 set. 2020.
Acadêmico,	 para	 as	 todas	 as	 formas	 simbólicas,	 existem	 políticas	 que	 as	
regem,	 a	 exemplo	 da	 política locacional e de escala.	 Segundo	 Corrêa	 (2007),	 a	
política locacional	se	divide	em	localização	absoluta,	localização	relativa	e	localização	
relacional,	e	a	política de escala	em	dimensão	absoluta	e	dimensão	relacional.	
•	 Absoluta
É	possível	que,	do	ponto	de	vista	histórico,	você	se	lembre	de	algum	lugar	da	sua	
cidade	que	tenha	uma	história	marcante,	 lembrou?	Certo,	 então,	 a	 localização	absoluta	
pode	partir	desse	princípio	ou,	simplesmente,	a	partir	da	criação	de	um	significado	para	
uma	 localização	 absoluta	 qualquer,	 quando	 se	deseja	 transformá-la	 em	um	 local	 de	
destaque.
 
“Uma	forma	simbólica	tem	uma	localização	absoluta,	um	sítio	onde	ocorreu	um	
dado	evento	considerado	significativo	ou	que	se	deseja	 transformar	em	um	 local	de	
celebração,	contestação	ou	memorialização,	por	apresentar	um	potencial	positivo	para	
esse	fim”	(CORRÊA,	2007,	p.	9).
Alguns	 exemplos	 das	 formas	 simbólicas	 são	 evidenciados	 em	 literaturas	
anteriores	aos	anos	2000,	e	podem	ser	datados	desde	o	século	XIX.	Cidades	americanas	
e	europeias	são	exemplos	da	criação	de	monumentos	de	grande	porte,	como	estátuas,	
memoriais	e	templos.	O	intuito	vai	além	da	aparência	estética,	mas	contém	um	conteúdo	
político,	econômico,	social.
Corrêa	(2005)	apresenta	alguns	exemplos	de	formas	simbólicas	de	dimensões	
maiores	que,	quando	construídas	com	o	intuito	de	permanecerem	na	memória,	geraram	
conflitos	ou	contestação,	como	a	estátua	erguida	em	Londres,	do	Sir	Arthur	“Bomber”,	
marechal	da	real	força	aérea	que	comandou	o	bombardeio	de	cidades	alemãs.	Outra	
112
manifestação	foi	da	manutenção	do	monumento	do	exército	vermelho,	em	Budapeste.	
Outros	exemplos	citados	por	Corrêa	(2005),	dotado	de	conotação	política	e	de	identidade,	
foram	 a	 construção	 das	 basílicas	 católicas	 Sacré	 Coeur	 de	Montmartre	 (França)	 e	 a	
Catedral	Cristo	Salvador	(Rússia).
Além	da	identificação	de	grandes	formas	simbólicas	e	seus	contextos	históricos	
ancorados	 a	 guerras	 e	 eventos	 mundiais,	 outras	 formas	 simbólicas	 menores	 foram	
inspiradas	 e,	 consequentemente,	 construídas.	 Com	 essa	 ideologia,	 acreditamos	 que	
seja	 possível	 reduzir	 esse	 espectro	 de	 acordo	 com	 a	 realidade	 individual.	Vamos	 ao	
exemplo:	na	cidade	de	Campina	Grande-PB,	às	margens	do	açude	velho	(reservatório	
hídrico	urbanizado	que,	hoje,	é	um	ponto	turístico	na	cidade	paraibana),	foi	inaugurado	
o	 monumento	 chamado	 “Os	 Pioneiros	 da	 Borborema”,	 em	 1964.	 Representa	 a	
materialização,	memorialização	e	homenagem	a	três	figuras	importantes	dos	processos	
de	criação	e	crescimento	da	cidade:	os	nativos,	representados	pelo	índio,	como	símbolo	
da	resistência	e	luta;	a	colhedora	de	algodão,	figura	feminina	que	representou	a	força	
com	 a	 economia	 do	 ouro	 branco,	 quando	 o	 município	 se	 tornou	 o	 segundo	 maior	
exportador	de	fibra	no	mundo;	e	o	terceiro	personifica	o	homem	colaborador	comercial,	
caracterizado	pelo	tropeiro,	aquele	que	conduziu	tropas	de	Equus asinus,	popularmente	
conhecido	como	“burro”.	Todos	transportavam	cargas	de	algodão	e	cereais	(milho,	arroz,	
feijão)	do	litoral	ao	sertão	do	estado.
FIGURA 17 – OS PIONEIROS DA BORBOREMA – CAMPINA GRANDE
FONTE: <https://www.paraibacriativa.com.br/artista/os-pioneiros-da-borborema/>. Acesso em: 4 set. 2020.
Outro	aspecto	curioso	foi	a	 localização	escolhida,	em	posição	nascente,	para	
que	 todos	 que	 olhem	 vejam	 o	 brilhar	 do	 sol	 no	 monumento,	 uma	mensagem	 sutil,	
quanto	às	perspectivas	de	progresso	e	esperança	em	 relação	ao	futuro.	Além	disso,	
como	 fator	 real,	 esse	 perímetro	 circundou	 a	 história	 da	 criação	 da	 cidade,	 um	 eixo	
de	relações	econômicas,	comerciais,	religiosas,	de	rota	geográfica	e	de	todo	início	do	
grande	processo	de	urbanização.
 
113
Outro	exemplo	pode	ser	o	Riacho	do	Ipiranga	–	São	Paulo,	local	que	detém	um	
significado	do	dia	da	 Independência	do	Brasil,	 em	7	de	setembro	de	 1822.	O	fato	foi	
narrado	em	uma	cena	iconográfica,	pelo	artista	plástico	Pedro	Américo,	em	sua	obra	de	
arte	“Independência	ou	Morte”,	de	1888,	sessenta	e	seis	anos	após	o	ocorrido.
 
	 A	 construção	 da	 imagem,	 a	 distribuição	 dos	 personagens	 na	 tela	 e	 suas	
posturas	apontam	para	a	elevação	de	D.	Pedro	I	ao	status	de	herói	nacional	e	à	ideia	
de	 construção	 da	 identidade	 e	 do	 patriotismo	 por	meio	 do	 passado	 glorioso	 e	 suas	
representações	épicas	(ITAMARATY,	2020).
FIGURA 18 – INDEPENDÊNCIA OU MORTE – O GRITO DO IPIRANGA
FONTE: <https://culturanerdegeek.com.br/wp-content/uploads/2016/09/Independence_of_Brazil_1888.jpg>. 
Acesso em: 2 set. 2020.
O	 hino	 nacional	 também	 apresenta	 o	 Riacho	 Ipiranga	 como	 uma	 referência	
física	 geográfica,	 um	 espaço	 absoluto	 para	 o	 ato	 de	 “separação”	 entre	 a	 colônia	 e	
os	 colonizadores.	 Conta-se	 que	 a	 submissão	 do	 Brasil	 foi	 finalmente	 findada	 com	 a	
declaração	da	independência,	por	Dom	Pedro	I,	ao	império	português,	naquele	ponto.
Ouviram	do	Ipiranga	às	margens	plácidas	de	um	povo	heroico	o	brado	
retumbante,	 e	o	 sol	da	 liberdade,	 em	 raios	 fúlgidos	brilhou	no	céu	
da	pátria	nesse	instante,	se	o	penhor	dessa	igualdade	conseguimos	
conquistar	com	braço	forte,	em	teu	seio,	ó	liberdade,	desafia	o	nosso	
peito	a	própria	morte	[...]	(JOAQUIM;	SILVA,	1922,	s.p.).
Em	virtude	da	importância	da	identidade	histórica	do	país,	na	Avenida	Nazaré,	
no	bairro	Ipiranga,	em	São	Paulo,	no	final	de	1980,	foi	criado	um	complexo	ou	sítio,	con-
siderado	patrimônio	histórico	cultural:	o	conjunto	do	Ipiranga	abrange	uma	área	de	161,3	
mil	m2.	Foram	agregados	o	museu	paulista,	a	casa	do	grito,	o	monumento	à	indepen-
dência	e	o	parque	da	independência,	todos	espaços	identificados	e	georreferenciados.
114
Para conhecer um pouco mais do complexo do Ipiranga, podemos 
indicar um vídeo, “Marco da Independência, Rio Ipiranga nasce 
na Zona Sul de São Paulo”. Em 1’ e 30’’, você, brevemente, viajará 
para esse ponto turístico brasileiro, e conhecerá um pouco mais 
de uma página contada acerca da independência do país: https://
www.youtube.com/watch?v=A8xmNlKxVJY.
DICA
Tivemos	dois	recortes	espaciais,	um	de	ordem	local	e,	o	outro,	de	ordem	nacional.
•	 Relativa
A	 localização	 relativa	 se	vincula	a	dois	 fatores:	visibilidade	e,	 principalmente,	
acessibilidade.	 Tomando	 os	 exemplos,	 de	 nada	 adiantaria	 se	 os	 dois	 locais	 citados	
(tropeiro	e	Riacho	do	Ipiranga)	não	fossem	visíveis	e,	especialmente,	acessíveis.	Trocando	
por	miúdos,	pode-se	dizer	que	se	não	fossem	acessíveis,	as	pessoas	não	poderiam	nem	
alcançar	aquele	ponto,	muito	menos	visualizar	aquelas	formas	simbólicas.	A	seguir,	será	
possível	notar	que	o	posicionamento	do	monumento	foi	erguido	em	um	percurso	de	
fácil	acesso	e	de	grande	visibilidade,	numa	área	que	se	tornou	ponto	turístico	e	rota	de	
passagem	de	viajantes	etc.
 
As	formas	simbólicas,	por	outro	 lado,	têm	uma	 localização	relativa,	
associada	à	visibilidade,	mas,	sobretudo,	à	acessibilidade,	face	a	toda	
a	 cidade	 ou	 espaço	 regional	 ou	 nacional.	 Essa	 acessibilidade	 é	 um	
dos	meios	mais	 importantes	para	que	as	formas	simbólicas	possam	
transmitir	as	mensagens	que	delas	se	esperam	(CORRÊA,	2007,	p.	9).
FIGURA 19 – LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO OS PIONEIROS DA BORBOREMA
FONTE: O autor
115
•	 Relacional
Segundo	Corrêa	(2007,	p.	9),	“são	localizadas	em	relação	a	outras	formas	simbó-
licas	que	denotam	interesses	divergentes:	as	localizações	delasenfatizam	um	conjunto	
de	valores	que	é	referenciado	a	um	dado	espaço,	o	qual	se	opõe	ao	outro	espaço”.
Vamos	 entendendo	 o	 conceito,	 primeiramente,	 pelo	 significado	 da	 palavra	
em	um	dos	gêneros.	A	palavra	 relacional	diz	que	há	 relação	ou	que	envolve	um	tipo	
de	 relação,	 ou	 seja,	 tudo	que	 é	 relacional	 pode	gerar	 algum	tipo	 de	 relação,	 ou	 tem	
algum	ponto	de	contato.	Quando	trazemos	para	a	área	das	formas	simbólicas	espaciais,	
entendemos	que	os	 locais	se	expressam,	 individualmente,	pelas	suas	diferenças	em	
termos	de	significado	e	intenções,	mas	compartilham	uma	função	genérica	entre	si,	que	
é	de	se	comunicar.
 
Vamos	 ao	 Rio	 de	 Janeiro,	 e	 tomamos	 dois	 casos:	 o	 monumento	 do	 Cristo	
Redentor	(1931)	e	o	Museu	do	Amanhã	(2015).	É	capaz	que	você	tenha	conhecimento	da	
imagem	do	Cristo.	Considera-se	um	símbolo	religioso	marcante	onde	pessoas	pagam	
suas	promessas,	fazem	preces,	batizam	filhos,	inclusive,	realizam	cerimônia	religiosa	de	
casamento	aos	pés	do	Cristo.	Além	da	chama	religiosa,	existem	aquelas	pessoas	que	
visitam	para	conhecer	e	desfrutar	da	paisagem.	Com	o	peso	simbólico	representativo	
dessa	 imagem,	 o	 Rio	 de	 Janeiro,	 década	 após	 década,	 adquiriu	 fama	 nacional	 e	
internacional.	Já	o	Museu	do	Amanhã	nasceu	de	uma	revitalização	da	zona	portuária.	
Como	construção	mais	recente,	o	objetivo	indica	outras	perspectivas,	principalmente,	
a	 de	 apresentar	 a	 ciência	 para	 a	 comunidade	 visitante,	 com	 intuito	 provocativo:	 as	
exposições	 do	 museu	 geram	 reflexão	 de	 quem	 somos?	 onde	 estamos?	 de	 onde	
viemos?	para	onde	vamos?	como	desejamos	chegar	ao	futuro?	qual	cenário	de	futuro	
pretendemos	encontrar?	É	possível	perceber	um	apelo	voltado	ao	antropocêntrico,	no	
qual	se	eleva	a	categoria	do	homem	ao	centro	das	discussões	a	 respeito	do	mundo.	
Portanto,	 ambos	 foram	 construídos,	 criados	 para	 vestir	 uma	 identidade,	 porém,	
apresentam	finalidades	distintas.
FIGURA 20 – MUSEU DO AMANHÃ – RIO DE JANEIRO
FONTE: <https://i1.wp.com/becodaspalavras.com/wp-content/uploads/2018/09/museu-do-amanha.
jpg?fit=1280%2C720&ssl=1>. Acesso em: 2 set. 2020. 
116
Os	 dimensionamentos	 atribuídos,	 neste	momento,	 são	 aqueles	 garantidos	 pela	
escala,	que	pode	se	dividir	em	absoluta	ou	relacional.	A	escala,	no	âmbito	abrangente	
da	 geografia,	 apresenta-se	 como	 um	 instrumento	 de	medida,	 no	 caso	 de	 extensão	
territorial,	 de	 área,	 a	 partir	 de	 recortes	 espaciais,	 propriedades	 urbanas/rurais.	 No	
domínio	local,	no	regional,	podem	ser	identificados	estados,	e,	no	nacional	e	no	global,	
os	países,	por	exemplo.
O	absoluto,	 segundo	Corrêa	 (2007,	p.	9),	 “[...]	 diz	 respeito	ao	fato	de	a	forma	
simbólica	apresentar	uma	certa	dimensão	física,	expressa	em	área,	volume	e	altura,	a	
qual	se	associa	à	magnitude	do	evento	ou	personagem	a	ser	celebrado,	contestado	ou	
memorializado,	e	aos	recursos	disponíveis”.
Enquanto	 a	 dimensão	 relacional	 das	 formas	 simbólicas	 propõe	 uma	 análise	
comparativa	entre	uma	e	demais	formas	simbólicas,	consequentemente,	essa	compa-
ração	abarca	as	dimensões	físicas	grandiosas	e	todas	outras	possíveis	características,	
de	anfitrião	de	eventos,	representante	de	uma	identidade	criada	ou	posicionado	como	
frente	de	dissensão	e	conflitos	(CORRÊA,	2007).
 
Por	trás	da	perspectiva	física,	as	formas	simbólicas	espaciais	abrangem	outras	
conotações	que,	na	maioria	das	vezes,	são	originadas	a	partir	das	transformações	da	
sociedade	associadas	às	interferências	de	ordem	política/social.
	 Para	 Corrêa	 (2007),	 na	 interpretação	 das	 formas	 simbólicas,	 é	 agregada	 a	
dimensão	espacial,	além	dos	significados	políticos,	de	identidade,	da	reconstrução	do	
passado	e	o	anúncio	do	futuro.
 
O	significado	político	tem	uma	importante	presença	na	construção	das	formas	
simbólicas	espaciais,	pois	agregam	o	que	Rowntree	e	Conley	(1980	apud	CORRÊA,	2007,	
p.	 10)	chamam	de	“mecanismos	regulatórios	de	 informações	que	controlam	significado”.	
Ou	seja,	os	grupos	políticos	criam	funções	com	o	intuito	claro	de	regular,	no	sentido	de	
regulamentar	os	meios	simbólicos	espaciais	por	meio	de	regras,	leis	e	orientações	que	
dirijam,	com	significância,	o	valor	simbólico	dado	pelos	seus	criadores.
Para	contextualizar,	Corrêa	(2007)	elege	alguns	exemplos	de	estudos	clássicos	
apresentados	em	seis	pontos	que,	geralmente,	são	identificados	nas	formas	simbólicas	
espaciais	e	significado	político.	Traremos	essas	informações	reunidas	a	seguir.
Propomos que vocês conheçam as perspectivas do Museu do 
Amanhã. Assim, no vídeo a seguir, o curador Luiz Oliveira explica 
o porquê de um Museu do Amanhã: https://www.youtube.com/
watch?time_continue=17&v=fbIRDSzZbrQ&feature=emb_logo.
DICA
117
QUADRO 1 – FUNÇÕES POLÍTICAS ACERCA DAS FORMAS SIMBÓLICAS ESPACIAIS
FONTE: Adaptado de Corrêa (2007)
Algumas funções políticas das formas simbólicas espaciais
Estabelece	a	prorrogativa	do	tempo,	enaltece	o	
passado,	porém,	reforça	concepções	pertinentes	
do	presente	em	detrimento	do	futuro.
Unificação	 dos	valores	 de	 um	 dado	 grupo	
específico	sem	respeitar	as	particularidades	dos	
demais	(relação	de	poder).
Recria	 o	 passado,	 concedendo	 significados	
recentes.	As	tradições	conferidas	a	um	 lugar	
podem	 ser	 uma	mera	 criação	 humana	 para	
apresentar	 uma	 verdade,	 que	muitos	 vão	
comprar	como	sendo	absoluta.
A	 segmentação	da	 sociedade	em	grupos,	 os	
quais	afirmam	e	reafirmam	as	suas	identidades	
(religioso,	étnico,	racial	ou	social).
Construir	 lugares	 de	 reminiscência,	 aqueles	
que	 sempre	 são	guardados	nas	 lembranças,	
pois	vêm	definir	e	conservar	a	coesão	social	por	
meio	do	passado	compartilhado	(NORA,	1989	
apud	CORRÊA,	2007)
Insinuações	do	 tempo	 futuro	 (a	 linha	 tênue	
entre	a	constância	de	estar	e	a	frenética	marcha	
do	 seguir)	 em	 algum	momento	 do	 tempo	
presente,	e	anunciação	dos	fatores	favoráveis.
A	partir	do	momento	em	que	foram	apresentados	os	significados	políticos,	é	
possível	que	os	demais	assuntos	associados	às	formas	simbólicas	espaciais	transitem	
livremente	pelo	quadro	de	referência,	como	as	formas	simbólicas	espaciais	e	identidade,	
formas	simbólicas	espaciais	e	reconstrução	do	passado	e	formas	simbólicas	espaciais	
e	o	anúncio	do	futuro.
Com	 relação	 à	 identidade	 e	 geossímbolos,	 Corrêa	 (2007)	 buscou	 as	 devidas	
correlações	entre	as	formas	simbólicas	espaciais	e	o	elemento	da	“identidade”.
A	primeira	ocorrência	 identifica	que	as	formas	simbólicas	espaciais	vão	dando	
sentido	ao	andamento,	desenvolvimento	e	permanência	das	identidades.	Significa	dizer	
que	 a	 característica	 do	 que	 é	 idêntico	 ou	 semelhante	 entre	 os	mais	 diversos	 grupos	
(religioso,	étnico,	racial)	e	espaços	(lugares,	geossímbolos,	toponímia)	é	alimentada	pela	
criação	das	formas.
 
Para	 Corrêa	 (2007,	 p.	 11),	 “toponímia	 constitui	 uma	 forma	 simbólica	 que	
identifica	um	logradouro	público,	bairro,	cidade,	país	ou	forma	da	natureza,	atribuindo	
um	significado	que	pode	valorizar	ou	estigmatizar	o	próprio	objeto”.
Acadêmico,	não	será	tão	difícil	você	perceber,	 em	uma	escala	micro,	no	 seu	
estado,	município,	ruas	comerciais	ou	residenciais,	as	influências	da	toponímia.	Ainda,	
pode	ser	visto,	em	escalas	macro,	nas	realidades	internacionais,	que	os	lugares	passam	
a	 ser	 renomeados	 em	 virtude	 de	 decisões	 políticas,	 identitárias,	 influenciadas	 pela	
relação	de	poder	territorial	e	outros	fatores.
A	 relação	 da	 toponímia	 no	 Brasil	 se	 deu	 por	 meio	 dos	modos	 de	 ocupação	
territorial,	desde	o	período	da	colonização.	Só	puderam	ser	compreendidos	pela	união	
do	entendimento	da	geografia	e	ciências,	como	história	e	arqueologia.	A	combinação	
propiciou	o	desenvolvimento	do	estudo.
118
A	toponímia,	 enquanto	 formas	 simbólicas	com	conotação	político-
territorial	 e	 identitária,	 foi	 um	dos	meios	 pelos	 quais	 a	Companhia	
Geral	 do	 Grão-Pará	 e	 Maranhão,	 entre	 1755	 e	 1778,	 estabeleceu	
marcas	 do	 domínio	 português	 na	 Amazônia.	 As	 antigas	 aldeias	
indígenas,transformadas	 em	 aldeias	 missiónarias,	 tiveram	 seus	
nomes	 indígenas	 alterados,	 exibindo	 nomes	 de	 povoações	
portuguesas:	Alenquer,	Almeirim,	Barcelos,	Borba,	Breves,	Ega,	Faro,	
Óbidos,	Ourém,	Santarém	e	Soure	etc.	(CORRÊA,	2007,	p.	11).
 
Como	exemplo,	traremos	a	história	contada	pela	prefeitura	da	cidade	paraense	a	
respeito	da	origem	do	nome	de	Santarém.	A	lenda	tem	origem	na	Europa,	em	Escalabis,	
cidade	portuguesa.	 Segundo	a	história	 reproduzida,	 as	 afirmações	 colaboram	com	o	
entendimento	das	formas	simbólicas	espaciais,	além	da	identidade	do	lugar,	conforme	
o	relato	a	seguir.
Em	uma	cidade	portuguesa,	uma	 jovem	virgem,	chamada	 Irene,	educada	no	
convento,	despertou	a	paixão	de	um	jovem	fidalgo,	porém	sem	pretensões	amorosas,	
a	moça	o	desprezou,	o	que	gerou	uma	trágica	morte.	Telbaldo	a	matou	e	arremessou	
aquele	corpo	às	correntezas	do	rio	Tejo,	chegando	à	praia	de	Escalabis,	porém,	anjos	
a	 retiraram	 das	 águas,	 e,	 com	misericórdia,	 construíram	 uma	 lápide	 de	mármore,	 e	
guardaram	o	corpo	da	religiosa.	
O	fato	é	que	tal	criação	do	 lugar	e	da	história	se	tornou	tradição,	e	a	cidade	
passou	a	ser	reconhecida	por	Mártir	Irene.	O	número	expressivo	de	visitantes	projetou	
Escalabis	como	a	cidade	da	Santa,	o	que	veio	se	confirmar	com	o	novo	batismo.	A	cidade	
foi	rebatizada	pelos	portugueses	de	Sant”	 Irene.	Sua	locução	original	 lusófona	sofreu	
alterações	até	se	tornar	Santarém,	assim,	permaneceu	até	os	dias	de	hoje.
A	 ligação	 da	 nomenclatura	 da	 cidade	 paraense	 adveio	 através	 de	 Mendonça	
Furtado	(que	foi	governador	geral	do	Estado	do	Grão-Pará	e	Maranhão),	em	referência	à	
cidade	de	Santarém,	em	Portugal,	em	1758,	quando	ele	renomeou	a	Aldeia	dos	Tapajós	
para	Santarém.	A	aldeia	passava	à	categoria	de	vila.
Outros	 elementos	que	devem	ser	 rememorados,	 frente	 às	 formas	 simbólicas	
espaciais	 e	 identidades,	 são	 os	 espaços	novos	 do	 geossímbolos.	 Para	Bonnemaison	
(2012,	p.	292),	 “um	geossímbolo	pode	ser	definido	como	um	lugar,	um	itinerário,	uma	
extensão	que,	por	razões	religiosas,	políticas	ou	culturais,	aos	olhos	de	certas	pessoas	e	
grupos	étnicos,	assume	uma	dimensão	simbólica	que	fortalece	a	sua	identidade”.
 
Existem	lugares	que	apresentam	valores	simbólicos	tão	fortes	que	se	enquadram	
na	categoria	de	geossímbolos,	principalmente,	no	Brasil,	um	país	diverso	em	religião,	
festas	 e	 grupos	 étnicos.	 São	 “representados	 por	 pontos	 fixos,	 como	 construções,	
caminhos,	formas	do	relevo,	rios,	árvores,	estradas	e	itinerários	reconhecidos,	traçando,	
na	superfície,	uma	semiografia	engendrada	por	símbolos,	figuras	e	sistemas	espaciais”	
(BONNEMAISON,	2012,	p.	105).
119
Para	preservar	a	sua	memória,	tem-se,	como	exemplo,	de	geossímbolo,	além	
do	 Cristo	 Redentor,	 do	 Santuário	 Nacional	 de	 Nossa	 Senhora	 Aparecida	 e	 outros,	 a	
procissão	 católica	 da	 Nossa	 Senhora	 de	 Nazaré,	 ou	 o	 Círio	 de	 Nazaré.	 Com	 sentido	
religioso	de	ordem	cristã,	possui	o	objetivo	de	devoção,	certo?!	Contudo,	além	do	perfil	
religioso,	esse	ato	também	passa	a	ser	um	objeto	de	análise	da	geografia	cultural,	um	
geossímbolo,	pois	compõe	elementos	suficientes.	Descritivamente,	a	arquidiocese	de	
Belém,	baseada	no	Círio	de	Nazaré,	apresenta	o	caminho/itinerário	a	ser	percorrido	pelos	
romeiros,	discriminando	pontos	fixos,	caminhos,	itinerários,	rios	e	outros	elementos	de	
grande	identidade	cultural:
Para	o	povo	cristão,	se	os	locais	consagrados	a	Deus,	como	igrejas	
e	 capelas,	 apresentam-se	 como	 especiais	 por	 si	 mesmos,	 mais	
especiais,	ainda,	são	os	que	apresentam	a	característica	de	terem	sido	
escolhidos	por	Ele	para	 a	 realização	de	acontecimentos	 importantes,	
como	os	locais	sagrados	da	Terra	Santa,	os	das	aparições	de	Nossa	
Senhora	ou	de	manifestações	prodigiosas,	como	é	o	caso	do	achado	
da	imagem	de	Nossa	Senhora	de	Nazaré	em	Belém,	que	colocou	esse	
lugar	em	um	patamar	 importante,	que	exige	especial	 consagração	
por	 conta	 dos	 acontecimentos.	 Em	 1861,	 foi	 criada	 a	 Paróquia	
Nossa	Senhora	 de	Nazaré	 [...].	 Em	 1908,	 chegou,	 ao	Pará,	 o	 padre	
Luiz	 Zóia,	 que	 considerou	 matriz	 acanhada	 e	 sem	 estilo	 [...].	 Era	
necessário	erguer	um	novo	templo	[...].	Sua	proposta	foi	erguer	uma	
réplica	reduzida	da	Basílica	de	São	Paulo	entre	muros,	de	Roma	[...].	
Praticamente,	 todo	o	templo	foi	 erguido	com	partes	pré-moldadas	
por	 diversas	 empresas	 da	 França,	 Itália	 e,	 também,	 do	 Brasil	 [...].	
Foram	 trazidas	 milimetricamente	 nos	 seus	 lugares,	 fazendo	 parte	
dos	elementos	que	compõem	o	Círio	de	Nazaré.	A	Basílica	integra	o	
conjunto	da	declaração	da	festa	como	patrimônio	cultural	 imaterial	
da	humanidade	pela	Organização	das	Nações	Unidas	(Unesco),	em	
2013	(COLENY,	2020	apud	DUBOIS,	1953,	s.p.).
Torna-se	 possível	 absorver,	 claramente,	 o	 entendimento	 de	 Corrêa	 (2007),	
quando	 ele	 explica	 que	 os	 geossímbolos	 aparecem	 em	meio	 ao	 espaço	 de	 formas	
simbólicas	culturais.	Os	intuitos	são	reconhecer	e	trazer,	de	forma	aparente,	a	identidade	
de	um	grupo	ou	comunidade,	associada	a	uma	dada	paisagem.	A	constituição	desse	
percurso	e	 a	paisagem	do	Círio	de	Nazaré	 “apresentam	geossímbolos	fixos,	 que,	por	
serem	dotados	de	significados	identitários,	fortalecem	a	identidade	cultural	dos	grupos”	
(CORRÊA,	2008,	p.	12).
Os	 exemplos	 mencionados	 acerca	 dos	 geossímbolos	 produzem	 uma	 forte	
identidade	 nacional	 voltada	 para	 a	 Igreja	 Católica	 Apostólica	 Romana	 no	 Brasil.	
Consequentemente,	surge	a	retórica	de	fortalecimento	e	poder	dessa	instituição.
Associadas	à	criação	da	identidade	dos	espaços	através	dos	geossímbolos,	as	
formas	simbólicas	espaciais	e	a	 reconstrução	do	passado	 refletem,	 intrinsecamente,	
as	 possibilidades	 de	 criar	 e	 recriar	 um	 passado	 de	 acordo	 com	 as	 necessidades	 da	
identidade,	quer	seja	ela	social,	de	lugar,	de	outros	elementos.	“O	passado	pode	ser	visto	
como	um	texto	incompleto,	cuja	leitura	permite,	mais	do	que	o	presente,	interpretações	
diversas,	possibilitando	reconstruções	adequadas	às	vicissitudes	de	cada	momento	e	
de	cada	grupo	social”	(CORRÊA,	2007,	p.	15).
120
Você	saberia	 identificar	ou	 interpretar	as	 reconstruções	do	passado	no	espaço?	
Segundo	Corrêa	(2007,	p.	15),	“as	interpretações	do	passado	e	suas	reconstruções	podem	
ser	expressas	de	diversos	modos,	como	as	formas	simbólicas	espaciais	como	estátuas,	
memoriais	e	prédios”.	Não	é	difícil	encontrar,	nas	mais	diversas	realidades,	a	reconstrução	
do	passado.	Andando	pela	cidade,	basta	explorar,	ser	observador	e	buscar	 identificar,	
na	história,	as	alterações	ocorridas	no	espaço.	Corrêa	 (2007)	apresenta	exemplos	no	
seu	texto,	como	o	palácio	de	Neue	Wache.	Contudo,	dentro	da	sua	realidade,	é	possível	
encontrar	essas	alterações	ou	reconstrução	do	passado	percebendo	sua	cidade,	estado	
ou	país	de	origem.	Às	vezes,	os	significados	não	são	tão	 intensos	quanto	o	de	Neue	
Wache,	mas,	certamente,	há	um	valor	singular.
A	 fachada	 e	 o	 interior	 de	 um	 prédio	 podem	 ser	 remodelados,	
alterando-se	a	sua	 iconografia	de	acordo	com	a	 intenção	de	quem	
pretende	reciclar	significados	do	passado,	“apagando”	a	iconografia,	
cuja	 intenção	era	gerar	outra	 interpretação.	Mais	que	uma	estátua	
ou	um	memorial,	um	prédio	apresenta	uma	flexibilidade	que	permite	
uma	refuncionalização	simbólica.	Um	prédio	pode,	assim,	tornar-se	
um	meio	útil	para	uma	política	de	significados	(CORRÊA,	2007,	p.	15).
Mais	uma	vez,	reduziremos	o	espectro	do	entendimento	a	partir	de	um	exemplo	
local,	na	cidade	de	Campina	Grande-PB.	Através	dos	olhares	dissertativos	de	Queiroz	
(2010)	 e	 Rossi	 (2010),	 trazemos	 a	 acelerada	 expansão,	 além	 de	 transformações	
arquitetônicas	dessa	cidade	no	século	XX,	mais	precisamente,	entre	1930	e	1940,	além	
dos	seus	desdobramentos.
Precisamente,	no	ano	de	1936,	o	então	prefeito	Vergniaud	Wanderley	deu	início	às	
reformas	nas	estruturas	do	centro	urbanístico	tradicional,	amparado	pelas	leis	sanitarista	
e	urbanística.	 “Pouquíssimos	prédios	 ecléticossobreviveram	a	esse	choque	de	ordem	
que,	em	menos	de	15	anos,	muda	totalmente	a	feição	da	cidade”	(ROSSI,	2010,	p.	30).
Campina	 Grande,	 na	 época,	 passava	 por	 um	 profundo	 processo	
reformador	 de	 coisas	 e	 pessoas,	 em	 consonância	 com	 todos	 os	
esforços	 para	 anexar	 o	 Brasil	 à	 rede	 do	 capitalismo	 internacional,	
para	 torná-lo	 civilizado,	 urbano,	 industrial	 e	 moderno.	 O	 lema	
higienizar,	 circular	 e	 embelezar	 guiou	 intervenções	 da	 estrutura	
física	do	município,	com	o	intuito	de	distanciá-lo	do	aspecto	colonial	
que	dominava	a	cena	urbana	até	as	primeiras	décadas	do	século	XX	
(QUEIROZ,	2010,	p.	35-36).
121
FIGURA 21 – CROQUI DA RUA MACIEL PINHEIRO EM ART DÉCO/ BIBLIOTECA MUNICIPAL 
E SOBRADOS COMERCIAIS
FONTE: Rossi (2010, p. 30)
Em	Campina	Grande,	as	“formas	escalonadas,	aerodinâmicas	e	os	baixos	e	altos	
relevos	de	figuras	geométricas	na	fachada	foram	o	comum	da	produção,	associado	a,	
praticamente,	 todos	os	programas	arquitetônicos	da	época,	das	 igrejas	aos	cabarés”	
(QUEIROZ,	2010,	p.	36).
No	 ano	 de	 2014,	 foi	 realizada	 uma	 exposição	 da	 artista	 plástica	 Margarete	
Aurélio	 Colaço	Agra,	 na	 Secretaria	 de	 Cultura	 de	Campina	Grande,	 com	 o	 intuito	 de	
apresentar	as	transformações	arquitetônicas	que	a	cidade	havia	passado.	O	exposto	
a	seguir	representará	o	auge	das	construções	modernas	nas	áreas	centrais	da	cidade	
paraibana.	Do	lado	esquerdo,	tem-se	a	casa	noturna	“Casino	Eldorado”,	e,	ao	lado	direito,	
o	residencial	“Abdallah”,	edifício	considerado	de	alto	padrão	da	época,	um	projeto	que	
trouxe,	 no	 seu	 conceito	 de	 criação,	 uma	praça	privativa	 na	 cobertura,	 com	direito	 à	
iluminação	noturna,	bancos	e	uma	espécie	de	coreto.
FIGURA 22 – CAMPINA GRANDE ART DÉCO - PINTURA DO CASINO ELDORADO E RESIDENCIAL ABDALLAH
FONTE: O autor
122
Segundo	Queiroz	 (2010),	 a	 representação	arquitetônica	em	art	déco	decorou	
prédios	e	fachadas	em	Campina	Grande	e	em	outras	cidades	do	Brasil,	com	um	intuito	de	
apresentar	a	chegada	da	modernidade,	civilidade	e	prosperidade	econômica	municipal.
Portanto,	com	a	política	de	fomento	pelas	autoridades	políticas	e	econômicas	
(senhores	do	algodão),	a	construção	e	a	reformulação	das	fachadas	da	cidade	paraiba-
na	agregaram	um	número	expressivo	de	imóveis,	atendendo	às	características	da	mo-
dernidade.	Em	contrapartida,	houve	a	perda	de	uma	parcela	significativa	da	sua	história,	
estabelecida	nos	séculos	XVIII	e	XIX,	com	as	demolições	das	estruturas	físicas.
Esse	 complexo	 arquitetônico,	 visto	 em	 uma	 cidade	 do	 interior	 da	 Paraíba,	
transmite	 informações	históricas	das	 influências	políticas	e	 econômicas,	 nacionais	 e	
internacionais,	a	partir	de	uma	 leitura	material	ou	física	do	espaço.	De	acordo	com	o	
assunto	 exposto,	 podemos	 compreender	 que	 os	 escopos	 de	 percepção	 acerca	 das	
reconstruções	do	passado,	por	meio	das	 formas	 simbólicas,	 podem	ser	 encontrados	
próximos	da	realidade	e	experiência	de	vida.
A	 partir	 desse	 novo	 parágrafo,	 traremos	 as	 formas	 simbólicas	 espaciais	 e	 o	
anúncio	do	futuro.	Segundo	Corrêa	(2007,	p.	14),	“o	futuro	é,	assim,	marcado	por	uma	
tensão	entre	permanência	e	mudança.	As	formas	simbólicas	espaciais	constituem	um	
importante	veículo	por	meio	do	qual	o	futuro	pode	ter	a	sua	concepção	comunicada,	
aprovada	ou	contestada”.
 
Para	 uma	 melhor	 compreensão,	 Corrêa	 (2007)	 elege	 exemplos	 de	 estudos	
clássicos,	e	um	deles	é	de	André	Breton,	que	discute,	amplamente,	o	anúncio	de	futuro	
a	partir	da	Feira	Mundial	de	Paris,	em	1937.
 
“A	 Feira	 Universal	 de	 Paris,	 realizada	 dois	 anos	 antes	 da	 Segunda	 Guerra	
Mundial,	anunciava	dois	aspectos	cruciais	do	capitalismo	da	década	de	1930:	o	começo	
da	expansão	da	publicidade	e	do	consumo	de	massa	e	a	devastadora	guerra”	(CORRÊA,	
2007,	 p.	 15).	 A	 feira	 tinha	 uma	 característica	 peculiar,	 que	 rendeu	 exposições	 das	
O vídeo a seguir, realizado pelo canal de televisão Itararé, exibido no 
programa “Diversidade”, apresenta Campina Grande Art Déco. É uma 
breve explicação do estilo arquitetônico. Em linhas gerais, contempla 
algumas perguntas, a exemplo de onde surgiu, quais as referências 
de influência, o que a substantivou e a sua relação com a cidade 
paraibana: https://www.youtube.com/watch?v=3QM60bdP6GM.
DICA
123
grandes	atualidades	industriais	da	época,	portanto,	aquele	lugar	reverenciava	as	últimas	
novidades	e,	assim,	apontou	o	caminho	que	estava	seguindo	o	futuro.	Certamente,	a	
chave	para	a	compreensão	era	que	as	 ideias	e	a	materialização	do	futuro	ocorreram	
naquele	espaço	designado	de	formas	simbólicas	espaciais.
 
Outro	 aspecto	 importante	 da	 feira	 foi,	 sem	 dúvida,	 o	 sentido	 político	 que	 ela	
compartilhou.	 Colocava,	 frente	 a	 frente,	 “as	 formas	 simbólicas	 associadas	 à	 Alemanha	
nazista,	à	Itália	fascista,	à	Espanha	republicana	e	à	União	Soviética”	(CORRÊA,	2005,	p.	15).
 
Trouxemos	 uma	pequena	 parcela	 de	 um	vasto	 campo	de	 estudo.	As	 formas	
simbólicas	 espaciais	 atuam	 na	 superfície	 terrestre	 em	 escalas	 micro	 e	 macro.	
Intencionalmente,	elas	colaboram,	deixando,	aparentes,	as	representações	edificadas	
por	 grupos	 da	 sociedade.	 Ainda,	 apresentam	 as	 diversas	 identidades	 da	 dinâmica	
sociedade-cultura-espaço-tempo,	 ou	 seja,	 apresentam	 o	 presente,	 o	 passado	 e	 o	
futuro,	o	que	Corrêa	(2007,	p.	15)	chama	de	“as	diferenças	e	a	igualdade	e	o	poder,	a	
celebração	e	a	contestação	e	a	memorialização”.
124
Neste tópico, você aprendeu:
•	 O	francês	Paul	Claval	se	tornou	um	dos	grandes	geógrafos	precursores	da	renovação	
geográfica	do	século	XX.	Ele	fomentou,	nas	suas	obras,	a	criação	de	ramos	da	geografia,	
como	 a	 importância	 de	 outros	 campos	 geográficos	 outrora	 menosprezados.	 Sua	
percepção	dos	continentes,	países	e	capitais	do	mundo	o	gabaritou	para	desenvolver	
ricas	 produções	 nas	 geografias	 cultural,	 regional,	 econômica	 e	 epistemologia	 da	
geografia.
•	 Claval	 denomina	 que	 todos	 os	 fatos	 geográficos	 também	 possuem	 uma	 origem	
cultural,	e	que	boa	parte	dos	geógrafos	franceses	investe	em	reconstruir	a	geografia	
humana	a	partir	das	bases	da	cultura.
 
•	 Na	geografia	brasileira,	Claval	tem	uma	contribuição,	principalmente,	para	a	inclusão	
dos	estudos	da	geografia	cultural.	Ele	propõe	uma	fortificação	dessa	área,	mediante	
os	conteúdos	das	diversidades	étnica	e	religiosa	da	cultura	brasileira.	Ele	referencia	
as	 raízes	 ameríndias	 na	 cultura	 nacional,	 as	 influências	 da	 cultura	 africana	 e	
neoafricanos,	a	colonização	europeia,	ciganos,	inúmeros	representantes	de	grupos	
com	hábitos,	costumes	e	fé,	algumas	das	consoantes	que	podem	ser	expressas	e	
analisadas	no	espaço.
 
•	 As	 formas	 simbólicas	 espaciais	 ocorrem	por	 toda	 superfície	 terrestre,	 não	apenas	
através	de	uma	perspectiva	econômica,	mas	também	por	um	simbolismo.	Podem	
ser	materiais	e	imateriais,	e,	através	da	identidade,	reconectam-se	com	o	passado,	
reconstruindo.	Com	os	nortes	do	futuro,	buscam	a	permanência	ou	as	transformações.
 
•	 As	 formas	 simbólicas	 são	 consideradas	 representantes	 da	 realidade.	 Elas	 passam	
por	um	processo	de	criação	e,	a	partir	disso,	os	grupos	sociais/culturais	semelhantes	
imputam	 seus	 significados.	 Em	virtude	 da	 descontinuidade	 do	 pensamento	 entre	
grupos	 culturais,	 as	 formas	 simbólicas	 também	 ficam	 sujeitas	 a	 interpretações	
variadas,	pelos	diferentes	significados	designados.
•	 São	exemplos	de	formas	simbólicas	espaciais	identificados	por	localização	e	itinerários:	
palácios,	templos,	cemitérios,	memoriais,	obeliscos,	estátuas,	monumentos	em	geral,	
shoppings	centers,	nomes	de	logradouros	públicos,	cidades	e	elementos	da	natureza,	
procissões,	desfiles,	paradas	etc.
•	 Para	 todas	 as	 formas	 simbólicas	 espaciais,	 existem	políticas	que	 as	 regem,	 como	
a	 política	 locacional,	 que	 compreende	 localização	 absoluta,	 localização	 relativa	 e	
localização	relacional,	e	a	política	de	escala,	que	se	divide	em	dimensão	absolutae	
dimensão	relacional.
RESUMO DO TÓPICO 2
125
AUTOATIVIDADE
1	 Paul	Claval,	autor	francês,	congregou	e	apresentou,	no	artigo A geografia cultural no 
Brasil	(2012),	alguns	assuntos	que	fornecem,	à	geografia	cultural	do	Brasil,	estudos-
base	 da	 diversidade	 étnica,	 tradições	 religiosas	 da	 cultura	 brasileira.	 A	 partir	 do	
enunciado,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 Desses	temas	são	incluídos	gênero,	a	introdução	do	conceito	de	cultura	supra-
orgânico	e	toponímia.
b)	 (			)	 Raízes	ameríndias,	as	influências	da	cultura	africana	e	os	neoafricanos,	a	coloniza-
ção	europeia	e	inúmeros	representantes	dos	grupos	com	hábitos,	costumes	e	fé.
c)	 (			)	 Raízes	ameríndias,	as	influências	da	cultura	norte-americana,	inglesa	e	neoafri-
canos,	a	colonização	europeia	e	inúmeros	representantes	dos	grupos	com	hábi-
tos,	costumes	e	fé.
d)	 (			)	 Desses	temas,	são	incluídos	gênero,	a	introdução	do	conceito	de	cultura	supra-
orgânico,	toponímia	e	identidade.
2	 Para	 todas	 as	 formas	 simbólicas	 espaciais,	 existem	políticas	que	 as	 regem,	 como	
a	 política	 locacional,	 que	 compreende	 localização	 absoluta,	 localização	 relativa	 e	
localização	relacional,	e	a	política	de	escala,	que	se	divide	em	dimensão	absoluta	e	
dimensão	relacional.	Essa	estrutura	se	encontra	em	Corrêa	(2007).	Assim,	relacione:
1-	Localização	absoluta.
2-	Localização	relativa.
3-	Localização	relacional.
4-	Dimensão	absoluta.	
5-	Dimensão	relacional.
(			)	 Está	associada	à	visibilidade,	mas,	especialmente,	à	acessibilidade,	pois	o	acesso	
facilitado	permite	que	as	formas	simbólicas	transmitam	as	mensagens	que	elas	se	
propõem,	na	cidade	ou	espaço	regional	ou	nacional.
(			)	 Considera-se	que	uma	forma	simbólica	possui	uma	localização	absoluta,	ou	seja,	
um	lugar	onde	tenha	acontecido	um	evento	importante	ou	um	local	que	deva	se	
tornar	 um	 importante	 meio	 de	 celebração,	 contestação	 ou	 memorialização,	 por	
apresentar	um	potencial	positivo.
(			)	 Esta	se	localiza	em	relação	a	uma	outra,	mas	possui	interesses	opostos.	
(			)	 Quando	as	formas	simbólicas	apresentam	uma	característica	física	demonstrada	em	
área,	volume	e	altura,	as	quais	se	associam	à	magnitude	do	evento	ou	personagem	 
a	ser	celebrado,	contestado	ou	memorializado,	e	aos	recursos	disponíveis.
(			)	 Compreende	uma	análise	comparativa	entre	uma	e	demais	formas	simbólicas,	as	
dimensões	físicas	e	todas	as	outras	características,	anfitrião	de	eventos,	represen-
tante	de	uma	identidade	criada	ou	frente	de	dissensão	e	conflitos.	
126
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	 1	-	2	-	3	-	4	-	5.
b)	 (			)	 2	-	1	-	3	-	4	-	5.
c)	 (			)	 2	-	1	-	3	-	5	-	4.
d)	 (			)	 1	-	2	-	3	-	5	-	4.
 
3	 De	 acordo	 com	 a	 abordagem	 cultural	 de	 Bonnemaison,	 como	 é	 definido	 um	
geossímbolo?
127
TÓPICO 3 — 
POSSIBILIDADES DE ESTUDO A PARTIR 
DA COMPREENSÃO DAS DIMENSÕES 
CULTURAIS DO ESPAÇO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico,	chegamos	ao	fim	da	Unidade	2.	Temos,	como	objetivo	
principal,	 trazer	 o	 conhecimento	 de	 alguns	 temas	 que	 enobrecem	 e	
evidenciam	 a	 riqueza	 da	 interpretação	 cultural	 da	 geografia.	 Como	
um	 subcampo,	 a	 geografia	 cultural	 se	 apresenta	 calcada	 na	 tradição	
do	século	XIX,	porém,	com	novas	feições	adquiridas	no	final	do	século	XX,	mudanças	
aparentes	e	importantes	que	incluem	novos	temas,	além	das	novas	dimensões	que	não	
se	limitam	a	estudar	a	materialidade	cultural,	mas	a	imaterialidade.
 
Questões,	como	paisagem	cultural,	continuam	assumindo	uma	grande	respon-
sabilidade	nos	estudos,	mas	a	inserção	de	representações	fílmicas	e	imagem,	música	e	
literatura,	e	tantos	outros	temas,	passou	a	ser	objeto	de	interesse	dos	geógrafos	cultu-
rais.	Ainda	sobre	esse	novo	caminho	da	geografia	cultural,	espaços	podem	se	tornar	um	
território,	principalmente,	quando	são	públicos;	temas,	como	toponímia	e	associações	
identitárias;	e	festa,	gênero	e	religião,	indicando	interferências	econômicas,	políticas	de	
um	dado	lugar,	com	a	legitimação	da	linha	de	possibilidades.	Consideramos	como	te-
mas	populares,	possíveis	e	reais,	tendo	em	vista	que	cada	indivíduo	vivencia,	em	algum	
espaço,	combinações	que	tornam	esses	fenômenos	um	alvo	da	pesquisa	geográfica.
 
Neste	 tópico,	 serão	 desenvolvidas,	 além	 desta	 introdução,	 as	 temáticas	
paisagem	 cultural,	 território,	 territorialidade	 e	 identidade:	 compostos	 na	 geografia	
cultural;	 dimensão	 espacial:	 literatura,	 música	 popular	 e	 imagem;	 e	 introdução	 da	
geografia	cultural	em	sala	de	aula.	Ainda,	resumos	individualizados	referentes	ao	tópico,	
e,	ao	fim,	autoatividades,	visando	auxiliar	o	processo	de	aprendizagem.
 
Apresentaremos	 conceitos	 que	 são	 bases	 da	 geografia,	 direcionados	 para	 a	
aplicação	no	âmbito	da	geografia	cultural;	novas	possibilidades	de	pesquisa,	segundo	
algumas	expressões	culturais	que	podem	ser	comprovadas	e	dimensionadas	no	espaço	
geográfico	mediante	um	contexto	das	relações	tempo-espaço;	por	fim,	as	possibilidades	
de	temas	culturais	na	educação	básica	com	amparo	da	Base	Nacional	Comum	Curricular.
Apresentaremos	os	 fenômenos	geográficos	 segundo	a	natureza	 cultural	 que	
eles	carregam,	com	a	finalidade	de	complementar	a	 interpretação	um	do	outro.	Bons	
estudos!	
128
2 PAISAGEM CULTURAL, TERRITÓRIO, 
TERRITORIALIDADE E IDENTIDADE: COMPOSTOS NA 
GEOGRAFIA CULTURAL
A	 função	 de	 trazer	 algumas	 dimensões	 estudadas	 da	 geografia	 permite	 que	
você,	 enquanto	 aluno,	 pesquisador	 e	 futuro	 professor	 da	 ciência	 geográfica,	 possa	
identificar	possibilidades	mensuráveis	de	estudo,	a	materialização	e	combinações	dos	
elementos:	paisagem	cultural,	identidade,	território	e	territorialidade	se	tornam	fenôme-
nos	de	ordem	da	geografia	cultural,	quando	distribuídos,	ocupam	e	manifestam	suas	
devidas	porções	no	espaço.
 
O	 espaço,	 paisagem,	 cultura,	 identidade,	 território	 e	 territorialidade	 possuem	
conceitos	distintos,	porém,	um	não	nega	o	outro,	ao	contrário,	dialogam	perfeitamente	
entre	si,	basicamente,	um	é	complementar	ao	entendimento	do	outro.
 
Em	 uma	 breve	 compreensão,	 iniciamos	 pela	 base	 da	 geografia,	 o	 espaço.	
Entende-se	que	o	espaço	se	forma	através	de	processos	dinâmicos	de	construção	e	
reconstrução,	por	meio	de	ações	humanas,	segundo	uma	substituição	de	elementos	
naturais	por	aqueles	criados	pelo	homem,	tornando-os	artificiais,	ou	seja,	vive-se	um	
ciclo	dinâmico	de	transformação	das	formas	naturais	e	artificiais	do	espaço	(SANTOS,	
2006).	 “[...]	A	sociedade	evolui	no	tempo	e	no	espaço.	O	espaço	é	o	 resultado	dessa	
associação	 que	 se	 desfaz	 e	 se	 renova	 continuamente,	 entre	 uma	 sociedade	 em	
movimento	permanente	e	uma	paisagem	em	evolução	permanente”	(SANTOS,	1979,	p.	
42).	É	importante	entendermos	que	toda	essa	formação	e	transformações	do	espaço	
se	 refletem	 nas	 paisagens,	 por	meio	 das	 formas,	 função,	 estrutura	 e	 processo.	 São	
fundamentais	as	análises	espaciais	por	meio	dessas	categorias	e	descrições	expostas	
a	seguir.
FIGURA 23 – CATEGORIAS E DESCRIÇÕES DO ESPAÇO GEOGRÁFICO
FONTE: Adaptado de Corrêa (2009)
Forma
Materializa-se no visível.
Exemplos: Shopping, 
Casas, Praças.
Estrutura- sociedade
Sustentáculos das formas.
Exemplo: Econômico,
Social, Cultural,
Politico.
Função
Aplica a função das formas
Exemplo: Trabalho, 
Residência, Lazer.
Processo
Ações de dinamicidade 
e transformação sobre a 
estrutura.
129
Corrêa	(2009,	p.	1)	elabora	uma	análise	das	quatro	categorias	compreendidas	
por	Santos	(1997):
Milton	Santos	define,	brevemente,	as	quatro	categorias,	considerando,	
como	 estrutura,	 a	 própria	 sociedade,	 com	 suas	 características	
econômicas,	 sociais,	 políticas	 e	 culturais.	 Processo	 é	 considerado	
como	 o	 conjunto	 de	 mecanismos	 e	 ações	 a	 partir	 dos	 quais	 a	
estrutura	se	movimenta,	alterando	as	suas	características.	Função,	
por	 sua	vez,	 diz	 respeito	 às	 atividades	da	 sociedade,	 redefinidas	 a	
cada	 momento,	 que	 permitem	 a	 existência	 e	 reproduçãosocial.	
Forma,	finalmente,	é	definida	como	as	criações	humanas,	materiais	
ou	não,	por	meio	das	quais	as	diversas	atividades	se	realizam	[...].	A	
forma	se	manifesta	em	várias	escalas,	tendo	uma	localização	e	um	
arranjo	espacial.	Trata-se,	sem	dúvida,	da	forma	espacial.
O	 espaço	 geográfico	 se	 torna	 a	 base	 dos	 acontecimentos,	 congregando	 os	
indivíduos	e,	por	conseguinte,	as	paisagens	natural	e	artificial	(SANTOS,	1988).	A	paisagem,	
como	 pode	 ser	 conceituada?	Adiante,	 apresentaremos	 essa	 resposta,	mas	 desde	 já	
salientamos	 que	 são	 dois	 conceitos	 distintos,	mas	 complementares,	 principalmente,	
quando	postos	para	analisar	as	efervescências	e	transformações	sociais.
Segundo	Corrêa	(2011),	no	continente	Europeu,	e	depois	nos	Estados	Unidos,	
que	se	iniciaram	as	pesquisas	a	respeito	da	paisagem.	Datam-se,	aproximadamente,	da	
década	de	1940,	quando	foram	detectadas	as	primeiras	reflexões	teóricas	dos	estudos	
empíricos.	 “A	paisagem	cultural	 se	 constitui,	 desde	o	final	 do	 século	XIX,	 quando	da	
institucionalização	 da	 geografia	 como	 disciplina	 acadêmica,	 em	 um	 dos	 seus	 mais	
importantes	conceitos”	(CORRÊA,	2011,	p.	14).
Os	autores	que	trouxeram,	para	a	geografia	cultural,	a	definição	de	paisagem	
cultural,	 no	 Brasil,	 foram	 Zeny	 Rosendahl	 e	 Roberto	 Lobato	 Corrêa,	 através	 de	
transcrições	e	seleções	bibliográficas	de	autores	que	publicaram	ao	 longo	do	século	
XX.	A	obra	Paisagem, tempo e cultura,	de	1998,	torna-se	um	exemplo	de	trabalho	que	
conglomera	 a	 evolução,	 adaptação	 ou	moldagem	 do	 conceito	 de	 paisagem	 cultural	
mediante	 as	 transformações	 socioespaciais	 em	 intervalos	 temporais	 diferentes.	 O	
norte	principal	da	apresentação	dos	textos	é,	sem	dúvida,	a	conceituação	de	paisagem.	
A	distribuição	da	obra	percorre	escritos	desde	 1925	a	 1989.	São	divididos	em	quatro	
capítulos	e	 cinco	autores.	Possivelmente,	vocês	conhecem,	parcialmente,	 o	primeiro	
autor	da	Unidade	1,	Carl	O.	Sauer.	Como	todos	sabem,	foi	a	partir	desse	momento	que	
a	geografia	cultural	passa	a	tomar	forma.	Só	então,	no	final	de	1940,	que	Fians	Bobek	e	
Josef	Schmithúsen,	ambos	representantes	da	escola	alemã,	apresentam	A paisagem e 
o sistema lógico da geografia,	frente	a	uma	relação	homem	e	natureza,	uma	perspectiva	
da	paisagem	cultural	baseada	na	descrição	e	observação,	porém,	a	obra	não	se	restringiu	
a,	apenas,	essa	discussão,	deu-se	conta	de	uma	inter-relação	maior	entre	os	homens	
distribuídos	em	sociedade	e	os	 fenômenos	espaciais-temporais,	 contribuindo	para	a	
formação	da	paisagem	cultural.	Ainda,	Paisagem – marca, paisagem matriz: elementos 
de uma problemática para uma geografia cultural,	 de	Augustin	Berque.	 Em	 1984,	 o	
geógrafo	 francês	 e	 orientalista	 interpretou	 que	 a	 paisagem	 representa	 um	 sentido	
130
maior	quando	ela	manifesta	as	relações	da	sociedade,	espaço	e	natureza.	Indica	que	a	
paisagem	reflete	os	movimentos	que	a	sociedade	produz,	inclusive,	os	traços	culturais,	
e	a	paisagem	é	o	 lugar-matriz	onde	essas	transformações	são	geradas	mediante	as	
ações,	percepções	e	concepções.	Esse	é	um	estudo	orientado	pela	geografia	humanista	
e	com	raízes	fenomenológicas.	A	última	produção	bibliográfica	foi	realizada	por	Denis	
Cosgrove,	em	1989,	com	característica	crítica	dos	materialismos	histórico	e	dialético	e	o	
simbolismo.	Cosgrove	iniciou	sua	percepção	para	dar	respostas	às	reflexões	de	ordem	
interrogativa,	 a	 respeito	das	 interferências	das	 análises	quantitativas	 com	o	 texto.	A	
geografia	está	em	toda	parte:	cultura	e	simbolismo	nas	paisagens	humanas,	ou	seja,	
a	 tríade	paisagem,	 cultura	e	 simbolismo	 rege	o	pensamento	do	autor,	 explicando	as	
paisagens	geográficas	a	partir	das	culturas	dominantes	e	aquelas	versões	e	variações	
de	paisagens	alternativas,	como	as	residuais,	emergentes	e	excluídas.	Tais	explicações	
seguem	com	Corrêa	(1995)	em	compreensões	futuras.
 
A	 contribuição	 para	 o	 estudo	 da	 paisagem	 não	 surge	 para	 informar	 uma	
abordagem	geográfica	específica	entre	o	certo	e	errado,	mas	para	abrir	possibilidade,	
mostrando	que,	dentro	de	uma	complexidade	da	temática	paisagem,	existem	correntes	
que	 propõem	 suportes	 clássicos	 e	 meios	 alternativos,	 mas	 científicos,	 que	 buscam	
contemplar,	mais	profundamente,	apontamentos	multidisciplinares.
Na	 ciência	 geográfica,	 e	 em	 inúmeras	 áreas,	 a	 noção	 de	 paisagem	 é	 objeto	
de	análise,	porém,	é	importante	lembrar	que	as	aplicações	de	uso	e	interpretação	são	
diferentes,	portanto,	não	podemos	debitar	um	valor	unitário	da	paisagem	para	as	artes,	
incluindo	a	fotografia	e	as	músicas,	nem	para	as	ciências,	como	arquitetura,	urbanismo,	
geografia,	turismo	e	biologia,	pois	cada	um	possui	sua	percepção	e	seu	nível	científico.
 
Se,	 por	 acaso,	 você	 apresentar	 dúvida	 do	 significado	 da	 palavra	 “paisagem”,	
e	 procurar	 um	 dicionário	 comum	 da	 língua	 portuguesa	 para	 auxiliar,	 possivelmente,	
características	 de	 ordem	 natural	 vão	 se	 sobrepor.	 Segundo	 o	 dicionário	 online	 de	
português,	a	paisagem	significa	“a	extensão	do	território	que	o	olhar	alcança	num	lance”.	
Também	quer	dizer	“vista”	ou	conjunto	de	componentes	naturais,	ou	não”;	 “natureza,	
tipo	ou	característica	de	um	espaço	geográfico:	paisagem	repleta	de	montanha”,	ainda,	
outro	 significado	 imputado	 paira	 a	 partir	 da	 expressão	 artística	 referente	 a	 pinturas,	
desenhos,	fotografias	e	gravuras”.
 
Segundo	 Domingues	 (2001),	 numa	 esfera	 não	 geográfica,	 a	 utilização	 da	
palavra	paisagem	faz	parte	do	vocabulário	comum,	e	o	seu	sentido	se	aproxima	de	duas	
perspectivas:	uma	naturalista	e,	a	outra,	culturalista.	A	primeira	fazer	alusão	a	elementos	
de	referenciação	e,	a	segunda,	ao	estilo	literário.	Maximiano	(2004,	p.	84)	se	aprofunda	
ainda	mais,	quando	afirma	que	as	 inscrições	rupestres	“são	os	registros	mais	antigos	
que	se	conhece	da	observação	humana	da	paisagem”.
 
Para	Alves	(2001),	a	aplicação	da	nomenclatura	paisagem	é	datada	do	século	
XVIII,	 com	 as	 expressões	 artísticas	 conforme	 expressa	 o	 dicionário	 supracitado.	 A	
utilização	do	termo	expressava,	a	princípio,	obras	representadas	pela	pintura	artística	
131
de	cenários	naturais,	ou	relatos	de	viajantes,	a	exemplo	de	Von	Humboldt,	o	geógrafo	
que	 realizava	 expedições	 com	o	 intuito	 de	 descrever	 as	 características	 naturais	 dos	
continentes	encontrados.
Em	seu	desenvolvimento,	na	ciência	geográfica,	no	século	XIX,	o	conceito	de	
paisagem	passa,	ao	longo	do	tempo,	por	adequações,	frente	aos	posicionamentos	das	
escolas	predominantes	(Alemanha,	França,	Estados	Unidos).	Seus	métodos	são	seguidos	
pelos	respectivos	pesquisadores,	considerados	as	vozes	do	século	XIX,	como	Humboldt,	
Ritter,	Ratzel	e	Vidal	de	la	Blache.	Ainda,	outros	do	século	XX,	como	Hettner,	Siegfried	
Passarge	e	Otto	Schlüter	(Passarge	e	Schlüter	buscavam	a	compreensão	de	quanto	aos	
meios	que	tornavam	a	paisagem	hierarquizada	e	como	ocorria	a	mudança	da	paisagem	
natural	para	cultural).	Sauer,	o	geógrafo	da	morfologia	da	paisagem,	estudou	a	temática	
relacionada	a	paisagens	agrárias	(CORRÊA,	1995).
Com	 naturalidade,	 o	 conceito	 de	 paisagem	 adquiriu	 uma	 característica	
polissêmica,	migrando	entre	a	realidade	do	que	a	vista	enxergava	para	o	modo	como	a	
vista	percebia	a	realidade	(SALGUEIRO,	2001).
	 Ainda,	 o	 autor	 supracitado	 afirma	 que,	 quase	 numa	 totalidade	 absoluta,	 a	
academia	geográfica	se	dedicava	a	estudar	a	paisagem	segundo	métodos	descritivos	
da	virtude	de	catalogar	as	formas	físicas	naturais	da	superfície	terrestre.	Contudo,	era	
preciso	buscar	compreensões	 reais,	 introduzindo	as	atividades	humanas,	a	princípio,	
como	gatilhos,	e,	depois,	como	fontes	fundamentais	para	a	transformação	paisagística.
A	 escola	 germânica,	 as	 compreensões	 enrijecidas,	 a	 escola	 francesa	 e	 o	
posicionamento	mais	fluido	e	dinâmico	convergiram	para	o	entendimento	da	paisagem	
por	meio	da	materialidade	estratificada	no	espaço	mediante	as	atividades	antrópicas.	
Nas	bases	filosóficasneopositivista	e	materialista,	foi	proposto	redirecionar	a	abordagem	
da	 paisagem	 para	 dentro	 das	 conotações	 da	 região,	 ou	 seja,	 surgiram	 conceitos	
congêneres,	dois	em	um,	porém,	com	a	importante	ressalva:	seus	nortes	filosóficos	são	
distintos,	um	faz	algumas	sinapses	frente	ao	sistema	econômico	capitalista,	enxergando	
a	paisagem	ou	região	como	produto	territorial	do	capital	e,	o	outro,	realiza	abstrações,	
isola	um	elemento	ou	aspecto	natural	contido	naquela	paisagem	ou	região	e	aplica	um	
método	quantitativo	para	tentar	obter	explicações.	A	busca,	para	além	da	compreensão	
visual	da	paisagem,	gerou	observações	de	outros	métodos	(SALGUEIRO,	2001).
 
A	 partir	 de	 1970,	 com	 a	 humanização	 da	 ciência	 geográfica,	 tornavam-se	
possíveis	 novas	 possibilidades	 para	 estudar	 a	 paisagem,	 porém,	 não	 elegeram,	 de	
forma	unificada,	a	conceituação	de	paisagem,	mas	trouxeram	reflexos	paradigmáticos	
diversos,	como	a	supressão	do	estudo	da	paisagem	a	partir	das	perspectivas	positivistas	
e	neopositivistas,	a	catalogação	de	apoio	a	discussões	a	 respeito	da	visão	simbólica	
da	 paisagem	 e	 a	 ampliação	 do	 conceito	 denotativo	 pela	 geografia	 física,	 segundo	
elementos	humanos	e	civilizatórios.
 
132
A	 paisagem	 não	 é	 objeto	 autônomo	 em	 si,	 face	 do	 qual	 o	 sujeito	
poderia	 se	 situar	 em	 uma	 relação	 de	 exterioridade.	 Ela	 se	 revela	
numa	experiência	em	que	o	sujeito	e	objeto	são	 inseparáveis,	não	
somente	 porque	 o	 objeto	 espacial	 é	 constituído	 pelo	 sujeito,	 mas	
também	 porque	 o	 sujeito,	 por	 sua	 vez,	 aí	 se	 acha	 envolvido	 pelo	
espaço	(COLLOT,	1990,	p.	22).
No	 início	da	discussão	do	assunto,	 foi	proposto	não	apresentar	uma	fórmula	
mágica	para	a	noção	de	paisagem,	pois	ela	não	é	limitável.	Respeitosamente,	existem	
pesquisadores	que,	ainda,	nos	dias	atuais,	conseguem	realizar	um	link	com	a	perspectiva	
naturalista	do	século	XIX,	entre	a	paisagem	e	a	ecologia,	sinalizando	uma	conexão	com	
a	interpretação	do	lado	físico	da	geografia.	
Outros	descobriram	a	dinâmica	humana	da	paisagem,	vislumbrando	análises	
de	pontos	 sensíveis	da	percepção	e	experiência	de	vida	do	 sujeito,	 além	do	eixo	de	
atribuições	críticas	e	culturais,	o	qual	 introduz	o	conceito	de	paisagem	e	o	peso	dos	
aspectos	econômicos	e	fenômenos	culturais.
Embora	a	paisagem	tenha	uma	conotação	física,	a	validade	das	relações	sociais	
e	 culturais	 interfere,	 com	seus	 signos	 e	 significados	 subjetivos,	 incluindo	o	 afetivo.	 “A	
paisagem	não	se	refere	à	essência,	ao	que	é	visto,	mas	representa	a	inserção	do	homem	
no	mundo,	a	manifestação	do	seu	ser,	base	do	seu	ser	social”	(DARDEL,	1990,	p.	54).
O	 entendimento	 da	 paisagem	 permeia	 todos	 os	 campos	 sensoriais	 do	 ser	
humano,	desde	a	visão	ao	tato.	A	proposta	está,	de	fato,	em	experienciar	o	lugar,	numa	
relação	de	afeto,	emoção	e,	até	mesmo,	paixão.	“O	mundo	percebido	pelos	olhos	é	mais	
abstrato	do	que	o	conhecido	por	nós,	por	meio	dos	outros	sentidos”	(TUAN,	2012,	p.	28).
Ele	propõe	que	você,	enquanto	ser	humano,	permita-se	relacionar	com	o	meio	
utilizando	aspectos	despercebidos,	os	subjetivos.	Entende-se	que	estes	se	caracterizam	
por	todas	as	suas	sensações,	sentimentos	e	 ideias,	por	um	determinado	 lugar	e	sua	
paisagem.	
Os	sentidos	do	olfato	e	do	tato	são	educados	mentalmente?	Tendemos	
a	negligenciar	o	poder	cognitivo	desses	sentidos.	No	entanto,	o	verbo	
francês	 savoir	 (‘saber’)	 está	 intimamente	 relacionado	com	o	 inglês	
savor.	O	paladar,	 o	olfato	e	o	 tato	podem	atingir	um	extraordinário	
refinamento.	Eles	discriminam,	em	meio	à	 riqueza	de	sensações,	e	
articulam	os	mundos	gustativo,	olfativo	e	textural	(TUAN,	1983,	p.	11).
Imagine	um	ambiente	físico	que	esteja	no	seu	universo	e	no	imaginário	social.	
Pois	 bem,	 ele	 representa	 exatamente	 aquilo	 que	 se	 encontra	 no	 seu	 imaginário	 e	
em	 todos	 os	 imaginários	 coletivos?	 Possivelmente,	 não!	Você	 saberia	 explicar?	 Sim,	
isso	mesmo,	cada	 indivíduo	possui	uma	 interpretação	de	mundo	variada	mediante	a	
subjetividade	individual.	Dentro	das	relações	de	proximidades	(individuais	ou	coletivas),	
existem,	ao	menos,	três	campos	que	chamamos	de	flutuantes:	paisagem,	memória	e	
cultura.	São	variáveis	importantes,	porém,	condicionantes,	que	decidem	a	respeito	das	
relações	e	percepções	entre	o	homem	e	o	espaço.	
133
Existem	 as	 dinamicidades	 temporal,	 social	 (coletiva	 e	 individual),	 cultural	 e	
histórica,	que	 interferem	diretamente	nas	percepções	dos	grupos	culturais.	Segundo	
Tuan	(2012,	p.	139),	“o	prazer	visual	da	natureza	varia	em	tipo	e	intensidade,	podendo	ser	
um	pouco	mais	do	que	a	aceitação	de	uma	convenção	social”.
Essa	 importante	abordagem	realizada	é	a	apresentação	dos	grupos	culturais	
diferentes	(indígenas,	indonésios,	chineses),	de	como	eles	ocupam	e	compreendem	o	
espaço	em	diferentes	situações.	Como	resposta,	tem-se	que	cada	grupo	apresentou	
seus	 costumes,	 sua	 identidade,	 que	 se	 distanciava	 das	 culturas	 homogeneizadoras,	
indicando	uma	sensação	de	pertencimento,	superioridade	e	manutenção	da	cultura.
Milton	Santos	possui,	na	obra	Metamorfoses do espaço habitado,	questões	que	
ratificam	a	conceituação	e	apreensão	da	paisagem	ensinada	por	Tuan.	Em	uma	das	suas	
exposições,	apresentou	a	perspectiva	de	utilização	dos	sentidos	para	 ler	a	paisagem.	
Santos	(1997,	p.	61)	afirma	que	“tudo	aquilo	que	nós	vemos,	o	que	nossa	visão	alcança,	é	
a	paisagem	[...].	Não	é	formada	apenas	de	volumes,	mas	também	de	cores,	movimentos,	
odores,	sons	etc.”.
 
Semelhantemente,	mais	uma	vez,	Santos	 (1997,	p.	62)	aplica	a	percepção	de	
paisagem	como	um	meio	seletivo	captado	pelos	sentidos,	pelas	diferentes	sociedades,	
sujeitos	e	cultura.	
A	dimensão	da	paisagem	é	a	dimensão	da	percepção,	o	que	chega	
aos	sentidos.	Por	isso,	o	aparelho	cognitivo	tem	importância	crucial	
nessa	apreensão,	pelo	fato	de	que	toda	nossa	educação,	formal	ou	
informal,	 é	 feita	 de	 forma	 seletiva,	 pessoas	 diferentes	 apresentam	
diferentes	versões	do	mesmo	fato	[...].	Se	a	realidade	é	apenas	uma,	
cada	pessoa	a	vê	de	forma	diferenciada.	Dessa	forma,	a	visão,	pelo	
homem,	das	coisas	materiais,	é	sempre	deformada	[...].
Caso você se interesse pela temática, indicamos a leitura do livro 
Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. 
Uma das principais obras do autor Yi-fu Tuan, publicada, originalmente, 
em 1974, e traduzida para a língua portuguesa pela Dra Lívia de Oliveira, 
em 1980. Essa é uma referência atemporal para os geógrafos. Ainda, 
em uma entrevista a respeito da Serra da Mantiqueira, a geógrafa Lívia 
explica alguns dos conceitos, como topofilia, topofobia, topocídio e 
topo reabilitação, conteúdos encontrados no livro de Yi-Fu Tuan. Tal 
conteúdo pode ser encontrado em: http://g1.globo.com/economia/
agronegocios/noticia/2015/09/globo-rural-apresenta-formacao-da-
serra-da-mantiqueira-desde-o-inicio.html.
DICA
134
Segundo	Meininig	(2002),	a	paisagem	possui	possibilidades	inesgotáveis	para	
ser	interpretada.	O	autor	tem,	como	objetivo,	apresentar	uma	diversidade	de	propostas	
e	significados	da	paisagem.	Ele	percorre	sua	análise	segundo	as	cenas	nomeadas	por:	
paisagem	como	natureza,	paisagem	como	habitat,	paisagem	como	artefato,	paisagem	
como	 sistema,	 paisagem	 como	 problema,	 paisagem	 como	 riqueza,	 paisagem	 como	
ideologia,	paisagem	como	história,	paisagem	como	lugar	e	paisagem	como	estética.
Diante	 das	 nuances	 da	 perspectiva	 da	 paisagem,	 Corrêa	 (1995)	 se	 dedica	 a	
explicar	a	paisagem	cultural.	No	momento,	chama	atenção	para	a	compreensão	dessa	
paisagem.	 Segundo	Corrêa	 (1995,	 p.	 4),	 “trata-se	 de	 paisagem	 cultural	 um	 conjunto	
de	formas	materiais	dispostas	e	articuladas	entre	si	no	espaço,	como	campos,	cercas	
vivas,	os	caminhos,	a	casa,	a	igreja	etc.,	com	seus	estilos	e	cores	resultantes	da	ação	
transformadora	do	homem	sobre	a	natureza”.
Retomando	uma	breve	discussão,	ele	coloca	algumas	disposições	iniciais	para	
os	estudos	da	paisagem	cultural	sob	aspectossimbólicos	e	funcionais,	a	exemplo	da	
análise	do	cemitério,	temática	outrora	despercebida.
 
Ele	 mapeia,	 descritivamente,	 boa	 parte	 da	 estruturação	 dos	 cemitérios	
brasileiros	nas	ruas	principais,	adjacentes	e	periferias,	relacionando	com	a	formação	de	
centros	urbanos	e	a	realidade	capitalista	da	sociedade	em	classes,	com	seus	privilégios	
ou	desfavorecimentos.
 
A	 paisagem	 dos	 cemitérios	 das	 grandes	 cidades	 brasileiras	 é	
exemplar.	Na	frente,	 juntos	à	rua	ou	à	praça,	estão	os	túmulos	das	
pessoas	ricas	e	de	prestígio,	de	mármore	ou	granito,	e	ornamentados	
com	 imponentes	 símbolos.	 Em	 torno,	 como	 que	 formando	 um	
semicírculo,	estão	os	túmulos	dos	indivíduos	de	classe	média,	mais	
simples	 e	 baratos,	 porém,	 duradouros.	 Na	 periferia	 do	 cemitério,	
de	 acessibilidade	 mais	 difícil,	 estão	 enterrados,	 sem	 nenhum	
jazigo,	 os	 indivíduos	 das	 camadas	 populares.	 Essa	 paisagem	 é,	
simultaneamente,	 funcional	 e	 simbólica,	 reproduzindo	 o	 status	
social	que	os	indivíduos	tiveram	em	vida,	assim	como	a	localização	
residencial	no	espaço	urbano	(CORRÊA,	1995,	p.	5).
Segundo	a	análise	realizada	por	Corrêa	(1995),	as	paisagens	culturais	podem	ser	
encontradas	em	lugares	onde	não	existem	tantas	buscas	por	compressão.	Ele	trouxe	
uma	realidade	de	muitos	cemitérios	brasileiros.
Indagamos	 você	 frente	 à	 análise	 realizada:	 é	 possível	 que	 o	 conceito	
arquitetônico	 das	 construções	 fúnebres,	 em	 2020,	 tenha	 mudado?	 Sim,	 é	 possível,	
mas	continua	sendo	um	campo	de	paisagem	cultural	que	indica	mudanças	no	universo	
social.	 Implacavelmente,	 cemitérios	 luxuosos	 passam	a	 ser	 construídos	 por	 diversas	
regiões,	 e	 apresentam	uma	narrativa	oposta	daquela	que	muitos	anos	 sustentavam,	 
135
começando	pela	desconstrução	da	identidade	sóbria	para	dar	espaço	à	narrativa	de	que	
o	cemitério	é	um	lugar	de	paz	ou,	até	mesmo,	de	lindas	histórias.	Essa	tendência	começa	
pelos	 nomes:	 em	 um	 determinado	 período,	 apenas	 aos	 nomes	 dos	 cemitérios	 era	
acrescentado	o	país,	cidade	ou	o	bairro	do	qual	fazia	parte.	Também	apareciam	nomes	
relacionados	a	alguma	figura	sagrada,	mas,	na	atualidade,	ganham	outros	nomes,	como	
bosque	da	esperança,	campo	santo	parque	da	paz,	parque	da	colina,	além	de	serviços	de	
velório	(salas	de	velórios	com	salas	de	repouso,	banheiro	privativo,	floricultura,	cafeteria,	
lanchonete)	e	missas,	cultos	ou,	até	mesmo,	palestras	ecumênicas,	no	dia	de	finados.
Possivelmente,	adentrássemos	nessa	discussão,	encontraríamos	uma	relação	
de	classe	um	pouco	mais	aprofundada.	Se,	antes,	o	que	separava	o	 indivíduo	pobre	
do	 rico	 eram	 as	 ruas	 dentro	 de	 um	mesmo	 cemitério,	 hoje,	 podemos	 compreender	
complexos	funerários	que	excluem,	definitivamente,	classes	sociais	menos	favorecidas.
 
Em	concordância,	 Cosgrove	 e	 Jackson	 (2011)	 e	 Corrêa	 (2011)	 entendem	que	
a	paisagem	advém	de	uma	forma	de	enxergar	ou	ver,	formas	ou	cenas	ajustadas	em	
processos	 de	 transformações	 e	 diferenças	 econômicas,	 sociais,	 políticas,	 culturais,	
incluindo	 tradições,	 credos	 e	moral.	 “A	paisagem	urbana	permite	múltiplas	 leituras	 a	
partir	de	diversos	contextos	históricos	e	culturais,	envolvendo	diferenças	sociais,	poder,	
crenças	e	valores”	(CORRÊA,	2011,	p.	179).
Um	 dos	 grandes	 nomes	 da	 geografia,	 Cosgrove,	 trabalhou	 em	 prol	 da	 união	
do	marxismo	e	da	geografia	cultural.	Era	preciso	obter	uma	pesquisa	com	resultados	
reais	em	virtude	das	relações	entre	o	homem	e	o	espaço,	utilizando	os	materialismos	
histórico	e	dialético	e	as	realidades	sensorial	e	simbólica.	A	perspectiva	da	paisagem	
tem,	como	objetivo,	analisar	relações	objetivas	e	subjetivas	frente	à	organização	social,	
modo	 de	 produção	 e	 ocupação	 do	 espaço.	 Para	 Cosgrove	 (2011,	 p.	 103),	 “os	 seres	
humanos	experienciam	e	transformam	o	mundo	natural	em	mundo	humano,	através	
do	seu	engajamento	direto	enquanto	seres	pensantes,	com	suas	realidades	sensorial	e	
material”.
A	 produção	 e	 reprodução	 da	 vida	 material	 são,	 necessariamente,	
uma	 arte	 coletiva,	 mediada	 na	 consciência	 e	 sustentada	 através	
de	códigos	de	comunicação.	Essa	última	é	produção	simbólica.	Tais	
códigos	 incluem	 não	 apenas	 a	 linguagem	 em	 seu	 sentido	 formal,	
mas	também	o	gesto,	 o	vestuário,	 as	 condutas	pessoal	 e	 social,	 a	
música,	a	pintura,	a	dança,	o	ritual,	as	cerimônias	e	as	construções	
(COSGROVE,	2011,	p.	103).
Segundo	 Santos	 (1997a),	 geógrafo	 que	 segue	 uma	 linha	 crítica,	 a	 paisagem	
carrega	 pontos	 que	 a	 designam	 como	 artefatos	 e	 sistemas.	 Por	 ser	 uma	 produção	
humana	associada	a	elementos	invisíveis	que	se	interligam,	também	pode	sustentar	a	
riqueza,	por	motivar	crenças	e	ideias	com	o	intuito	de	formar	ideologias.
136
A	paisagem	nada	tem	de	fixo,	de	 imóvel.	Cada	vez	que	a	sociedade	
passa	por	um	processo	de	mudança,	a	economia,	as	relações	sociais	
e	 políticas	 também	mudam,	 em	 ritmos	 e	 intensidades	 variados.	 A	
mesma	coisa	acontece	em	relação	ao	espaço	e	à	paisagem,	que	se	
transformam	para	se	adaptar	às	novas	necessidades	da	sociedade	
(SANTOS,	1997a,	p.	37).
Entende-se	que	a	paisagem	possui	um	caráter	cultural	diretamente	relacionado	
a	 ela.	 Afeta,	 diretamente,	 a	 transmissão	 da	 verdade	 passada	 por	 meio	 dos	 grupos,	
símbolos,	identidades	culturais	e	linguagens.
 
Corrêa	(1995)	apresenta	o	estudo	das	paisagens	culturais.	Em	uma	perspectiva	
crítica	dos	materialismos	histórico	e	dialético,	ele	identifica	duas	grandes	categorias	de	
paisagens:	a	primeira	se	refere	às	paisagens	dominantes,	elencando	as	características	
de	imposição	e	maior	visibilidade	das	classes	de	poder;	a	segunda	reflete	as	paisagens	
alternativas	que,	contrariamente,	possuem	uma	linha	de	ínfima	visibilidade	e	poder,	e	
são	desenvolvidas	por	grupos	não	dominantes.
Continuando	 as	 identificações	 da	 paisagem,	 são	 desenvolvidas	 as	 perspectivas	
ou	tipos:	(a)	paisagens	residuais,	(b)	paisagens	emergentes;	e	(c)	paisagens	excluídas.	
Para	cada,	existe	uma	explicação,	assim,	começaremos	pela	(a):	as	paisagens	residuais	
são	aquelas	que	existem,	porém,	possuem	poucas	expressões,	como	as	áreas	rurais	e	
de	alguns	pontos	encontrados	nas	grandes	cidades;	(b)	paisagens	emergentes	estão	
diretamente	 ligadas	aos	 lugares	que	precisam	transmitir	um	 recado	de	um	grupo	que	
emerge	 de	 uma	 sociedade	 de	 classes,	 porém,	 sua	 característica	 é	 a	 transitoriedade,	
assim,	 foi	 dado	 o	 exemplo	 das	 comunidades	 hippies	 de	 1960	 nos	 Estados	Unidos	 da	
América,	 além	dos	acampamentos	do	Movimento	dos	Trabalhadores	Rurais	Sem	Terra	
(MST);	por	fim,	(c)	as	paisagens	excluídas,	pois,	assim	como	o	próprio	nome	afirma,	esse	
tipo	de	paisagem	compreende	grupos	que	sofrem	exclusão,	referidos	como	minorias,	
como	ciganos,	religiosos	e	raciais.	As	minorias,	apesar	de	possuírem	traços	históricos	
e	 culturais	 fortes	 e	 resistentes,	 contendo	 símbolo	 e	 significado,	 são	 diminuídas	 pela	
cultura	dominante,	com	a	consequência	da	invisibilidade.
Os	 aspectos	 da	 cultura	 são	 considerados	 interpretativos,	 por	 apresentarem	
variáveis	mutáveis	entre	as	experiências	subjetivas	dos	 indivíduos	quanto	às	 leituras	
dos	elementos	da	paisagem.	
Na	prática,	entende-se	que,	em	uma	gama	de	grupos	sociais,	possivelmente,	
todos	apresentam	características	que	os	diferem	dos	outros,	como	atividades	particu-
lares,	linguagens,	formações	culturais	etc.
Como	base	estruturante	da	pesquisa,	foram	buscadas,	nos	conceitos	geográ-
ficos	de	território	e	territorialidade,	suas	aplicabilidades	no	campo	da	geografia	cultural.
137
A	terminologia	territorium	tem	suas	bases	no	latim	clássico,	mas	o	uso	conceitual	
da	 palavra	 tem	 um	 histórico	 mais	 moderno,	 referente	 à	 geografia	 tradicional,	 que,	
erroneamente,	 algumas	vezes,	 foi	 atrelada,	 apenas,	 a	concepções	de	uso	delimitado	
para	 uma	 vertente	 política.	 O	 território	 subsistia	 à	 luz	 do	 material,	 visível,	 tangível	
ou	 palpável,	 passando	 a	 ser	 entendido	 como	 um	 perímetrocontrolado	 por	 alguma	
representatividade	social.	
Haesbaert	 (2010)	e	Souza	(2015)	afirmam	que,	mesmo	havendo	um	norteamento	
político	 do	 território,	 suas	 discussões	 geram	 um	 ciclo	 vicioso	 da	 simplificação,	 caso	
não	se	recorra	a	uma	compreensão	mais	abrangente,	como	as	dimensões	simbólicas.	
Tomamos,	 como	 exemplo,	 o	 caso	 de	 um	 dos	mais	 tradicionalistas,	 Friedrich	 Ratzel,	
que	tratou,	em	um	dos	seus	estudos	mais	recentes,	da	correlação	entre	os	vínculos	de	
aproximação	do	indivíduo	e	do	solo	(unidade	conceitual	que	outrora	era	apenas	tratada	
enquanto	 sinônimo	 de	 território),	 por	meio	 de	 questões	 religiosas,	 espiritualizadas	 e	
psicológicas	(HAESBAERT,	2010).
 
Souza	(2015)	aponta	que	a	definição	de	território	se	conecta,	muitas	vezes,	às	
relações	de	poder,	tornando,	consequentemente,	um	discurso	aproximado	da	dimensão	
política.	 Tal	 fato,	 todavia,	 não	 é	 capaz	 de	 tornar	 ilegítima	 a	 concepção	 de	 território	
sob	a	ótica	cultural,	uma	vez	que	as	relações	simbólicas,	as	teias	de	significados	e	as	
identidades	são	vertentes	e	meios	para	tratar	e	conceituar	o	território.
Após	apresentar	uma	primeira	vertente	do	território,	Souza	(1995,	p.	87)	expõe	
uma	 segunda	 aproximação	 conceitual,	 dizendo	 que	 “territórios	 são,	 no	 fundo,	 antes	
relações	sociais	projetadas	no	espaço	que	espaços	concretos”,	 indicando	que	a	base	
concreta	 se	 minimiza	 a	 “substratos	 materiais”,	 ocorrendo	 as	 intensas	 relações	 de	
territorialidade.
Apesar	das	práticas	reducionistas	circundarem	o	campo	geográfico	como	hábito	
durante	séculos,	Souza	(2015,	p.	56)	alerta	para	uma	adequação	quanto	à	interligação	
dos	modos	de	compreensão	conceitual:
As	 razões	 e	motivações	 para	 conquistar	 ou	 defender	 um	 território	
podem	 ser	 fortemente	 ou	 primariamente	 de	 cunho	 cultural	 ou	
econômico;	é	óbvio	que	não	são,	sempre,	de	ordem	“estritamente”	
política.	Aliás,	a	própria	separação	entre	político,	cultural	e	econômico,	
da	 maneira	 como	 amiúde	 é	 feita,	 tem	 muito	 de	 cartesiana.	
Artificialmente,	é	preocupada	em	separar	aquilo	que	é	distinguível,	
mas	não	propriamente	separável.	
Para	Souza	(1995,	p.	81),	os	territórios	podem	surgir	em	gradientes	maiores	e	
menores,	entre	os	extremos	dos	países	às	ruas.	Podem	ser	construídos	e	descontruídos,	
contudo,	sempre	imbuídos	pela	dimensão	temporal:	“territórios	podem	ter	um	caráter	
permanente,	mas	também	podem	ter	experiência	periódica,	cíclica”.
 
138
Segundo	Haesbaert	 (1999;	 2010),	 o	 conceito	 pode	 ultrapassar	 a	 interpretação	
constante	 de	 dominação,	 alcançando	 a	 consciência	 de	 que	 a	 perspectiva	 simbólica	
aponta	 para	 o	 espaço-território	 como	 um	 canalizador	 da	 produção	 das	 identidades,	
dadas	as	interações	por	grupos	sociais.
 
Em	concordância	com	a	temática,	Santos	(2000,	p.	96)	afirma	que	o	território,	
antes	de	ser	um	recorte	apenas	material,	 representa	uma	 identidade	simbólica,	uma	
vinculação	entre	as	relações	pessoais	e	o	material:
O	 território	 não	 é	 apenas	 o	 resultado	 da	 superposição	 de	 um	
conjunto	de	sistemas	naturais	e	um	conjunto	de	sistemas	de	coisas	
criadas	pelo	homem.	O	território	é	o	chão	e	mais	população,	 isto	é,	
uma	identidade,	o	fato	e	o	sentimento	de	pertencer	àquilo	que	nos	
pertence.	O	território	é	a	base	do	trabalho,	da	residência,	das	trocas	
materiais	e	espirituais	e	da	vida.	Quando	se	fala	de	território,	deve-se,	
logo,	entender	que	se	está	falando	de	território	usado,	utilizado	por	
uma	dada	população.
Em	 conformidade,	 Raffestin	 (1993)	 salienta	 que	 o	 território	 é	 o	 local	 onde	
se	 firmam	 e	 acontecem	 as	 relações	 de	 poder,	 por	 meio	 das	 ações	 dos	 atores	 da	
sociedade.	Para	Foucault	 (1979),	o	poder	está	 inserido	em	todas	as	 relações	humanas	 
e,	principalmente,	dentro	do	escopo	religioso.
Sob	o	olhar	da	geografia	cultural,	discutir	 território	é	se	apropriar	dos	espaços	
imaterial	 e	material	 substanciados	das	dimensões	 simbólicas	 em	que	 identidades	 são	
afirmadas	e	reafirmadas.
Rosendahl	 (2002,	 p.	 59)	 menciona	 que	 os	 “espaços	 apropriados,	 efetiva	 ou	
afetivamente,	 são	 denominados	 territórios”,	 sendo,	 as	 territorialidades,	 parte	 das	
relações	estabelecidas	por	grupos	e	agentes	sociais	no	escopo	espacial.
 
Conforme	 Fernandes	 (2015,	 p.	 208),	 existem	 ordens	 de	 categorização	 de	
territórios	 diferentes,	 além	 da	 construção	 de	 um	 território	 imaterial	 que	 solidifica	 a	
reprodução	material,		“relacionado	com	o	controle,	o	domínio	do	processo	de	construção	
do	 conhecimento	 e	 suas	 interpretações”.	 Inseridas	 no	 contexto,	 encontram-se,	 ao	
menos,	cinco	variáveis:	a	teoria,	o	conceito,	o	método,	a	metodologia	e	a	ideologia.	
Toda	 perspectiva	 que	 venha	 determinar,	 parcialmente	 ou	 completamente,	 uma	
informação,	visando	nortear,	persuadir	e/ou	induzir.	Deve	haver	a	intenção	de	cooptar	o	
indivíduo,	a	princípio,	a	um	território	imaterial.
Com	a	perspectiva	de	território,	outra	categoria	se	torna	parceira	das	discussões	
da	 geografia,	 a	 territorialização.	 De	 acordo	 com	 Haesbaert	 (2007),	 a	 territorialidade,	
além	de	 incorporar	uma	dimensão	mais	política,	 amplia-se,	 também,	nas	discussões	
das	relações	econômicas	e	culturais,	pois	está	intrinsecamente	ligada	ao	modo	como	
as	pessoas	 se	 relacionam	com	a	 terra,	 em	forma	de	organização	espacial	 e	 como	o	
significado	é	dado	ao	lugar.
139
Segundo	Haesbaert	(2007,	p.	26):
[...]	Devemos,	primeiramente,	distinguir	os	territórios	de	acordo	com	
aqueles	 que	 os	 constroem,	 sejam	 eles	 indivíduos,	 grupos	 sociais/
culturais,	 o	 Estado,	 empresas,	 instituições,	 como	 igreja	 etc.	 Os	
objetivos	do	controle	social,	através	da	sua	territorialização,	variam	
conforme	 a	 sua	 sociedade	 ou	 cultura,	 o	 grupo	 e,	muitas	 vezes,	 o	
próprio	indivíduo.
Rosendahl	 (2002,	 p.	 59)	 considera	que	a	 territorialidade	 se	 apresenta	 como	uma	
condição	estratégica	e	 influente	no	“controle	de	coisas	e	pessoas,	ampliando,	muitas	
vezes,	 o	 domínio	 sobre	 espaços	 que	 a	 religião	 se	 estrutura	 enquanto	 instituição,	 criando	
territórios	seus”.
Conforme	 Rosendahl	 (2002),	 a	 territorialidade	 pode	 ser	 fortalecida	 pelas	
experiências	 religiosas	coletivas	ou	 individuais	que	os	grupos	podem	manter	em	um	
lugar	considerado	sagrado	ou	nos	itinerários,	que	constituem	o	território.
A	territorialidade,	enquanto	conceito,	pode	ser	identificada	como	um	
componente	de	poder	que	vai	além	do	objetivo	de	apenas	manter	a	
ordem	num	 território.	 Ela	 pode	 ser	 entendida	 como	 uma	 estratégia	
para	 criar	 e	 manter	 grande	 parte	 do	 contexto	 geográfico	 através	
do	qual	 se	pode	experimentar	o	mundo,	dotando-o	de	 significado.	
A	 territorialidade	 pode	 ter	 uma	 dimensão	 imaterial,	 no	 sentido	
ontológico	 de	 que,	 enquanto	 imagem	ou	 símbolo	 de	 um	 território,	
existe	 e	 pode	 se	 inserir	 como	 uma	 estratégia	 político-cultural,	
mesmo	que	o	território	ao	qual	se	 refira	não	esteja	concretamente	
manifestado	(VANDERLINDE,	2012,	p.	11).
Introdutoriamente,	a	perspectiva	da	geografia	da	religião,	segundo	Rosendahl	
(1996,	 p.	 59),	 é	 “uma	 organização	 complexa,	 como	 a	 Igreja	 Católica	 Romana,	 que	
desenvolveu	 exemplos	 notáveis	 do	 uso	 da	 territorialidade	 religiosa	 em	 diferentes	
espaços,	durante	o	longo	tempo	de	história”,	tendo	em	vista	a	representação	de	uma	
ordem	e	um	poder	que	paira	além	da	esfera	religiosa.
Na	geografia	da	religião,	é	possível	destacar	grandes	produções	que	atuaram	na	
perspectiva	da	confluência	entre	território,	territorialidade	e	religião.	Assim,	apresentamos	
Sack	e	Sopher	como	autores.	As	duas	possuem	semelhanças,	no	sentido	de	que	a	Igreja	
controla	muitos	tipos	de	territórios,	mas,	principalmente,	dois	grandes	tipos:	os	lugares	
sagrados	 e	 a	 estrutura	 administrativa	 ou	 episcopal.	 Essa	 estrutura	 é,	 também,	 uma	
forma	de	administrar	uma	instituição	que	tem	poderes	políticos	e	econômicos.	
As	 obras	 desses	 autores	 são	 precursoras	 paraemergir	 a	 tríade	 território,	
territorialidade	e	 religião	na	 realidade	da	estrutura	 administrativa,	 principalmente,	 da	
Igreja	Católica	Romana.	As	dioceses	eram	territórios	de	propósitos	múltiplos,	sendo,	a	
religião,	apenas	mais	uma	das	suas	funções	(ROSENDAHL,	1996).
 
140
Rosendahl	 (1996)	 diz	 que	os	 estudos	de	Sack	 apontam	que	a	 Igreja	Católica	
Romana	possui	duas	características	principais:	 uma	se	 refere	às	questões	 tangíveis,	
como	 as	 imponentes	 estruturações	 físicas,	 hierarquia	 eclesiástica,	 propriedades	 de	
terras	e	a	ampla	membresia;	a	outra	é	a	representação	intangível,	referente	às	ordens	
espiritual,	religiosa	e	aos	princípios	desenvolvidos.
 
Sopher	(1967),	conforme	citado	por	Rosendahl	(2002),	destaca	que	o	sistema	
microgeográfico	 da	 religião,	 por	 meio	 do	 qual	 são	 fornecidos	 modelos	 de	 interação	
entre	os	sistemas	religiosos,	traça	que	a	territorialidade	pode	ser	advinda	de	três	tipos	
comportamentais:	 por	 coexistência	 pacífica,	 por	 instabilidade	 e	 competição	 e	 por	
intolerância	e	exclusão.
	Os	comportamentos	analisados	devem	deixar	de	ser	atribuídos,	apenas,	à	esfera	
conceitual	 religiosa,	 pois	 tais	 atitudes	podem	não	 ser	 fruto	dela.	 “Algumas	vezes,	 esses	
comportamentos	são	produtos	de	longa	experiência	histórica	que	subsiste	à	tradição	das	
comunidades	envolvidas,	mesmo	quando	a	 fé	 e	 a	 prática	 religiosa	 estejam	diminuindo”	
(ROSENDAHL,	 2002,	 p.	 207).	 Essas	 práticas	 comportamentais	mais	 exclusivistas,	 de	
acordo	com	a	autora,	são	características	de	religiões	antigas	que	buscam	reivindicar	
posse	de	únicas	verdades	religiosas,	cujos	 resultados	são,	em	alguns	casos,	 reações	
hostis	entre	adeptos	de	sistemas	religiosos	antagônicos.
 
Em	estudos	mais	 recentes,	 entretanto,	 ainda	numa	vertente	do	cristianismo,	
a	 respeito	 do	 estabelecimento	 da	 relação	 entre	 território,	 territorialidade	 e	 religião,	
Machado	 (1992	 apud	 ROSENDAHL,	 1996,	 p.	 63)	 declara	 que,	 após	 o	 advento	 do	 
pentecostalismo,	diferentemente	da	 Igreja	Católica,	 “a	territorialidade	é	 informal	e	fugaz,	
não	se	 limitando	a	uma	estrutura	territorial	formal	e	perene,	expressa	pelas	paróquias	e	
dioceses	católicas,	que	são	delimitadas	e	permanentes”.
 
Em	conformidade,	no	âmbito	da	geografia	cultural,	Dias	(2016)	analisa	as	estra-
tégias	de	difusão	espacial	do	protestantismo,	através	do	estudo	de	caso	da	Igreja	Projeto	 
Vida	Nova,	no	Rio	de	Janeiro.	Nesse	estudo,	foram	elencadas	algumas	estratégias	que	
levam	esse	grupo	a	crescer,	em	quantidades	de	templos,	nacional	e	internacionalmente.	
Destaca-se	a	periodicidade	da	ocupação	dos	espaços	públicos,	no	período	do	
carnaval,	 para	aplicação	da	ação	evangelizadora,	que	gera	práticas	de	territorialização	
pelo	grupo	neopentecostal.	Numa	linha	semelhante,	porém,	guardando	a	singularidade	
da	temática,	Sampaio	 (2018)	trata	da	compreensão	dos	processos	que	 influenciam	as	
(re)construções	 identitárias	 frente	 ao	 fenômeno	dos	 eventos	 religiosos	na	 cidade	de	
Campina	Grande,	Paraíba,	no	período	momesco	de	2017.
A	 composição	material	 dos	 territórios	 organizados	 pelas	 igrejas	 evangélicas	 vem	
crescendo,	mas	se	diferenciando	dos	formatos	estabelecidos	pelas	 igrejas	católicas.	Por	
exemplo,	o	campo	territorial	católico	se	estrutura	dentro	de	uma	hierarquia	rígida,	perene,	
enquanto	as	 igrejas	evangélicas	apresentam	diferentes	partições,	não	pactuando	com	a	
uma	mesma	composição	territorial	formal.
141
Com	uma	visão	geográfica,	Rosendahl	(2003)	ressalta	que	os	geógrafos	devem	
desvendar	 as	 territorialidades	 visíveis	 e	 invisíveis,	 no	 caso	 específico	 dos	 diferentes	
grupos	 religiosos.	 Pode-se	 observar,	 nessa	 afirmação,	 dois	 pontos	 importantes	 que	
devem	ser	levados	em	consideração	quando	se	pretende	analisar	alguma	problemática	
sob	 a	 ótica	 da	 geografia	 da	 religião:	 os	 territórios	 e	 as	 territorialidades	 religiosas,	
sobretudo,	nos	dias	atuais.	
Com	relação	ao	primeiro	ponto,	devemos	focar	no	espaço	em	si	e	em	como	a	
religião	é	capaz	de	unir	ou	separar	um	povo	e,	ao	mesmo	tempo,	delimitar	um	território.	
Já	 com	 relação	 ao	 segundo	 ponto,	 deve-se	 considerar	 as	múltiplas	 faces	 religiosas	
existentes	na	sociedade	e	qual	a	capacidade	que	elas	possuem	de	interferir	em	porções	
espaciais	por	meio	de	ações	estratégicas	de	dominação,	tendo	em	vista	que	a	religião	é	
um	dos	fatores	influenciadores	do	processo	de	territorialidade,	vistos	o	protecionismo	e	
a	manutenção	da	identidade	dos	grupos	religiosos.
A	temática	da	geografia	cultural,	referente	à	geografia	da	religião,	apresenta-se,	
nesse	primeiro	 instante,	pontualmente,	tendo	em	vista	que	a	Unidade	3	aborda,	com	
mais	detalhes,	os	assuntos	relacionados	aos	caminhos	que	esse	campo	percorreu	e	até	
onde	ele	pretende	chegar	como	uma	geografia	possível,	popular,	referente	às	questões	
vivenciadas	dia	a	dia	por	pessoas	no	espaço	considerado	geográfico.
 
A	 compreensão	 da	 identidade	 pode	 invadir	 vários	 campos,	 inclusive,	 o	 da	
geografia	cultural,	com	festas,	religião,	literatura,	música	e	tantas	outras	vertentes.	Claval	
(1997)	afirma	que	a	cultura	forma	a	identidade	dos	membros	de	uma	sociedade	através	
de	 um	 esquema	 de	 acumulação	 de	 conhecimento,	 estruturação	 das	 informações,	
significação	e	ressignificação	das	informações	ao	longo	da	vida.
 
Para	Claval	 (1997,	p.	97),	a	cultura	tem	um	papel	substantivo	na	aquisição	de	
valores	identitários	individuais,	que	reflete	três	pilares	em	três	fases	distintas	da	vida:	
a	infantil,	a	juvenil	e	a	adulta.	“O	primeiro	pilar	trata	de	guiar	a	ação,	escrevendo-a	em	
um	quadro	 normativo;	 o	 segundo	 trata	 de	 sublinhar	 a	 especificidade	 de	 tudo	 que	 é	
social,	alcançando	a	dignidade	e	passando	pelo	procedimento	da	institucionalização;	e	
o	terceiro	pilar	dá	um	sentido	à	vida	social”.	Cada	pilar	se	estrutura	da	seguinte	forma:	
primeiramente,	 os	 sujeitos	 absorvem	 valores	 que	 os	 encaminham	 para	 um	 destino	
coletivo;	posteriormente,	com	maturidade,	adquirem	uma	identidade;	logo,	conquistam	
o	 status	de	pertencer	 a	um	grupo.	Consequentemente,	 projetam-se	para	 as	demais	
coletividades.
 
Aprofundando	 a	 discussão	 do	 assunto,	 Goffman	 (1988)	 conduz	 uma	 pauta	
das	possibilidades	do	ser	enquanto	sujeito	no	sentido	de	atentar	para	as	 identidades	
contidas	em	si.	Para	ele,	o	ser	humano,	na	sua	essência,	possui	dois	tipos	de	identidades:	
a	virtual	e	a	real.	Na	primeira,	são	consideradas	as	qualidades	normais	e	aceitas	pelos	
ditames	da	sociedade,	já	a	segunda	trata	da	sua	realidade	enquanto	indivíduo,	baseado	
nas	possibilidades	do	psíquico,	das	naturezas	biológica	e	cultural,	 rompendo	com	as	
relações	da	identidade	virtual.
 
142
Em	contrapartida,	Hall	 (2006)	apresenta	 três	concepções	de	 identidade	para	
o	 indivíduo,	 seguindo	 a	 nomenclatura	 do	 sujeito	 do	 iluminismo,	 sociológico	 e	 pós-
moderno.	
A	primeira	se	refere	a	uma	pessoa	com	uma	identidade	centrada	na	autossufici-
ência	do	ser	desde	o	nascimento,	com	uma	existência	quase	intocada	pelas	influências	
externas;	a	segunda	já	traz	a	unificação	entre	o	mundo	interior	do	sujeito	e	a	identidade	
adquirida	fora;	e,	a	terceira,	retrata	um	processo	de	mudança	na	estrutura	social	e	influ-
ências	culturais,	caracterizando-se	por	não	dispor	de	uma	identidade	estável,	por	não	ser	
definida	por	processos	biológicos,	e	se	mostra	como	uma	construção	errante	de	si.
A	 interpretação	 para	 a	 afirmativa	 tem,	 como	 base,	 que	 a	 identidade	 é	 um	
processo	dinâmico,	cíclico,	reflexivo	e	contraditório,	uma	vez	que	se	estrutura	por	meio	
das	relações	interpessoais	e	interculturais	diariamente.
Hall	(2006)	aponta	que	os	atores	sociais	adotam	inúmeras	identidades,	de	ordem	
étnica,	religiosa,	política	ou,	até	mesmo,	de	gênero,	existindo,	dentro	de	mim,	identidades	
contraditórias,	 levando-nos	a	diferentes	direções,	de	tal	modo	que	nossas	identificações	
estão	sendo	continuamente	deslocadas.	Se	o	indivíduo	sentir	que	tem	uma	identidade	
unificadadesde	o	nascimento	até	a	sua	morte,	é	porque	foi	construída	uma	cômoda	e	
confortadora	narrativa	de	si.	O	sujeito	está,	continuamente,	nos	processos	de	aquisição	
de	informações,	associação	e	mudança,	a	partir	do	que	constitui	como	identificações.
Como	um	alerta	a	 respeito	das	construções	 identitária	e	dialética	da	cultura,	
Claval	(1997,	p.	105)	afirma:
Como	fundamento	das	 identidades,	a	cultura	 reúne	os	homens	ou	
os	separa.	Quando	as	pessoas	aderem	às	mesmas	crenças,	dividem	
os	mesmos	valores	e	associam	sua	existência	a	objetivos	próximos.	
Desde	que	saem	do	grupo	no	qual	se	sentem	solidárias,	suas	atitudes	
mudam:	a	desconfiança	se	 instala,	 as	trocas	se	tornam	uma	fonte	
ameaçada	 na	 medida	 em	 que	 elas	 podem	 questionar	 a	 estrutura	
sob	 a	 qual	 foram	 construídas	 a	 personalidade	 dos	 indivíduos	 e	 a	
identidade	dos	grupos.
Ortiz	(1980)	aborda	a	pluralidade	de	identidades,	e	afirma	que	não	existe	uma	
identidade	autêntica,	porque	é	construída	por	diferentes	grupos	sociais	em	diferentes	
momentos	 históricos.	 Tratando-se	 de	 uma	 base	 da	 construção	 cultural	 latina,	
Canclini	(2006)	conclui	que	é	híbrida,	pelo	processo	de	influência	que	foi	recebido	dos	
colonizadores	europeus,	escravos	africanos	e	dos	remanescentes	indígenas.	Ou	seja,	a	
formação	étnica	e	as	representações	culturais	latinas	não	podem	ser	adjetivadas	pela	
pureza,	mas	pela	diversidade.
 
Com	 a	 fluidez	 da	 temática,	 são	 desenvolvidos	 campos	 da	 geografia	 cultural	
que	abrangem	uma	 infinidade	de	associações	com	a	diversidade,	 tornando-se,	 cada	
vez	mais	 interessante,	 discutir	 a	 respeito	 do	 território,	 territorialidade,	 identidade	 no	
contexto	da	geografia	cultural	da	literatura,	música,	cinema,	religião	etc.	
143
Pode-se	dizer	que	é	desafiador,	mas	necessário	entender	as	dinâmicas	espaciais	
à	luz	do	poder	influenciador	da	geografia	cultural	na	organização	do	espaço.	Apensar	de	
ser	 considerada	uma	 abordagem	nova,	 a	 geografia	 cultural	 só	veio	 ser	 discutida,	 no	
Brasil,	a	partir	de	1990.
3 DIMENSÕES ESPACIAIS ATRAVÉS DA LITERATURA, 
MÚSICA POPULAR E IMAGEM
A	 partir	 deste	 momento,	 convidamos	 você	 a	 compreender	 os	 estudos	 da	
geografia	 cultural,	 que	 enquadra	 as	 dimensões:	 música,	 literatura	 e	 imagem.	 Como	
representantes	 da	 categoria	 expressões	 culturais,	 têm,	 como	 objetivo,	 disseminar	 a	
identidade	de	conhecimentos	de	bases	culturais	simbólicas	mediante	manifestações	
artísticas	no	espaço.
Segundo	Corrêa	(1998),	a	literatura	e	a	música	podem	surgir	em	circunstâncias	
e	contextos	distintos,	mas,	por	qualidades	socioespaciais,	disseminam-se	no	espaço	e	
tempo,	na	maioria	das	vezes.	As	músicas	e	literaturas	são	um	fio	condutor	que	comunica	
através	de	letras,	de	sentimentos,	simbolismo,	por	meio	da	relação	de	identidade,	pela	
sensação	de	pertencer	a	lugares	e	pela	paisagem	simbólica.	Ainda,	são	feitas	denúncias	
socioespaciais,	as	quais	distinguem	os	sujeitos	por	meio	das	suas	regiões.
 
Esse	processo	se	configura	como	uma	linguagem	artística,	longe	da	cientificida-
de	quantitativa,	porém,	possui	uma	natureza	pedagógica	que	auxilia	com	instrumentos	
culturais	de	reflexão	acerca	das	relações	homem-espaço-tempo.	As	expressões	asse-
guram	uma	linguagem	popular,	que	se	faz	presente	no	cotidiano	das	pessoas.	No	caso	
da	música,	podem	ser	encontradas	pelos	aplicativos	de	música,	no	convencional	rádio	
ou	televisão.	Ainda,	nas	igrejas,	cinemas,	algo	completamente	inserido	na	sociedade.
Apesar	de	serem	campos	muito	ricos	e	disseminados	nos	estudos	contempo-
râneos,	dentro	da	perspectiva	da	geografia	escolar,	geopolítica,	e,	especificamente,	da	
geografia	cultural,	a	música	e	a	literatura	foram	desconsideradas	por	décadas,	motivo	
pelo	qual	deixaram	uma	lacuna	nas	pesquisas	geográficas	brasileiras.	Enxergando	pos-
sibilidades,	cientistas	das	áreas	sociais	investiram	no	campo	da	investigação	somente	
a	partir	de	1990,	com	o	movimento	de	adesão	dos	geógrafos	brasileiros	quanto	ao	uso	
da	literatura	(CORRÊA,	1998).
De	 forma	 convidativa,	 Corrêa	 (1998)	 ressalta	 uma	 vasta	 literatura	 brasileira	
correspondente	ao	estudo	de	interesse	no	espaço,	paisagem,	religião,	lugar,	território,	
numa	 rápida	 série	 de	 nomes	 específicos,	 mas	 altamente	 gabaritada	 da	 literatura	
nacional:	Ferreira	de	Castro,	Raquel	de	Queiroz,	José	Lins	do	Rego,	Graciliano	Ramos,	
Jorge	Amado,	Guimarães	Rosa,	Mário	Palmério,	Bernardo	Elis,	Machado	de	Assis,	Lima	
Barreto	e	Érico	Veríssimo		são		alguns		dos		autores	cujas	obras	têm	interesse	geográfico.
144
Retrospectivamente,	 Corrêa	 (1995)	 registra	 a	 origem	 dos	 estudos	 à	 luz	 da	
ciência	geográfica.	Assim	como	todo	movimento	de	renovação	da	geografia	adveio	do	
continente	europeu	e	norte-americano,	consequentemente,	essas	possibilidades	foram	
geradas	em	vários	países,	como	Estados	Unidos,	 Inglaterra	e	França,	embora	o	Brasil	
tenha	apresentado	grande	potencial	cultural	a	ser	desvendado.	Os	geógrafos	do	século	
XIX	e	XX	analisaram	incontáveis	obras	romancistas	com	o	intuito	de	destilar	temáticas	
plurais	referentes	às	paisagens	rurais,	formação	do	espaço	urbano,	e	questões	sociais,	
políticas,	econômicas	e	culturais	ganharam	espaço.	“Dentre	os	romancistas,	citam-se	
Thomas	Hardy,	Walter	Scott,	Marcel	Proust,	Jules	Verne,	Julian	Gracq,	William	Faulkner	
e	John	dos	Passos.	Dante	e	Shakespeare	foram,	também,	analisados	pelos	geógrafos”	
(CORRÊA,	1998,	p.	59).
Não	apenas	as	 literaturas	 representaram	a	força	na	perspectiva	da	geografia	
cultural	naquele	momento,	mas	as	músicas	também,	através	dos	 inúmeros	gêneros,	
como	a	popular	música	country,	o	 rock,	a	música	cultural	world	music	e	o	 jazz.	Com	
relação	aos	geógrafos	que	abriram	caminho	frente	à	percepção	da	paisagem	(geografia)	
e	 literatura,	 encontram-se	 os	 estudos	 de	 Meinig,	 Pocock,	 Salter,	 Tuan,	 e	 as	 obras	 de	
Simpson,	Housley	e	MaIlory,	a	partir	de	uma	perspectiva,	e	as	de	Brosseau	e	Chevalier,	a	
partir	de	outra.	A	princípio,	eles	são	as	bases	para	o	estudo	para	fundamentar	a	geografia	
e	a	literatura.	Já	no	campo	da	música	popular	e	geografia,	são	referências	“os	estudos	
de	Nash	e	aqueles	contidos	nas	coletâneas	organizadas	por	Carney,	 	assim	como	as	
análises	de	Kong”	(CORRÊA,	1998,	p.	59).
Caro acadêmico, caso você se interesse pela temática, indicamos a leitura do material 
Educação e música: diálogos, organizado por Alessandro Dozena: https://repositorio.ufrn.
br/jspui/bitstream/123456789/21381/1/Geografia%20e%20Música%20%28livro%20
digital%29.pdf.
Uma segunda indicação é o artigo Geografia, literatura e música 
popular uma bibliografia, escrito por Roberto Lobato Corrêa. O que 
consideramos o mais rico desse texto, além das colocações rápidas, 
acertadas e oportunas do autor, são as bibliografias. Elas estão 
contidas como parte do artigo, a partir de uma vasta seleção da 
produção-base da literatura e música: https://www.e-publicacoes.
uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/3583/2503.
DICA
145
Igualmente,	as	temáticas	literárias	ou	musicais,	com	a	inserção	da	imagem	em	
análises	geográficas	como	expressão	artística,	chegaram	com	mais	fervor	do	período	de	
renovação	da	nova	geografia,	assim	explica	Gomes	(2008).
 
Certamente,	é	preciso	refletir	que	os	estudos	a	respeito	das	imagens	na	geografia	
parecem	algo	comum,	pois	existem	 relatos	de	que,	 antes	de	se	tornar	ciência,	 já	 se	
apresentavam	análises	através	do	campo	visual,	como	os	estudos	das	representações	
cartográficas,	como	exposto	nas	seções	anteriores,	porém,	para	o	campo	da	geografia	
cultural,	existem	algumas	diferenças	relacionadas	às	perspectivas	de	análise	que	não	
podem	 ser	 confundidas.	 A	 geografia	 clássica	 usa	 a	 representação	 cartográfica	 para	
se	 localizar,	 determinar	 territórios	 ou	 observar	 os	 horizontes	 do	 solo	 numa	dinâmica	
sintética.	 O	 outro	 se	 enquadra	 na	 perspectiva	 de	 captura	 das	 diversas	 expressões	
culturais	 que	 ocorrem	 nos	 espaços,	 por	meio	 de	 cenas	 filmadas	 dinamicamente	 ou	
estaticamentecom	a	fotografia.	Assim,	são	expostas	as	manifestações	culturais	de	um	
grupo	folclórico,	religioso	ou,	até	mesmo,	uma	paisagem	associada	pela	identidade	de	
um	povo.	Entenda	que	uma	perspectiva	não	nega	a	outra,	mas	se	complementam,	em	
um	cenário	plural	de	entendimento.
Sabe-se	 que,	 desde	 o	 início,	 a	 ciência	 geográfica	 indicou	 que	 adicionaria	
a	 disciplina	 às	 representações,	 os	 mapas,	 os	 diários	 de	 viagens	 de	 geógrafos	 com	
desenhos	da	fauna	e	flora	e	os	globos	terrestres.	Atualmente,	existem	os	aplicativos	
(APP),	como	o	Google	Earth,	Maps	e	outros,	que	fazem	você	entrar	em	cidades,	bairros,	
ruas,	parques	e,	virtualmente,	conhecê-los.
 
A	notoriedade	das	imagens	fez	Yi-Fu	Tuan	(1979),	em	um	dos	seus	escritos,	comparar	
o	estudo	médico	da	anatomia	e	a	ciência	geográfica.	O	princípio	subsiste	em	que	ambas	
necessitam	 de	 representações	 para	 serem	 ensinadas:	 a	 primeira	 constrói	 conhecimento	
através	do	estudo	do	corpo	humano	e	suas	estruturas	representadas	pelo	esqueleto,	e,	a	
segunda,	por	meio	das	representações	das	imagens,	por	meio	das	câmeras.
 
Com	uma	 abordagem	 interessante	 para	 a	 prática	 de	 ensino,	Moreira	 e	 Sene	
(2000,	p.	15)	apresentam	que	as	imagens	são	mais	que	a	representação	de	um	único	
parâmetro	da	paisagem,	pois	elas	“podem	representar	a	paisagem	de	modos	totalmente	
diferentes,	porque	cada	um	tem	seu	ponto	de	vista,	destacando	uns	aspectos	e	não	
outros”.	 Basicamente,	 entende-se	 que	 o	 registro	 da	 imagem,	 muitas	 vezes,	 serve	
apenas	para	endossar	o	processo	de	construção	de	um	conhecimento	literal,	no	caso	
da	ciência	geográfica,	mas	é	importante	ressaltar	que	essa	imagem	não	precisa	apenas	
ser	afirmada	a	partir	de	um	conhecimento	enraizado	ou	estereotipado,	mas	é	importante	
que	a	construção	do	conhecimento,	através	da	imagem,	seja	livre,	e	se	preciso	for,	que	
seja	reconstruída	ou	descontruída.
 
Para	a	compreensão	do	campo	das	imagens	na	geografia	cultural,	Rosendahl	
(2010,	 p.	 2)	 apresenta	 e	 indica	 os	 autores:	 “Barbosa	 e	Corrêa	A.	 (2001);	 Costa,	M.	H.	
(2002;	2005);	Daou	 (2001);	Myaneki	 (2008);	Novaes	 (2008);	Santos,	A.	 (2008)”	como	
base	para	o	desenvolvimento	das	pesquisas	na	área.
146
Como indicação de leitura, apresentamos o artigo Outsiders na caatinga: 
representações cinematográficas do semiárido nordestino através do “olhar 
estrangeiro”, de Pedro P. P. M. Filho: https://www.e-publicacoes.uerj.br/
index.php/espacoecultura/article/view/8468/6278.
DICA
4 INTRODUÇÃO DA GEOGRAFIA CULTURAL EM SALA DE 
AULA
Acadêmico,	o	texto	em	questão	tem,	como	objetivo,	apresentar	algumas	pos-
sibilidades	de	introduzir,	complementarmente,	reflexões	da	geografia	cultural	à	matéria	
escolar	geografia.	Assim,	propomos	uma	extensão	de	assuntos	vistos	no	âmbito	univer-
sitário	para	a	aplicação	do	entendimento	e	discussões	em	sala	de	aula.
 
Como	propõe	a	missão	dada,	a	disciplina,	após	a	sua	renovação,	indica	que	as	
discussões	não	devem	ocorrer	apenas	na	esfera	acadêmica,	mas,	sobretudo,	entre	os	
professores	da	base	escolar	referente	ao	ensino	básico	(BRASIL,	1991).
Esse	 fio	 norteador	 se	 ampara	 na	 trajetória	 da	 formalização	 do	 ensino	 da	
geografia	e	demais	disciplinas,	até	a	criação	da	Base	Nacional	Comum	Curricular	(BNCC),	
homologada	em	dezembro	de	2018.
O	que,	de	fato,	é	a	Base	Comum	Curricular?	Resume-se	a	um	documento	que	
rege,	normativamente,	a	educação	do	país,	fruto	de	muita	pesquisa	e	discussões	entre	
a	comunidade	de	gestores,	professores	e	técnicos	na	área	da	educação.	Essas	normas	
apresentam	uma	combinação	de	aprendizagens	essenciais	nas	etapas	escolares.
 
Qual	 o	 motivo	 da	 criação	 da	 Base	 Nacional	 Comum?	 O	 ensino	 brasileiro	
precisava	encontrar	um	equilíbrio	da	qualidade	da	aprendizagem	entre	as	regiões	e	seus	
municípios.	Assim,	a	base	vem	com	esse	caráter,	o	de	estabelecer	esse	padrão	mínimo	 
de	desenvolvimento	do	ensino	e	aprendizagem.
 
A	BNCC	não	surge	do	acaso,	mas	do	alinhamento	e	afunilamento	de	diretrizes,	
incluindo	 as	 Diretrizes	 Curriculares	 Nacionais	 (DCNs)	 e	 os	 Parâmetros	 Curriculares	
Nacionais	(PCNs).	O	primeiro,	com	aspecto	geral	da	educação,	representando	uma	força	
de	lei,	já	o	segundo	defende	a	aplicação	dos	temas	transversais.
 A	 BNCC	 gera	 o	 aprimoramento	 dos	 objetos	 de	 aprendizagem	 essenciais	 e	
competências	por	ano,	ou	seja,	gradativamente,	durante	a	educação	básica,	o	aluno	se	
aprofunda	mediante	as	unidades	temáticas	em	conceitos,	conteúdo	e	desenvolvendo	
habilidades.	
147
A	 aplicação	 da	 técnica	 se	 apresenta,	 no	 currículo,	 em	 espiral,	 dos	 primeiros	
anos	 aos	 anos	 finais.	 Esse	 modelo	 funciona	 da	 seguinte	 forma:	 os	 conteúdos,	 nas	
primeiras	unidades,	 passam	a	 ser	 aplicados	de	maneira	mais	 ampla,	 retornando	nos	
anos	vindouros	com	perspectivas	mais	instigantes,	integrativas	e	complexas.
As	 aprendizagens	 essenciais,	 dispostas	 na	 BNCC,	 e	 as	 competências	 gerais	
e	por	disciplinas	também	devem	ser	cobradas	na	educação	básica	nos	níveis	infantil,	
fundamental	 e	 médio.	 As	 competências	 apresentadas	 focam	 na	 mobilização	 de	
conhecimentos,	referindo-se	aos	conceitos	e	procedimentos.	As	habilidades	se	referem	
às	 práticas	 cognitivas	 e	 socioemocionais,	 e	 as	 atitudes	 e	 valores	 se	 enquadram	 no	
princípio	da	resolução	de	problemas	da	vida,	inserção	cidadã	e	mundo	do	trabalho.
 
Ao	todo,	são	elencadas	dez	competências	gerais	a	serem	trabalhadas	em	to-
das	as	áreas	de	conhecimento	em	maior	ou	menor	grau.	Descritivamente,	elas	são	re-
conhecidas	como:	conhecimento;	pensamentos	científico,	crítico	e	criativo;	repertório	
cultural;	comunicação;	cultura	digital;	trabalho	e	projeto	de	vida;	argumentação;	auto-
conhecimento	e	autocuidado;	empatia	e	cooperação;	e	responsabilidade	e	cidadania.
 
Quanto	à	disciplina,	engloba	as	discussões	da	BNCC	inserida	em	uma	das	cinco	
grandes	áreas	da	educação	básica.
FIGURA 24 – ÁREA DE INSERÇÃO DA GEOGRAFIA, SEGUNDO A BNCC, PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
FONTE: Adaptado de Brasil (2018)
Competência
Desenvolvimento do 
raciocínio articulado 
espacial e temporal.
Geografia + História
Grande área
Ciências Humanas
{
Para compreensão da Base Comum Curricular, o site http://
basenacional comum.mec.gov.br/implementacao/pro-bncc/
material-de-apoio disponibiliza material de apoio, que pode 
ser visto em um vídeo de 6’ 10’’ de duração.
DICA
148
A	 geografia,	 com	 o	 seu	 foco	 principal	 voltado	 para	 o	 espaço	 geográfico	 e	 a	
perspectiva	do	espaço	vivido,	ocupado	e	transformado	pelo	homem,	proporciona,	no	
ensinar	 dessa	 disciplina,	 um	 meio	 para	 apresentar	 compreensões	 do	 mundo	 e	 sua	
dinâmica.	 Quando	 ela	 é	 combinada	 aos	 auxílios	 científicos	 plurais,	 sua	 discussão	 e	
aprendizagem	 são	 ampliadas,	 tornando-a	mais	 rica,	 como	 as	 trocas	 de	 informações	
com	 as	 áreas	 de	 humanas,	 como	 história,	 literatura,	 sociologia,	 artes,	 antropologia	
e	 demais	 campos,	 como	 a	 matemática	 e	 ciências	 biológicas,	 que,	 organicamente,	
ajudam	a	compreender	a	paisagem,	formação	e	organização	de	arranjos	socioespaciais,	
identidade	cultural	e	tantos	outros	temas.
A	BNCC	solicita	que	os	professores	desenvolvam,	com	os	alunos,	dois	aspectos	
importantes:	o	pensamento	espacial	e	o	raciocínio	geográfico.	
O	primeiro	permite	uma	abertura	da	geografia	com	outras	áreas,	porém,	sem	que	
a	geografia	perca	sua	identidade	espacial;	o	segundo	requer	o	exercício	dos	princípios	
do	 raciocínio	 geográfico	 compreendidos	 em:	 analogia,	 conexão,	 distribuição,	 ordem,	
localização,	diferenciação	e	extensão.
As	competências	gerais	que	mais	se	aproximam	das	discussões	das	ciências	
humanas	 são:	 repertório	 cultural,	 cultura	 digital,	 comunicação,	 trabalho	 e	 projeto	 de	
vida,	 argumentação,	 autoconhecimento	 e	 autocuidado,	 empatia	 e	 cooperação	 e	
responsabilidade	e	cidadania.
A	organização	da	disciplina	no	ensino	fundamental	passou	a	ser	estruturada	
por	unidades	temáticas,	objetos	de	conhecimento	e	habilidades.Todos	devem	atender	
aos	propósitos	das	cinco	unidades,	 compostas	por:	 o	 sujeito	 e	 seu	 lugar	no	mundo,	
conexões	 e	 escalas,	 mundo	 do	 trabalho,	 formas	 de	 representação	 e	 pensamento	
espacial	e	natureza,	ambiente	e	qualidade	de	vida.
Ainda,	 respeitando	 os	 diferentes	 patamares	 de	 complexidade	 por	 unidades	
e	construindo	elos	de	diálogo,	a	BNCC	 introduziu,	na	sua	essência,	os	conceitos	que	
regem	a	geografia	contemporânea,	passando	pelo	entendimento	do	espaço	geográfico	
e	suas	demandas	distintas,	território,	lugar,	região,	meio	ambiente	e	paisagem.
Fazendo	um	contraponto,	 é	possível	 que	você	 se	 lembre	de	que	a	geografia	
cultural,	obrigatoriamente,	alinha-se	à	grande	disciplina,	mediante	o	seu	contexto	de	
análise	 e	 as	 dimensões	que	 contribuem	com	a	 explicação	do	 objeto	 da	 geografia,	 o	
“espaço”,	além	das	categorias	“território,	lugar,	região	e	paisagem”.	Toda	essa	dinâmica	
pode	contribuir	para	a	abordagem	do	conteúdo	exigido.
Em	uma	perspectiva	 explicativa,	 traremos	 um	quadro	 da	 estrutura	 da	BNCC	
apontando,	descritivamente,	como	se	estruturam	o	primeiro	e	quarto	ano	de	geografia	
do	 ensino	 fundamental	 em	 suas	 unidades	 temáticas,	 objetos	 de	 conhecimento	 e	
habilidades.	 O	 intuito	 é	 apresentar	 as	 evoluções	 e	 aprofundamento	 do	 objeto	 da	
geografia	e	suas	categorias	ao	longo	dos	avanços	anuais.
149
QUADRO 2 – ESTRUTURA DE CONTEÚDO DO PRIMEIRO ANO DOS ANOS INICIAIS MEDIANTE A BNCC
Unidades 
temáticas
Objetos de 
conhecimento
Habilidades
O	sujeito	e	o	
seu	lugar	no	
mundo
O	modo	de	vida	
das	crianças	
em	diferentes	
lugares
(EF01GE01)	Descrever	características	observadas	de	seus	
lugares	de	vivência	(moradia,	escola	etc.)	e	identificar	
semelhanças	e	diferenças	entre	esses	lugares.
(EF01GE02)	Identificar	semelhanças	e	diferenças	entre	
jogos	e	brincadeiras	de	diferentes	épocas	e	lugares.
Situações	de	
convívio	em	
diferentes	
lugares
(EF01GE03)	Identificar	e	relatar	semelhanças	e	diferenças	
de	usos	do	espaço	público	(praças,	parques)	para	o	lazer	
e	diferentes	manifestações.
(EF01GE04)	Discutir	e	elaborar,	coletivamente,	regras	de	
convívio	em	diferentes	espaços	(sala	de	aula,	escola	etc.).
Conexões	e	
escalas
Ciclos	naturais	
e	a	vida	
cotidiana
(EF01GE05)	Observar	e	descrever	ritmos	naturais	(dia	
e	noite,	variação	de	temperatura	e	umidade	etc.)	em	
diferentes	escalas	espaciais	e	temporais,	comparando	a	
sua	realidade	com	outras.
Mundo	do	
trabalho
Diferentes	tipos	
de	trabalho	
existentes	no	
seu	dia	a	dia
(EF01GE06)	Descrever	e	comparar	diferentes	tipos	de	
moradia	ou	objetos	de	uso	cotidiano	(brinquedos,	roupas,	
mobiliários),	considerando	técnicas	e	materiais	utilizados	
na	sua	produção.
(EF01GE07)	Descrever	atividades	de	trabalho	relacionadas	
com	o	dia	a	dia	da	sua	comunidade.
Formas	de	
representação	
e	pensamento	
espacial
Pontos	de	
referência
(EF01GE08)	Criar	mapas	mentais	e	desenhos	com	base	
em	itinerários,	contos	literários,	histórias	inventadas	e	
brincadeiras.
(EF01GE09)	Elaborar	e	utilizar	mapas	simples	para	
localizar	elementos	do	local	de	vivência,	considerando	
referenciais	espaciais	(frente	e	atrás,	esquerda	e	direita,	
em	cima	e	embaixo,	dentro	e	fora)	e	tendo	o	corpo	 
como	referência.
Natureza,	
ambientes	e	
qualidade	de	
vida
Condições	
de	vida	nos	
lugares	de	
vivência
(EF01GE10)	Descrever	características	dos	seus	lugares	
de	vivência	relacionadas	aos	ritmos	da	natureza	(chuva,	
vento,	calor	etc.).
(EF01GE11)	Associar	mudanças	do	vestuário	e	hábitos	
alimentares	na	sua	comunidade	ao	longo	do	ano,	
decorrentes	da	variação	da	temperatura	e	umidade	 
no	ambiente.
FONTE: Adaptado de Brasil (2018)
150
Observando	o	quadro	de	compreensão	de	ensino	e	aprendizagem	do	primeiro	
ano,	percebe-se	que	a	formação	intelectual	geográfica	se	forma	sob	o	ponto	de	vista	da	
relação	da	criança	com	sua	vivência,	algo	voltado	ao	seu	contato	com	o	entorno.
 
Nessa	fase,	é	fundamental	que	os	alunos	consigam	saber	e	responder	
algumas	 questões	 a	 respeito	 de	 si,	 das	 pessoas	 e	 dos	 objetos:	
Onde	se	localiza?	Por	que	se	localiza?	Como	se	distribui?	Quais	são	
as	 características	 socioespaciais?	 Essas	 perguntas	 mobilizam	 as	
crianças	 a	 pensarem	 a	 respeito	 da	 localização	 dos	 objetos	 e	 das	
pessoas	 no	 mundo,	 permitindo	 que	 compreendam	 seu	 lugar	 no	
mundo	(BRASIL,	2018,	p.	365).
Tornou-se	uma	proposta	voltada	para	o	despertar	das	primeiras	noções,	direcio-
nadas	a	partir	da	condução	entre	professor	e	aluno,	de	quatro	pontos	que	se	interligam	
e	contemplam	as	seguintes	perguntas:	Onde?	Por	quê?	Como?	Quais?	Referenciadas,	a	
primeira	dá	a	identificação	de	pertença,	a	segunda	reflete	o	entendimento	da	localiza-
ção,	a	terceira	conduz	o	indivíduo	a	partir	do	aspecto	da	orientação,	e	a	quarta	traduz	a	
relação	compreendida	no	espaço	referente	à	organização	e	vivência	socioespacial.
 
Esses	primeiros	contatos	com	o	cronograma	de	conhecimento	geográfico	geram	
uma	predominância	do	ensino	para	a	alfabetização	cartográfica,	relação	do	meio	natural	
com	o	homem,	e	sua	manifestação	em	frentes	como	paisagem,	território	e	lugar,	porém,	
o	viés	humano	está	atrelado	às	discussões,	e	precisa	ser	delicadamente	discutido	na	
composição	e	formação	cidadã	dos	alunos	pela	relação	que	o	indivíduo	possui	com	o	
espaço	em	que	ele	vive	e	constrói.
Partindo	 dos	 exemplos	 da	 unidade	 temática	 “O	 sujeito	 e	 o	 seu	 lugar	 no	
mundo”,	 podem	 ser	 vistas	 percepções	 claras,	 discutidas	 à	 luz	 da	 geografia	 cultural.	
Veja	habilidades	que	devem	ser	desenvolvidas	no	aluno:	“a	identificação,	semelhança	e	
diferença	do	uso	dos	espaços	públicos”,	uma	visão	amplamente	pesquisada	no	âmbito	
cultural	da	geografia,	apresentando	grupos	e	suas	relações	de	territorialidade	com	os	
lugares;	e	“as	semelhanças	e	diferenças	entre	jogos	e	brincadeiras	de	diferentes	épocas	
e	 lugares”,	apresentando,	ao	aluno,	a	heterogeneidade	dos	povos,	culturas	e	 lugares.	
O	Brasil,	por	exemplo,	é	um	país	continental,	dividido	por	 regiões	distintas	em	fauna,	
flora,	colonização	e,	por	conseguinte,	a	distinção	cultural	reflete	no	modo	de	vida,	na	
produção	da	paisagem,	e,	 inclusive,	no	desenvolvimento	das	brincadeiras.	A	partir	do	
fomento	dessas	habilidades,	 inicia-se	a	valorização	da	cultura	do	outro,	 respeitando,	
democraticamente,	a	história	de	cada	povo,	as	pluralidades	étnica	e	cultural	em	que	o	
Brasil	se	apresenta.
O	 quadro	 a	 seguir,	 assim	 como	 o	 anterior,	 segue	 um	 padrão	 das	 unidades	
temáticas,	 porém,	 com	 um	 tom	 de	 aprofundamento,	 podendo	 ser	 visto	 nos	 novos	
objetos	de	conhecimento	e	nas	habilidades	a	serem	desenvolvidas.
151
Abordando	a	Unidade	1,	“O	sujeito	e	o	seu	lugar	no	mundo”,	com	o	objetivo	de	
conhecimento	do	território	e	da	diversidade	cultural,	o	professor	tem,	como	objetivo,	
desenvolver	habilidades	no	campo	da	representatividade	cultural	inserida	no	território.	
Referente	à	unidade,	vamos	fazer	uma	breve	retrospectiva	das	habilidades?
É	preciso	direcionar	o	foco	às	palavras	descrever	e	identificar.	Esses	verbos	que	
os	alunos	precisam	utilizar	para	iniciar	o	desenvolvimento	da	aprendizagem	no	campo	
da	geografia.	As	crianças,	com	a	perspectiva	de	descobrir,	precisam	fazer	um	exercício	
de	reconhecimento,	nesse	caso,	descrevendo,	com	riqueza	de	detalhes,	o	que	compõe	
os	 lugares	 onde	 vivenciam.	 Depois,	 identificar	 as	 semelhanças	 e	 dessemelhanças	
entre	o	seu	lugar	de	residência	com	os	outros	lugares	da	cidade,	como	a	vizinhança	da	
escola.	Nesse	passo,	surge	o	“jogo	dos	sete	erros”,	pois	a	criança	passa	a	reconhecer	o	
modo	de	vida	e	as	dinâmicas	dessas	vivências.	A	interpretação	dos	diversos	lugares	as	
encaminha	para	a	compreensão	de	categorias	importantes	para	a	geografia.		
Na	temática	do	quarto	ano,	o	conhecimento	geográfico	atravessa	as	barreiras	
do	pertencimento	e	vivências,	de	forma	respeitosa	e	pactual,	vislumbrando	um	universo	
maior,	agora,	também,	representado	por	regiões.	É	relevante	que	o	ensino	ganhe	força	
teórica	dos	conceitossistematizados,	como	paisagem,	 região	e	território,	para	que	o	
espectro	da	disciplina	consiga	tomar	forma.
Convidamos, a quem se interessar, a saber da importância da 
brincadeira para alunos de séries iniciais. Leia o artigo chamado 
Os mais variados jeitos de brincar: https://novaescola.org.br/
conteudo/6926/os-mais-variados-jeitos-de-brincar.
Para se inspirar em brincadeiras que possam ser aplicadas com 
os alunos, convidamos você a acompanhar uma playlist com 
diversas brincadeiras que identificam e diferenciam as cinco 
regiões do país: http://twixar.me/4ssm.
DICA
152
QUADRO 3 – ESTRUTURA DO CONTEÚDO DO QUARTO ANO DOS ANOS INICIAIS MEDIANTE A BNCC
Unidades 
temáticas
Objetos de 
conhecimento
Habilidades
O	sujeito	e	o	
seu	lugar	no	
mundo
Território	e	
diversidade	
cultural
(EF04GE01)	Selecionar,	em	seus	lugares	de	vivência	e	em	
suas	histórias	familiares	e/ou	da	comunidade,	elementos	
de	distintas	culturas	(indígenas,	de	outras	regiões	do	país,	
latino-americanas,	europeias,	asiáticas	etc.),	valorizando	o	
que	é	próprio	em	cada	uma	delas	e	sua	contribuição	para	a	
formação	das	culturas	local,	regional	e	brasileira.
Processos	
migratórios	no	
Brasil
(EF04GE02)	Descrever	processos	migratórios	e	suas	
contribuições	para	a	formação	da	sociedade	brasileira.
Instâncias	do	
poder	público	
e	canais	de	
participação	
social
(EF04GE03)	Distinguir	funções	e	papéis	dos	órgãos	do	
poder	público	municipal	e	canais	de	participação	social	na	
gestão	do	município,	incluindo	a	Câmara	de	Vereadores	e	
Conselhos	Municipais.
Conexões	e	
escalas
Relação	campo	
e	cidade
(EF04GE04)	Reconhecer	especificidades	e	analisar	a	
interdependência	do	campo	e	da	cidade,	considerando	
fluxos	econômicos,	de	informações,	de	ideias	e	de	pessoas.
Unidades	
político-
administrativas	
do	Brasil
(EF04GE05)	Distinguir	unidades	político-administrativas	
oficiais	nacionais	(Distrito,	Município,	Unidade	da	Federação	
e	grande	região),	suas	fronteiras	e	sua	hierarquia,	
localizando	seus	lugares	de	vivência.
Territórios	
étnico-culturais
(EF04GE06)	Identificar	e	descrever	territórios	étnico-
culturais	existentes	no	Brasil,	como	terras	indígenas	e	de	
comunidades	remanescentes	de	quilombos,	reconhecendo	
a	legitimidade	da	demarcação	desses	territórios.
Mundo	do	
trabalho
Trabalho	no	
campo	e	na	
cidade
(EF04GE07)	Comparar	as	características	do	trabalho	no	
campo	e	na	cidade.
Produção,	
circulação	e	
consumo
(EF04GE08)	Descrever	e	discutir	o	processo	de	produção	
(transformação	de	matérias-primas),	circulação	e	consumo	
de	diferentes	produtos.
Formas	de	
representação	
e	pensamento	
espacial
Sistema	de	
orientação
(EF04GE09)	Utilizar	as	direções	cardeais	na	localização	de	
componentes	físicos	e	humanos	nas	paisagens	rurais	e	
urbanas.
Elementos	
constitutivos	
dos	mapas
(EF04GE10)	Comparar	tipos	variados	de	mapas,	
identificando	suas	características,	elaboradores,	
finalidades,	diferenças	e	semelhanças.
Natureza,	
ambientes	e	
qualidade	de	
vida
Conservação	e	
degradação	da	
natureza
(EF04GE11)	Identificar	as	características	das	paisagens	
naturais	e	antrópicas	(relevo,	cobertura	vegetal,	rios	
etc.)	no	ambiente	em	que	vive,	além	da	ação	humana	na	
conservação	ou	degradação	dessas	áreas.
FONTE: Adaptado de Brasil (2018)
153
Não	 é	 abandonando	 o	 conhecimento	 prévio	 desse	 aluno,	mas	 associados	 esses	
conhecimentos	 de	 maneira	 integrativa,	 para	 que	 ele	 consiga	 sair	 da	 alfabetização	
geográfica	para	iniciar	as	interligações	e	análises	dos	fenômenos	e	dinâmicas	(ambiental,	
política,	 econômica,	 social).	 É	 preciso	 partir	 do	município	 onde	 reside	 para	 outros	 e,	
assim,	englobar	uma	escala	de	entendimento	macro,	a	exemplo	da	complexidade	do	
seu	país	de	origem.
 
A	premissa	básica	é	possibilitar	que	os	alunos	absorvam	e	compreendam,	a	partir	
das	variáveis	espaço-tempo,	as	feições	referentes	aos	aspectos	naturais	e	culturais	de	
distintas	sociedades,	paisagens	e	lugares.
 
Enquanto	professor,	proponha	o	reconhecimento	da	diversidade	nos	âmbitos	
social	 e	 local,	 pois	 o	 aluno,	 consequentemente,	 identificará	 o	 universo	 dinâmico	 e	
heterogêneo	que	 ele	 e	 outros	 atuam.	Neste	momento,	 a	 geografia	 cultural	 pode	 ser	
uma	fonte	de	busca	e	um	meio	de	interpretação	das	relações	da	sociodiversidade,	das	
culturas,	 das	 ações	 de	 territorialidades,	 formação	 de	 paisagens	 e	 demais	 adendos,	
compreendendo	os	povos	tradicionais:	índios,	afro-brasileiros,	quilombolas,	ciganos	etc.
No	momento,	 a	manifestação	 da	 natureza,	 visualizada	 a	 partir	 da	 paisagem	
local,	indica	uma	explicação	geral	das	trocas	entre	homem/sociedade	e	natureza.	Assim,	
podem	 ser	 identificadas	 interferências	 políticas,	 atividades	 econômicas,	 tradições	
culturais	e	tantos	outros	elementos	que	contribuem	para	a	transformação	do	lugar	e,	
consequentemente,	da	paisagem	da	qual	esse	aluno	faz	parte.
	 Embora	 as	 perspectivas	 naturais	 sejam	 intensificadas	 nas	 unidades,	 as	
influências	sociais	também	participam	com	as	representações	materiais	e	não	materiais,	
como	a	arquitetura	dos	lugares,	dos	costumes	alimentares	e	das	técnicas	implantadas	
no	trabalho	e	no	lazer.	Esses	e	outros	aspectos	podem	ser	explorados	e	trabalhados	em	
sala	de	aula.
A	 partir	 de	 uma	 leitura	 rápida	 das	 unidades,	 percebe-se	 a	 possibilidade	 de	
introduzir	temáticas	viáveis	ao	viés	cultural,	e,	como	meio	propagador	da	aplicação	da	
diversidade	sociocultural,	propomos,	também,	a	introdução	de	competências	gerais.
O	 repertório	 cultural,	 nas	 ciências	 humanas,	 tem,	 como	 objetivo,	 abordar	 as	
identidades	 que	 os	 alunos	 possuem	 enquanto	 brasileiros	 pertencentes	 das	 diversas	
regiões	do	país.	Ainda,	apresentar,	a	partir	da	divisão	regional,	o	desenvolvimento	das	
características	 culturais	 próprias,	 além	 do	movimento	 de	 absorção	 cultural,	 quando	
também	assimilam	as	influências	em	maior	ou	menor	grau	das	outras	culturas.	Neste	
instante,	a	geografia	visa	à	valorização	da	diversidade	cultural.
 
154
Mediante	 a	 competência	 3,	 “repertórios	 culturais”,	 espera-se,	 pela	 estrutura	
desenvolvida	pela	BNCC,	que	o	aluno	desenvolva	 seis	pontos	diretos,	 representados	
pela	 fruição,	 expressão,	 investigação	e	 identidade	cultural,	 consciência	multicultural,	
respeito	à	diversidade	cultural	e	mediação	da	diversidade	cultural.
QUADRO 4 – META DE DESENVOLVIMENTO DO ALUNO ATÉ O TÉRMINO DO ENSINO FUNDAMENTAL
META DE DESENVOLVIMENTO DOS ALUNOS
Fruição
Vivenciar	sua	identidade,	comunidade	e	cultura	e	demonstrar	sentimento	 
de	pertencimento,	 por	meio	de	 experiências	 artísticas	 e	 explorando	
relações	entre	culturas,	sociedades	e	as	artes.
Expressão
Expressar	sentimentos,	ideias,	histórias	e	experiências	por	meio	das	artes.	
Documentar,	compartilhar	e	analisar	obras	criativas.
Investigação 
e identidade 
cultural
Reconhecer	e	discutir	o	significado	de	eventos	e	manifestações	culturais	
e	da	influência	da	cultura	na	formação	dos	grupos	e	identidades.
Consciência 
multicultural
Desenvolver	senso	das	 identidades	 individual	e	cultural,	e	demonstrar	
curiosidade,	compreensão	e	respeito	com	diferentes	culturas	e	visões	
de	mundo.
Respeito à 
diversidade 
cultural
Experimentar	diferentes	vivências	culturais	e	compreender	a	importância	
de	valorizar	 identidades,	tradições,	manifestações,	trocas	e	colaborações	
culturais	diversas.
Mediação da 
diversidade 
cultural
Reconhecer	os	desafios	e	benefícios	de	se	viver	e	trabalhar	em	sociedades	
culturalmente	diversas	e	explorar	novas	formas	de	reconciliar	valores	e	
perspectivas	culturais	diferentes	ao	abordar	desafios	em	comum.
FONTE: <https://novaescola.org.br/bncc/conteudo/7/competencia-3-repertorio-cultural>. 
Acesso em: 26 ago. 2020.
Anteriores	à	validação	da	BNCC,	nos	Parâmetros	Curriculares	Nacionais	(PCNs),	
os	temas	transversais,	através	do	item	pluralidade	cultural,	firmavam	relações	estreitas	
com	a	geografia	e	suas	abordagens	conteudísticas,	pois	substantivavam	a	disciplina	
mediante	 projetosde	 interpretação	 humanista,	 compartilhando	 visões	 colaborativas	
com	áreas	próximas.
Apesar	 de	 ter	 sido	 aglutinada	 e	 reformulada	 pela	 BNCC,	 a	 compreensão	
apresentada	pelos	PCNs	continua	sendo	uma	narrativa	atualizada	em	virtude	dos	seus	
objetivos	de	existência	em	relação	à	pluralidade	cultural:
 
Para	 viver	 democraticamente	 em	 uma	 sociedade	 plural,	 é	 preciso	
respeitar	 e	valorizar	 as	 diversidades	 étnica	 e	 cultural.	 Por	 sua	 formação	
histórica,	 a	 sociedade	 brasileira	 é	marcada	 pela	 presença	 de	 diferentes	
etnias,	 grupos	 culturais,	 descendentes	 de	 imigrantes	 de	 diversas	
nacionalidades,	 religiões	e	 línguas.	No	que	se	 refere	à	composição	
populacional,	as	regiões	brasileiras	apresentam	diferenças	entre	si;	
cada	região	é	marcada	por	características	culturais	próprias,	assim	
155
como	 pela	 convivência	 interna	 dos	 grupos	 diferenciados.	 Essa	
diversidade	 etnocultural,	 frequentemente,	 é	 alvo	 de	 preconceito	 e	
discriminação,	atingindo	a	escola	e	se	reproduzindo	no	seu	 interior.	A	
desigualdade,	que	não	se	confunde	com	a	diversidade,	também	está	
presente	em	nosso	país	como	resultado	da	injustiça	social.	Ambas	as	
posturas	exigem	ações	efetivas	de	superação.	Nesse	sentido,	a	escola	
deve	ser	local	de	aprendizagem,	para	que	as	regras	do	espaço	público	
democrático	garantam	a	igualdade,	do	ponto	de	vista	da	cidadania,	
e,	ao	mesmo	tempo,	a	diversidade,	como	direito.	O	trabalho	com	a	
pluralidade	cultural	se	dá,	assim,	a	cada	instante,	propiciando	que	a	
escola	coopere	na	formação	e	consolidação	de	uma	cultura	da	paz,	
baseada	na	tolerância,	no	respeito	aos	direitos	humanos	universais	
e	cidadania	compartilhada	por	todos	os	brasileiros.	Esse	aprendizado	
exige,	 sobretudo,	 a	vivência	 de	princípios	democráticos	no	 interior	
de	 cada	 escola,	 no	 trabalho	 cotidiano	 de	 buscar	 a	 superação	 de	
qualquer	 tipo	de	discriminação	e	exclusão	social,	valorizando	cada	
indivíduo	 e	 todos	 os	 grupos	 que	 compõem	 a	 sociedade	 brasileira	
(BRASIL,	1998a,	p.	69).
Vislumbrando	 uma	 análise	 cultural,	 seguimos	 afirmando	 que,	 ao	 passar	
das	unidades	 e	 complexidades	dos	 anos	 fundamentais	 para	 o	 ensino	médio,	 alguns	
temas	podem	ser	dimensionados	pelo	aspecto	da	geografia	cultural,	como	a	formação	
socioespacial	campo	e	cidade,	conteúdo	 relacionado	a	monumentos	 (formas	simbólicas	
espaciais),	 os	 museus	 como	 referência	 histórica	 na	 leitura	 e	 compreensão	 das	
transformações	do	espaço,	 o	dinamismo	e	diversidade	dos	conjuntos	arquitetônicos	
urbanos	 de	 monumentos	 históricos,	 a	 evolução	 das	 formas	 e	 estruturas	 urbanas,	
temas	 relacionados	 às	 festas	 e	 às	 tradições	 do	 folclore	 brasileiro,	 como	 resistências	 e	
permanências	dos	traços	de	identidades	regionais.
Conteúdos	 que	 tratam	 das	 paisagens	 e	 diversidade	 territorial	 no	 Brasil,	 um	
assunto	que	desperta	a	 interpretação	dos	vários	 “brasis”,	 a	partir	 da	diversidade	das	
regiões,	 além	das	 suas	 singularidades,	 seus	 aspectos	 sociais,	 culturais	 e	 ambientais	
refletidos	nas	passagens	da	sua	heterogeneidade.
156
LEITURA
COMPLEMENTAR
As	 regiões	 brasileiras	 possuem	 identidades	 que	 podem	 ser	 estudadas	
por	 espectros	 maiores	 e	 mais	 complexos	 do	 que	 as	 anteriores	 divisões	 territoriais	
administrativas.	Em	uma	região,	existem	rede	urbana,	atividades	agrícolas,	manifestações	
culturais,	enfim,	tantos	prismas	que	formam	grandes	teias	de	análises.
Um	exemplo	muito	corriqueiro	se	refere	ao	bioma	caatinga.	Por	muito	tempo,	
apenas	 se	 empregou,	 ao	 estudo	 da	 caatinga,	 um	 estereótipo	 formado	 a	 partir	 do	
conhecimento	alheio	ao	lugar,	ou	a	partir	da	perspectiva	de	desenvolvimento	regional,	
tendo	em	vista	os	aspectos	políticos	e	econômicos,	esquecendo-se	de	identificar	toda	
historicidade	e	cultura	regional,	além	da	naturalidade	da	heterogeneidade,	que	deixa	de	
qualificar,	competitivamente,	regiões/paisagens	entre	melhores	ou	piores,	mas	resgata	
e	compreende	as	identidades	e	suas	dissemelhanças,	que	também	são	essenciais	ao	
processo	de	ensino	e	aprendizagem.
Por	 exemplo,	 algumas	 das	 grandes	 produções	 cinematográficas	 brasileiras	
acerca	da	região	nordeste,	principalmente,	no	cenário	do	semiárido,	onde	se	encontra	o	
bioma	da	caatinga.	Há,	como	objetivo,	retratar	uma	narrativa	do	sofrimento,	seca,	fome,	
desprezo,	pois	são	algumas	das	realidades,	mas	se	alargam	como	estereótipos	únicos	
e	gigantes,	formados	para	retratar	aquela	região,	as	paisagens	e	comunidades.	Então,	
vamos	aos	questionamentos:	como	será	o	semiárido	visto	pelo	olhar	dos	nordestinos?	
Será	que	aquelas	paisagens	apenas	expressam	sentimentos	negativos?	Será	que	a	po-
pulação	representa	uma	figura	tosca,	com	um	vocabulário	raso?	Portanto,	o	olhar	do	ou-
tro	acerca	da	região	nem	sempre	contém	uma	característica	plural	ou	endêmica,	prin-
cipalmente,	quando	este	não	pertence	ao	lugar	ou	não	possui	vínculos	afetivos	a	ele.
 
Uma	paisagem	árida,	com	rochas	aparentes,	além	do	sol,	seca	e	calor,	trans-
mite,	dentre	tantas	sensações,	um	sentimento	único	de	pertencimento,	de	que	ser	um	
indivíduo	forte	é	uma	decisão	da	vida,	superar-se	mediante	as	adversidades	naturais	e	
sociais	se	torna	uma	obrigação,	e	não	uma	possibilidade	de	escolha.	
Além	de	tudo,	existe	uma	questão	entre	os	sertanejos	nordestinos:	entre	viver	 
e	sobreviver	se	escolhe,	sabiamente,	saber	viver	entre	a	fartura	ou	a	falta	dela.
 
Como	exemplo	correspondente	ao	assunto,	uma	música	que	representa	o	olhar	
próximo	e	de	experiência	com	o	 lugar,	de	um	compositor	nordestino,	paraibano,	Ton	
Oliveira,	que	apresenta	Paraíba Joia Rara	(2011),	uma	Paraíba	para	além	da	escassez,	
mas	repleta	de	encantos.	
157
Engloba	um	sentido	de	identidade	para	os	conterrâneos	dessa	terra,	elegendo,	
positivamente,	as	paisagens,	os	elementos	históricos,	personalidades	da	literatura	e	a	
cultura	regional.	A	canção	representa,	para	alguns,	o	hino	da	Paraíba,	pela	importância	
de	destacar	o	lado	positivo	do	estado.	Tal	música	foi	elevada	à	categoria	de	patrimônio	
imaterial	desde	2017.	
Aqui,	o	sol	nasce	primeiro	e	tão	desinibido,	e	a	lua	exibe	um	estrelado	
com	tanta	beleza	que	até	o	algodão	se	empolga	e	já	vem	colorindo	
exibições	 inexplicáveis	 da	mãe-natureza.	Aqui,	 até	 os	 dinossauros	
fizeram	morada	e	a	gente	pode,	ao	som	de	Jackson,	pandeirear,	ouvir	
a	voz	que,	na	bandeira,	ficou	estampada,	dar	frutos	que	o	tempo	e	a	
história	não	vão	apagar.	Eu	sou	da	Paraíba,	é	meu	esse	lugar,	a	cara	
desse	povo	tem	a	minha	cara,	encanto	da	beleza	que	me	faz	sonhar,	
lugar	tão	lindo	assim	pra	mim	é	joia	rara,	que	bom	estar	no	ponto	mais	
oriental	astrologicamente,	ser	um	ariano,	rimar	como	um	augusto	tão	
angelical,	eu	sou	muito	feliz,	eu	sou	paraibano	(OLIVEIRA,	2011,	s.p.).
Numa	visão	menos	romantizada	e	mais	politizada	acerca	da	luta	de	classes	e	
formação	do	proletariado,	Graciliano	Ramos,	em	Vidas secas,	escrita	em	1938,	aponta	
para	a	perspectiva	do	materialismo	histórico	dialético.	Nas	suas	entrelinhas,	numa	relação	
de	 sofrimento	em	meio	ao	histórico	das	condições	naturais	de	 seca	que	o	nordeste	
vinha	enfrentando,	ele	discorre	a	respeito	das	relações	social	e	de	trabalho	injustas	em	
que	os	personagens	viviam.	Realizou	uma	forte	crítica	social	através	da	literatura,	frente	
à	falta	de	escolarização,	indiferença	política,	fome,	escassez	dos	recursos	hídricos	e	de	
todos	os	recursos	básicos	da	sobrevivência	humana.
	A	respeito	da	diversidade	da	população	brasileira,	tem-se,	ainda,	a	perspectiva	
cultural,	com	o	fragmento	literário	atribuído	à	obra	de	Guimarães	Rosa.	Na	visão	sensível	
do	autor,	há	a	diversidade	religiosa	e	a	relação	desta	com	os	sujeitos	de	“origem	cultural	
mestiça”.	Ainda,	como	a	prática	dialogal	religiosa	pode	ocorrer	de	maneira	espontânea.
 
O	que	mais	penso,	testo	e	explico:	todo-o-mundo	é	louco.	O	senhor,	
eu,	nós,	as	pessoas	todas.	Por	isso	é	que	se	carece,	principalmente,	de	
religião:	para	se	desendoidecer,	desdoidar.	Reza	é	que	sara	loucura.	
No	geral.	Issoé	que	é	a	salvação-da-alma...	muita	religião,	seu	moço!	
Eu	cá,	não	perco	ocasião	de	religião.	Aproveito	de	todas.	Bebo	água	
de	todo	rio...	Uma	só,	para	mim,	é	pouca,	talvez	não	me	chegue.	Rezo	
cristão,	católico,	embrenho	a	certo,	e	aceito	as	preces	de	compadre	
meu	Quelemém,	doutrina	dele,	de	Cardéque.	Mas,	quando	posso,	vou	
no	Mondubim,	onde	um	Matias	é	crente,	metodista:	a	gente	se	acusa	
de	pecador,	lê	alto	a	Bíblia,	e	ora,	cantando	hinos,	belos	deles.	Tudo	
me	 quieta,	me	 suspende.	 Qualquer	 sombrinha	me	 refresca.	Mas	 é	
só	muito	provisório.	Eu	queria	rezar	-	o	tempo	todo.	Muita	gente	não	
me	aprova,	acham	que	lei	de	Deus	é	privilégio,	invariável	[...]	(ROSA,	
2006,	p.	16).
158
Esse	 trecho	 aponta	 para	 um	 sujeito	 que	 enxerga,	 nas	 preces	 religiosas,	 um	
acalento,	um	refúgio	que	ameniza	os	caminhos	árduos	da	vida.	Ele	se	 interessa	pelo	
diverso,	pela	dicotomia	da	sua	formação	cultural,	advogando	as	diferentes	dimensões	
identitárias	por	meio	da	religião,	e	nos	apresentando	uma	ideia	de	como	o	pluralismo	
religioso	 é	 aplicado	 ao	 mais	 simples	 dos	 homens	 e	 como	 tal	 ato	 interfere	 na	 sua	
formação	identitária.	
Segundo	 Steil	 (2008),	 a	 pluralidade	 e	 a	 fragmentação	 religiosa	 são	 frutos	
da	 própria	 dinâmica	 social	 contemporânea.	 A	 globalização	 multiplica	 e	 aproxima	 as	
tradições	e	os	universos	religiosos	de	forma	que	sua	diversidade	pode	ser	vista	como	
interna	e	estrutural	ao	processo	social.
As	leituras	das	paisagens	regionais,	território,	lugar,	diversidades	populacional,	
cultural	e	demais	assuntos	podem	ser	percebidas,	geograficamente,	mediante	trechos	
musicais	e	referências	literárias.	As	músicas	também	se	consagram	como	elementos	de	
interpretação	do	espaço	geográfico,	como	a	compreensão	de	lugar,	com	“Asa	Branca”,	
música	de	Luís	Gonzaga	e	Humberto	Teixeira.	Quanto	à	paisagem	e	território	brasileiro,	
às	 diversidades	 regional	 e	 cultural,	 tem-se	 a	 música	 de	 Silas	 de	 Oliveira,	 “Aquarela	
brasileira”,	e	inúmeras	outras	que	permitem	as	abordagens	natural	e	humana.
Foi	apresentado	um	pouco	do	extenso	conteúdo	da	BNCC	frente	à	disciplina,	
além	da	possibilidade	da	introdução	da	perspectiva	do	subcampo	da	geografia	cultural	
como	um	breve	exemplo	da	análise	da	estrutura	dos	anos	iniciais.	Complementarmente,	
um	avanço	das	temáticas	possíveis	em	anos	vindouros.
Como inspiração para a elaboração de planos de aula alinhados 
à BNCC, a plataforma online da Nova Escola aborda temáticas 
da geografia e facilita os processos de criação e estruturação 
da aula: https://novaescola.org.br/plano-de-aula/sequencia/as-
paisagens-se-transformam-de-acordo-com-seus-processos-e-
historia-locais/952.
DICA
159
Neste tópico, você aprendeu:
•	 Os	conceitos	da	geografia,	como	paisagem,	território	e	territorialidade,	aliam-se	a	dis-
cussões	culturais	e	de	identidade	direcionadas	para	a	aplicação	da	geografia	cultural.
•	 Apesar	 do	 respeito	 ao	 entendimento	 e	 interpretação	 de	 Carl	 Sauer	 em	 1925,	 a	
respeito	da	paisagem	cultural,	novos	horizontes	foram	escritos,	com	Fians	Bobek	e	
Josef	Schmithúsen.	Ainda,	Augustin	Berque,	segundo	a	filosofia	da	fenomenologia,	
destacando	as	paisagens	mediante	as	ações,	percepções	e	concepções	das	relações	
humanas	com	a	natureza	e	espaço.	Ele	refletiu	que	até	os	sonhos	e	planos	contribuíam	
para	marcar	a	paisagem.
 
•	 Denis	 Cosgrove,	 em	 1989,	 a	 partir	 dos	 materialismos	 histórico	 e	 dialético	 e	 do	
simbolismo,	iniciou	sua	percepção,	explicando	as	paisagens	geográficas	a	partir	das	
culturas	dominantes,	e	aquelas	versões	e	variações	das	paisagens	alternativas,	com	
as	residuais,	emergentes	e	excluídas.
•	 Na	 geografia	 cultural	 contemporânea,	 foram	 abertas	 novas	 possibilidades	 de	
pesquisar	 fenômenos	 culturais	 que	 podem	 ser	 comprovadas	 e	 dimensionadas	 no	
espaço	geográfico	em	diferentes	tempos.
RESUMO DO TÓPICO 3
160
AUTOATIVIDADE
1	 Com	 relação	 à	 paisagem,	 assinale	V	 para	 as	 alternativas	 verdadeiras	 e	 F	 para	 as	
alternativas	falsas:
(			)	 O	 conceito	 de	 paisagem	 tem	 origem,	 apenas,	 na	 geografia,	 após	 1970,	 com	 a	
geografia	crítica.
(			)	 O	conceito	de	paisagem	vem	sendo	concebido	por	diferentes	perspectivas	e	cor-
rentes	geográficas,	mas	o	enfoque	renovado	na	geografia	cultural	veio	após	1970.
(			)	 A	paisagem	é	apenas	uma	referência	espacial	ou	um	objeto	observação.
(			)	 A	paisagem,	embora	apresente	uma	conotação	física,	 representa	a	validade	das	
relações	sociais	e	culturais	com	seus	signos	e	significados	subjetivos,	incluindo	o	
afetivo.
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	 F,	F,	F,	V.
b)	 (			)	 F,	V,	F,	F.
c)	 (			)	 F,	V,	F,	V.
d)	 (			)	 V,	F,	F,	V.	
2	 Na	 geografia	 cultural	 contemporânea,	 foram	 abertas	 novas	 possibilidades	 de	
pesquisar	fenômenos	geográficos	que	podem	ser	comprovadas	e	dimensionadas	no	
espaço	geográfico	em	diferentes	tempos.	Assinale	a	alternativa	CORRETA:	
a)	 (			)	 A	 geografia	 cultural	 contemporânea	 brasileira	 apresentou	 ínfimas	 mudanças	
quanto	à	produção	e	análises	dos	novos	conteúdos.	
b)	 (			)	 Apesar	do	grande	potencial	da	evolução	da	geografia	cultural	no	Brasil,	temas,	
como	religião	e	festas,	foram	desprezados	pelos	pesquisadores.	
c)	 (			)	 A	 inserção	da	análise	das	representações,	a	partir	de	filmes,	 imagens,	música,	
literatura	etc.,	passou	a	ser	objeto	de	interesse	dos	geógrafos	culturais.
d)	 (			)	 Todas	as	afirmativas	estão	corretas.	
3	 Dentro	da	geografia	escolar,	é	possível	aplicar	os	preceitos	da	geografia	cultural.	Em	
sala	de	aula,	de	maneira	abrangente.	Quais	premissas	são	 importantes	para	elencar	
aos	alunos?
a)	 (			)	 Apresentar	as	 regiões	brasileiras,	alegando	discrepâncias	sociais	e	econômicas,	
pois	essa	visão	apresenta	a	única	realidade	do	país.	
b)	 (			)	 Negar	a	prática	de	narrativas	preconceituosas	referentes	às	intolerâncias	étnica,	
religiosa	e	regional,	mas	defender	a	coexistência	de	grupos	distintos,	apresentar	 
as	 pluralidades	 social	 e	 cultural	 formadas	 por	 etnias	 variadas	 e	 respeitar	 os	
diversos	grupos	que	compõem	a	sociedade.
c)	 (			)	 Defender	 a	 coexistência	 de	 grupos	 distintos,	 mas	 gerar	 competitividade,	
elegendo	a	melhor	e	pior	cultura	por	região.				
d)	 (			)	 Todas	as	alternativas	estão	erradas,	exceto	a	Letra	b.
161
ESPAÇO E RELIGIÃO: UMA 
ABORDAGEM GEOGRÁFICA
UNIDADE 3 — 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 compreender,	através	da	geografia	cultural	pós-1980,	as	novas	relações	existentes	
entre	geografia	e	religião;
•	 identificar	 como	 os	 estudos	 da	 religião,	 na	 academia,	 podem	 ser	 de	 interesse	 ao	
geógrafo	e	sua	pesquisa;
•	 entender	como	o	geógrafo	estuda,	analisa,	interpreta	e	espacializa	as	ações	e	transfor-
mações	geradas	por	uma	determinada	religião	e	seus	devotos	no	espaço	geográfico;	
•	 diferenciar	 a	 análise	 dos	 estudos	 geográficos	 da	 religião	 com	 as	 demais	 ciências	
sociais	e	ciências	humanas	–	sociologia,	antropologia	e	história;
•	 compreender	que	os	estudos	apresentados	ao	longo	desta	terceira	unidade	refletem	
o	 interesse	 geográfico	 pelo	 estudo	 da	 cultura	 em	 suas	 diferentes	 esferas	 de	
interpretação	através	dos	estudos	da	religião;	
•	 discutir,	a	partir	do	estado	da	arte,	uma	vertente	dos	estudos	sobre	a	gênese	das	cidades,	
através	dos	primeiros	grupos	sociais	humanos	e	sua	relação	com	o	fogo	sagrado;
•	 conhecer	as	principais	referências	e	estudiosos	da	geografia	da	religião	no	Brasil	e	no	
mundo;
•	 visualizar	as	principais	categorias,	conceitos	e	teorias	que	norteiam	os	estudos	da	
religião;
	 A	cada	tópico	desta	unidade	você	encontrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	
reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO	1	–	ESPAÇO	E	RELIGIÃO:	UMA	ABORDAGEM	GEOGRÁFICA
TÓPICO	2	–	O	SAGRADO	E	A	CIDADE:	OLHARES	SIMBÓLICOS	RELIGIOSOS
TÓPICO	3	–	NOVAS	DINÂMICAS	DO	SÉCULO	XXI	–	RELIGIÃO	E	HIPERMODERNIDADE
Preparado para ampliar seus conhecimentos?Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
162
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 3!
Acesse o 
QR Code abaixo:
163
TÓPICO 1 — 
ESPAÇO E RELIGIÃO: 
UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Olá,	estudante!	Seja	bem-vindo	a	terceira	e	última	unidade	de	
Geografia	Cultural!	Ao	longo	das	Unidades	1	e	2,	apresentamos,	a	vocês,	
um	dos	campos	geográficos	que	mais	cresce	e	se	difunde	na	geografia.	
Essa	 ocorrência	 pode	 ser	 observada	 não	 apenas	 no	 Brasil,	 mas	 na	
América	Latina,	Estados	Unidos,	Europa	e	Ásia.	Isso	é	perceptível,	graças	
ao	número	crescente	de	referências	e	estudos	publicados	nos	últimos	anos.	É	muito	
comum,	 hoje,	 ao	 acessarmos	 plataformas	 educacionais	 e	 periódicos,	 encontrarmos	
diversos	artigos	e	 trabalhos	de	pesquisadores	que	possuem	 interesse	pela	dinâmica	
espacial	da	cultura.
 
Nas	 Unidades	 1	 e	 2,	 viemos	 traçando	 um	 paralelo	 desde	 a	 gênese	 (quando	
falamos	em	gênese,	estamos	falando	sobre	o	início/sobre	o	interesse	inicial)	até	a	fase	
atual	da	geografia	cultural	como	um	importante	campo	do	saber	na	ciência	geográfica.	
Como	vimos,	a	geografia	cultural	não	surgiu	no	fim	da	década	de	80,	ou	início	da	década	
de	90,	pelo	contrário,	sua	gênese	na	geografia	remonta	ao	início	do	século	passado	–	
século	XX.	Em	especial,	os	estudos	da	cultura	na	geografia	tinham	uma	percepção	mais	
calcada	no	materialismo,	no	concreto.
Na	obra	Sobre Carl Sauer (2011),	 o	Professor	Roberto	 Lobato	Corrêa	–	UFRJ	
(muito	 conhecido	 em	 seus	 trabalhos	 sobre	 geografia	 urbana,	 o	meio	 urbano	 e	 seus	
diferentes	 agentes	 e	 atores	 sociais)	 apresenta,	 aos	 geógrafos	 e	 interessados	 nos	
estudos	da	cultura,	um	estudo	que	tinha	 interesse	em	dialogar	com	outras	ciências,	
como	 a	 antropologia,	 a	 história	 e	 a	 sociologia.	 Os	 estudos	 de	 Sauer	 foram	de	 suma	
importância	para	o	desenvolvimento	de	uma	geografia	cultural	da	primeira	metade	do	
século	XX.
 
Seu	 legado	é	seguido	ainda	por	muitos	apreciadores	de	seus	estudos.	Sauer	
terminou	seu	doutorado	em	1914	sob	orientações	do	geomorfólogo	norte-americano	
Rollin	Salisbury.	Em	1923,	passou	a	ser	professor	da	Universidade	de	Berkeley,	tornando-
se	professor	emérito	em	1957.
164
FIGURA 1 – COLEÇÃO GEOGRAFIA CULTURAL E CARL SAUER
FONTE: O autor
Sauer	 trabalha	 com	 uma	 perspectiva	 mais	 aprofundada	 das	 relações	 entre	
sociedade	e	natureza,	ou	seja,	das	relações	entre	o	homem	e	o	ambiente,	rompendo	
a	barreira	de	apenas	uma	diferenciação	das	paisagens.	A	paisagem	passa	a	ser	vista	
como	um	habitat,	como	um	ambiente	onde	o	homem	é	o	agente	transformador.	Dessa	
maneira,	a	geografia	cultural	deveria	buscar	um	interesse	na	compreensão	e	na	análise	
das	ações	e	intervenções	humanos	sobre	o	espaço	e	suas	impressões.	O	mundo	vivido,	
o	espaço	vivenciado	e	compreendido	por	diferentes	pessoas	através	de	suas	influências	
culturais	era	importante	para	a	Geografia	(HOLZER,	2000).	Cada	visão,	cada	percepção,	
cada	vivência	se	torna	importante,	dadas	as	diferentes	visões	de	mundo	realizadas	por	
cada	indivíduo	(Tempo	1).
Em	um	segundo	momento,	foram	apresentados	a	importância	dos	estudos	da	
cultura	para	a	geografia,	 a	 cultura	vista	como	um	processo	de	diferentes	 somas,	de	
diferentes	culturas,	povos,	línguas,	saberes,	e	a	cultura	como	uma	teia	de	significados.	
O	entendimento	da	cultura	e	sua	interpretação	podem	ser	aprofundados	na	leitura	do	
artigo	do	antropólogo	estadunidense	Clifford	James	Geertz,	de	1973.	O	autor	destaca	
que	 a	 cultura	 é	 uma	 teia	 de	 significados	 construída,	 alicerçada	 pelo	 homem.	 Essa	
teia,	produzida	por	ele,	é	o	que	orienta	a	existência	humana,	ou	seja,	é	um	sistema	de	
símbolos	que	possui	 interações	com	outros	sistemas	de	símbolos	que	cada	indivíduo	
possui,	gerando,	assim,	uma	interação	recíproca	(GEERTZ,	2008).
Depois	 de	 um	 período	 após	 a	 Segunda	 Guerra	 Mundial,	 com	 processos	 de	
reconstruções,	novos	planos	econômicos	e	sociais,	cresceu,	na	geografia,	a	demanda	
de	 estudos	 voltados	 para	 métodos	 quantitativos	 e	 métodos	 lógicos.	 No	 período,	
os	 estudos	 da	 cultura	 (Tempo	 2)	 passaram	 a	 entrar	 em	 declínio/hiato	 –	 período	 da	
geografia	quantitativa,	período	pós-guerra	e	de	inúmeros	conflitos	e	crises	econômicas.	
O	 interesse	da	geografia	acaba	sendo	mais	direcionado	ao	 suporte	econômico.	Com	
o	 surgimento	 de	 uma	 geografia	 crítica,	 e	 em	 períodos	 de	 inúmeras	 contestações	
socioculturais,	 como	 os	 manifestados	 no	 ano	 de	 1968	 –	 revoluções	 feministas	 na	
165
França;	movimentos	hippies;	Revolução	Cultural	Chinesa	–	Mao	Tsé	Tung;	Wood	Stock	
etc.,	houve,	na	sociedade,	no	início	da	década	de	70,	um	novo	olhar,	uma	nova	dinâmica.	
A	religião	também	acompanhou	essas	mudanças	e	transformações	–	Recrudescimento	
Religioso	e	Concílio	Vaticano	II.
 
A	partir	da	última	fase,	observamos	um	retorno	dos	geógrafos	para	os	estudos	
culturais,	 com	 novo	vigor	 e	 inéditos	 interesses	 até	 antes	 não	 estudados	 (Tempo	 3).	
Agora,	não	apenas	os	bens	materiais	concretos	e	os	estudos	apresentados	por	Sauer	
retornam	com	uma	nova	análise,	mas	os	estudos	imateriais	–	a	percepção	humana,	o	
interpretar	das	músicas	e	suas	diferentes	espacialidades,	o	estudo	do	gênero,	o	estudo	
das	 literaturas	 e	 a	 fé	 através	 dos	 estudos	 da	 religião.	 Todos	 ganharam	mais	 força	 e	
interesse	na	geografia.	Assim,	a	partir	da	década	de	1970	e	no	fim	da	década	de	1980,	no	
Brasil,	os	estudos	da	nova	geografia	cultural,	ou	geografia	cultural	renovada,	floresceram	
como	um	novo	campo	repleto	de	frentes	e	possibilidades.	A	seguir,	temos	um	resumo	
dessa	periodização	da	geografia	cultural	em	suas	diferentes	trajetórias.	
FIGURA 2 – GEOGRAFIA CULTURAL - TEMPORALIDADES
FONTE: O autor
GEOGRAFIA CULTURAL – TEMPORALIDADES
1890 / 1940 Escola de Berkeley – Carl Sauer
1940 / 1970 Período de Hiato
1970 – Dias atuais Transformações na sociedade pós-1968
Para	o	geógrafo	inglês	Denis	Cosgrove	(1998	[1989]),	a	geografia	passa	a	estar	
em	toda	parte,	e	cabe,	a	nós,	geógrafos,	espacializarmos	os	diferentes	elementos	que	
compõem	 e	 constituem	 a	 sociedade	 humana.	 Dessa	 maneira,	 a	 inteligibilidade	 de	
diversos	caminhos	e	objetos	podem	ser	estudada	pelo	geógrafo.	Nesse	sentido,	ocorreu	
um	interesse	por	parte	dos	geógrafos,	além	de	um	recrudescimento	de	suas	pesquisas	
nos	estudos	sobre	a	música,	a	arte,	a	literatura	e	a	religião,	principalmente.
 
Um	bom	aprofundamento	teórico	sobre	esses	diferentes	meandros	e	caminhos,	
pelos	quais	 a	geografia	veio	perpassando	ao	 longo	dos	estudos	da	geografia	cultural	 em	
seus	diferentes	períodos,	é	o	livro	Introdução à Geografia Cultural,	lançado,	em	2003,	
pelos	geógrafos	Roberto	Lobato	Corrêa	e	Zeny	Rosendahl.	No	livro,	os	autores	trazem	
as	diferentes	abordagens	metodológicas	e	históricas	do	da	geografia	cultural,	além	das	
diferentes	temporalidades.
166
Através	dos	novos	estudos,	oriundos	a	partir	da	década	de	1970,	não	somente	a	
geografia	cultural	passa	a	ser	 influenciada	pelas	filosofias	do	significado.	Esta	favoreceu	
o	 florescimento	 de	 diversas	 pesquisas,	 favorecendo,	 hoje,	 os	 estudos	 geográficos,	
campos	que	mais	crescem.	
O	 interessante	 da	 disciplina	 é	 apresentar,	 para	 os	 geógrafos,	 estudos	
relativamente	desconhecidos	ao	campo	disciplinar	e	que,	de	certa	maneira,	enriquecem	
nossos	 estudos	 e	 nos	 permitem	 vislumbrar	 novas	 ideias	 e	 pensamentos	 até	 então	
considerados	 não	 geográficos.	 Dessa	maneira,	 neste	 livro,	 desbravaremos,	 juntos,	 o	
campo	da	geografia	da	religião	e,	a	partir	deste,	vamos	procurar	entender	quais	seriam	
essas	 relações.	Poderemos	verificar	que,	apesar	de	ser	um	tema	curioso,	 se	pararmos	
para	pensar,	observaremos	que	a	religião,	como	fenômeno	cultural	presente	no	espaço,	
está	repleta	de	elementos	simbólicos	e	espacialidades	 inteligíveis	aos	nossos	estudos.	
Seguiremos	juntos	na	construção.	
FIGURA 3 – INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA CULTURAL (2003)

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