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Apostila - A Ciência da Análise do Comportamento ACArquivo

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1 
CBI of Miami 
 
2 
CBI of Miami 
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3 
CBI of Miami 
A Ciência da Análise do Comportamento: AC 
Lucelmo Lacerda 
 
 A rigor, não existem ciências, o que existe é a ciência, um modo de 
produzir conhecimento sobre a realidade, que envolve a adoção de estratégias 
metodológicas para que possamos ter resultados tanto mais confiáveis quanto 
possível, isto é, que nos capacite a fazer predições sobre o que ocorre, dadas 
certas interações no ambiente e possamos, talvez, utilizar este conhecimento 
para contribuir com a sociedade, modificando nossa realidade para melhor. 
 Esses estudos que utilizam esta lógica se dedicam a certos objetos, como 
os fenômenos físicos (formando a comunidade de pesquisadores e o campo de 
estudo que chamamos de Física), fenômenos vivos (formando a comunidade de 
pesquisadores e o campo de estudo que chamamos de Biologia) e assim por 
diante, e podemos chamar também cada um destes campos como deferentes 
ciências, acentuando suas premissas e metodologias. É está, portanto, uma 
opção justificável em classificar a Análise do Comportamento como uma ciência, 
que tem como objeto o comportamento dos organismos. 
 Esta ciência é dividida em quatro áreas, que apresento aqui brevemente 
para os leitores, sendo a primeira a sua filosofia, o Behaviorismo Radical, que já 
foi apresentado a vocês anteriormente, conformando uma visão de ser humano 
como parte da natureza, único em sua existência (o monismo) e não dividido 
entre corpo e mente e tendo como premissa o fato de que os comportamentos 
são parte da natureza e só podem ser causados por outros eventos naturais, 
fazendo com que procuremos essas relações causais, portanto, com seu 
ambiente. 
 O segundo campo da Análise de Comportamento é sua interface de 
laboratório, a Análise Experimental do Comportamento – AEC, que é um aspecto 
simplesmente essencial desta ciência, sem a qual não faria o menor sentido a 
existência de qualquer intervenção aplicada a qualquer contexto, tal como 
aquela que se dedica às pessoas com Transtornos do Neurodesenvolvimento. 
 No fim do século anterior, Edward L. Thorndike inaugurou uma tradição 
de pesquisa inovadora e que exerceria forte influência sobre Skinner toda a 
tradição da Análise do Comportamento. Thorndike publicou, em 1898, um 
 
4 
CBI of Miami 
importante conjunto de pesquisas que revelava uma postura diferente do que se 
fazia até então no campo dos experimentos com animais: 
a) Uma preocupação com a história pregressa dos sujeitos de pesquisa, 
procurando uma uniformização nesta história e culminando com a criação dos 
próprios animais para pesquisa, com controle rigoroso desses “passado” dos 
sujeitos. Ainda neste escopo, experimentos eram feitos repetidamente com os 
mesmos animais, cumulando esta história e produzindo um comportamento 
específico com esta “experiência” pregressa, isto é, apreendendo o processo de 
aprendizagem; 
b) Tratamento e apresentação quantitativa dos dados produzidos, para 
cálculos estatísticos que permitissem interpretações mais sofisticadas; 
c) Utilização de diferentes espécies na experimentação, para avaliação da 
generalidade das afirmações; 
d) Utilização de um equipamento elaborado para a experimentação, com alto 
controle de variáveis, especialmente a Caixa Quebra-cabeças, uma espécie de 
ascendente da chamada Caixa de Skinner, ou Caixa de Condicionamento 
Operante. 
 
 Falaremos ainda mais, posteriormente, sobre o trabalho de Thorndike e 
sua Lei do Efeito, mas agora cabe apresentá-lo como um precursor relevante da 
tradição experimental, que continuou com Watson, que trabalhou 
exaustivamente com animais, mas também protagonizou um dos casos mais 
polêmicos de toda a história da Psicologia, o condicionamento respondente do 
Pequeno Albert. 
 Albert era um bebê tranquilo para além da média e por isso mesmo foi 
selecionado como participante da pesquisa de Watson, sendo exposto a 
diversos estímulos, como coelhos, ratos, sons e outros, sem nenhum 
estranhamento. Quando Albert mostrou-se verdadeiramente amedrontado, 
diante de um som estridente específico, Watson passou a apresentar este som 
diante desses outros estímulos antes neutros, demonstrando que o mesmo 
processo já bem testado em animais também estava plenamente presente nos 
seres humanos, fazendo do Pequeno Albert um menino assustado e cuja vida 
posterior desconhecemos. 
 
5 
CBI of Miami 
 Skinner foi menos apressado e desenvolveu um sólido trabalho de 
décadas com animais antes da Análise do Comportamento estabelecer um firme 
processo de experimentação com seres humanos, tal como é hoje, em 
laboratórios em todo o mundo, inclusive no Brasil. 
 Uma das principais questões dos primórdios da Análise do 
Comportamento era a tentativa de criar processos mais objetivos de avaliação, 
que permitisse também uma maior replicabilidade dos processos, foi aí que falou 
muito alto a engenhosidade de Skinner, na criação de uma ferramenta que seria 
essencial para o futuro desta ciência, o que todos conhecemos como Caixa de 
Skinner, mas que ele mesmo, seu criador, chamada insistentemente de Câmara 
de Condicionamento Operante. 
 Esta caixa é basicamente uma câmara adaptável ao tamanho da espécie 
estudada, para ter um espaço de sobra para que o sujeito se comporte, com 
algum mecanismo chamado de manipulandum, que é algum tipo de objeto cuja 
pressão produz um impulso elétrico, esse manipulandum também é ajustável à 
espécie em estudo, sendo usualmente um disco, em caso de pombos, uma barra 
para pressão, no caso de gatos e ratos e uma corrente a ser puxada no caso de 
macacos. Além disso, há também, nesta caixa, um mecanismo que libera uma 
pequena porção de comida, a depender de como é a programação realizada pelo 
experimentador. 
 Os experimentadores usualmente programam esta caixa para liberar 
comida em certo esquema de consequências aos comportamentos emitidos 
pelos sujeitos analisados. Por exemplo, se um rato é colocado na caixa, em 
privação de comida, ele fará tudo o que estiver em seu alcance, comportamentos 
aleatórios e eles não produzirão comida, exceto um, especificamente, que é 
pressionar a barra, este será seguido da liberação de uma pelota de ração, que 
ele deve comer em seguida. A partir de então, os outros comportamentos, que 
não foram seguidos de qualquer consequência devem ocorrer em menor 
probabilidade e aquele que produziu a comida (pressionar a barra) deve ocorrer 
em maior probabilidade e a segunda pressão ser mais rápida do que a primeira. 
 A segunda pressão também produzirá a mesma vantagem, enquanto os 
demais, sem produzir coisa alguma, continuarão diminuindo de probabilidade até 
 
6 
CBI of Miami 
se extinguirem, dando lugar ao único e absoluto comportamento de pressão à 
barra (Richelle, 2014). 
 Assim foram construídos os dados que deram origem ao conceito de 
Reforçamento. Depois desse cenário, os experimentadores avaliaram e ainda 
avaliaram inúmeras possibilidades de variações e alterações nos padrões 
comportamentais quando, por exemplo, o comportamento passa a só ser 
seguido da comida quando emitido diversas vezes e não uma só, ou somente 
depois de um certo tempo, ou em trocentas mil diferentes situações, em 
diferentes espécies, demonstrando uma generalidade de certos conceitos e 
comportamentos e especificidades de outros. 
 Essa é só uma pequenina parte das inúmeras possibilidades que a Caixa 
de Skinner possibilita, a históriade pesquisa da Análise Experimental do 
Comportamento é gigantesca, com variações de estímulos e esquemas de 
reforçamento, de controle de estímulos e de mil outras coisas, criando um 
arcabouço consistente de conhecimentos sobre o comportamento dos 
organismos. Depois de certo acúmulo, desenvolveu-se também a área de 
pesquisa que se dedica especificamente ao comportamento humano, um campo 
totalmente diferente, obviamente sem as Caixas de Skinner, mas com inúmeras 
possibilidades fantásticas com essa espécie tão complexa. 
 Se um dia visitar a Universidade Federal de São Carlos – UFSCar e andar 
pelo prédio da Psicologia, vai ver várias salas com a inscrição “Laboratório disso” 
ou “Laboratório daquilo” e pode entrar ou olhar pela janela um ambiente com 
algumas cadeiras e alguns computadores, como um escritório normal. 
 Um pouco mais acima, há um outro prédio, chamado de Carolina Bori, em 
homenagem à maior figura da história da Análise do Comportamento e da 
Psicologia do país. Lá se encontram outros laboratórios, como o Laboratório de 
Aprendizagem Humana, Multimídia Interativa e Ensino Informatizado - LAHMIEI 
Autismo, totalmente dedicado ao Transtorno do Espectro Autista e outros 
Transtornos do Desenvolvimento, coordenado pelo Prof. Dr. Celso Goyos e há 
também o Laboratório de Estudos do Comportamento Humano – LECH, 
coordenado pelo Prof. Dr. Julio de Rose e a Profa. Dra. Deyse das Graças de 
Souza, em que se encontrará uma sala cheia de computadores, em que 
acontece a Liga da Leitura, onde se faz pesquisa básica e aplicada (logo 
 
7 
CBI of Miami 
falaremos destas questões) com Equivalência de Estímulos em alfabetização de 
pessoas com transtornos como TEA ou DI e dificuldades de aprendizagem. Ao 
fundo, ficam os escritórios e outras pequenas salas de pesquisa. 
 Nestas pequenas salas de pesquisa, pode haver diversos tipos de 
arranjos experimentais para se estudar o comportamento humano, um deles é, 
por exemplo, por meio da configuração de um computador com certos arranjos 
de estímulos, em que um pesquisador apresenta para o participante da pesquisa, 
pede para ele responder e pode, ou não, sair da sala e deixar o participante à 
vontade, colocando-se à disposição em caso de necessidade de ajuda. 
 Este é, por exemplo, o arranjo de um experimento em que fui participante, 
alguns anos atrás, com os pesquisadores João Henrique de Almeida e Thácita 
Mizael (deve haver outros, mas foi com esses que tive contato), em que respondi 
a estímulos arranjados para avaliar a produção de molduras relacionais 
derivadas de certas relações ensinadas (ok, eu sei que não dá para entender o 
que eu falei ainda, mas até o final do curso, vão entender – espero). 
 No maravilhoso livro Princípios Elementares do Comportamento Humano, 
de Whaley e Mallot (1980), os autores contam sobre a visita a um laboratório que 
estudava o vício em bebida em que o participante entrava e acionava um 
mecanismo que produzia uma dose de whisky, cuja razão do esquema de 
reforçamento (a quantidade de movimentos que o participante precisava realizar 
para receber cada dose) aumentava de modo progressivo, a ponto de ele tomar 
uma quantidade irrelevante e tornar o consumo cada vez mais espaçado. 
 O cerne do que quero dizer aqui é que estes exemplos citados são de 
laboratórios de estudos de comportamento humano para a realização de estudos 
básicos, assim como tantos outros no Brasil e no mundo, em que são estudados 
comportamentos de vários tipos e que podem ter diferentes configurações. 
 Sendo bastante sintético, existem alguns diferentes tipos de estudos no 
campo da Análise do Comportamento, que são os estudos de revisão de 
literatura, que podem ser mais ou menos sistemáticos (que podem dedicar-se ao 
Behaviorismo Radical, à Análise Experimental do Comportamento e à Análise do 
Comportamento Aplicada) estudos teóricos/conceituais (que podem dedicar-se 
ao Behaviorismo Radical, à Análise Experimental do Comportamento e à Análise 
do Comportamento Aplicada) e os estudos experimentais, que são aqueles em 
 
8 
CBI of Miami 
que as variáveis do ambiente são manipuladas pelo cientista, um 
experimentador, para avaliar a relação funcional entre as variáveis, esses 
estudos experimentais podem ocorrem em diversos contextos, como em um 
laboratório, onde as variáveis são mais bem controladas ou em uma escola ou 
em casa ou qualquer outro contexto, onde as variáveis são menos controladas, 
ou seja, onde há menos controle experimental. Obviamente não há estudos 
experimentais filosóficos, ou seja, no campo do Behaviorismo Radical, mas sim 
no âmbito da Análise Experimental do Comportamento e da Análise do 
Comportamento Aplicada. 
 Existem resumidamente 3 tipos de estudos experimentais sobre 
comportamento dos organismos, os estudos básicos, os estudos aplicados e os 
estudos translacionais. A Análise Experimental do Comportamento se dedica 
aos estudos básicos e sua característica fundamental e descobrir como funciona 
o comportamento dos organismos, isto é, como a ação dos organismos interage 
com o ambiente, quais são as “leis” do comportamento dos organismos, seja de 
uma espécie ou variação intraespécie em particular, seja de forma generalizada 
entre os organismos. 
 Ou seja, para aquele cientista dedicado à Análise Experimental do 
Comportamento, não são os contextos sociais aplicados os motivadores de 
pesquisa e sim o funcionamento mais fundamental do comportamento dos 
organismos. Um cientista neste campo poderia se perguntar coisas como “Como 
um estímulo do ambiente ganha função evocativa sobre um comportamento?”, 
“Quais são os efeitos da privação na aquisição de um comportamento novo?”, 
“Quais os efeitos sobre a taxa de resposta de um comportamento operante de 
comportamentos respondentes?” entre muitos outros, que será a base para a 
discussão posterior e elaboração de tecnologias comportamentais para a 
melhoria da qualidade da vida humana, mas cuja relação aplicada não é 
diretamente relacionada. 
 Na AEC nós temos, portanto, algum comportamento que pode ser descrito 
com um valor que pode se modificar, pode-se estudar a duração de um 
comportamento, sua intensidade (quilos de um soco, por exemplo), sua latência 
(isto é, o tempo que demora a ocorrer após um certo estímulo), sua topografia 
(a variação na forma que ocorre), entre outros, muito embora a medida que reina 
 
9 
CBI of Miami 
máxima nesta área de pesquisa seja a Taxa de Resposta, isto é, a frequência 
em que uma resposta é emitida em um certo espaço específico de tempo. Este 
comportamento medido (alguma ou mais das dimensões do comportamento que 
foram elencadas acima) constitui a VARIÁVEL DEPENDENTE de toda pesquisa 
de Análise Experimental do Comportamento, isto é, o objeto específico de 
estudo. 
 Para a AEC, o comportamento não é expressão de um constructo teórico 
chamado mente ou de outras figuras intangíveis, ele é o objeto em si de estudo 
e ele constitui a variável sobre a qual se quer avaliar as diferentes formas de 
interação com o ambiente. Para sabermos quais os impactos do ambiente no 
comportamento, em sua variação, realizam-se manipulações controladas do 
ambiente, ou seja, aspectos do ambiente podem ser pensados em termos 
numéricos e podem variar, daqui que também as compreendamos como 
VARIÁVEIS INDEPENDENTES, ou seja, que são manipuladas de modo 
arbitrário para que se avalie os efeitos sobre o objeto de pesquisa. 
 Atenção neste tópico, Variável Independente é aquilo que o cientista 
manipula para produzir efeitos sobre o que ele estuda e aquilo que ele estuda, 
seu objeto principal, são as Variáveis Dependentes. 
 Imagine que um cientista queira avaliar os efeitos sobre o PH do estômago 
quando o indivíduo come um pudim, então ele pode medir este PH por algum 
instrumento (digamos que o PH seja X) e solicitar ao participante da pesquisa 
que coma um pudim (posso me candidatar para a pesquisa?) e entãoele utiliza 
o mesmo instrumento para mensurar novamente este PH, após a ingestão e a 
cada certo tempo, até a digestão completa. Neste caso, a Variável Dependente, 
isto é, o objeto que varia que se pretende estudar, é a acidez do estômago do 
indivíduo e a Variável Independente, isto é, aquilo que o cientista manipula para 
mensurar os efeitos sobre outra coisa, é a ingestão do pudim. 
 Mais um exemplo, veja um caso em que os níveis de glicose no sangue 
de um conjunto de indivíduos são medidos e aqueles que possuem um certo 
nível patológico que caracteriza a diabetes são medicados com um certo fármaco 
e depois se verifica se esses níveis caíram, subiram ou permaneceram estáveis. 
Faça um exercício lógico, qual é a Variável Dependente? E a Variável 
Independente? (conto após o próximo parágrafo). 
 
10 
CBI of Miami 
 No caso da AEC, as Variáveis Dependentes são sempre comportamentos 
(pode ser uma ou mais variáveis), por exemplo, veja o caso de um experimento 
realizado por Skinner e publicado em 1948. O experimentador colocou um 
pombo na Caixa de Skinner e a programou de modo que uma porção de comida 
fosse liberada a cada 15 segundos, independentemente de quaisquer 
comportamentos que o pombo estivesse emitindo. Os organismos, em novos 
ambientes (como o caso desses pombos) emitem respostas aleatórias (em 
referência ao ambiente, mas relacionadas eventualmente com sua história 
particular), como se estivessem reconhecendo o ambiente e após 15 segundos, 
aleatoriamente, o primeiro destes pombos tinha acabado de dar uma volta 
brusca e a liberação contígua da comida, por mera coincidência, fez com que 
este pombo passasse a emitir com mais probabilidade o mesmo movimento, 
produzindo então mais situações em que, logo após o fazer, tenha a comida 
liberada, tornando-se um pombo com o comportamento completamente 
estereotipado de girar como uma enceradeira (essa referência os novinhos não 
pegam), como o Zico na Copa de 1994 (não melhorou), enfim, girava sem parar. 
 Outro dos pombos aprendeu a fazer um movimento semelhante a uma 
chifrada, ou seja, cada qual com sua “superstição” particular (não se afobem, 
verão este tema depois). 
 Os comportamentos que os pombos na Caixa de Skinner eram as 
Variáveis Dependentes da pesquisa, tal como os níveis de glicose no exemplo 
de pesquisa que citamos acima (isto é, aquilo que se quer avaliar mudanças), 
enquanto aquilo que o experimentador manipulou, para verificar seu efeito 
nessas variáveis dependentes, eram as Variáveis Independentes, , no caso 
anterior era a administração de um certo fármaco, enquanto neste caso era a 
liberação de comida a cada 15 segundos, independentemente de qualquer coisa, 
produzindo um tipo de comportamento chamado de Comportamento 
Supersticioso. 
 Um aspecto fundamental desta ciência é o delineamento de sujeito-único, 
que é uma opção epistemológica e metodológica derivada do Behaviorismo 
Radical e vale para a Análise do Comportamento Aplicada, em que o 
comportamento de um organismo é comparado ao comportamento dele mesmo 
em outras circunstâncias ambientais, o que se opõe a toda a tradição da 
 
11 
CBI of Miami 
Psicologia e educação de até então (quando ela surgiu), que trabalhava por meio 
da elaboração de médias estatísticas de uma certa população. 
 Para a Análise Experimental do Comportamento, uma média estatística 
não representa o comportamento de nenhum organismo em particular e constitui 
uma medida inadequada para a avaliação de relação entre variáveis, já que 
também cada qual possui sua filogênese particular e sua história pessoal 
idiossincrática, constituindo uma comparação entre não comparáveis, assim, 
esta ciência se afirma como de natureza ideográfica, isto é, que persegue a 
história particular de um organismo e sua relação ímpar com o ambiente e não 
como uma ciência nomotética, que pressupõe certas variáveis ambientais em 
relação a grupos, representados pela média de seus comportamentos, como se 
faz em outras ciências que analisam o comportamento. 
 Por conta desta enorme dissensão em relação às demais ciências e sem 
ainda o devido reconhecimento da comunidade científica, os cientistas da 
Análise Experimental do Comportamento tinham seus trabalhos rejeitados em 
todas as revistas científicas da época de sua fundação, de modo que em 1957 
decidiram fundar seu próprio periódico, o que ocorreu no ano seguinte, a revista 
Journal of Experimental Analysis of Behavior - JEAB 1 , ainda hoje a mais 
relevante revista científica de AEC do mundo (Cruz, 2019). 
 A partir dos dados produzidos na Análise Experimental do 
Comportamento, primeiro com alguma espécie em particular, depois com outras 
(alguns dos conhecimentos de algumas espécies não foram verificadas em 
outras, sendo, portanto, não generalizáveis) e até chegar na espécie humana, 
foram descritas de modo sintético (lembrar do texto sobre o Behaviorismo 
Radical e sua perspectiva sobre a relação entre descrição e explicação da 
realidade) com a formulação de conceitos fundamentais como Reforçamento, 
Extinção, Punição, Operação Motivacional, Estímulo Discriminativo, entre tantos 
outros, tão fundamentais para a ciência aplicada, sem os quais não há serviço 
de qualidade porque seu domínio e operacionalização são imprescindíveis ao 
entendimento e replicação das práticas que se mostravam efetivas. 
 
1 Acesso em: https://onlinelibrary.wiley.com/journal/19383711 
 
12 
CBI of Miami 
As 7 dimensões da Análise do Comportamento Aplicada – ABA 
 Após o surgimento do Journal of Experimental Analysis of Behavior – 
JEAB, o periódico se consolidou como o mais fundamental da área, mas surgiu 
um novo conflito com pesquisadores que passaram a investigar outro tipo 
diferente de problema, eles não queriam saber quais são as regras fundamentais 
do comportamento humano, mas como utilizar esses conhecimentos essenciais 
para manipular o ambiente e promover a mudança de comportamentos 
socialmente relevantes, de modo a melhorar a qualidade de vida dos indivíduos 
e um objetivo diferente leva a diferentes formas de tratar a questão, o que levou 
à rejeição sistemática desses estudos por parte do JEAB, fazendo com que se 
articulassem em um novo periódico. 
 Em 1968 veio à luz aquele que ainda hoje é o mais importante periódico 
científico do campo da Análise do Comportamento Aplicada, chamado de 
Journal of Applied Behavior Analysis – JABA2, que trouxe na primeira edição um 
artigo que definiu e ainda define a área estudos, sendo até hoje o guia para a 
aprovação de artigos naquele periódico e na maior parte dos demais que 
também se dedicam ao tema. O título deste artigo é Some Current Dimensions 
of Applied Behavior Analysis, de autoria de três dos maiores nomes da história 
da ABA, Donald M. Baer, Montrose M. Wolf e Todd R. Risley, disponível em 
língua portuguesa em uma tradução não oficial no Instituto de Terapia por 
Contingências de Reforçamento – ITCR, com revisão técnica do Prof. Hélio 
Guilhardi, um dos nomes mais importantes da história da Análise do 
Comportamento no Brasil3. 
 Neste artigo, os autores apresentaram as 7 dimensões da ABA que devem 
estar presentes em todas as pesquisas que se considerem parte deste campo e 
que servem de baliza para avaliar sua pertinência e validade. As dimensões não 
são hierárquicas, mas as apresentamos aqui na mesma ordem que no artigo 
original, por mera questão formal. 
 
 
2 Acesso em: https://onlinelibrary.wiley.com/journal/19383703 
3 Disponível em: https://itcrcampinas.com.br/pdf/outros/Algumas_dimensoes.pdf 
 
13 
CBI of Miami 
1. Aplicada 
 Os estudos do campo da Análise Experimental do Comportamento se 
debruçam de uma dúvida fundamental, de uma curiosidade sobre um 
comportamento e sua relação com o ambiente, sobre a necessidade “básica” de 
descrever as formas com que o que o organismo faz se relaciona com o 
ambiente que o circunda, enquanto para que um estudo sejaclassificado como 
parte deste campo aplicado da ciência, a Análise do Comportamento APLICADA, 
é preciso que ele se dirija especificamente à resolução de um problema humano 
que, resolvido, melhore sua qualidade de vida, isto, precisa ter um 
COMPORTAMENTO SOCIALMENTE RELEVANTE como objeto fundamental. 
 Um estudo publicado por Fabio Junior Alves e Colaboradores (dentre os 
quais este professor que vos escreve) avaliou os estudos de tecnologia assistiva 
que se descreviam como baseados em ABA e concluiu que a grande maioria 
deles não descrevia qual era o comportamento socialmente relevante que ele 
pretendia modificar e qual seria o efeito desta melhoria sobre a qualidade de vida 
dos indivíduos, de modo que a mera citação desta ciência não possa ser 
suficiente para que digamos que uma pesquisa nela se fundamenta, é preciso 
mais do que isso, que ela se atente aos princípios epistemológicos e 
metodológicos amplamente aceitos pela comunidade de Análise do 
Comportamento. 
 Aqui temos a diferença fundamental entre a Análise Experimental do 
Comportamento, que tem como objeto o funcionamento dos comportamentos 
dos organismos para a Análise do Comportamento Aplicada – ABA, que só pode 
endereçar comportamentos socialmente relevantes para os seres humanos, isto 
tanto é válido para a esfera acadêmica quanto para a oferta de serviços, que 
sempre deve partir desta análise social do contexto de um indivíduo para avaliar 
a pertinência de qualquer intervenção comportamental. 
 Este tópico também compreende uma reflexão ética fundamental, por 
exemplo, uma intervenção baseada em ABA pode endereçar a mudança de 
orientação sexual de um indivíduo? A resposta é não, haja vista que a pluralidade 
de orientações sexuais é um traço humano fundamental e terapia de conversão 
sexual não estão focadas em algo socialmente relevante para sua qualidade de 
vida, considerando que inúmeros estudos já demonstraram que nenhuma das 
 
14 
CBI of Miami 
diferentes orientações sexuais é a “correta” e que “traz benefícios” em prejuízo 
de alguma outra que fosse “a errada” ou “que traz prejuízos”, assim como não 
se pode tratar um comportamento porque “a professora não gosta”, “o pai 
implica” ou qualquer outro critério que não exclusivamente o valor social para o 
cliente em si, aquele a quem a intervenção é endereçada, o que é uma tarefa só 
aparentemente simples. 
 Operacionalmente, esta dimensão obriga aos pesquisadores a terem e 
demonstrarem a clareza sobre o que operam e aos prestadores de serviço de 
avaliarem quais são os prejuízos que um determinado indivíduo apresenta, 
sendo comportamentos imprescindíveis para sua vida que estão ausentes ou 
comportamentos prejudiciais que estão presentes, escolher criteriosamente 
entre quais começar e quais enfrentar posteriormente e indicarem 
transparentemente aos pais e ao cliente quais são os ganhos de qualidade de 
vida a que eles se destinam. 
 Lembro de um vídeo que circulava em contextos políticos de forte rejeição 
científica em que uma pessoa que se apresentava como diagnosticada com 
Autismo dizia que pedir para as crianças repetirem o gesto de colocar o dedo no 
nariz, que o pesquisador fazia, era um absurdo porque isso não era uma 
habilidade significativa, o que talvez indique que o contato desta pessoa com 
algum Analista do Comportamento não foi capaz de prover a informação 
fundamental de que a imitação é a base de quase tudo o que fazemos. Sim, eu 
sei que todos nós achamos muito especiais e únicos e diferente de todos, mas 
isso porque cada qual é uma coleção particular de imitações de inúmeras 
pessoas, que também ocorrem em diferentes bases biológicas e com diferentes 
consequências no ambiente, mas sim, realizar imitações muito minuciosas, 
como a imitação motora fina, que pode incluir colocar o dedo no nariz, pode ser 
enormemente benéfico para a pessoa com Autismo em múltiplos contextos como 
aprendizagem da fala, de autocuidado, de brincadeiras e de quase todos os 
outros comportamentos que eu possa pensar, o que demonstra que o 
pesquisador que se debruça sobre esses treinos e o prestador de serviço que os 
programa estão totalmente antenados com a dimensão aplicada da ABA. 
 
 
 
15 
CBI of Miami 
2. Comportamental 
 Mas um comportamento socialmente relevante, a que a intervenção 
baseada em ABA se destina a mudar, não pode ter uma descrição vaga, 
inespecífica, abstrata, que permite que nos confundamos e, ainda pior, 
confundamos e ou deixemos enganar aos clientes e seus parentes e isso 
constitui essa segunda dimensão. 
Imagine que eu diga que uma criança “está de alto astral”, o que isso quer dizer? 
 Provavelmente se eu entregar esta expressão para diversas pessoas e 
pedir que elas descrevam como eu poderia conferir se a criança de fato está de 
alto astral levaria a definições tão díspares que se tornaria impossível qualquer 
mensuração mais precisa de um comportamento da criança e ainda que todos a 
entendessem e definissem da mesma forma, ainda haveria um segundo grave 
problema, que é o fato de que descrição não partiria, seguramente, de localizar 
seu “astral” e mensurar sua distância do chão (ele não está alto?), mas 
provavelmente seria relativo a outros comportamentos, como sorrisos, pulos, 
falas, expressões ditas que são compreendidas como “felizes” ou “otimistas”, ou 
seja, mesmo que as pessoas dissessem algo como “alto astral é definido como 
o comportamento de sorrir em mais de 60% do tempo, expressando 
exclusivamente palavras otimistas, tais como ‘as coisas estão muito boas’, ‘tudo 
tende a melhorar’, ou ‘as coisas estão caminhando bem’”, a descrição não 
coincide com o comportamento que se pretendeu definir, mas com um suposto 
estado mental a que seria correlato. 
 Neste exemplo acima, o astral seria uma espécie de vibe, de estado 
mental geral do indivíduo. Uma pessoa de alto astral, é alguém com um estado 
mental de ânimo e esse estado mental se expressa através de comportamentos 
motores, como sorrir, ou comunicações (uma espécie de alto-falante da mente), 
como a fala. Mas se este estado mental não é comportamento ele é o quê? Ele 
vem de onde? Ainda mais grave, estas expressões seriam confiáveis? 
 Este é o ponto preciso em que separam os Behavioristas Radicais, desde 
nosso ponto de vista, afirmar que alguém está de alto astral é uma expressão 
equivocada, porque dá um nome de um estado mental para um conjunto 
complexo de comportamentos, o que pode ser terrivelmente enganoso, porque 
os outros comportamentos, que seriam expressão deste estado mental, podem 
 
16 
CBI of Miami 
não ser expressão de nada, senão de um mascaramento doloroso de demérito 
ou até pensamentos suicidas. Mas ainda que os sorrisos e frases otimistas 
ocorram junto a pensamentos afirmativos sobre amor próprio e o deleite da vida, 
eles são todos eles simplesmente comportamento e como tal podem ser 
entendidos também separadamente, nos dando melhor capacidade de 
compreensão, predição e controle. 
 Ou seja, mesmo que um comportamento aconteça em um lugar que não 
se possa ver, a não ser por quem o emite, como o comportamento de pensar ou 
o comportamento de sentir, ainda assim, eles não são derivados de um estado 
mental, eles são comportamentos em si e são derivados das relações que nós 
estabelecemos com o ambiente, o ambiente externo, como tudo que ocorre a 
nosso redor ou longe de nosso corpo e o ambiente químico e orgânico de nossas 
entranhas. Nosso comportamento invisível ocorre dentro da pele (guarde com 
carinho esta expressão), mas não por isso ele é menos real. 
 Comportamentos dentro da pele não podem ser vistos por terceiros, mas 
eles frequentemente possuem outros comportamentos a que são indiretamente 
ligados como, por exemplo, a expressão de dor que uma pessoa pode 
apresentar em um parto, ao dar uma monumental topada com o mindinho na 
quina da mesa, ao sofrer com pedra nos rins, com uma inflamação no nervotrigêmeo, entre outros. Esta expressão de dor pode ser usada como uma medida 
indireta do comportamento de dor, em certas circunstâncias, mas é preciso 
sempre a clareza de que uma coisa não se confunde com a outra, eu posso fazer 
esta mesma expressão em uma peça de teatro, um filme ou com uma namorada 
chamegosa, a depender das contingências, daí que se deva saber que, como 
diria o filósofo, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. 
 Mas quando se realiza uma intervenção que se fundamente em Análise 
do Comportamento Aplicada – ABA, é imprescindível que se defina antes 
exatamente qual é o comportamento socialmente relevante que se pretenda 
modificar e como se dará tal mensuração, isto é, qual ou quais são as dimensões 
do comportamento constituem a Variável Dependente que iremos acompanhar. 
 Será a taxa de resposta de estímulos comparação iguais aos estímulos 
modelo entre estímulos de várias cores, uma vez que se trata do ensino de 
discriminação de cores? Ou é o ensino da nomeação destas cores, em que o 
 
17 
CBI of Miami 
que será mensurada é a vocalização dos nomes de cada cor diante da instrução 
do aplicador e apresentação de um estímulo randomicamente disposto? Enfim, 
não importa, o que importa é esta clareza. 
 Outras dimensões do comportamento também podem ser mensuradas. 
Assim como um móvel pode ser avaliado por sua altura, talvez seja mais 
relevante na verdade verificar o diâmetro e a outros interesses a largura, mas há 
contextos em que o penso ou a densidade sejam mais relevantes, também o 
comportamento pode ser avaliado por diferentes medidas nestas diferentes 
dimensões. Vocês verão este tema em outro tópico mais à frente, mas vale dizer 
aqui brevemente que um comportamento que ocorre uma só vez ao dia, sempre, 
não torna muito útil a medição de frequência, mas se sua variação vai de 20 
minutos até 6 horas de existência, então a mensuração da duração é 
imprescindível, como de outros melhor seria a intensidade ou ainda a latência, 
que são medidas distintas que muitas vezes interessam primariamente ao 
Analista do Comportamento (Fagundes, 2015). 
 
3. Analítica 
 O cientista deve sempre ser cético, sempre se perguntar “mas será 
mesmo que é isso?”, sua profissão de fé mais profunda é com a dúvida. Digamos 
que eu tenha uma situação como alguma das que vou aqui apresentar: 
a) Uma criança, o Huguinho, que apresenta um quadro de agressividade 
grave, ela dá em média 5 socos por dia (dimensão comportamental) em outras 
crianças da escola, o que traz dano físico às demais crianças, a si mesma, que 
eventualmente também apanha das colegas, e social, pois ninguém quer ser seu 
amigo, além de gerar situações que a impedem de estar em aula e aprender a 
matéria, de modo que é muito importante reduzir este comportamento (dimensão 
aplicada) e o Analista do Comportamento elabora uma intervenção para reduzir 
o comportamento através de Reforçamento Diferencial (não se apoquentem, vão 
aprender depois o que é). De um mês a outro, o nível de socos caiu de 5 para 1. 
b) Um adolescente, Zezinho, xinga as colegas do Ensino Médio de “Puta”, 
“Vagabunda”, “Piranha” e outros termos tão pouco condescendentes quanto, 
tornando insustentáveis suas relações sociais (dimensão aplicada), ele se dirige 
todos os dias e dispara sua metralhadora verbal a uma menina específica por 
 
18 
CBI of Miami 
dia, em episódios que duram de 3 a 10 minutos, com uma média de 5 minutos 
diários (dimensão comportamental) e um Analista do Comportamento planeja e 
executa uma intervenção de automonitoramento em que, com ajuda de um 
aplicativo, o adolescente observa a seu próprio comportamento de modo a tomar 
outras decisões sobre sua relação com as colegas e em 3 semanas o 
comportamento de xingar as coleguinhas simplesmente deixa de existir. 
c) Um rapazinho bochechudo e alegre com Autismo, o Luizinho, não lê uma 
só palavra quando se avaliam suas habilidades, diante das palavras “mato”, 
“tomate”, “time”, “bala”, “bola”, “bota” e outras ele permanece com cara de 
paisagem. Um Analista do Comportamento experiente no ensino de Equivalência 
de Estímulos implementa um ensino de alfabetização, ainda que ele esteja vendo 
oração coordenada assindética na escola e 3 meses depois, voilá, ele lê palavras 
não treinadas com as famílias silábicas do T, B, M, P, L e V (não se fixem nesta 
sequência, há uma longa discussão sobre isso que vão ver mais à frente, no 
tema da alfabetização), desde que bissilábicas sem encontro consonantal. 
Impressionante! 
 Talvez você fique impressionado com cada um desses casos, mas uma 
tia faladeira (que neste caso, apresenta a argúcia de um Doutor velho de guerra), 
pode arguir: 
a) “No dia tal (dia que o Analista do Comportamento começou a trabalhar), 
o Huguinho com certeza levou uma sova de um amigo, e algumas outras mais 
adiante, que parou de bater neles”. 
b) “Ninguém me engana, o Zezinho se apaixonou e o espírito do amor faz 
isso com as pessoas, por isso ele passou a respeitar as meninas e parou de 
xingá-las, é típico da adolescência, já vi isso muitas vezes!” 
c) “Sorte tem o Luizinho de conviver nesse mundo tecnológico, depois que 
começaram a publicar esses vídeos da Galinha Pintadinha com o alfabeto, o 
menino aprendeu tudinho, que coisa boa, na minha época é que não tinha isso!” 
 
 Se você fosse o Analista do Comportamento responsável pelo caso, 
talvez estivesse furiosa, todos os seus esforços foram tomados como sem 
qualquer valor, a tudo a tia velha dá outra explicação e ela ainda possui um 
extenso arsenal como “os pais conversaram com ele e ele se conscientizou”, 
 
19 
CBI of Miami 
“Jesus tocou o coração dele e a agressividade desapareceu”, “O dia que a 
Professora conversou sério com ele, as coisas mudaram” e assim por diante. 
 Entre a tia e você, sorry, fico com sua tia, apesar da simplicidade e da 
explicação esdrúxula (lá isso é verdade), o comportamento cético é sempre 
aquele que duvida, não o comportamento crédulo. É verdade que o menino tenha 
levado algumas sovas e parado de bater e coincidentemente isso tenha ocorrido 
ao mesmo tempo que a intervenção (não minta agora, eu não estou ouvindo seu 
pensamento, será uma mentira para si mesmo)? Não, não é impossível, ainda 
que improvável. É impossível que ele tenha se apaixonado e tenha mudado todo 
seu comportamento com as meninas? Na adolescência? Tempo de se apaixonar 
mais do que assistir Dragon Ball. 
 Enfim, o olhar cético não é nosso inimigo, é nosso mais importante aliado, 
nós devemos ser os primeiros a desconfiar dos resultados que alcançamos e os 
expor a processos rigorosos de avaliação e é este o espírito da dimensão 
analítica, que é a introdução de esquemas de garantia de que de fato são nossas 
intervenções que produzem as mudanças verificadas e não outros fatores do 
ambiente, vou dar dois exemplos de estratégias analíticas muito utilizadas na 
pesquisa científica. 
 Vamos voltar ao primeiro exemplo. Digamos que o procedimento de 
intervenção tenha sido desenhado da seguinte forma, Huguinho é simplesmente 
pirado no McDonnalds e a partir do dia em que o procedimento foi estabelecido, 
ele poderia escolher o que bem quisesse no MacDonnalds, pelo aplicativo de 
pedir comida, nos dias em que a Professora informasse que foram dados, por 
Huguinho “somente” 4 socos, ou menos, durante o dia de aula. O nome deste 
procedimento é Reforço Diferencial de Taxas Diminuídas – DRD4 e o participante 
recebe consequências reforçadoras por diminuir de probabilidade de emissão de 
certo comportamento, até que ele seja eliminado. Então após 3 dias 
consecutivos em que Huguinho conseguiu acesso a seus Dois Hambúrgueres, 
alface, queijo, molho especial, cebola, picles e um pão com gergelim (os mais 
velhos pegaram a referência cringe ao Big Mac), lhe é informado que dali por 
 
4 Cf. em Cooper, Heron & Heward, 2020, p 311-312 
 
20 
CBI of Miami 
diante, só poderá fazertal pedido se o número de socos em seus colegas for 3 
ou inferior, e assim progressivamente, até o nível alcançado na descrição, só um 
soquinho para descontrair no mês seguinte. 
 Mas OU o Analista do Comportamento está certo e o comportamento caiu 
pelo Reforço Diferencial das taxas cada vez mais diminuídas de emissão 
daquela resposta, OU a tia velha está certa e o comportamento caiu porque a 
sova não foi pequena. Como saber? O Analista do Comportamento, sempre 
atento às 7 dimensões da ABA fez então o seguinte, conversou com a mãe e 
retirou o procedimento de operação, nada mais de Big Mac nem qualquer outro 
lance, feliz ou não, independentemente dos socos na escola, voltamos a velha e 
boa carne de panela e filé de frango dia sim e outro também. 
 Qual é o nome disso? REVERSÃO, isto porque o procedimento foi 
revertido, eliminado, nós voltamos à mesma condição que estávamos antes do 
procedimento, se ele batesse a partir de então, seria tal como ele batia antes 
disso tudo começar, a prova começou, se ele diminuiu de bater por conta do 
procedimento comportamental, em sua ausência o comportamento voltaria a 
ocorrer, mas se fosse por qualquer outro motivo, a sova dos colegas, Jesus no 
coração, conscientização, ou sei lá o quê, ele não voltaria a bater. Nesta nossa 
hipótese, Huguinho volta a socar seus colegas, eliminando as hipóteses da Tia 
cética e então reintroduz-se a intervenção, fazendo a CONFIRMAÇÃO, caso o 
comportamento volte a cair, que é realmente o poderoso DRD, o responsável 
por esta mudança. 
 No terceiro caso apresentado, do Luizinho, o caso é mais complicado, 
porque eu simplesmente tirar o procedimento de ensino de leitura não fará nosso 
camaradinha desler, trata-se de uma mudança comportamental de caráter 
irreversível, porque é uma aquisição de comportamento novo, mas isso nos 
impede de confrontar a má vontade da Tia chata? Negativo, mas precisamos 
aqui de outros recursos. 
 No exemplo dado, Luizinho aprende o comportamento de ler com 
compreensão palavras com as famílias silábicas T, B, M, P, L e V em 3 meses. 
 Muito malandro (digo, atento às 7 dimensões da ABA) digamos que eu 
tenha feito da seguinte forma. No dia 1, eu tenha avaliado a leitura de Luizinho 
em todas essas letras, mas tenha começado a ensinar somente as famílias 
 
21 
CBI of Miami 
silábicas do T e B, mas tenha continuado a avaliar continuamente também as 
demais. Quando, e só quando Luizinho já tinha aprendido a leitura com 
compreensão (muito mais à frente também vamos ensinar a vocês o que 
entende-se por “leitura com compreensão”) do T e do B, introduzamos os treinos 
com M e P, mas continuemos a avaliar palavras com todas as letras e, por fim, 
lá pelo terceiro mês, quando ele já faz gato e sapato do T, B, M e P, é que 
introduzimos o L e o V no ensino. Quando olhamos e analisamos o gráfico de 
aprendizagem de Luizinho de leitura das palavras com todas essas famílias 
silábicas que ele alcançou ao fim de 3 meses, demonstramos claramente que 
seu comportamento de ler só com compreensão só foi aprendido quando nosso 
ensino foi introduzido e não antes. A Galinha Pintadinha não apresentou 
progressivamente, nesta mesma ordem e temporalidade as letras T e B no 
primeiro mês, M e P no segundo mês e L e V no terceiro mês, mas eu sim, de 
modo que está dada a demonstração de que foi a intervenção comportamental 
e não a Galinha Pintadinha seja a responsável pela alfabetização parcial de 
Luizinho. 
 Nesses dois casos explicados, utilizou-se de duas estratégias 
maravilhosas e altamente reputadas, O Delineamento de Reversão e o 
Delineamento de Base Múltipla entre comportamentos para demonstrar que a 
Variável Dependente (comportamentos que se pretendeu mudar – taxa de 
resposta de socos e leitura com compreensão) foi modificada pelas Variáveis 
Independentes programadas pelo Analista do Comportamento, ou seja, que há 
uma RELAÇÃO FUNCIONAL ENTRE AS VARIÁVEIS descritas, enquanto outras 
variáveis do ambiente, como o comportamento dos outros colegas ou o acesso 
à Galinha Pintadinha, que podem ser variáveis de confusão (principalmente para 
as tias com má vontade), não tiveram impacto significativo no comportamento 
dessas crianças e adolescente, demonstrando o poder dessas intervenções e a 
necessidade de acesso a esses serviços por parte desta população. 
 
4. Tecnológica 
 Vamos imaginar a seguinte hipótese, chega a suas mãos um estudo 
científico revolucionário, porque nele as pessoas com o Transtorno do Espectro 
Autista – TEA ganharam inúmeras habilidades de uma série de domínios 
 
22 
CBI of Miami 
diferentes. Você está impressionada com as possibilidades que ele te oferece e 
se debruça sobre o artigo pensando “vou implementar isso aqui e será incrível!” 
e tem uma descrição muito sintética do procedimento, baseado em realizar um 
esporte coletivo, de modo colaborativo, com crianças com o TEA e depois uma 
atividade lúdica por 30 minutos, estimulando todas as múltiplas inteligências. 
“MEU DEUS!”, você diz, “é só isso? Vou começar agorinha mesmo!” e na hora 
de fazer o esporte coletivo “de modo colaborativo”, você escolhe um esporte não 
competitivo, digamos que o frescobol e depois, na parte das atividades lúdicas, 
faz uma atividade com cada uma das múltiplas inteligências, colocando o 
indivíduo em uma situação-problema e esperando que ele resolva ou ajudando-
o a resolver. 
 Ao final do dia, você sente que está no caminho certo, agora você não é 
mais como aqueles profissionais de meia-tigela, você está agora no trilho da 
ciência e pode ler um livrinho na rede com um ar de intelectual que fica até um 
pouco arrogante. É quando recebe uma visita de uma outras duas pessoas que 
trabalham em outras instituições de pessoas com Transtorno do Espectro Autista 
e que leram o mesmo artigo e que também começaram a praticar justamente no 
dia de hoje (ok, eu sei que a hipótese é esdrúxula, mas vão ver que é bem 
didática). 
 A amiga 1 fez a replicação usando o futebol como jogo, no qual todas as 
vezes em que havia uma falta, o que a praticou precisava pedir desculpas àquele 
a quem violentou e no qual todos, vencedores e derrotados dividiam os 
benefícios pós-jogo, “estimulando o espírito colaborativo” e depois ela contou 
uma narrativa em que o protagonista enfrentava diferentes desafios, a serem 
enfrentados cada qual com o uso de uma das múltiplas inteligências e os alunos 
compartilhavam suas soluções e dialogavam coletivamente sobre elas. 
 A amiga 2 pensou e implementou de modo diferente, ela colocou os 
alunos para jogarem xadrez entre si (sim, xadrez é esporte), com dupla contra 
dupla, de modo que as jogadas eram sempre uma decisão compartilhada e após 
o esporte os alunos fizeram uma prova envolvendo situações-problema em que 
fossem necessárias as várias inteligências múltiplas e depois realizou a correção 
coletivamente. 
 
23 
CBI of Miami 
 As 3 amigas fizeram coisas completamente diferentes como replicação 
para o mesmo estudo e seguramente chegarão a 3 resultados completamente 
diferentes, o que é um grande problema do ponto de vista científico. Quando 
fazemos os celulares, não se faz cada um do seu jeito e se Deus quiser você 
compra o que funciona, quando fazemos uma cirurgia neurológica, o foco não 
pode ser na criatividade do neurocirurgião, ou seja, uma replicação não é uma 
inspiração, ela é, bem, uma REPLICAÇÃO. 
 Mas por que este estudo foi tão mal replicado por essas amigas? Elas não 
eram competentes o suficiente? Nada disso, ocorre que minha esdrúxula 
hipótese é que os estudos eram tão inespecíficos que criaram esta situação, ao 
apresentar que se realiza um “esporte colaborativo” como antecedente, o estudo 
estabeleceu que 600 mil coisas diferentes pudessem ser feitas, com resultado 
brutalmente distintos entre elas, o que foi uma péssima descrição. Quando 
propôs uma “atividade lúdica” (pensa numa palavra que o povo adora de morrer), 
abriram-seas portas de Caixa de Pandora para qualquer coisa praticamente que 
o replicador quisesse inventar e “estimular” as inteligências não é menos 
inespecíficos, porque estímulo é qualquer mudança física do ambiente percebida 
pelos órgãos dos sentidos, de modo que se um menino tomar um tapa na orelha, 
isso é um estímulo (proprioceptivo), mas alguém pode também dizer que 
“estimulou” a Inteligência Cinético-Motora, outros podem dizer que levou a uma 
reflexão X, Y ou Z e estimulou a Inteligência Interpessoal ou até Intrapessoal, 
entre muitas outras pirações, ou seja, nenhuma profissional estava errada, o 
estudo sim. 
 Denunciado seu oposto, quando lemos um estudo que se fundamente em 
ABA, a descrição é bastante distinta, pois os procedimentos utilizados são 
descritos para serem entendidos e replicados exatamente como propostos por 
qualquer pessoa. Ao invés de dizer que “estimulou a inteligência cinético 
motora”, o Analista do Comportamento pode descrever que se aproximou a cerca 
de um metro da criança e estendeu a ela a palma de sua mão, paralelamente a 
seu rosto com uma distância aproximada de 30 centímetros e olhou para os 
olhos da criança, implementando o procedimento que prevê que, caso a criança 
não estenda também sua própria mão e toque palma com palma, com um atraso 
de 5 segundos se introduza progressivamente as dicas que se seguem: a) 
 
24 
CBI of Miami 
instruir a criança dizendo “toca sua mão na minha, faz um toca-aqui”; b) utilizar 
o outro braço para tocar no cotovelo da criança; c) pegar no antebraço da criança 
e dar ajuda física total, conduzindo sua mão até realizar o toque em sua própria 
mão. 
 Esta descrição acima é difícil de ser replicada com variações importantes 
e o tanto de variação que ainda pode ser possível consiste em defeito da própria 
descrição, que deve ser clara o suficiente para que qualquer pessoa compreenda 
operacionalmente e repita o mais igualmente possível cada um dos passos, esta 
é a dimensão tecnológica, que nos permite um grau de tecnicidade na 
implementação que dá consistência ao serviço oferecido pelo Analista do 
Comportamento. 
 Este talvez seja o principal diferencial da Análise do Comportamento para 
as outras áreas, o fato de que as pesquisas acontecem, endereçam 
comportamentos socialmente relevantes muito bem descritos e mensurados de 
uma forma tão bem descrita, usando expressões tão diretas, tão claras, que eu 
consigo fazer em meu consultório ou em uma minha escola, no interior do Brasil, 
de uma maneira consistente com aquela que foi extensivamente pesquisada. 
 Digo mais, que uma criança é avaliada e um planejamento de ensino é 
realizada, por um Supervisor, com base em uma leitura extensiva e minuciosa 
da literatura científica, e os programas são tão bem escritos que os pais leem e 
conseguem reproduzir, que uma pessoa iniciante da área lê e diz “entendi o que 
é para fazer” e realmente entendeu, essa é a impressão clara que temos, por 
exemplo, ao ler os Programas de Ensino do livro Ensino de Habilidades Básicas 
para Pessoas com Autismo, da Camila Gomes e Analice Silveira, em que elas 
levaram tão a sério esta dimensão que sabe quando a pessoa diz “Mas você não 
entendeu? Quer que eu desenhe?”? Então, elas se adiantaram e fizeram 
desenhos de como cada passo deve ser realizado. 
 
5. Conceitual 
 Como já bastante bem argumentado até este momento, a ciência possui 
4 objetivos básicos, o de a) descrever a realidade; b) explicar a realidade 
(sintetizar as descrições em forma de conceitos articulados entre si – teoria); c) 
predizer fenômenos; e d) controlar fenômenos. O atendimento à dimensão 
 
25 
CBI of Miami 
Conceitual implica em que o Analista do Comportamento deva ser 
Conceitualmente Sistemático, como afirma o artigo de origem, isto é, apresentar 
uma consistência teórica com o campo de pesquisa. 
 Isto quer dizer que ao analisar o comportamento do cliente e ao propor 
intervenções para modificação deste comportamento, o Analista do 
Comportamento não pode descrever estes processos tendo o senso comum 
como base ou realizar uma leitura que se baseie, por exemplo, em um constructo 
teórico muito popular, que é a Mente, sendo assim inconsistente com a 
perspectiva Behaviorista Radical de que uma pessoa é uma coisa única, um 
humano se comportando, e que este comportamento é parte da natureza e deve 
ser explicado como parte desta mesma natureza. 
 Quando o Analista do Comportamento, na esfera aplicada, olha para o 
comportamento e imediatamente procura suas correlações com o ambiente, ele 
está sendo conceitualmente sistemático e isto não é relevante porque deseja-se 
“resguardar a área”, “valorizar os autores” ou nenhum objetivo formal sem 
relevância de fato, mas para que esta coerência nos permita ter maior 
probabilidade de predição de fenômenos e, portanto, que nosso planejamento 
também tenha maior probabilidade de efetividade (controle de fenômenos). 
 E quanto maior e mais sólido o lastro deste Analista do Comportamento 
na literatura científica prévia, tanto maior a probabilidade de efetividade de seu 
trabalho. Podemos dar um exemplo lamentavelmente clássico sobre o tema. 
Imagine que alguém que se apresente como Analista do Comportamento seja 
contratado para a intervenção em certo comportamento, que está descrito na 
hipótese abaixo: 
Antecedentes Resposta Consequência 
Privação da atenção do 
pai (Operação 
Motivacional 
Estabelecedora) 
+ 
Presença do pai 
(Estímulo 
Discriminativo) 
Criança grita Pai vai até a criança e 
dá bronca, diz para 
parar e explica que é 
falta de educação 
 
26 
CBI of Miami 
 Diante desta situação, que digamos que tenha sido bem avaliada pelo 
profissional, opta-se para se realizar um procedimento chamado de Extinção, em 
que uma consequência que mantém um comportamento é retirada, ela deixa de 
existir a partir de uma reorganização do ambiente propositalmente para que o 
comportamento acabe, ele seja extinto. 
 Há diversas questões e considerações a se realizar sobre este 
procedimento e a utilização solitária da Extinção neste contexto poderia ser 
considerada um equívoco, mas ainda que não nos debrucemos sobre isso, 
imaginemos ainda que após a implementação do procedimento, verifique-se os 
números do comportamento tal como apresentado abaixo: 
Ocorrências Linha 
de Base 
Dia 
1 
Dia 
2 
Dia 
3 
Dia 
4 
10 X X 
9 X 
8 X 
7 
6 X X 
5 
4 
3 
2 
1 
 
 Percebe-se que, com a introdução do procedimento de Extinção, o 
comportamento que visava-se eliminar, porque traz prejuízo à qualidade de vida 
do indivíduo e este é um objetivo, portanto, socialmente relevante para ele 
(dimensão aplicada), na verdade aumentou de frequência. O comportamento de 
gritar foi devidamente descrito de modo operacional e mensurável e as 
oportunidades em que ocorre estão sendo registradas (dimensão 
comportamental) e a constituição de uma Linha de Base, uma aferição antes da 
intervenção, servindo justamente para uma avaliação específica do impacto da 
intervenção (dimensão analítica) demonstrou claramente isto. Considerando que 
o procedimento foi descrito de modo bem claro e o pai o esteja aplicado de modo 
 
27 
CBI of Miami 
consistente com o que foi planejado, já que não restou qualquer dúvida após a 
leitura do programa e o treinamento para ele (dimensão tecnológica), é altamente 
provável que esta situação leve a uma desistência do programa, que os pais ou 
profissionais de Análise do Comportamento que NÃO SEJAM 
CONCEITUALMENTE SISTEMÁTICOS digam algo como “pra ele não funciona”, 
“acho que fizemos errado”, porque ocorreu um fenômeno que, na verdade, é 
perfeitamente esperável e já foi muito bem descrito por inúmeras pesquisas 
anteriores, que é chamado de Explosão da Extinção. Quando um 
comportamento é colocado em extinção, muitas vezes (não somos ainda 
capazes de descreverquando vai ocorrer ou não, exatamente) ele primeiro sobe 
nas dimensões da frequência (ocorre mais vezes), intensidade (ocorre com mais 
força, mais energia) e variabilidade (ocorre com diferentes formas antes não 
apresentadas). 
 Neste caso descrito acima, o desconhecimento profundo da teoria da 
Análise do Comportamento prejudicou enormemente a capacidade do 
profissional de fazer boas predições sobre as múltiplas possibilidades de 
interação entre as variáveis e o fez planejar um procedimento de modo 
equivocado e tomar uma decisão profundamente infeliz no curso da intervenção, 
prejudicando enormemente o cliente em questão, não só porque o 
comportamento combatido não foi eliminado, a despeito dos pais terem se 
comportado para isso, contratando um profissional que apresentou-se como 
alguém que implementa as intervenções com a melhor evidência para o 
Transtorno do Espectro Autista – TEA, como porque, após um acontecimento 
como esse, o comportamento se tornaria mais intenso, frequente, variável e 
resistente à extinção no futuro, por ter sido colocado em um esquema de 
reforçamento intermitente, que não vamos explicar agora o que seja, mas cujo 
apontamento serve para exemplificar ao leitor como que o conhecimento da 
teoria nos permite fazer afirmações sobre o futuro e tomar decisões e 
implementar práticas muito mais efetivamente. 
 
6. Eficaz 
 Uma intervenção que se fundamente em Análise do Comportamento 
Aplicada precisa mostrar a que veio, ela tem que ser capaz de mudar o 
 
28 
CBI of Miami 
comportamento que motivou a queixa e a intervenção, do contrário, ela não pode 
continuar existindo e tomando o tempo e recursos do cliente e suas famílias. 
 Dizer que ABA é uma ciência e não um método quer dizer muitas coisas, 
e uma delas é que a intervenção não é uma coisa padrão, mas trata-se do 
conhecimento das regras que regem o comportamento humano e a alteração do 
ambiente para que as coisas caminhem para a construção de um repertório mais 
adaptativo para cada cliente. Mas como não conseguimos, nem em nossos 
sonhos mais lindos, um controle total de todas as variáveis, é fundamental que 
acompanhemos a evolução dos repertórios, passo a passo, por isso que todas 
as intervenções são registradas em cada tentativa, em cada resposta correta 
independente ou com ajuda, em cada erro ou omissão. 
 A partir desses dados gerados dia após dia é que o Analista do 
Comportamento toma decisões, que podem ser de múltiplas naturezas. Imagine 
que um Analista do Comportamento estabeleceu um programa de ensino para 
ensinar o comportamento de um adolescente com Autismo de dizer “Bom dia” 
às pessoas que encontrasse no elevador ou outros contextos sociais em que 
adentrasse, durante o dia. Digamos ainda que na Linha de Base, isto é, na 
avaliação da habilidade antes do ensino, ele já desse este “Bom dia” em 20% 
das oportunidades apropriadas. Nesta nossa hipótese, trata-se de um treino 
naturalístico, arranjado com o apoio de confederados (pessoas com quem 
combinamos antes), mas que o adolescente não apresente qualquer aquisição 
do comportamento, mesmo após o treino sistemático diário por 2 semanas. 
 Diante de um gráfico, assim tão xoxo, o Analista do Comportamento tem 
algumas possibilidades a considerar: 
• O registro está incorreto e não é consistente com o repertório real do 
cliente; 
• O treino foi elaborado corretamente, mas implementado incorretamente 
pelo AT; 
• O treino requeria algum pré-requisito que não estava presente; 
• O treino não foi bem elaborado e não é adequado para o ensino desta 
habilidade; 
• O treino é normalmente efetivo, mas para este adolescente não é uma 
boa opção, em decorrência da interação com outros fatores de seu repertório; 
 
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• O treino é adequado e implementado corretamente, mas fora do contexto 
de intervenção, há outros atores criando outras interações que ensinam coisas 
opostas (às vezes é a escola, a família, uma tia, uma vó, outros terapeutas, entre 
outros). 
 
 A hipótese que está fora de questão é “ele não aprende”, simplesmente 
porque isto não existe, daí que a dimensão da efetividade nos leve a sempre 
considerar que é preciso que uma intervenção esteja funcionando, isto é, esteja 
mudando o repertório do indivíduo em favor de sua qualidade de vida e, mais do 
que isto, que está melhora não seja insignificante, é preciso que ela seja em um 
nível suficiente para que melhore o dia a dia do indivíduo, o que também nos 
leva à última das dimensões apresentadas. 
 
7. Generalidade 
 A intervenção comportamental pode acontecer em múltiplos lugares e 
contextos, na clínica, em casa, na escola, entre outros e vai produzir mudanças, 
registrá-las e tomar decisões em torno delas. No entanto, a mudança 
fundamental que deve ocorrer não é na presença do Analista do Comportamento 
ou do AT, mas no contexto de vida que justificou, antes de tudo, a procura por 
um profissional para apoio. 
 Uma mãe procurou a intervenção de um Analista do Comportamento 
porque a criança brincava somente sozinha no parque (entre outras questões 
que ela apresentou) e o Analista do Comportamento caprichou na Brincadeira 
Independente e também na Brincadeira Social e nos Operantes Verbais e o 
fundamental que esperamos não é que a criança gabarite em tudo isso na 
clínica, mas que isso se reverta em ela ir ao parque e brincar com os amiguinhos, 
transformando sua qualidade de vida (percebeu a articulação desta dimensão 
com a anterior?). 
 Se um adulto com Asperger procurou um Analista do Comportamento 
para uma Psicoterapia de Habilidades Sociais Conjugais porque tem brigas 
diárias com a esposa ou esposo, é preciso não somente que ele tenha um bom 
domínio formal das Habilidades Sociais que sustentam uma relação conjugal, 
mas que as brigas não ocorram mais a todo tempo, que essas habilidades 
 
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apresentadas na sessão se GENERALIZEM, isto é, ocorram no ambiente natural 
em que são requeridas para verdadeiramente transformar a qualidade de vida 
dos atendidos. 
 A Generalização dos repertórios não é uma tarefa fácil, é na verdade 
provavelmente o maior desafio na intervenção em Autismo e o fundamental a ser 
dito sobre isso é que a generalização não é algo que se espera e lamenta, do 
tipo “Ih caramba, não generalizou, comigo ele vai super bem”, mas algo que se 
planeja e ensina. Existem inúmeros estudos especificamente sobre isso, que 
realizam variações nos aplicadores, nos locais de aplicação, nos estímulos de 
treino e muitas outras possibilidades, fazendo desta dimensão uma tarefa 
imperativa para os Analistas do Comportamento. 
 
Quais são os Passos da Intervenção Baseada em ABA 
 Devemos começar dizendo que provavelmente você já deve ter ouvido 
falar em “Método ABA”, em caso positivo, lamentamos, mas “Método ABA” não 
existe. Um método é um modo de fazer, uma espécie de receita de bolo que se 
deve seguir e não é isso o que ocorre em uma intervenção baseada em ABA. 
 A Análise do Comportamento é, na verdade, uma ciência, mas o que isso 
quer dizer? Que ela não é um conjunto de técnicas, mas um conjunto de 
princípios de conhecimentos validados por meio de pesquisa. 
 Digamos que tenhamos uma criança com atrasos no desenvolvimento 
com a qual estejamos realizando uma intervenção baseada em ABA e que esta 
criança goste muito de cócegas. Avaliando esta criança, verificamos que ela fala 
“mamã”, mas com uma frequência muito baixa, isto é, mais baixo do que o 
adequado para sua própria qualidade de vida. Podemos, por exemplo, em um 
caso como este, instruir a mãe a, quando a criança chamar “mamã”, ela dar 
atenção e fazer cócegas nela pois é possível que esta consequência que ela deu 
aumente a probabilidade de ela falar “mamã”, talvez passando de 1 vez por 
semana para 4 ou 5 (o que seria um ganho incrível), isso seria uma estratégia 
baseada em ABA. 
 Mas esta estratégia não é “a ABA”, a ciênciaé um conhecimento mais 
abstrato, de que o comportamento aumenta ou diminui conforme as 
 
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consequências que o seguem, ou seja, o comportamento não “vem de dentro” 
das pessoas, mas de uma relação da pessoa com o ambiente em que ela vive. 
O comportamento então deve ser analisado considerando 3 coisas, o ambiente 
em que ocorre, a forma do próprio comportamento e as consequências que se 
seguem a ele, vou procurar dar alguns exemplos: 
1. 
Ambiente – na rua, 12h, sentindo fome 
Resposta – entro em um restaurante, olho o cardápio e peço o Prato do Dia. 
Consequência 1 – afasta minha fome, a comida é gostosa e preço bacana; ou 
Consequência 2 – a comida está com um gosto estranho e o valor do prato é 
muito alto para a média da região. 
Possível resultado da consequência 1: alta probabilidade de outro dia, com 
fome, no mesmo horário e no mesmo local, eu entrar e almoçar no mesmo 
restaurante; ou possível resultado da consequência 2: baixa probabilidade de 
se repetir o comportamento de comer naquele restaurante. 
2. 
Ambiente – todo dia, das 8 às 17h, no prédio em uma certa empresa 
Resposta – um indivíduo trabalha conforme instruído pelo chefe 
Consequência 1 – recebe o salário no fim do mês, além de outros benefícios e 
promoções; ou consequência 2: o salário atrasa, é insuficiente para o custo de 
vida daquele indivíduo e seu superior direto o humilha continuamente. 
Possível resultado da consequência 1: alta probabilidade de se manter neste 
trabalho e realizá-lo com presteza; ou possível resultado da consequência 2: 
baixa probabilidade de o empregado continuar no trabalho e executar seu serviço 
adequadamente. 
3. 
Ambiente – no bar, à noite 
Resposta – um rapaz chega em uma moça e pergunta “Posso te pagar uma 
bebida?” 
Consequência 1 – a moça diz “claro”, trava uma conversa interessante e eles 
mantêm um prazeroso intercurso sexual no fim da noite; ou Consequência 2: a 
moça diz “se enxerga, seu idiota!” e se afasta. 
 
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Possível resultado da consequência 1: alta probabilidade de outro dia, privado 
sexualmente, abordar outras moças de modo semelhante; ou possível 
resultado da consequência 2: a probabilidade de o rapaz voltar a abordar 
outras moças da mesma forma no mesmo ambiente diminui de probabilidade. 
 Em todos os casos que simulamos é possível ver que o que faz um 
comportamento acontecer ou não são as consequências que o seguiram no 
passado. Algumas consequências fazem o comportamento diminuir de 
probabilidade e outros fazem com que ele aumente de probabilidade. Quando 
uma consequência faz um comportamento aumentar de probabilidade, a 
chamamos de “reforçadora” ou simplesmente de “reforço”, isto pode ser algo de 
comer, mas também pode ser atenção, um carinho, algo que o indivíduo sinta, a 
possibilidade de fazer algo, entre outros. Quando uma consequência faz diminuir 
a probabilidade de um comportamento acontecer, a chamamos de “punidora” ou 
simplesmente “punição”, mas esta punição não é ao indivíduo, mas ao 
comportamento que diminui de probabilidade. 
 Observem que escrevemos que estas consequências produzem estes 
“possíveis resultados” porque cada um de nós reage de forma diferente à mesma 
consequência. Um estímulo como “dor” pode ser extremamente punitivo para um 
organismo e diminuir a probabilidade de que certos comportamentos que o 
provoquem voltem a ocorrer, como pode ser extremamente reforçador para um 
organismo e aumentar a probabilidade de comportamentos que o produzam (o 
sucesso de 50 tons de cinza não me deixa mentir). 
 Estas diferenças de sensibilidade às mesmas consequências podem 
variar conforme a história daquele indivíduo e conforme sua própria sensibilidade 
ao mundo. Por exemplo, vamos ao rapaz que passou uma cantada na moça e 
teve uma noite de sexo com ela. Digamos que ele não esperasse aqui, que este 
desenvolvimento foi inesperado já que ele é rapaz religioso e comedido e que 
(acreditem, acontece) ele ficou extremamente preocupado com sua salvação e 
então ele não voltou nunca mais aos xavecos de bar. Isto é, apesar de uma 
consequência ser aparentemente reforçador (como o sexo normalmente é), isto 
não é válido para todas as pessoas, daí a importância de que tudo seja 
estritamente individualizado. 
 
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 As diferenças também podem ocorrer conforme a sensibilidade 
diferenciada de cada pessoa. Isto é especialmente importante para pessoas com 
autismo, por exemplo, no caso descrito do restaurante, apesar da comida poder 
ser deliciosa, talvez seu cheiro seja demasiado forte para uma pessoa com 
autismo e o olfato mais aguçado e talvez, apesar de tudo de bom, o 
comportamento de comer neste restaurante seja punido, isto é, diminua de 
probabilidade. 
 
A intervenção 
 Bom, de posse desses conhecimentos sobre as consequências dos 
comportamentos, o primeiro elemento fundamental em uma intervenção com 
uma pessoa com autismo, por exemplo, é verificar quais são os comportamentos 
em excesso, ou seja, aqueles que prejudicam a pessoa, como por exemplo gritar, 
bater a cabeça, arranhar, cuspir, entre muitos outros. 
 Digamos que verificamos que uma criança emite o comportamento de 
cuspir em alta frequência. É claro que isto traz um prejuízo significativo a ela, 
pois os amigos acham feio, os parentes desprezam e os pais acabam limitando 
enormemente as experiências sociais daquela criança. Mas como já sabemos 
por meio do domínio desta ciência, que os comportamentos são determinados 
por suas consequências, nos perguntamos, que consequência tem tido o 
comportamento de cuspir para que ele continue ocorrendo? 
 Existe um processo para descobrirmos por que um comportamento existe, 
trata-se do que chamamos de “análise funcional”, em que descrevemos em 
diversas oportunidades o que ocorre antes e depois de sua emissão. No caso de 
comportamentos inadequados, as funções normalmente são bem representadas 
pelo acrônimo SETA. 
Sensorial – a pessoa pode sentir algo que seja a consequência reforçadora do 
comportamento. 
Esquiva – a pessoa pode conseguir se livrar de uma lição ou uma situação que 
ela não goste sempre que se comporta daquela forma. 
Tangível – alguém pode dar alguma coisa de comer ou brincar quando a pessoa 
faz o comportamento observado. 
 
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Atenção – as pessoas podem estar dando atenção para a pessoa quando o 
comportamento ocorre. 
 
 Após descobrir para que serve o comportamento de cuspir, como é o 
exemplo em que estamos trabalhando, o profissional irá escrever um programa 
para eliminá-lo. Digamos que cuspir seja um comportamento com a função de 
atenção. Então o programa poderia prever, por exemplo, que as cuspidas, de 
agora por diante, fossem ignoradas e que fosse dada muita atenção para quando 
ele não estivesse cuspindo. 
 Mas além de avaliar comportamentos inadequados, é preciso avaliar os 
comportamentos adequados, as habilidades do indivíduo, para saber que 
habilidades o indivíduo possui e quais são seriam importantes para sua vida, 
mas ele não possui. Para isso normalmente se usa um instrumento padronizado, 
que é escolhido a partir do perfil e necessidades da pessoa a ser atendida. 
Vamos apresentar aqui alguns dos principais instrumentos de avaliação com 
uma visão pessoal de seu maior acento: 
• Inventário Portage Operacionalizado – ideal para bebês, permite saber 
quais são as áreas prioritárias para estimulação e a relação com os marcos do 
desenvolvimento. 
• VB-MAPP – Baseado também nos marcos do desenvolvimento esperado 
para crianças com desenvolvimento típico e com forte acento na comunicação, 
também permite avaliar as barreiras de aprendizagem e um acompanhamento 
gráfico da evolução da criança. 
• ABLLS-R – Os comportamentos são mais “quebrados em pequenas 
partes”, em relação ao VB-MAPP, ideal para crianças um pouco mais velhas e 
com pouco repertório verbal, até a adolescência. 
• AFLS – tem a mesmaestrutura do ABLLS-R, mas voltado para as 
habilidades funcionais, muito utilizado para o fim da adolescência e vida adulta. 
• PEAK – protocolo de avaliação de linguagem, em 4 cadernos de avaliação 
e intervenção, sobretudo em autismo leve (em minha opinião). 
• Socially Savvy – voltado para o processo de avaliação e intervenção em 
Habilidades Sociais, que é o ponto principal de apoio às pessoas com autismo 
leve, verbais, mas que têm muita dificuldade em socialização. 
 
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• Essential for Living – voltado especialmente para autismo mais severo. 
 
 A partir destas ou outras avaliações (existem inúmeros protocolos), 
sabemos o que o indivíduo já possui de habilidades (e então podemos valorizá-
las e não subestimar esta pessoa) e aquilo que podemos ensinar neste 
momento. A partir de então são escritos objetivos comportamentais para este 
sujeito e para o alcance desses objetivos, diversos programas para o ensino 
desses comportamentos. 
 Uma criança pequena, por exemplo, de baixo repertório de habilidades, 
talvez possa começar, por exemplo, com 4 programas: 1) contato visual; 2) 
rastreio visual; 3) imitação motora grossa; e 4) sentar e esperar; isso pode ser 
muito pouco para alguns, mas para outros pode representar uma melhora de 
qualidade de vida inimaginável. 
 É claro que se estivermos falando de pessoas mais velhas, com mais 
habilidades, não se poderá jamais usar estes programas que mencionamos. Na 
verdade, trata-se de um verdadeiro artesanato para cada pessoa, tudo isso se 
encaixa com a sua individualidade, nada serve para duas pessoas. E as 
possibilidades são imensas, pode se escrever programas para, por exemplo: a) 
fazer a própria higiene menstrual; b) ir ao cinema; c) pegar ônibus ou metrô 
sozinho; d) lidar com o barulho de sala de aula; d) lidar com os colegas de 
trabalho; e) aprender a manter uma conversa ... enfim, tudo aquilo que uma 
pessoa pode precisar aprender para ter melhor qualidade de vida. 
 É decorrente desta definição de programas que definimos a intensidade 
da intervenção, isto é, do tempo semanal em que ela deve ocorrer. Muito se fala 
da intervenção de 40h semanais, isto é, da pesada carga de 8h diárias, mas o 
que os dados mostram é que esse tempo é dividido entre muitas oportunidades 
de ensino, não exatamente o que chamamos de “terapêutico”. A escola, 
especialmente, poderia utilizar sua carga horária como ao menos parte deste 
processo. 
 Mas também o referencial de 40h é simbólico, na verdade outros 
indivíduos têm diferentes necessidades de apoio e podem precisar, por exemplo, 
de 15h, 20h ou muitas outras possibilidades, sempre individualizadas. 
 
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CBI of Miami 
 Assim como na avaliação, durante a implementação da intervenção, há 
muitos critérios, técnicos, científicos e éticos a serem atendidos. Seria muito 
difícil descrever isso aqui, em tão pouco espaço, mas vamos salientar apenas 
alguns aspectos. 
 
Quem Faz 
 Quem planeja uma intervenção baseada em ABA é um profissional a que 
chamamos de “Analista do Comportamento”. Trata-se de uma profissão 
regulamentada em diversos países, mas não no Brasil. 
 Apesar da falta de regulamentação, consideramos como um Analista do 
Comportamento, alguém que tenho um curso extensivo do tema, normalmente 
uma pós-graduação e que atue sob supervisão de alguém mais experiente, 
normalmente com Mestrado e/ou Doutorado. 
 No entanto, esta é a pessoa que avalia e planeja, não a pessoa que aplica 
(imagina o quanto ficaria o custo em um sistema de 40h, por exemplo). O 
aplicador normalmente é uma pessoa com Ensino Médio, ou estagiário, que é 
treinado especificamente para aquilo, em um curso de no mínimo 40h e mais o 
treinamento específico para os programas de cada cliente. Em algumas 
circunstâncias, este aplicador pode ser um professor de apoio ou os próprios 
pais podem assumir este papel (embora haja uma enorme exigência emocional, 
nem sempre alcançável). 
 Uma intervenção baseada em ABA exige um domínio profundo da ciência 
da Análise do Comportamento e utiliza os conceitos desta ciência, muito bem 
fundamentados, para ajudar pessoas com autismo (e muitas outras) a viverem 
com melhor qualidade de vida. Mas não se enganem, não basta fazer um 
cursinho breve, dar uma olhada na internet ou algo assim, é importante ter uma 
formação sólida, naturalmente construída em anos de esforço árduo. 
 Com esta formação sólida, existe um extenso processo de avaliação dos 
indivíduos para um planejamento adequado para seu desenvolvimento e este 
planejamento deve ser composto por medidas claras em um objetivo comum, 
tudo sendo definido e realizado em uma verdadeira simbiose entre intervenção 
e família. 
 
 
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