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Curso AVASUS Para iniciar o estudo sobre cuidado com feridas e curativos na Atenção Primária, é necessário conhecer o processo de cicatrização tecidual. CICATRIZAÇÃO • Consiste na cura de uma ferida por um processo de reparo ou de regeneração dos tecidos evoluindo em fases distintas; • Envolve três fases, são elas: o Inflamatória; o Proliferativa; o Reparadora. Fase inflamatória • Também chamada de exsudativa, reativa ou defensiva, esta fase se inicia a partir do momento em que o tecido é lesionado; • Pode durar de três a seis dias e é uma forma que o organismo encontra para tenta limitar o dano, por meio da hemostasia e inflamação; • Hemostasia: forma o tampão plaquetário no local da lesão a partir de fibrina e substâncias procoagulantes. • No tecido lesionado, ocorrerá uma vasoconstricção inicial seguida de vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular. Assim, a região apresentará os sinais cardinais da inflamação: dor, calor, rubor e edema; • Serão atraídos neutrófilos para o local da lesão através da quimiotaxia; • Os neutrófilos irão ficar aproximadamente 24h na região lesionado e, através da sua produção de radicais livres, irão destruir as bactérias existentes no local; • Após esse período de 24h, os neutrófilos serão substituídos por macrófagos, os quais irão fazer a fagocitose e a secreção de citocinas e fatores de crescimento para induzir a angiogênese e a síntese de matriz extracelular. Fase proliferativa • Também chamada de reconstrutiva ou fibroblástica, esta fase se inicia ao final dos processos inflamatórios e dura aproximadamente três semanas; • Nessa fase ocorre a angiogênese, ou seja, a formação de vasos através do estímulo do TNF-a e a consequente migração de células endoteliais e formação de capilares; • Também ocorre a migração dos fibroblastos para o local da lesão com a finalidade de promover a contração da ferida; • Os fibroblastos e células endoteliais vasculares proliferam e formam o tecido de granulação; • O novo tecido de granulação frequentemente apresenta edema devido à permeabilidade dos vasos recentemente formados. Fase reparadora • Também chamada de maturação ou remodelação tecidual, geralmente começa após a terceira semana do surgimento da lesão e pode durar de meses a anos; Curso AVASUS • Nessa fase ocorre a reorganização do colágeno e o surgimento de maior força tensora na lesão; • Os fibroblastos e leucócitos presentes no local secretam colagenases que organizam a matriz. FATORES QUE ALTERAM A CICATRIZAÇÃO Fatores locais • Dimensão e profundidade da lesão; • Grau de contaminação; • Corpo estranho; • Infecção local; • Presença de exsudato; • Ressecamento; • Trauma e dor; • Edema; • Necrose tecidual; • Tratamento tópico inadequado. Fatores sistêmicos • Estado nutricional; • Medicamentos; • Doenças crônicas como diabetes mellitos e hipertensão arterial sistêmica; • Tabagismo: a nicotina causa vasoconstricção e consequentemente, reduzi o suprimento de oxigênio no sangue; • Idade avançada; • Uso de medicamentos. Curso AVASUS Infecção • É um fator importante a ser considerado, pois pode comprometer a cicatrização e prejudicar o estado de saúde do usuário de forma mais global; • Portanto, é necessário conhecer melhor alguns conceitos relacionados às lesões e infecções: o Colonização: presença de microrganismos sobre uma superfície, sem sinais ou sintomas de infecção, de modo que, enquanto o ambiente estiver estável e a pessoa tiver uma boa imunidade, sua pele poderá estar colonizada sem estar infectada; o Contaminação: ocorre quando os microrganismos penetram em tecidos e isso pode acontecer em feridas por meio de contato direto; o Infecção: ocorre quando um tecido é invadido por bactérias que se proliferam e lesionam o mesmo. É caracterizada pela presença de purulência e tem seu risco aumentado pelo número de microrganismos, virulência do microrganismo e pela imunidade do individuo (quanto menor, mais vulnerável ele estará). Os microrganismos mais encontrados em feridas foram Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Enterobacter, Klebsiella pneumoniae e Acinetobacter. Em casos de a lesão ter contato com material fecal, pode acontecer infecção por Proteus, Klebsiella e Escherichia coli. TIPOS DE CICATRIZAÇÃO Cicatrização primária • Também chamada de cicatrização de primeira intenção, é o tipo de cicatrização ideal que ocorre quando as bordas são aproximadas e quando há perda mínima de tecido, ausência de infecção e mínimo de edema; • A formação de tecido de granulação é visível e a lesão tem baixo potencial de infecção; • Costuma deixa cicatriz mínima e discreta; - Exemplo: Cirurgia com sutura; Cicatrização secundária • Também chamada de cicatrização de segunda intenção, ocorre quando há perda excessiva de tecido e a aproximação primária das bordas não é possível; • Pode se associar ou não a infecção; • Está relacionada a ferimentos infectados e lesões com muita perda de tecido; • Requer maior tempo para contração e estilização; • Produz cicatriz protuberante; • Cicatrização mais lenta do que a primária; Cicatrização terciária • Também chamada de cicatrização primária tardia, por terceira intenção ou mista, ocorre quando há aproximação das bordas da ferida após o tratamento aberto inicial; • Ocorre quando há presença de infecção na ferida, a qual, deve ser tratada primeiramente para então ser suturada posteriormente; - Exemplo: Ferida extensa ou que esteja contaminada ou com deiscência, ou seja, cicatriz que foi rompida; Curso AVASUS ESTRUTURA DA PELE E SUAS FUNÇÕES • A pele é constituída por três camadas: epiderme, derme e hipoderme ou tela subcutânea; • É o maior órgão sensorial humano, pois reveste toda a superfície corporal; • Possui diversas funções, como: o Termorreguladora; o Barreira protetora contra agressões externas; o Sensação térmicas, táteis (pressão, vibração) e dolorosas; o Excreção de água, eletrólitos e ureia; o Sítio de ativação da vitamina D por meio da exposição aos raios UVB; o Atividade antibacteriana e antifúngica por meio da secreção de substâncias lubrificantes e emulsificantes das glândulas sebáceas, formando assim, o manto lipídico da superfície cutânea. • Epiderme o Camada mais externa da pele; o Constituída por células dispostas em camadas contendo queratinócitos, melanócitos, células de Langherans e células de Merckel; • Derme: o Constituída de elementos de sustentação como fibras elásticas, colágeno e fibras reticulares, os quais possibilitam a elasticidade da pele e sustentação para os vasos e nervos que nutrem o epitélio escamoso; • Tipos de lesões o Lesões primárias: são as que causam mudanças na estrutura da pele; o Lesões secundárias: são derivadas da evolução de algum comprometimento já existente; É importante colher um histórico detalhado do paciente para conhecermos seus antecedentes pessoais e familiares, sua ocupação, cirurgias anteriores, entre outras que pode ajudar o profissional a entender a queixa atual. AVALIAÇÃO DERMATOLÓGICA • Busca informações por meio da anamnese e do exame físico, aplicando métodos propedêuticos de inspeção e palpação; • O exame físico deve ser realizado em um local claro, de preferência com iluminação natural; • Usuário deve estar protegido do frio e correntes de ar; • Somente a área examinadadeve ficar descoberta para manter a privacidade do usuário; • Pode ser utilizada lente de aumento para melhor visualização da lesão; • Quando se identifica uma ferida, deve ser realizada uma avaliação verificando cinco aspectos críticos: cor, odor, drenagem, extensão e pele circundante; Coloração Pode significar três coisas: 1) Exsudato purulento: pus com textura espessa e odor, sinalizando infecção, 2) Fibrina: produto da cascata de coagulação sanguínea que, junto com as plaquetas, forma Curso AVASUS trombos. Camada endurecida de difícil remoção; 3) Crosta: Tecido necrótico parcialmente solubilizado com cor que varia de acinzentada até castanho-amarelada; Pode ser observada: No tecido de granulação, local que deve estar sempre limpo, hidratado e livre de agressões. Rosado: quando esse tecido se torna mais claro há indicativo de má circulação arterial; Vermelho escuro: indica necrose iminente com possível infecção do tecido; Vermelho vivo: indica um tecido de granulação saudável e geralmente tem aspecto úmido. Representa: Tecido necrótico ressecado; Com exceção da gangrena seca que é causada por isquemia intensa e geralmente deve ser feita a amputação, esse tecido deve ser removido (desbridado) para permitir que novas células preencham o local. Odor • Feridas saudáveis geralmente não apresentam odor, porém, a sua ausência não exclui a chance de ali existir infecção; • Feridas que abrigam grande quantidade de tecido necrótico por muito tempo apresentam um odor pútrido associado a presença de tecido em decomposição; • Um odor de frutas/doce está associado ao exsudato esverdeado e costuma aparecer em infecções por Pseudomonas aeruginosa; Drenagem • Deve ser descrita em termos de volume e característica; • Uma ferida que se encontra ressecada requer intervenções para aumentar sua umidade e, assim, conseguir se cicatrizar normalmente; • Uma ferida que apresenta secreção máxima ou copiosa, elimina muito exsudato, chegando a molhar as gazes quando são cobertas; Extensão • A extensão e a forma de uma ferida também precisam ser avaliadas e registradas; • Em feridas mais superficiais poder ser feita apenas a medição de sua área de superfície; Técnica de forma regular Técnica em forma irregular • Na segunda figura o profissional mede a lesão posicionando uma folha de acetato e desenhando o contorno da lesão. Depois de desenhado, é necessário traçar uma linha vertical e outra horizontal, tomando os pontos mais extensos do comprimento e da largura da ferida como referência; assim, com esses Curso AVASUS valores em centímetros, calcula-se a área da ferida; • Em feridas muito irregulares, a avaliação da extensão da lesão pode ser exagerada e por isso o profissional deve apensar reproduzir esse desenho no prontuário para registrar e acompanhar a evolução do usuário; • Já existem dispositivos que indicam uma noção da área da lesão, os quais devem ser colocados sobre a ferida para medição, mas nunca em contato direto pelo risco de infecção; • Para avaliar a profundidade da lesão é utilizado solução salina estéril ou hidrogel por meio de uma seringa; Avaliação da pele circunvizinha A avaliação da pele circunvizinha também deve ser avaliada, pois quando não é saudável, retardará a cicatrização mesmo nos casos em que o leito da ferida está preenchido por tecido de granulação. As alterações que devem ser avaliadas são: • Esbranquiçada: Falta de fluxo sanguíneo ou insuficiência arterial; • Azulada: Cianose. Falta intensa de oxigênio devido à insuficiência arterial, cardíaca ou doença respiratória. Enegrecida: Necrose em decorrência de doença arterial grave; • Pele seca e delgada: Atrofia cutânea devido à falta de nutrição da pele; • Eritema, edema e endurecimento anormal da pele: Sinais de inflamação, podendo estar acompanhada ou não de infecção; • Hidratação e turgor: Podem estar diminuídos na pele de idosos e deve ser avaliada pela técnica de palpação em pinça, observando seu tempo de retorno à posição inicial; • Maceração: Pele de aspecto intumescida e mais clara que surge devido à exposição prolongada da pele à umidade; • Ressecamento cutâneo excessivo: Também denominado de xerose, o ressecamento excessivo associado à diabetes e doença arterial pode resultar na formação de fissuras da pele, acarretando risco de infecção; • Descamação: A escama representa queratinização anormal e pode aparecer acompanhada por sinais de inflamação. Bordas da ferida Também devem ser analisadas quanto a sua hidratação, sinais de lesão e aderência da margem ao leito da ferida; A falta de aderência pode indicar formação de tuneis, trajetos fistulosos, bordas solapadas ou formações de bolsões. LESÕES NOS MEMBROS INFERIORES • Em lesões nos MMII, devem ser realizadas algumas avaliações adicionais, capazes de identificar alterações arteriais, venosas ou linfáticas; • Um exame simples consiste em palpar as artérias dorsal do pé e tibial posterior para verificar se o pulso está presente nesses locais; • Se houver um estetoscópio Doppler, esse pode ser utilizado para melhorar a sensibilidade do teste; Insuficiência venosa • Pode ser causada por oclusão de vasos devido a trombos quando internamente e devido a Curso AVASUS obesidade, gravidez, neoplasias ou dispositivos de compressão quando externamente; Avaliação sensorial • A avaliação sensorial também é fundamental e uma maneira simples de realiza-la durante atendimento na UBS ou domicílio é o de tocar na pele do usuário com a ponta de um algodão ou objeto com ponta enquanto esse se encontra com os olhos fechados, solicitando que ele informe quando sentir o estímulo, observando suas expressões e movimentos; • Por fim, é necessário conhecer os marcos anatômicos de referência para facilitar a localização e registro correto das alterações encontradas. CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES Na anamnese é necessário buscar entender como o problema surgiu e, assim, diferenciar os tipos de feridas; Causa das lesões • Feridas cirúrgicas: são provocadas intencionalmente, mediante incisão, quando não apresentam perda de tecido e as bordas são, geralmente, fechadas por sutura; por excisão, quando uma área da pele é removida como em enxertos; ou punção, resultante de procedimentos terapêuticos diagnósticos; o As de origem traumática são aquelas causadas por: contenção, perfuração ou corte (agentes mecânicos); iodo, Curso AVASUS cosméticos, ácido sulfúrico (agentes químicos); frio, calor ou radiação (agentes físicos). • Feridas ulcerativas: aquelas que possuem aspecto escavado, resultantes de traumatismo, doenças ou condições que impedem o adequado suprimento sanguíneo; o Estão incluídas as lesões venosas, arteriais e por pressão. Conteúdo microbiano • Feridas limpas: sem microrganismos; • Feridas limpas contaminadas: feridas com tempo inferior a seis horas entre o trauma e o atendimento e sem contaminação significativa; • Feridas contaminadas: feridas com tempo maior que seis horas entre o trauma e o atendimento, mas sem sinal de infecção; • Feridas infectadas: contém o agente infeccioso no local, evidência de reação inflamatória intensa, destruição de tecidos, podendo conter pus. As feridas ser classificadas também quanto ao tipo de cicatrização (1ª, 2ª e 3ªintenção), como vimos anteriormente e quanto ao grau de abertura (abertas e justapostas); Classificação geral • Ferida aguda: resultado de cirurgia ou lesões ocorridas por meio de acidentes; • Ferida crônica: possui um tempo de cicatrização maior que o esperado, pois apresenta a fase de regeneração tardiamente, havendo um retardo na cicatrização; • Ferida limpa: produzida involuntariamente no ato cirúrgico em local passível de assepsia ideal e condições apropriadas, livre de microrganismos patogênicos. Comprometimento tecidual • Estágio I: comprometimento da epiderme apenas, com formação de eritema em pele íntegra e sem perda tecidual; • Estágio II: abrasão ou úlcera, ocorre perda tecidual e comprometimento da epiderme, derme ou ambas; • Estágio III: presença de úlcera profunda, com comprometimento total da pele e necrose de tecido subcutâneo, entretanto a lesão não se estende até a fáscia muscular; • Estágio IV: caracteriza-se por extensa destruição de tecido, chegando a ocorrer lesão óssea ou muscular, ou necrose tissular. MECANISMO DAS LESÕES Úlceras venosas • Ao movimentarmos nossas pernas, nossos músculos contraem-se e comprimem as veias mais profundas, estimulando o bombeamento do sangue no sentido das extremidades para o coração. As veias envolvidas nesses processos possuem válvulas que garantem o fluxo unidirecional; Curso AVASUS • No entanto, o funcionamento inadequado dessa bomba dificulta a circulação venosa, podendo culminar em Insuficiência Venosa Crônica (IVC). A disfunção do bombeamento de sangue da panturrilha é responsável pela hipertensão venosa, a qual leva ao acumulo excessivo de liquido e fibrinogênio no tecido subcutâneo, resultando em edema, lipodermatosclerose e formação de feridas. • Na hipertensão venosa surge um baixo fluxo e baixa perfusão nos capilares e acredita-se que isso promoveria agregação de hemácias e leucócitos nos capilares, ocasionando isquemia local. Por conseguinte, citocinas, enzimas proteolíticas e radicais livres seriam liberados, acarretando danos aos vasos. • Pessoas que apresentam úlceras venosas, geralmente tem antecedentes pessoais de trombose venosa profunda (TVP), flebite e veias varicosas, o que mostra a importância de uma anamnese detalhada na hora do atendimento. Apresentam ao exame físico, pele de coloração marrom, temperatura morna ao toque, veias varicosas e eczema; • As úlceras venosas são de espessura completa, bordas irregulares e leito de aspecto vermelho brilhante, devido ao bom fluxo arterial, exceto quando a pessoa também apresenta arteriopatia periférica. Úlceras arteriais • Surgem como resultado da inadequada perfusão tecidual nos membros inferiores, ocasionada por algum bloqueio no suprimento arterial para essas extremidades; • A causa mais comum é a arteriosclerose, na qual o acumulo de placas de gordura diminui a luz do vaso, com consequente isquemia e consequente necrose tecidual; • Pessoas com úlceras arteriais, geralmente, apresentam sinais e sintomas ao exame físico, como: dor intensa principalmente ao movimentar o membro lesionado, pernas frias com aparência lustrosa e sem pelos; a coloração das pernas tende a esbranquiçar quando elevadas e a ficar azulada quando pendentes; pulso pedioso reduzido ou ausente, unhas do pé grossas e opacas; • Esse tipo de úlcera pode aparecer em qualquer local da perna, sendo mais frequente nos artelhos, calcâneos ou região lateral da perna, com aparência perfurante podendo envolver comprometimento de tecidos mais profundos. Curso AVASUS Feridas traumáticas e cirúrgicas • Não costuma ser tratada no contexto de atenção primária, pois são de caráter agudo e são tratadas em serviços de emergência e urgência; • Entre estas estão acidentes por arma de fogo, picadas de animais peçonhentos, abrasões, fraturas e queimaduras; • Em casos de acidentes por queimaduras, primeiramente deve-se extinguir a fonte de calor, em seguida, lavar o local atingido com água corrente em temperatura ambiente até que área queimada seja resfriada. Ao mesmo tempo, outra pessoa deve acionar o SAMU; Úlceras neuropáticas • Aparecem em local de sustentação e peso e cisalhamento, como as faces dorsal, medial e lateral do pé e os artelhos; • Possuem aspecto redondo ou elíptico e estão associadas a algumas alterações no exame físico, como perda de sensibilidade de proteção, reflexos, percepção vibratória e propriocepção; • Quando os neurônios sensoriais são lesionados, surge a sensação de queimadura e desconforto crônico no pé; • O comprometimento do sistema nervoso autônomo provoca perda do controle dos vasos sanguíneos no pé e reduz a capacidade de transpiração, por isso a pele se torna seca e descamativa. Como o indivíduo apresenta menor percepção sensorial, essas áreas se tornam propensas ao surgimento de lesões; • Com isso, vemos que o mecanismo de surgimento dessas úlceras não é vascular, mas sim mecânico. LESÕES POR PRESSÃO (LPP) • Lesão localizada na pele e/ou tecido subjacente, normalmente sobre uma proeminência óssea, que surge como resultado da pressão ou de uma combinação entre esta e forças de torção; • Tais lesões também podem aparecer em decorrência do uso de dispositivos, como sondas, sistema de drenagem, cateteres e equipos, por exemplo; • A tolerância do tecido mole à pressão e ao cisalhamento pode também ser afetada por microclima, nutrição, perfusão, comorbidades e por sua condição. A lesão tanto pode ser uma úlcera de pressão, como lesão por umidade (lesão combinada), algo que pode ser visto em pessoas acamadas com uso de fraldas geriátricas. Nesses casos, a umidade proporcionada pelas eliminações urinárias e/ou intestinais retidas na fralda fragiliza a pele do indivíduo em uma área que já se encontra sob pressão por ter proeminências ósseas e pelo posicionamento prolongado Assim, algumas áreas se encontram mais susceptíveis ao desenvolvimento desse tipo de lesões, são elas: 1. Região occipital; 2. Região escapular; Curso AVASUS 3. Face posterior do cotovelo; 4. Região Sacral; 5. Região trocantérica; 6. Calcâneo. As lesões por pressão são classificadas em estágios, são eles: Estágio 1 • Pele intacta com uma área localizada de eritema não branqueável, sendo que, em pessoas de pele mais escura, a aparência desta alteração pode ser um pouco diferente; • A presença de eritema branqueável ou alterações na sensação, temperatura ou consistência podem surgir antes de mudanças visuais. As mudanças de cor não incluem a descoloração roxa ou marrom, as quais podem indicar LPP em tecidos profundos. Estágio 2 Perda parcial da espessura da pele com derme exposta; O leito da ferida é viável, rosa ou vermelho, úmido, e pode se apresentar como uma flictena com exsudato seroso intacto ou rompido; Nesta lesão, o tecido adiposo (gordura) e os tecidos mais profundos não estão visíveis. O tecido de granulação, esfacelo, e a escara também não estão presentes. Estágio 3 • Possui perda total da espessura da pele na qual o tecido adiposo (gordura) é visível na úlcera; • O tecido de granulação e a borda despregada da lesão estão frequentemente presentes. Pode haver tecido necrótico visível, com profundidade do prejuízo tecidual variável, sendo que áreas de adiposidade significativa podem desenvolver feridas profundas; • Descolamento etunelização no leito da lesão também podem ocorrer; • Fáscia, músculo, tendões, ligamentos, cartilagem e/ou osso não estão expostos. Curso AVASUS Estágio 4 • Perda total da espessura da pele e exposição de tecidos como fáscia, músculo, tendão, ligamento, cartilagem ou osso; • Bordas despregadas, descolamentos e/ou tunelização ocorrem frequentemente; • A profundidade pode variar conforme a localização anatômica; • Caso o esfacelo ou escara cobrirem a extensão da perda tecidual, ocorreu uma LPP não estadíavel. Não estadiável • Perda total da espessura da pele e tecido em que não é possível ver a extensão do dano tecidual no interior da úlcera por estar coberto por esfacelo ou necrose; • Nesses casos, quando o tecido desvitalizado é removido, a LPP pode ser classificada como estágio 3 ou 4. Tissular profunda • Pele intacta ou não intacta com área localizada de vermelho escuro persistente não branqueável, descoloração marrom ou roxa ou separação da epiderme revelando um leito da ferida escuro ou com flictena de sangue. • É utilizada para identificar o risco do paciente em desenvolver úlcera por pressão. Para tanto, segue a descrição de algumas etapas; • Portanto, quanto menor for a pontuação (escore), maior será o risco de desenvolvimento de úlcera por pressão. Curso AVASUS ATRIBUIÇÕES DOS PROFISSIONAIS NA APS Escala de Braden Curso AVASUS LESÕES NOS MEMBROS INFERIORES • O termo pé diabético está relacionado a presença de infecção, ulceração e/ou destruição de tecidos profundos associados a anormalidades neurológicas e a vários graus de doença vascular periférica em pessoas com Diabetes Mellitus (DM); • Essas alterações que a DM causa, provocam o surgimento dos pontos de pressão, enquanto o ressecamento cutâneo prejudica a elasticidade da pele e a redução de circulação local dificulta a cicatrização; essas condições aumentam os riscos de lesões nos pé que podem evoluir para complicações mais graves e amputações; • A neuropatia que afeta as pessoas com DM pode ser sensitivo-motora ou autonômica. A primeira acarreta perda gradual da sensibilidade tátil e dolorosa, tornando os pés mais vulneráveis a traumas; a segunda envolve perda do tônus vascular, redução da nutrição aos tecidos, anidrose – redução do suor – e assim, ressecamento da pele com surgimento de fissuras e surgimento de porta de entrada para infecções; • O pé diabético pode ser classificado de acordo com a causa das alterações: Pé diabético neuropático • Presença de formigamentos e sensação de queimação que melhoram com o exercício; • Os acometidos reclamam de perder o sapato ou sofrer lesões traumáticas sem perceber por causa da diminuição de sensibilidade. Pé diabético vascular • Também chamado de isquêmico; • Presença de claudicação intermitente (fluxo de sangue anormal nas pernas quando se exercita) e/ou dor à elevação do membro; • No exame físico se observa rubor postural do pé, palidez à elevação do membro inferior, pé se apresenta frio, podendo haver ausência dos pulsos tibial e pedioso. Pé diabético misto • Também chamado de neurovascular ou neuroisquêmico; • As alterações podem ser venosas ou arteriais e, por isso, é importante avaliar o fator predominante em seu surgimento para tratar de forma adequada; • Se a alteração for venosa, o usuário deve usar compressão moderada durante o dia; • Já na alteração arterial, devem ser realizados exercícios e curtos períodos de elevação dos membros inferiores para estimulá-los e um encaminhamento ao cirurgião vascular. Ao visitar ou atender alguém com diabetes, é fundamental inspecionar os pés, independente da queixa, bem como os calçados utilizados, questionando: Existem alterações nas palmilhas: Secreções? Distorções no corpo do calçado? • Série de alterações estruturais e vasculares comumente associadas ao diabetes; • Caracteriza-se por osteoartropatia múltipla progressiva com luxação articular, fraturas e deformidades; • Ao exame físico observasse a região plantar convexa e artelhos sem contato com o chão, Curso AVASUS aumentando o risco de ulceração, infecção, gangrena e amputação; • Doença Arterial Periférica, é um termo usado para designar o envolvimento aterosclerótico com redução da luz arterial e isquemia tecidual; • Pode ser assintomática, apresentar-se como claudicação intermitente, dor em repouso e dificuldade de cicatrização; A associação entre neuropatia e ulceração dos pés aumenta o risco de gangrena e amputação de membros inferiores nesses pacientes. Considerando a presença ou não de neuropatia, DAP e história de outras feridas, os usuários acometidos por alterações nos membros inferiores podem ser classificados conforme: - Grau 0: Neuropatia ausente; - Grau 1: Neuropatia presente com ou sem deformidades (dedos em garra, dedos em martelo, proeminências em ante pé, Charcot; - Grau 2: Doença arterial periférica (DAP) com ou sem neuropatia presente; - Grau 3: História de úlcera e/ou amputação. Curso AVASUS LIMPEZA E COBERTURA DE FERIDAS • Para tratar um usuário com lesões, deve manter a hidratação da pele, mantendo alta a umidade na interface ferida/cobertura; o isolamento térmico; remover o excesso de exsudação para manter o local livre de corpos estranhos, tecido necrótico e controlar infecção local. Qualquer manuseio que altere essas condições pode retardar e prejudicar o processo de cicatrização; • Sempre que você for trocar um curativo primário, ou seja, aquela cobertura que tem contato direto com a lesão, é fundamental que proceda com a limpeza adequada do local para que possa ser removido qualquer corpo estranho. • Em áreas com tecido de granulação a limpeza deve ser feita com irrigação suave de soro fisiológico a 0,9% de maneira a não danificar tecidos novos; • Em feridas com tecidos inviáveis (esfacelo ou necrose seca), a limpeza deve ser feita com gaze embebida em soro para promover a remoção de tecido desvitalizado. • A limpeza estéril deve ser feita utilizando material estéril com solução fisiológica 0,9%, gaze estéril, luvas estéreis, podendo usar pinças para ajudar no procedimento; • A técnica limpa é empregada quando o curativo é feito no domicílio, utilizando material limpo, água corrente ou soro fisiológico; • As coberturas podem ser: o Passivas: somente protege e cobre as feridas; o Interativas: proporcionam um microambiente ótimo para a cura; o Bioativas: resgatam ou estimulam a liberação de substâncias durante o processo de cura. Algumas pessoas acreditam que um curativo não deve ser totalmente fechado para garantir a oxigenação da lesão, o que é um erro, pois o oxigênio necessário à cicatrização é provido pelo sangue e não pelo ar ambiente. Desbridamento • Algumas pessoas podem apresentar lesões com áreas de tecido necrosado que não melhoram mesmo aplicando diferentes técnicas e produtos no local; • A presença de necrose compromete a cicatrização e, para auxiliar nesse processo, os profissionais precisam lançar mão datécnica do desbridamento que, de modo geral, significa a remoção de tecido desvitalizado. Cabe ao enfermeiro e/ou ao médico escolher o melhor método; • Desbridamento auto lítico: processo seletivo de remoção da necrose (preserva o tecido vivo) pela ação dos neutrófilos, eosinófilos e basófilos; e das enzimas digestivas do próprio organismo do indivíduo; É promovido pelo uso Curso AVASUS de produtos que garantam a umidade adequada na ferida; • Desbridamento instrumental conservador (Desbridamento cirúrgico ou com instrumental cortante): pode ser realizado à beira do leito ou ambulatorial, em lesões cuja área de necrose não seja muito extensa; o A analgesia local geralmente não é necessária visto que o tecido necrótico é desprovido de sensação dolorosa; o Nos casos de lesões extensas e/ou profundas, o usuário deverá ser encaminhado ao centro cirúrgico de um serviço hospitalar; o Somente o médico tem competência técnica e legal para a sua execução. Os demais desbridamentos, o enfermeiro também poderá executar. • Desbridamento mecânico: aplicação de força mecânica diretamente sobre o tecido necrótico a fim de facilitar sua remoção, promovendo um meio ideal para a ação de cobertura primária; o Pode ser por fricção, irrigação com jato de solução salina à 0,9%, irrigação pulsátil, hidroterapia, curativo úmido-seco, enzimático e autólise; • Desbridamento químico: processo seletivo de remoção da necrose (preserva o tecido vivo) por ação enzimática. Escolha do curativo • Para escolher adequadamente o tipo de curativo ideal para cada usuário é necessária a realização de uma avaliação adequada do portador da lesão; • É fundamental avaliar a presença, quantidade e aspecto de exsudato, se há contaminação no local, tamanho e profundidade das lesões, bem como as condições gerais de saúde do usuário, pois todas essas informações irão lhe ajudar na escolha do tratamento adequado. Escolha do curativo oclusivo Curso AVASUS Principais produtos e tipos de coberturas em curativos oclusivos. Para mais materiais, me siga no instagram: @
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