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FAUC- FACULDADE CUIABÁ MÁRCIA MARIA MIRANDA BRÊTAS Visão psicanalítica do Transtorno do Pânico Cuiabá-Mato Grosso 2019 MÁRCIA MARIA MIRANDA BRÊTAS Trabalho apresentado à Disciplina Psicanálise da Faculdade Cuiabá para complementação avaliativa no Curso de Psicologia Quarto Semestre 2019/1, sob orientação do Professor Mestre Carlos Barbosa. Cuiabá-Mato Grosso 2019 MÁRCIA MARIA MIRANDA BRÊTAS Professor Mestre Carlos Barbosa Faculdade de Cuiabá- FAUC Curso de Psicologia- 4º Semestre-2019/1 21/04/2019 Resumo: A busca incessante do ser humano em obter a aprovação do outro, ao longo de sua vida, pode levar a um estágio de angústia extrema. Este paper tem como objetivo analisar artigos que descrevem, numa visão psicanalítica, mais especificamente numa vertente freudiana, como a humanidade vem sofrendo com a ansiedade e angústia. Estes transtornos hoje entendidos como “Transtorno do pânico” vem causando grandes danos na saúde emocional da civilização ocidental. Resumen: La búsqueda incesante del ser humano en obtener la aprobación del otro, a lo largo de su vida, puede llevar a una etapa de angustia extrema. Este documento tiene como objetivo analizar artículos que describen, en una visión psicoanalítica, más específicamente en una vertiente freudiana, como la humanidad viene sufriendo con la ansiedad y la angustia. Estos trastornos hoy entendidos como "Trastorno del pánico" vienen causando grandes daños en la salud emocional de la civilización occidental. Introdução: Nós somos desamparados, seres que possuem uma capacidade de encontrar seu caminho e lutar pela sua sobrevivência. Porém, não há nenhuma garantia de que todo o esforço e luta vai trazer prazer e aceitação. Vivemos cercados por normas e leis que nos sufocam a cada momento que buscamos definir novos caminhos. A certeza de nossa incapacidade de conhecer o amanhã angustia- nos de tal forma que não conseguimos vivenciar um hoje plenamente. Esta situação de angústia extrema da incerteza diante das cobranças, pela perspectiva psicanalítica, nos leva a um sentimento de desamparo, levando ao Transtorno do Pânico. Objetivando compreender essa situação pelo viés psicanalítico, mais especificamente por um viés freudiano, este paper analisa artigos científicos que abordam a temática e esclarece como a humanidade chegou a tal estágio de “saúde mental” onde todos os instrumentos desenvolvidos para seu benefício transformaram-se em instrumentos de tormento e dor, angústia, ansiedade, medo e pânico. *** Já no final do século XIX Freud falou sobre temas que hoje são entendidos como Transtorno do Pânico. Para Freud, a cultura deveria conter determinados impulsos pulsionais e oferecer vantagens como recompensa, para garantir o bem-estar comum. Porém, atualmente, a realidade se mostra opressora e permissiva, e essa situação é extremamente prejudicial ao processo de manutenção das normas sociais. Assim, cria uma condição de desamparo, onde as pessoas se vêem a mercê do acaso e não conseguem lidar com isso, aparecendo então sentimentos de pânico. O desamparo é um perigo para a pessoa, pois o aparelho psíquico sempre busca fugir da situação. Para a psicanálise a condição humana de desamparo está alicerçada na constituição primária do sujeito, a secundária decorre das condições de vida de cada um. O primeiro está ligado a formação do sujeito e o segundo vem sendo reforçado pelas condições circunstanciais, onde o contexto sócio-cultural se aparece como instável e inseguro. Neste universo, os níveis de angustia se elevam muito e invade o ego, atingindo o sujeito que se sente só e desamparado, sem recursos e proteção. Neste ponto surge o “Transtorno de Pânico”, que pode ser entendido como expressão do desamparo do mundo atual, segundo Costa; Queiroz, (2011). Numa busca em compreender a ação do analista diante de uma pessoa com fobia e pânico, Bessef (2000) escreve um artigo que destaca a função da angustia como um sinal, defesa ante o perigo, quando está com Transtorno de Pânico tudo isso parece estar ausente. Nesse ponto a angustia, invade o sujeito, como onda que submerge o sujeito deixando em completo estado de pânico. Em outro artigo, de autoria de Lucianne Sant’Anna de Menezes (2005) esclarece que “em virtude da criação, em 1980, da categoria psiquiátrica “Transtorno de Pânico” ou “Síndrome de Pânico”, esta classificação, fundada nas bases “operacionais” e “pragmáticas” que norteiam a perspectiva objetivante da psiquiatria norte-americana, ultrapassa o âmbito profissional e vem tendo muita repercussão na mídia escrita e falada.” Mas porque tanto destaque para tal Transtorno? As respostas são encontradas em vários locais da sociedade ocidental: altos índices de suicídios; cada vez mais pessoas procuram consultórios de psicólogos e psiquiatras dizendo que não suportam a pressão social. A sensação de desamparo vem causando muitos males à saúde dos indivíduos. Menezes (2005) diz: “ Podemos dizer que a problemática do desamparo na obra freudiana tem dupla face: a face erótica e sexual, que diz respeito a um lugar infantil e à sexualidade traumática vinda da mãe – o desamparo original estruturante do psiquismo (FREUD,1926/1980); e a face da falta de garantias do sujeito sobre o seu existir e sobre seu futuro (FREUD, 1927/1980 e 1930/1980) , que é obrigado a uma renúncia pulsional como condição para viver em sociedade. ...para Freud o desamparo também é o motor da civilização. O homem ergueu a civilização numa tentativa de diminuir seu desamparo diante das forças da natureza, dos enigmas da vida e, sobretudo, da própria morte. O desamparo no campo social Freud (1930/1980)chamou de mal-estar, tendo em vista que a relação do sujeito com a cultura é permeada pelo antagonismo irremediável entre as exigências pulsionais e as restrições da civilização.” Como podemos perceber a relação das patologias e transtornos humanos, podem ser considerado uma questão de saúde pública, onde a sociedade fica doente com as situações vividas. O desamparo, na atualidade, com tantas incertezas e violências, o desrespeito aos direitos de todos como seres humanos trazem graves conseqüências aos indivíduos. Nesse sentido, Menezes (2005) destaca de forma irreparável a visão freudiana, a construção da identidade e dos ideais, tanto pode ser do individuo como em grupo. A construção da identidade é marcada por processos subjetivos que precisam ser desenvolvidos para que se mantenha a organização do individuo e da organização social, como um referencial de vida, um organizador simbólico. Ainda destaca a autora: “Esses processos se dão entre duas formas de existência da subjetividade: entre os registros do narcisismo (ego ideal/amor de si) e da alteridade (ideal de ego, surperego/amor do outro)”. Como uma complementação do que vimos acima, podemos citar a fala de Costa & Queiroz (2011): “No contexto do pânico, o sujeito se vê em dificuldades de recorrer às substituições internas necessárias para configurar uma formação de compromisso e, assim, poder lidar com o conflito. Não tendo tempo para construir uma formação de compromisso, ele recalca o conflito e o substitui, desloca. Nessas condições, ele apela para o outro, que, insuficiente para atender sua demanda, não o ampara. Como não tem o outro para ajudá-lo, ele fica acuado e faz um corte com a realidade, ficando paralisado, e, por tal razão, ele sofre, entra em pânico.” Como se pode verificar pela análise das autoras, o Transtorno de Pânico é muito mais complexo que possamos avaliar. Mas a relação da subjetividade do sujeito e os fatores externos devem estar interligados quando se busca compreender o processo pelo qual o sujeito passou a ter sintomas que o levaram ao Transtorno. A realidade vivida na humanidade, na Era Moderna, que fora iniciada para a elevação da qualidade de vida das pessoas, onde a valorização do individuo autônomo e possuidor de livre arbítrio, como instrumentos de liberdade para que o homem se expressasse como ser livre e capaz de se comandar sem uso de elementos ilusórios,como por exemplo, a religião. Porém, após passado dois séculos a humanidade se encontra desnorteada e necessitando se apegar a coisas e ao outro. O individualismo propagado pelo Liberalismo não conseguiu dar ao ser humano a paz e a felicidade. A civilização ocidental, depois do século XVII vem tentado ser auto-suficiente, sem buscar na subjetividade respostas para suas necessidades emocionais. Dois sociólogos, Giddens (1991) e Bauman (1998) trazem discussões sobre a questão da modernidade como estilo de vida europeu que ao se desenvolver ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX, ditando novas formas de organização social e trazendo um mal estar na civilização (Menezes;2005). Considerações finais Podemos considerar finalmente que Freud ao considerar o mal estar da civilização está totalmente relacionado ao mal-estar na modernidade e contemporaneidade. O processo do Transtorno do Pânico que vem se agravando no atual século XXI estava, nas análises de Freud como uma premonição, quando percebeu no final do século XX e ao longo de seus estudos no século XX. Para Freud o desamparo seria a instauração do mal-estar, na relação entre os seres humanos (Menezes, 2005). Freud anteviu o caos em que os seres humanos estavam a caminho. O desamor, o desvalor, o desamparo, a solidão, as angustias e medos, incertezas e decepções levam o ser o humano ao Pânico. O homem contemporâneo é vulnerável e psiquicamente está muito mais vulnerável e o Transtorno de Pânico é o sintoma maior de sua situação de vulnerabilidade. Referencia Bibliográficas FREUD, Sigmund. O mal estar na civilização (In): Coleção Os Pensadores; São Paulo: Abril Cultural, 1978.pp129/194. Artigos: BESSEF,Vera Lopes. Sobre a fobia e o pânico: o que pode um analista? Revista Latinoamericana Psicopatologia Fund. , IV, 1, 19-26. 2000. COSTA, Veridiana a. DE Souza.: QUEIROZ, Edilene F. Transtorno de pânico: uma manifestação clínica do desamparo. Piscologia Ciencia Professores. Vol.31; nº 3, Brasília,2011. http://dx.org./10. sielo. MENEZES, Lucianne Sat’Anna de. Pânico e desamparo na atualidade. Ágora,v. VIII, nº 2 jul/dez. Rio de Janeiro, 2005, PP 193/206, *>*>*> COSTA;QUEIROZ,