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TÉCNICAS DE PESQUISA: -OBSERVACAO I -E CORRElACAO I OBSERVAÇÃO NATURALÍSTICA O que Observamos? Reatividade O Estudo de Caso Pesquisa de Levantamento de Dados Vantagens e Desvantagens das Observações Naturalísticas O MÉTODO RELACIONAL Pesquisa de Contingência Pesquisa Correlacional O Coeficiente de Correlação Procedimentos Complexos de Correlação Causa: Uma Nota RESUMO TERMOS-CHAVE QUESTÕES PARA DISCUSSÃO KANTOWITZ, ROEDIGER 111 E ELMES Capítulo 2 Técnicas de Pesquisa: Observação e Correlação 25 A observação científica não difere da observação cotidiana por 'ser infalível, embora quantitativamente seja menos falível do que a observação ordinária. Mais exatamente, ela difere da observação cotidiana pelo fato de o cientista 'constatar gradualmente seus erros anteriores e corrígí-Ios. (00') De fato, a história da psicologia como uma ciência tem sido o desenvolvimento de meios de auxílio instrumentais e relativos a procedimentos que eliminam gradualmente ou corrigem os víéses e as distorções das observações. (Ray Hyman) A ciência é talvez o único empreendimento intelectual que cresce cumulativamente.De uma perspectiva científica, conhecemos mais a respeito do mundo atualmentedo que as pessoas o conheceram em qualquer outra época da história. Por outro lado, literatura, arte e filosofia podem ser diferentes hoje do que foram na Grécia Antiga, mas provavelmente não podemos afirmar que essas disciplinas estão em um melhor estado ou representam mais precisamente o mundo. Uma razão fundamental pela qual a ciência acumula conhecimentos é o fato de os cientistas empenharem-se em obter a observação do mundo mais precisa possível. A ciência se autocorrige, pois teorias e hipóteses são apresentadas permitindo a previsão a respeito do que deveria acontecer sob condições específícadas e, então, essas idéias são testadas, comparando-se as previsões a observações cuidadosamente feitas. Quando os fatos diferem contínua e drasticamente das previsões, toma-se necessário modificar ou abandonar nos- sas concepções teóricas. Grande parte do empreendimento científico preocupa-se com a observação: a obtenção de dados sobre um aspecto específico do mundo. Neste capítulo, discutimos diversos, métodos não-experimentais para agregar da- dos psicológicos. Um desses métodos é a observação naturalística, que é o modo mais óbvio e talvez o mais respeitado para obter dados. Muitas pessoas, como os observado- res de pássaros, são naturalistas amadores, porém os naturalistas científicos, conforme ve-remos, são mais sistemáticos em suas observações. Por exemplo, beija-flores machos entoam trinados que consistem em notas organizadas em cinco escalas; os machos em uma área específica tendem a emitir as notas nas mesmas escalas do trinado (Ficken et al.,2000). Uma outra maneira para obter informações é o estudo de caso, que geralmente envolve o exame detalhado de um indivíduo, mas também uma comparação de um pequeno número de indivíduos. Um caso recente revelou que quando K. R., uma mãe de quatro filhos com 30 anos de idade, iniciou a terapia, tinha vários rituais de contagem que prejudicavam seriamente as atividades diárias (Oltmanns, Neale e Davison, 1999). Ao fazer compras no supermercado, por exemplo, K. R. acreditava que, caso selecionasse um dos quatro itens iniciais de uma prateleira, um de seus filhos sofreria conseqüências terríveis. Ela acreditava que selecionar a segunda caixade cereal resultaria em uma catástrofe para seu segundo filho, escolher a terceira caixa atingiria seu terceiro filho, e assim por diante. A pesquisa de levantamento de dados (ou, simplesmente, pesquisa de levanta- mento) é similar ao estudo de caso. Em vez de um pequeno número de pessoas, as pesquisas de levantamento agrupam informações detalhadas e comunicadas diretamente por um grande número de indivíduos. Em uma pesquisa sobre hábitos de beber, Simmons (2000) desco- briu que a cerveja é a bebida alcoólica que 43% das pessoas que bebem afirmam consumir com maior freqüência. Existem diferenças de idade marcantes na preferência por bebidas alcoólicas. Simmons informa que 50% das pessoas com idade entre 18 e 29 anos afirmam beber principalmente cerveja. Por outro lado, Simmons informa que 46% das pessoas com 26 Psicologia Experimental EDITORA THOMSON mais de 50 anos afirmam beber vinho com mais freqüência e somente 27% afirmam beber cerveja regularmente. As informações descritivas agrupadas pelos procedimentos que acabamos de deli- near muitas vezes são combinadas de várias maneiras, de modo que possam ser feitas previsões a respeito das atividades de uma pessoa. Essa tentativa de previsão é a técnica correlacional. Um exemplo desse procedimento revela que a confiança de uma pessoa em sua habilidade para identificar corretamente um criminoso não é indicador preditivo da precisão com que ela pode apontar um criminoso em uma fila de suspeitos na polícia (Cutler e Penrod, 1989). Conforme os resultados precedentes indicam, os métodos observacional e correla- cional podem produzir dados interessantes. Examinaremos esses métodos detalhadamente, mostrando os pontos fortes e os pontos fracos como formas para determinar por que as pessoas e os animais pensam e agem de determinada maneira. ~ OBSERVAÇÃO NATURALíSTICA Como todos sabemos, observadores são falíveis. Ver não deveria ser acreditar - ao menos, nem sempre. Muitas vezes, nossas percepções nos enganam, conforme pode ser"visto pelo modo como percebemos a ilusão de ótica na Figura 2.1. Todos nós vimos mágicos realizarem feitos aparentemente impossíveis, perante nossos olhos, que sabíamos estarem sendo rea- lizados por meios naturais. Tais proezas demonstram que as percepções diretas podem ser imprecisas se não formos cuidadosos e, algumas vezes, mesmo se formos. (a) (b) ~ ••. FIGURA 2.1 Ilusão visual. (a) A ilusão Müller-Lyer. As linhas verticais possuem o mesmo comprimento, mas parecem desi- guais por causa das direções diferentes das setas nos dois casos. (b) A ilusão distorce visivelmente até mesmo um dispositivo de medição objetivo, a régua. Porém, um exame de perto indica que a régua não está realmente distorcida e que as linhas têm o mesmo comprimento. (Da obra de R. L. Gregory, 1970, p. 80-81.) KANTOWITZ, ROEDIGER 111 E ELMES Capítulo 2 Técnicas de Pesquisa: Observação e Correlação 27 Os cientistas, sendo humanos, também cometem erros de observação. Em termos essenciais, as técnicas de pesquisa empregadas pelos cientistas - incluindo lógica, uso de aparelhos complexos, condições controladas e assim por diante - tentam prevenir contra erros de percepção e assegurar que as observações reflitam o estado da natureza com maior precisão possível. No entanto, mesmo com nossos melhores métodos e as técnicas mais cuidadosas de observação, podemos somente nos aproximar desse ideal. Mesmo assim, a observação naturalística como um método de pesquisa difere da observação casual do mundo. Os trabalhos de Ginsburg e Miller (1982) sobre meninos e meninas assumirem riscos mostram como as observações prolongadas, cuidadosas e discretas podem gerar resultados. A maioria das pessoas concordaria que meninos com pouca idade parecem ser mais ousados que as meninas. Essa é uma observação precisa ou os que fazem observações casuais meramente confirmam os estereótipos gerais? Ginsburg e Miller observaram naturalisticamente 500 crianças com até 11 anos de idade em um zoológico, enquanto alimentavam animais, os acariciavam, tinham uma oportunidade de montar em um elefante etc. Dois observadores independentes verificaram a freqüência com que meninos e meninas participavam dessas atividades desafiadoras ("arriscadas"). Meninos, especialmente os com mais idade, apre- sentavam maior probabilidade de participar de atividades arriscadas do que as meninas. Nesse caso, dois pesquisadores, a partir da freqüência com que verificam a ocorrência de comportamentos específicos em situações específicas, apóiam a conclusão condizente com a observação casual de que os meninos são mais ousados que as meninas. Essapesquisa, no entanto, não fornece informações sobre por que isso acontece nesse caso. Miller (1977) enumerou diversos papéis importantes que a observação naturalística pode desempenhar na psicologia. Ele sugere que a observação fornece o principal montante do banco de dados que pode levar à pesquisa subseqüente e mais controlada. A observação naturalística descreve o pensamento e o comportamento dos organismos, o primeiro passo necessário para a compreensão. Um exemplo conhecido é o trabalho de Harlow (1958) sobre o amor maternal por crianças pequenas. Antes de suas experiências, Harlow precisava saber que comportamento tinham os macacos com pouca idade; ele também precisava saber algu- mas das coisas que os macacos jovens pareciam gostar (seus cobertores macios) e detestar (o piso de fios de arame da jaula). Tendo essas informações básicas, Harlow poderia tentar explicar o comportamento por meio da experimentação. Portanto, não deveríamos encarar as observações como sendo, em certo sentido, secundárias ou subordinadas à experimentação por não possuírem controle experimental. No sentido que acabamos de mencionar, a obser- vação pode fornecer a base para a experimentação. Ao fazer observações científicas, nos defrontamos com dois problemas básicds que ameaçam a validade ou a integridade das observações. (Esses problemas podem igualmente atrapalhar os experimentos, o que examinaremos mais tarde.) Um problema tem a ver com a escolha do foco do comportamento a observar (observação focada). Observadores humanos possuem uma capacidade finita para perceber os eventos e raciocinar sobre eles. Embora a maioria de nós possa caminhar e mascar chiclete ao mesmo tempo, a maioria de nós não pode prestar atenção em 20 comportamentos diferentes ocorrendo ao longo de períodos curtos de tempo e lembrar-se deles. Desse modo, alguma fronteira na variedade de comportamentos precisa determinar aquilo que planejamos observar. Precisamos esco- lher os comportamentos essenciais para os problemas que estudamos. O segundo problema diz respeito à reação do participante por estar sendo observado. Esse problema, deno- minado reatividade, apresenta entraves na condução de qualquer tipo de pesquisa em psicologia. 28 Psicologia Experimental EDITORA T HOMSON o que Observamos? De que forma delimitamos a variedade de comportamentos a serem estudados? Parte dessa resposta parece imediata. Se estamos interessados na comunicação humana não-verbal, observamos a comunicação humana não-verbal. No entanto, isso não é necessariamente fácil de fazer. Inicialmente, a comunicação não-verbal é altamente complexa, significando que nós, como observadores, nos defrontamos com o mesmo problema que, no princípio, tentamos evitar: quais comportamentos não-verbais observamos? Em segundo lugar, o exame de comportamentos não-verbais pressupõe que já tenhamos conhecimento de alguns dos comportamentos que observamos. Obviamente, não iniciamos um projeto de pesquisa desprovidos de todo conhecimento, mas também não começamos com todas as respostas. Geralmente, iniciamos com uma série de estudos baseados em observações, tendo alguns comportamentos em mente, e, então, projetos sucessivos apóiam-se em dados anteriores para refinar e delimitar o campo de investigação. Alguns exemplos ilustrarão a prática de refinamento. Um Etograma A pesquisa naturalística de interesse para os psicólogos parece mais predominante na área da etologia, o estudo do comportamento que ocorre naturalmente (com freqüência em ambientes selvagens). Simplesmente observar o comportamento de ani- mais ou seres humanos resulta em uma impressão global das características e da variedade de comportamentos. No entanto, pode-se logo desejar uma observação mais sistemática. Uma maneira pela qual os etólogos realizam mais observações sistemáticas é pela identi- ficação de categorias diferentes da experiência relativa ao organismo estudado e, então, pelo registro do número de vezes que o organismo apresenta cada comportamento. Esses comportamentos podem ser divididos em grandes unidades, como acasalar-se, cuidar-se, dormir, lutar, comer e assim por diante, ou em unidades muito menores. Por exemplo, um etograma dos vários comportamentos envolvidos no padrão de reprodução de um peixe, o mexerica, é mostrado na Figura 2.2 (um etograma constitui um conjunto relativamente com- pleto dos comportamentos específicos de uma dada espécie animal). Ao contar o número de vezes que qualquer comportamento específico ocorre, os etólogos podem começar a ter alguma idéia da importância dele. Ficken e seus colaboradores (2000) caracterizaram os trinados dos beija-flores-de- peito-azul. Eles também desenvolveram um etograma de quando os beija-flores-de-peito- azul cantariam. Evidentemente, os pesquisadores tinham de ser capazes de registrar e analisar os trinados. Essa não é uma tarefa simples. É difícil obter registros precisos em um ambiente natural. Por exemplo, uma vigilância contínua geralmente é impossível, mesmo com equipamento' automático de gravação. Além disso, tanto o equipamento como os observadores podem ocasionar certa reatividade, o que prejudicaria as avaliações. Esses são apenas alguns dos desafios associados à observação naturalística de animais. Aplicar técnicas similares ao comportamento humano pode ser até mais difícil, porque as pessoas geralmente não apreciam ter cada uma de suas ações observada por um cientista curioso. Barker e seus colaboradores (por exemplo, Barker e Wright, 1951; Barker, 1968) foram pioneiros na aplicação da observação naturalística aos humanos em diversas situações. Apresentamos a seguir alguns exemplos de observações naturalísticas. Movimentos Rápidos das Sobrancelhas O famoso etólogo do comportamento humano Eíbl-Eíbesfeldt (por exemplo, 1970, 1972) realizou um grande número de pesquisas de campo sobre expressões faciais humanas. Ele e seus colaboradores viajaram ao redor do mundo tirando fotografias de expressões faciais em uma variedade de contextos. O exame cuidadoso das expressões indicou que muitas são similares em diversas culturas e algumas KANTOWITZ, ROEDIGER 111 E ELMES Capítulo 2 Técnicas de Pesquisa: Observação e Correlação 29 (a) Avançar: Um peixe nadando aceleradamente em direção a outro. (b) Movimentar a cauda: Um movimento forte da cauda em direção a um outro peixe. (c) Palpitar: Um movimento de tremor rápido e lateral que se inicia na cabeça e perde intensidade à medida que passa pela extensão do corpo. ~ FIGURA 2.2 (d) Morder: Um movimento da boca, em torrns de 'O', que dá origem à (provável) desova. (e) Roçar: O movimento real de desova pelo qual o peixe encosta sua superfície ventral no local de desova e roça seu corpo ao longo dele durante alguns segundos. Etograma mostrando o padrão de namoro do peixe mexerica. Um etograma pode ser elaborado para todos os comportamentos de uma espécie ou apenas para alguns aspectos do comportamento. (Drickamer, L. C; Vesey, S. H. Animal behavior: Concepts, processes, and methods. Boston: Willard Grant, 1982. p. 28. Reproduzido mediante autorização de McGraw-Hill Companies.) não o são. No processo de exame das expressões faciais associadas às pessoas que se cumpri- mentam, Eibl-Eibesfeldt descobriu que a maioria dos seres humanos faz um rápido movi- mento nas sobrancelhas. Ele prosseguiu examinando em detalhes esse fenômeno. O movimento rápido das sobrancelhas é um levantar instantâneo (um sexto de um segundo) das sobrancelhas, acompanhado por um ligeiro sorriso e um aceno rápido da cabeça. O movimento foi observado em pessoas de muitas culturas, incluindo selvagens, balineses e europeus, contudo algumas culturas diferem no modo como o fazem. Os japo- neses não adotam o movimento porque no Japão ele é considerado sugestivo ou indecente. Além disso, Eíbl-Eíbesfeldt descobriu que o movimento ocorria em outras circunstâncias, como no galanteio e no reconhecimento por um presente ou serviço (isto é, como um tipo de agradecimento), além do cumprimento. Podemos notar em seu trabalho que observaçõesiniciais sugeriram outras observa- ções para Eíbl-Eíbesfeldt e, ao delimitar sua gama de investigações ao movimento rápido das sobrancelhas, ele podia agrupar informações substanciais a respeito de um tipo comum de comportamento humano. 30 Psicologia Experimental EDITORA THOMSON Reatividade Dois métodos gerais encontram-se disponíveis para evitar que as reações dos participantes comprometam as observações: (1) observações não-reativas e (2) medidas não-reativas (Webb et al., 1966). Analisaremos esses dois métodos. Observações Não-Reativas Imagine que você está caminhando em uma rua em sua cidade natal. Ocasionalmente, você saúda um amigo (talvez lhe estendendo a mão, talvez com um movimento rápido das sobrancelhas). À medida que seu caminhar prosse- gue, um homem com uma grande câmera se aproxima e passa a filmá-Io toda vez que você cumprimenta um de seus amigos. Qual seria sua reação a esse comportamento? Muito provavelmente, seu modo de cumprimentar as pessoas se alterará consideravelmente. (Você já notou como os espectadores se comportam em eventos esportivos quando sabem que a câmera de televisão os está focalizando?) Eibl-Eibesfeldt preveniu-se contra a reatividade dos participantes em sua pesquisa usando uma câmera com uma lente oblíqua especial. Essa lente permitiu-lhe deslocar a câmera em 90° em relação à pessoa; presumivelmente, ela pensaria que Eibl-Eibesfeldt estaria fotografando algo diferente. Assim, a pessoa não reagiria anormalmente à presença do observador e de sua câmera e, como alternativa, agiria naturalmente, o que seria a intenção de Eíbl-Eíbesfeldt. A lente especial da câmera permitia ao pesquisador observar sem interferir no comportamento da pessoa. Dizemos que Eíbl- Eibesfeldt usou uma técnica de observação não-reativa. Em geral, as observações não-reativas de pessoas têm probabilidade de revelar um com- portamento mais natural do que aquelas em que as pessoas sabem que estão sendo observadas. Os pesquisadores usam, sempre que possível, observações não-reativas ao estudar animais. Algumas vezes, no entanto, as próprias pessoas, o terreno ou algum outro aspecto do projeto exigem um contato próximo. Nessas situações, a observação participante muitas vezes oferece uma solução. Como a expressão sugere, o observador toma-se um participan- te ativo (e invasivo) na vida dos indivíduos observados. Por exemplo, Fossey (1972) passou muito tempo observando o gorila da montanha. Esse animal vive na África Central e seu hábitat encontra-se ameaçado por humanos que se deslocam na área. O hábitat desse gorila é a floresta tropical da montanha; isso impossibilita a observação a grande distância e com discrição. Fossey estava especialmente preocupada com o comportamento dos gorilas em uma área livre e, então, decidiu tomar-se uma observadora participante. Isso era difícil, porque os gorilas não são mansos. Ela deveria agir como um gorila na frente dos gorilas para que se acostumassem à presença dela. Ela imitava aspectos do comportamento do animal, como alimentar-se, cuidar-se e emitir sons estranhos como os gorilas faziam. Conforme ela afirmou, "a pessoa sente-se estúpida batendo em seu peito ritmicamente ou sentando nas redondezas, fingindo mastigar ruidosamente um talo de aipo selvagem como se fosse o petis- co mais delicioso do mundo. Porém, os gorilas reagiram favoravelmente" (p. 211). Levou diversos meses para que Fossey conquistasse a confiança dos gorilas, e ela continuou a viver entre eles e a estudá-Ios até morrer em 1986. Você gostaria de comportar-se como um gorila durante 10 ou 15 anos? A reatividade nem sempre resulta da observação porque nem todas as formas de observação parecem resultar em reatividade. Um grande número de observações dâ interação familiar diária por meio de gravadores indica que as famílias reagem do mesmo modo, quer saibam ou não que o gravador foi ligado (Jacob et al., 1994). Poderia-se imaginar, contudo, que um procedimento de observação mais agressivo que combinasse gravação em áudio e vídeo provavelmente faria com que as famílias reagissem de modo não-natural. KANTOWITZ, ROEDIGER 111 E ELMES Capítulo 2 Técnicas de Pesquisa: Observação e Correlação 31 Medidas Não-Reativas Medidas não-reativas, em oposição a observações não- reativas, consistem em "observações" indiretas do comportamento. Medidas não-reativas são indiretas por serem o resultado do comportamento, e não o comportamento em si, que está sendo estudado. Desse modo, em vez de observar o comportamento diretamente, nós o examinamos após o fato, olhando o produto do comportamento. Em vez de observar as ati- vidades de estudo de um aluno, examinamos seus trabalhos escolares. Em vez de viver com os gorilas, olhamos os efeitos que exercem no ambiente. A diferença essencial, então, entre observação e medidas não-reativas reside na possibilidade de o indivíduo e o observador estarem no mesmo lugar, ao mesmo tempo. Quando o pesquisador encontra-se presente, ele tenta observar de modo discreto o comportamento do indivíduo. Quando ausente, ele estuda o produto ou o resultado do comportamento. Obviamente, as medidas não-reativas não se ajustam a todas as questões investiga- das (uma medida não-reativa de um movimento rápido de sobrancelhas pode ser difícil de obter), porém para alguns problemas pesquisados, essas medidas são não apenas boas - elas são as únicas viáveis. Considere o problema do grafito em banheiros públicos. Quem é res- ponsável? Qual é o tema usual? Algumas questões éticas sérias seriam levantadas (a ética é discutida no Capítulo 4) se um pesquisador permanecesse nos banheiros observando os usuários. No entanto, o grafito em si pode ser examinado e pode proporcionar informações substanciais. Kinsey, Pomeroye Martin (1953) descobriram que o grafito em sanitários mas- culinos era mais erótico do que em sanitários femininos. Além disso, eles encontraram um número maior de grafito nos banheiros masculinos do que nos femininos. o Estudo de Caso Uma das formas mais respeitadas de investigação em psicologia é o estudo de caso. A teoria psicanalítica de Freud surgiu das observações e reflexões que ele fez sobre casos individuais. Em geral, um estudo de caso é a investigação intensiva de um caso único de algum tipo, seja de um paciente neurótico, 'um médium espírita ou um grupo esperando pelo fim do mundo. Um caso interessante dessa última possibilidade foi analisado por Festinger, Riecken e Schachter (1956), que se infiltraram em um grupo de pessoas que realmente esperavam pelo fim do mundo. Os membros julgavam estar em contato com seres de outro planeta que haviam comunicado a um membro que a destruição da Terra estava próxima. O grupo esperava ser salvo por uma nave espacial antes da catástrofe. Festinger e seus colaboradores estavam interessados especialmente nas reações do grupo quando a calamidade não ocorreu. Eles observaram que, para muitos membros do grupo, a crença em seu sistema ilusório, na realidade, aumentou em vez de diminuir, após ter passado a data prevista da catástrofe. O estudo de caso é um tipo de observação naturalística e está sujeito às vantagens e desvantagens desse método. Uma desvantagem importante é que os estudos de casos geral- mente não permitem que inferências seguras sejam feitas a respeito dos elementos causado- res. ormalmente, tudo que se pode fazer consiste em descrever o desenrolar dos aconteci- mentos. Muitas vezes, no entanto, os estudos de casos proporcionam comparações implícitas que permitem ao pesquisador fazer algumas previsões razoáveis a respeito dos elementos causadores. O estudo do caso de K. R., a pessoa descrita anteriormente que contava compulsi- arnente, revelou uma educação excepcionalmente rigorosa que envolvia uma ordem rígida e unições severas para supostos pecados e transgressões. A atual vida familiar de K. R. parecia ar além de seu controle - seus filhos eram indisciplinados e seu marido sofria de uma doença e o incapacitava. O terapeuta concluiu que seus rituais eram uma tentativa para obter controle e ser disciplinada(Oltmanns et al., 1999). No entanto, devemos ter cautela com a aíirmativa do terapeuta, porque não sabemos que tipo de pessoa K. R. teria se tomado, caso e tido uma infância mais díscíplínada e uma situação familiar menos estressante. 32 Psicologia Experimental EDITORA T HOMSON Um tipo de estudo de caso que melhor tenta minimizar as dificuldades de realizar inferências é a análise do caso contrastante, em que o pesquisador considera dois casos que possuem algumas similaridades e, mesmo assim, diferem no resultado. Por exemplo, um irmão gêmeo pode se tomar esquizofrênico e o outro, não. O pesquisador tenta apontar, por meio de uma comparação cuidadosa dos dois casos, os fatores responsáveis pela diferença no resultado. Tais comparações geralmente não podem ser feitas, porque são raros os casos comparáveis que diferem por somente um fator. Além disso, todas as conclusões, mesmo a partir do método, realmente não podem ser consideradas sólidas ou bem-fundamentadas, porque o pesquisador nunca pode estar seguro de que tenha identificado as causas essenciais nos resultados diferentes. Apesar dessas cautelas, vamos considerar o estudo de um caso descrito por Butters e Cermak (1986), o qual ilustra como o uso criterioso do procedimento pode proporcionar informações valiosas. O estudo é a respeito de P. Z., um cientista de fama mundial que sofreu uma séria perda de memória (amnésia) em 1981, após o consumo de bebidas alcoólicas por longo prazo ter resultado em uma doença denominada síndrome de Korsakoff. Ele tinha enorme dificuldade para lembrar-se de novas informações e recordar-se de pessoas e even- tos passados. O déficit de memória no segundo caso foi fácil de.determínar porque, dois anos antes do início da amnésia, P. Z. havia escrito sua autobiografia. Quando lhe perguntaram os nomes e os eventos mencionados em sua autobiografia, ele demonstrou possuir um sério déficit de memória. A memória de P. Z. para esses eventos era comparada à retenção de um colega com idade similar (a pessoa de comparação para a análise do caso contrastante) que possuía um histórico de abuso de álcool. Em virtude de o caso comparado não apresentar um déficit de memória tão sério quanto o de P. Z., Butlers e Cermak concluíram que o abuso do álcool a longo prazo era um importante fator responsável pela amnésia de P. Z. Além disso, o déficit de memória de P. Z. para as novas informações era muito similar ao apresentado por outras pessoas afetadas pela síndrome de Korsakoff. Essa técnica de comparar o comporta- mento do caso com o de outras pessoas é essencialmente experimental e será exemplificada novamente no Capítulo 6. j Pesquisa de Levantamento de Dados Os estudos de casos envolvem somente alguns indivíduos e, muitas vezes, essas pessoas simplesmente não são representativas da população em geral. P. Z., por exemplo, era, ao mesmo tempo, um cientista brilhante e uma pessoa com amnésia. Muitas vezes, os pesqui- sadores desejam obter informações a partir de uma grande amostra aleatória de pessoas em uma grande área geográfica (como a pesquisa sobre a ingestão de bebidas alcoólicas mencionada no início do capítulo), muito embora a quantidade de informações obtidas de qualquer pessoa necessariamente seja limitada. A pesquisa de levantamento é muito mais comum em algumas áreas da psicologia do que em outras. Por exemplo, essa técnica é uti- lizada com muita freqüência em psicologia industrialJorganizacional, clínica e social, porém quase nunca em psicologia cognitiva. Uma vantagem da pesquisa de levantamento é que, com os procedimentos precisos de amostragem agora disponíveis, relativamente poucas pessoas precisam ser pesquisadas para obter uma boa generalização em relação à população como um todo. Como a pesquisa de levantamento geralmente leva a resultados de natureza descritiva, essa técnica não é particularmente difundida entre os psicólogos nas áreas com grande orien- tação experimental, como a psicologia cognitiva ou a psicofísica. No entanto, o uso inteligente do método pode gerar contribuições a quase todas as demais áreas da psicologia. Por exem- plo, Lovelace e Twohig (1990) pesquisaram americanos idosos saudáveis e descobriram que KANTOWITZ, ROEDIGER 111 E ELMES Capítulo 2 Técnicas de Pesquisa: Observação e Correlação 33 ! 68% alegaram que uma inabilidade para lembrar-se de nomes era um problema de memória que os importunava. Porém, a maioria informou que os problemas de memória exerciam pouca influência em suas atividades diárias. Os respondentes informaram que dependiam muito de notas, listas e outras fontes de ajuda externa da memória para auxiliá-losa lembrar- se das tarefas a cumprir. Além disso, os idosos pesquisados alegaram não depender de vários "truques" de memória, como auxílios mnemônicos. Os resultados divulgados por Lovelace e Twohig estão de acordo com outros dados levantados (Moscovitch, 1982), que mostram que, em comparação às pessoas mais jovens, os idosos apresentam uma probabilidade muito maior de fazer listas e usar agendas e têm menor probabilidade de valer-se de procedimen- tos internos de memória, como auxílios mnemônicos. Esses resultados são instigantes por sugerir que os idosos estão conscientes de que possam ter algumas limitações de memória, que tentam minimizar dependendo de auxílio externo. Tendo em vista os indícios conver- gentes descobertos por Lovelace e Twohíg (1990) e Moscovitch (1982), isso parece ser uma hipótese plausível. As informações obtidas por meio dessas pesquisas podem proporcionar o arcabouço para uma pesquisa mais controlada, a fim de testar essa hipótese. Como um pesquisador tem de incomodar uma pessoa para obter dados, sempre existe a possibilidade de reatividade por parte dos respondentes. Sussman et alo(1993) usa- ram a observação naturalística para estudar o uso do tabaco por adolescentes. Suas obser- vações os levaram a conclusões diferentes das que obtiveram a partir dos resultados de uma pesquisa de levantamento anterior. A pesquisa de levantamento indicou que o uso de tabaco ocorre em grupos pequenos, e quase a metade dos pesquisados informou que os membros do grupo lhes ofereciam tabaco (Hahn et al., 1990). Esses tipos de descobertas levaram a programas educacionais que incentivavam os adolescentes a aderir à campanha "Simplesmente diga 'não'". Na pesquisa da observação naturalística, conduzida de modo não-invasivo, Sussman e seus colaboradores notaram que os adolescentes com freqüência solicitavam cigarros, que raramente eram oferecidos. Além disso, cigarros raramente eram oferecidos a não-fumantes que faziam parte do grupo. Portanto, a possibilidade de o uso do tabaco resultar da pressão dos colegas, conforme indicado pelos resultados da pesquisa, é contestada nesse estudo observacional. A partir desses resultados, Sussman e seus cola- boradores sugeriram que alternativas ao programa "Simplesmente diga 'não'" deveriam ser exploradas. Vantagens e Desvantagens das Observações Naturalísticas Conforme observado anteriormente, a observação naturalística é extremamente útil nos estágios iniciais da pesquisa, quando uma pessoa simplesmente procura ter alguma idéia da amplitude e do alcance do problema de interesse (Miller, 1977). No entanto, ela é principalmente descritiva e não permite que uma pessoa infira como os fatores possam estar relacionados. Em alguns casos, não há como empregar métodos com um maior con- trole das observações; portanto, somente as observações naturalísticas estão disponíveis. e você deseja saber como os pingüins se comportam em seu hábitat, simplesmente deve observá-los nesse ambiente. Ainda assim, para a maioria dos problemas psicológicos, a observação naturalística é útil principalmente para definir a área do problema e propor uestões interessantes para um estudo mais controlado por outros meios, especialmente o experimentais. Por exemplo, os trabalhos de Lovelace e Twohig (1990) e de Moscovitch 1982), descritos anteriormente, poderiam ser seguidos por métodos mais controlados de :nvestigação comparando métodos diferentesda utilização de auxílio externo da memória por idosos. Quais meios de ajuda dão melhor resultado? Um outro exemplo é o estudo de o, feito por Festinger e seus colaboradores, de um grupo que previu o fim do mundo. 34 Psicologia Experimental EDITORA T HOMSON Esse estudo de caso ajudou a levar à teoria da dissonância cognitiva da mudança de atitude, proposta por Festinger (1957), a qual tem se revelado muito importante na orientação de pesquisas em psicologia social. . , O principal problema, e que só ocorre com a observação naturalística, é ela ser sim- plesmente descritiva por natureza e não nos permitir avaliar a relação entre os eventos. Um investigador poderia notar que o comportamento de cuidar de si mesmo, em macacos que vivem em áreas livres, ocorre em determinadas ocasiões, após cinco diferentes condições (como alimentar-se). Se alguém estiver interessado em descobrir que condições anteriores são necessárias para que ocorram os cuidados que os participantes tomam consigo, a obser- vação naturalística não pode fornecer uma resposta, pois não é possível manipular essas condições anteriores. Para fazer isso, é preciso realizar um experimento. A observação naturalística produz, algumas vezes, dados que também são deficientes sob outros aspectos. Dados científicos deveriam ser fáceis de reproduzir por outras pessoas que usam procedimentos padronizados, caso elas duvidem das observações ou estejam inte- ressadas em repeti-Ias. Muitos métodos naturalísticos, como o estudo de caso, não permitem reprodução; portanto, eles encontram-se abertos a questionamento por parte de outros investigadores. Um outro problema nos métodos naturalísticos é o de manter, tão rigoroso quanto possível, um nível de observação descritivo, em vez de interpretativo. No estudo de animais, o problema muitas vezes é de antropomorfizar, ou atribuir aos animais características humanas. Quando você chega à sua casa e seu cachorro balança a cauda e move-se no ambiente demonstrando excitação, parece perfeitamente natural afirmar que ele se encontra feliz por vê-lo, Porém, isso significa antropomorfizar e, se uma pessoa estivesse fazendo uma observação naturalística da cena, isso não seria apropriado. Em vez disso, a pessoa deveria registrar os comportamentos ostensivos do cachorro com a menor atribuição possível de motivos subjacentes, como felicidade, tristeza ou fome. Evidentemente, os estudos de caso de Freud baseiam-se inteiramente apenas nessas interpretações dos fatos. Além de não serem reproduzíveis, os críticos acusam que tais casos estão sujeitos à possibilidade de que, se nos for permitido (1) selecionar nossos dados a par- tir de estudos de casos e das respostas que as pessoas dão às perguntas que formulamos e, então, (2) agrupar esses "fatos" em um sistema conceitual prévio de nossa própria elabora- ção, os estudos de casos provavelmente poderiam ser usados para "provar" qualquer teoria. (Isso não tem por finalidade diminuir a perspicácia e o gênio criativo existentes no sistema de Freud, no entanto, ele certamente está aberto a críticas, em termos das evidências nas quais se baseia.) Um outro caso desse problema interpretativo que se encontra mais próximo da psi- cologia científica é divulgado por Pavlov em suas pesquisas iniciais sobre reflexo condicio- nado (ver Capítulo 9). Quando Pavlov e seus assistentes começaram a estudar os processos psicológicos do cão, constataram que tinham um problema que não estivera visível quando haviam se preocupado anteriormente apenas com o sistema digestivo. O problema era sério, pois eles não concordavam quanto às observações que estavam fazendo. Pavlov descreve o problema relativo ao estudo dos reflexos condicionados: Mas conw isso deve ser estudado? Observando o cachorro quando come rapida- mente, apanha algo com a boca e o mastiga demoradamente, pa'rece claro nessa ocasião que o animal deseja ardentemente comer e, então, corre para onde está o alimento, o apanha e fica comendo. Ele anseia por comer. (...) Quando ele come, você observa a movimentação dos músculos, tentando de todas as maneiras apanhar a comida na KANTOWITZ, ROEDIGER 111 E ELMES Capítulo 2 Técnicas de Pesquisa: Observação e Correlação 35 boca, mastigá-Ia e ingeri-la. De tudo isso podemos dizer que ele obtém prazC1-dessa atividade, (,) Quando passanws a explicar e analisar esse fenômeno, prontamente adotamos esse ponto de vista desgostado. Tioemos de lidar com as sensações, os desejos, as concepções etc. de nosso animal. Os resultados foram impressionantes e extraordi- nários; eu e um de meus colegas tivemos opiniões incompatíveis, Não conseguíamos chegar a um acordo, não podiamos provar um ao outro qual opinião estava certa, (,) Após isso, tiveT/WSde deliberar eu idadosamente. Parecia provável que não estivéssemos llO caminho certo, Quanto mais pensávamos sobre o assunto, maior era nossa convicção de que era necessário escolher uma outra saída, Os primeiros passos foram muito difí- ceis, porém ao longo de um pensanymto persistente, intenso e concentrado, finalmente atingi o terreno [inne da objetividade pura, Fizemos a nós mesmos a proibição total (no laboratório, havia a imposição de uma multa real) do uso de expressões psicológicas, como o cachorro julgou, quis, desejou etc. (Pavlov, reedição de 1963, P: 263-264) Um outro problema adicional é discutido aqui, embora seja relevante para todos os tipos de observação em todos os tipos de pesquisa. É o tema relativo a até que ponto nossos quemas conceituais determinam e distorcem aquilo que "vemos" nos fatos. A proposição e Pavlov constitui um testemunho eloqüente de como é difícil estabelecer métodos obje- . 'os para que todos possamos enxergar os fatos da mesma maneira. Inicialmente, ele havia considerado "impressionante" e "extraordinário" que isso se passasse daquele modo e ficou swpreso pelas precauções necessárias para assegurar a objetividade. Os filósofos da ciên- . ressaltaram que nossas observações sempre são influenciadas por nossas concepções do mundo - se não for por outra maneira, o será pelo menos pelas observações específicas que realizamos (ver, por exemplo, Hanson, 1958, Capítulo 2). A "objetividade pura", para usar a expressão de Pavlov, é bem evasiva, se não impossível. Um exemplo que Hanson emprega o de dois biólogos treinados, que examinam uma mesma lâmina em um microscópio, as podem ver coisas diferentes. (Como é bem conhecido, a primeira coisa que um novato normalmente afirma ver em um microscópio é seu próprio globo ocular.) A observação objetiva e reproduzível em ciência constitui um ideal a ser alcançado, porém nunca podemos estar com- letamente confiantes de que a atingimos. Mas certamente precisamos dar todo passo possível e nos leve a esse ideal, corri o qual grande parte do cabedal técnico da ciência se preocupa. ( No entanto, o problema das observações influenciadas indevidamente por expectativas -o é suplantado automaticamente pelo uso do equipamento técnico da ciência, conforme ca evidente em um exemplo citado por Hyman (1964, p. 38). Em 1902, pouco tempo após descoberta dos raios X, o eminente físico francês R. P. Blondlot divulgou a descoberta dos "raios N". Outros cientistas franceses repetiram e confirmaram rapidamente a descoberta e Blondlot; em 1904, nada menos que 74 publicações surgiram sobre esse tópico. A desco- berta, todavia, tomou-se controvertida quando cientistas americanos, alemães e italianos não conseguiram reproduzir as descobertas de Blondlot. O físico americano R. W. Wood, não conseguindo descobrir os raios em seu pró- rio laboratório na Johns Hopkins Uníversity, visitou Blondlot. Este mostrou a Wood um ão com círculos luminosos impressos. Quando ele desligou a luz da sala, fixou raios N o cartão e enfatizou a Wood que os círculos aumentaram sua luminosidade. Quando 'ood disse que não conseguia ver uma alteração, Blondlot argumentou que o motivo ecessariamente tinha relação com a falta de sensibilidade dos olhos de Wood. Em seguida, 'ood perguntou se poderia realizar alguns testes simples,recebendo o consentimento de londlot. Em um caso, Wood deslocou repetidamente uma tela de chumbo entre os raios N o cartões enquanto Blondlot observava as alterações correspondentes na luminosidade círculos no cartão, (A tela de chumbo era para evitar a passagem dos raios N.) Blondlot
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